Arquivo para agosto, 2012

Assassinas Voadoras Promovem Carnificina no Festival do Peixe Frito

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 31, 2012 by canibuk

“Piranha 2 – The Spawning” (“Piranhas 2 – Assassinas Voadoras”, 1981, 84 min.) de James Cameron. Produção de Ovidio G. Assonitis. Com: Tricia O’Neil, Lance Henriksen e Steve Marachuk.

No calor da noite jamaicana  um casal de turistas mergulha no local onde há os destroços de um navio afundado para ter um pouquinho de sexo nas profundezas do mar azul. Peitinhos a mostra, sunga rasgada e os corpos do casal de amantes assanhados são devorados por piranhas famintas!… Hum, espere aí, piranhas em água salgada?… Sim, este é o brilhante ponto de partida do genial (e muito tosco) roteiro do produtor Ovidio Assonitis (com alguns pitacos do diretor James Cameron em seu único trabalho que admiro). Aqui somos apresentados ao Clube Elysium, uma espécie de hotel cheio dos mais variados tipos humanos que somente o cinema italiano tem a capacidade de criar. Entre uma e outra cena idiota, somos apresentados à Anne Kimbrough (Tricia O’Neil), instrutora de mergulho que trabalha ali com seu filho tapado, caçadoras de homens ricos, velhas ninfomaníacas, pescadores que usam dinamite, ricaços egocentricos, o xerife boa pinta, dentistas otários e, lógico, como não poderia faltar, o dono de hotel ganancioso que, a todo custo, quer fazer um festival do peixe frito na praia.

Em uma de suas aulas de mergulho Anne leva seus alunos até os destroços do navio onde as piranhas vivem. Um dos alunos entra no navio e é comido pelas piranhas. Assim o xerife, que se revela marido de Anne, começa as investigações. Anne, auxiliado por um aluno que quer comer ela, invade o necrotério para analizar o corpo podre do aluno morto. Enquanto estão fotografando o cadáver uma enfermeira descobre a farra e os expulsa. Ao arrumar o corpo do morto a enfermeira tem a surpresa que todos estão esperando, ou seja, uma piranha voadora sai de dentro do corpo e voa até sua jugular estraçalhando-a (as piranhas são de borracha, quando atacam os próprios atores precisam segurá-las e simular que estão vivas e violentas, rendendo momentos impagáveis de humor involuntário). Já em sua casa, Anne e seu aluno estão vendo as fotos do cadáver quando, como seria normal num caso assim, pinta um clima de tesão e eles se beijam e vão prá cama para uma foda revigorante. Deste ponto em diante o filme fica cada vez mais divertido, com as piranhas voadoras saindo da água como um cardume/bando sedento por carne humana. Logo Anne está implorando para o dono do Clube Elysium cancelar todas as atividades na água, mas ele não aceita isso (Assonitis e Cameron perdem aqui uma ótima oportunidade de esculhambar este clichê, já que como as piranhas voam e respiram fora da água, se todas todas as atividades da água fossem canceladas, ainda teríamos os deliciosos ataques).

Quando o aluno de Anne se revela um bioquímico, ficamos sabendo que ele sabia que no navio afundado havia ovos de piranhas modificadas geneticamente para serem utilizadas como armas pelos militares americanos. Como o festival do peixe frito não foi cancelado, todos os hóspedes que esperavam comer um peixinho frito de graça viram a refeição principal das piranhas que promovem uma carnificina gore repleta de feridas pustulentas, sangue grosso e membros amputados. A última esperança de todos é Anne mergulhar até o navio, ninho das piranhas, e explodir tudo com bananas de dinamite, promovendo assim um dos finais mais toscos que o cinema trash já filmou.

Com uma equipe-técnica completamente italiana (onde ninguém falava inglês), James Cameron deve ter se sentido um peixe fora d’água nesta produção do picareta Assonitis. “Piranha 2” era para ter sido dirigido por Miller Drake (assistente de direção no clássico “Alligator” de Lewis Teague, filmado um ano antes) que havia trabalhado com Roger Corman e Joe Dante no primeiro “Piranha” (1978) que traria de volta as personagens de Kevin McCarthy (que reapareceria todo cheio de cicatrizes porque foi vítima das piranhas no primeiro filme) e de Barbara Steele. James Cameron havia sido contratado para fazer os efeitos especiais do filme e, quando Drake foi despedido da produção, Cameron pode realizar seu sonho de dirigir um filme, mas, para azar do americano, Assonitis resolveu acompanhar as filmagens de perto e discutia quase sobre tudo com Cameron (nada pior para um produtor do que ter um diretor que não faz o que lhe é ordenado) e assim proibiu Cameron de ver as filmagens do dia e, depois, não o deixou acompanhar a edição do filme. Aliás, James Cameron se refere ao “The Terminator/O Exterminador do Futuro” (1984) como seu primeiro filme (há um curta-metragem de Cameron de 1978, intitulado “Xenogenesis” que merece ser redescoberto).

Ovidio G. Assonitis (1943) nasceu no Egito e é produtor de cinema independente. Nos anos de 1960 se tornou distribuidor de filmes no sudoeste da Ásia (em apenas 10 anos como distribuidor colocou no mercado mais de 900 filmes). Entre 1970 e 2000 produziu cerca de 50 filmes, muitos deles coproduções com produtoras como American International Pictures, Nippon Herald Films Inc. e Toho-Towa, geralmente com lucros absurdos como “Chi Sei?/Beyond the Door/Espírito Maligno” (1974), filme de baixo orçamento dirigido por ele mesmo, que teve arrecadação mundial de mais de 40 milhões de dólares. Com o pseudônimo de Oliver Hellman, além de “Chi Sei?”, dirigiu ainda “Tentacoli” (1977), trasheira estrelada por John Huston, sobre polvos assassinos; “There Was a Little Girl/Madhouse” (1981), sobre uma professora de surdos atormentada por sua irmã gêmea e a comédia “Desperate Moves” (1981). Como produtor trabalhou com os mais variados tipos de diretores italianos possíveis, realizando belíssimos filmes de baixo orçamento como “Nel Labirinto del Sesso” (1969) de Alfonso Brescia; “Il Paese del Sesso Selvaggio/The Man from the Deep River” (1972) de Umberto lenzi, um dos primeiros filmes do ciclo de filmes de canibais italianos; “Dedicato a una Stella” (1976) de Luigi Cozzi, um drama romantico; “Stridulum/Herdeiros da Morte” (1979) de Giulio Paradisi, sci-fi de horror sobre o bem e o mal em luta secular; “Iron Warrior/O Guerreiro de Aço” (1987) também de Alfonso Brescia; “Curse 2 – The Bite” (1989) de Frederico Prosperi, sobre um mané que é mordido por uma cobra radioativa e o resto pode ser imaginado; “Lambada” (1991) de Fábio Barreto, trasheira musical que tentava lucrar com a moda da lambada; “American Ninja 5” (1993) de Bobby Gene Leonard, com Pat Morita no elenco; entre vários outros exemplos de como ser um exploitation man do cinema.

Giannetto De Rossi (1942), responsável pelos ótimos momentos gores de “Piranha 2”, começou como maquiador em filmes como “Le Ore Dell”Amore” (1963) de Luciano Salce, comédia romântica estrelada por Ugo Tognazzi e Barbara Steele, “C’era una Volta il West/Era uma vez no Oeste” (1969) de Sergio Leone e “Quando le Donne Avevano la Coda/Quando as Mulheres Tinham Rabo” (1971) de Pasquale Festa Companile, comédia incorreta com Senta Berger. Em 1972 trabalhou na comédia “All’Onorevole Piacciono le Donne…/O Deputado Erótico”, dirigido por Lucio Fulci, trampo que colocou os dois em contato. Logo em seguida De Rossi trabalhou com Jorge Grau no clássico “Non si Deve Profanare il Sono dei Morti/Let Sleeping Corpse Lie/Zumbi 3”, onde criou efeitos de maquiagens gores convincentes. Mas foi com Lucio Fulci que extrapolou todos os limites do bom gosto ao elaborar os efeitos ultra gores de filmes como “Zumbi 2” (1979); “… E Tu Vivrai nel Terrore! L’Aldilà/Terror nas Trevas” (1981) e “Quella Villa Accanto al Cimitero/The House by the Cemetery/A Casa dos Mortos-Vivos” (1981). Sempre metido nas produções mais divertidas, De Rossi trabalhou em inúmeros filmes que marcaram época, como “L’Umanoide/O Humanóide” (1979), sci-fi cara de pau de Aldo lado; “Conan The Destroyer/Conan, O Destruidor” (1984) de Richard Fleischer, fantasia com Schwarzenegger; “Rambo III” (1988) de Peter McDonald, ação com Stallone; “Killer Crocodille” (1989), horror sobre um crocodilo gigante de Fabrizio de Angelis; entre vários outros. Giannetto De Rossi também foi responsável pela criação dos efeitos realistas do “snuff movie” que é projetado em “Emanuelle in America” (1977) de Joe D’Amato, estrelado por Laura Gemser. Giannetto ainda dirigiu três longas: “Cyborg, il Guerriero D’Acciaio” (1989), sci-fi de ação; “Killer Crocodille II” (1990), continuação sangrenta das aventuras do crocodilo gigante; e o filme em vídeo “Tummy” (1995), sobre um garoto que foge do orfanato com duas criaturas mágicas.

“Piranha 2 – Assassinas Voadoras” foi lançado em DVD no Brasil pela Columbia Tri Star Home Video e é ótimo para ver que todos os gigantes da indústria cinematográfica mundial começam pequenos.

por Petter Baiestorf.

Guaru Fantástico

Posted in Cinema, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 29, 2012 by canibuk

A segunda edição da mostra Guaru Fantástico acontecerá nos dias 30 e 31 de agosto, mas antes, no dia 29 (nesta quarta-feira) vai acontecer uma sessão em homenagem ao Carlos Reichenbach no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, onde serão exibidos vários curtas que, de algum modo, tinha ligação com o Carlão. Abaixo Leopoldo Tauffenbach, curador da sessão, explica o porque de cada um dos filmes selecionados:

Sangue Corsário (Carlos Reichenbach, 1979): um dos curtas mais emblemáticos de Carlão, traduz muito bem seus questionamentos e a ideologia corsária, uma de suas características mais marcantes. Com colaboração de jairo Ferreira no roteiro, o curta é estrelado por duas figuras emblemáticas do universo reichenbachniano: o crítico e poeta Orlando Parolini e o ator Roberto Miranda.

Olhar e Sensação (Carlos Reichenbach, 1994): excelente obra experimental que trata de uma das personagens mais marcantes e constantes nas obras de Reichenbach: a cidade. Produzido por Sara Silveira, sócia, parceira e amiga de Carlão por mais de 30 anos e fotografado pelo também amigo e diretor Conrado Sanchez.

Aventura, Amor e Transporte Público (Bruno de André, 1991): curta de Bruno de André, crítico, diretor, ator, parceiro e amigo de Carlão, além de frequentador das Sessões do Comodoro. A ideia inicial era incluir outro curta, A Origem dos Andamentos, mas por sugestão do próprio Bruno foi escolhido este que traz fotografia de Carlos Reichenbach e montagem de Andrea Tonacci.

O Guru e os Guris (Jairo Ferreira, 1973): primeiro curta do difusor da crítica de invenção e do cinema de invenção, trata de atividades cinéfilas como posição de resistência. Fotografado por Carlos Reichenbach e montado pelo crítico Inácio Araújo, um de seus amigos mais próximos.

Hi-Fi (Ivan Cardoso, 1999): ousada obra experimental sobre o movimento concreto paulistano, inspirado nas obras dos irmãos Campos e de Décio Pignatari, fonte de inspiração a muitos dos cineastas da Boca do Lixo, incluindo Carlão.

Primitivismo Kanibaru na Lama da Tecnologia Catódica (Petter Baiestorf, 2003): obra do cineasta independente e iconoclasta Petter Baiestorf, de Santa Catarina, criador do Manifesto Canibal. Carlão foi um dos principais divulgadores do trabalho de Baiestorf em São Paulo e grande admirador de sua posição transgressora.

Freddy Breck Ballet (Gurcius Gewdner, 2010): Gurcius Gewdner, parceiro de Petter Baiestorf em diversos filmes, dedica esta obra a Carlos Reichenbach, dividindo com ele sua paixão por um dos maiores cantores populares da Alemanha. Poucas pessoas sabem que Carlão também era músico e dedicado arqueólogo de raridades musicais,como este Freddy Breck.

Esta sessão histórica acontece no dia 29 de agosto, às 22 horas, de graça no CineSESC, rua Augusta 2075 (Estação Consolação).

E nos dias 30 e 31 de agosto acontece o segundo Guaru Fantástico de Guarulhos/SP, no Anfiteatro do Prédio F da Universidade de Guarulhos (praça Tereza Cristina 1, centro). Guaru Fantástico, em sua primeira edição, deu três prêmios para meu filme “Ninguém Deve Morrer” (melhor filme, melhor direção e melhor montagem), então já dá prá sacar que eles primam por exibir o máximo possível de obras independentes feitas sem dinheiro público.

Neste ano, no dia 30 rola um bate-papo de abertura com o pessoal do site Boca do Inferno, com o cineasta Alex Sandro Moletta, o dramaturgo Sérgio Pires e a exibição dos filmes “Desalmados”, “Duas Vidas Para Antonio Espinoza“, “Moroi”, “Não Servimos Zumbis”, “Necrochurume”, “O Ogro“, “O Terno do Zé”, “Pandemônio”, “Retratos”, “Tutti Maria” e “Vontade“.

No dia 31 tem bate-papo com a escritora Bernadette Lyra e os fazedores de filmes Fernando Rick e este que vos escreve, seguido dos curtas “A Vida da Morte”, “Abner, o Papa Zumbis”, “De Saco Cheio”, “Desalmados – O Vírus“, “DR”, “Estranha“, “Horário Nobre ou Banquete para Zumbis”, “Inquérito Policial #0521/09”, “Instantâneo”, “Morte e Morte de Johnny Zombie” e “Velho Mundo” (clique nos links para ler resenhas que fiz deles).

Se programe para essas três noitadas de muito cinema independente de todas as épocas!!!

Estado de Sítio

Posted in Cinema, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 27, 2012 by canibuk

“Estado de Sítio” (2011, 91 min.) de André Novais Oliveira, Gabriel Martins, Flávio C. Von Sperling, João Toledo, Leonardo Amaral, Leo Pyrata, Maurílio Martins e Samuel Marotta. Com: Ana Lavigne, Juliana Abreu, Tamira Montavani, Luana Baeta e os diretores.

Em 2010, um OVNI tomou de assalto o circuito dos festivais brasileiros, ganhando uma inesperada recepção: o cearense “Estrada Para Ythaca”. Esse filme apontou para a viabilidade de um novo processo de produção: um filme de ficção realizado de forma coletiva por quatro autores, organizando-se em todas as funções de realização, sem hierarquia previamente definida, feito “na raça”, sem nenhum recurso público. Para além desse modo de produção, “Ythaca” acabou sendo visto sobretudo como uma espécie de um manifesto de uma geração, uma terna odisséia em culto à amizade, em ver o cinema essencialmente como vocação, e não como profissão. Esse espírito parece ter contagiado um grupo de autores curiosos de Belo Horizonte, que já vinham percorrendo os festivais no Brasil primeiro como críticos, escrevendo para o site da Filmes Polvo, e depois como realizadores, fazendo curtas inventivos, com grana própria. De um lado, “Estado de Sítio” dá continuidade a um caminho desse grupo (em torno da crítica da Filmes Polvo, e de duas produtoras informais, a Filmes de Plástico e a Sorvete Filmes). De outro, pode ser entendido como uma espécie de busca por novos rumos do cinema mineiro, contrapondo-se ao cinema de grande rigor visual e de refinamento plástico, sintetizado nos filmes da Teia. Em geral, são filmes radicais, descontínuos, com uma ironia cáustica, um certo escracho. Todos esses elementos estão nesse primeiro longa de oito diretores. É como se enquanto “Ythaca” é um road movie pelo interior do Ceará na busca dos rastros de um amigo morto, “Estado de Sítio” na verdade fosse um road movie dentro de uma colônia de férias em busca de nada mais que um passatempo. A ingenuidade e a superficialidade desse encontro expressam, de forma bastante clara, a beleza e as limitações do processo desse grupo. É como se “Estado de Sítio” avançasse por um flanco que “Ythaca” abriu mas que o filme posterior do coletivo cearense, “Os Monstros”, mostrou que na verdade não era exatamente esse. De qualquer modo, o encanto de “Estado de Sítio” é a possibilidade de estar juntos: um filme sobre a leveza da aventura de con-viver. Além disso, “Estado de Sítio” é um filme de juventude: não só sobre jovens, mas essencialmente uma forma jovem de encenar. Esse tom inconseqüente e debochado é no entanto retratado através de uma mise-en-scène sóbria, com planos longos, vários deles com uma câmera parada que explora a profundidade de campo, mostrando a movimentação dos diversos atores-autores ao longo do quadro como se fosse um imenso tableaux. Refinamento de uma encenação que aponta pouco para si mas que deixa transbordar esse esfuziante sentimento de uma alegria pouco presente no cinema contemporâneo brasileiro. Elegância no meio da fuleragem.

por Marcelo Ikeda.

Veja “Estado de Sítio” aqui:

Entrevista com Leo Pyrata:

Petter Baiestorf: Dê uma geral do cinema mineiro atual:

Leo Pyrata: Acho muito complexo falar do cinema mineiro principalmente por ser o estado que tem mais municípios. De modo que eu me sinto desautorizado a comentar num recorte tão grande porque vira e mexe você descobre filmes surgindo dos mais diferentes lugares. Acho que posso falar um pouco sobre o que eu vejo com mais proximidade. Em Belo Horizonte existe uma certa tradição numa aproximação do cinema com artes plásticas pelo pessoal da videoarte e mais recentemente nos últimos dez anos, um estreitamento com o documentário também. Evidente que existem outras linhas e caminhos  escolhidos, mas o ponto de partida pra entender essa tradição da experimentação de BH passa por esse hidridismo. Não vou citar muitos nomes nessa resposta pois sei que provavelmente esqueceria alguém  e também porque a tendência é que invariavelmente se transformaria a resposta  numa lista gigantesca. Não deixarei de frisar que teve um filme que eu tenho como marco pra mim em todos os aspectos. “Fantasmas” de André Novais Oliveira.

Baiestorf: Como surgiu a idéia de produzir um longa com direção coletiva?

Pyrata: Eu já tinha passado por experiência parecida com os curtas da 30conto filmes. Tive a idéia de fazer isso numa duração maior depois de assistir o “Estrada para Ythaca”.

Baiestorf: As filmagens de “Estado de Sítio” foram tranqüilas? Conte como foi construir um filme livre onde as idéias iam surgindo de maneira coletiva. Ouve muitas discussões ou brigas para a defesa de pontos de vista diferentes?

Pyrata: Antes de chegar no filme propriamente dito  eu preciso dizer que a idéia era antes de mais nada uma vivência de passar 5, 6 dias respirando e fazendo cinema  sem muitas amarras e abolindo qualquer sinal de hierarquia. Eu cheguei com o argumento e ficamos trabalhando sobre as situações que aconteceriam  e escrevendo anotações sobre os personagens ao longo de dois meses nos botecos de BH. Teve uma briga sim, mas acho que veio mais do estresse e da frustração de não conseguir iluminar um ambiente como queríamos e na busca de soluções possíveis para isso rolou um embate mais enérgico. A real é que quando esta todo mundo  pensando plano, captando som e atuando não existe muito espaço pra egos gigantes. E essa turma foi pensada por afinidade, amizade e muitos já tinham trabalhado juntos em outros filmes. Fora a cinefilia compartilhada nas cervejas pós sessões do cine Humberto Mauro.

Baiestorf: “Estado de Sítio” está sendo considerado como um exemplar do “Cinema de Garagem”. Você não acha que estes rótulos todos (como cinema de garagem, cinema de bordas, cinema alternativo, cinema marginal, etc…) não limitam o interesse do público em conhecer as obras? Tenho bastante medo de que estes rótulos estéticos limitem a criatividade/liberdade dos jovens cineastas brasileiros.

Pyrata: Creio que os rótulos fazem parte da necessidade do jornalismo cultural pra dar conta de informar o público quando existe alguma movimentação anormal e dissonante  com aquilo que as pessoas estão acostumadas, tanto em questão de forma, conteúdo quanto no que diz respeito as formas de produção e distribuição também. Eu acho que um rótulo, assim como um premio, só consegue limitar um artista se ele se sente satisfeito com aquilo. Mas ai a culpa não está no rótulo ou no premio, mas no artista que acha que está num porto seguro, numa torre de marfim. Eu acho que a sua filmografia mesmo prova que quando o artista quer ninguém consegue rotular ele. Filmes lindamente dispares entre si: “Que Buceta do Caralho, Pobre só se Fode!!!”, “Palhaço Triste”, “Ninguem Deve Morrer”, “A Curtição do Avacalho”, “Arrombada”, “Super Chacrinha…”, “Zombio”, mostram que quando o artista não se acomoda numa zona de conforto e se propõe a enfrentar novos desafios e novas questões não existe rotulo que o amordace.

Baiestorf: Qual é o público de “Estado de Sítio”? Existe um cinema anarquista brasileiro?

Pyrata: Cara, sinceramente eu não sei. Num primeiro momento posso dizer que era quem ia nos festivais ver filmes. Mas a primeira exibição dele em BH no Indie tinha um publico muito maior de amigos que propriamente pessoas que freqüentam festivais e estamos chegando a incrível marca de 1000 exibições em uma semana do filme inteiro no youtube. Não chegamos ainda pois  falta que mais 145 caboclos vejam o filme até amanhã e claro que a gente não tem certeza que todo mundo que viu até agora viu inteiro  mas o mesmo vale pra exibição no cinema. Ninguém que faz filme tem controle se o público viu tudo, se não cochilou na sessão etc, etc. Mas pra forçar as pessoas a verem no youtube a gente tem postado no facebook que se rolarem 1000 views na primeira semana a gente sobe o final alternativo do filme e assim vamos divulgando. Claro que não vamos acabar com todo o material de extras nessa brincadeira porque senão ficamos sem ter o que vender depois no DVD.

Baiestorf: Como está sendo a distribuição do filme? Algo no sentido de ser lançado em DVD ou em algum canal de TV? Como o público pode fazer para ter o filme em casa?

Pyrata:Existia a idéia de fazer um DVD autorado cheio de extras pra vender mas isso por enquanto está em modo de espera por conta dos outros projetos que estão rolando. Por hora as pessoas podem ver no youtube e baixar usando os softwares apropriados. Em breve pinta um torrent com isso e algum dos extras, mas o DVD completão, Canibal style, com faixa de comentários e tal só sai depois de finalizarmos outros projetos que já estão no processo.

Baiestorf: O cinema Marginal brasileiro foi uma das inspirações para a composição de “Estado de Sítio”? Qual foi o orçamento do filme e as filmagens foram em quantos dias?

Pyrata: O cinema marginal é uma referencia muito forte e gostamos que ele tenha surgido de uma forma orgânica no filme sem parecer que fomos na botique cinema marginal e inserimos meia dúzia de acessórios. O próprio lance de poucas locações vem daquele lance dos primeiros filmes do Bressane. O filme foi produzido em 7 dias, montado em seis meses e teve um custo final de cinco mil reais com a cópia em hdcam e o trabalho de tratamento e correção dos nossos vacilos no som  feitos lindamente pelo Bernardo Uzeda. O custo principal do filme foi com comida, bebidas e gasolina. Usamos a minha câmera e outra igual da faculdade que também forneceu todo material de iluminação pro filme.

Baiestorf: “Estado de Sítio” chegou a ser exibido em alguma mostra que visa um público não intelectualizado? Se foi, qual a reação deste público?

Pyrata: Uma vez o Samuel exibiu o filme num desses ônibus de viagens que tem aparelho de DVD numa viagem dele pra Juiz de Fora. Parece que o povo gostou bastante.

Baiestorf: Há planos para novos longas com direção/roteiros coletivos?

Pyrata: Estamos finalizando o “Os anjicos e a Semana Santa” do Leo Amaral e do Samuel Marotta, que é o primeiro longa da produtora EL Reno Fitas que formamos depois do “Estado de Sítio”. Mês que vem começa a filmagem de outro longa chamado “Jubileu” dirigido pelos dois também e lá pra abril eu e o Flavio C Von Sperling devemos dirigir um Terrir inspirado em Russ Meyer pra zoar com aquele filme bundão de rave do sócio daquele cara que faz filme enaltecendo policia fascista.

Baiestorf: Como fazer para que o cinema volte a ser uma arma política que influencie o cidadão comum a pensar por si próprio? Aliás, como chegar até a mente de um povo imbecilizado pelo cinema comercial de Hollywood, um povo que não tem a mínima idéia de que o cinema brasileiro está produzindo grandes obras subterrâneas?

Pyrata: Eu acho que a arma está antes de tudo no caráter subversivo do humor porque ele aproxima e desarma as pessoas do preconceito. E com ele a gente consegue chegar em questões importantes usando um viés não tão amargo. E principalmente porque o nosso cinemão mesmo anda fazendo um humor tão merda tipo cilada.com/e ai comeu? que nossas piadas e gags acabam soando ainda melhores. É isso e usar a internet pra divulgar os filmes pra não ficar preso apenas no espaço dos festivais de cinema.

O Corvo

Posted in Literatura with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 26, 2012 by canibuk

Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite êrma e sombria,

a ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,

e, exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído,

tal qual se houvesse alguém batido à minha porta, devagar.

“É alguém” – fiquei a murmurar – “que bate à porta, devagar;

sim, é só isso e nada mais.”

.

Ah! Claramente eu o relembro! Era no gélido dezembro

e o fogo, agônico, animava o chão de sombras fantasmais.

Ansiando ver a noite finda, em vão, a ler, buscava ainda

algum remédio à amarga, infinda, atroz saudade de Lenora

– essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora

e nome aqui já não tem mais.

.

A sêda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina,

arrepiando-me e evocando ignotos medos sepulcrais.

De susto, em pávida arritmia, o coração veloz batia

e a sossegá-lo eu repetia: “É um visitante e pede abrigo.

Chegando tarde, algum amigo está a bater e pede abrigo.

É apenas isso e nada mais.”

.

Ergui-me após e, calmo enfim, sem hesitar, falei assim:

“Perdoai, senhora, ou meu senhor, se há muito aí fora me esperais;

mas é que estava adormecido e foi tão débil o batido,

que eu mal podia ter ouvido alguém chamar à minha porta,

assim de leve, em hora morta.” Escancarei então a porta:

– escuridão, e nada mais.

.

Sondei a noite êrma e tranqüila, olhei-a fundo, a perquiri-la,

sonhando sonhos que ninguém, ninguém ousou sonhar iguais.

Estarrecido de ânsia e medo, ante o negror imoto e quêdo,

só um nome ouvi (quase em segredo eu o dizia) e foi: “Lenora!”

E o eco, em voz evocadora, o repetiu também: “Lenora!”

Depois, silêncio e nada mais.

.

Com a alma em febre, eu novamente entrei no quarto e, de repente,

mais forte, o ruído recomeça e repercute nos vitrais.

“É na janela” – penso então. “Por que agitar-me de aflição?

Conserva a calma, coração! É na janela, onde, agourento,

o vento sopra. É só do vento esse rumor surdo e agourento.

É o vento só e nada mais”.

.

Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto:

– é um Corvo hierático e soberbo, egresso de eras ancestrais.

Como um fidalgo passa, augusto e, sem notar sequer meu susto,

adeja e pousa sobre o busto – uma escultura de Minerva,

bem sobre a porta; e se conserva ali, no busto de Minerva,

empoleirado e nada mais.

.

Ao ver da ave austera e escura a soleníssima figura,

desperta em mim um leve riso, a distrair-me de meus ais.

“Sem crista embora, ó Corvo antigo e singular” – então lhe digo –

“não tens pavor. Fala comigo, alma da noite, espectro tôrvo,

qual é teu nome, ó nobre Corvo, o nome teu no inferno tôrvo!”

E o corvo disse: “Nunca mais”.

.

Maravilhou-me que falasse uma ave rude dessa classe,

misteriosa esfinge negra, a retorquir-me em termos tais;

pois nunca soube de vivente algum, outrora ou rio presente

que igual surpresa experimente: a de encontrar, em sua porta,

uma ave (ou fera, pouco importa, empoleirada em sua porta

e que se chama: “Nunca mais”.

.

Diversa coisa não dizia, ali pousada, a ave sombria,

com a alma inteira a se espelhar naquelas sílabas fatais.

Murmuro, então, vendo-a serena e sem mover uma só pena,

enquanto a mágoa me envenena: “Amigos… sempre vão-se embora.

Como a esperança, ao vir a aurora, ele também há de ir-se embora.”

E disse o Corvo: “Nunca mais”.

.

Vara o silêncio, com tal nexo, essa resposta que, perplexo,

julgo: “É só isso o que ele diz; duas palavras sempre iguais.

Soube-as de um dono a quem tortura uma implacável desventura

e a quem, repleto de amargura, apenas resta um ritornelo

de seu cantar; do morto anelo, um epitáfio: – o ritornelo

de “Nunca, nunca, nunca mais”.

.

Como ainda o Corvo me mudasse em um sorriso a triste face,

girei então numa poltrona, em frente ao busto, à ave, aos umbrais

e, mergulhando no coxim, pus-me a inquirir (pois, para mim,

visava a algum secreto fim) que pretendia o antigo Corvo,

com que intenções, horrendo, tôrvo, esse ominoso e antigo Corvo

grasnava sempre: “Nunca mais”.

.

Sentindo da ave, incandescente, o olhar queimar-me fixamente,

eu me abismava, absorto e mudo, em deduções conjeturais.

Cismava, a fronte reclinada, a descansar, sobre a almofada

dessa poltrona aveludada em que a luz cai suavemente,

dessa poltrona em que Ela, ausente, à luz que cai suavemente,

já não repousa, ah! nunca mais…

.

O ar pareceu-me então mais denso e perfumado, qual se incenso

ali descessem a esparzir turibulários celestiais.

“Misero!” – exclamo – “Enfim teu Deus te dá, mandando os anjos seus

esquecimento, lá dos céus, para as saudades de Lenora.

Sorve o nepentes. Sorve-o, agora! Esquece, olvida essa Lenora!”

E o Corvo disse: “Nunca mais”.

.

“Profeta!” – brado. “O’ ser do mal! Profeta sempre, ave infernal,

que o Tentador lançou do abismo, ou que arrojaram temporais,

de algum naufrágio, a esta maldita e estéril terra, a esta precita

mansão de horror, que o horror habita, – imploro, dize-mo, em verdade:

Existe um bálsamo em Galaad? Imploro! dize-mo, em verdade!”

