Arquivo para março, 2011

O Rei do Cagaço

Posted in Cinema, Entrevista with tags , , , , , , on março 31, 2011 by canibuk

Brazilian Trash Cinema era um fanzine que Coffin Souza e eu fazíamos entre os anos de 2000 e 2001, durou apenas 3 edições (a primeira de Maio de 2000 com 48 páginas, a segunda de Novembro de 2000 com 60 páginas e a terceira de Junho de 2001 com 68 páginas), neste fanzine a gente cobria o cinema marginal, cinema sexploitation (e pornô), cinema de gênero brasileiro, cinema de vanguarda e as produções em vídeo da época, publicamos nele matérias e entrevista com gente como Nilo Machado, Ivan Cardoso, Mojica, Andrea Tonacci, Jairo Ferreira, Diomédio M., Rajá de Aragão e muitos outros caras fodas que faziam uma arte autêntica. Devagar vou disponibilizando aqui no blog algumas coisas publicadas neste fanzine que era um barato fazer! Hoje segue uma entrevista com o Edgard Navarro (que não foi a gente quem fez, simplesmente encontramos ela em algum lugar – que minha memória não permite lembrar que local era – e disponibilizamos para o nosso público tomar contato com as experimentações do Navarro). A mini-entrevista é ilustrada pelas páginas do “Brazilian Trash Cinema” (e não tem relação alguma com a entrevista do Navarro).

EGDAR NAVARRO:

Filmar é desvendar o mistério do ser

Alguém: Você continua achando que pessoas prudentes não fazem revolução?

Navarro: (risos) Felizmente eu não sou uma pessoa prudente!

Alguém: Como tudo começou?

Navarro: Uma das primeiras coisas que filmei foi um cu cagando. Uma coisa esquisita mas que tem haver com minha personalidade transgressora, a vontade de falar palavrões na cara de uma sociedade hipócrita. Afinal todos cagam, peidam e trepam.

Alguém: Fale sobre a filmagem dessa cena, trata-se do filme “O Rei do Cagaço”?

Navarro: A cena do cocô dura um minuto e meio. É uma cena que toca muito. Foi inspirada num livro de Salvador dali. Na verdade esta cena representa o cu da humanidade. Quando filmei esta cena tinha a certeza de que estava vendo aquilo pela primeira vez. Se o Louis Armstrong (nota do blog: Navarro confundiu o jazzista com o astronauta Neil Armstrong) foi o primeiro homem a pisar na lua eu tinha a sensação de ser o primeiro homem a ver um cu cagando daquela proximidade, com aquele close todo. Na hora, confesso que fiquei descabaçado!

Alguém: Como são as reações das pessoas quando assistem esta cena?

Navarro: Eu percebo que os primeiros segundos são de sorrisos e gargalhadas. Mas depois elas passam a ficar incomodadas com isso. Chega o momento que elas passam a se entre-olharem e rirem de nervosas.

Alguém: E você?

Navarro: A imagem mais contundente que fiz era uma merda, teve momento que eu entrei numa viagem de que não poderia mostrar esta cena. Aquilo era uma coisa demoníaca, que poderia ser amaldiçoado, que não podia fazer mais nada. Deveria desistir de tudo? Resolvi continuar!!!

Alguém: Por que você filma?

Navarro: Parafraseando Artaud, eu filmo para acabar de vez com o juízo de Deus. Filmar é desvendar o mistério do ser. Quando começo a escrever um roteiro eu entro numa espécie de transe. Aquilo quer sair de mim e precisa sair de mim. É daquela forma que vou atingir o meu companheiro, meu igual, ser humano. Essa é a única coisa importante que faço na vida além de comer, cagar e ter uma vida orgânica.

Contos Macabros!

Posted in Quadrinhos with tags , , , , , , on março 31, 2011 by canibuk

Postando hoje uma HQ de Júlio Y. Shimamoto onde ele, em tom de humor macabro, brinca com uma grande personalidade do horror mundial (e de lambuja, brinca também com a história das revistas de horror da EC Comics) de maneira brilhante. Essa HQ, “Contos Macabros!”, foi originalmente publicada na “Spektro” número 3.

