Arquivo para junho, 2011

Momento Imperdível de sua Vida

Posted in Vídeo Independente with tags , , , , , , , , on junho 29, 2011 by canibuk

Cristian Verardi traz até Porto Alegre a sessão “A Vingança dos Filmes B”, composta de cinco filmes independentes dos diretores Joel Caetano, Felipe Guerra, Gustavo Insekto, Filipe Ferreira e Petter Baiestorf.

A sessão começa às 17 horas do dia 02 de julho (sábado) na Usina do Gasômetro, sala de cinema P.F. Gastal e é a oportunidade única para você ter o momento mais imperdível de sua vida assistindo aos cinco filmes lindos programados com direito à, depois da exibição maravilhosa, um debate inteligentíssimo e sério com os diretores de tão belos filmes!

Preencha sua vida com este momento de alegria e diversão ao lado de vários caras legais!

IMPORTANTE: Fale que você é leitor do Canibuk e entre de graça!!!!

Canibuk entra hoje nuns 20 dias de férias prá curtir o friozinho do inverno, depois Leyla e eu postaremos algumas fotinhos de nossas férias e novas novidades da cultura obscura/underground mundial! (Aliás, este post é o de número 401, aproveite nossas férias para ler os posts antigos e ajude a divulgar o blog).

Até breve!!!!

FantasPoa 2011

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , on junho 29, 2011 by canibuk

Rodrigo Aragão, Walderrama e eu...

Nesta sexta-feira dia 01 de julho começa o FantasPoa 2011 com o lançamento oficial do longa-metragem “A Noite do Chupacabra” (2011) de Rodrigo Aragão (diretor do cult “Mangue Negro”) estrelado por Joel Caetano (O Herói), Walderrama dos Santos (a Criatura Chupacabras), Cristian Verardi (O temível Velho do Saco), eu (Petter Baiestorf) no papel do vilão do filme e grande elenco capixaba (como o ótimo ator Markus Konká, Kika de Oliveira, Reginaldo Secundo, Ricardo Araújo, Antônio Lâmego e Mayra Alarcón). Não percam a exibição do filme no Cine Bancários, sexta-feira dia 01 de julho, às 21:15.

No dia 02 segue o FantasPoa com a exibição do “Pólvora Negra” (2011) de André Kapel e no dia 03 com o novo longa-metragem de Felipe Guerra, “Entrei em Pânico 2”. E depois o evento segue por mais 15 dias com destaque a participação do diretor italiano Lamberto Bava que, entre seus sucessos, se destaca por ser filho do grande Mario Bava e assistente de direção do Ruggero Deodato e Dario Argento.

Meu amigo Chupacabras e eu em festinha no FantasPoa...

A programação completa do FantasPoa você pode conferir aqui:

http://fantaspoa.com/2011/novo/programacao

Sem esquecer que também no dia 02 de julho vai rolar a Sessão “A Vingança dos Filmes B” na sala P.F. Gastal (Usina do Gasômetro) às 17 horas da tarde do Sábado com presença de Joel Caetano, Felipe Guerra, Filipe Ferreira, Gustavo Insekto e este que vos escreve.

Abaixo fotos da produção “A Noite do Chupacabras”:

Eu e Chupacabras prontos prá detonar o FantasPoa 2011.

O Monstro Souza

Posted in Literatura with tags , , , , , , , , , on junho 28, 2011 by canibuk

“O Monstro Souza [romance fastifud]” (2010, 235 páginas) de Bruno Azevêdo & Gabriel Girnos. Editora Pitomba.

Como é bom (e raro) achar um livro que surpreenda do início ao fim. “O Monstro Souza” é um destes livros. Bruno Azevêdo criou uma delirante história cheia de referências POP que o público brasileiro vai reconhecer na hora (principalmente os moradores da cidade de São Luís/MA, terra do autor e do Sarney (nem tudo é perfeito nesta vida), que se torna personagem importante (a cidade, não o Sarney) da trama do livro com suas barraquinhas de cachorro quente, putas, policiais sacanas, políticos pervertidos e ruas históricas).

A trama do “O Monstro Souza” é um achado do surrealismo (ou realismo fantástico, como você preferir, nunca sei diferenciar as duas): Na barraca de cachorro quente do Souza, um cachorro quente (apelidado de Souza) é jogado fora sem ser comido e adquire pernas/braços/olhos/boca/pau/vida e passa a perambular por São Luís se tornando objeto sexual das putas feias da cidade e garoto de programa para qualquer solitário com uns poucos reais no bolso:

“Vender o corpo era um negócio cada vez mais concorrido: os pontos da Pedro II, Itaqui e Portinho abrigavam a prostituição suja, das pernas cabeludas e caronas eventuais, do uisquinho pro capitão; o Colonial Shopping era mais uma zona adolescente, onde o assessor do deputado ia pegar o aluno do Liceu prum chopinho; as faculdades do outro lado da ponte eram a ressureição das velhas casas de cômodo do Desterro, a luz vermelha em meio à renascença, a semeadura dos vinhais da Atenas: ali a Criatura nem pisou. O preço deste livro, por exemplo, é muito mais alto que o de um boquete na Pedro II.

Ainda assim, inferninhos tradicionais como a Pedrita no Tirirical e o La Maison no (se não me engano) São Cristóvão ainda sobreviviam. Por fim, tendo o Anil e o Bacanga por pernas que fossem, e o braço de mar como uma cintura de respiração profunda, a Praiagrande era uma boceta exposta e fedendo a cancros.

A Criatura nem sentia.

Comia, dormia muito e passava bastante tempo percebendo o mundo pela janela do cortiço, atirando ervilhas escada abaixo.

Era uma pessoa como qualquer outra.”

O ponto alto do livro é sua narrativa original que mistura texto com poesia, com quadrinhos (ilustrações belíssimas do Gabriel Girnos), com recortes de jornal, tiras, fotos, propagandas, letras de música, onomatopéias, aqueles bilhetinhos de surdo-mudo pedindo esmola e muitas outras formas de contar uma história criativa/empolgante. Não existe limites no “O Monstro Souza” e gosto disso!!!

Se você quer experimentar o livro, entre em contato com o Bruno Azevêdo pelo e-mail: bazvdo@hotmail.com e encomende um exemplar, tá custando apenas R$ 24.00 já com as despesas postais incluídas.

Curiosidade: A capa do livro foi feita pelo Gabriel Girnos sob desenho do Marcatti.

Abaixo algumas páginas do livro:

As Metamorfoses do Vampiro

Posted in Literatura with tags , , , , on junho 27, 2011 by canibuk

E no entanto a mulher, com lábios de framboesa,

Coleando qual serpente ao pé da lenha acesa,

E o seio a comprimir sob o aço do espartilho,

Dizia, a voz imersa em bálsamo e tomilho:

– “A boca úmida eu tenho e trago em mim a ciência

De no fundo de um leito afogar a consciência.

As lágrimas eu seco em meus seios triunfantes,

E os velhos faço rir com o riso dos infantes.

Sou como, a quem me vê sem véus a imagem nua,

As estrelas, o sol, o firmamento e a lua!

Tão douta na volúpia eu sou, querido sábios,

Quando um homem sufoco à borda de meus lábios,

Ou quando o seio oferto ao dente que o mordisca,

Ingênua ou libertina, apática ou arisca,

Que sobre tais coxins macios e envolventes

Perder-se iam por mim os anjos impotentes!”

.

Quando após me sugar dos ossos a medula,

Para ela me voltei já lânguido e sem gula

À procura de um beijo, uma outra eu vi então

Em cujo ventre o pus se unia à podridão!

Os dois olhos fechei em trêmula agonia,

E ao reabri-los depois, à plena luz do dia,

A meu lado, em lugar do manequim altivo,

No qual julguei ter visto a cor do sangue vivo,

Pendiam do esqueleto uns farrapos poeirentos,

Cujo grito lembrava a voz dos cata-ventos

Ou de uma tabuleta à ponta de uma lança,

Que nas noites de inverno ao vento se balança.

Charles Baudelaire.

Sessão “A Vingança dos Filmes B”

Posted in Vídeo Independente with tags , , , , , , , , on junho 26, 2011 by canibuk

Dia 02 de julho, paralelo ao FantasPoa de Porto Alegre/RS, rola um evento imperdível na sala de cinema P.F. Gastal às 17 horas com a exibição de 5 filmes independentes de diretores Gaúchos, Paulistas e até esse Catarina que vos escreve.

Segue texto da curadoria da Sessão:

“Sobrevivendo às margens do cinema mainstream, as produções independentes de baixo orçamento, além das óbvias dificuldades financeiras de realização, sempre lutaram contra um sistema de distribuição dominado por monopólios, e por vezes com a incompreensão de um público acostumado a uma estética cinematográfica culturalmente imposta pelos grandes estúdios. Durante anos a falta de um mercado exibidor adequado ocasionou o isolamento destas produções em guetos cinéfilos, o que invés de enfraquecer, auxiliou a reforçar o seu caráter de independência, fomentando uma espécie de cinema orgânico, criativo e livre de amarras impostas pelos padrões mercadológicos, possibilitando tanto a experimentação anárquica como a reprodução antropofágica de conceitos tradicionais do cinema de gênero. Na última década a ascensão das mídias digitais possibilitou o acesso facilitado aos meios de produção e exibição, dando maior visibilidade a obras que até poucos anos atrás estariam restritas a um pequeno grupo de cinéfilos.

Esta breve mostra intenciona levar para a tela da Sala P.F. Gastal um grupo de realizadores que ainda luta bravamente por seu espaço no mercado exibidor, ou simplesmente busca encontrar o seu público. Apesar dos diferentes formatos de linguagem, proposta e produção, as obras selecionadas têm em comum, além do baixo (ou zero) orçamento, o diálogo franco e apaixonado com o cinema de gênero, seja investindo no thriller policial ou no horror, ou anarquizando com a tradição dos westerns e dos musicais, ou até mesmo captando uma simples conversa entre dois cinéfilos embriagados. A exibição na tela de um cinema é uma pequena vingança dos filmes B contra um sistema atrelado aos vícios mercadológicos e estéticos da indústria cultural, ou como diria Petter Baiestorf “um grito de guerra dos que nada tem e tudo fazem, contra os que tudo tem e nada fazem”.

Sala P.F. Gastal (3° andar da Usina do Gasômetro), sábado, 02 de julho, 17h. Após a sessão debate com os realizadores, Petter Baiestorf, Felipe Guerra, Joel Caetano, Filipe Ferreira e Gustavo Insekto. O debate será moderado pela Profa. Dra. Laura Cánepa (UAM).  ENTRADA FRANCA.

(Cristian Verardi- Curadoria)

"Estranha" (Joel Caetano).

Programação:

Exorcistas (RS, Brasil, 2011, 7 minutos) de Luis Gustavo “Insekto” Vargas. Com Doutor Insekto e Paulo “Blob” Teixeira.

Dois amigos em uma noite de tédio, bebem, fumam, e elaboram teorias sobre o filme “O Exorcista”, de William Friedkin.

"Exorcistas" (Insekto).

Extrema Unção (RS, Brasil, 2010, 19 minutos) de Felipe Guerra. Com Rodrigo M. Guerra, Oldina Cerutti do Monte, Leandro Facchini.

Um incauto rapaz se muda para uma casa supostamente assombrada pelo fantasma de uma velha fanática religiosa. (Menção Honrosa “Melhor Susto de Velhinha Fantasma”, no Cinefantasy 2010).

"Extrema Unção" (Felipe Guerra).

Estranha (SP, Brasil, 2011, 12 minutos) de Joel Caetano. Com Mariana Zani, Kika Oliveira, Roberta Rodrigues, Tiago F. Galvão, Walderrama dos Santos.

 Duas mulheres em uma estranha e sensual trama de amor, vingança, violência e psicodelia! (Novo trabalho do paulista Joel Caetano, do premiadíssimo curta-metragem “Gato”).

"Estranha" (Joel Caetano).

Ninguém Deve Morrer (SC, Brasil, 2009, 30 minutos) de Petter Baiestorf. Com Gurcius Gewdner, Lane ABC, Daniel Villa Verde, Jorge Timm, Ljana Carrion, Coffin Souza, Insekto.

Um western musical. Eles cantam, dançam e as vezes matam também! O pistoleiro Ninguém decide largar tudo o que sempre considerou importante: a mulher amada, o grupo de amigos cineastas-assassinos-de- aluguel, e o boi de estimação. No entanto, antes de se redimir precisará enfrentar a fúria de seus antigos comparsas. Mais uma insanidade cinemática de Petter Baiestorf, um dos maiores mitos do underground brasileiro. (Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Montagem no I Guaru Fantástico).

"Ninguém Deve Morrer" (Petter Baiestorf).

Os Batedores (RS, Brasil, 2008, 20 minutos) de Filipe Ferreira. Com Marco Soriano Jr., João França, Jack Gerchmann, Artur José Pinto, Jefferson Rachewsky.

Raul, um habilidoso batedor de carteiras é surpreendido pelo retorno à ativa de Amadeu Deodato, um figurão que domina o submundo da cidade e com o qual o tem uma grande dívida. Em sua trajetória na busca de dinheiro para saldar a dívida, Raul se depara com outros marginais, como Odilon, seu antigo mentor, Marcião, um perigoso travesti agiota, e Tosco, um brutamonte psicótico. (Melhor direção no I Festival de Cinema de Ribeirão Pires).

"Os Batedores" (Filipe Ferreira).

O Tormento de Mathias

Posted in Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , on junho 25, 2011 by canibuk

“O Tormento de Mathias” (1992-2011/54 minutos) de Sandro Debiazzi, resgata o termo trash-movie com orgulho e tira proveito da estética trash. Enquanto outros cineastas brasileiros tem medo de que suas obras sejam chamadas de trash, Sandro Debiazzi se assume como trashmaníaco e ganha pontos por isso com um roteiro debochado, efeitos especiais sangrentos, ritmo narrativo que faz bom proveito dos clichês básicos do gênero e cheio de participações especiais, que vão dos cineastas Joel Caetano e Felipe Guerra (ambos mais canastrões do que nunca) e a pesquisadora Bernadette Lyra (organizadora dos livros sobre cinema independente intitulados “Cinema de Bordas” vol. 1 e vol. 2), que se revela uma ótima atriz.

A história que Debiazzi nos conta é a de um garoto cabeludo (que se parece com o Michael Meyers do Rob Zombie) que é importunado por sua mãe o tempo todo e acaba a matando com uma discreta tesoura de cortar grama. É internado num sanatório (oba, choque elétrico!!!) onde vira cobaia de um médico louco e seu improvissado ajudante (porque o médico louco não consegue ver sangue), que colocam um chip de choques elétricos no cérebro de Mathias. A operação para a colocação do chip é um primor, o médico tira a tampa do crânio (que é, na cara dura, feita de borracha) e enfia um chip dentro do cérebro que parece uma espécie de pudim. Pensando bem, o cérebro de grande parte da humanidade parece ser feito de pudim!!!

Sandro conseguiu criar uma estrutura narrativa caótica, mas bem amarrada, com vários flashbacks que funcionam direitinho. Na verdade, ele começou a fazer este filme em 1992 e o abandonou em 1996 e, assim, o primeiro “Tormento de Matheus” ficou esquecido numa gaveta, mofando em fitinhas VHS. Até que nos anos de 2008 em diante uma nova leva de realizadores independentes começaram a se destacar e Sandro resolveu finalizar o filme. Re-escreveu o roteiro, pegou uma mini-DV para filmar as novas cenas, chamou atores, chamou rostos conhecidos no underground brasileiro e conseguiu concluir uma delícia de filme, com várias passagens hilárias se alternando com momentos de gore exagerado e piadinhas divertidas. Como não curtir o padre que foi castrado a dentadas pelo psicopata, a vidente picareta, os enfermeiros retardados do sanatório, a prostituta que fica chamando os fregueses de “tio, tio, tio” o tempo todo, o enfermeiro hippie que dá um baseado pro Mathias e a participação da Bernadette Lyra onde ela fica zuando do psicopata porque ele errou uma nota na música que estava tocando no piano!!!

Aliás, Bernadette Lyra é uma espécie de madrinha do filme. Em 2010 ela incentivou Sandro Debiazzi a concluir o filme. Eu, na qualidade de produtor independente já com 20 anos de cabeçadas no muro, estou cada vez mais feliz por uma grande quantidade de filmes, dos mais variados gêneros e estéticas, que vem sendo produzida de maneira independente no Brasil. Afirmo aqui sem medo de errar: OS BONS TEMPOS DA BOCA DO LIXO ESTÃO DE VOLTA, só que agora não é filmes produzidos apenas em São Paulo, mas sim em todo o Brasil.

E só para concluir: Qual é o tormento de Mathias? O tormento de Mathias somos todos nós, seus vizinhos, seus colegas, sua família, seu patrão, seus auto-intitulados superiores! Recomendo que os leitores do blog confiram essa produção independente, há várias limitações, mas é um filme autêntico no que se propõe, ou seja, quer divertir e consegue isso, coisa que muito filme de 150 milhões de dólares se propõe a fazer e não consegue!

imagens de "O Tormentos de Mathias".

E veja o trailer do filme no youtube, se você gostou pode encomendar uma cópia do filme com o diretor Sandro Debiazzi pelo e-mail: sandrodebiazzi@hotmail.com

Hippie Hunter: Hippie in Box

Posted in Música with tags , , , on junho 24, 2011 by canibuk

A banda Hippie Hunter lançou um CD que é uma delícia (este lançamento é de 2009), se chama “Hippie in Box” e traz 13 sons (alguns já conhecidos nas demo-tapes deles) ótimos, gravados pela formação clássica da banda: Felipe Parra (vocal/baixo), Fubá (guitarra), Marcus Alves (guitarra) e Torpa (bateria). Hippie Hunter faz um thrash metal consistente e tem ótimas sacadas como o som “Carta ao Papa” onde a letra diz:

“Maldito velho podre e doente

mandando em tudo pensa que é gente

mas através de uma reflexão

chegamos a uma esperada solução

uma carta ao papa

cheia de merda, moscas e baratas

uma carta ao papa

cheia de merda, moscas e baratas

pombinha da paz que o faz feliz

tomara que ela cague bem no seu nariz

não aguenta andar e fica tremendo

maldito velho está apodrecendo.

(…)”

E no som “A Resposta (Carta ao Papa 2), temos a hilária resposta do Papa:

“Querido Hippie Hunter sua carta eu respondo

com toda atenção porque vocês tinham razão

quando aqui cheguei, como rei fui recebido,

o capeta me respeita, o tinhoso é meu amigo

agora, aqui no inferno, descolei uma profissão

virei dono de bar e parei com o sermão

vendendo cerveja, já perdi o meu juízo

abri um bar no inferno e que se foda o paraíso.

(…)

O CD “Hippie in Box” custa R$ 10.00 e pode ser encomendado com o Felipe Parra pelo e-mail: felipe.hippiehunter@gmail.com

Querendo conhecer o som da banda você pode ouvir 3 sons no My Space deles: http://www.myspace.com/hippiehunter

Você que reclama sempre de tudo e não faz nada, pode apoiar o underground brasileiro comprando seus produtos, única maneira do pessoal continuar a resistência cultural dos independentes, somente assim continuaremos tendo bandas evoluindo, cineastas produzindo filmes, fanzineiros e outras manifestações artísticas.

No youtube há vários vídeos com a Hippie Hunter e deixo aqui alguns, para quem ficou querendo mais, recomendo uma pesquisa rápida e divirta-se!!!

Luís Renato Brescia: Como Fazer Cinema com o Ministro do Diabo

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , on junho 23, 2011 by canibuk

Luís Renato Brescia é outro produtor/diretor brasileiro completamente ignorado entre os cinéfilos brasileiros, dono de uma filmografia pequena (porém extremamente curiosa e fora dos padrões do cinema nacional), ao lado de seu filho Ettore, merece lugar de destaque no Canibuk (desde já peço desculpas pelas poucas imagens ilustrativas deste post, são raríssimas as imagens dos filmes e até mesmo dos Brescias).

raríssimo frame de "Nos Tempos de Tibério César".

Em 1921, com a intenção de montar uma fábrica de filmes virgens, Luís Renato Brescia vai a Milão (Itália) estudar cinema e química fotográfica. De volta ao Brasil realiza pequenos experimentos cinematográficos com paisagens. Na década de 1940 monta o estúdio cinematográfico Brescia onde realiza curtas que compõem a série “Mostrando Minas ao Brasil”, composto por títulos como “Lambari”, “Cambuquira”, “Cultura do Marmelo”, “Centenário de Pouso Alegre”, “Varginha”, entre outros.

Filmando apenas nos finais de semana (sua profissão na realidade era Medicina Veterinária, trabalhando como inspetor sanitário federal), inicia em 1945 a produção do faroeste “Sambruk”, nunca finalizado porque a atriz principal abandonou as filmagens. Em 1955 tentou sem sucesso filmar “O Tronco do Ipê”, baseado em José de Alencar, mas teve que abandonar o projeto devido aos altos custos da produção.

Neste meio tempo, entre os inacabados “Sambruk” e “O Tronco do Ipê”, produziu o épico romano (o único feito no Brasil até hoje, excluíndo trasheiras como “A Filha de Calígula” de Ody Fraga e “O Sobrinho do Gladiador” de Jerri Dias e Rodrigo Dubal, por exemplo) chamado “Nos Tempos de Tibério César”, dirigido e escrito por seu filho Ettore Brescia não lançado na época porque a produção vagabunda inviabilizou sua distribuição (por exemplo, as escadarias do Palácio Romano são, na realidade, as escadarias da Igreja Católica da cidade de Lambari/MG). Anos mais tarde os Brescia remontaram o filme com novo título, desta vez “Cinturiões Rivais”, mas mesmo assim não conseguiram comercializá-lo.

No “Dicionário de Filmes Brasileiros”, de Antonio Leão da Silva Neto, explica que o filme foi lançado no interior de Minas Gerais com 5 cópias, o filme foi transformado de plano para condensado (uma espécie de cinemascope chamado “Bresciacosno”). Em entrevista extraída do livro “Pioneiros do Cinema de Minas Gerais”, de Paulo Augusto Gomes, em 1978, Luís Renato Brescia diz: “Foi o patriotismo que me levou a escolher o tema. Em conversa com amigos, foi comentado que era praticamente impossível fazer um filme sobre os tempos do Império Romano fora dos USA ou a Itália, devido a problemas de locações e altos custos para a reconstituição de época. Com meu filme o Brasil passou a ser o terceiro país a fazer um filme sobre os primeiros cristãos. Tive essa glória. A produção não foi cara porque para mim o preço sempre foi menor, pois meus filmes são revelados, copiados e sonorizados em meu laboratório. Assim as despesas que tive foram com filme virgem, a condução para os atores, figurinos especiais, etc. O filme foi feito em Três Corações. Lá tive a colaboração da E.S.A., a escola de sargentos que existe na cidade. Muitos deles fizeram papéis de centuriões, ajudando na figuração do meu filme. Terminando o filme, tivemos um problema com a censura. Ela achava que nós deveríamos ter feito uma obra por motivos brasileiros, ao invés de abordar uma história de romanos. Queria que nós filmássemos casebres pobres com gente humilde, tocando viola na porta, mas não acho isso bom. Por outro lado, a cópia era muito longa: havíamos filmado material suficiente para duas fitas diferentes. Decidimos então relançar o filme com uma versão reduzida, mas objetiva, com o nome alterado para “Os Centuriões Rivais”. O prejuízo foi suavizado pela exibição pelas exibições que conseguimos pelo interior.”

Em 1961 funda as Organizações Cinematográficas Cineminas Ltda. e dirige o longa de horror “Phobus – O Ministro do Diabo”, novamente com roteiro de seu filho Ettore, uma história delirante sobre um ser maligno que pretendia dominar o mundo com inúmeros efeitos especiais bagaceiros. Sobre “Phobus – O Ministro do Diabo”, Luís Brescia diz: “Parecia uma boa maneira de ser bem sucedido na bilheteria. Enfrentei, então, o desafio, sempre filmando com meu dinheiro, sem ajuda de ninguém. O filme ficou pronto somente em 1970 por dois motivos: houve falta de dinheiro e, além do mais, só podíamos nos dedicar ao filme nos sábados e domingos. Quando finalizado o filme, procurei um distribuidor de Belo Horizonte, que ficou quatro meses com meu filme na prateleira, sem conseguir lançamento na cidade para ele. Tentei, a seguir, a Embrafilme, onde depositei a cópia censurada, na crença de que finalmente ela seria exibida em todo território nacional. O tempo foi passando e nada. Passei a procurar pessoas influentes dentro da Embrafilme, pedindo que tivessem um pouco de boa vontade para com o “Phobus”. Acabaram formando uma comissão para examinar minha fita; não sei o que pretendiam examinar, pois a censura já o fizera antes e disseram que estava tudo bem. O fato é que o certificado de censura acabou expirando e “Phobus” permaneceu inédito até mesmo para alguns atores que nele trabalharam. Estou empenhado para que, tanto “Phobus” quanto “Os Centuriões Rivais”, sejam exibidos em Belo Horizonte, só voltarei a fazer longas-metragens depois que pelo menos um deles for lançado dignamente em Minas”. Brescia nunca mais fez nenhum filme!!!

Na década de 1970, Luís Renato Brescia resolve parar de filmar. Em 1986 lança o livro auto-biográfico “Como fiz Cinema em Minas Gerais”, dois anos antes de falecer, sem ao menos ter sido descoberto pelos trashmaníacos dos anos de 1990.

Temo que não existam mais cópias em bom estado destes dois longa-metragens, mas deixo aqui meu pedido aos historiadores de cinema (como o Eugênio Puppo que, junto da Lume Filmes, é o responsável pelo resgate de vários longas do Cinema Marginal Brasileiro) que tentem resgatar essas curiosidades.

Filmografia:

1952- Nos Tempos de Tibério César/Os Centuriões Rivais (dirigido por Ettore Brescia com produção de Luíz Renato Brescia).

1965/1970- Phobus, O Ministro do Diabo (direção e produção de Luíz Renato Brescia com roteiro de Ettore Brescia).

Imagem meramente ilustrativa.

Encontrei no Blog Horror Brasileiro (www.horrorbrasileiro.blogspot.com), da historiadora Laura Cánepa, uma raríssima entrevista realizada com o Luís Renato Brescia (Entrevista feita por Paulo Augusto Gomes para o livro “Pioneiros do Cinema em Minas Gerais”, Editora Crisálida, que infelizmente não tenho cópia).

Onde e quando nasceu?
Nasci em Juiz de Fora, no dia 20 de junho de 1903.

O senhor começou filmando ainda à época do cinema mudo mas, antes disso, passou por um período de estudos em Milão. Quando foi isso e que cursos acompanhou?
Em 1921/22, matriculei-me na escola do professor Rodolfo Namias, onde me especializei em cinema e química fotográfica.

De volta a Juiz de Fora, o senhor pensou imediatamente em fazer cinema?
Não; minha intenção era montar uma fábrica de material sensível, o que não consegui. Dediquei-me, então, a filmagens experimentais; eram estudos com paisagens. Continuei por minha própria conta, mas também lendo todo livro ou revista de cinema que me caía nas mãos.

Sua primeira filmagem data de 1927. Quem a encomendou e em que consistiu essa filmagem?
Eu era jornalista e fui convidado por João Carriço, dono do cine Popular, para fazer um filme para ele. Era sobre um jogo de futebol, até muito importante, entre o Palestra Itália, de São Paulo e a Industrial Mineira, de Juiz de Fora. Ficou, modestamente, um trabalho muito bonito.

Depois dessa filmagem, o senhor continuou trabalhando para Carriço ou resolveu prosseguir por conta própria?
Nunca trabalhei para o Carriço, apenas fiz um favor a ele, um único filme pelo qual nem cobrei. Ele ficou tão animado que organizou a firma dele de jornais cinematográficos, a Carriço Film.

Em 1945, o senhor tentou fazer um longa-metragem pela primeira vez. Como foi a sua atividade em cinema até esse acontecimento?
Sempre tive o cinema como hobby; prosseguia fazendo meus pequenos filmes de estudo e lendo muito. Comecei, aos poucos, a tentar os cine-jornais e curtas-metragens culturais, sempre com o intuito de divulgar as coisas de Minas. Já mais tarde, um dos meus jornais da tela chamava-se Mostrando Minas ao Brasil. O outro era o Atividades Cineminas. Os meus filmes experimentais, eu os fazia e revelava em Juiz de Fora mesmo. Mas nenhum deles era exibido comercialmente.

Mesmo gostando tanto de cinema, o senhor acabou se formando em outra especialidade: medicina veterinária. Por que?
Ninguém vivia de cinema naquele tempo; a exibição de filmes brasileiros era problemática, difícil mesmo.

SAMBRUCK. Quero abordar sua carreira cinematográfica a partir do momento em que ela realmente sofre um impulso. Estamos em 1945 e o senhor, com uma firma recém-montada, fazendo jornais da tela, decide filmar SAMBRUK. O que o levou a abordar uma obra de ficção?
Parti para a grande metragem com o objetivo de criar uma indústria cinematográfica, uma fábrica de filmes em Minas. SAMBRUK foi, assim, uma primeira tentativa. Começamos a filmar em São Gonçalo do Sapucaí. Era uma espécie de western, uma franca imitação dos modelos americanos. SAMBRUK, no caso, era o nome da cidade na qual se desenrolava a história.

Por que o filme permaneceu inacabado?
Já havíamos chegado praticamente à metade da fita. A atriz principal, que era noiva, resolveu ir a São Paulo com o futuro marido, para um passeio. Nunca mais voltou. Procurei muito, mas não consegui encontrar quem se parecesse com ela e pudesse substituí-la. Assim, os trabalhos foram interrompidos.

O senhor não teve falta de dinheiro?
Quem é que não tem? É verdade que eu poderia ter recomeçado tudo outra vez, com outra artista no papel da moça que foi embora. Mas preferi não arriscar.

Terminado esse episódio infeliz, o senhor voltou aos cine-jornais?
Exato. Consegui distribuição para eles em todo o Brasil através da Uirapuru Filmes. Dediquei-me também, por aqueles anos, à realização de curtas-metragens sobre regiões do interior mineiro, feitos através da minha firma, o Estúdio Cinematográfico Brescia, sediada em São Gonçalo do Sapucaí.