E o Corvo disse: “Nunca mais”.

.

“Profeta!” – exclamo. “O’ ser do mal! Profeta sempre, ave infernal!

Pelo alto céu, por esse Deus que adoram todos os mortais,

fala se esta alma sob aguante atroz da dor, no Êden distante,

verá a deusa fulgurante a quem nos céus chamam Lenora,

– essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora!”

E o corvo disse: “Nunca mais!”

.

“Seja isso a nossa despedida!” – ergo-me e grito, alma incendiada.

“Volta de novo à tempestade, aos negros antros infernais!

Nem leve pluma de ti reste aqui, que tal mentira ateste!

Deixa-me só neste êrmo agreste!” Alça teu vôo dessa porta!

Retira a garra que me corta o peito e vai-te dessa porta!

E o Corvo disse: “Nunca mais!”

.

E lá ficou! Hirto, sombrio, ainda hoje o vejo, horas a fio,

sobre o alvo busto de Minerva, inerte, sempre em meus umbrais.

No seu olhar medonho e enorme o anjo do mal, em sonhos, dorme,

e a luz da lâmpada, disforme, atira ao chão a sua sombra.

Nela, que ondula sobre a alfombra, está minha alma; e, presa à sombra,

não há de erguer-se, ai! nunca mais!.

poesia de Edgar Allan Poe.

ilustrações de Prassinos.

tradução de Oscar Mendes e Milton Amado.

O Fantoche de Hollywood Manipula Suas Fantoches Gores

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 24, 2012 by canibuk

“Meet The Feebles” (1989, 94 min.) de Peter Jackson. Obra-Prima com fantoches.

Este clássico do mal gosto se aprofunda na vida artística ao contar a alucinada história de um grupo teatral que está ensaiando uma nova canção para tornar seu show um sucesso. Com várias sub-tramas entrelaçadas entre si, que exploram os tipos humanos (aqui representados por fantoches/marionetes de insetos e animais), o roteiro apresenta Robert, novato que tenta a sorte no show business e se apaixona por Lucile que vira atriz pornô, que cruza com o mundo de Heidi, a grande estrela do show que ama Bletch, que a traí com Samantha. Harry, outra estrela do show e pervertido sexual, está com uma terrível doença sexual transmissível e é perseguido por uma mosca jornalista que quer publicar a história num tablóide sensacionalista. Sid (um elefante) é acusado por Sandy (uma galinha) de ser o pai de seu filho (uma galinha com tromba), como ele se recusa a assumir a paternidade, Sandy ameaça processá-lo enquanto muita droga, sexo sadomasoquista e negócios ilícitos vão se sucedendo no maravilhoso mundo do teatro, até que uma inevitável explosão de violência e brutalidade sacode o mundo dos sonhos, com Heidi, após uma tentativa fracassada de suicídio, armada de uma metralhadora e muita raiva matando e ferindo todos os azarados que cruzarem seu caminho.

Após as filmagens (e relativo sucesso) de “Bad Taste” (1987), Peter Jackson  entrou em contato com a televisão japonesa com a idéia de um filme gore com fantoches viciados em drogas e sexo, mas aos poucos o projeto foi adquirindo vida própria e virando um longa. O engraçado é que Peter Jackson teve seu pedido de orçamento à Film Commission da Nova Zelândia recusado por Jim Booth que depois viria a se tornar seu produtor. Com um orçamento de 750 mil dólares a produção recebeu somente dois terços deste valor e a relação entre produção e financiadores azedou a ponto da Film Commision ser retirada dos créditos. Como previsto, o dinheiro acabou durante a produção de “Meet the Feebles” e várias cenas foram filmadas sem dinheiro, como o flashback paródia para “The Deer Hunter/O Franco-Atirador” (1978) de Michael Cimino. Sem dinheiro para balas de festin, todos os tiros da metralhadora foram feitos com balas reais. Repare nas cenas da platéia que assiste o show que é possível identificar um dos alienígenas de “Bad Taste”, dentro da fantasia está o diretor Peter Jackson.

“Meet the Feebles” é uma fábula adulta sobre a violência humana, sobre pequenas ações mesquinhas onde corações magoados são capazes das mais horríveis atrocidades num momento de fúria incontrolável. O show, que a primeira vista parece algo tão meigo quanto “The Muppet Show”, se torna um pesadelo sangrento com sonhos destruídos via balas de metralhadora (que precede em vários anos o massacre final de “Rambo 4”). Heidi é a Miss Piggy hardcore, Harry é o Pernalonga com problemas com sexo e drogas, a imprensa é uma mosca que se alimenta de merda e, assim por diante, Peter Jackson foi brincando com o imaginário do cinema infantil até destruí-lo por completo e anunciar ao público: “É isso meninos, a vida real é difícil e fará de tudo para te aniquilar!”.

Peter Jackson (1961) nasceu na Nova Zelândia e foi o responsável pelos filmes mais divertidos dos anos de 1980 até a primeira metade dos anos 90. Em 1987 lançou a comédia ultra-gore “Bad Taste”, um filme quase amador sobre alienígenas de uma rede de fast food intergaláctico que descobre uma nova iguaria: Carne humana! Com um orçamento minúsculo Jackson criou uma obra-prima do mau gosto filmada entre 1983 e 1987 e editada durante um mês na cozinha da casa de seus pais. Em seguida conseguiu fazer “Meet the Feebles” e seu grande clássico, “Braindead/Fome Animal” (1992), uma divertida comédia gore non stop que influenciou o cinema sangrento do mundo inteiro. “Braindead” contava a história de um mimado homem que vivia à sombra de sua superprotetora mãe em meio à um apocalipse zumbi (iniciado por sua própria mãe), que envolvia cortadores de grama, liquidificadores e padres que lutavam kung fu como armas contra os mortos-vivos mais cômicos de todos os tempos. Em 1994 vimos o começo do fim de Peter Jackson, “Heavenly Creatures/Almas Gêmeas” é um bom filme, mas Jackson se deixou seduzir pela indústria de Hollywood e seus filmes seguintes não lembram em nada a inventividade de suas três primeiras obras que traziam inteligência ao conservador gênero dos filmes de horror. Em tempo, Peter Jackson dirigiu e atuou no telefilme “Forgotten Silver” (1995), mockumentary de média-metragem onde ele “descobre” o pioneiro cineasta Colin McKenzie que teria inventado tudo que o cinema moderno utiliza, mesmo que muitas coisas por acidente ou involuntariamente. “Forgotten Silver”, talvez, seja o último sopro de humor e cara-de-pau de um genial cineasta diluído pela indústria cinematográfica. Peter Jackson morreu na metade dos anos de 1990.

“Meet the Feebles” nunca teve um lançamento digno no Brasil. Em 1995 consegui uma cópia do filme em VHS com amigos europeus e vi, maravilhado, sem legenda alguma. Eu já era um grande fã de Peter Jackson por causa de “Bad Taste” e “Braindead” e ter conseguido essa cópia de “Meet the Feebles” foi para confirmar o que já sabia, Jackson era um gênio do cinema gore feito com baixo orçamento. Em 2007 o cineasta underground Gurcius Gewdner lançou “Mamilos em Chamas”, claramente inspirado em “Meet the Feebles”, só que ainda mais bizarro e raivoso. Quem curte o trabalho de Jackson em Hollywood ainda terá vários filmes dele estreiando nestes pomposos cinemas de shopping, desisti de acompanhar a carreira dele após perceber que o cineasta gore que eu adorava morreu com “Braindead”.

por Petter Baiestorf.

Torremolinos 73

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 22, 2012 by canibuk

“Torremolinos 73” (“Da Cama Para a Fama”, 2003, 91 min.) de Pablo Berger. Com: Javier Cámara, Candela Peña e Juan Diego.

Este filme é uma bela surpresa para qualquer cinéfilo. Tinha visto ele na época de seu lançamento em DVD aqui no Brasil, com o equivocado título nacional de “Da Cama para a Fama” (coisas da distribuidora Imagem Filmes, que nunca teve grande criatividade para títulos, nem capinhas, e nunca soube muito bem como vender seus produtos para o público certo), e alguns dias atrás revi este pequeno grande filme e continuei achando empolgante e digno de indicação.

“Torremolinos 73” conta a história de Alfredo López (Javier Cámara), vendedor de enciclopédias de porta em porta, que está com problemas em casa: Não entra dinheiro e sua esposa Carmen (Candela Peña) está querendo um filho. Ao ser chamado por seu patrão para uma reunião, Alfredo teme pelo pior. Mas não, eis que surge a oportunidade dele ingressar no maravilhoso mundo do cinema com produções eróticas em Super 8 para serem encartadas numa enciclopédia audiovisual sobre a reprodução humana. Com sua esposa sendo sua atriz-musa inspiradora, nosso aspirante a cineasta começa a fazer vários curtas pornográficos e finalmente o dinheiro começa a entrar em sua vida. Estuda técnicas e iluminações possíveis para o Super 8 e de filme em filme vai evoluindo e caindo nas graças de seu patrão mercenário. Ao mesmo tempo que Alfredo se encanta com as possibilidades do cinema, Carmen fica mais frustrada por não conseguir engravidar (numa linda comparação entre cinema-filhos). É significativo a cena em que Alfredo vai se masturbar no banheiro de um hospital para colher seu esperma para exames – onde a contagem de seu esperma é zero – e ali, se masturbando solitário com uma foto da esposa, ele concebe a idéia para o roteiro de seu primeiro longa, intitulado “Torremolinos 73”.

Alfredo López é fanático pela obra de Ingmar Bergman, mas filma como se fosse Jesus Franco. Essa relação entre Bergman-Franco fica ainda mais óbvia quando a produção de “Torremolinos 73” tem início. Filmado no inverno na cidade de Torremolinos (município turístico banhado pelas água do Mediterrâneo), portanto quase uma cidade fantasma. Alfredo e sua pequena e dedicada equipe-técnica (composta de dinamarqueses que não falam espanhol) vão criando uma homenagem à “Det Sjunde Inseglet/O Sétimo Selo”, com cara de “Macumba Sexual”, que fala sobre sexo, desejo e morte, com momentos do mais puro horror acidentalmente surrealista de Franco. Arte e lixo andam de mãos dadas! Não posso revelar o final, mas basta dizer que numa seqüência chave Alfredo consegue finalizar seu filme e Carmen consegue realizar seu sonho de engravidar. Aliás, Alfredo e Carmen são Jesus e Lina!!!

Ernst Ingmar Bergman (1918-2007) nasceu na Suécia e começou a trabalhar no cinema em 1941 como roteirista. Em 1957 surpreendeu o mundo ao lançar, com apenas 10 meses de intervalo, dois clássicos do cinema mundial, “Det Sjunde Inseglet/O Sétimo Selo” e “Smultronstället/Morangos Silvestres”, filmes eternamente copiados por cineastas acadêmicos sem imaginação ou inventividade. Com uma sucessão incrível de filmes excepcionais, muitos deles explorando a fé e a existência de Deus (o pai de Bergman era um luterano fanático, simpatizante do nazismo, que foi ministro do rei da Suécia), em 1966 escreveu e dirigiu “Persona”, filme que ele considerava sua obra-prima. Em 1976 foi preso por sonegação de impostos e jurou que nunca mais faria um filme na Suécia, promessa quebrada em 1982 quando voltou ao seu país de origem para dirigir “Fanny Och Alexandre”. Bergman é adorado tanto por acadêmicos chatos quanto por trashmaníacos descolados.

Jesús Franco Manera (1930) é o principal cineasta ativo na Espanha (gente como Almodóvar, Iglesia ou Segura, me desculpem, vem depois), um gênio dos filmes de baixo-orçamento nunca reconhecido em seu próprio país. Fez filmes de tudo quanto é gênero e ganhou destaque internacional com seus filmes de horror entrelados por suas deliciosas mulheres, primeiro Soledad Miranda, depois a deusa Lina Romay. Dirigiu mais de 200 longa-metragens (neste ano de 2012, por exemplo, já lançou “La Cripta de las Condenadas” parte 1 e 2 e agora trabalha na pós-produção de “Al Pereira Vs. The Alligator Ladies” e 2012 ainda tem mais quatro meses). Você até pode odiar o cinema de Jesus Franco, mas nunca poderá fugir de suas produções. Aqui no Brasil inúmeros clássicos do mestre espanhol estão sendo laçandos em DVD pela distribuidora Vinny com o abusivo preço de R$ 40.00, em média, cada! Jesus Franco nunca foi preso por sonegação de impostos e seu pai não foi ministro do ditador generalíssimo Francisco Franco.

Pablo Berger (1963) nasceu em Bilbao, Espanha, e se tornou jornalista e, logo depois, publicitário. Em 1988 lançou o genial curta-metragem “Mamá” (que trazia como diretor artístico o cineasta Álex de la Iglesia), uma comédia de humor negro alucinada sobre um moleque fanático por cultura pop vivendo num porão com sua família histérica após os marcianos terem destruido a central Nuclear de Erandio. “Torremolinos 73” foi seu primeiro longa-metragem, onde o jovem diretor exercitou sua paixão pelo cinema com muito bom humor e uma trilha sonora carregada de fantásticos sucessos dançantes da música popular espanhola. Em setembro de 2012 deverá estreiar (na Espanha) seu novo longa, “Blancanieves”, sua versão dramática (seja lá o que isso signifique) do chatinho conto de fadas “Branca de Neves”. Pode ser uma merda, mas se tratando de um filme de Pablo Berger é bom dar uma espiadinha na produção.

Por Petter Baiestorf.

Catálogo Canibal Filmes 2012

Posted in Arte e Cultura, Camisetas, Nossa Arte, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 20, 2012 by canibuk

CAMISAS

Canibal FilmesSomente na cor preta, tamanho M, G ou GG. Preço: R$ 30.00 – É a camisa oficial da mais antiga produtora independente brasileira, responsável por clássicos sangrentos (como “O Monstro Legume do Espaço” (1995), “Eles Comem Sua Carne” (1996), “Blerghhh!!!” (1996), “Zombio” (1999) e “Raiva” (2001), entre outros), histéricos (como “Super Chacrinha e seu amigo Ultra-Shit em Crise Vs. Deus e o Diabo na Terra de Glauber Rocha” (1997), “Gore Gore Gays” (1998), “Sacanagens Bestiais dos Arcanjos Fálicos” (1998), entre outros), divertidos (como “Criaturas Hediondas” (1993), “Caquinha Superstar a Go-Go” (1996), “Cerveja Atômica” (2003), “Ninguém Deve Morrer” (2009), entre outros) e momentos da mais pura experimentação radical (como “Chapado” (1997), “Bondage 2 – Amarre-me Gordo Escroto” (1997), “Não há Encenação Hoje” (2002), “Palhaço Triste” (2005), “A Curtição do Avacalho” (2006) ou “Vadias do Sexo Sangrento” (2008), e mais inúmeros outros. É a produtora que deu ao Brasil o legado de filmes como “Vai Tomar no Orifício Pomposo” (2004), “Arrombada – Vou Mijar na Porra de Seu Túmulo!!!” (2007), “Que Buceta do Caralho, Pobre só se Fode!!!” (2007) e “O Doce Avanço da Faca” (2010). Ao comprar e andar vestido com a camisa oficial da Canibal Filmes, todos seus amigos saberão que você apoia e investe na produção de filmes independentes.

O Doce Avanço da FacaSomente na cor preta, tamanho M, G ou GG. Preço: R$ 25.00 – Essa é a camisa oficial, de tiragem limitada e que não voltará mais para nosso estoque, do média-metragem gore feminista “O Doce Avanço da Faca”. Neste pequeno filme Petter Baiestorf e sua equipe de dementes voltaram seus olhos ao controle que os evangélicos tentam impôr à vida de todos. É um dos filmes brasileiros mais censurados de todos os tempos (perde somente para outras obras da própria Canibal Filmes, como “Deus – O Matador de Sementinhas” (1997), “Gore Gore Gays” (1998), “Boi Bom” (1998) ou “Arrombada – Vou Mijar na Porra do Seu Túmulo!!!” (2007), outras obras polêmicas dos Canibais do Sul do Brasil). Ao usar a camisa de “O Doce Avanço da Faca” você estará deixando bem claro que você não faz parte do rebanho, que você é um homem de espírito rebelde que clama pela liberdade individual, e livre arbítrio, de cada homem que vive neste planeta, com todos respeitando as diferenças e se fortalecendo com o apoio mútuo. Na foto ao lado Leyla Buk dá uma mostra de como as meninas podem costumizar suas camisas no conforto de seus próprios lares e deixar as camisas da Canibal Filmes ainda mais sexys.

Vadias do Sexo SangrentoSomente na cor preta, somente tamanho G. Preço: R$ 25.00 – Essa é a camisa comemorativa do clássico underground transgressor “Vadias do Sexo Sangrento”, filme de humor negro da Canibal Filmes onde o elenco inteiro interpreta nú a mais incrível sucessão de cenas de bom gosto do cinema brasileiro. Poucas peças dela no estoque e não será mais feita nenhuma. Se você ver alguém usando essa camisa vai saber na hora que é um dos poucos felizardos do mundo a ter essa magnífica camisa que atraí olhares por onde quer que passe, ou melhor, se você comprar agora uma das últimas peças será, com certeza, a pessoa mais descolada da festa, a pessoa cujo todos olhares serão direcionados e que chamará toda atenção. “Vadias do Sexo Sangrento” é um cult da Canibal Filmes que deixa todos molhadinhos!

ZombioSomente na cor preta, tamanho M, G ou GG. Preço: R$ 30.00 – “Zombio” (1999) é o primeiro filme autenticamente brasileiro a mostrar zumbis na tela, é um dos grandes clássicos sangrentos e alucinados do cinema brasileiro, é o filme de zumbi onde moscas perseguem a carne putrefacta dos zumbis e mostra o que seria a realidade fedida de um verdadeiro holocausto zumbi. “Zombio” se tornou uma peça cult na filmografia brasileira, um filme barato cheio de cenas hilárias (como o herói fazendo embaixadinhas com uma cabeça decepada) e que continua extremamente jovem e sempre conquistando novos fãs. É a camisa ideal para você comprar, vestir e sair por aí fazendo mais amigos! Vestindo uma camisa do filme “Zombio” todos saberão que você tem um senso de humor sádio, uma pessoa divertida capaz de rir das piadas mais politicamente incorretas,  uma pessoa que realmente vale a pena conhecer e se relacionar!

CanibukSomente na cor preta, tamanho M, G ou GG. Preço: R$ 30.00 – Essa é a camisa oficial do blog Canibuk que tem os leitores mais especiais do mundo. Canibuk foi criado por Petter Baiestorf e Leyla Buk em 2010 para a divulgação de cultura obscura e desde então se tornou uma marca da verdadeira cultura outsider, ponto de encontro de pensadores transgressores e leitores sedentos por informações do maravilhoso mundo da cultura independente. Canibuk está entrando no seu terceiro ano e criou essa linda camisa, com arte original de Leyla Buk, para que os leitores do blog possam passar a vestir a camisa do blog. A escolha de um punk prá ilustrar a camisa tem tudo haver com o blog que explora o faça você mesmo dos anos 1970 e 1980. Petter e Leyla, mesmo editando um blog, são eternos zineiros! Vista a camisa do Canibuk!!!

Accion MutanteSomente na cor preta, somente tamanho G. Preço: R$ 30.00 – Este filme não é uma produção da Canibal Filmes, mas é um dos filmes preferidos de Petter Baiestorf que, na falta de uma camisa oficial deste lindo filme, quis homenagear os 20 anos da produção de Álex de la Iglesia com uma camisa deste inacreditável clássico do cinema de humor negro. Foram feitas somente 10 peças desta camisa e assim que todas as peças serem vendidas não será mais colocada de volta ao estoque. Se você ainda não assistiu este filme saiba que está perdendo um dos maiores filmes de sci-fi gore do cinema mundial, é o filme que marca a estréia como diretor do genial Iglesia e trás participação de Santiago Segura em pequeno papel. Imperdível!!!

FILMES:

A Curtição do Avacalho (2006, 73 min.) de Petter Baiestorf. DVD simples – R$ 10.00.

Refilmagem livre de “O Incrível Homem Que Derreteu” (“The Incredible Melting Man“) transformada em história ateísta de histeria-pop com fundos de comédia anarquista na melhor tradição do cinema udigrudi brasileiro dos anos 60/70. Mais do que uma simples homenagem, “A Curtição do Avacalho” prova que é possível dar continuidade às experimentações do cinema Marginal adicionando um caldo gore-transgressor. O DVD ainda inclui os fantásticos extras: galeria de fotos da produção, roteiro, cenas deletadas, erros de gravação, trailer de produções independentes, o documentário “Baiestorf: Filmes de Sangueira e Mulher Pelada” (2004) de Christian Caselli e o mais genial menu-pegadinha de todos os tempos.

