A Fistful of Dynamite
Sergio Leone, com sua trilogia do dólar (“Per un Pugno di Dollari/A Fistful of Dollars/Por um Punhado de Dólares”, 1964, “Per Qualche Dollaro in Più/For a Few Dollars More/Por uns Dólares à Mais”, 1965 e o clássico insuperável “Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo/The Good, the Ugly, the Bad/O Bom, o Mau e o Feio/Três Homens em Conflito”, 1966), foi o responsável por eu adorar westerns. Não aquele western americano de extrema direita praticado pelos Fords/Waynes da vida, mas sim o Euro-Western, o Spaghetti Western, o Feijoada Western da Boca do Lixo aplicado pelo Tony Vieira e seus púpilos. Um western mais sujo, mais sarcástico, mais politizado e revisionista, onde mexicanos e índios não mais eram os vilões (os branquelos de extrema direita, ultra-religiosos, costumam odiar os Spaghetti Westerns).
“A Fistful of Dynamite” (originalmente intitulado “Duck, You Sucker”, na Itália é conhecido como “Giù la Testa” e aqui no Brasil ganhou o título “Quando Explode a Vingança”, 1971) é uma produção da United Artists que, depois de Sam Peckinpah e Peter Bognadovich terem abandonado a produção, foi assumida pelo Sergio Leone (que trouxe pro projeto seu fiel parceiro Ennio Morricone com uma trilha sonora marcante). Na época de seu lançamento nos cinemas foi um grande fracasso de bilheteria (fato que fez com que Sergio Leone ficasse 12 anos sem dirigir um novo filme, só retornando a direção no “Once Upon a Time in America”, 1984, que veio a ser seu último filme. Claro que Leone não ficou parado este tempo todo, a produção (e co-direção não creditada) do clássico “Il Mio Nome é Nessuno/Meu Nome é Ninguém” de Tonino Valerii, 1973, e do meia-boca “Un Genio, Due Compari, Um Pollo/Trinity e seus Companheiros” de Damiano Damiani, 1975, é do Leone, só prá citar dois exemplos).
Neste “A Fistful of Dynamite” (que possuí estrutura narrativa parecida com “Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo”), temos a transformação do ladrãozinho Juan Miranda (Rod Steiger), analfabeto e apolítico, num herói da revolução mexicana (o filme se passa em 1913) pelas mãos manipuladoras do terrorista irlandês John Mallory (James Coburn), numa clara metáfora de Leone sobre a manipulação das classes, o intelectual dominando o analfabeto, não à toa, Juan Miranda resmunga gritando certa hora: “Sei Tudo sobre revoluções e como elas começam! Gente que lê livros vai atrás de quem não lê, gente pobre, e diz que chegou a hora de haver mudanças! E a gente pobre faz as mudanças, hein? Aí, os que lêem livros se sentam em grandes mesas lustrosas e falam, falam, comem e comem, hein? Mas o que acontece com os pobres?… Eles estão mortos! Essa é a sua revolução!!!”.
É interessante notar como Leone construiu o filme, a primeira uma hora é levada em ritmo de comédia pastelão enquanto o ladrão trambiqueiro quer convencer o terrorista expert em explosões com dinamite à roubar um banco em Mesa Verde (vários momentos lembram os westerns com Terence Hill e Bud Spencer) até que eles chegam à Mesa Verde onde as tropas do governo mexicano estão fuzilando todos os suspeitos de serem rebeldes, neste ponto o filme assume proporções épicas com cenas muito bem filmadas, como nos assassinatos em massa onde camponeses são mortos dentro de grandes valas (remetendo às matanças nazista na segunda guerra mundial), a explosão da ponte e a eletrizante batalha final com descarrilhamento dos trens (aliás, os efeitos do filme são assinados pelo também cineasta Antonio Margheriti, diretor dos clássicos “E Dio Disse a Caino” (1970), “Take a Hard Ride” (1975), “Death Rage” (1976), “Killer Fish” (1979), “Cannibal Apocalypse” (1979), “Tornado” (1983), “Alien Degli Abissi” (1989) e co-diretor não creditado do clássico “Andy Warhol’s Frankenstein”, 1973).
“A Fistful of Dynamite” está disponível em DVD em sua versão completa de 157 minutos no Brasil sob o título “Quando Explode a Vingança”. Na época do seu lançamento a United Artists disponibilizou o filme com 40 minutos de cortes porque não teria ficado contente com o conteúdo político do filme (Sergio Leone é um notório marxista).
Sergio Leone foi um dos mais interessantes diretores dos anos 60/70, grande inspirador de todo o ciclo do Spaghetti Western e continua influênciando cineastas mundo à fora (“Kill Bill”, 2003-2004 e “Inglourious Basterds”, 2009, ambos de Quentin Tarantino, não seriam tão divertidos sem os plágios – mesmo disfarçado de “homenagem”, um plágio não deixa de ser um plágio – que Tarantino costuma fazer do mestre italiano.
Trailer do filme:
Algumas versões dos cartazes do “A Fistful of Dynamite”:
junho 4, 2012 às 11:44 am
[…] se dedicar ao western e realizou “La Ley del Colt”, na cola do sucesso dos filmes de Sergio Leone. Seu melhor filme no gênero western foi “Killer Calibro 32″ (1967). Quando os filmes […]
setembro 10, 2012 às 12:10 am
[…] Nos anos de 1950 e 1960 fez muitos trabalhos para a televisão até que em 1968 o diretor italiano Sergio Leone o convidou para viver a personagem Cheyenne no clássico “C’Era una Volta il West/Era […]