Pode citar alguns títulos desses documentários?
Lambari, Cambuquira, Cultura do Marmelo (em Delfim Moreira), Centenário de Pouso Alegre, Congado (em São Gonçalo do Sapucaí), Camanducaia, Varginha, Três Corações, Coqueiral e seu Progresso, Paraguaçu. Foram vários, lembro-me apenas de alguns deles.

O TRONCO DO IPÊ. Sua segunda tentativa na área do longa-metragem foi em 1955: filmar O TRONCO DO IPÊ. Por que o interesse em José de Alencar?
Eu já havia saído de São Gonçalo do Sapucaí e fui morar em Três Corações. Fiquei animado, porque consegui um sócio co-produtor, que era um padre. Ele havia me dito para comprar filme virgem e tocar a produção com meu dinheiro, que ele entraria com a parte dele mais para a frente. Assim, comecei o TRONCO DO IPÊ, que é um belo romance. Só que o padre nunca chegou a colocar dinheiro algum: falhou completamente. Quando me dei conta, a produção já estava muito cara e decidi parar antes que fosse tarde.

Nesses dois filmes inacabados, SAMBRUK e O TRONCO DO IPÊ, o senhor contou somente com seus recursos? Não recebeu ajuda?
Sempre filmei às minhas custas, por amor e gosto. Nunca tive ajuda de governos, de ninguém. Ser idealista, no Brasil, significa viver constantemente numa batalha. A gente enfrenta todo tipo de coisas. Achei que, fazendo O TRONCO DO IPÊ, iria agradar a muita gente. Não tive nem essa chance.

O senhor havia fundado outra firma em Três Corações?
Eu era funcionário público; para onde era transferido, carregava o meu estúdio.

Roma em Minas: Sua terceira incursão no longa-metragem foi bem sucedida e NOS TEMPOS DE TIBÉRIO CESAR foi terminado.
Foi o patriotismo que me levou a escolher o tema. Em conversa com amigos, foi comentado que era praticamente impossível fazer um filme sobre os tempos do Império Romano fora dos Estados Unidos ou da Itália, devido a problemas de locações e altos custos para a reconstituição de época. Com meu filme, o Brasil passou a ser o terceiro país a fazer um filme sobre os primeiros cristãos. Tive essa glória.

A produção ficou cara?
Para mim, o preço sempre foi menor, pois meus filmes são revelados, copiados e sonorizados em meu laboratório. Assim, as despesas que tive foram com o filme virgem, condução para os atores, figurinos especiais, etc. Para alguém que fosse fazer um filme como esse e não dispusesse dessas facilidades, o preço certamente seria muito superior.

Onde foi feito NOS TEMPOS DE TIBÉRIO CESAR?
Em Três Corações. Lá, tive a colaboração da E.S.A., a escola de sargentos que existe na cidade. Muitos deles fizeram papéis de centuriões, ajudando na figuração do meu filme.

Como era vista sua atividade em uma cidade do interior mineiro, ainda mais querendo fazer um filme de romanos? As pessoas achavam isso natural?
Não, eu era muito criticado. O pessoal de chamava de louco. E não era apenas a mim que xingavam. Quando passava um ator com os cabelos mais compridos, surgia o comentário: – Lá vai o artista do Dr. Brescia! Durante todo o tempo, acreditava-se que eu não conseguiria terminar o filme.

Em SAMBRUK e O TRONCO DO IPÊ, a direção foi sua. Por que, em NOS TEMPOS DE TIBÉRIO CESAR, o diretor foi seu filho Ettore Brescia?
Ele foi o autor do argumento e também gostava muito de cinema. Achei que poderia encaminhá-lo na feitura de filmes. Fiquei encarregado da supervisão.

Uma vez terminado o filme, quais as providências tomadas no sentido de exibi-lo?
De início, tivemos um problema com a censura. Ela achava que nós deveríamos ter feito uma obra com motivos brasileiros, ao invés de abordar uma história de romanos. Queria que nós filmássemos casebres pobres com gente humilde, tocando viola na porta, mas não acho isso bom. O Brasil deve fazer filmes opulentos e não ficar preso a roteiros nos quais a pobreza predomina. Superado esse entrave, o filme foi exibido vez ou outra pelo interior mineiro. Não entrou nos grandes circuitos porque me recusei a assinar recibo de 50% das rendas, recebendo apenas 5%. Não preciso de dinheiro a esse ponto. Mas os distribuidores só trabalhavam assim.

O filme chegou a ser exibido em Belo Horizonte?
Não. Na capital, nem os meus jornais eram exibidos, a não ser esporadicamente no cine Paissandu, que não mais existe. Mas NOS TEMPOS DE TIBÉRIO CESAR permanece inédito na cidade, apesar da excelente repercussão obtida por ocasião de sua feitura, em jornais do Rio e São Paulo.

Por que o nome do filme foi trocado posteriormente para OS CENTURIÕES RIVAIS?
Havia expirado o prazo do certificado de censura. Por outro lado, a cópia era muito longa: havíamos filmado material suficiente para duas fitas diferentes. Decidimos, então, relançar o filme em uma versão reduzida, mais objetiva, com nome alterado. Era mais uma tentativa de lançar o filme, que também falhou. Voltei aos cine-jornais. Isso foi em 1958.

O prejuízo foi muito grande?
Ele foi suavizado pelas exibições que conseguimos pelo interior. Como disse, as minhas produções sempre saíram baratas e foi possível superar mais esse revés. Existem países na Europa que são menores em tamanho que Minas; mas lá só é exibido o cinema deles, não entra o produto de fora. Se os cinemas mineiros passassem os nossos filmes, não seria necessário buscar outras praças, seria possível conseguir lucro aqui mesmo.

Terror em Belo Horizonte. Mesmo com todos esses problemas, o senhor decidiu fazer mais um longa-metragem: PHOBUS – MINISTRO DO DIABO, já em Belo Horizonte. Quando foi isso?
Em 1961/62, mudei-me com minha família para Belo Horizonte, onde fundei a Organização Cinematográfica Cineminas Ltda., continuando na feitura de jornais da tela. Foi em 1965 que comecei a planejar PHOBUS. Acreditava que o filme pudesse se transformar em possante veículo de propaganda da capital mineira.

Por que foi escolhido o gênero terror?
Parecia uma boa maneira de ser bem sucedido na bilheteria. Enfrentei, então, o desafio, sempre filmando apenas com o meu dinheiro, sem ajuda de ninguém. Um detalhe interessante é que, em PHOBUS, trabalhou Zélia Marinho num dos principais papéis. Ela era muito famosa na tevê mineira e, quando morreu em um desastre de ônibus, os jornais comentaram que ela não havia conseguido realizar um desejo – ser artista de cinema. É que eles não sabiam que Zélia tinha sido uma das atrizes do meu filme.

PHOBUS ficou pronto por volta de 1970 e recebeu o certificado de censura em 1971. Por que tanto tempo nas filmagens?
Foram dois os motivos: houve falta de dinheiro e, além do mais, só podíamos dedicar ao filme os sábados e domingos. Todos trabalhávamos – eu era funcionário do Ministério da Agricultura e cada um dos atores também tinha seus afazeres. Cada um deles, aliás, trabalhou mais por amor à arte, pois todos receberam pagamento apenas simbólico por sua participação em PHOBUS. Alguns até nem quiseram apanhar seu dinheiro.

O filme tem algumas trucagens, o que é raro em fitas brasileiras. Numa delas, vê-se Zélia Marinho a se incendiar. Isso foi feito no Rio ou em São Paulo?
Não, as trucagens foram feitas em Belo Horizonte mesmo, no meu laboratório. Aprendi a técnica ainda na Itália, quando lá estive participando do curso de cinema de que já falei.