Um Lugar Para Ficar

Posted in Literatura with tags , , , on março 30, 2011 by canibuk

ser jovem, idiota, pobre e feio

não contribui para fazer a vida parecer melhor.

tantos fins de tarde, examinando as paredes sozinho

sem

nada pra fumar

nada pra comer

(nós geralmente bebíamos rápido o meu salário).

ela sempre parecia ansiosa pra ir embora

ansiosa pra se mudar

mas primeiro ela me fez passar

pela sua escola

(me dando Mestrado e Doutorado

no assunto)

e ela sempre voltava no final,

ela queria um lugar para ficar,

ela dizia,

algum lugar pra deixar suas roupas.

dizia que eu era engraçado,

que eu fazia ela rir

mas eu não estava tentando ser

engraçado.

ela tinha pernas bonitas e era

inteligente mas não se importava

com nada,

e toda minha fúria e meu humor e

toda minha loucura apenas a entretinham

brandamente: eu estava atuando pra ela

como uma marionete triste em alguma farsa de mim mesmo.

algumas poucas vezes depois que ela saía eu tinha

vinho vagabundo e cigarros na mão suficientes

para uns poucos dias,

eu ouvia o rádio e olhando para as

paredes e ficava bêbado o suficiente para

quase esquecê-la

mas então ela voltava mais uma

vez.

nenhuma outra mulher me fez sentir tão

mal como eu me senti então

como naqueles fins de tarde

durante a caminhada de três quilômetros de casa para o trabalho

dobrando a viela

olhando a janela

e encontrando a cortina escura.

ela me ensinou a agonia dos desgraçados

e dos inúteis.

todos querem uma boa mulher, boa sorte, bom

tempo, bons amigos mas

para mim ela era um tiro no escuro

o clima estava frio e a bala

perdida

eu a enterrei cinco invernos depois de a ter encontrado,

raramente a via nos últimos três anos.

havia apenas quatro pessoas no enterro dela:

o padre

a proprietária da casa

o filho dela e eu.

isso não importava enquanto

eu lembrava

todas aquelas caminhadas pela viela procurando

em vão por uma luz por trás da cortina e quando

eu lembrava

todas as dúzias de homens que tinham fodido com ela e

que não estavam lá no fim.

sim apenas

um dos homens que tinham amado ela

estava lá: “meu funcionário louco do

depósito da loja de departamentos,” ela me chamava.

escrito por Charles Bukowski (respeitamos a grafia original do poema dele).

E Do Caos Criei A Exuberante Anomalia Cloacal

Posted in Literatura, Nossa Arte with tags , , , , , , on março 29, 2011 by canibuk

A criação perdeu-se em sua complexidade. Nadou para os anais do ralo castrador e boiou, boiou e boiou cano abaixo, rumo ao Olímpio fecal tão venerado nas missas de domingo que teimam em nunca abandonar a ignorância do homem. Lá, protegida em seu casulo de seda negra, organizou suas células rebeldes e floresceu para o mundo cão. O homem com várias cloacas – sim leitores, cloacas são aqueles orifícios que expurgam merda e mijo ao mesmo tempo – saltou para fora do casulo. Estava completa sua metamorfose. Continuaria seu sopro de vida. Os palhaços lotaram as arquibancadas do show da vida para apreciar o novo ser, o incrível homem repleto de cloacas nas costas, axilas, rosto e até no umbigo. O criador incrédulo também compareceu, precisou ver para crer. Suas cloacas exalavam um cheiro doce capaz de fazer com que todos se sentissem de bem com suas vidas medíocres. O homem-cloaca observou todos ao seu redor. Suas cloacas pulsavam possivelmente excitadas pela estranha veneração do respeitável público. Algo de podre, então, aconteceu no reino de Baiestorf. O homem-cloaca produziu uma curiosa substância de fino trato que transbordava de suas cloacas super excitadas. Enrolou a substância de cor rosa num palito de madeira e ofereceu a uma cria de sorriso automático. A cria olhou a substância produzida pelas cloacas do homem e num único gesto, também automático, levou a massa doce a sua boca. Mastigou confiante e gostou daquilo. O Homem-cloaca defecou algodão doce. O homem-cloaca produziu algodão doce. E seu algodão doce cloacal causou impacto. Era realmente delicioso. Logo todos os palhacinhos estavam comendo mais e mais algodão doce cloacal, como que viciados em mais uma maravilha. A maravilha que fazia suas vidas parecerem menos medíocres!

escrito por Petter Baiestorf.

Homem-Cloaca desenhado por Luciano Irrthum.

INK.

Posted in Arte e Cultura, Body Modification, Fetiche, Fotografia with tags , , , , , , , on março 28, 2011 by canibuk

Nós (o Petter e eu) gostamos sim é das modificadas!!! Segue então algumas fotografias da sessão Ink, tiradas do site do fotógrafo sul-africano Warwick Saint.

Ivan Cardoso & O Crepúsculo do Olho

Posted in Cinema with tags , , , , , , on março 27, 2011 by canibuk

Gurcius & Ivan.

Interceptamos uma correspondência entre nosso Ivampiro Tarado Ivan Cardoso e seu Homem-Cão (e escravo sexual de todas as posições) Gurcius Gewdner, onde ele faz uma descrição extremamente importante e detalhada (tem valor de documento histórico) do seu novo projeto cinematográfico, “O Crepúsculo do Olho”, uma experiência de desconstrução cinematográfica bem ao estilo daquelas que tenho adoração (em 1999, Coffin Souza e eu, realizamos um projeto parecido, montamos em Super 8 uma desconstrução experimental riscando/raspando desenhos lisérgicos diretamente sobre a película – tente fazer isso em quadradinhos de 8 milímetros e fique louco – e o resultado foi o curta-metragem pouco visto “Pornô”, de 3 minutos). Destruir o cinema sagrado (entre as películas que Ivan destruiu neste projeto estão “Cancêr” de Glauber Rocha e “Alphaville” de Godard, filmes do Mojica e até seus próprios trabalhos) para, a partir desta destruição, recriar uma nova forma de visualizar esses mesmos filmes, transmutados em um mundo particular gerado pela mente irrequieta de Ivan Cardoso, o mais genial dos cineastas vivos do cinema brasileiro.

Segue o documento confidencial e top secret:

O HOMEM DOS OLHOS DE RAIO X

“No começo da semana que vem darei início à finalização do “CREPÚSCULO DO OLHO”, já tendo mais de meia hora de negativos rabiscados e animações, com destaque especial para a última série que fiz em cima de copiões com imagens já impressas. Além do resultado aparentemente ter ficado muito legal, quando for projetado estas animações ganharão um movimento fantástico graças ao movimento das imagens já impressas… Além disso, não tenho conhecimento que outros malucos, como eu, tenham desenvolvido tal técnica! Estou louco para terminar esta série porque este trabalho esta realmente acabando comigo e com o que restou da minha casa… Além de dormir diariamente às sete/oito da manhã, a descoberta deste novo processo me colocou, com toda minha experiência dos meus 56 bem vividos anos, à beira da loucura… Não só pela excitação que a descoberta deste novo processo causou em mim, como também por sua radicalidade! Se você passar a desenhar em fotogramas já impressos ou pontas, além de subverter todo um processo de captação de imagens, até então obrigatório para se fazer um filme, me colocou às portas de infinitas novas possibilidades de fazer um filme deixando de lado várias etapas caríssimas de produção: negativo virgem, revelação, equipe de filmagem, produção, etc. Embora limitado por um lado – é logico que é um tipo de filme bastante diferente do convencional – são inesgotáveis as possibilidades que você vai descobrindo a medida que você vai desenhando os fotogramas… Por exemplo: utilizei trechos de uma seqüência de “Cancêr” do Glauber onde o Hugo Carvana e a Odete Lara fumam um baseado… Como essas imagens não me pertencem eu tenho que desfigurá-las a tal ponto que elas se transformam; quando usei uns takes do “Cabeças Cortadas” para utilizar uns planos do Cierre Clementi tive de acabar cortando a sua própria cabeça, ou utilizando simplesmente uma circunferência para transformar sua cabeça numa bola transparente, ou as vezes desenhando uma caveira em cima da imagem do seu rosto… E o resultado, nem preciso dizer: fica espetacular!!! Também venho trabalhando copiões coloridos com soda caústica & água sanitária… Que além de serem produtos super tóxicos que acabam com as suas mãos, unhas e roupas, são produtos viscosos que penetram na cutícula, entre os dedos e nas unhas onde acabam ficando, de forma que muitas vezes ao passar a mão no rosto, ou a limpar o nariz após um teco, eu acabo ingerindo um pouco destes venenos! Que além de poderem me matar, acabarão destruindo ainda mais o meu nariz ! Graças a deus, e por usar óculos, nunca respinguei esses produtros nos olhos, o que seria fatal para eles, imagino… Mas, as mãos são aquela parte do nosso corpo que não param, não só para desenhar os negativos, como para aplicar a água sanitária ou a soda, espalhá-la sob as imagens e posteriormente lava-las… Enquanto isso você coça o saco com água sanitária, coça o cu com água rais, limpa a boca com água sanitária, assoa o nariz com soda !!! Meu deus, será que estou tentando me suicidar !!! O resultado da soda caústica,  da água rais & da água sanitária sob os copiões coloridos (são fantásticos), além de fabulosos, em seu aspecto químico: você joga o produto sob os negativos e, em poucos segundos, ele começa a interagir entre as camadas de cores dos filmes destruindo partes das emulsões, processo que vai mudando a cor das imagens que, caso você deixe rolar após se tornarem bastante psicodélicas, vão sendo pela cor verde e se você continuar esfregando o dedo ou uma esponja o verde também desaparece e o negativo fica inteiramente amarelo ! Durante esse díficil controle do processo, acontece que você tem de tomar um cuidado enorme porque se ficar tudo amarelo também não tem graça… E se você lavar com água então tá fudido, porque até o amarelo, a princípio ouro ou gema, como você preferir, a água também o descolore restando um amarelinho bem transparente… Quando o bacana desta técnica é você destruir partes do negativo, deixando algumas originais – com as cores certa – outras áreas degradê, entre essa loucura que lhe contei e a normal e outras inteiramente psicodélicas… A grande dificuldade que ainda não sei como resolver é que sem lavar com esses produtos químicos que ficam sob o filme, a sua emulção não seca rapidamente, as vezes levando dias para secar e mesmo assim ficam muito precárias e perigosas de grudarem uma nas outras, além deste resultado também esmaecer através do tempo…. Agora o mais curioso é que, como tenho guardado todos as sobras de negativos & copiões dos meus filmes, vou no melhor estilo dos super oito, fazendo uma montagem à olho nu em cima de uma  lâmpada, com os striptease  das vampiras – em especial o da Alvamar Taddei cuja as seqüências foram muito mal aproveitadas no filme porque tenho uma metragem enorme destas cenas inéditas, além das minhas tradicionais seqüências de banho da Clarice na serra, aliás um desses clips é “O ESCORPIÃO NEGRO EM ALPHAVILLE”, misturando seqüências do meu escorpião com as do filme do GODARD! Obs: ou seja, falando sério, quem está num horizonte distante destes, não pode levar um papo térreo destes do Márcio… Se vai DAR SAMBA, ainda não sei mas estou me requebrando todo!!! Essas montagens e como tenho praticamente duas, três, quatro versões dos mesmos planos destes filmes – porque durante o processo de captação de imagem, principalmente pela escola & perícia dos profissionais que trabalhavam nestes bons tempos, aprendi a gastar muito negativo, cobrindo as seqüências em vários ângulos e repetindo o mesmo take várias vezes no melhor estilo hollywoodiano – me veio a cabeça uma idéia que nunca tinha me atraído, fazer um novo filme com uma nova história apartir das já filmadas…. Que loucura! Ainda mais quando você percebe isso às 6 da manhã… Acho que o Bogdanovich – que é um cineasta desmoralizado pelo Orson Welles – tem um filme assim, feito apartir de uma colagem de vários outros, mas como lhe disse a princípio isso não me interessava, além do meu universo ser muito mais restrito! Trabalho com as imagens dos meus filmes e algumas outras piratas que utilizei, ou outras como as do Glauber & do Mojica que também utilizei em determinados filmes: aliás tenho muitas fotos do Glauber filmadas e outro grande hit desta minha nova serie é o “O HOMEM DOS OLHOS RAIO X” com o Glauber no papel do grande Ray Milland e ainda, escrevi  num baloon jurássico ele dizendo: “fiquei doidão!… Tô viciado nesse colírio do Corman!”. Guarde com carinho este e-mail porque pela primeira vez fiz um extenso relato dessas minhas novas experiências & como diria o Mojica: ISSO É MUITO IMPORTANTE!!! “

IVAN CARDOSO,
RJ, 26/03/2009
.
Nota do Blog:
Nos anos 50 e 60 cineastas undergrounds como Stan Brakhage (seu “Thigh Line Lyre Triangular”, de 1961, foi pintado e arranhado sobre imagens, Brakhage tentou imprimir o que seu terceiro filho teria visto ao nascer, uma sucessão de explosões de luzes coloridas e outros exemplos de visão de olhos fechados), Bob Branaman (no seu “Goldmouth”, de 1965, um 16 mm sobre o poeta Lawrence Ferlinghetti, onde intercalou películas coloridas, preto & branco e negativas, arranhou e pintou sobre o filme e até mesmo colocou pequenos trechos de outros filmes dentro de um mesmo fotograma para fazer verdadeiras colagens em filme) ou Carmen D’Avino (seu “A Trip”, de 1960, foi resultado de um bloqueio mental, incapaz de trabalhar D’Avino atirou antigos filmes expostos dentro de uma banheira, juntou tintas de cor e conhaque (a bebida), arranhou, estampou e lixou a película, cortou o que restou em comprimentos de dois pés e terminou pintando diretamente sobre o filme de 16mm).
 
Todas as fotos deste post foram tiradas por Petter Baiestorf durante a “Mostra Trash 3”, na cidade de Goiânia em 2006.

Eurociné – Os Canalhas do Eurotrash

Posted in Cinema with tags , , , , on março 26, 2011 by canibuk

Eurociné é uma empresa cinematográfica européia fundada em 1937 e comandada por Marius Lesoeur. Entre os diretores que trabalhavam prá empresa, nomes picaretas como Jesus Franco e Jean Rollin e atores como Howard Vernon, Richard Harrison, Christopher Mitchum e Christopher Lee. Os melhores filmes da Eurociné foram feitos entre 1960 e 1980, quando começou o declínio deles e é minha fase preferida (não que os filmes anteriores não fossem vagabundos, mas depois dos anos 80 os orçamentos ficaram mais minguados ainda), com filmes como “Mondo Cannibale” (1980, Jesus Franco, não confundir com “Ultimo Mondo Cannibale” de Ruggero Deodato), “L’Abîme des Morts Vivants/Oasis of the Zombies” (1981, Jesus Franco) ou o inacreditável “Le Lac des Morts Vivants/Zombie Lake” (1981, começado por Jesus Franco que sumiu ainda na pré-produção do filme que foi assumido por Jean Rollin com colaborações de Julian Laserna). Sobre “Le Lac des Morts Vivants”, considerado o pior filme francês já feito, Rollin comenta:

“Era um dia antes das filmagens e ninguém sabia onde Jesus Franco estava. Nem sinal, nem nada. Eu estava para sair de férias quando tocou o telefone. Era a Eurociné que perguntou se eu estava interessado em dirigir um filme deles. Eu disse: “Por que não? Quando precisam de mim?” e eles responderam: “Pode começar amanhã.” Não li o roteiro, não sabia nada do filme além de que tratava de zumbis, e o produtor me explicava toda manhã o que eu devia filmar. Nunca levei esse filme a sério. A Eurociné é uma empresa bizarra. Não tenho certeza do que eles fazem. Acho que eles pensam que “Le Lac des Morts Vivants” é um bom filme de terror! Eles vivem em outro planeta!”

De acordo com Pete Tombs e Cathal Tohill no livro “Immoral Tales: European Sex and Horror Movies”:

“O filme foi ultra baixo orçamento até para os padrões da Eurociné. Em certo ponto, problemas técnicos fizeram a câmera rodar mais devagar, deixando os movimentos mais rápidos. Não havia como consertar e o tempo estava correndo, então Rollin teve que ensinar o elenco a atuar em câmera lenta”.

Trasheira exemplar e imperdível. A Eurociné produz filmes até hoje, última produção deles listada no IMDB é “El Rey” (divertido drama sobre o traficante Pedro Rey, aqui no Brasil se chamou “O Rei do Tráfico”). Fiquem com alguns trailers de filmes produzidos pela Eurociné (é díficil de encontrar trailers dos filmes deles, fiz várias buscas e quase sempre com resultado nulo) e quem curtir trash-movies tem obrigação de correr atrás dos filmes deles:

E para quem curtiu o trailer do “Oasis of the Zombies”, segue aqui filme inteiro para ser assistido:

Zumbis – O Livro dos Mortos

Posted in Cinema, Literatura with tags , , , , , on março 24, 2011 by canibuk

Saiu no Brasil o livro “The Book of the Dead” (de 2005, título brasileiro: “Zumbis – O Livro dos Mortos”, 350 páginas) de Jamie Russell, com todo tipo de informação sobre os zumbis no cinema, histórias de bastidores das produções, uma delíciosa filmografia zumbi e, especialmente para a edição Brasileira, um capítulo de atualização com informações sobre “Mangue Negro”, “A Capital dos Mortos”, “Era dos Mortos” e “Porto dos Mortos” (“Zombio”, o primeiro filme de zumbis brasileiros, já se encontrava resenhado na edição original). James B. Twitchell, em sua pesquisa sobre o fascínio ocidental pelo terror, mostrou-se indiferente quanto aos mortos-vivos, disse:

“O mito do zumbi parece ter defeitos, por conta de sua falta de complexidade. O Zumbi é na verdade uma múmia em roupas casuais, sem vida amorosa e com grande apetite. Ambos são autômatos; nada habilidosos nem heroicos. Eles apenas zanzam por aí (Karloff chamava isso de “meus passinhos”), arrastando os pés como colegiais sem acompanhante antes do baile. Diferentemente do vampiro, que é engenhoso, circunspecto e erótico, seus primos são lesmas sub-humanas. O Zumbi é um cretino absoluto, um vampiro lobotomizado, e é isso que tende a levar (todos os filmes posteriores a “I Walked With a Zombie”, 1943) a ser pouco mais que veículos de violência explícita, cheios de gente (geralmente homens) se cutucando e ocasionalmente se alimentando uns dos outros. O zumbi é tão raso que até Abbott e Costello recusaram-se a encontrá-lo”.