O Monstro Legume do Espaço (1995, 77 min.) de Petter Baiestorf. DVD simples. R$ 12.00.

Clássico do cinema underground brasileiro precursor de todas as produções do gênero que ganharam lançamento independente após “O Monstro Legume do Espaço” tomar de assalto a grande mídia nos anos 90 provando que era possível realizar o sonho do cinema com pouquíssimos recursos. Aqui um alienígena constituído de fibras vegetais chega ao planeta Terra e é aprisionado por um cientista. Com ajuda do coprofago Caquinha ele consegue escapar e promove um banho de sangue carregado de vísceras humanas. O DVD é um programa duplo que trás as duas primeiras partes de “O Monstro Legume do Espaço” (a original de 1995 e a segunda parte de 2006), com legendas em inglês, making off, erros de gravação, vídeo-clips, galerias de fotos e trailers de outras produções independentes.

Arrombada – Vou Mijar na Porra do seu Túmulo!!! (2007, 38 min.) de Petter Baiestorf. DVD simples. R$ 12.00.

Um traficante condenado é obrigado por um juiz de direito eleito senador duas vezes pelo voto popular à seqüestrar uma menina para saciar seus mais baixos instintos bestiais na companhia de seu médico particular punheteiro e seu padre amado. Muita putaria e violência no retorno de Baiestorf aos filmes de sexploitation carregados de críticas sociais. Masturbe-se e goze gostoso com este festival de estupros e o peculiar humor bizarro da Canibal Filmes. Por ser um média-metragem, o fantástico DVD de “Arrombada” ainda traz os curtas: “Que Buceta do caralho, Pobre só se Fode!!!” (2007, de Baiestorf), “Manifesto Canibal – O Filme” (2007, de Baiestorf e Souza), “O Nobre Deputado Sanguessuga” (2007, de Baiestorf), “Amigo Imaginário” (2007, de Baiestorf e Gurcius), “Dark Angel” (2007), “O Manjar dos Deuses” (2007, de Gustavo Insekto), “Apagogia” (2007, de Moacir Siso) e “Tudo Começou Quando Mamãe Conheceu Papai” (2007, de Gurcius Gewdner). Mais os maravilhosos extras com legendas em inglês, trailers, making offs, erros de gravação, entrevistas com Baiestorf, faixas de comentário em áudio com Baiestorf, Coffin Souza e Gurcius Gewdner e o documentário “Um Arrombado na Estrada”.

Zombio/Eles Comem Sua Carne (1999-1996, 45 min.-73 min.) de Petter Baiestorf. DVD simples. R$ 12.00.

Incrível double feature com dois clássicos do cinema gore brasileiro. “Zombio” é o primeiro filme com zumbis produzido no Brasil, conta a história de um casal de playboys ecologistas que vai namorar numa ilha deserta e encontra uma horda de zumbis canibais. “Eles Comem Sua Carne” mostra a hilária história de vida de um grupo de canibais anti-sistema que vive em harmonia devorando fiscais da prefeitura de Palmitos que vão cobrar o IPTU atrasado. Traz de extra os curtas “Zumbis do Espaço de Lá” (2008, de Larissa Anzoategui), “Colt Romero” (2008, de Cristian Verardi), o documentário “Andy – Chegando ao Zombio”, documentário “Revisitando o Set de Zombio 10 Anos Depois”, faixas de comentário em áudio, trailers, testes de FX e making off de Eles Comem Sua Carne.

Vadias do Sexo Sangrento (2008, 31 min.) de Petter Baiestorf. DVD duplo – R$ 17.00.

Como todo bom macho que pensa com a cabeça do pau, Russ começa a perseguir sua ex-namorada Mirza que o trocou por Tura, uma lésbica boa de língua e de bunda. Muita sangueira e sadismo na comédia romantica onde Baiestorf discute o relacionamento amoroso em nossa sociedade de forma quase adulta debochando dos clichês do gênero. “Vadias do Sexo Sangrento” é experimentalismo radical que dá seqüência as teorias do livro “Manifesto Canibal” (de Baiestorf e Coffin Souza), grande bíblia profana do cinema underground brasileiro. O DVD duplo traz ainda os curtas “Rottina” (2008, de Rodrigo Pedroso), “Palhaço Triste” (2005, de Baiestorf), “Dia de Ano” (2005, de Gurcius Gewdner), “Dominação Bizarra” (2004, de Zé Colmeia), o documentário “Vadias no Cinehorror 3”, legendas em inglês, dublagem em inglês, making off, erros de gravação, faixas de comentário em áudio de Baiestorf e Coffin Souza e entrevistas com Carli Bortolanza, Lane ABC, Ljana Carrion, Elio Copini, Everson Schütz, PC e Petter Baiestorf.

Triunvirato (2004, 55 min.) de Gurcius Gewdner – DVD simples – R$ 10.00

O dramático documentário sobre o processo de criação de Gurcius Gewdner como diretor e com o conjunto musical Os Legais. Mostrando as duras verdades da vida, causou comoção e ódio em todos os cantos do planeta onde foi exibido. Sinta o sabor da dor e da verdade neste documento chocante, revelador e repleto de suspense, que irá embelezar o vazio de sua vida. Um filme que ensina de maneira soberba a arte de ser picareta, as lições estão aqui, é só você destilar tudo, ruminar, aplicar na sua vida e ficar famoso. Extras: Legendas em inglês, galeria de fotos, trailers, jogo dos sete erros, making off, discografia de Os Legais e Os Legais em estúdio.

Mamilos em Chamas (2007, 80 min.) de Gurcius Gewdner – DVD simples – R$ 10.00

A saga do homem que trocou o ritmo alucinante da noite latejante pelas alegrias iluminadas do amor. Um filme que fará seu corpo e toda sua família explodir em prazer com as mais excitantes cenas de sexo e ação já gravadas no cinema brasileiro. É a emocionante história de um coelho perversamente dividido entre as delícias sem fim do prazer pulsante, a dura realidade do trabalho assalariado e a mais completa bestialidade, tudo isso em conflito com a descoberta do amor resplandecente. Poderá este homem aceitar o passado negro de sua amada e ajudá-la a recuperar seu pobre filho das mãos de malignos malfeitores? Erótico! Dramático! Místico! Relaxante! Romântico! Frenético! Assustador! Sem extras!

Confinópolis (2012, 15 min.) de Raphael Araújo. DVD simples. R$ 15.00

“Confinópolis” é um curta de Raphael Araújo com base em uma HQ dele mesmo que havia sido publicada na revista Prego anos atrás. A HQ virou um filme político de primeira grandeza, teorizando sobre um povo que se deixa governar por um tirano (que pode ser qualquer político, mesmo os políticos “bonzinhos”). Aqui vemos um lugar fictício onde as criaturas possuem uma fechadura no lugar do rosto e todos tem a esperança de que a salvação virá na figura de uma chave. Essa é a pequena deixa para que Araújo teorize sobre a manipulação política, sobre a televisão (um lindo flashback em animação – cortesia do artista Felipe Mecenas – explica como a sociedade ficou hipnotizada por milhares de caixas de luz hipnótica) e sobre como ações individuais podem fazer a diferença em uma sociedade. Quem fica em silêncio concorda com as atrocidades cometidas por políticos, religiosos, militares e imprensa, que sempre caminham de mãos dadas pelo jardim da tirania. Leia mais sobre este ótimo curta em “Confinópolis – A Terra dos Sem Chave“.

A Noite do Chupacabras (2011, 105 min.) de Rodrigo Aragão. DVD simples. R$ 20.00

A história de Douglas Silva (Joel Caetano), que retorna ao seu berço familiar no interior do Espírito santo, acompanhado de sua namorada grávida (Mayra Alarcón). Mas as coisas não estão bem para sua família, a morte de vários animais, reacende um antigo conflito com seus vizinhos agressivos e rivais, os Carvalho. Um rotineiro conflito de bar, quebra a trégua na guerra familiar e entre agressões, tiros e facadas, todos vão descobrir que um mal muito maior está entre eles: uma monstruosa e faminta criatura escondida na mata. Os Silva e os Carvalho, vão se matar e serem mortos pelo monstro, e ainda encontrar no caminho a figura mítica e também perigosa do “Velho-do-Saco” (Cristian Verardi). Douglas vai ter que provar a força que não se transformou em típico rapaz covarde da cidade grande e enfrentar a fúria do Chupacabras (Walderrama dos Santos) e do perigoso e demente Ivan Carvalho (Petter Baiestorf). Novamente como em “Mangue Negro” (2008), Rodrigo Aragão assume a direção, roteiro e efeitos especiais de maquiagem com extrema competência e grande parte do elenco também se divide em múltiplas funções técnicas, típico do cinema independente e de guerrilha. Um elenco afinado (e principalmente, escolhido “a dedo”), cenários naturais e muito bem fotografados e uma trilha sonora composta por grupos regionais como Vida seca, Pé do Lixo, Manguerê e Panela de Barro, que acompanha a trama de vingança, suspense e ação, sem cair no lugar comum de músicas eletrônicas, Rock pesado ou música Clássica de arquivo . A trama se desenvolve de forma natural, e para os impacientes com a demora da entrada do personagem-título em cena, a magnífica e original maquiagem “full-body” e a performance de Walderrama dos Santos enche os olhos e mostra que apesar da trama central ser focada na guerra interiorana entre famílias, este é sim , um filme de Monstro! Um monstro nacional (ou nacionalizado) e com todas as chances de ter uma carreira internacional, como aliás já está acontecendo: devagar, sorrateiro como um ataque de um Chupacabras! Leia mais sobre “A Noite do Chupacabras” aqui. Extras: Making of, galeria de fotos, trailers.