Uma vez obtido o certificado da censura, quais as medidas tomadas para distribuir PHOBUS?
Sempre achei que um filme mineiro deveria, em primeiro lugar, ser exibido em sua terra. Procurei, portanto, um distribuidor de Belo Horizonte, que ficou quatro meses com meu filme na prateleira, sem conseguir lançamento na cidade para ele. Tentei, a seguir, a Embrafilme, onde depositei a cópia censurada, na crença de que finalmente ela seria exibida em todo o território nacional. O tempo foi passando e nada. Passei a procurar pessoas influentes dentro da Embrafilme, pedindo que tivessem um pouco de boa vontade para com o Phobus. Acabaram formando uma comissão para examinar minha fita; não sei o que pretendiam examinar, pois a censura já o fizera antes e dissera que estava tudo bem. Entrei em contato com amigos meus, gente de influência, solicitando apoio ao meu caso. O fato é que o certificado de censura acabou expirando e Phobus permaneceu inédito, até mesmo para alguns dos atores que nele trabalharam.

O fato do filme ter sido feito em preto-e-branco não contribuiu para o seu ineditismo?
Não creio. Acho que o gênero terror só funciona em preto-e-branco: em cores, perde o sentido. Estou empenhado em que tanto PHOBUS como OS CENTURIÕES RIVAIS sejam exibidos em Belo Horizonte e no interior de Minas, pelo menos. Para isso, vou providenciar novos certificados de censura para ambos e insistir mais uma vez. Só voltarei a fazer longas-metragens depois que pelo menos um deles for lançado dignamente em Minas.

Projetos. O que o senhor está fazendo atualmente?
Já há algum tempo, encerrei minha atividade no cine-jornalismo. No momento, estou interessado em reduzir meus filmes sobre cidades mineiras para a bitola de 16 milímetros, tentando uma opção fora da exibição comercial, buscando as escolas. Gostaria de, para esse mercado paralelo, filmar as vidas de grandes brasileiros do presente e do passado. Tenho, também, um livro que me foi dado por seu autor, o Dr. Wilson Veado, de Sete Lagoas. Intitula-se Viagem ao Reino da Química e foi escrito para crianças. Gostaria de transformar cada capítulo em um pequeno filme.

Existe um outro projeto que lhe é caro: uma escola de cinema. Como anda?
Quando fiz PHOBUS, trabalhei com técnicos e atores formados na própria prática, dentro da minha firma. Se eu pudesse refazer meus estúdios em galpões, como foram construídos no tempo que passei no Sul de Minas, gostaria de franqueá-los aos interessados, para que tomassem conhecimento em detalhes das várias etapas da feitura de filmes. Tenho um fichário com 2.300 nomes relacionados. São pessoas de todos os tipos, cada uma com um interesse específico dentro do cinema. Uns querem ser atores, outros técnicos. Todos estão à espera de uma oportunidade.

Existe algum roteiro que gostaria de filmar, em especial?
Sim, O TRONCO DO IPÊ. Eu o faria em Belo Horizonte, a cores, mas só depois de ver um dos longas-metragens que já fiz lançado comercialmente na cidade.

O que significam seus 50 anos na prática do cinema mineiro?
Como cineasta, eu me sinto feliz por estar sempre fazendo cinema. Busco novas atividades e, agora, estou entusiasmado com a idéia das escolas. Mas, comercialmente, esses 50 anos foram todos perdidos.

O Cinema Sexploitation de Juan Bajon

Posted in Cinema with tags , , , , , , on junho 22, 2011 by canibuk

“Se há um cineasta 100% sexploitation no Brasil, Juan Bajon é um dos mais fortes candidatos à ocupar essa vaga”. (frase de Uzi Uschi, diretor de fotografia dos filmes da Canibal Filmes).


Morando no Brasil desde os seis anos de idade (nasceu em 12 de abril de 1948 em Shangai, China), estudou cinema no primeiro curso montado pela Escola São Luis, na av. Paulista e, em seguida, funda no final dos anos 70 sua própria produtora, J.B. Filmes, e estréia na direção com “O Estripador de Mulheres”, um sleaze de baixo orçamento onde temos uma mostra da capacidade criativa de Bajon, inclusive ganhou o prêmio da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor roteiro por este filme. Como precisava ganhar dinheiro, associa-se à Brasil Internacional Cinematográfica para produzir uma série de filmes pornôs, verdadeiros sucessos de bilheteria. Com a liberação dos filmes pornôs e o eventual fim da censura, cria a Galápagos Produções Cinematográficas, produtora de inúmeros pornôs dirigidos pelo crítico de cinema Alfredo Sternheim ou pelo próprio Juan Bajon e que revelaram para os tarados pornófilos as formas da espetacular Sandra Midori. Nos anos 80 Bajon realizou inúmeros filmes de zoofilia, são tantos títulos que em 2009 resolvi homenageá-lo criando uma personagem no meu filme “Ninguém deve Morrer” que se chama Coronel Bajon e faz filmes de zoofilia em Super-8 na sua fazenda cinematográfica. Coronel Bajon foi interpretado pelo lendário ator Jorge Timm.

Em sua filmografia há mais de 50 títulos, segue então a filmografia selecionada:

1978- O Estripador de Mulheres, 1979- Colegiais e Lições de Sexo, 1981- A Noite dos Depravados, 1982- Fantasias Sexuais, 1983- Bacanal de Colegiais, 1984- Penetrações Profundas, 1985- Sexo a Cavalo, 1986- Meu Marido, Meu Cavalo + Seduzida por um Cavalo + A Colegial Sacana + A Garota do Cavalo + Duas Mulheres e um Pônei, 1987- Júlia e os Pôneis + Viciados em Cavalos + Ninfeta Nota 10, 1988- Tudo por um Cavalo + Um Homem, uma Mulher e um Cavalo, 1989- Ninfas Pornôs + A Ninfeta Sapeca + Eu, Márcia F., 23 Anos, Louca e Desvairada.

Entrevista com o velho safado

Posted in Arte e Cultura, Entrevista with tags , , , , on junho 21, 2011 by canibuk

Petter e eu somos adoradores do Bukowski, ele é sem dúvida meu escritor preferido de todos os tempos e a cada pouco postamos aqui no blog poemas e outras curiosidades sobre  esse gênio do sarcasmo e da linguagem crua e sem rodeios, hoje reproduzimos uma entrevista de 1987 feita pelo Sean Penn enquanto estava em Los Angeles para protagonizar “Barfly“, a cinebiografia sobre a vida de Charles Bukowski (papel que ele acabou perdendo pro Mickey Rourke), na entrevista o Bukowski fala sobre as mesma questões que estão sempre presentes em seus livros,  contos, poemas e da mesma forma desbocada e debochada/cínica/bêbada/demente que lhe é peculiar.

BARES: “Eu não vou muito a bares. Tirei isso do meu sistema. Hoje, quando entro num bar, sinto náuseas. Freqüentei muito, enche o saco. Os bares servem para quando somos jovens e queremos brigar, dar uma de macho, arrumar umas mulheres. Na minha idade, eu não preciso mais dessas coisas. Agora só entro nos bares para urinar. Às vezes, entro e já começo a vomitar”.

ÁLCOOL: “O álcool é provavelmente uma das melhores coisas que chegaram à Terra, além de mim. Nos entendemos bem. É destrutivo para a maioria das pessoas, mas eu sou um caso à parte. Faço todo o meu trabalho criativo quando estou intoxicado. O álcool, inclusive, me ajudou muito com as mulheres. Sempre fui reticente durante o sexo, e ele me permitiu ser mais livre na cama. É uma liberação porque basicamente eu sou uma pessoa tímida e introvertida, e ele me permite ser este herói que atravessa o espaço e o tempo, fazendo uma porção de coisas atrevidas… O álcool gosta de mim.”

