Um Beijo
Um Beijo
que tivesse um blue.
Isto é
imitasse feliz a delicadeza, a sua,
assim como um tropeço
que mergulha surdamente
no reino expresso
do prazer.
Espio sem um ai
as evoluções do teu confronto
à minha sombra
desde a escolha
debruçada no menu;
um peixe grelhado
um namorado
uma água
sem gás
de decolagem:
leitor embevecido
talvez ensurdecido
“ao sucesso”
diria meu censor
“à escuta”
diria meu amor.
poesia de Ana Cristina Cesar.
Ana Cristina Cruz Cesar (1952-1983) antes mesmo de aprender a ler, aos seis anos de idade, já editava poemas para sua mãe. Em 1970 começou a divulgar seus próprios poemas em jornais alternativos, fanzines mimeógrafados e outras publicações independentes. Aos 31 anos cometeu suicídio atirando-se pela janela do apartamento de seus pais que ficava no oitavo andar.
Certa vez ela afirmou:
“Mantê-la mantê-la a todo custo
eu ainda sei ler, minha mãe
eu ainda sei ler, meu pai
estou mantendo ainda
ainda tenho algumas horas no dia
ainda sonho em fazer canções
e mesmo quando me apaixono insanamente
e desejo fontes de juventude boca a boca
(na praça clóvis minha carteira foi batida)
e mesmo quando endoideço aos vôos flutuantes perseguida por
galgos que me brincam e acalantam minha insônia
forçada de doideira
(chega um pouco pra lá, meu amor, se afasta um pouco)
e mesmo quando as lentes se perdem (e as palavras)
ainda sei ler, meu pai
ainda sei ler, minha mãe
ainda sei dizer: queimo,
e não arder simplesmente.”
This entry was posted on outubro 28, 2012 at 11:11 am and is filed under Literatura with tags ana cristina cesar, anos 70, geração mimeógrafo, literatura brasileira, literatura de boteco, malditos, poesia brasileira, poesia marginal, poesia para bares, poetas kamikazes. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site.
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