Arquivo para abril, 2012

Seja feliz, Palhaça Triste!

Posted in Buk & Baiestorf, Nossa Arte with tags , , , , on abril 30, 2012 by canibuk

Palhaça Triste”  copyright © Leyla Buk, 2009, 40×50, acrílica sobre tela.

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Há mais ou menos três anos nascia a Palhaça Triste (palhacita para os íntimos) e depois de tantas alegrias e tristezas divididas ela foi finalmente vendida.

Ainda não aprendi a me desapegar das minhas garotas. Acho super complicado vender uma tela,  deixá-la ir, embora eu saiba que é pra isso que estão por aí.

Esta é uma das minhas primeiras telas e é a favorita de muita gente. Pintei este quadro para expressar um momento e ao mesmo tempo homenagear o “Palhaço Triste”, um dos filmes que mais gosto da Canibal Filmes.

"Palhaço Triste", de Petter Baiestorf.

"Palhaço Triste", 2005, de Petter Baiestorf.

Lembro-me bem do dia em que pintei este quadro, meu humor não andava bom,  meu emocional oscilava todo o tempo e eu estava triste, presa num tempo onde um sonho parecia se desmanchar. O quadro é leve, bonito, mas o instante é sutilmente triste.

Dá uma dorzinha no coração me livrar dela, mas fico aliviada por saber que estará com alguém que a adora e realmente vai cuidá-la muito bem.

Seja feliz, palhacita, desculpe-me por prendê-la aí neste momento melancólico. Liberte-se!  Te amo!

Para ver minhas outras telas visite a página (algumas ainda estão disponíveis):  http://leylabukpaintings.tumblr.com/

Paco Alcázar in Memorian

Posted in Fanzines, Quadrinhos with tags , , , , , , , on abril 28, 2012 by canibuk

Desde seu nascimento na cidade de Cádiz em 1970, até sua morte 23 anos depois em Barcelona, a vida deste genial desenhista foi um rosário de maravilhosas aventuras e milagres que seriam tão apaixonantes de contar que é melhor deixar prá outra hora. Então, falemos dos últimos três anos de sua vida. Na idade de 20 anos, quando era um jovem transbordando energia e vitalidade, uma terrível doença se apoderou de seu corpo, que lhe foi deformando até deixá-lo completamente irreconhecível.

Durante aqueles anos de intensa dor, Paco nunca saiu de seu apartamento fétido. Ali se dedicou por completo a transformar seus piores pesadelos e ansiedades em quadrinhos. Seus medos, suas fobias, suas fixações e seu peculiar senso de humor foram fonte de matéria para seus quadrinhos dementes. Há uns três anos, quando seu corpo se tornou algo que parecia um gigante fungo, a vida lhe abandonou e sua própria família  se encarregou de continuar seus quadrinhos.

“Escarba, Escarba!” é uma coletânea com material inédito cedido por sua família.

Introdução do álbum “Escarba, Escarba!” (lançado na Espanha com edição de Borja Crespo em 1996, o qual reproduzimos algumas páginas aqui no Canibuk).

Screwjack

Posted in Literatura with tags , , , , , , , on abril 27, 2012 by canibuk

Acabo de ganhar a companhia do rico e famoso sr. Screwjack, que acabou com o que restava do atum, me fez uma daquelas carícias no queixo e depois tentou me persuadir a sair com ele, mas me recusei… então deu de ombros e saiu sozinho, rumo à aurora gélida e nublada.

Seria melhor se tivesse ficado comigo aqui dentro – nós dois enroscados no sofá, assistindo à Oprah Winfrey na TV… Eu percebia aquilo em seus olhos frios e amarelados. Era uma espécie melancólica de anseio por um amor que precisava esperar sua hora ou que talvez nunca viesse a se concretizar…

Suas lamúrias me enlouqueciam enquanto eu o carregava no colo até a porta da frente. Pouco antes de arremessar sua carcaça negra e desprezível sobre a fina camada de neve que se acumulava na varanda desde a meia-noite, ergui-o até que ficasse de frente para meu rosto e dei-lhe um profundo beijo na boca. Forcei minha língua entre seus caninos pontiagudos e rolei-a pelos sulcos do céu da boca. Agarrei seus ombros fortes e jovens e o trouxe mais perto de mim. Ele ronronava tão alto e tão forte que nós dois começamos a tremer.

“Ha, doce Screwjack”, sussurei. “Estamos perdidos. Mama se mandou para a escola de Corretores Imobiliários. De lá vai para o El Centro e depois talvez acabe indo parar na Daculdade de Direito. Nunca mais a veremos.”

Ele me encarou sem dizer nada. Então, se contorceu até escapar de minhas mãos e caiu no chão… Sumiu de repente, sem ruído algum, como se fosse uma espécie de fantasma de meu outro mundo… enquanto seu vulto negro e imundo saltava para longe em meio à pilha de lenha e através do túnel obscuro entre o abeto azulado e a grade fria e prateada do radiador do Volvo, tive a certeza de que nunca mais o veria.

Não o veria por pelo menos seis anos, e provavelmente nem depois. Quando nos encontrássemos novamente ele pesaria 90 kg, me viraria de bruços e me foderia por trás como se fosse uma pantera.

Seria meu animal e meu comedor, meu perfeito amante onírico, como aquele fantasma que devo esquecer… e a bela e delicada tatuagem que custará US$ 1.500 para ser retirada a laser do meu ombro.

Senhor, perdoa-me por amar este animal de tal forma, e por desejá-lo dentro de mim com tamanha intensidade, a ponto de ansiar pela ocasião em que o sentirei roçar a delicada pele vermelha de meu coração… e por desejar deitar ao seu lado e dormir como um bebê, nossos corpos enroscados compartilhando o mesmo sonho selvagem.

Sou culpado, Senhor, mas também sou um amante – e sou um de seus melhores filhos, como sabes. E, sim, embora eu tenha caminhado em meio a diversas sombras estranhas e agido como louco de vez em quando, e até mesmo babado sobre muitos Sumos-Sacerdotes, nunca o constrangi… sendo assim, deixe-me em paz, seu desgraçado, e faça o sr. Screwjack voltar para mim. Se os outros tiverem alguma dúvida ou quiserem fazer algum comentário depreciativo, mande-os comer merda até morrer.

Quem dentre eles é puro o bastante para atirar a primeira pedra? Ou para me encarar com olhos remelentos e acusadores, afirmando que errei ao me apaixonar por um enorme gato preto?

Esquece, Senhor. Deixa comigo. Só peço que mantenha os advogados a uma boa distância de mim, e faça o mesmo com os puritanos… e deixe-nos a sós para que possamos fazer bebês.

escrito por Hunter S. Thompson (do livro “Screwjack”, editora Conrad, 2005).

Primitivista Cinema Canibal

Posted in Nossa Arte, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on abril 26, 2012 by canibuk

Dando seqüência aos filmes hospedados no youtube/vimeo, foram disponibilizados mais 3 curtas meus e vários trailers de filmes ruins que fiz no passado (e vários curtas de Coffin Souza que entrevistarei em breve sobre suas experiências no Nordeste onde ele filmou cerca de seis horas de curtas experimentais lançados em 5 coletâneas em VHS). Entre os curtas online de agora, dois que eu gostei muito de filmar: “2000 Anos Para Isso?” (1996), que tem uma história de produção bem curiosa, e “Primitivismo Kanibaru na Lama da Tecnologia Catódica” (2003), um curta onde percebi que as vezes o improviso funciona melhor que os planos originais.

“Primitivismo Kanibaru na Lama da Tecnologia Catódica” (2003, 12 min.) de Petter Baiestorf. Com: Elio Copini e Coffin Souza. Filmado com ajuda técnica do trio Jorge Timm, CB Rot e Claudio Baiestorf.