FUMAR: “O cigarro e o álcool se equilibram. Certa vez, ao despertar de uma embriaguês, notei que havia fumado tanto que minhas mãos estavam amarelas, quase marrons, como se eu tivesse colocado luvas. E passei a reclamar: ‘Droga! Como estarão os meus pulmões?'”

BRIGAR: “A melhor sensação é quando você acerta um sujeito que todo mundo acha impossível. Certa ocasião enfrentei um cara que estava me xingando. Falei pra ele: ‘Tudo bem, venha’. Não tive problema – ganhei a briga facilmente. Caído no chão, com o nariz ensangüentado, ele falou: ‘Jesus, você se move tão lentamente que pensei que seria fácil. Mas quando começou a briga, eu não conseguia nem ver as tuas mãos. O que aconteceu?’. Respondi: ‘Não sei, cara. As coisas são assim. Um homem se prepara para o dia que precisa’.”

GATOS: “É bom ter um monte de gatos em volta. Se você está mal, basta olhar pra eles e fica melhor, porque eles sabem que as coisas são como são. Não tem porque se entusiasmar com a vida, e eles sabem. Por isso, são salvadores. Quantos mais gatos um sujeito tiver, mais tempo viverá. Se você tem cem gatos, viverá dez vezes mais que se tivesse dez. Um dia, isso será descoberto: as pessoas terão mil gatos e viverão para sempre.”

MULHERES, SEXO: “Eu as chamo de máquinas de queixas. As coisas entre elas e os homens nunca estão bem para elas. E quando vêm com essa histeria… Ah, eu tenho que sair, pegar o carro, ir embora para qualquer lugar. Tomar café em algum canto, fazer qualquer coisa, menos encontrar outra mulher. Acho que elas são feitas de maneira diferente, não? Quando a histeria começa, o cara tem de ir embora e elas não entendem porque. ‘Onde vai?’, gritam. ‘Vou à merda, querida!’. Pensam que sou um misógino, mas não é verdade. É fofoca. Ouvem por aí que Bukowski é ‘um porco chauvinista’, mas não vêm de onde partiu o comentário. Verdade! Às vezes, eu pinto uma má imagem das mulheres nos meus contos, e faço a mesma coisa com os homens. Até eu me ferro nesses escritos. Se realmente não gostar de uma coisa, digo que é ruim, seja homem, mulher, criança ou cachorro. As mulheres são tão encanadas que pensam que são meu alvo especial. Esse é o problema delas.”

PRIMEIRA VEZ: “Minha primeira vez foi insólita. Não sabia como fazer, e ela me ensinou todas essas coisas de sacanagem. Lembro que ela dizia: ‘Hank, você é um bom escritor, mas não sabe nada sobre as mulheres.’ ‘O que você está dizendo? Eu já estive com uma porção de mulheres.’ ‘Não, não sabe nada. Vou te ensinar algumas coisas.’ Concordei. Depois, e ela disse: ‘Você é bom aluno, entende rápido’. [Bukowski faz cara de envergonhado. Não pelos detalhes, mas pelo sentimento da lembrança.] Mas esse assunto de … Eu gosto de servir a mulher, mas isso tudo tá tão exagerado! O sexo só é bom quando você não o faz.”

ESCREVER: “Escrevi um conto a partir do ponto de vista de um violentador de uma menininha. E as pessoas passaram a me acusar. Diziam: ‘Você gosta de violentar criancinhas?’. Eu disse: ‘Claro que não. Estou fotografando a vida’. De repente, estava envolvido com uma porrada de problemas. Por outro lado, os problemas vendem livros. Em última instância, eu escrevo para mim. [Bukowski dá uma longa tragada em seu cigarro.] É assim. A tragada é para mim, a cinza é para o cinzeiro. Isto é publicar. Nunca escrevo de dia porque é como ir pelado a um supermercado – todos te podem ver. À noite é quando saem os truques da manga… E vem a magia.”

POESIA: “Faz séculos que a poesia é quase um lixo total, uma farsa. Tivemos grandes poetas, entenda bem. Existiu um poeta chinês chamado Li Po que tinha a capacidade de colocar mais sentimento, realismo e paixão em quatro ou cinco simples linhas que a maioria dos poetas em suas doce ou treze páginas de merda. Li Po bebia vinho também e costumava queimar seus poemas, navegar pelo rio e beber vinho. Os imperadores o amavam porque entendiam o que ele dizia. Lógico que ele só queimou os maus poemas. O que eu quis fazer, desculpem, é incorporar o ponto de vista dos operários sobre a vida… Os gritos de suas esposas que os esperam quando voltam do trabalho. As realidades básicas da existência do homem comum… Algo que poucas vezes se menciona na poesia há muito tempo.”

SHAKESPEARE: “É ilegível e está demasiadamente valorizado. Só que as pessoas não querem ouvir isso. Ninguém pode atacar templos. Shakespeare foi fixado à mente das pessoas ao longo dos séculos. Você pode dizer que fulano é um péssimo ator, mas não pode dizer que Shakespeare é uma merda. Quando alguma coisa dura muito tempo, os esnobes começam a se agarrar a ela como pás de um ventilador. Quando os esnobes sentem que algo é seguro, se apegam. E se você lhes disser a verdade, eles se transformam em bichos. Não suportam a negação. É como atacar o seu próprio processo de pensamento. Esses caras me enchem o saco.”

HUMOR E MORTE: “Para mim, o último grande humorista foi um cara chamado James Thurber. Seu humor era tão real que as pessoas gritavam de rir, como numa liberação frenética. Eu tenho um ‘fio cômico’ e estou ligado a ele. Quase tudo o que acontece é ridículo. Defecamos todos os dias – isso é ridículo, não? Temos que continuar urinando, pondo comida em nossas bocas, sai cera de nossos ouvidos… As tetas, por exemplo, não servem para nada, exceto…”.

NÓS: “A verdade é que somos umas monstruosidades. Se pudéssemos nos ver de verdade, saberíamos como somos ridículos com nossos intestinos retorcidos pelos quais deslizam lentamente as fezes… enquanto nos olhamos nos olhos e dizemos: ‘Te amo’. Fazemos e produzimos uma porção de porcarias, mas não peidamos perto de uma pessoa. Tudo tem um fio cômico.”

GANHAR: “E depois de tudo, morremos. Mas a morte não nos ganhou. Ela não mostrou nenhuma credencial; nós é que nos apresentamos com tudo. Com o nascimento, ganhamos a vida? Não, verdadeiramente, mas a filha da puta da morte nos sufoca… A morte me provoca ressentimento, a vida também, e muito mais estar pressionado entre as duas. Você sabe quantas vezes eu tentei o suicídio? Me dá um tempo, tenho só 66 anos. Quando alguém tem tendências suicidas, nada o incomoda, exceto perder nas corridas de cavalos.”

AS CORRIDAS: “Durante um tempo quis ganhar a vida com as corridas de cavalos. É doloroso, vigoroso. Tudo está no limite, o dinheiro do aluguel, tudo. É preciso ter cuidado. Uma vez, eu estava sentado numa curva, haviam doze cavalos na disputa, todos amontoados. Parecia um grande ataque. Tudo o que eu via era essas grandes traseiras de cavalos subindo e descendo… Pareciam selvagens. Pensei: ‘Isso é uma loucura total’. Mas tem outros dias em que você ganha 400 ou 500 dólares, ganha oito ou nove corridas, e se sente Deus, como se soubesse tudo.”