Ou seja, poucos monstros de filmes de terror são tão malvistos quanto o zumbi e Russell corrige isso ao dar o verdadeiro destaque que os zumbis merecem em um livro imperdível sobre este sub-gênero do horror cultuado por hordas de zombie-fans fanáticos por sangue e vísceras ao redor de todo o planeta Terra. E prova com argumentos porque as produções com zumbis permaneceram marginalizadas na indústria cinematográfica, a passagem seguinte diz muito:

“Apesar do inegável sucesso de “White Zombie” (1932), poucos dos grandes estúdios estavam interessados em ir atrás dos mortos-vivos. Grandemente considerado como pouco mais que um feliz acaso de bilheteria, “White Zombie” não incentivou nenhum renomado produtor a considerar filmes sobre cadáveres que andam ou (sobre) o Caribe. A maioria das instituições de Hollywood considerava o zumbi pouco mais que um emergente irregular, um sucesso passageiro e de segunda linha. Não convencidos de que havia lucro em ver mortos caminharem, os grandes estúdios viraram as costas para os zumbis, e a antiga associação desses monstros com filmes de baixo orçamento e o desprezo da crítica começou.”

Aqui no Brasil, pessoal que acompanhava o maravilhoso mundo dos fanzines, deve lembrar de empreitada semelhante do fanzineiro Coffin Souza que, em 1999, lançou um “Suspiria Especial Zumbis” com uma pesquisa semelhante (que tentava listar todos os filmes com zumbis já produzidos).

O preço normal do “Zumbis – O Livro dos Mortos” parece ser R$ 45,00, mas já encontrei em sites de venda por R$ 35,00. Pode comprar que é tão delicioso quanto ver corpos podres andando por aí em busca de cérebros fresquinhos!

Classic Collection da Flashstar

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , on março 23, 2011 by canibuk

A distribuidora flashstar está lançando alguns clássicos do cinema “B” e do cinema trash em versões colorizadas digitalmente, as cópias estão lindas e os filmes até agora parecem escolhidos à dedo. Nos DVDs rola até alguns extras e trazem, sempre, a versão colorida e a versão original em preto e branco no DVD (mas os cuidados com essa coleção poderiam ser ainda maiores, “Zaroff”, por exemplo, veio com o rótulo todo errado, como comentarei mais abaixo). Neste mês abre a pré-venda de “Phanton From Space”  (1953) de W. Lee Wilder  e “Phantom Planet”  (1961) de William Marshall. Testei os seguintes DVDs:

“The Last Man On Earth” (“Mortos Que Matam”, 1964, 86 min.) de Ubaldo Ragona. Com: Vincent Price, Franca Bettoia e Emma Danieli. O roteiro deste filme é baseado no livro “I Am Legend” de Richard Matheson e mostra a humanidade sendo dizimada por um vírus que transforma os humanos numa espécie de vampiros zumbificados (acho este filme uma delícia, mas faltou os zumbis dele serem perigosos como foram os zumbis do George A. Romero em 1968, no clássico “The Night of the Living Dead”). Vincent Price é um cientista que não é infectado e acredita ser o último homem no planeta Terra. Existem várias outras versões prá essa história, sendo a melhor de todas a produção “The Omega Man” (1971), de Boris Sagal, estrelado pelo Charlton Heston. Nos extras do DVD temos Vincent Price apresentando um episódio da cine-série “Aconteceu em Hollywood”, sobre filmes de faroeste.

“The Devil Bat” (“O Morcego Diabólico”, 1940, 68 min.) de Jean Yarbrough. Com: Bela Lugosi e Suzane Kaaren. Lugosi é um cientista enlouquecido por seus patrões gananciosos e busca vingança criando uma raça de morcegos diabólicos. Um intrépido repórter investiga as mortes e começa a suspeitar de uma misteriosa loção pós-barba que está sendo utilizada em toda a cidade e que pode ter relação com os tais morcegos. Este filme foi produzido praticamente sem dinheiro pela Producers Releasing Corporations e em 1990 foi restaurado em 35mm por Bob Furmanek. O diretor Jean Yarbrough também dirigiu o “She-Wolf of London” (1946) e alguns filmes da dupla Abbott & Costello.