Não lembro mais qual era a história que iríamos filmar naquele dia de dezembro de 2002 (vários roteiros de curtas eu escrevia em pedaços de papel e depois, na hora de filmar, ia moldando as idéias), mas quando nos dirigíamos para o set (aquele lamaçal visto no vídeo), CB Rot (ou Coffin Souza, não consigo lembrar direito) encontrou uma velha TV jogada no lixo e a pegou para algo futuro. Quando vi aquela TV no porta malas de um dos carros da produção, deu estalo na mente e a história toda para o “Primitivismo Kanibaru” surgiu. Elio Copini estava com bastante receio de entrar naquela lama com água podre (dava prá ver vermes e lombrigas boiando mortas entre a sujeira da água), mas como eu e CB Rot (na época meu assistente de direção) entramos naquela podridão com a filmadora e um rebatedor, Copini se sentiu na obrigação de fazer o mesmo. Em mais ou menos 3 horas de trabalhos conseguimos o material necessário para editar o curta. Coffin Souza foi improvissado no papel do primata (no estojo de maquiagens tinha uma dentadura velha de quando filmamos, vários anos antes, o longa “Caquinha Superstar a Go-Go” (1996) e essa dentadura deu um ótimo visual selvagem ao Souza), sujamos ele todo com lama e o colocamos entre uma vegetação espinhosa e ação!

Durante as filmagens Jorge Timm e Claudio Baiestorf ficaram bebericando uma garrafa de uisque vagabundo e logo estavam bebaços tropeçando em poças de lama. Acostumados com filmagens de guerrilha, gravamos o “Primitivismo Kanibaru” rápido e sem contra-tempo algum, apenas falei a frase que costumo dizer quando percebo o desconforto dos atores que trabalham comigo: “Tu confia em mim?… Sei o que estou fazendo, vai ficar foda!!!” e isso cria um clima de cumplicidade e o trabalho se torna mais intenso.  Claro que Copini e Souza estavam com o senso de humor meio prá baixo por causa do desconforto físico das filmagens, mas ambos tinham noção que as imagens gravadas estavam com uma qualidade bem boa (claro que este “bem boa” leva em consideração as imagens “bem boas” do Super VHS do final dos anos 90). Editei este curta em mais algumas poucas horas (não mais do que 4 horas, pois a maioria das imagens foram feitas de take único), na trilha sonora coloquei músicas das bandas MÚ (do desenhista Edgar S. Franco) e Los Activos que encaixaram perfeitamente e comecei a divulgá-lo em vários festivais de cinema aqui pelo Brasil. “Primitivismo Kanibaru na Lama da Tecnologia Catódica” nunca foi lançado em VHS, nem em DVD, mas continua sendo um de meus filmes mais populares.

“2000 Anos Para Isso?” (1996, 12 min.) de Petter Baiestorf. Com: E.B. Toniolli. Filmado com Coffin Souza, Marcos Braun e Claudio Baiestorf na equipe-técnica.

Este curta nem era para existir, todas as imagens dele foram produzidas para o longa-metragem “Eles Comem Sua Carne” (1996) que escrevi e dirigi (com produção do Souza) no começo daquele ano. As filmagens deste longa foram meio insanas, tínhamos uma equipe de 26 pessoas trabalhando num lugar isolado, cheio de aranhas, sem água potável e fazendo um calor absurdo que quase chegava aos 40 graus. Canibal 40 graus: Mas éramos jovens, loucos e completamente sem noção (foi neste longa que banhamos Marcos Braun – nesta época meu assistente de direção – com tinta vermelha para concreto e o cabelo dele ficou rosa, obrigando-o a raspar a cabeça quando teve que voltar ao seu emprego normal. Também nestas filmagens convenci o ator E.B. Tonioli a se banhar uma piscina com água podre para usar no longa-metragem “Caquinha Superstar a Go-Go” estava sendo filmado simultaneamente e, imprudentemente, embolotamos toda a pele de uma das atrizes com uma tinta tóxica que não testamos antes, coisas que nunca mais deixei repetir numa produção).

“2000 Anos Para Isso?” existe porque um espanhol convidou um curta da Canibal Filmes para seu festival de curtas gore que aconteceria na Espanha. Nesta época eu só tinha feito os longas “Criaturas Hediondas” (1993), “Criaturas Hediondas 2” (1994), “O Monstro Legume do Espaço” (1995), o média “Açougueiros” (1994) e o curta “Detritos” (1995), que não era gore. Ao invés de usar o bom senso e recusar o convite, peguei e montei este filminho com as cenas do “Eles Comem Sua Carne”, tentando dar um novo significado às imagens que, no fim das contas, passa praticamente a mesma mensagem que quando incorporadas no longa.

As filmagens destas cenas foram cansativas, o banheiro que usamos nas gravações era pequeno demais e não comportava o casal de atores e uma equipe-técnica. Pedi então para Braun e Claudio que removessem o teto do banheiro, o que possibilitou fazer vários takes do alto. Com uma equipe reduzida à 4 técnicos e os dois atores, enquanto fomos filmando as cenas em planos abertos, Coffin Souza ficou maquiando um porco morto depilado (que compramos num açougue) para usarmos para fazer os closes do cutelo penetrando na carne da garota e para os closes das tripas saindo da cavidade estomacal. Claro que devido ao calor intenso e ao tamanho reduzido daquele banheiro maldito, o cheiro das vísceras ficou insuportável, mas nada que assustasse o pessoal que já estava acostumado a filmar comigo. Até hoje este curta continua sendo exibido em algumas mostras, mesmo nunca tendo sido lançado em DVD. Em VHS ele foi lançado, fazia parte da coletânea de curtas “Festival Psicotrônico Vol. 1” (lançada em 1999).

“Vomitando Lesmas Lisérgicas” (1997) de Petter Baiestorf. Filmado com ajudatécnica de Marcos Braun.

Este curta só existe por um único motivo: Eu queria testar as possibilidades da íris de uma filmadora VHS com defeito que eu tinha e o desbotamento das cores que resultavam das cópias de VHS para VHS (este filme não é preto e branco, é colorido desbotado). Como não tinha história nenhuma para filmar, me improvisei de ator (Braun ficou segurando a filmadora para mim), fiquei caminhando de um lado pro outro, legendei a porra toda com um poema que eu tinha escrito chapado e… Porque não mostrar o resultado destas experiências para todo mundo que se interessar em vê-lo. “Vomitando Lesmas Lisérgicas” é um curta que eu nem lembrava que tinha feito e fiquei bem feliz quando mostrei ele para minha namorada (e companheira de Canibuk) Leyla Buk e ela me disse que adorou o curta.

Se você gostou desta postagem, veja também “Fragmentos do Nobre Deputado Fraude Tomando no Orifício Pomposo“, “Deus – O Matador de Sementinhas & Poesia Visceral“, “A Paixão dos Mortos“, “A Despedida de Susana – Olhos & Bocas“, “Criando Ninguém Deve Morrer” e “Encarnación Del Tinhoso“.

Memórias de Petter Baiestorf.

Deep Inside Annie Sprinkle

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Sou apaixonado pelo senso de humor de Annie Sprinkle, uma estrela pornô surgida nos anos de 1970, que também foi prostituta por opção e stripper por opção, depois virou diretora de filmes pornôs e documentários, apresentadora de TV a cabo, fotografa, editora de revista adulta, escritora e educadora sexual. Ou, como ela própria se apresenta no Annie Sprinkle Org(asm), seu site: “Sou uma artista, sexóloga ecosexual, escritora, palestrante, educadora e atriz dramática. Também já fui uma trabalhadora do sexo, uma diretora/performer pioneira do filme adulto e fotografa profissional. Sou a primeira estrela pornô a tirar um Ph.D., meu trabalho é estudado nas grandes universidades, mostrei-o nos melhores museus e galerias – E ainda estou firme e forte!”. E você, arauto da moralidade e dos bons costumes, já fez metade disto tudo? Sexo é saudável, sexo como pecado é apenas uma criação das mentes sujas dos religiosos.

