Grandes Problemas não representam Grandes Problemas
O ser sem inspiração sentou-se diante do espelho e olhou longamente seus próprios olhos. Deixou que o vento desarranjasse seus cabelos e se perdeu em devaneios nostálgicos, onde pensou:
“Sou prisioneiro de mim mesmo. Vivo vinte e quatro horas por dia preso a minha existência medíocre. E minha mediocridade existencial é meu purgatório. E vegeto com a certeza de não ter como fugir de mim mesmo. E vou viver por infinitas eternidades. E serei torturado por mim mesmo até o fim dos tempos. E tentarei, a todo custo, esquecer como pensar. E talvez então, com a mente vazia, me tornarei a felicidade pura e simples…”
Os quatro manguaceiros do apocalipse olhavam o ser sem inspiração e cada qual, a sua maneira única, tinha sua opinião sobre a tristeza quase contagiante que rondava os humanos ainda pensantes.
E o sensato pensou:
“Os prazeres intelectuais não me são suficientes!”
E o ateu resmungou:
“O Vazio é a lei que domina o homem movido pela fé!”
E o puro de coração falou:
“Eu nasci para rir da humanidade!”
E o niilista otimista gritou:
“Por favor, alguém destrua a humanidade, não servimos para nada!”
E o ser sem inspiração ficou ali, em silêncio, para todo o sempre até criar raízes e se tornar uma frondosa árvore solitária em uma planície também solitária.
E eu pensei no quanto achava triste as pessoas que desistem de lutar, que se entregam ao comodismo, que deixam de experimentar novas sensações por medo, vergonha, timidez; que deixam de tentar a expansão da mente e se entregam de corpo e alma aos casulos que prometem uma vida pacata cheia de uma felicidade que pode ser comprada com seu trabalho escravo e sua cabeça baixa. E eu me lembrei de uma frase, não sei de quem, escrita no livro “Sociobiologia ou Ecologia Social ?” do Murray Bookchin que dizia “Ficar alheio, mesmo conscientemente, ao mundo, ou não ficar e intervir, é uma opção de cada um.”. E tinha certeza de que continuar a luta pela igualdade dos seres, para qualquer homem ainda pensante, era uma questão de honra, uma virtude pela qual vale a pena lutar.
escrito por Petter Baiestorf.
dezembro 14, 2011 às 11:36 pm
Um brinde supremo, ser pensante! Abraços!