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A Maldição dos Sapos

Posted in Quadrinhos with tags , , , , , , , , , , , , , , on agosto 19, 2012 by canibuk

Em 1971 o diretor José Mojica Marins teve a idéia de produzir “Os Sapos”, filme que contaria a história de uma pequena cidade que era inteiramente sustentada por uma indústria que preparava pernas de rãs para os restaurantes das grandes cidades, até o dia em que um sapo com estranhos poderes se rebelaria e lideraria o ataque de milhões de sapos e rãs contra a fábrica. Mas Mojica é um eterno azarado! Como todos sabem, naquele ano estreiou o filme americano “Frogs/O Ataque das Rãs” (1972) de George McCowan, estrelado por Ray Milland, que fez com que Mojica desistisse da produção, abandonando seus sapos figurantes pela cidade de Marília/SP, que rendeu as manchetes de jornais sensacionalistas que anunciavam: “Bilhões de Sapos invadem Marília!”.

Resgatando essa engraçada história da carreira de Mojica, o desenhista/roteirista Juscelino Neco (do ótimo blog “Massacre de Pelúcia“), recriou estes momentos da equivocada produção que não saiu do papel em curta, porém imperdível, história em quadrinhos que dá um gostinho da difícil (mas divertida) vida do artista brasileiro.

Se você gostou do trabalho de Juscelino Neco, entre em contato com ele.

Banquete de Sangue no Mundo dos Nudie Movies

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 17, 2012 by canibuk

“Blood Feast” (“Banquete de Sangue”, 1963, 67 mim.) de H.G. Lewis. Com: William Kerwin, Mal Arnold e Connie Mason.

No início dos anos de 1960 o mercado de nudie movies estava lotado de produtores picaretas que davam ao público produções ultra-baratas com aquilo que o público queria ver: Nudez! Eram filmes com orçamento extremamente baixo que eram escoados em salas de cinema destinadas aos adultos (as chamadas Grindhouse Theatres que, ao contrário do que a imprensa brasileira quer fazer acreditar, eram locais exibidores e não um gênero de filme), muitas destas produções distribuida por Harry Novak. David F. Friedman e H.G. Lewis faziam nudies e, querendo um diferencial às suas produções, resolveram fazer filmes de horror onde o sangue jorrasse colorido, as mutilações fossem explícitas e a diversão macabra em tom de farsa, assim relegaram ao mundo o clássico “Blood Feast” (seguido do espetacular “Two Thousand Maniacs!” e “Color Me Blood Red”).

Para seu primeiro horror gore a dupla Friedman-Lewis rabiscou um argumento e chamou a roteirista Allison Louise Downe para fazer a ligação entre uma e outra cena. A história é mais ou menos essa aqui: Em Miami Fuad Ramses (Mal Arnold) tem um restaurante que fornece comida em festas. Pancada da cabeça, Ramses está preparando um ritual para trazer de volta a deusa Ishtar, a mãe das trevas, com uma solução contendo partes de cadáveres de mulheres mortas. Mero pretexto para mostrar a mais divertida série de assassinatos grotescos que o cinema teve até aquele ano. É uma orgia de sangue com inúmeras mutilações de vermelho denso e as investigações de um grupo de policiais palermas encabeçados pelo detetive Pete (William Kerwin usando o nome Thomas Wood), que passa a namorar Suzette (Connie Mason), objeto de desejo do ensandecido Ramses que terá uma morte esmagadoramente hilária.

Com efeitos gore elaborados pelo próprio diretor do filme, coisas simples como vísceras de animais, sangue de um vermelho vibrante falso, pedaços de manequins, “Blood Feast” surpreendeu o público ao estreiar em drive-ins de New York com o produtor Friedman distribuindo sacos de vômito ao público pagante. Na Flórida, com o filme prestes a estreiar, a dupla picareta tirou, intencionalmente, uma medida cautelar contra seu próprio filme a fim de gerar publicidade e o tiro foi certeiro: O público lotou as salas onde era exibido. “Blood Feast” rendeu muito dinheiro, mas é uma produção quase amadora onde nada foi levado a sério, tanto que paralelo ao lançamento do filme, Lewis lançou também o livro “Blood Feast” que é ainda mais humoristico e insano.

Herschell Gordon Lewis nasceu em 1929 em Pittsburgh, se mudando para Chicago quando adolescente e só fez filmes divertidos. Seu primeiro emprego foi numa agência de publicidade (o que explica suas bem boladas campanhas promocionais para os filmes) e, em seguida, dirigiu comerciais para a televisão. Seu primeiro filme, o drama “The Prime Time” (1959), foi também o primeiro longa produzido em Chicago desde 1910. Em seguida conheceu David F. Friedman e juntos realizaram “Living Venus” (1961), sobre um fotografo que tem uma revista de mulher pelada, tudo inspirado em Hugh Hefner, dono da “Playboy”. O filme rendeu uma boa grana e a dupla se dedicou a produção de inúmeros outros nudies, coisas como “The Adventures of Lucky Pierre” (1961), uma imitação sem talento do clássico “The Immoral Mr. Teas” (1959) do genial Russ Meyer; “Daughter of the Sun” (1962), sobre uma mulher que descobre ser nudista; “Nature’s Playmates” (1962), onde um detetive particular investiga um caso de desaparecimento num campo de nudismo e o divertido “Boin-n-g” (1963), onde, em exercício de metalinguagem, um produtor e um diretor de cinema inexperientes realizam testes com mulheres para a produção de um nudie movie. Nesta época a produção de filmes explorando nudez era tanta que a dupla resolveu apostar no então desconhecido território dos filmes gore exageradamente violentos com “Blood Feast”. Entre “Blood Feats” (1963) e “Two Thousand Maniacs!” (1964), a dupla ainda realizou mais três filmes: “Goldilocks and the Three Bares” (1963), um musical sobre cantores folclóricos num campo de nudismo; “Bell, Bare and Beautiful” (1963), sobre um jovem milionário que persegue uma stripper num campo de nudismo; e “Scum of the Earth” (1963), dramalhão sobre um fotografo e uma inocente jovem.

Com “Two Thousand Maniacs!” a dupla foi além no seu gosto pelo exagero, colocando um grupo de jovens numa cidade onde absolutamente todos os moradores são assassinos. “2000 Maniacs!” foi o segundo filme da chamada, posteriormente, “The Blood Trilogy” que fechou com “Color me Blood Red” (1965). Filmado em apenas 15 dias na cidade de St. Cloud, Flórida, com toda a cidade participando do filme (percebemos incontáveis figurantes do filme sorrindo de alegria por estarem trabalhando num filme) e algumas mortes, como a do barril com pregos colina abaixo, sendo boladas pelo filho de Lewis, então com 11 anos, a produção foi um enorme sucesso nos drive-ins americanos. Entre “2000 Maniacs!” e “Color me Blood Red”, outros três filmes foram feitos: “Moonshine Mountain” (1964), sobre um cantor country; o desconhecido “Sin, Suffer and Repent” (1965), que não consegui assistir; e o clássico “Monster a Go-Go” (1965), que conta a história de uma capsula espacial que volta para a Terra e o astronauta desaparece ao mesmo tempo que um monstro misterioso começa a atacar (na verdade era um filme incompleto que foi comprado e remontado por Lewis, lançando-o como seu). Depois do sucesso de “Color me Blood Red”, Lewis e Friedman se separaram e o diretor continuou se exercitando com sangueiras espetaculares como “A Taste of Blood” (1967), épico de quase duas horas de duração com um vampiro caçando os descendentes dos assassinos de Drácula; “The Gruesome Twosome” (1967), com um assassino tirando o escampo de suas vítimas; “Something Weird” (1967), que foi a inspiração para o nome da distribuidora Something Weird Video; “The Wizard of Gore” (1970), clássico do gore sobre o mágico que hipnotiza e mutila suas vítimas num palco diante uma platéia sedenta por violência e “The Gore Gore Girls” (1972), onde um jornalista investiga as mortes de strippers.

Entre uma e outra filmagem de seus filmes gores, Lewis fazia todo tipo de produções onde pudesse ganhar alguns trocados, assim realizou “She-Devils on Wheels” (1968), violento biker movie que rende ótimas gargalhadas involuntárias por conta de seu elenco canastrão; “Just for the Hell of It” (1968), drama envolvendo gangues de delinquentes junenis; “How to Make a Doll” (1968), onde um professor nerd cria maravilhosas fêmeas rôbos; e “The Year of the Yahoo” (1972), drama cômico sobre um cantor country que ajuda na campanha política de um senador. H.G. Lewis sempre financiou ele próprio seus filmes com dinheiro de sua bem sucedida agência de publicidade que mantinha em Chicago. Lewis também escreveu mais de 20 livros, entre eles “The Businessman’s Guide to Advertising and Sales Promotion”, onde ensinava como ganhar dinheiro. Em 2002 Lewis voltou a dirigir filmes justamente com a continuação de “Blood Feast” que se chamou “Blood Feast 2: All U Can Eat”, uma divertida comédia sangrenta sobre uma nova tentativa de realizar outro banquete para Ishtar.

David F. Friedman (1923-2011) quando adolescente se tornou projecionista de um cinema em Buffalo. Durante o tempo em que serviu no exército conheceu Kroger Babb (um dos pioneiros na arte de produzir exploitation movies, a maioria dos filmes dele são aqueles hilários filmes de educação sexual destinados ao público adulto) e acabou se interessando pela produção de filmes. Nos anos de 1950 fundou uma produtora de filmes exploitation lançando “Cannibal Island” (1956), sobre a vida e costumes dos povos primitivos (na verdade Friedman comprou o documentário “Gow the Killer” (1931) e o remontou para parecer um novo filme). No início dos anos 60 conheceu Herschell Gordon Lewis e mantiveram uma parceria de sucesso realizando, principalmente, nudie movies e gores de humor negro. Quando a parceria entre os dois chegou ao fim, Friedman se voltou ao mercado de sexploitations com filmes como “The Defilers” (1965) de Lee Frost, drama sobre uma mulher mantida como escrava sexual; “The Notorious Daughter of Fanny Hill” (1966) de Peter Perry Jr., sobre um puteiro; “She Freaks” (1967) de Byron Mabe, refilmagem disfarçada do clássico “Freaks” (1932) de Tod Browning, só que com tudo mal feito; “The Acid Eaters” (1968) de Byron Mabe, filme jovem sobre tomadores de LSD; “Space Thing” (1968) de Byron Mabe, sci-fi altamente erótica sobre gostosas alienígenas taradas onde algumas cenas explícitas já apareciam; “The Ribald Tales of Robin Hood” (1969) de Richard Kanter e Erwin C. Dietrich, que colocava o herói Robin Hood em contato com deliciosas mulheres; “Love Camp 7” (1969) de Lee Frost, onde duas agentes aprontava altas confusões eróticas numa prisão nazista; “The Adult Version of Jekyll and Hyde” (1972) de Lee Raymond, onde a história do “Médico e o Monstro” ficava mais apimentada; “The Erotic Adventures of Zorro” (1972) de Robert Freeman, onde Zorro tirava tudo menos sua máscara e cavalgava lindas mocinhas; “Ilsa – She Wolf of the SS” (1975) de Don Edmonds, nazixploitation violento que ele assinou com o pseudônimo de Herman Traeger; entre vários outros filmes que faziam a alegria dos marmanjos dos anos 60 e 70. Friedman foi um dos precursores da pornográfica explícita que tomou de assalto os cinemas américanos após o sucesso comercial de “Deep Throat/Garganta Profunda” (1972) de Gerard Damiano, chegando a ser presidente da Adult Film Association of America. Em 1990 ele publicou sua auto-biografia “A Youth in Babylon: Confessions of a Trash-Film King”, onde afirmava: “Eu realizei alguns filmes terríveis, mas não invento nenhuma desculpa para qualquer coisa que fiz. Ninguém nunca pediu seu dinheiro de volta!”. Em 2002, para fechar sua lenda com chave de sangue, foi o produtor de “Blood Feast 2: All U Can Eat” e, em 2005, do remake “2001 Maniacs” de Tim Sullivan (e também da continuação do remake, “2001 Maniacs: Field of Screams” (2010), também de Sullivan).