Nascida em 23 de julho de 1954, na Philadelphia, Pennsylvania, com o nome verdadeiro de Ellen F. Steinberg, lá pelos 18 anos de idade trabalhava na bilheteria de um cinema que exibia o, hoje, clássico pornô “Deep Throat” quando o filme foi apreendido pela polícia e ela acabou conhecendo o diretor Gerard Damiano, de quem se tornou amante. Em 1975 apareceu no obscuro “Wild Pussycats” (não confundir com “The Wild Pussycats/Kafti Ekdikisis” (1968) de Dimis Dadiras) e na seqüência em “Satan Was a Lady” (1975) da diretora cult Doris Wishman, usando o pseudônimo de Anny Sands (com este pseudônimo Sprinkle ainda fez “My Master My Love” (1975) de Ralph Ell). Em 1981, com ajuda do grande mestre Joseph W. Sarno, co-dirigiu seu melhor filme, “Deep Inside Annie Sprinkle”, onde ela aparece gulosa atrás de homens e litros de porra, tornando “Deep Inside…” a segunda maior bilheteria do pornô americano daquele ano. Na indústria adulta Sprinkle aceitava inúmeras participações especiais, é comum vê-la em cenas de orgia em filmes de produção mais caras, como “Pandora’s Mirror” (1981) de Shaun Costello e estrelado por Veronica Hart. Em 1992, já de olho nos novos rumos de sua carreira, aceitou um papel em “War is Menstrual Envy” do sempre experimental Nick Zedd (parceria repetida em 1999 no curta “Ecstasy in Entropy” e no vídeo “Electra Elf: The Beginning Parts One & Two” de 2005).

Considerada a primeira pornstar com Ph.D., Sprinkle realiza trabalhos irreverentes de educação sexual e sexologia. Uma de suas peças de teatro, “Public Cervix Announcement”, era um convite ao público para celebrar o corpo feminino, onde ela exibia seu colo do útero e as pessoas ganhavam um espéculo e uma lanterna para explorar suas profundezas viscerais.

Seu trabalho sobre sexualidade tem uma inclinação política, espiritual e artística (ela é uma espécie de Otto Mühel, só que mulher e inteligente). Com sua esposa e colaboradora Beth Stephens criou seu “Love Art Laboratory”, que consistia em realizar um casamento experimental por ano, com tema e cores diferentes, assim, Annie e Beth, se casaram 15 vezes, com onze temas ecosexuais que variaram de “terra”, “céu”, “mar”, “lua”, “sol” até “montanhas apalaches”.

Sprinkle é uma defensora da prostituição como carreira profissional (além de atriz pornô, ela foi prostituta entre 1973 e 1993), com carteira de trabalho e direitos trabalhistas às profissionais do sexo. Sua palestra chamada “My Life and Work as a Feminist Porn Activist, Radical Sex Educator, and Ecosexual”, defende seus pontos de vista sobre a sexualidade humana, liberdade sexual e individual e instiga as mulheres à se tornarem independentes. Ela apresenta essa palestra em várias faculdades e universidades dos USA e Europa (fica a dica do Canibuk para que uma de nossas universidades traga Sprinkle ao Brasil). Junto destas palestras ela realiza a “Free Sidewalk Sex Clinics”, onde oferece educação sexual livre aos passantes nas calçadas, usando este espaço público para se falar livremente de sexo.

Segue uma combinação de entrevistas com Annie Sprinkle:

De que forma você considera o seu trabalho feminista?

Sprinkle: Eu acho que é feminista, porque eu falo sobre minha vida de vários jeitos de forma aberta e honesta. É também uma declaração feminista contra a juventude do mundo, orientando para desfrutar do sexo como uma mulher mais velha, mesmo quando ampliadas.

Como você vê as suas experiências no passado agora?

Sprinkle: Eu sinto que o que eu fiz foi uma parte importante de quem eu sou agora. Assumo total responsabilidade por todas as coisas estúpidas que eu fiz. Eu sempre sai vencedora. Nunca me sinto como uma vítima. E eu tenho tido muita sorte, eu me livrei de muitas situações ruins onde não pegar Aids foi um milagre. Mas eu sempre acho que eu aprendo alguma coisa com cada experiência ruim. Então, se você aprende, você ganha. Mas como eu disse, eu tive sorte. Nada realmente ruim aconteceu. Algumas mulheres são vítimas de crimes terríveis.

Quais são os aspectos importantes de seu trabalho?

Sprinkle: Para mim, meu trabalho é apenas sobre a verdade. O que está acontecendo na minha vida e com outras pessoas. O sexo não é sempre essa coisa ideal de fazer amor bonito. É muito complexo e as pessoas são estranhas. As pessoas têm todos os tipos de  fantasias estranhas e desejos incomuns. Meu programa exibe toda a variedade e diferentes aspectos. Sexo é tão diverso. Não há esse ideal. A maioria das pessoas tem uma natureza animal, eles têm todo o tipo de fantasias, até mesmo politicamente incorretas e fantasias onde estão fazendo um monte de coisas estranhas. Isso é normal. As pessoas pensam em casar, ter filhos e viver felizes para sempre, mas às vezes há complicações, as vezes não temos sexo ou fazer sexo se torna mais difícil ou desconfortável. As pessoas passam todos os tipos de coisas, mesmo em um bom relacionamento. É a mesma coisa com o sexo, é mais complicado.

Como você trabalha? Há intercâmbio com outras mulheres e feministas?

Sprinkle: Quando eu venho a um teatro, eu converso com as pessoas. Principalmente as mulheres querem falar. Quando eu estou fazendo um show que eu gosto de ter alguma troca cultural.

Que tipo de pessoas vê seu show?

Sprinkle: O público é muito variado e diversificado. Existem tantos tipos diferentes de pessoas. Ele não atrai a equipa de futebol, esses vão para o clube de strip. Agora eu estou na capa de uma revista semanal (nota: uma revista popular nos EUA). E as pessoas diziam: Ooh, nós nunca tivemos na capa da revista semanal “. Eu digo: “Bem, você tem que mostrar suas tetas “. Eu sou completamente ciente disto – como falamos na conferência de imprensa sobre pornografia e arte.  Isso é mais interessante para muita gente.

 Quando foi o momento em sua vida quando você queria fazer outra coisa? Por que você quer trabalhar no campo da arte?

Sprinkle: Eu já passei por diferentes fases. Eu certamente estou farta da pornografia mainstream. E agora eu estou loucamente apaixonada escrevendo um livro e gostaria de ficar em casa no meu ninho de viagens. Às vezes eu gostaria de ganhar mais dinheiro e acho que talvez eu deveria ser mais comercial. Tentar seguir com a corrente na maior parte das vezes. Mas tudo está mudando, o tempo todo. As pessoas têm noções pré-concebidas ou idéias, há muito preconceito em relação às mulheres que são prostitutas ou na pornografia. É por isso que é interessante trazer isso para o mundo da arte, porque as pessoas no mundo da arte tem uma mente mais aberta. Você pode sugerir coisas e, em seguida, eles têm a inteligência para colocá-las em contexto. O mundo da arte é um lugar muito bom para explorar a sexualidade. Mas tem o risco de arruinar a sua carreira como artista – se tiver relações sexuais na sua arte. Embora tenha havido artistas que foram muito bem sucedidos e que têm relações sexuais em seu trabalho como Jeff Koons.

Você também fez um filme chamado “Linda/Les and Annie: The First Female-to-Male Transsexual Love Story“. Como é sua relação com as pessoas transexuais e do movimento gay?

Sprinkle: Eu amo as pessoas transexuais. Eu acho que elas são realmente especiais e mágicas e uma parte imortante da nossa cultura. Há muito preconceito contra eles, mas eu os adoro. Eu tive  amante fêmea-macho, amante macho-fêmea, amantes andróginos… Em São Francisco há tantas pessoas de todos os gêneros. Se você não é gay, você é estranho. Eu encorajo as pessoas a serem quem são e para serem abertos com seus amigos e familiares se puderem. É um bom momento para ser um transexual, melhor do que nunca. Mas eu gostaria mais se pessoas transgêneros não fizessem a cirurgia. Um monte de pessoas intersexo estão nascendo. Se possível, não deveriam fazer a cirurgia e aprender a se amar do jeito que são. Isso seria ótimo. Tanto faz o que são – é perfeito. Alguns deles têm que fazer uma cirurgia, não podem sustentar seus corpos. Um monte de fêmeas-machos não fizeram a cirurgia, porque é tão ruim. Eu acho que você pode ser um homem com uma buceta e uma mulher com um pênis – ou o que você quiser ser.

No seu trabalho você se concentra sobre a sexualidade das mulheres. O que você pensa sobre o seu trabalho ter sido acusado de reduzir as mulheres apenas a sexo?

Sprinkle: Os que se sentam no meu show não diriam isso. Não se trata só de  sexo. A mostra ilustra a complexidade e os diferentes aspectos do sexo. Acabei de contar a minha história. Minha vida tem sido toda sobre sexo na maioria das vezes. Se eu estou reduzindo-a a sexo isto é bom. Não tenho nenhum problema com a objetificação da mulher, se é bem intencionado. Se alguém está assistindo a uma stripper e apenas vê-la como um ser sexual, tudo bem. Porque eu vejo ser sexual como uma deusa! Para mim é uma sacerdotisa – uma boa stripper. Mas eu não quero estar andando na rua e algum cara dizer: ‘peitos bonitos ‘. Eu vou querer bater-lhe. Mas se for bem intencionado e apreciado ver uma mulher como um ser sexual, está tudo bem. Mas se ele é feito de uma forma que é detestável ou abusivo, então não está tudo bem. Nina Hartley (nota: Sex Performer) diz que o problema não é objetificação, mas que alguns homens precisam aprender boas maneiras.

Que recomendações você daria para as meninas e mulheres se fortalecerem?

Sprinkle: Eu encorajo as mulheres jovens a aprender o máximo que puderem sobre a sexualidade. Não tenha medo de cometer erros. As pessoas pensam que o sexo deve ser sempre esta grande coisa maravilhosa – e não é. Às vezes você tem experiências ruins – aprenda com elas. A maioria de nós tem que ter um monte de experiências diferentes para aprender. Ame-se acima de tudo. Pense em você como o seu próprio e melhor amante.

O que você gostaria de dizer para as mulheres que lidam com seus corpos?

Sprinkle: Conheça o seu corpo. Aprenda sua anatomia. Olhe para sua buceta, se você já não estiver olhando. Aprenda a amá-la e apreciá-la. Se você tem vergonha – acabe com ela. Tenha orgulho: pussypride. E masturbação é realmente importante!



Como você acha que a internet mudará a nossa vida sexual?

Sprinkle: Você pode realmente ver a diversidade sexual. Há tantos fetiches, informações e sites de arte. Há um bom livro e também um site que é o  www.deviantdesires.com, sobre todos os fetiches pesquisados por Katherine Gates. Existem todos os tipos de fetiches engraçados e interessantes, como pie-in-the-face ou pony girl. É incrível.

Na sua opinião, quais são as diferenças de pornografia feitos para/por mulheres comparando as feitas para/por homens?

Sprinkle: Durante muito tempo houve apenas um tipo de pornografia, mas agora existem diferentes ramos. Um monte de estudantes nas universidades agora estão explorando pornô em seu trabalho. É uma grande parte da cultura. Algumas mulheres fazem pornô para mulheres e casais e algumas mulheres fazem muito pornô misógino. Há alguns fazendo alguma coisa realmente boa como Candida Royalle,  SIR Vídeo – fazem pornôs  realmente bons em San Francisco. Há também Tristan Taormino, Joseph Kramer – uma educadora sexual gay, Carol Queen, Fatale Vídeo e Good Vibrations. Há tantas oportunidades para fazer algo diferente. Faça o seu próprio pornô!

Algumas pessoas culpam os males da cultura sobre a repressão do sexo. Se as pessoas realmente estavessem fazendo sexo e amando um ao outro, seríamos todos mais felizes.

Sprinkle: Se as pessoas tivessem mais orgasmos e soubessem como construir mais intensidade e energia sexual. Um monte de pessoas têm relações sexuais, mas isso realmente não significa muito. Eles não estão utilizando todo o seu potencial.
Como você ficou tão sexo-positiva em nossa cultura o sexo-negativa?
Sprinkle: Bem, a partir da experiência pessoal. Meus momentos eróticos, sensuais, sexuais e amorosos com um amante são os momentos mais felizes, bonitos, espirituais, resturadores que eu experimento na minha vida. Além disso, quando eu comecei a me prostituir não era tudo como se fosse um filme onde protitutas ou são assassinadas violentamente ou são salvas por um multimilionário onde você não vê a prostituta feliz, a mulher com poder fazendo um grande trabalho.

O que você quer dizer com “sacred slutism”?

Sprinkle: O segredo do sacred slutism (risos) é estar consciente do nosso lado sacana, o nosso lado animal, alimentando esse nosso lado, a mulher selvagem, a prostituta interna em todos nós.
A “prostituta interna” inclui homens e mulheres, presumo?
Sprinkle: Sim.

Quem são suas associações profissionais nestes dias? Todas as influências atuais?

Sprinkle: Meu guru principal é Linda Montano, que é uma artista performática. Ela tem sido minha professora durante sete anos. Mas minhas duas maiores influências agora são as minhas duas namoradas. Uma delas se chama Dancer Vision, de Mill Valley. Ela é muito tântrica e muito um curandeira. Ela faz massagem erótica e nós ensinamos juntas. Ela é muito maravilhosa. Na costa leste, eu tenho minha namorada Mary Dorman, que é advogada. Ela é uma amazona, uma lutadora, muito lésbica amazona feminista. Ela é ótima! Muito inspiradora. E eu estou aprendendo mais sobre o amor e intimidade. Tenho estado com as duas sexualmente por oito meses, e eu pretendo continuar nessa linha. Eu gosto de ser, no momento, muito mais exclusiva. Embora isso seja apenas fisicamente sexual; eu acho que você pode ter um momento sexual num dia com tudo e todos, e, certamente, em minhas apresentações eu tenho muitas experiências sexuais com meu público.
Você obteve algumas críticas da ala direita. Como você responde?
Sprinkle: Eu acho que eles tem realmente muito medo, eles estão com medo, e eles não entendem um monte de coisas sobre sua própria sexualidade e sobre a sexualidade das outras pessoas. Eu sinto um pouco de compaixão para com eles. Por mais que eu tente, eu não os odeio.
Fontes:  fibring.net, trechos de uma entrevista concedida em 2004.
Tradução de Leyla Buk.

Segue uma lista de filmes de filmes com Annie Sprinkle e algumas informações sobre essas produções:

Satan Was a Lady (1975) de Doris Wishman. Aqui com Sprinkle usando o nome Anny Sands. Uma dominatrix ganha uma grande soma de dinheiro de um cliente rico e passa boa parte de seu tempo com o namorado num clube de strip praticando sexo. Tudo isso com o padrão de qualidade Doris Wishman, freqüentemente chamada de “Ed Wood de Saias”. Os filmes de Wishman são únicos, seus grandes clássicos são os filmes “Deadly Weapons” (1973) e “Double Agent 73” (1974), ambos estrelados por Chesty Morgan; o semi-documentário “Let Me Die a Woman” (1978), sobre troca de sexo com uma operação explícita em closes bem sangrentos e “Bad Girls Go To Hell” (1965), um sexploitation proto-feminista. Doris Wishman começou a fazer cinema da forma mais inusitada possível: Após a morte de seu marido queria fazer algo para passar o tempo (e se possível ganhar algum dinheiro), pegou 10 mil dólares emprestados de sua irmã e realizou o nudie movie “Hideout in the Sun” (1960), seguido do hilário “Nude on the Moon” (1961, usando o pseudônimo de Anthony Brooks), sobre astronautas que vão prá Lua e descobrem que lá todos se divertem pelados. Neste período dos nudie movies fez ainda mais 6 filmes, incluindo “Blaze Starr Goes Nudist” (1962), estrelado pela lendária stripper e dançarina Blaze Starr. Com “The Amazing Transplant” (1970), ela começou a incorporar elementos do softcore em suas produções, misturando sexo ao cinema de gênero como policial e comédia. Para os fãs de horror recomendo uma assistida em “A Night to Dismember” (1983). Nos anos de 1990 os trashmaníacos (entre os quais me incluo) começaram a cultuá-la. Em 2001 ela refilmou “Satan Was a Lady” sem o sexo hardcore. Com Sprinkle ela ainda filmou “Come With me My Love” (1976), que tecnicamente é pavoroso. Doris faleceu dia 10 de agosto de 2002 deixando um legado de 30 filmes.

Blow Some My Way (1975) de Joe Davian. É um daqueles pornôs com edição bagunçada típico dos anos 70, um dos primeiros onde Ellen Steinberg usa o nome Annie Sprinkle, que aparece em algumas cenas fazendo deliciosos boquetes e transando em imagens mal filmadas. Aqui ela é uma modelo tentando vaga num comercial para famosa marca de cigarro que tem executivos tarados por sexo. É o primeiro filme do diretor Joe Davian, é um pornô ruim mas que merece ser visto pela Annie (talvez cópias melhores destes filmes melhorasse as produções também).

“French Shampoo” (1975) de Bill Milling. É uma paródia sexual ao lucrativo “Shampoo” (1975) de Hal Ashby, estrelado por Warren Beatty. Um magnata árabe trás sua esposa para um salão de tratamento em putarias ocidentais. Enquanto a esposa é preparada, o sheik e seu guarda-costas são servidos com sexo gostoso pelas putas taradas do estabelecimento. Annie Sprinkle é a pequena Mary que passa, literalmente, no teste de sofá para fazer parte do cast de putas de tão especial puteiro internacional. O diretor fez inúmeros pornôs usando o pseudônimo Dexter Eagle (além de Philip T. Drexler Jr., Craig Ashwood e outros nomes).

“Teenage Deviate” (1976) de Ralph Ell. Sprinkle faz uma adolescente chamada Ella que é introduzida no gostoso mundo do sexo. Ela participa de quase todas as cenas, de lesbianismo à orgias, passando por sexo com três gordos barbudos sebosos típicos dos pornôs dos anos 70. São pessoas reais transando com animação, físicos comuns bem diferentes dos atores/atrizes com padrão de plástico (chamo-os de “prástico girls”) da indústria pornográfica atual que tanto me broxa. O diretor Ralph Ell fez sete pornôs entre 1975 e 1976 (seis deles com Annie Sprinkle no elenco) e depois sumiu.

The Night of Submission (1976) de Joe Davian. Como uma Emmanuelle do sexo explícito, Sprinkle investiga os clubes de sadomasoquismo de New York e participa de ótimas cenas de sexo sujo, suado e melequento. Neste filme há uma ótima cena de sexo onde três homens ejaculam, um após o outro, na vagina de uma escrava sexual e depois tiram a porra com um copo. Visualmente escuro e agressivo, este filme tem um climão de perversão lindo (pena que Joe Davian nunca aprendeu como montar as cenas que filmava). Vanessa Del Rio faz parte do elenco.

Bang Bang You Got It! (1976) de Chuck Vincent. Essa comédia hardcore é hilária, criativa e muito bem filmada. São vários sketches envolvendo situações sexuais. O filme todo é uma boa paródia com o universo da TV, seus comerciais, programas de auditório e até re-inventa contos de fadas (aqui o lobo mau transa com uma peituda chapeuzinho vermelho interpretada pela gostosa C.J. Laing, que antes de virar atriz de filmes adultos havia sido groupie da banda The Grateful Dead). Chuck Vincent debocha de tudo e Annie aparece em uma rápida cena cômica fazendo boquete em um cara. Vincent fez mais de 50 pornôs, todos com grande qualidade técnica.

Unwilling Lovers (1977) de Zebedy Colt. Gosto muito do clima doentio deste filme. Rapaz perturbado pela mãe gosta de espionar seus vizinhos fazendo sexo, até o dia em que mata acidentalmente um casal e descobre as delícias da necrofília. Annie aparece no papel de uma prostituta que sofre violência física e depois é estuprada pelo degenerado. Zebedy Colt era um músico que virou ator pornô (atuou nos clássicos “The Story of Joanna” (1975) de Gerard Damiano e “Sex Wish” (1976) de Victor Milt) e depois dirigiu 8 filmes adultos, entre eles “Terri’s Revenge!” (1975), “The Farmer’s Daughters” (1976) e “The Devil Inside Her” (1977), também estrelado por Annie Sprinkle e que recomendo. Curiosidade: Em 1938, ainda criança, Zebedy aparece em cena no filme “The Adventures of Robin Hood” de Michael Curtiz e William Keighley e, anos depois, no clássico católico “The Ten Commandments” (1956) de Cecil B. DeMille, no papel de escravo.

“Cherry Hustlers” (1977) de Ron Dorfman. Outro daqueles pornôs classe “Z”, confusos e mal editados, em que Annie se metia. Este filme tenta mostrar como funcionava o tráfico de escravas brancas, há pelo menos duas boas cenas de estupro num clube onde escravos sexuais são vendidos à ricaços. Parece dois filmes montados num único, inclusive Annie aparece numa transa bem sem graça. Ron Dorfman é conhecido pelo pseudônimo de Arthur Bem e dirigiu inúmeros pornôs e fez a fotografia do clássico trash delirante “The Incredible Torture Show“ (1976) de Joel M. Reed, que é mais conhecido por seu título alternativo “Bloodsucking Freaks” (também trabalhou na direção de fotografia de “Night of the Zombies” (1981), outra maluquice de Reed).

“Jack and Jill” (1979) de Chuck Vincent. Outra ótima produção de Vincent com sexo bem feito e filmado. Aqui Jack e sua parceira Jill estão completando um ano de casados e resolvem apimentar seu casamento com uma série de encontros sexuais, com telefonemas obscenos, troca de casais, Jill ganhando um escravo sexual (o sempre bizarro George Payne) e Jack sendo raptado por duas mulheres taradas (uma delas Annie Sprinkle). Jill é interpretada por Samantha Fox e Vanessa Del Rio também aparece no elenco. Não confundir este filme com “Jack and Jill” (2011) com o xarope Adam Sandler.

The Satisfiers of Alpha Blue (1980) de Gerard Damiano. Outro clássico elaborado pelo mestre Damiano e repleto de atores que fizeram a fama da indústria adulta americana (no elenco, além de Annie, temos Richard Bolla – que anos mais tarde fez ponta em “Night of the Creeps” (1986) de Fred Dekker -, Herschel Savage, Sharon Mitchell, Tiffany Clark e George Payne). Numa sociedade futurística várias pessoas vão para um resort espacial em busca de satisfação sexual. Damiano dispensa apresentações, é o diretor que tirou os filmes pornôs das salas fuleiras e os levou para os cinemas comuns com seu clássico “Deep Throat” (1972). Realizou vários outros clássicos do cinema adulto, como “The Devil in Miss Jones” (1973), “The Story of Joanna” (1975), “Let my Puppets Come” (1976), estrelado por fantoches e marionetes numa deitação em cima dos Muppets, “Consenting Adults” (1982), escrito e estrelado por Annie Sprinkle em grande forma e “Throat: 12 Years After” (1984), continuação de seu grande clássico, desta vez estrelado por Sharon Mitchell, Joanna Storm e Annie Sprinkle.

Bizarre Styles (1981) de Carter Stevens. Vanessa Del Rio e Annie Sprinkle fazem parte de um grupo de mulheres taradas que se divertem humilhando homens com abuso verbal, chicotadas, torturas e golden shower. Carter Stevens, que também assinou alguns filmes com o nome Steven Mitchell (chegando a atuar em alguns com este nome), se interessou por fotografia nos anos 50. Nos anos 70 partiu para a produção de filmes de sexo explícito, alguns deles ótimas comédias hardcore como “Rollerbabies” (1976) com Terri Hall, “Punk Rock” (1977), que apesar do título é um filme adulto estrelado pelo impagável Richard Bolla e “Jail Bait” (1977), com Sharon Mitchell. Nos anos de 1980, além da produção de pornôs sadomasoquistas, Carter iniciou uma bem sucedida carreira como editor da revista “The S&M News”.

Pandora’s Mirror (1981) de Shaun Costello. Com um elenco de primeira este clássico da putaria conta a história de uma mulher (Veronica Hart) que entra numa loja de antiguidades e se sente atraída por um espelho amaldiçoado que tem o poder de lhe mostrar escapadas sexuais das pessoas que o possuíram ao longo da história humana. Com uma produção requintada e bem cuidada, “Pandora’s Mirror” já chama atenção por seu elenco que incluí, além de Hart e Sprinkle (que aqui aparece caracterizada como a rainha SM de um clube underground), Jamie Gillis, George Payne, Jerry “pau de manteiga” Butler, Tiffany Clark, Ron Jeremy, o grupo Patrons of Hellfire Club e o próprio diretor Costello, que começou sua carreira fazendo loops em 8mm e 16mm para a dupla Bob Wolf e Ted Snyder. Usando o pseudônimo de Helmut Richler, Costello filmou seu primeiro e explosivo pornô, “Forced Entry” (1973), que contava a história de um perturbado veterano do Vietnã estuprador de mulheres. Diz a lenda que Costello adorava fazer os filmes, mas não gostava de ver seu nome associado aos filmes, o que explica a quantidade absurda de produções onde ele não foi creditado ou que usou um de seus vários pseudônimos (Neil Almebor, Nicholas Berland, Russell Carlson, Jerri Conti, Alan de Fledermaus, Arthur Dietrich, Warren Evans, Jack Hammer, Josepi Masolini, Waldo Popper, Kenneth Schwartz, Stephen Steinberg, John Stover e Oscar Tripe são apenas alguns dos nomes por ele usados). Se você é um pornófilo que se preza, já terá visto pelo menos uma dúzia de ótimos filmes de Shaun Costello sem saber, como “The Summer of Suzanne” (1976), “Water Power” (1977), que ele lançou usando de pseudônimo o nome Gerard Damiano para ter lucro certo (mais picareta impossível), “Slave of Pleasure” (1978), “Fiona on Fire” (1978), “More Than Sisters” (1979), “Dracula Exotica” (1980), “Beauty” (1981), “Prisoner of Pleasure” (1981) ou “Heaven’s Touch” (1984), são todos filmes seus. Como curiosidade aos horrormaníacos, o divertido “Popcorn” (1991) de Mark Herrier, co-dirigido pelo veterano Alan Ormsby, é uma produção de Shaun Costello usando seu pseudônimo Warren Evans.

Deep Inside Annie Sprinkle (1981) de Annie Sprinkle e Joseph W. Sarno. Este é o meu filme preferido de Annie, que aqui nos conta sua história tarada fake e aparece com um apetite por sexo alucinado tesudo. Adoro a cena onde ela chupa vários fãs dentro de um cinema pornô, realizando um lindo número metalingüístico. No elenco também temos Ron Jeremy. O co-diretor deste filmaço foi Joseph Sarno, um dos pioneiros do sexploitation. Seu primeiro filme foi “Nude in Charcoal” (1961) e de lá prá cárealizou mais de 120 filmes, com destaque para “Sin in the Suburbs” (1964), “Young Playthings” (1972), estrelado pela belíssima Christina Lindberg e abraçou de vez o sexo explícito com “Sleepy Head” (1973) e não parou mais. Seus outros grandes filmes são “Deep Throat II” (1974), ainda com Linda Lovelace e Harry Reems no elenco e “Misty” (1976). Ele produziu filmes nos USA e em vários países da Europa, geralmente usando o nome Joe Sarno.

por Petter Baiestorf.
Assista também o documentário “NY 77 Coolest Year in Hell”, onde Annie Sprinkle aparece falando sobre a New York dos anos 70.
E para saber mais sobre Annie Sprinkle clique em “Herstory Of  Porn: Reel to Real“.

Os Discos Voadores Atacam

Posted in Cinema, Fotonovela, Museu Coffin Souza with tags , , , , , , , , , , , , on abril 23, 2012 by canibuk

Em Maio de 1963 a editora Editormex Internacional Ltda (copyright da Editora Ediex) lançou a “Cosmos Aventuras” número 3 que trazia a fotonovela de “Earth Vs. The Flying Saucers” (com título nacional intitulado “Os Discos Voadores Atacam”). Fiz Scanner deste material e compartilho aqui com os leitores do Canibuk. Divirtam-se!

Earth Vs. The Flying Saucers

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , on abril 22, 2012 by canibuk

“Earth Vs. The Flying Saucers” (“A Invasão dos Discos Voadores”, 1956, 84 min.) de Fred F. Sears. Efeitos especiais de Ray Harryhausen. Com: Hugh Marlowe e Joan Taylor.

Cientista que trabalha no projeto Skyhook (produtores perdem a chance de fazer uma paródia com trocadilho infame, “Skyhookers” ficaria, literalmente, foda!), do programa espacial norte-americano que envia foguetes ao espaço, começa a investigar o porque dos satélites terráqueos deixarem de funcionar. Suas suspeitas de que aliens estão sabotando os satélites se concretizam quando ele mesmo presencia o aparecimento de um disco voador. No dia seguinte outro disco voador pousa no pátio de seu laboratório e um general é seqüestrado. As armas terráqueas não conseguem penetrar o campo de força que cerca a nave alienígena. Com o general em seu poder, os aliens extraem conhecimentos do cérebro dele e dão um ultimato ao Planeta Terra: “Lealdade ou morte!”, já que os seres do espaço pensam que os satélites e foguetes humanos são armas. Como os discos voadores são invulneráveis às armas convencionais, o cientista desenvolve uma arma ultra-sônica, logo transformada numa arma anti-magnética que consegue parar a terrível invasão dos discos voadores.

Com este “Earth Vs. The Flying Saucers”, Ray Harryhausen criou o design dos discos voadores que entraram para o inconsciente coletivo da humanidade, que foi incansavelmente copiado e homenageado em filmes como “Mars Attack!/Marte Ataca!” (1996) de Tim Burton. Para chegar a concepção dos discos voadores apresentados no filme, Harryhausen contou com o apoio de George Adamski (que se auto-denominava filósofo, professor, pesquisador e estudante de discos voadores, que em 1949 havia lançado o livro “Pioneers of Space: A Trip to the Moon, Mars and Venus”), baseados na descrição de pessoas que haviam avistado objetos voadores não identificados. Harryhausen contava que era hilário trabalhar com Adamski, um lunático paranóico completo que via conspirações por todos os lados.

Ray Harryhausen foi o grande mestre da sci-fi/fantasy americana dos anos de 1950, 1960 e 1970, tendo trabalhado num punhado de clássicos como “It Came From Beneath The Sea/O Monstro do Mar Revolto” (1955, disponível em DVD no Brasil), “20 Million Miles to Earth/A 20 Milhões de Milhas da Terra” (1957, disponível em DVD no Brasil, veja também a fotonovela do filme, “A Milhões de Quilômetros da Terra“), “The 7th Voyage of Sinbad” (1958), “Jason and the Argonautas” (1963) e “Clash of the Titans/Fúria de Titãs” (1981, disponível em DVD no Brasil). Depois de ter assistido “King Kong” (1933, disponível em DVD no Brasil) e se encantar com os efeitos do pioneiro em stop motion Willis O’Brien, Harryhausen começou a fazer seus filmes caseiros e, quando criticado por seu mestre O’Brien, começou a ter aulas de escultura para aprimorar suas habilidades. Mais ou menos por essa época ficou amigo do escritor Ray Bradbury e, juntos de Forrest J. Ackerman (que dispensa apresentações), formavam um clube de ficção cientifica em Los Angeles. O grande sonho de Harryhausen era filmar “The War of the Worlds” (livro do escritor HG Wells), chegou até a filmar uma cena teste com um polvo marciano (como descrito no livro) saindo dos cilindros marcianos, mas desistiu da idéia quando George Pal lançou sua versão. Quando Harryhausen conheceu o produtor Charles H. Schneer finalmente teve a chance de realizar seu filme de invasão alienígena, “Earth Vs. The Flying Saucers”, que se tornou um grande clássico do gênero. Nos anos de 1960 Harryhausen realizou inúmeros trabalhos que foram sucesso de público e elevaram sua técnica de efeitos de stop motion à novos níveis com filmaços como “The Three Worlds of Gulliver” (1960), “Mysterious Island” (1961) e o clássico insuperável “Jason and the Argonauts” (1963), onde Ray animou vários esqueletos que lutam com três atores.

O diretor Frederick Francis Sears se juntou ao produtor Sam Katzman (produtor veterano que já nos anos de 1930 realizou inúmeros westerns e trabalhou na Monogram Pictures antes de migrar para a Columbia Pictures), começou a trabalhar feito louco (entre 1953 e 1957 dirigiu 29 longas), tendo dirigido vários clássicos como “The Miami Story” (1954), “Cell 2455 Death Row” (1955), “The Werewolf” (1956), “Rock Around the Clock” (1956, com Bill Haley and his Comets, The Platters e Freddie Bell and the Bellboys) e “Escape from San Quentin” (1957). Sears também foi ator em mais de 70 produções. Era pau prá toda obra.

“Earth Vs. The Flying Saucers” foi lançado no Brasil em DVD duplo pela distribuidora Sony Pictures, com vários extras, incluíndo um documentário que mostra todos os segredos de produção deste magnífico clássico. E, para deleite de todos os leitores do Canibuk, amanhã estaremos publicando a fotonela de “Earth Vs. The Flying Saucers” intitulada “Os Discos Voadores Atacam” (publicada no Brasil na “Cosmos Aventuras” número 3 de 1963).

por Petter Baiestorf.

Veja “Earth Vs. The Flying Saucers” completo aqui:

O Mingau da Vovó

Posted in Animações, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , on abril 20, 2012 by canibuk

“O Mingau da Vovó” (1999, menos de 2 min.) de Luciano Irrthum.

Não posso falar muito da sinópse deste curta para não estragar o prazer que é assistí-lo, mas posso dizer que o curta mostra um neto presenteando sua amada vovó com todo o amor caliente que as vovós merecem. Ou, também, o curtinha pode ser o “passo à passo” de como fazer o delicioso mingau que as vovós tanto adoram.

Para ler o resto da postagem, assista antes o curta:

“O Mingau da Vovó” foi realizado pelo desenhista mineiro Luciano Irrthum (que nos anos de 1990 foi um dos principais colaboradores no fanzine “Arghhh” que eu editava). Luciano estava numa vernissage bebendo vinho gratís adoidado com seu amigo Zé Armando, que lhe disse estar com uma idéia para um vídeo (que era somente um cara batendo punheta, nos moldes de “Deus – O Matador de Sementinhas“). Como por essa época Irrthum estava fazendo vários bonecos de stop motion para ilustrar um livro infantil, resolveu fazer um vídeo com essa técnica, partindo da idéia de Zé Armando.

Se armando de uma câmera de vídeo VHS, um tripé e sem roteiro, a história foi surgindo enquanto filmavam, como nos confidência Irrthum: “A vovó nem ia entrar no curta, mas eu tinha a boneca sobrando e resolvi usar também!”. Para fazer o gozo, Luciano usou shampoo e, com uma seringa ligada ao membro do querido netinho por uma mangueira de aquário, conseguiu um efeito jorrante de primeira. Para as filmagens Irrthum contou com a preciosa ajuda de Sílvia Amélia ajudando-o à construir os cenários, para a música/som, Luciano diz: “Um amigo meu toca cavaquinho, tomamos algumas cervejas e ele foi tocando Jimi Hendrix no cavaquinho e eu filmando este som, depois na edição o Leo Rocha arrumou tudo!”. Mais experimental, impossível.

Filmado em apenas uma tarde, “O Mingau da Vovó” chegou até a ser exibido na MTV por João Gordo. Também foi exibido no MUndo Mix, no Miami Gay Festival e em vários outros festivais nacionais. Em VHS foi colocado como bônus de luxo em alguns lançamentos da Canibal Filmes e em DVD está disponível como extra no “Mamilos em Chamas” de Gurcius Gewdner. Sobre a exibição na MTV, Irrthum nos conta: “Mandei pro João Gordo que exibiu na íntegra naquele programa dele que sempre passava algumas animações. No dia quem estava com ele no programa era o Edson Cordeiro, que fez uma cara de espanto muito engraçada ao final do curta, com João Gordo rolando de rir ao lado; gostei!”.

Atualmente Luciano Irrthum está preparando algumas animações gore em stop motion e assim que estiverem pronta falarei delas aqui no Canibuk.

Por Petter Baiestorf.

Reefer Madness – A Erva Maldita do Demônio te Espreita

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , on abril 18, 2012 by canibuk

“Reefer Madness” (“A Erva Maldita”, 1936, 65 min.) de Louis J. Gasnier. Com: Dorothy Short, Dave O’Brien, Thelma White e Kenneth Craig.

É engraçado constatar que, para algumas milhares de pessoas, a Maconha ainda assusta tanto quanto na década de 1930 quando este filme foi produzido por um grupo de igreja.

A história de “Reefer Madness” é hilária, fala sobre um casal que vende maconha para a juventude e com isso corrompe os jovens que não mais seguem os ensinamentos cristãos. Segundo os produtores desta pérola, fumar um baseadinho vai te tornar um viciado tarado pervertido alucinado sem moral alguma. Você vai se tornar um assassino em potencial, um verdadeiro pedaço de lixo humano insano sedento por realizar delitos para garantir seu baseadinho de todo dia. “Um rapaz de 16 anos mata a família com um machado. Uma garota de 17 anos se deixa seduzir por cinco homens mais velhos ao mesmo tempo. Tudo isso por causa do uso de narcóticos. Pensou numa crise de abstinência de crack, abuso de LSD ou overdose de ecstasy? ERROU! É tudo culpa da maconha!” – nos alerta a capa deste filme.

“Tell Your Children” (que também foi relançado com outros títulos, como “Dope Addict”, “Doped Youth”, “Love Madness” e “The Burning Question”) foi financiado por um grupo de igrejas e era destinado aos pais da américa como um conto moral para alertá-los dos riscos que a terrível Marihuana representava aos seus inocentes filhos, mas logo depois de pronto, “Tell Your Children” foi comprado pelo notório cineasta picareta Dwain Esper que remontou o filme, adicionou cenas mais picantes e mudou o título para “Reefer Madness”, mais escândaloso e comercial. Dwain Esper nasceu em 1892 e foi diretor/produtor de filmes exploitations como “Narcotic” (1933), “Modern Motherhood” (1934), “Marihuana” (1936), “How to Undress in Front of Your Husband” (“Como se Despir na Frente de seu Marido”, 1937), “How to Take a Bath” (1937) e “Will it Happen Again?” (1948, relançado anos depois com o curioso título de “The Strange Love Life of Adolf Hitler”). Esper morreu em 1982.

Em 1971 “Reefer Madness” foi redescoberto por Keith Stroup (um advogado que foi o fundador da National Organization for the Reform of Marijuana Laws) que comprou uma cópia do filme por 297 dólares e o relançou em campus universitários repletos de estudantes hippies fumadores de maconha que rolavam de rir com os valores morais do filme. Hoje em dia “Reefer Madness” é um filme cult, está em domínio público e foi relançado em uma versão colorizada por computador pela Legend Films onde a fumaça da maconha é colorida, dando-lhe um visual kitsch único. Foi lançado no Brasil em DVD pela distribuidora Flashstar.

Em 1998 um musical off-Broadway baseado no “Reefer Madness” original lotou o teatro Hudson em Los Angeles durante anos. Foi o suficiente para que o filme “Reefer Madness : The Movie Musical” (“A Loucura de Mary Juana”, 2005, 108 min.), de Andy Fickman, fosse aprovado e filmado.  A história parte do mesmo ponto que o filme de 1936, só que aqui tudo é embalado com ótimas músicas, tom debochado e um senso de humor negro apurradíssimo. Depois de fumar maconha o estudioso menino inocente desta versão se torna um demente tarado que abandona os estudos, perverte sua virginal namorada loirinha tipicamente branquela e alienada, atropela um homem sob os efeitos da maconha e tem divertidos delírios envolvendo zumbis fumadores de maconha. Nosso herói chega até a receber conselhos de um Jesus Cristão bombadão na mais infame canção do filme e quando, está prestes a ser fritado na cadeira elétrica, se arrepende de sua vida no vício e ganha o perdão presidencial ao ser salvo pelo trio América, representados aqui por Tio Sam, George Washington e a estátua da Liberdade. Tão bom quanto o filme original. Foi lançado em DVD no Brasil pela distribuidora Imagem Filmes.

por Petter Baiestorf.

Fragmentos do Nobre Deputado Fraude Tomando no Orifício Pomposo

Posted in Nossa Arte, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on abril 17, 2012 by canibuk

Nesta semana Gurcius Gewdner está disponibilizando em sites como Vimeo e Youtube alguns curtas que fiz tempos atrás e que nunca foram lançados em DVD. Segue link para mais quatro curtinhas bagaceiros. Para Assistir “Deus – O Matador de Sementinhas” (1997) e “Poesia Visceral” (2004), clique aqui.

“Fragmentos de uma Vida” (2002, 7 min.) de Petter Baiestorf. Com: Juliana, PC e Loures Jahnke.

Em 2001, logo após o lançamento do longa-metragem “Raiva”, comecei as filmagens de outro longa chamado “Mantenha-se Demente”, uma homenagem ao cinema gore exagerado japonês que naquela época eu assistia aos montes em fitas VHS piratas sem legendas em nenhuma língua ocidental. Como o “Raiva” não deu lucro financeiro nenhum, tive que abortar as filmagens do “Mantenha-se Demente” (bem mais caras e complicadas), mesmo já tendo filmado algumas seqüências. Depois de um ano resolvi rever as cenas que havíamos filmado e percebi que tinha um curta nas mãos. Não gosto de filmar e não aproveitar o material. Mudando o título para “Fragmentos de uma Vida”, montei as cenas para ser uma reflexão sobre a brutalidade do machismo na sociedade brasileira (sem deixar de lado minhas críticas religiosas, desta vez centradas na figura de um satanista, que para mim é tão ignorante quanto um católico, um evangélico, um espírita, um cabalista, macumbeiro, budista, muçulmano e o que mais os medos humanos criarem para servir de muletas). Não filmo o sobrenatural porque o que não existe não me interessa (salvo zumbis e alienígenas que aí é pura diversão), meu interesse está voltado aos assuntos possíveis, como a imbecilidade do homem, seu fanatismo religioso, sua brutalidade que ganha força com sua ignorância; uma horda de torcedores fanáticos vindo em minha direção me assusta, fanáticos religiosos segurando um facão me assustam (o mundo está cheio de exemplos de massacres religiosos), a mente humana me assusta muito mais que vampirinhos ou fantasminhas de filme de horror americano que o cinema brasileiro está começando a pegar gosto em copiar. A trilha sonora do curta trás músicas das bandas Ornitorrincos e Intestinal Disgorge.

“Frade Fraude Vs. O Olho da Razão” (2003, 13 min.) de Petter Baiestorf. Com: Coffin Souza e Petter Baiestorf.

Este é outro curta que só filmamos por culpa do tédio (se você não gosta de filmes sem um mínimo de produção nem assista). Estávamos, Coffin Souza e eu, sem nada para fazer num domingo e, depois de algumas cervejas, resolvemos filmar uma reflexão sobre os rumos da humanidade. Nos apropriamos de textos do Nietzsche (e de outros filósofos que fomos lembrando frases) e elaboramos um curta cíclico como a vida; ação/reação – tudo que tu faz na vida resulta em críticas positivas e destrutivas (e no final arrisco dar minha fórmula para a implantação de uma sociedade anarquista na sociedade de hoje). Revendo este curta hoje me arrependo de não tê-lo filmado direito, com outro ator no meu papel (para mim manejar a filmadora e dirigir direito), figurinos apropriados e outras coisinhas mínimas de produção. Mas a idéia está aí, rodando por todos os lados, essa tranqueira foi até exibida em alguns festivais de cinema experimental. Neste curta temos uma participação especial de Claudio Baiestorf (meu pai, que infelizmente faleceu em 2009), no final do filme, com um diálogo enigmático que remete à uma piada interna da Canibal Filmes envolvendo o clássico “Invasion of the Body Snatchers/Vampiros de Almas” (1956) de Don Siegel.

“Vai Tomar no Orifício Pomposo” (2004, 14 min.) de Petter Baiestorf. Com: Coffin Souza, Elio Copini e DG.

Não é segredo prá ninguém que sou um grande fã do escritor Charles Bukowski e este curta é minha tentativa de filmar algo no universo do velho safado. Não lembro muita coisa destas filmagens, não lembro nem de ter escrito o roteiro (to achando que filmei este curta todo de cabeça), nesta época eu estava mais preocupado em me matar bebendo do que na possibilidade de realizar meus projetos. A casa usada nestas filmagens era a casa real do Souza e como a casa vizinha à dele estava vazia, arrancamos a parede para criar o clima surreal que a briga de vizinhos pedia. Elio Copini interpretou o evangélico cretino e Coffin Souza o escritor maldito com problemas com as bebidas (essa personagem sou eu, mas pode ser o Souza mesmo, pode ser o Bukowski, pode ser você). Não gosto muito da edição que fiz (montei tudo na câmera, inclusive os efeitos sonoros e as músicas). Desde a época que filmei “Vai Tomar no Orifício Pomposo” que tenho planejado um longa-metragem dramático com este clima de desespero fantástico, mas como tenho preferência por projetos sexploitations de humor negro, sempre vou deixando prá depois essa minha vontade de produzir um drama etílico surrealista.

“O Nobre Deputado Sanguessuga” (2007, 13 min.) de Petter Baiestorf. Com: Elio Copini, Coffin Souza, Gurcius Gewdner, Carli Bortolanza, Iara e Claudio Baiestorf.

Essa fábula infantil que ensina as crianças sobre as maldades dos políticos brasileiros eu escrevi e dirigi em 2007 para testar minha nova filmadora (escolhi a temática infantil por dois motivos, primeiro: nesta época eu estava planejando um livro infantil com ilustrações de Gurcius Gewdner – idéia que não abandonei ainda; segundo: porque é uma temática que me interessa muito). Inspirado no cinema expressionista alemão, “O Nobre Deputado Sanguessuga” foi a desculpa perfeita para reunir amigos para algumas cervejas no meu sítio e me exercitar na narrativa do cinema mudo. Gostei bastante da experiência de rodar um curta infantil, mas acabei não repetindo a dose porque depois dele rodei somente sexploitations gores com títulos como “Arrombada – Vou Mijar na Porra do seu Túmulo!!!” (2007), “Vadias do Sexo Sangrento” (2008) e “O Doce Avanço da Faca” (2010) e uma comédia musical western cafajeste chamada “Ninguém Deve Morrer” (2009).