“Reefer Madness” (“A Erva Maldita”, 1936, 65 min.) de Louis J. Gasnier. Com: Dave O’Brien, Dorothy Short, Carleton Young, Thelma White e Kenneth Craig. Este clássico anti-maconha também era conhecido pelo título “Tell You Children” na época que foi lançado e sobreviveu ao tempo graças ao culto de maconheiros cinéfilos que rolam de rir com os absurdos mostrados nesta produção hilária. Acompanhamos um traficante de maconha que vicia as crianças da sociedade americana com apenas uma simples tragada num inocente baseadinho e ficamos sabendo de casos de usuários de maconha, como o garoto de 16 anos, que “fumou a terrível droga e matou toda a família com um machado” ou a garota de 17 anos que após fumar “se deixou ser seduzida por cinco homens mais velhos ao mesmo tempo”. A versão colorizada digitalmente mostra a fumaça dos baseados coloridos, variando de fumaça verde até rosinha. Genial!!! Esse filme é uma diversão, em 2005 Andy Fickman refilmou “Reefer Madness” como um musical, mais demente, mais engraçado, com cenas gores, zoações com religião e até zumbis (foi lançado aqui no Brasil em DVD pela distribuidora Imagem Filmes com o título de “A Loucura de Mary Juana”, pode sair atrás dele que é ótimo). Nos extras deste lançado pela Flashstar há o divertido curta documentário “Grandpa’s Marijuana Handbook” onde um velho de quase 80 anos explica as virtudes de se fumar maconha.

“The Giant Gila Monster” (“O Gigante Monstro Gila”, 1959, 75 min.) de Ray Kellogg. Com: Bob Thompson, Lisa Simone, Shug Fisher e Don Sullivan. Um lagarto gigante (na verdade um lagarto comum andando sem rumo por entre carros em miniatura bem vagabundos) começa a atacar uma região dos Estados Unidos e o xerife da localidade precisa pedir a ajuda de um mecânico adolescente bom moço, tão bom moço que chega a irritar. Os efeitos deste filme são hilários, como quando o lagarto é empurado por algum desalmado da equipe técnica para arrebentar uma parede de isopor. As miniaturas feitas para este filme são muito vagabundas, por isso mesmo, o filme virou um cult e merece ser revisto sempre. Em tempo: a trilha sonora deste filme é uma delícia.

“The Killer Shrews” (“O Ataque dos Roedores”, 1959, 68 min.) de Ray Kellogg. Com: James Best, Ingrid Goude, Ken Curtis e Gordon McLendon. Eis que Ray Kellog ataca novamente com outro clássico de orçamento extremamente baixo, também filmado no Texas. Aqui um capitão de navião chega até uma remota ilha deserta onde um grupo de cientista está realizando experiências biológicas secretas e descobre que a ilha está dominada por roedores (os terríveis Musaranhos aqui no filme são cães maquiados para parecerem roedores gigantes, inacreditável a cara de pau de Kellogg) que precisam ser exterminados. A seqüência final com o capitão, mais a mocinha do filme e seu pai cientista, fugindo dos roedores dentro de tonéis de lata é uma das coisas mais divertidas já filmada em todos os tempos. Nos extras do DVD há um documentário chamado “Saiba mais sobre os Musaranhos”, mas é sobre esquilos, o que me fez rolar de rir histérico.

“Bride of the Monster” (“A Noiva do Monstro”, 1955, 69 min.) de Edward D. Wood Jr. Com: Bela Lugosi, Tor Johnson, Tony McCoy e Loretta King. Bela Lugosi, mais canastrão que habitualmente, interpreta o Dr. Vornoff, um cientista que pretende criar uma raça de super-homens atômicos para dominar o planeta Terra e é auxiliado pelo gigante Lobo (Tor Johnson em seu melhor momento no cinema). Ed Wood estava inspirado quando filmou este longa com orçamento zero, prá quem se interessa pelos bastidores dos filmes, recomendo o longa “Ed Wood” (1994) de Tim Burton, que mostra um pouco do que foi as filmagens deste clássico cult. “Night of the Ghouls” (1959), também de Wood, é a seqüência deste filme e, após ter sido finalizado, passou década sem ser exibido em lugar algum. Nos extras do DVD uma entrevista com Bela Lugosi.

“Missile to the Moon” (“Míssil Para A Lua”, 1958, 78 min.) de Richard E. Cunha. Com: Richard Travis, Cathy Downs e K.T. Stevens. O governo americano cancela o projeto científico da viagem para a Lua e o cientista Dirk Vert resolve ir por conta própria para nosso satélite com dois presidiários escondidos na nave espacial. Chegando na Lua, eles precisam ficar apenas nas regiões de sombras (para não serem queimados pelos raios solares) e descobrem que nessas sombras se escondem monstros lunares, mulheres e gigantescas aranhas malignas. “Missile to the Moon” é uma refilmagem do “Cat-Women of the Moon” (1953) de Arthur Hilton. Reparem nas aranhas gigantes sendo controladas por fios indiscretos e na paisagem lunar que se assemelha muito à região de Vasquez Rocks, pertinho de Los Angeles.

“The Most Dangerous Game” (“Zaroff – O Caçador de Vidas”, 1932, 63 min.) de Irving Pichel & Ernest B. Schoedsack. Com: Joel McCrea, Fay Wray, Leslie Banks e Robert Armstrong. O roteiro foi adaptado do livro “The Most Dangerous Game” de Richard Connell sobre um grande caçador que resolve começar a caçar humanos como esporte. “Zaroff” foi co-digirido pelo co-diretor de “King Kong” (1933) e, como custou muito pouco sua realização, deu muito mais lucro que a super-produção “King Kong”. A capinha feita pela Flashstar está toda errada, na frente a produção é atribuída ao genial Ray Harryhausen (que nasceu em 1920, ou seja, na época do lançamento deste filme Harryhausen tinha apenas 12 anos) e na parte de trás temos a sinópse do “Bride of the Monster” (ambos os filmes foram entregues no pacote de Março da Flashstar) com a equipe-técnica do “Zaroff”. Em tempo: Fay Wray é a mesma garota por quem o Kong se apaixonou no ano seguinte à essa produção. Abaixo os erros na parte traseira da capinha (mais atenção senhores da Flashstar, por favor!!!).

Ron Jeremy

Posted in Arte Erótica, Cinema with tags , , , , , , , on março 22, 2011 by canibuk

Como Leyla e eu estamos sempre postando mulheres aqui no Blog, resolvi postar hoje sobre o meu ídolo Ron Jeremy que é prá dar uma diversificada. Quando eu era criança vi um filme chamado “Slit Skirts” (“Chupeta Erótica”, 1983) de J.D. Marlowe, onde aparecia um gordo bigodudo (tá, naquela época ele nem era tão gordo, mas fugia do padrão ator pornô saradão com cara de viado) e pensei na hora: “Quero ser este cara quando crescer!!!”.

Ron Jeremy nasceu em 12 de março de 1953 e já fez mais de 1500 filmes (excluíndo coletâneas). Começou a fazer filmes no ano de 1973 (apesar que datas no mundo dos filmes pornô são sempre informações desencontradas), sobreviveu à AIDS e continua atuando na indústria pornô até nos dias de hoje e a defendendo com unhas e dentes (ou seria “com pau e bolas”???), em 2006 por exemplo, Ron participou da turnê “Porn Debate Tour” junto do pastor Craig Ross por Campus Universitários americanos e canadenses com o objetivo de discutir a pornografia. Pastor Ross defendia que a pornografia é algo viciante e nociva à saúde (na certa defendia que os verdadeiros valores humanos são fazer guerra e enganar o próximo) e Ron defendia o ponto de vista que a pornografia é um aspecto legítimo da sexualidade humana.

No ano de 2001 foi lançado o documentário “Porn Star: The Legend of Ron Jeremy” de Scott J. Gill que é imperdível para quem quiser conhecer mais sobre o fantástico Ron Jeremy, o gordinho sexy do mundo pornô, o bigodinho do amor.

Nos últimos anos Ron Jeremy (que sempre, desde os anos 80, alternou produções pornograficas com participações especiais em filmes de outros gêneros) tem aparecido em vários filmes da Troma, como “Terror Firmer” (1998), “Citizen Toxic: The Toxic Avenger 4” (2000) e “Poultrygeist: Night of the Chicken Dead” (2006) (todos de Lloyd Kaufman), até filmes como “Crazy Animal” (2007) de John Birmingham distribuido pela Troma ou em grandes produções como “Crank: High Voltage” (2009) de Mark Neveldine e Brian Taylor onde ele aparece numa greve de atores pornôs (Lloyd Kaufman tabém faz uma ponta neste filme, reveja e tente identifica-lo).

Segue uma seleção de fotinhos com nosso herói pançudo, longa vida ao rei!!!