AS PESSOAS: “Não olho muito as pessoas. É perturbador. Dizem que se você olha muito para uma outra pessoa acaba ficando parecido com ela. Pobre Linda! Na maioria das vezes eu posso passar sem as pessoas. Elas me esvaziam e eu não respeito ninguém. Tenho problemas nesse sentido. Estou mentindo, mas, creia-me: é verdade.”

A FAMA: “É uma cadela, é a maior destruidora de todos os tempos. A fama é terrível, é uma medida numa escala do denominador comum que sempre trabalha num nível baixo. Não tem valor nenhum. Uma audiência seleta é muito melhor.”

SOLIDÃO: “Nunca me senti só. Durante um tempo fiquei numa casa, deprimido, com vontade de me suicidar, mas nunca pensei que uma pessoa podia entrar na casa e curar-me. Nem várias pessoas. A solidão não é coisa que me incomoda porque sempre tive esse terrível desejo de estar só. Sinto solidão quando estou numa festa ou num estádio cheio de gente. Cito uma frase de Ibsen: ‘Os homens mais fortes são os mais solitários’. Viu como pensa a maioria: ‘Pessoal, é noite de sexta, o que vamos fazer? Ficar aqui sentados?’. Eu respondo sim porque não tem nada lá fora. É estupidez. Gente estúpida misturada com gente estúpida. Que se estupidifiquem eles, entre eles. Nunca tive a ansiedade de cair na noite. Me escondia nos bares porque não queria me ocultar em fábricas. Nunca me senti só. Gosto de estar comigo mesmo. Sou a melhor forma de entretenimento que posso encontrar.”

TEMPO LIVRE: “É muito importante e temos que parar por completo, não fazer nada por longos períodos para não perdê-los inteiramente. Ficar na cama olhando o teto. Quem faz isso nesta sociedade moderna? Pouquíssimas pessoas. Por isso é que a maioria está louca, frustrada, enojada e com ódio. Antes de me casar, ou de conhecer muitas mulheres, eu baixava as cortinas e me punha na cama por três ou quatro dias. Levantava só para ir ao banheiro e comer uma lata de feijão. Depôs me vestia e saía à rua. O sol brilhava e os sons eram maravilhosos. Me sentia poderoso como uma bateria recarregada.”

BELEZA: “A beleza não existe, especialmente num rosto humano – ali está apenas o que chamamos fisionomia. Tudo é um imaginado, matemático, um conjunto de traços. Por exemplo, se o nariz não sobressai muito, se as costas estão bem, se as orelhas não são demasiadamente grandes, se o cabelo não é muito comprido. Esse é um olhar generalizante. A verdadeira beleza vem da personalidade e nada tem a ver com a forma das sobrancelhas. Me falam de mulheres que são lindas… Quando as vejo, é como olhar um prato de sopa.”

FIDELIDADE: “Não existe. Há algo chamado deformidade, mas a simples fidelidade não existe.”

IMPRENSA: “Aproveito as coisas más que dizem sobre mim para aumentar a venda de livros e me sentir malvado. Não gosto de me sentir bem porque sou bom. Mas, mau? Sim, me dá outra dimensão. Gosto de ser atacado. ‘Bukowski é desagradável!’ Isso me faz rir, gosto. ‘É um escritor desastroso!’ Rio mais ainda. Mas quando um cara me diz que estão dando um texto meu como material de leitura numa universidade, fico espantado. Não sei, me assusta ser muito aceito. Parece que fiz alguma coisa errada.”

O DEDO: [Ergue o dedo mínimo de sua mão esquerda] “Você viu alguma vez este dedo? [O dedo parece paralisado em forma de “L”]. Quebrei uma noite, bêbado. Não sei porque, ele nunca voltou ao normal. Mas funciona bem para a letra ‘a’ da máquina de escrever, e – que mistério! – acrescenta coisas aos meus personagens.”

VALENTIA: “Falta imaginação à maioria das pessoas supostamente valentes. É como se não pudessem conceber o que aconteceria se alguma coisa saísse mal. Os verdadeiros valentes vencem a sua imaginação e fazem o que devem fazer.”

MEDO: “Não sei nada sobre isso.” [Risos]

VIOLÊNCIA: “Acho que, na maioria das vezes, a violência é mal interpretada. Faz falta uma certa violência. Existe em nós uma energia que precisa ser liberada. Se ela for contida, ficamos loucos. Às vezes, chamam de violência à expulsão da energia com honra. Existe loucura interessante e loucura desagradável; há boas e más formas de violência. Sei que é um termo vago, mas ela fica bem se não acontecer às custas dos outros.”

DOR FÍSICA: “Com o tempo, o cara se endurece e agüenta. Quando eu estava no Hospital Geral, um cara entrou e disse: ‘Nunca vi ninguém agüentar a agulha com tanta frieza’. Ora, isso não é valentia. Se o sujeito agüenta, alguém cede. É um processo, um ajuste. Mas não existe maneira de se acostumar com a dor mental. Fico longe dela.”

PSIQUIATRIA: “O que conseguem os pacientes psiquiátricos? Uma conta. Creio que o problema entre um psiquiatra e seu paciente é que o psiquiatra atua de acordo com o livro, ainda que o paciente chegue pelo que a vida lhe fez. E mesmo que o livro possa ter certa astúcia, as páginas sempre são as mesmas e cada paciente é diferente. Existem muito mais problemas individuais que páginas. Tem muita gente louca para resolvê-los, dizendo: ‘São tantos dólares por hora e quando a campainha tocar a sessão estará terminada’. Isso só pode levar um cara um pouco louco à loucura total. Quando as pessoas começam a se abrir e sentir bem, o psiquiatra diz: ‘Enfermeira, marque a próxima consulta’. O cara tá aí para sugar, não para curar. Quer o teu dinheiro. Quando toca a campainha, que entre o louco seguinte. Aí o louco sensível vai perceber que quando toca a campainha, é sinal que o fodeu. Não existem limites de tempo para curar a loucura. Muitos psiquiatras que vi parecem estar no limite deles mesmos, mas estão bem acomodados. Ah, os psiquiatras são totalmente inúteis. Próxima pergunta…”

FÉ: “Tudo bem que as pessoas a tenham, mas não me venham enfiar isso na cabeça. Tenho mais fé no encanador que no Ser Eterno.”

CINISMO: “Me chamaram sempre de cínico. Creio que o cinismo é uma uva amarga, uma debilidade. É dizer: ‘Tudo está uma merda. Isso não tá bom, aquilo tá ruim’. O cinismo é a debilidade que evita que nos ajustemos ao que acontece no momento. O otimismo também é uma debilidade: ‘O sol brilha, os pássaros cantam, sorria.’ Isso é uma merda igual. A verdade está em algum ponto entre os dois. O que é, é. Se você não está disposto a suportar a verdade, dane-se!”

MORALIDADE CONVENCIONAL: “Pode ser que não exista o inferno, mas os que julgam podem perfeitamente criá-lo. As pessoas estão muito domesticadas. O cara tem que ver o que acontece e como vai reagir. Vou usar um termo estranho aqui: o bem. Não sei de onde vem, mas sinto que existe um componente de bondade em cada um de nós. Não acredito em Deus, mas creio nessa ‘bondade’ como um tubo que está dentro de nossos corpos e que pode ser alimentada. Ela é sempre mágica quando, por exemplo, numa estrada sobrecarregada de automóveis, um estranho te oferece lugar para mudar de mão.”

SOBRE SER ENTREVISTADO: “É vergonhoso e, por isso, nem sempre digo toda a verdade. Gosto de brincar e mentir um pouco. Daí que dou informações falsas só pelo gosto de distrair. Se quiserem saber alguma coisa de mim, não leiam uma entrevista. Ignorem esta, também”.