Lampião: Herói ou Bandido?
Na fazenda Ingazeira ele nasceu
Vila Bela, atual Serra Talhada
Virgulino Ferreira na estrada
Das caatingas do Sertão empreendeu
Uma marca que o cangaço conheceu
Como linha divisória do cangaço
Que com ele assumiu ares de traço
Permanente fazendo a divisão
Do período a partir de Lampião
E de antes do seu primeiro passo.
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Foi parido no mês de fevereiro
Dia 12 de 1900
Virgulino era mais um dos rebentos
Da família de um simples fazendeiro
Admirava a vida de vaqueiro
Inda moço amansava animal bruto
Em seu plano de vida resoluto
Artesão de arreios de cavalo
Mudou tudo assim num só estalo
Para a vida perdeu salvo-conduto.
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Um artista do couro que fazia
Sela, arreios, bornais, gibão, perneira
Às cidades vizinhas ia prá feira
Pra vender o que ele produzia
Tinha sempre o pai por companhia
Nessas idas também os irmãos iam
Os negócios a eles garantiam
Um retorno que dava pro sustento
Não faltava à mesa o alimento
E assim tranqüilamente eles viviam.
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Nesse tempo com 17 anos
Mesma idade que entrou para o cangaço
Ocorreu de uma vez no mesmo passo
O fracasso dos seus atuais planos
José Saturnino e outros manos
Decorrente de encrencas por chocalhos
Saiu de Cachimbos por atalhos
Encontrando-os perto de Nazaré
Atirou em quem viu que estava em pé
E o tempo fechou por entre os galhos.
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Os irmãos do jovem Virgulino
Baleados foram prá Mata Grande
Antes mesmo que ele mesmo mande
Resolveram tomar esse destino
Entretanto antes de tomarem tino
Aparece o tenente Zé Lucena
Delegado volante dessa cena
E atira no pai de Lampião
Que atingido é morto e cai no chão
Friamente o mataram sem ter pena.
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Quando soube o que tinha acontecido
Com o marido a mão de Lampião
Agachou-se de dor e o coração
Já estava batendo combalido
O socorro chegou mas foi perdido
Não havia mais nada prá fazer
Morto o pai, morta a mãe e ele não vê
A saída, mas seu olhar se lança
Ao desejo instintivo de vingança
E partiu pra matar ou pra morrer.
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Ingressou no cangaço e foi viver
Com o bando de Antonio Silvino
Ainda moço partia Virgulino
Para o mais contraditório proceder
Com as suas próprias mãos queria ver
O que ele não via na justiça
E se a ira no coração lhe atiça
A vingança foi generalizada
Onde andou sua marca foi deixada
Por projéteis de sua arma roliça.
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Da fazenda Ingazeira deu no pé
Devido as encrencas com os Nogueira
Seus vizinhos que agora se entrincheira
Depois do que houve em Nazaré
Espantalho dos Sertões Lampião é
Mesmo antes de tornar-se Lampião
E promete botar a própria mão
Sobre Zé Saturnino e Zé Lucena
E outros tantos que estão na mesma cena
Que o fizeram sair do teu torrão.
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Eram os reis do cangaço nessa era
Casemiro Honório e Antõe Quelé
Né Pereira, os quais mantinham em pé
Os instintos terríveis de uma fera
Os inúmeros membros da quimera
Do cangaço ganhava habilidade
Desafios a toda autoridade
Com certeza se desenvolveria
Com a chegada da sua maior cria
O cangaço ganhou vitalidade.
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Quando Antonio Matilde se casou
Com uma moça prima de Lampião
Não contava que por provocação
Levaria a surra que levou
José Saturnino, que o surrou
Provocou Lampião e se deu mal
Este veio deixando o pessoal
No estado de Alagoas onde estava
Depois de brigar ele matava
Todo gado que achava no curral.
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Dois dos reis do cangaço em socorro
À família de José Saturnino
Lançaram-se em grande desatino
Como à caça se lança o cachorro
Virgulino disse: da luta eu não corro
Mas botou prá fugir quem combatia
Baleou os Nogueira mas não via
Nenhum morto daqueles que esperava
Tocou fogo em tudo que encontrava
Na fazenda que as chamas consumia.
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Pouco tempo sua fama se espalhou
As pessoas daquela região
Que sofria qualquer humilhação
Procurava-o pra ser seu seguidor
Como rei do cangaço ele ficou
Conhecido e temido no Sertão
Não faltava a ele ocasião
De exibir-se com suas diabruras
Humilhava e exaltava criaturas
O terrível e valente capitão.
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Componentes do bando de Lampião:
Corisco, Jararaca e Nevoeiro
Volta seca, Pancada e Cajueiro
Cravo Rocho, Moita Brava e Azulão
Cajarana, Sabonete e Mergulhão
Gato Bravo, Enedina e Pente Fino
Juriti, Passarinho e Livino
Zabelê, Elétrico e Quinta Feira
Mais Sereno e Antonio Ferreira
E outros tantos que seguiam Virgulino.
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Maria estava com a vizinha
Quando alguém do lugar anunciou:
Lampião vem aí, e ela falou:
Credo cruz minha gente, eu tô calminha
Quero mesmo é ser sua rainha!
Eu queria era ir com ele embora!
Mas a Rosa sua amiga lhe implora:
Fala baixo alguém pode te ouvir
Eu quero é que ouça que é pr’eu ir
Com ele pro fim do mundo agora.
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Era ela a mulher de um sapateiro
Vida simples em seu cotidiano
Mas sonhava com o mundo desengano
E jogou-se nas mãos do bandoleiro
Lampião a levou para o vespeiro
O cangaço era a sua moradia
Numa vida de aventura fugidia
Foi Maria Bonita a rainha
Desse mundo que quase nada tinha
A não ser sua própria revelia.
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Mesmo havendo poesia, ainda assim
Era errante a vida o tempo inteiro
Se roubava prá conseguir dinheiro
Se matava prá ir até o fim
Torturava quem achava ruim
Corrompia pela imposição
A conquista à força da ação
Amizades compradas pelo medo
Tanto foi que acabou-se num enredo
Descoberto por um coiteiro irmão.
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Era um tempo em que a lei foi esquecida
A do homem e a de Deus também
Tudo era a base de quem tem
O poder da lei atribuída
Conforme a vontade suicida
Sem medida de qual a conseqüência
Era assim pro governo dá ciência
Era assim prá ninguém obedecer
A vontade de cada era fazer
Uma lei pela sua onipotência.
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A polícia cometia atrocidades
O coiteiro da mesma forma agia
Cangaceiro a nada obedecia
O governo cheio de incapacidades
A justiça com mais de mil verdades
Mesmo em nome de uma religião
Alguém avançava com a mão
Tomando para si algum partido
Até Deus era desobedecido
Imagine o restante da nação.
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O governo Federal pra combater
A coluna de Prestes no Sertão
Procurou conversar com Lampião
O fazendo agora merecer
A patente que iria receber
O tornava pra sempre capitão
Padre “Ciço” fez a negociação
Virgulino Ferreira é empossado
Novas fardas e o bando bem armado
O errado tornou-se solução.
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O que fez Lampião e seus bandidos
Nas tantas investidas contra a vida
É a página mais suja empedernida
Que ficou desses tempos esquecidos
Quando ouviu inda moço os estampidos
Dos tiros que mataram o próprio pai
A diabólica ação que lhe atrai
É matar. É matar até morrer
E aí matou gente sem porquê
Só prá vê como é que um morto cai.
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O poder militar, do mesmo jeito
Que buscava combater o infeliz
Ajudava autoridades civis
Pra tirar disso tudo algum proveito
Fazendeiro vivia satisfeito
A despeito de sua transgressão
Mesmo assim não podemos ver razão
Pra dizer que o errado virou certo
Foi herói ou foi bandido esperto
Virgulino Ferreira, o Lampião?
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O final da estrada foi traçado
Pela prática do seu caminhador
Que de tanto atirar-se ao horror
O horror a si foi atirado
O caminho do valente é encurtado
E aos 38 anos, Lampião
Deixa a vida perdida sobre o chão
Que não pôde mais nele caminhar
Acabou seu reinado no Sertão.
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Lampião encontrou-se com a morte
No seu esconderijo preferido
Por um dos seus coiteiros foi traído
Mudando do cangaço toda a sorte
Tenente Bezerra, se fez forte
Para a Grota dos Angicos, comandava
Sua tropa que à noite caminhava
Pra no dia seguinte aparecer
E aos bandidos poder surpreender
De manhã quando o dia inda raiava.
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Cedinho Lampião se levantou
Com um caneco de água em sua mão
De repente um tiro o leva ao chão
Já cai morto e morto ali ficou
E Maria Bonita se jogou
Sobre o corpo caído posto ao nada
Sobre ela desceu uma rajada
Outros tantos morreram no embate
Não havia mais força pro combate
A coroa do rei foi derrubada.
FIM.
escrito por Abdias Campos.
setembro 11, 2011 às 7:10 pm
o loco meu! isso q é cordel ma owe