Por um Bom Motivo Danço Sozinho até o Sol Murchar
As únicas coisas com as quais gasto dinheiro e não me arrependo são livros e bebida, já o resto não me interessa tanto assim. Eu, um perdedor social que escreve para outros perdedores – já incluindo você que me lê – digo alto, todas as noites, o meu cala boca Maldoror, cala boca Raskólhnikov, cala boca Bandini, cala boca Chinaski. Não sou tão maldito quanto vocês, mas já gritei alto a frase: “Se o mundo fosse perfeito o Vaticano já teria sido derretido para ajudar a diminuir as diferenças sociais !!!”.
Sim, já gritei essa frase alto e ninguém ouviu e os que ouviram falaram baixinho que era melhor não dar atenção para o idiota que gritava sozinho. “Mas desde quando alguém precisa se importar com o que penso!”.
E naquele dia mesmo fui para a casa de uma quarentona mais ou menos bonita, carnuda não-gorda, de bunda polpuda e seios fartos, uma mulher desiludida com seu casamento e com seu marido. Também, essa mulherada casa com o primeiro estúpido que aparece e depois só decepções: filhos, marido ausente, crises psicológicas, medo da traição e, a pior, crise financeira. A terrível crise financeira responsável pelo rompimento dos amantes. E aí elas procuram caras desocupados como eu, que não sou bonito, mas que sou diferente e é essa diferença que faz com que as quarentonas me procurem. Elas estão em busca de uma aventura onde podem trepar e conversar, coisa impossível com seus maridos. E eu fui com todas as quarentonas desiludidas que me chamaram. E conversamos e trepamos e rimos gostoso. E sempre voltei para casa pensando em como as coisas acabam assim, elas com seus maridos vegetais que assistem televisão toda noite, sempre pensando em como conseguir um tempo livre com malditos estranhos diferentes e eu solitário, me enchendo de bebida e escrevendo alucinado sobre experiências que simplesmente deveria esquecer, enterrar junto das utopias que persigo para melhorar um mundo que trata os estranhos diferentes como se fossem os novos leprosos. Ateu, Anarquista, Surrealista, Autodidata e totalmente Dadaísta, até dá prá entender porque sou tratado como um leproso incurável. E vamos envelhecendo e o planeta segue seu curso e não mexemos um dedo para tentar mudar as coisas que nos atormentam. E quando nos mexemos para tentar mudar alguma coisa nos imobilizam as ações e amputam nossos braços, pernas, língua, olhos, ouvidos e, como bons malditos, continuamos nos rastejando nas sarjetas sempre deixando nosso sangue, suor, sêmen, saliva, mijo, merda espalhados para sujar a paz do mundo das aparências bem comportadas e limpinhas da sociedade burguesa. E nosso sorriso de satisfação, mesmo após quebrarem todos os nossos dentes, eles não tem como evitar, não tem como apagar de nossas faces felizes, ousadas, incômodas.
por Uzi Uschi, lá por 2004.
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