A roteirista de “Blood Feast”, Allison Louise Downe é mais conhecida como atriz de nudie movies, geralmente usando os pseudônimos Bunny Downe ou Vickie Miles. Apareceu em alguns filmes da lendária Doris Wishman, como “Diary of a Nudist” (1961) e “Blaze Starr Goes Nudist” (1962). Apareceu também nos filmes do período nudista de Lewis, como “Nature’s Playmates” (1962) e “Boin-n-g” (1963) e no drama “Suburban Roulette” (1968). Com o diretor Barry Mahon, outro lendário picareta do mundo dos nudie movies, deu as tetas e bunda em filmes como “Pagan Island” (1961), “Bunny Yeager’s Nude Camera” (1963) e apareceu, não-creditada, como a primeira vítima no clássico bagaceiro de Mahon, o ultra-trash cult “The Beast That Killed Women” (1965), sobre um gorila que ataca mulheres nuas num campo nudista. O casal de mocinhos de “Blood Feast”, William Kerwin e Connie Mason, eram casados na vidade real. Kerwin é conhecido por sua longa parceria com o diretor Lewis, ambos eram amigos e trabalharam juntos em “Living Venus” (1961) não parando mais. Outros filmes de destaque onde ele tem papéis são trasheiras como “Sex and the College Girl” (1964) de Joseph Adler; “House of Terror” (1973) de Sergei Goncharoff; “Barracuda” (1978) de Harry Kerwin e Wayne Crawford e “Porky’s 2” (1983) de Bob Clark, onde usou o pseudônimo de Rooney Kerwin. Apareceu em mais de 150 filmes, a grande maioria produções para a televisão. Sua esposa, Connie Mason, também fez inúmeros papéis em filmes e séries de TV. Recebendo crédito na tela só em “Blood Feast” e “2000 Maniacs”, ela foi figurante em filmes de Hollywood como “Diamonds are Forever/007 – Os Diamantes são Eternos” (1971) e “The Godfather 2/O Poderoso Chefão 2” (1974) de Francis Ford Coppola, renomado diretor de Hollywood descoberto por Roger Corman. Connie foi coelhinha da revista Playboy em junho de 1963. Para saber mais sobre Connie, leia “Connie Mason: Da Nudez ao Gore!

Em 1986 foi lançado “Blood Diner” de Jackie Kong, uma divertida refilmagem de “Blood Feast” que possuia um estilo de humor avacalhado que lembrava as produções da Troma. John Waters, fã confesso da obra de H.G.Lewis, lhe rendeu várias homenagens em seus filmes, como o título “Multiple Maniacs” (1970) que é inspirado em “2000 Maniacs!” e referências aos filmes de Lewis em produções como “Serial Mom/Mamãe é de Morte” (1994) e “Cecil B. Demented” (2000), homenagens que Lewis retribuiu em 2002 quando ofereceu à Waters o papel do reverendo que aparece em “Blood Feast 2”. A título de curiosidade: H.G. Lewis já esteve em Porto Alegre/RS dando uma série de palestras para empresários sobre como ser bem sucedido no mundo dos negócios, ninguém destes empresários tinha a menor idéia que estavam diante de uma lenda do cinema exploitation mundial.

por Petter Baiestorf.

Assista “Blood Feast” aqui:

Guerreiros do Kung Fu Sangrento

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“Dong Kai Ji” (“All Man Are Brothers” ou “Seven Soldiers of Kung Fu” ou “Os Sete Guerreiros do Kung Fu”, 1975, 102 min.) de Cheh Chang e Ma Wu. Com: David Chiang, Wai-Man Chan, Yang Chang, Chuan Chen, Feng Chen Chen, Kuan Tai Chen e Betty Chung.

A história inícia num bordel de luxo onde o imperador tem seu histórico encontro com o criminoso de guerra Yen Ching (David Chiang)  que lhe perde o perdão através de sua irmã, a puta preferida do imperador. Após o perdão, Ching se une aos 108 heróis do imperador que partem numa série de sangrentos ataques para retomar cidades que os rebeldes haviam tomado. Uma a uma as cidades vão sendo reconquistadas, até que o grupo de heróis se depara com a cidade de Yongjinmen, fortaleza impenetrável, protegida por altos muros e muita água. Dois voluntários são enviados para a cidade, o plano é abrir os portões de dentro para fora. Nas ruas da cidade os invasores são reconhecidos e uma sangrenta luta tem início, com muito sangue jorrando e braços decepados. Um dos heróis, conhecido como “O Temerário”, é ferido por uma espada que fica cravada em seu estômago e continua lutando como se nada tivesse acontecido, até o momento em que arranca a espada do próprio estômago e a usa como arma, banhando as ruas com muito sangue. Cada membro-líder dos 108 heróis do imperador , que são sete guerreiros experientes e invencíveis, lutam contra milhares de inimigos em inúmeras cenas hilárias, sempre gores, que vão se sucedendo, como quando “Tattooed Dragon” (Kuan Tai Chen) continua lutando com um punhal cravado no peito ou Li Shih-Shih (Betty Chung) tem a jugular do pescoço estraçalhada e, mesmo assim, continua massacrando soldados inimigos. Perto do final um dos líderes se sacrifica ao mergulhar no mar para abrir os portões marinhos que protegiam a cidade e, finalmente, os barcos do imperador conseguem invadir Yongjinmen, com uma luta final onde um dos heróis, depois de ter o braço decepado, continua lutando animadamente contra seus inimigos enquanto o sangue jorra quente e gostoso de seu corpo.

“Dong Kai Ji” é a continuação do clássico “Shui Hu Zhuan/The Water Margin/Seven Blows of the Dragon” (1972), também de Cheh Chang, desta auxiliado por Hsueh Li Pao. O filme tem seu roteiro inspirado na obra “Shuihu Zhuan/Outlaws of the Marsh”, escrita no século XIV e que se tornou um dos quatro romances clássicos da literatura chinesa. Neste filme há todo o charme de uma produção do Shaw Brothers Studios: Ação non stop, sangue jorrando (com aquela cor de tinta guachê), diálogos idiotas, roteiros com inúmeros furos, personagens superficiais nunca desenvolvidas e ritmo alucinado onde as cenas de luta sempre são impressionantes. Uma produção extremamente divertida, exageros físicos e heroísmo a la chinês, com seus imperadores sempre tirando proveito do povo ignorante (como ocorre em qualquer outra parte do mundo).

A Shaw Brothers foi fundada em 1924 em Cingapura. Foi o primeiro estúdio cinematográfico que rodou um filme sonoro em Hong Kong e se tornou o maior e mais importante estúdio no sudeste da Ásia. Cheh Chang (1923-2002) fez inúmeros filmes para os Shaw Brothers, clássicos como “Dubei Dao/The One-Armed Swordsman” (1967) e “Wu Du/Five Deadly Venoms” (1978). Em 1950 ele co-dirigiu o filme romântico “Alishan Feng Yun”, de Ying Cgang, baseado em seu próprio roteiro, que foi sucesso e lhe garantiu mais trabalho. Acabou dirigindo mais de 100 filmes e ficou conhecido como “o poderoso chefão de Hong Kong”. Tendo sido influênciado por Sergio Leone e os filmes de samurais japoneses, incorporou as lições aprendidas e criou filmes de estilo próprio. É influência confessa na carreira de gente como John Woo, Ringo Lam e o americano Quentin Tarantino. Outros sucessos deste fantástico diretor incluem “Da Jue Dou/The Duel” (1971); “Chou Lian Huan/Iron Man” (1972); “Fen Nu Qing Nian/Street Gangs of Hong Kong” (1973); “Shao Lin Wu Zu/Five Shaolin Masters” (1974); “Shao Lin Si/Shaolin Temple” (1976); “Lei Tai/Death Ring” (1983), entre vários outros. Ele foi co-diretor, não creditado, em “The Legend of the Seven Golden Vampires” (1974) de Roy Ward Baker, parceria entre Shaw Brothers e os ingleses da Hammer. Ma Wu (1942), que co-dirigiu “Dong Kai Ji”, começou trabalhando como ator (seus filmes mais populares no ocidente talvez seja a série “Sien Nui Yau Wan/A Chinese Ghost Story”, iniciada em 1987, com direção de Siu-Tung Ching e produção do lendário Tsui Hark). Em 1970 teve a oportunidade de dirigir o drama de ação “Nu Jian Kuang Dao/Wrath of the Sword”, estrelado por Ching Tang. No ano seguinte lançou o clássico “Long Ya Jian/Deaf Mute Heroine” (1971), que se tornou um grande sucesso. Dirigiu mais de 40 filmes e trabalhou como ator em mais de 250 produções. Na entrada do novo milênio o veterano Ma Wu migrou para as produções da televisão de Hong Kong.

“Dong Kai Ji” foi lançado em DVD no Brasil pela China Vídeo com o título de “Os Sete Guerreiros do Kung Fu”, com cópia da Celestial Pictures, empresa que sempre lança filmes com cópias aceitáveis.

por Petter Baiestorf.

Assista “Dong Kai Ji” aqui: