“Don Dorakyura” (“Don Drácula”, 1982, 8 episódios, TV) de Ozamu Tezuka, com direção de Masamune Ochiai.
A Cultclassic lançou a imperdível série “Don Drácula” no Brasil, com todos seus oito episódios (estava programado a produção de 26 episódios, mas a falência da agência que cuidava da publicidade da série, aliado a audiência baixa, causaram o precoce cancelamento da série) que se tornaram cults da televisão mundial.
Com direção de Masamune Ochiai, “Don Dorakyura” é uma série hilária com vários momentos bem comoventes. Suas personagens são cativantes, à começar por Don Drácula, um vampiro que adora sugar o sangue de mulheres bonitas, e sua filha Chocola (Sangria, na versão nacional) que sempre age como a consciência de seu atrapalhado pai. Van Helsing, um baixinho invocado que quando tenso sofre de terríveis ataques de hemorroidas, é seu arqui-inimigo; Igor (como não poderia deixar de ser) seu servo e Blonda, uma gorda repulsiva, a mulher apaixonada por Don Drácula que, por sua vez, evita-a mais do que a cruz e o alho.
Destaque para o primeiro episódio, “O Caçador Chegou”, que introduz Van Helsing e seus problemas com as hemorroidas. Em tom de esculacho completo é um prato cheio até para os mais radicais fãs de John Waters dado suas incontáveis piadinhas escatológicas, perfeito para descontrair e gargalhar alto com as trapalhadas nonsense do vampiro doidão. O episódio “O Gigante Que Vendeu Sua Alma” trás uma variação da história do “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde e apresenta ao espectador o passado da gorducha Blonda. Em “A Aliança dos Monstros” somos apresentados aos métodos pouco ortodoxos de Van Helsing em um episódio com nudez feminina e monstrengos na melhor tradição do “Monstro da Lagoa Negra” (“Creature From the Black Lagoon”, 1954, de Jack Arnold). E o melhor episódio, “A Grande Trapaça”, que possuí um tom mais sério do que o resto da série e faz uma denuncia às crianças ao mostrar que humanos adultos são os verdadeiros monstros do mundo. Impossível não se emocionar com a história de Sangria ajudando um filhote de tigre e um panda a fugirem de caçadores imbecis. Pessoas sensíveis devem assistir este episódio e aproveitar o poder rejuvenescedor das lágrimas.
Don Drácula surgiu nas páginas da revista em quadrinhos “Weekly Shonen Champion”, que começou a ser publicada em 1969, especializada no gênero “Shonen” (que é um mangá direcionado aos jovens do sexo masculino, sempre com enredos humorísticos, cenas de ação e a presença de belas personagens femininas nuas ou semi-nuas). Seu criador, Osamu Tezuka, é uma lenda dos quadrinhos mundiais. Nascido em 03 de novembro de 1928, em Toyonaka (na província de Osaka), foi educado por seu pai – que tinha um projetor de filmes – à amar o “Gato Félix”, “Betty Boop” e os animadores Max Fleischer e Walt Disney. Nos anos de 1950 se mudou para Tokyo onde teve a oportunidade de criar “Jungle Taitei” (no Brasil, “Kimba – O Leão Branco”), que em 1994 foi plagiado pela Disney quando produziram o longa “The Lion King/O Rei Leão”. Com o sucesso desta personagem pôde criar seu próprio estúdio, a Tezuka Osamu Production. Em 1963 seu anime “Tetsuwan Atom/Astro Boy” se tornou uma sensação na TV japonesa e ele, definitivamente, virou lenda. Apesar de sua morte ter acontecido em 1989, Tezuka continua vivo em inúmeras produções envolvendo personagens suas, como “Black Jack” (2000) de Yukihiro Tsutsumi; “Metoroporisu/Metrópolis” (2001) de Rintaro (lançado em DVD no Brasil pela Columbia Tristar Home Video); “Astro Boy Tetsuwan Atomu” (série de televisão de 2003) e a mega bomba “Astro Boy” (2009), ruindade dirigida pelo ocidental David Bowers, que em seu currículo só possuí lixos como “Flushed Away/Por Água Abaixo” (2006) ou “Diary of a Wimpy Kid: Dog Days/Diário de um Banana 3: Dias de Cão” (2012).
No Brasil “Don Drácula” foi exibido na década de 1980 na TV Manchete com dublagem em português, nos privando do áudio original em japonês que, com este lindo lançamento da Cultclassic, volta intacto. Sou contra dublagens (que são um poderoso instrumento de controle do nacionalismo muito usada por governos fascistas que desejam seu povo acomodado).
por Petter Baiestorf.
Você pode ver todos os episódios de “Don Dorakyura” aqui: