Aqui você encontra o que rola de melhor no mundo underground e espaço pra o tipo de arte que tenha algo interessante a dizer e mereça ser descoberta, apreciada e/ou resgatada. Se você quer ficar informado sobre festivais, shows, mostras, lançamentos e exposições que acontecem pelo mundo underground, se interessa por cinema independente, sons extremos e curiosos, arte erótica, fetiches variados, putaria da boa, bebidas, culinária vegetariana, HQs, resgate cultural, zines, filme B, anarquia, pensamento libertário, atéismo e senso de humor crítico, siga o Canibuk, o blog que tem a MEGALOMANIA como palavra de ordem!
Alguns meses atrás o poster da primeira sessão de cinema da história foi leiloado em Londres por 40 mil libras (mais ou menos 200 mil reais). Este primeiro poster (reprodução abaixo) foi desenhado por Henri Brispot para uma exibição especial dos primeiros curtas dos irmãos Lumière, em dezembro de 1895.
Originalmente criados para uso exclusivo dos cinemas, não demorou muito para que os posters logo virassem item de colecionadores, principalmente artes criadas para filmes exploitations, sempre com cartazes muito mais criativos do que os próprios filmes, e, também, as artes produzidas para a divulgação de produções de horror e ficção científica. Inclusive, o preço record já pago por um único cartaz pertence à sci-fi Metropolis (1926), de Fritz Lang, negociado por 690 mil dólares.
Inicialmente os posters eram feitos no tamanho dos cartazes usados para a divulgação dos shows de Vaudeville. Quem definiu o tamanho padrão foi Thomas Edison, com as medidas de 27″x41″, em folha única fixada nas fachadas e paredes dos cinemas.
Para comemorar os posters de cinema, upei um arquivo com 2.592 cartazes de cinema nos gêneros horror e Sci-Fi, a maioria com artes belíssimas e dignas de serem festejadas como pequenas obras-primas da criatividade humana.
A história da maquiagem gore no Brasil é bem recente, tem seus primórdios no SOV da década de 1990, com artistas como Júlio Freitas, Ricardo Spencer e Carli Bortolanza em seus trabalhos em vídeo pela Canibal Filmes. Só no século XXI que o país começou a ganhar grandes artistas dos efeitos melequentos e corpos dilacerados que levaram os efeitos sangrento para outro patamar. Em 2008 Rodrigo Aragão surgiu como o principal nome com seu “Mangue Negro”, junto de artistas como Kapel Furman que, em São Paulo, já estava realizando muitas maquiagens extremas. No sul surgiu Ricardo Ghiorzi e Caroline Tedy, ambos realizando maquiagens lindas. Em Vila Velha surgiu Alexandre Brunoro, que agora também está se especializando em fazer máscaras e próteses e acabou de lançar seu último trabalho, “Você, Morto”, com direção de Raphael Araújo. No Rio de Janeiro Jorge Allen é outro nome cujos trabalhos merecem ser visto. Em Goiânia Hérick João tem realizado make-ups ótimas e tive o privilégio de dirigi-lo no curta “Beck 137” e o cara é rápido sob pressão.
Um novo nome para ficar atento é Alice Austríaco (pretendo trabalhar com ela e Alexandre Brunoro no meu próximo filme), da cidade de Contagem/MG, pertinho de Belo Horizonte. Alice é assistente social formada pela Universidade Una, área em que atuou por dois anos, até que percebeu que não precisa de um emprego formal e que poderia se dedicar em tempo integral para as artes. Formada também em artes gráficas pela Escola Saga, além de maquiadora gore, também tatua, faz ilustrações e desenha roupas.
No momento Alice está realizando as maquiagens gore de um projeto fotográfico envolvendo crianças zumbis em situações de extrema violência, que também deverá se tornar um curta-metragem. Para falar mais sobre este trabalho, entrevistei Alice Austríaco.
Alice Austríaco
Petter Baiestorf: Como surgiu seu interesse por efeitos e maquiagens gore?
Alice Austríaco: Como qualquer criança a influência dos pais foi agente principal pra construção da personalidade e dos gostos, assim a paixão pelo cinema surgiu de forma natural e praticamente imperceptível. Minha mãe admiradora dos grandes romances clássicos e, meu pai, um grande entusiasta do cinema Western, me ensinaram o valor e a importância do cinema ainda quando eu era bem nova. Era hábito alugar algumas fitas durante o final de semana e foi em um desses dias que tive meu primeiro contato com o gore, aos nove anos de idade. Me lembro bem do “moço da locadora” (como eu o chamava) me recomendando Evil Dead (1981), não sei se com a intenção de me assustar, mas, se foi, não deu muito certo. Me apaixonei. Desde então filmes carregados de efeitos e maquiagens gore se tornaram prioridade, despertaram em mim curiosidade e o sentimento de um cinema repleto de possibilidades e sentimentos. Já mais velha, em contato com alguns filmes, incluindo O Monstro Legume do Espaço que tenho enorme apresso, desenvolvi o interesse pela parte técnica e busquei estudar e compreender o cinema atrás das câmeras, me encantando pela maquiagem. Programas como o Cinelab também fizeram parte desse processo e me mostraram alternativas baratas para o que, até então, parecia impossível.
Alice realiza seus testes de maquiagem em si própria
Baiestorf: Algo que adoro em suas maquiagens e testes gore é a pegada sujona que você imprime a elas. Quais são suas inspirações, tantos nacionais quanto internacionais?
Alice: Minhas inspirações são variadas, Lua Tiomi que é uma maquiadora sensacional e trabalha com muita delicadeza, Mimi Choi que, apesar de ser especialista em Bodypaint (que não é o meu estilo), me inspira bastante, Dick Smith e Greg Nicotero, que são grandes nomes internacionais, me inspiram e uso de referência pra muitos dos meus trabalhos. Entretanto, acredito que o aspecto “sujo” seja uma identidade própria, quase como uma assinatura que desenvolvi ao longo do tempo e tem muito da estética que eu considero bonita no gore.
Baiestorf: Efeitos e maquiagens práticas ou digitais? Ou uma harmonização entre os dois estilos usando o melhor de cada técnica?
Alice: Ainda que eu tenha me inserido no mundo do cinema tardiamente, em que os efeitos digitais já estavam mais comuns, minha preferência sempre será pelas maquiagens e efeitos práticos. Acredito que, dessa forma, toda a produção fica mais orgânica e impactante. Não abomino o uso dos efeitos digitais e sei da sua importância, mas se possível que seja usado por necessidade e não como principal ferramenta na produção. Acredito também que o efeito prático envolve o set numa atmosfera divertida, gerando um resultado final real e vívido.
Baiestorf: Você testa bastante, inclusive utilizando de materiais baratos e fáceis de encontrar. Como funciona seu processo de criação?
Alice: Testar maquiagens é uma das coisas que mais gosto de fazer no dia a dia. A necessidade de usar materiais baratos veio da intenção de produzir sem dinheiro, através desses testes aprendi que é possível usar qualquer material e conseguir um resultado interessante. Comecei usando papel higiênico de qualidade duvidosa, garrafas de plástico, guache e até tinta aquarela que eu havia guardado de um trabalho de pintura em papel. A partir daí comecei a testar farinha, café, beterraba e qualquer outra coisa que fosse possível extrair cor ou uma textura que fosse necessária no momento. Também uso material específico para maquiagem, mas sei que em qualquer situação de necessidade, após uma feira e uma ida ao mercado, consigo fazer um gore impactante e, o mais importante, gastando pouco. Já o processo de criação sempre vem de formas variadas. Quando é um trabalho que o cliente tem exatamente o que quer em mente, geralmente busco imagens reais (um ferimento, por exemplo) e, apesar de desconfortável, busco enxergar os detalhes e reproduzir de maneira fiel. Já quando tenho liberdade de criação, costumo fazer uns storyboards mal feitos, apenas pra que eu não esqueça o meu objetivo, uma vez que, quando me empolgo, começo a fazer muita coisa e me esqueço da principal intenção e o que era pra ser uma ferida pequena se transforma numa autópsia completa. Além disso, independente do que seja o trabalho eu sempre testo em mim, primeiro porque acho necessário ajustar detalhes e compreender o que pode ou não ser feito no dia da produção e segundo porque gosto de saber como o modelo/ator vai se sentir no dia e até onde posso ir sem que se torne desagradável para quem estiver sendo maquiado.
Baiestorf: Como é o espaço em MG para trabalhar com maquiagens gore e cinema de gênero? Há espaço?
Alice: Em Minas Gerais infelizmente o gore ainda é pouco explorado, existe um carinho pelo cinema documental por aqui, principalmente em Belo Horizonte. Já o gore é pouco considerado, o público além de ser muito específico não busca fomentar o gênero, assim os locais públicos que fazem mostras de cinema raramente trazem a temática e reproduzem esses filmes. Por isso não existe espaço para quem deseja trabalhar na área. O lado bom disso é que onde não tem espaço, é possível criar um, e isso tem sido um fator motivacional para prosseguir – mesmo que exista uma vontade de ir para São Paulo, ainda acredito que seja possível começar a movimentar as coisas por aqui, em MG. Outro aspecto que venho observando é que o impacto que o gore causa torna os profissionais envolvidos temerosos quanto as suas participações. Muitos ficam receosos de se envolverem com o gênero e receberem julgamentos desagradáveis, afinal, o gore pode trazer desconforto e sempre vai ter alguém para apontar e achar tudo isso um absurdo, até mesmo usar de preceitos religiosos para fazer críticas ácidas e desproporcionais, o que já aconteceu e exigiu bastante jogo de cintura para contornar a situação. Optar por trabalhar com isso em Minas Gerais é assumir riscos, passar por julgamentos e ter que buscar outras maneiras de ter uma renda minimamente aceitável, uma vez que o retorno financeiro é pouco, mas confesso que tem sido muito prazeroso esse processo e tenho conhecido pessoas sensacionais, empenhadas e dispostas.
Baiestorf: Você esteve participando do Cinelab Aprendiz. Pode contar como foram as gravações? Como foi trabalhar com o Kapel, Armando e Raphael?
Alice: O Cinelab Aprendiz foi um divisor de águas e me impulsionou a tomar decisões que vêm mudando o meu rumo profissional desde então. As gravações aconteceram em São Paulo, cidade que havia visitado uma única vez e não conhecia absolutamente nada. Foi um risco que resolvi correr e, apesar da timidez, compreendi que seria necessário enfrentar, uma vez que me enriqueceria não somente no âmbito profissional, mas também pessoal. Todos os dias de gravação foram intensos e os programas exigiam, além de conhecimento na maquiagem, uma necessidade de conhecer também um pouco de cada função desempenhada no set . Tudo isso fez com que eu aprendesse e explorasse tudo o que sabia e não sabia, aprendi muito com meus companheiros de equipe e até mesmo das equipes adversárias, existindo ali um clima de companheirismo e uma troca intensa de saberes. Conhecer os mentores, Kapel, Armando e Raphael, foi o real prêmio pra mim, uma vez que são pessoas que já nutria uma admiração absurda, não só por causa do programa, mas também por seus projetos, dos quais acompanhava muito antes de participar do reality show. Os três estavam empenhados em nos ajudar e ensinar o que fosse necessário para que pudéssemos desenvolver e aprender. Aproveito o espaço para agradecer o Raphael Borghi, que foi o meu mentor durante as gravações e me ensinou muito. Todas as dicas que me passou vêm sendo colocadas em prática constantemente, inclusive foi fundamental para que eu reafirmasse meu senso de coletividade e me mostrou a necessidade de ter sempre comigo uma equipe coesa, que acredita minimamente nas mesmas coisas que eu, de forma que qualquer trabalho seja prazeroso e respeitoso com todos os envolvidos. Contudo, saí do programa empenhada a trabalhar com cinema, desenvolver projetos e me dedicar ainda mais à maquiagem, especificamente com o gore.
Baiestorf: Algum história envolvendo os efeitos/maquiagens durante o Cinelab Aprendiz que você possa contar?
Alice: As maquiagens eram sempre feitas na pressa por causa do tempo das provas e eu sempre saía com o sentimento de que poderia ter feito melhor, mas em uma das provas a equipe resolveu se dedicar integralmente na caracterização e todos estavam focados em fazer o melhor possível. Gabriel Niemietz e eu ficamos durante toda a prova dedicando à maquiagem de extraterrestre que foi feita no Gustavo Saulle que, no final, ficou irreconhecível. Essa maquiagem foi feita com papel higiênico e látex que, com ajuda de um soprador térmico, secou a tempo para que pudéssemos pintar de verde. Fazer isso foi extremamente desgastante ao Gustavo que ficou com dificuldades de respirar em alguns momentos devido ao cheiro forte do látex, o que nos levou a improvisar um canudo que colocou na boca, a fim de aliviar e facilitar a respiração dele. Durante essa prova recebemos o desafio surpresa de realizar também um estripamento e, desesperada por causa do tempo, no momento em que fui montar o efeito cortei o microfone de lapela que estava presa ao corpo do Gustavo. Isso apenas me mostrou a importância de não deixar o desespero e a pressa me guiarem. Confesso que hoje dou risadas do episódio, mas no dia fiquei em pânico.
Alien do Cinelab realizado por Alice e companheiros de equipe.
Baiestorf: Como foi sua percepção quanto ao mercado paulista de vídeo?
Alice: Tive um choque com a diferença do mercado e do interesse das pessoas em produzir em relação à Minas Gerais. No pouco tempo que estive em São Paulo conheci pessoas maravilhosas que estavam empenhadas em colocar “a mão na massa” (ou no sangue, nesse caso) e me convidaram para participar de projetos independentes, trabalhar e manter estadia em São Paulo. Ainda acredito que seja um objetivo e sei que terei mais facilidade em me dedicar na área, mas tudo precisa de planejamento e isso requer uma atenção e cuidado, considerando que o mercado da arte (que nunca foi valorizado), tende a oscilar e decisões precisam ser tomadas visando também o futuro. A maior diferença que encontrei é o risco que as pessoas estão dispostas a correr para colocar um projeto em prática, mesmo que seja assustador ou chocante, o mercado paulista não se inibe. Talvez pelo gore ser mais explorado ou por ser uma cidade com um público diverso, de forma que sempre haverá consumidor pra qualquer gênero que seja, ainda que cause estranheza em muitos lugares.
Baiestorf: Você tem feito maquiagens em vídeo clips, pode falar deles?
Alice: Trabalhar com vídeo clips tem sido uma experiência maravilhosa. Como o mercado pro gore no cinema ainda é escasso em Belo Horizonte, os clips são uma forma de apresentar às pessoas essa possibilidade e mostrar também que o gore pode ser usado de diversas maneiras. O trabalho nesse sentido se difere de um curta, por exemplo, por ser muito rápido. Em um dia tudo tem que estar pronto e geralmente no mesmo dia que começa, termina. São trabalhos rápidos, mas que exigem muita colaboração do set e cumplicidade dos envolvidos, inclusive da banda que está focada na sua parte e precisa confiar nos demais e, principalmente, na maquiagem. Só assim o trabalho consegue ser desenvolvido de maneira fluida e resultar em algo que agrade os fãs da banda, os músicos e as demais pessoas que trabalharam na produção.
Baiestorf: Você está realizando um ensaio fotográfico, em parceria com o artista Maxwell Vilela, que envolve crianças interpretando zumbis em situações de extremo gore. Como está sendo a realização deste trabalho? Pode contar situações dos bastidores?
Alice: A ideia surgiu de uma conversa despretensiosa e foi se transformando conforme desenvolvíamos o diálogo. Trabalhar com o Max é sensacional, assim como toda a equipe presente (Cadu Passos e Éric Andrada), que são pessoas dedicadas e empenhadas. Tive muita liberdade pra desenvolver a maquiagem desse projeto, as ideias foram tomadas junto com o Max, mas toda a identidade, o sangue e a construção foram pensadas por mim, onde pude desenvolver uma maquiagem agressiva, mesmo que tenha sido feita em uma criança de 9 anos, a Ayla. A pequena modelo demonstrou muita personalidade ao abraçar a ideia e não se incomodou com o sangue ou até mesmo pelo fato de ter seu coração “arrancado” de seu corpo. A foto abaixo foi feita em um parque público e, como imaginávamos, as pessoas naturalmente se espantaram, até então era compreensível, afinal, não é sempre que você encontra uma garotinha segurando o próprio coração por aí, o incômodo real surgiu dos comentários infelizes de algumas senhoras que usaram a religião de subterfúgio para proferir comentários ácidos sobre o trabalho (como dizer que ela estava horrível, que aquilo não era de Deus e coisas mais absurdas), o que gerou um desconforto não só na equipe, mas também na Ayla, que decidiu encerrar e darmos continuidade em outro momento. Temos como objetivo chocar, causar estranheza, mas acima de tudo questionar a adultização da infância, uma vez que maquiagens pesadas em garotinhas, sexualização, privação da infância dentre outras coisas são naturalizadas e não assustam. Destruir a idealização da princesinha encantada foi um objetivo comum e, com certeza, alcançado.
Baiestorf: Quando e onde sairá este ensaio?
Alice: Todos os envolvidos são artistas multitarefas a fim de manter a subsistência, por isso as datas são incertas, precisamos terminar o que começamos e pra isso temos a necessidade de abrir mão de trabalhos rentáveis, mas temos planos para lançar isso em breve! Inclusive novas ideias surgiram nesse processo e, com certeza, esse projeto se tornará maior do que a proposta inicial. De inicio vamos expor onde nos couber, pensamos em expor uma das fotos no metrô de Belo Horizonte o que causará um impacto em quem passa diariamente por lá e as vezes fica alheio ao meio. Talvez seja o momento de sacudir e chocar um pouco.
Baiestorf: Além do ensaio será editado também um curta? Pode falar sobre isso?
Alice: O curta tem sido um exemplo do cinema de guerrilha. Sem verba, sem uma grande equipe, mas muita motivação e esforço pessoal de cada envolvido. O acordo é que manteríamos suspense, por isso só posso adiantar que vai ter muito sangue. Tem sido um processo divertido, mas sujo!
Baiestorf: Além de maquiadora você também realiza ilustrações, tatua e cria roupas. Como é conciliar tudo no seu dia a dia?
Alice: As pessoas tendem a padronizar comportamentos, profissões e até a rotina se faz necessária. Por causa dessa construção demorei a compreender que é sim possível fazer tudo o que tenho vontade, basta ter organização e paciência, já que às vezes as coisas parecem sair um pouco do controle. Contudo, trabalhar com arte requer jogo de cintura e quase te obriga a explorar novas áreas, de maneira que seja possível ter um retorno financeiro aceitável. O que torna tudo mais prazeroso e possível é que são trabalhos dos quais tenho liberdade de horários, flexibilidade de organização e remanejamento. Acredito sim na possibilidade de trabalhar com aquilo que ama e, mesmo que sejam muitas tarefas, nada é desgastante, mas sempre muito divertido. Me envolver em áreas distintas permite que eu conheça muitas pessoas e aprenda diariamente, cada conhecimento adquirido pode auxiliar em outros projetos e, desta forma, sinto que consigo estabelecer uma conexão entre todas as áreas que resolvi me envolver.
Baiestorf: Algum projeto envolvendo ilustrações?
Alice: Constantemente projeto ideias para as ilustrações, mas ironicamente elas nunca saíram do papel. Imagino mil possibilidades com as ilustrações, mas nunca consegui estruturar algo para elas, senão me auxiliar na tatuagem, encomendas ou alguns storyboards mal feitos, dos quais esboço de forma bem simplista as maquiagens que tenho que fazer. Algumas anotações que faço costumam acompanhar pequenos esboços e rabiscos, que foi uma forma que encontrei de memorizar tarefas e me organizar no dia a dia. Tenho a pretensão de desenvolver algum projeto voltado para as ilustrações, mas ainda preciso pensar a respeito.
Baiestorf: Você ainda não está trabalhando com látex e animatrônicos em seus projetos, certo? Algum plano, ou testes, nessa direção?
Alice: Os trabalhos com látex e animatrônicos tem sido o meu principal objetivo na maquiagem, venho estudando e testando as próteses de látex e glicerina, o que tem gerado bons resultados. Já sobre os animatrônicos ainda não tive oportunidade de começar a desenvolver, mas pretendo até o final do ano ter dado início aos estudos e testes, de maneira que, em 2019, eu consiga me dedicar integralmente às maquiagens.
Baiestorf: Como o pessoal faz para acompanhar seu trabalho?
Baiestorf: Como te contratar para futuros projetos?
Alice: Sempre respondo todos através das redes sociais, mas para trabalhos e afins disponibilizo o e-mail: aliceaustriaco@gmail.com
Baiestorf: Alice, gostaria de te agradecer pela entrevista. O espaço é seu para falar sobre algo que eu não tenha perguntado.
Alice: Petter, gostaria de agradecer o espaço e a consideração por mim e pelo meu trabalho. Suas produções sempre me motivaram, principalmente em trabalhar com o gore, me mostrando que é sim possível valorizar o gênero em solo nacional. Seus trabalhos construíram parte da minha identidade dentro da maquiagem e sigo me espelhando e aprendendo constantemente com o que me oferece. É uma grande honra fazer parte disso e ter essa oportunidade. Muito obrigada!
Dica de Alice:
ingredientes para a massa:
Vaselina sólida
Pó compacto da cor desejada
Amido de Milho
para o sangue:
Glucose de milho
Corante em pó vermelho
Corante em pó marrom (ou achocolatado em pó)
Corante em pó preto
modo de preparo:
Em uma vasilha acrescente duas colheres de vaselina sólida, pó compacto em pequena quantidade (até que alcance a cor desejada) e, aos poucos, o amido de milho. A consistência final é uma massa moldável e firme.
Para o sangue basta misturar na glucose de milho, o corante vermelho e, aos poucos, acrescentar o corante marrom. As quantidades podem variar de acordo com a cor desejada pela pessoa, por isso é necessário acrescentar todos os ingredientes devagar, sempre misturando e conferindo a cor.
Espalhe a massinha e, com ajuda do dedo úmido, molde de acordo com o formato do corpo. Com um lápis ou palito úmido faça pequenos furos na massa.
Com um pincel espalhe o sangue por toda a massa de maneira desuniforme, deixando alguns pedaços sem e outros buraquinhos que foram feitos com o lápis preenchidos de vermelho. Por fim, com o auxilio de uma esponja úmida, dê pequenas batidinhas por toda a maquiagem com o corante em pó preto, até que chegue a um resultado satisfatório.
Pouco mais de um mês atrás fui exibir meus filmes no Festival Maledetta Notte em Teutônia/RS e conheci o Maurício da Silva da Blasphemic Art Distribuidora, de Carazinho/RS. Batendo papo sobre nossas produções, comentei sobre uma série de entrevistas que estava realizando com artistas gráficas e ele sacou o celular e me mostrou o trabalho fantástico que Vanessa Arendt realiza. Saí do festival com a certeza de que tentaria entrevistá-la para divulgar seus trabalhos aqui no blog.
Vanessa é autodidata, começou a desenhar como hobby e, pela insistência de amigos e familiares, começou a aceitar encomendas de retratos realistas ou caricaturas. Nas palavras dela: “Assim fui aprimorando minhas técnicas a cada pedido e cultivando um desejo cada vez maior de transformar o hobby em uma profissão para a vida toda.”
Mesmo tendo vivenciado experiências em outras áreas profissionais, sempre continuou com a produção de ilustrações, pinturas e caricaturas. Vanessa completa, “E por aprender que felicidade e realização só se conquistam fazendo o que se ama, hoje me dedico integralmente às artes, trabalhando com encomendas e criações autorais, proporcionando sempre obras únicas com atendimento personalizado.”
Não deixe de acompanhar a arte de Vanessa via redes sociais como facebook ou instagram e, se gostar, faça suas encomendas.
Vanessa Arendt
Entrevista com Vanessa Arendt:
Petter Baiestorf: Gostaria que você contasse como começou seu interesse pela arte e, também, sobre seus primeiros trabalhos.
Vanessa Arendt: A arte sempre esteve presente em minha vida. Começou como a brincadeira preferida na infância e naturalmente foi se tornando uma profissão na medida em que chamava a atenção das pessoas a minha volta. Os primeiros pedidos foram de retratos a grafite e pinturas a óleo. Mais tarde comecei a trabalhar também com caricaturas e ilustrações para diversos fins.
Baiestorf: Sua arte sofre influências de quais artistas e escolas estéticas. Fale o que te atrai neles, se quiser falar sobre os porquês seria muito interessante.
Vanessa: Sempre busquei pelo realismo. Queria dominar proporção, anatomia, profundidade, reproduzir efeitos de iluminação no objetivo de chegar cada vez mais próximo do real. As Pinturas clássicas e renascentistas como as de Leonardo Da Vinci foram as primeiras que me inspiraram. Admiro de artistas que conseguem captar detalhes que passam despercebidos ao olhar comum, às vezes até emoções, trazendo um realismo impressionante. E admiro mais ainda aqueles que conseguem associar essa habilidade com criatividade, criando obras únicas e com personalidade. Alguns exemplos são Emanuelle Dascanio, Guillermo Lorca e Gottfried Helnwein.
Raven
Baiestorf: Você está aberta a todo tipo de trabalho ou gostaria de se especializar somente em uma área? Porque?
Vanessa: Não gosto de limitar minhas criações. Faço tudo o que tenho vontade, gosto criar sempre algo novo e tento atender às diferentes necessidades dos meus clientes. Mas se surge um pedido que exija uma técnica que eu não domine ou uma ideia de algo que vejo que não vai ficar bom, obviamente não irei aceitar; pois o comprometimento com a qualidade, com um trabalho que agrade ao cliente e que me represente positivamente é essencial.
Baiestorf: Conte sobre suas exposições e como produtores poderiam levá-la para suas cidades/estados.
Vanessa: Já fiz exposições individuais e coletivas. Mas sempre com parcerias, não tenho recursos para organizar uma exposição por conta própria, então sempre que posso aproveito as oportunidades que surgem.
Baiestorf: Como é realizar trabalhos artísticos aqui no Brasil? Há reconhecimento? Oportunidades?
Vanessa: O reconhecimento vem de poucos, e destes nem todos podem pagar o real valor de uma obra de arte. O resultado disso é ter que vender a valores muito baixos para o tempo e dedicação que foram necessários para realizar cada obra. Por isso que a divulgação é tão importante, para poder alcançar um maior número de pessoas e chegar até aqueles que ainda não o conhecem.
Baiestorf: Você está com trabalhos em finalização? Poderia falar sobre eles e como o público poderá acompanhá-los?
Vanessa: Sim, sempre estou criando algo, seja encomenda ou trabalho autoral. Com exceção daqueles que são para presente e que por isso não posso divulgar, publico tudo em tempo real no meu Instagram. Faço bastante Stories principalmente, compartilhando as etapas de cada trabalho, faço vídeos desenhando, explico o processo, acho que é interessante mostrar como tudo é feito, as pessoas gostam de acompanhar.
Baiestorf: E seus projetos? É possível sabermos um pouquinho deles?
Vanessa: Coleciono uma porção de ideias que gostaria de concretizar, mas que vou deixando sempre em segundo plano. São ideias para ilustrações, portfólio, pinturas em tela que tenho feito tão pouco nos últimos anos e que gostaria de retomar. Minha meta é realizar tudo isso. Não será de uma vez, mas já estou preparando as primeiras novidades.
Retrato de pet
Baiestorf: Geralmente a arte no Brasil é produzida de forma independente e é difícil conseguir se manter. O que você gostaria de observar sobre isso.
Vanessa: Realmente é difícil. Mas o sucesso nunca veio para quem desistiu perante as dificuldades. Quem sonha em viver de arte e ter seu trabalho valorizado precisa em primeiro lugar estar ciente do próprio valor, e ignorar aqueles que tentam convencê-lo do contrário.
Baiestorf: O espaço é seu para as considerações finais:
Vanessa: Quero Agradecer ao Petter pela oportunidade desta entrevista, e pelo apoio aos artistas. Também quero agradecer a você que dedicou um pouco do seu tempo para conhecer meu trabalho, espero que tenha gostado!
Thais Rizzolli, 21 anos, é natural de Concórdia/SC, atualmente residindo em Chapecó/SC onde estuda publicidade. Chapecó é uma cidadezinha catarinense que tem uma gama de artistas independentes bem interessantes e, não faço ideia de quando, ainda pretendo me debruçar sobre a produção underground alternativa da cidade para registrar a riqueza de estilos.
Thais, além de ser ilustradora, pinta com tinta a óleo, flertando com surrealismo, temáticas ocultistas e inspirada pela música como forma de libertação do seu “eu” interior, responsável pela criação de suas obras.
Conheça mais de Thais e suas obras soturnas lendo a entrevista abaixo, assistindo ao ótimo vídeo-entrevista “Thais Rizzolli” e curtindo/comprando seus trabalhos.
Thais Rizzolli
Entrevista com Thais Rizzolli:
Petter Baiestorf: Gostaria que você contasse como começou seu interesse pela arte e, também, sobre seus primeiros trabalhos.
Thais Rizzolli: Desde muito pequena, foi uma coisa que a minha mãe sempre me incentivou. Ela me dava muitos materiais, como lápis, canetas, cadernos, argila. Para que eu deixasse minha imaginação trabalhar. Mas a coisa que me deixava mais curiosa, era quando ela se trancava numa despensa pra pintar panos de pratos. Eu ficava maluca pra ver ela pintar, mas ela não me deixava por conta dos níveis tóxicos do material.
Baiestorf: Sua arte sofre influências de quais artistas e escolas estéticas. Fale o que te atraí neles, se quiser falar sobre os porquês seria muito interessante.
Thais: Eu sofro uma influência muito forte do surrealismo, eu acho fantástico o trabalho estético que o Dalí realizou. A forma fascinante como trabalhava com arte, estética e ciência. Das mais lindas pinturas pré-rafaelitas de mulheres em meio à natureza, a destruição do padrão estético, a destruição da figura. O que é beleza? Eu sofro influência muito direta do ocultismo. Os anos 60, 70… Música, muita música. Do velho Black Sabbath, Doors, a Unlce Acid… A galera que ta aqui, agora, fazendo uma sonzeira brasuca e com várias influências iguais as minhas, Macaco Bong, Monstro Amigo, Ruínas de Sade. O próprio Ars Moriendee que fez a arte deles, o Victor Bezerra. Um outro amigo meu lá de Porto Alegre, o Leo Dias de Los Muertos, baíta escultor.
Inédito (em desenvolvimento).
Baiestorf: Com sua arte você está aberta a todo tipo de trabalho ou gostaria de se especializar somente em uma área?
Thais: Eu pinto o que eu sinto. Geralmente eu faço as coisas pra mim. Quando eu to desenhando é um momento único e de estudo pra mim, cada coisa que eu faço é diferente. Me modifica como pessoa, foi pensada e inserida em um espaço -tempo de vida minha. É a materialização do meu eu.
Baiestorf: Conte sobre suas exposições e como produtores poderiam levá-la para suas cidades/estados.
Thais: Na minha primeira exposição eu fiquei muito envergonhada. Era algo novo pra mim e realmente é se mostrar “pro mundo”, “pras pessoas”. Dê um momento intimo desenhando em casa, coisas da tua cabeça, à rua, com as pessoas olhando os teus trabalhos e interagindo contigo. É muito louco.
Baiestorf: Como é realizar trabalhos artísticos aqui no Brasil? Há reconhecimento? Oportunidades?
Thais: As pessoas gostam de arte. Mas, não tem a valorização devida. Geralmente é um perrengue. Principalmente pro pessoal do meio mais underground, muita coisa ainda assusta as pessoas. Elas não estão preparadas para receber aquilo, aquele tipo de comunicação. Mas esse choque pra mim é o mais gostoso, é realmente confrontar a pessoa, tirar ela do comodismo.
Baiestorf: Você está com trabalhos em finalização? Poderia falar sobre eles e como o público poderá acompanhá-los?
Thais: Eu to desenvolvendo um material junto com uns amigos. Estamos trabalhando no álbum de estréia da banda deles, Kosmische Ritual.
Baiestorf: E seus projetos? É possível sabermos um pouquinho deles?
Thais: Eu pretendo continuar no ramo da ilustração e pintura. Mas meu coração pende muito pra tatuagem, quem sabe um dia, vocês vão me ver tatuando ainda.
Baiestorf: Geralmente a arte no Brasil é produzida de forma independente e é difícil conseguir se manter. O que você gostaria de observar sobre isso.
Thais: Por mais difícil que seja, meus amigos, vamos continuar produzindo. Só assim, batendo na tecla que a gente vai conseguir transformar a cultura em que estamos inseridos.
Baiestorf: O espaço é seu para as considerações finais:
Thais: Eu queria agradecer ao Petter e a toda a galera que apóia e a valoriza o meio underground e a cena autoral.
Conheci a Pomba tem uns 15 anos em andanças por Porto Alegre. Possivelmente nos conhecemos em algum boteco cultural. Ou em alguma mesa de bar pós-exibições de filmes transgressores onde meus filmes eram programados, não lembro. Mas uma coisa é certa, assim que comecei a conhecer o trabalho de Pomba fui ficando fã e acompanhando na butuca.
Pomba faz de tudo. Além de desenhista, já fez música (“Pedra” é um punk hilário), curtas-metragens (“Pé de Cabra” é um dos episódios de “13 Histórias Estranhas” e agora está produzindo “Monstro”, de Magnum Borini), escreve contos e poesias. E desde 2006 participa do grupo de cartunistas GRAFAR, que edita diversos livros de cartuns (sempre coletivos). Mas para viver Pomba é professora de português e literatura.
Já tem livros publicados, participa do evento de cartum Cartucho em Santa Maria e atualmente gosta de desenhar coelhos. Fiquem com a entrevista que realizei com Pomba, é fantástico poder divulgar o pensamento iconoclasta desta fantástica artista livre.
Pomba Claúdia
Petter Baiestorf: Gostaria que você contasse como começou seu interesse pela arte e, também, sobre seus primeiros trabalhos.
Pomba Claúdia: Eu acho que sempre tive uma pira por tudo fora da realidade. A realidade consistia em ver meus pais brigando, horários políticos, notícias de televisão (mesmo que fossem mentira) ou tudo que tivesse alguma relação com o chato e burocrático mundo adulto. Fui uma criança solitária, filha única, guria de apartamento, criada pela televisão. Uma menina gordinha comendo milhopã na cama bagunçada aguardando os adultos voltarem do trabalho. Mas os adultos nem sempre foram esses monstros que estou pintando. Meu pai gostava (e gosta) muito de filmes, de desenhos animados e também de videogames… Absorvi estes gostos. Aos sete ou oito anos comecei a ganhar fitas VHS dos desenhos da Disney. Ao final do desenho animado da Branca de Neve tinha o making off do filme… Eu pirei com aquilo, foi tipo a primeira paixão platônica. Era aquilo que eu queria fazer. Mas aquilo mexeu muito comigo. Revi diversas vezes. Não me interessava o príncipe, não me interessava os sete anões (isso eu já assistia no “Histórias que Nossas Babás não Contavam”). Meu primeiro trabalho surgiu nessa época, na 1ª série, quando a professora levou meu desenho inspirado na música da “Dona Aranha” para a TV Cultura local junto com o de outros colegas. Eu liguei a TV por acaso e ela estava mostrando meu desenho. Isso me deixou muito feliz, pois eu não era uma criança lá muito enturmada e me senti valorizada. Acho que aí comecei a descobrir quem eu era… Mas ao falar para os meus pais, exaustos do trabalho, de saco cheio, que eu tinha decidido ser artista/desenhista/criadora de jogos e desenhos, eles me disseram que aquilo era coisa pra gente rica e que eu não teria me sustentar com aquilo. Como toda paixão, esse foi meu primeiro soco na cara dos sonhos “oquevocêquerserquandocrescer” que eu levei (e levo até hoje… muitos ainda). Acredito que isso deva acontecer com muitas crianças, mas eu continuei recortando da realidade esses sonhos, essas piras… Meus melhores brinquedos eram os lápis de cor, minha melhor companhia eram os desenhos animados, gibis, livros ilustrados e os joguinhos da Atari. Desenhava compulsivamente. Se isso é arte? Só depois me disseram…
Baiestorf: Sua arte sofre influências de quais artistas e escolas estéticas. Fale o que te atraí neles, se quiser falar sobre os porquês seria muito interessante.
Pomba: Minha arte sofre. E sofrer influências é um dilema. Porque quando vi já estava sofrendo, roubando, parafraseando, recortando, fazendo um mosaico de coisas bonitinhas e ogras. Acredito que os melhores artistas são as crianças e os bêbados. As melhores escolas estéticas são os bares. Mas tentando organizar o grande pobre roubo de ideias, posso retomar o lance da Disney. Falem o que quiser da Disney, foi ali o pontapé inicial. Mas é claro, você cresce, vira adolescente e quer queimar todos os discos da Xuxa, quer inverter a cruz, jogar o jogo do copo, beber cachaça com gemada. Comigo não foi diferente. Por não ter amigos, nem internet, provavelmente o que influenciou foram os filmes que passavam na Sessão da Tarde e no Cinema em Casa. Podem rir, mas a estética de filmes de Tim Burton, assim como “Elvira – A Rainha das Trevas” e “A Família Addams” podem ter me inspirado… Minhas princesas perderam os braços, ganharam chifres. Meus quadros ganharam cores escuras. Eu pintava com qualquer coisa em qualquer lugar. Era libertador… Mas tudo foi jogado fora por mamãe. Só lá por 2001 comecei a organizar minhas influências e comecei a me identificar com a arte surrealista. A seguir, meus desenhos ainda tratando de temas mórbidos, começaram a ter um teor mais zueiro. Em 2004, busquei um curso de desenho animado que serviu para que finalmente conhecesse outras pessoas que desenhavam. Até ali não conhecia ninguém. Meu amigo e ilustrador Guilherme Moojen então me apresentou em 2006 a GRAFAR, um grupo de cartunistas e grafistas aqui de Porto Alegre que se reuniam semanalmente no bar Tutti Giorni. Apesar dos meus desenhos sem muita técnica, eles me acolheram e logo me convidaram para participar de um livro, chamado “Sem Trégua” em 2006. Considero esse boteco minha escola de arte. Esses senhores, Edgar Vasques, Eugênio Neves, Ubert, Hals, Ruben, Santiago, Pedro Alice, Lancast, Moa e, posteriormente, Carla Pilla, foram os meus primeiros e melhores professores. Inspirada no trabalho desses amigos meus desenhos sombrios ganharam cor, meu traço foi ganhando e ainda ganha a cada dia mais personalidade. Cada um com seu estilo me inspira de uma forma. O traço brusco do Ruben e a segurança da linha e simplicidade humorística do Santiago. O volume através das hachuras do Eugênio Neves, as aquarelas da Carla Pilla, enfim… Todas as terças eu saía desse bar mais inspirada e feliz de ter encontrado pessoas que gostam de desenhar enquanto conversam. O meu desenho, assim como textos, manteve um humor sádico, ácido e, em alguns casos, erótico. Descobria a cada encontro novas técnicas, novos estilos e novas inspirações como as ilustrações fodas da Mariza Dias e as putarias da Melinda Gebbie.
Baiestorf: Com sua arte você está aberta a todo tipo de trabalho ou gostaria de se especializar somente em uma área? Por quê?
Pomba: Quem me conhece sabe que também curto fazer filmes, músicas, poemas, contos, produzir eventos… Além de ser professora de português (o que pode parecer chato pra caralho, mas como envolve linguagem tá valendo). Então acabo diversificando meu trabalho em outras áreas também. É um surubão de áreas. Um estilo esquizofrênico. Por isso, sou bem aberta (rará). Sendo o espaço para arte independente (que é meu caso) tão limitado financeiramente, eu curto mesmo é chutar o balde. Às vezes me sinto uma fraude. E acho que isso faz parte de mim e justifica por eu ter trabalhos tão diferentes uns dos outros… Além disso, acho uma lindeza essa coisa de misturar cheiros, gostos, texturas, barulhos… Animação, cinema, música, uma explosão sensorial. Acredito que quebrar um estereótipo artístico ajude a tirar esse bundamolismo da arte. A arte teria que ser o grito de expressão, arte é cortar a orelha e brigar no bar, arte é chorar em cima da tinta e borrar tudo… Arte teria que ser algo que te atinja individualmente, mas que também atinja os outros, seja para agradar ou para incomodar. Algumas pessoas acreditam que primeiro você aprende a técnica e depois você cria. Eu prefiro brincar com as ideias, jogá-las no papel, na tela, no caderno e depois pensar no que pode ser feito – ou não. Elevar o padrão limita a criação. Há liberdade na ignorância, assim você se inspira de forma mais inocente e inconsequente. Se eu me especializasse em uma área, creio que perderia um pouco disso.
Assista o curta-metragem Pé de Cabra:
Baiestorf: Conte sobre suas exposições e como produtores poderiam levá-la para suas cidades/estados.
Pomba: Até agora só fiz exposições coletivas. Muitas em Santa Maria, em um evento de cartunistas chamado Cartucho, organizado pelo querido Máucio Rodrigues. Devo ter participado de pelo menos umas cinco exposições lá. Todos os anos é sorteado um tema e a gente faz cartuns sobre aquilo em 24 horas. É bem massa. Pra falar a verdade, tenho poucos desenhos para expor. Os melhores estão em cadernos pautados ao lado de anotações de aula ou em guardanapos de bar… Para uma exposição de folhas pautadas rabiscadas e guardanapos sujos com desenhos eu teria muita coisa. Mas às vezes vêm momentos de luz e faço algo a mais, um quadro com objetos colados, uma aquarela bonitinha… Daí esses guardo, reproduzo em forma de imã, zine e o que mais for… Eu romerobritizo minha arte. Mas no fundo eu sou a desenhista de bar, ou de alguma sala de aula… Faço desenho e dou de presente. Talvez eu devesse omitir essas coisas, mas acho que é um traço da essência do que faço, um desapego. Até porque, não tenho espaço para acervo, moro num apartamento de 30m²… Se alguém tiver um espaço para eu pintar grandes quadros e paredes, ficarei muito feliz. Quem quiser me chamar pruma exposição, propor um tema ou juntar meus esboços e artes existentes meu email é claudiadrb@gmail.com ou pelo telefone 55 51 992792662. Meu trabalho pode ser visto no meu site https://claudiadrb.wixsite.com/borborini/copia-inicio, na página do Facebook: https://www.facebook.com/pombadesenhos/ e alguma coisa no Instagram: @pombaclaudia
Baiestorf: Como é realizar trabalhos artísticos aqui no Brasil? Há reconhecimento? Oportunidades?
Pomba: Como eu disse, meus pais me deram o soco de realidade aos sete anos quando falei com inocência que eu gostaria de ser artista. E cresci com esse pensamento. Pra não me iludir acabei virando professora de língua portuguesa, o que também não tem reconhecimento (risos). Então o que move minhas criações não é bem o reconhecimento, mas a necessidade de criar, de me sentir parte de algo que eu goste, que me faça me sentir eu. Claro que quando ganho dinheiro com meus desenhos, meus filmes ou meus textos eu me sinto incrivelmente feliz pelo reconhecimento, ao mesmo tempo em que acho estranho, pois, como eu disse, isso não foi construído em mim. E confesso que não me orgulho de ser assim, gostaria de poder falar com firmeza o valor de um quadro e passar um orçamento convicto de uma ilustração. Ainda assim, as oportunidades não caem no colo. Vejo uma galera muito mais talentosa e empenhada do que eu, investindo, trampando muito pra poder aperfeiçoar e assim conseguir um retorno de sua arte, ainda mais quando se trata da arte impressa, tendo em vista que hoje em dia temos muita coisa pronta no computador, que é só imprimir e pendurar na parede da sala. Portanto, considero desproporcional o número de oportunidades para a arte em relação ao desejo de se investir nisso. Acaba que muitos trabalhos fodas e autorais acabam virando logos com cara de trampo de design gráfico, assim como muito filme independente fica com a maior pinta de propaganda publicitária. Por essas e outras, eu me pego vergonhosamente acreditando que pra ganhar grana com arte você já precisa ter grana. Conheço gente que só pinta com material caríssimo, eu uso guache, pinto no papelão, uso a sobra da tinta que usei pra pintar a parede da sala de casa… Acabo me inscrevendo em concursos e festivais gratuitos, catando oportunidades de graça e tentando me enfiar onde dá. Mas os reconhecimentos e oportunidades são que nem uma cova, tem que cavar para achar algo.
Zumbizinhu Inédito
Baiestorf: Você está com trabalhos em finalização? Poderia falar sobre eles e como o público poderá acompanhá-los?
Pomba: Meu próximo e mais desejável trabalho é sobre Coelhos. Não tenho como falar muito sobre ele no momento, mas vou colocar o primeiro quadro que me inspirou a desenvolver uma série sobre esse rico animalzinho.
Baiestorf: E seus projetos? É possível sabermos um pouquinho deles?
Pomba: Esse ano pretendo montar junto a outras garotas um coletivo chamado Útero Underground. É uma ideia que ainda está no útero (rá), mas que em breve será melhor desenvolvida e que consistirá não apenas nas artes visuais, mas também na elaboração de músicas, barulhos, vídeos e o que mais vier ao encontro de construir um espaço libertador e sem tantos pudores em relação ao que a gente entende por arte. Paralelo a isso, estou aguardando o contato de alguns amigos da GRAFAR para a pintura de painéis, pretendo fazer um desenho animado e uma exposição de coelhos tarados.
Baiestorf: Geralmente a arte no Brasil é produzida de forma independente e é difícil conseguir se manter. O que você gostaria de observar sobre isso.
Pomba: Cara, acho que é o que falei antes… A gente se enfia onde dá, claro, em alguns casos a gente pensa nos princípios e não vai se enfiar de cabeça quando estão envolvidas pessoas escrotas que só pensam em explorar e lucrar a custa dos outros. Fora isso, nem todo mundo tem a oportunidade de fazer uma faculdade de arte. Vou falar da de cinema também, pois sabemos que cinema é caro pra cacete. Daí a gente acaba fazendo muita coisa de graça na troca de experiência, para apoiar os amigos que também não tem grana e isso vira um grande ciclo da horripilante mágica de se fazer arte de graça sem ganhar nada em troca. Acho que essas iniciativas como o teu blog, assim como rádios online, coletivos independentes, financiamentos coletivos, formas preliminares da gente sair do limbo e começarmos a desenvolver uma estrutura que pague nossas contas. Mas não só isso. O que eu vejo e que pouca gente comenta é como o artista independente muitas vezes está alienado do povo, da galera da periferia que também faz parte da outra margem independente da arte, como é caso da pixação, grafite, stencil chamem como quiser. O perfil da galera “independente” “underground” muitas vezes é branco, classe média, universitário. E a outra área independente? Fico pensando que louco seria toda essa galera se reunindo, aprendendo uns com os outros, compartilhando cultura, técnica, fugindo dessa aprendizagem acadêmica muitas vezes elitista e enfadonha. Exposição de arte é aquele perfil de homem de coque, magrinho, segurando a taça de Salton e conversando com a garotinha esnobe que admira pra caralho Miró, ambos intrigados com a popularidade do Romero Britto, expondo algo dito independente . Enquanto do lado de fora do prédio algum garoto leva um pau da polícia por fazer um desenho em um muro. Talvez o que falte para a arte independente conseguir se manter é incomodar um pouco, ter uma voz mais ousada, mais politizada, mais envolvente e que convide diferentes grupos ditos independentes a se observarem. Enfim, é manjado, mas é isso, a união faz a força.
Boteco de Ideias
Baiestorf: O espaço é seu para as considerações finais:
Pomba: Eu gostaria de agradecer ao Petter Baiestorf por essa oportunidade de eu falar sobre minha arte. Às vezes não sei como consegui conhecer tanta gente foda e incrível, pois soa estranho pra mim ser chamada de “artista”. Sempre achei que artista fosse ou Picasso, Salvador Dalí, ou na contemporaneidade alguma Big Brother que pousou nua. Então essa palavra me deixa com uma certa crise de personalidade. Alguns lugares dão desconto se você diz que é da “classe artística” aqui em Porto Alegre. Acho isso um sarro, pois o que te faz artista? Se eu colocar meu dedo no nariz e dizer que é uma performance serei artista? É muito louco isso. Outra coisa que muitas vezes me deixa desconfortável com o termo artista é quanto ao rebuscamento da arte em relação ao gênero. Tem homens que limpam a bunda e expõem em uma parede e afirmam seguramente que é “arte”. Mulheres desenham a sujeira da unha da modelo-vivo e se questionam se a sujeira está na proporção correta ao tamanho da unha. Eu não sei as outras, mas sinto essa pressão ao perfeccionismo. Você não pode ousar dirigir, tocar guitarra, desenhar, fazer um filme se você não fizer algo incrivelmente bem. Você não pode tocar os acordes errados ou errar o local da luz em um quadro. Confesso que isso me incomodava, pois muitas vezes deixei de fazer as coisas por não me sentir boa o bastante, por não me sentir pronta o bastante, enquanto simplesmente eu deveria ter feito e mandado todo mundo à merda com suas técnicas, medidas e manuais.
Hoje é o dia internacional da Mulher e a série do Canibuk não podia deixar de apresentar a arte de uma das mulheres mais fortes, criativas e completas que já tive o prazer de conhecer.
Acompanho o trabalho de Leyla Buk faz, pelo menos, uma década, e cada nova fase dela me surpreendo com a franca evolução de seus trabalhos. Leyla é inquieta, está sempre na ânsia pela busca de se superar.
Autorretrato, 2018 (inédito).
Leyla, nascida em Recife/PE, é artista autodidata e desde a infância já se interessava por desenhos e pintura. Há pelo menos 9 anos trabalha em tempo integral, de modo profissional, com sua arte, experimentando vários meios, estilos e técnicas. É uma artista curiosa e dona de uma arte fenomenal, seja como desenhista, pintora ou escultora, fazendo um Monku, ou uma Buky, personagens que criou para explorar essa técnica – o que não a impede de aceitar encomendas com seu personagem preferido. Suas esculturas já estão em inúmeros países da América – USA e Canadá – e Europa – Finlândia, Inglaterra, Suécia e outros.
Já realizou exposições por vários estados do Brasil. Também foi capista da Editora Estronho e realizou cartazes para filmes, estando sempre aberta às mais variadas encomendas.
Agora Leyla se prepara para uma importante exposição coletiva em Porto Alegre que irá acontecer no mês de Maio próximo, ao lado de importantes artistas brasileiros. Em breve divulgarei aqui essa exposição e em maio estarei lá fazendo a cobertura. Adianto que é imperdível e tem a ver com o FantasPoa 2018.
Leyla Buk
Segue a entrevista que realizei com Leyla para o Canibuk.
Petter Baiestorf: Gostaria que você contasse como começou seu interesse pela arte e, também, sobre seus primeiros trabalhos.
Leyla Buk: Me interesso por arte desde que me entendo por gente. Minhas memórias mais fortes da infância são aquelas que envolvem algum tipo de arte, em casa ou no colégio. Não lembro muito dos meus primeiro trabalhos, mas eu desenhava o tempo todo. Eu fui uma criança estranha e que não se encaixava muito nas coisas. Desenhar me libertava. A arte pra mim é e sempre foi uma necessidade, uma busca por respostas, por algum tipo de salvação. E me salva. Sempre me salvou.
Buky
Baiestorf: Sua arte sofre influências de quais artistas e escolas estéticas. Fale o que te atraí neles, se quiser falar sobre os porquês seria muito interessante.
Leyla: A lista de influência é grande, de varias escolas, varias épocas e lugares, por varias razões. Eu bebo de muitas fontes, de renascentistas à artistas pop do “momento”, todos têm uma importância e fazem ou fizeram parte de algum momento meu. Eu gosto muito dos expressionistas do começo do século XX, quanto movimento, quanto proposta, quanto resposta. Artistas como Schiele sempre me influenciaram demais, pela coragem, pelo sentimento, pela angústia, pelo peso psicológico, pelo estilo. Sempre tive na arte um lugar onde posso buscar respostas e exorcizar meus demônios. Um lugar onde me encaixo e posso ser livre. Por isso me identifico muito com artistas assim. Picasso é um cara que tem uma importância enorme pra mim, porque com ele eu aprendi que não tem problema mudar, não tem problema ter muitas fases, não tem problema ser livre nesse sentido. Que meu compromisso maior é com o que sinto e com minha verdade. E eu tenho muitas fases, quem me acompanha sabe. Talvez um dia alguém vai nomear cada uma delas como fizeram com ele? “Essa é a fase preta”, “essa é a fase ocre”, “essa é a fase niilista” e arrumar justificativas pra cada uma (risos). Apenas deixem ser. Mas pra falar mais alguns nomes cito caras como da Vinci, Rembrandt, Caravaggio, Hans Memling, Bosch, Botticelli, Klimt, Van Gogh, Modigliani, Rothko. Muitos outros. Sempre da medo de esquecer alguém muito importante. E sei que esqueci. O mundo a minha volta, as pessoas com as quais eu convivo e sempre me ensinam algo, família, amigos próximos, quem eu amo e qualquer pessoa que faça o que gosta com vontade e paixão me inspira. Pode ser o maior artista vivo ou o tiozinho da esquina que vende pipoca. Gentileza, empolgação e sonhos me motivam. Inocência idem. Cinema, literatura e música também têm forte influência sobre meu trabalho, desenhos, pinturas, esculturas… Estão presentes em absolutamente tudo. Mas eu vou parar por aqui senão não vai acabar nunca essa resposta.
Stillness, 2018
Baiestorf: Com sua arte você está aberta a todo tipo de trabalho ou gostaria de se especializar somente em uma área? Porque?
Leyla: Assim, dentro da minha área eu estou aberta a tudo, porém cada coisa no seu tempo. Eu me interesso por muitas coisas, mas eu não me vejo fazendo varias coisas de áreas diferentes, eu jamais conseguiria fazer bem todas elas. Eu sou intensa demais no que eu faço então eu gasto toda energia naquilo, não conseguiria fazer isso com varias coisas. Algo sairia mal feito ou não teria a mesma atenção e cuidado que merece e eu iria sucumbir também, certamente (risos).
Baiestorf: Conte sobre suas exposições e como produtores poderiam levá-la para suas cidades/estados.
Leyla: Acho que minha primeira exposição foi em 2010, em Maceió. Num bar que reuniu vários artistas undergrounds de vários estilos. Na época eu estava forte na fase erótica e tinha acabado de começar a pintar (olha eu já definindo minhas fases tipo Picasso – risos). Depois expus em outros lugares também, todas exposições coletivas. Todas importantes, mas lembro com muito amor da exposição na Mondo Estronho que aconteceu em 2015 em Curitiba, onde expus umas 20 peças inspiradas no cinema de horror das décadas de 20 a 50, filmes que tem grande influência na minha vida e na minha arte. Depois, em 2016, expus em alguns eventos em Porto Alegre também. Se alguém tiver interesse em promover alguma exposição com meus trabalhos pode entrar em contato comigo pelo e-mail bukleyla@gmail.com e podemos acertar todos os detalhes.
Edgar Allan Poe, 2017
Baiestorf: Como é realizar trabalhos artísticos aqui no Brasil? Há reconhecimento? Oportunidades?
Leyla: Eu me sinto privilegiada por poder trabalhar com o que eu amo em tempo integral e me dedicar apenas a isso, isso pra mim já vale por qualquer reconhecimento, fama, o que for, porque eu sei que essa não é a realidade da maioria. Eu já trabalho nisso ha algum tempo e estou incansavelmente fazendo alguma coisa. A gente tem que abraçar qualquer oportunidade que apareça. A divulgação é nossa maior amiga nisso tudo e a internet oferece muitos meios pra isso. Eu tento aproveitar cada um deles.
Baiestorf: Você está com trabalhos em finalização? Poderia falar sobre eles e como o público poderá acompanhá-los?
Leyla: Eu sempre estou com trabalhos em andamento. No momento, estou trabalhando em algumas ilustrações novas e finalizando dolls de algumas encomendas. Quem quiser obter informações ou fazer pedidos (eu aceito encomendas das BukDolls, dos Monkus, das Bukys, de pinturas e de ilustrações também) pode entrar em contato através do e-mail bukleyla@gmail.com ou pelas minhas redes sociais no Instagram @leylabuk e Facebook @LeylaBukArt.
Mary Shaw (Dead Silence), 2018
Baiestorf: E seus projetos? É possível sabermos um pouquinho deles?
Leyla: Entre os outros trampos em andamento estou trabalhando também numas peças pra uma exposição que vai acontecer em maio. Darei mais detalhes em breve.
Baiestorf: Geralmente a arte no Brasil é produzida de forma independente e é difícil conseguir se manter. O que você gostaria de observar sobre isso.
Leyla: A gente tem que aprender a lidar com os altos e baixos disso tudo. Pesa mais pra gente quando pesa pra todo mundo. Mas o amor pelo o que faço é o que me move. Eu realmente não sei se saberia fazer outra coisa da minha vida! Então fica tudo muito pequeno quando penso no prazer que é poder fazer o que faço.
Baiestorf: O espaço é seu para as considerações finais:
Leyla: Obrigada, Petter, pelo espaço e pelo apoio sempre! Isso é muito importante quando a gente faz tudo por conta própria e não tem patrono, não tem arte em grandes galerias ou não morreu ainda pra que a obra, quem sabe, passe a valer alguma coisa. Valorizem os artistas enquanto vivos! Consumam sua arte! Divulguem! Apreciem! A arte salva.
Kell Candido, 31 anos, residente em Sumaré/SP, é ateia, fã de Black Metal, leitora de literatura de horror e possuidora de um traço que explora a Dark Art. O que destoa, talvez, seja sua paixão pelo time colorado – Internacional – do Rio Grande do Sul.
Kell também desenha aliens espetaculares e foi por conta de seus aliens – sou um apaixonado pela temática sci-fi e ufologia – que comecei a segui-la nas redes sociais a fim de acompanhar a evolução de seus trabalhos. Aliás, acredito que Kell seria uma capista fantástica para bandas de Black Metal, Heavy Metal e afins do gênero.
Apesar de não ser uma profissional das artes, acho o trabalho dela interessante, tanto que a convidei para essa série de entrevistas com artistas gráficas que admiro. E não sou somente eu que admiro os trabalhos de Kell, ultimamente ela usa “marca d’água” em suas ilustrações porque costumeiramente tem seus trabalhos roubados. Pessoal que rouba ilustrações, uma dica, valorize o trabalho dos artistas pagando o justo por suas criações.
Conheça um pouco mais de Kell Candido e seu trabalho na entrevista abaixo:
Kell Candido
Petter Baiestorf: Gostaria que você contasse como começou seu interesse pela arte e, também, sobre seus primeiros trabalhos.
Kell Candido: Desde muito pequena eu sempre “desenhei”. Sempre lia livros de terror/ horror e botava no papel o que eu sempre imaginava sobre as estórias que lia. Sempre tive a imaginação um tanto fértil. Meus primeiros desenhos foram por volta dos meus 7, 8 anos de idade. Hoje eu nem lembro mais quais foram os primeiros.
Baiestorf: Sua arte sofre influências de quais artistas e escolas estéticas. Fale o que te atraí neles, se quiser falar sobre os porquês seria muito interessante.
Kell: Eu não tenho um artista preferido. Quando descubro algum que faz mais ou menos o mesmo tipo de arte obscura, eu passo a seguir nas redes sociais. Hoje em dia eu sigo mais tatuadores gringos que fazem blackworks. Quanto mais sombria e sem cor for a arte do sujeito, mais me agrada.
Baiestorf: Com sua arte você está aberta a todo tipo de trabalho ou gostaria de se especializar somente em uma área? Porque?
Kell: Meu interesse é na dark art. Desde que me entendo por gente, na verdade. É claro que ás vezes eu dou uma variada, coloco cores em algumas coisas. Já pintei livros de colorir (aliás, foi com eles que “aprendi a colorir com lápis de cor”), mas se você prestar atenção, até nos livros de colorir “fofinhos” eu vou colocar algum elemento do mal.
Baiestorf: Conte sobre suas exposições e como produtores poderiam levá-la para suas cidades/estados.
Kell: Nunca expus minha arte. Mas seria interessante um dia eu ter uma coleção legal de aliens, demônios, olhos (minha fixação), e sei lá que outros espectros saírem da minha mente, e poder mostrar.
Baiestorf: Como é realizar trabalhos artísticos aqui no Brasil? Há reconhecimento? Oportunidades?
Kell: Não existe reconhecimento. Você viver de arte aqui no Brasil, com exceção de alguns que ralaram muito, é querer morrer de fome. As pessoas raramente dão valor no seu trampo, a maioria das pessoas pedem desenhos de graça como se o material de desenho brotasse lindamente do chão. Não é assim. O material é caro, e o tempo do artista também tem que ser muito valorizado. Arte é sentimento. Eu desenho apenas por prazer, muito raro presentear algum amigo querido com minha arte, porque não são todos que conseguem enxergar além do ato de rabiscar numa folha de papel.
Baiestorf: Você está com trabalhos em finalização? Poderia falar sobre eles e como o público poderá acompanhá-los?
Kell: Eu estou sempre com algum desenho em progresso. Ás vezes no meio do trampo a inspiração some e eu guardo pra continuar depois.
Podem me acompanhar pelo meu deviantart: www.kellcandido.deviantart.com ou pelo meu instagram @kellcandido.
Baiestorf: E seus projetos? É possível sabermos um pouquinho deles?
Kell: No momento estou apenas trabalhando e estudando, então estou com o tempo bem apertado pros meus projetinhos. Mas de vez em quando eu apareço com algum olho ou ET recém saído da minha imaginação doentia.
Baiestorf: Geralmente a arte no Brasil é produzida de forma independente e é difícil conseguir se manter. O que você gostaria de observar sobre isso.
Kell: Conheço alguns artistas que hoje conseguem se manter, mas depois de anos de muita dificuldade. Admiro quem arrisca e tenta a duras penas viver de arte. Mas também tenho pena pela arte no geral ter pouca atenção no país. País sem cultura e educação é isso, Petter: a massa só consome lixo. E o artista sempre sendo visto como vagabundo.
Baiestorf: O espaço é seu para as considerações finais:
Kell: Eu quero agradecer á você por esse reconhecimento e carinho. Fiquei muito feliz pelo convite e espero que a galera curta minhas rabisqueiras.
Quero agradecer á todos que me incentivam, que gostam do meu trabalho.
Não sou profissa, o que faço é porque gosto e me faz bem rabiscar.
Bom 2018 á todos 😊
Conheci a Daniela Távora por conta do Cine Bancários de Porto Alegre, onde ela é gerente e eu, geralmente, faço a primeira exibição de meus novos filmes. Pouco depois tomei contato com a arte de Daniela através de um fanzine sem título que ela lançou (aliás, sem nenhuma palavra escrita, somente imagens) e que passei a admirar os traços dela. Daniela é das minhas, nada contra a corrente e não tá interessada em entregar as coisas para o público de mão beijada.
Daniela é formada em Artes Visuais pela UFRGS e um tempo atrás começou a experimentar em todo o tipo de arte, inclusive vídeo e fotografia, como essa abaixo, de uma série ainda inédita feita em parceria com o Itapa Rodrigues.
Daniela Távora
Atualmente produz vídeos, fotografias, zines, histórias em quadrinhos, ilustrações e baralhos de tarô. Sua pesquisa artística se apropria da linguagem cinematográfica de horror, terror e suspense, norteadas por abordagens fantásticas e micro narrativas pessoais.
Fiz uma entrevista com Daniela para apresentá-la aos leitores do Canibuk. Se você gostou do trabalho dela, entre em contato e encomende alguma peça.
Petter Baiestorf: Gostaria que você contasse como começou seu interesse pela arte e, também, sobre seus primeiros trabalhos.
Daniela Távora: Meu interesse pela arte surgiu logo após os primeiros esculachos que a vida fez comigo. Revolta, frustração e sentimento de impotência, ainda na adolescência, me fizeram sacar que se eu xingasse todos os escrotos que haviam ao meu redor, em uma folha de papel, apesar de nada acontecer com os alvos da minha raiva, eu poderia ter alguns textos mais ou menos interessantes. Tentei o teatro, mas era muito tímida, não deu certo. Além da escrita, descobri no desenho uma maneira de expressar o que sentia. Sempre tive a mente muito poluída pelas porcarias que passavam na televisão, logo comecei a ver muitos filmes, o que aos poucos foi me despertando o interesse pelo vídeo e fotografia.
Baiestorf: Sua arte sofre influências de quais artistas e escolas estéticas. Fale o que te atraí neles, se quiser falar sobre os porquês seria muito interessante.
Daniela: Praticamente tudo na minha vida aconteceu por acidente inclusive a arte. Quando pequena por algum motivo, eu estava entediada e abri um livro, que era da minha mãe, da Gnosis (aquela seita esquisita), onde haviam várias ilustrações da divina comédia. Fiquei apaixonada e apavorada. Eu era tão preguiçosa que nem me prestei a ler o nome do cara que tinha feito os desenhos. Tarde demais, eu já tinha aquelas imagens tão profundamente impressas no meu cérebro que só conseguia desenhar coisas muito parecidas. Muito tempo depois que fui descobrir que eram do Gustave Doré. Mais tarde conheci Eddie Campbell, Hitoshi Iwaaki, Harry Clarke, Jake e Dinos Chapman e William Kentridge que me influenciaram muito. Meus filmes preferidos sempre foram os mais baratos, diferentes ou com roteiro doidão. O Bandido da Luz Vermelha e Abismo de Rogério Sganzerla, Os Idiotas de Lars Von Trier, Filme Demência de Carlos Reichenbach, A Noite dos Mortos-Vivos, de George Romero foram muito importantes para mim, praticamente uma escola. Vendo filmes de Zé do Caixão, da Boca do Lixo, pornochanchadas e Petter Baiestorf descobri que o que eu queria estava muito perto de mim, e que eu poderia fazer o vídeo que eu quisesse, onde eu bem entendesse, com a câmera de qualquer amigo e a participação de todos os malucos (que eu amo) que estão só esperando um convite para fazer cenas de terror, morte e nudez. O terror me interessou mais, pois temas como família, convivência em sociedade, egoísmo, solidão, desigualdade e amor são explorados a partir de rupturas sinistras com a realidade. Histórias do universo White Trash, a burrice e a tosquice das pessoas, dramas comuns a adultos frustrados, adolescentes feios e sem perspectiva de futuro e crianças largadas aos próprios cuidados, pertencentes a famílias dissolvidas pelo capitalismo é como se fossem histórias feitas em homenagem a mim, meus amigos de infância e meus irmãos.
Baiestorf: Com sua arte você está aberta a todo tipo de trabalho ou gostaria de se especializar somente em uma área? Porque?
Daniela: Prefiro estar aberta a todo o tipo de loucura. Por meu próprio interesse fiz desenho, fotografia e vídeo. Ok. Mas por força da vida e convite de amigos doidos já me envolvi com serigrafia, música, cinema, até cover da Gretchen já acabei fazendo. Ou seja, acho que aprendo (e me divirto) mais quando foco menos.
Baiestorf: Conte sobre suas exposições e como produtores poderiam levá-la para suas cidades/estados.
Daniela: Quando comecei a expor os trabalhos eram em desenhos/ilustrações e foto, e as galerias eram em Porto Alegre. Hoje eu produzo mais vídeos do que coisas físicas, o que facilita, pois é só mandar o link com os arquivos para qualquer lugar do Brasil onde for rolar a exibição. Isso acontece bastante com festivais de cinema, que abrem muito mais espaço para vídeo experimental do que galerias de arte, diga-se de passagem.
Baiestorf: Como é realizar trabalhos artísticos aqui no Brasil? Há reconhecimento? Oportunidades?
Daniela: Só vejo trabalho requentado em galerias de arte, pois é mais fácil de vender. E eu entendo. Tem que ser muito corajoso ou corajosa para montar uma galeria pensando em exibir arte autoral, sabendo que o público é saudosista e que só vai comprar coisas já legitimadas há no mínimo uns 30 anos, ou cópias atuais de obras que fizeram sucesso há 30 anos. Faço minhas coisas de teimosa mesmo e não estou nem aí. E tenho muito pouca inserção, pois ainda não se descobriu como vender vídeos em galerias de arte. Às vezes me inscrevo em editais de espaços públicos e festivais de cinema com programação para vídeo experimental, e acabo sendo selecionada em alguns, pois nesse tipo de local é mais comum existir interesse pelo trabalho artístico de pesquisa, não pelo que é mais comercializável. Reconhecimento e oportunidades: de amigos queridos que valem ouro, fazem as coisas em parceria, ajudam, divulgam e compram. Ano passado tive a alegria de ser convidada para participar de uma mostra por alguém que não era diretamente um amigo de bar, “Ao lado dela, do lado de lá”, que aconteceu no Instituto Goethe, em Porto Alegre. Fiquei muito feliz.
Baiestorf: Você está com trabalhos em finalização? Poderia falar sobre eles e como o público poderá acompanhá-los?
Daniela: Tenho um vídeo sendo construído em parceria com a Pomba Claudia e Itapa Rodrigues que se chama “O estranho caso do rato que se achava águia”. Também estou produzindo uma série fotográfica com muito sangue, nudez e simbologias que nem eu mesma entendo, que ainda não tem nome, talvez quando eu terminar tenha um nome. Mas por enquanto, tem este site aqui que está em construção https://danielatavorao.wixsite.com/arte onde se pode ver o que tenho pesquisado nos últimos anos.
Baiestorf: E seus projetos? É possível sabermos um pouquinho deles?
Daniela: Meus projetos tem a mania de aparecer na minha cabeça do nada, e eu vou fazendo e então vão ficando bem diferentes do que imaginei conforme o processo, que faz com que fiquem mais maravilhosos. Além do vídeo com a Pomba e Itapa que estou montando e das fotos, estou interessada por pesquisar as personagens de mulheres monstruosas do cinema japonês, e agregar este “conceito” às minhas personagens, em vários suportes, como vídeo, desenho e foto.
Baiestorf: Geralmente a arte no Brasil é produzida de forma independente e é difícil conseguir se manter. O que você gostaria de observar sobre isso.
Daniela: Eu tenho um emprego para poder manter minhas necessidades básicas. O dinheiro que me sobra eu torro com equipamentos, tintas, figurinos, maquiagens e cenários para minhas ideias de arte. Ainda não vejo uma forma de conseguir se manter com trabalhos artísticos no sistema atual. Por um lado é ruim, pois se faz arte quando se consegue (grana, espaço, tempo, energia mental…). Ao mesmo tempo me sinto livre para fazer coisas esquisitas sem me preocupar em “pentear” meu trabalho para que ele se torne mais comercializável. Quanto a tentar editais para projetos de arte, sinceramente, tenho preguiça. Independente é mais gostoso para mim.
Baiestorf: O espaço é seu para as considerações finais:
Daniela: Gosto do feio, do sujo e do mal acabado. Ponto. Para mim é um modo de romper e de me expressar além de cânones estéticos vigentes. Não me importa o que os outros estão fazendo, vou fazer o que eu quiser fazer, pois a vida já nos obriga a fazer coisas chatas e por obrigação demais. Para mim é libertador trabalhar com o que quero e não me dobrar para tendências artísticas contemporâneas. Só se vive uma vez, já diria a canção do escroto do Roberto Carlos. Eu quero é decolar toda a manhã (Arnaldo Baptista).
Talita Abreu é uma artista que acompanho a algum tempo e me impressiona sua dedicação às artes gráficas, sempre em constante evolução em seus trabalhos que são bem ecléticos – algo que admiro muito nos artistas gráficos – e que vão de trabalhos infantis até ilustrações fetichistas de BDSM, como essa abaixo que ela fez exclusivamente para o Canibuk.
BDSM
Nascida em 1984 no Rio de Janeiro/RJ, ainda jovem fixou residência em Resende/RJ, cidade próxima de São Paulo, a capital paulista onde passou a frequentar inúmeros cursos de arte.
Talita realiza trabalhos de freelancer aceitando encomendas de quadros, grafite, ilustrações para livros e contos, ilustração editorial, capas, incluindo até encomendas pessoais de apreciadores e colecionadores de arte.
Paralelamente cursa a faculdade de licenciatura em Artes Visuais a fim de complementar seu trabalho como professora de artes, desenhos e pinturas para adultos, crianças e pessoas com necessidades educativas especiais.
Abaixo uma pequena entrevista que realizei com Talita Abreu para apresentá-la aos leitores do Canibuk. Se você gostou da arte de Talita ao final da entrevista deixo os contatos para que possa encomendar as artes originais desta brilhante artista.
Talita Abreu
Petter Baiestorf: Gostaria que você contasse como começou seu interesse pela arte e, também, sobre seus primeiros trabalhos.
Talita Abreu: Eu simplesmente sinto que nasci artista, e não que me tornei uma. Ballet, fotografia, violino, escrita, teatro, desenho, tudo isso sempre fez parte do meu dia-a-dia, então eu não sei onde eu começo ou a arte termina. Transformar isso em uma profissão é que é a batalhe dos séculos. Com os anos fui me aprimorando e isso é uma constante, acredito que deva ser. Me dedico a cursos e à horas intermináveis de estudo, até que comecei a conseguir realizar projetos e me expressar melhor através da mídia que eu queria. Eu sei que precisamos almejar coisas grandiosas, mas eu sou simplesmente muito feliz trilhando o caminho.
Baiestorf: Sua arte sofre influências de quais artistas e escolas estéticas. Fale o que te atraí neles, se quiser falar sobre os “porquês” seria muito interessante.
Talita: Eu amo o que vai além da cópia perfeita, gosto de sentir a textura dos lápis e das tintas, das estilizações com proporções harmoniosas, distorcidas ou não, do movimento, da fluidez da composição de um desenho ou pintura, de composições cromáticas perfeitas, mas acima de tudo da criatividade. Uma boa ideia que foi bem executada pode te levar a uma reflexão infindável, pode te fazer se apaixonar instantaneamente.
Dos artistas que mais me inspiram a suma maioria são mulheres fantásticas: Chiara Bautista, Loish, Michael Huassar, Chris Hong, Lora Zombie, Bianca Nazari e Ursula Dourada.
Baiestorf: Com sua arte você está aberta a todo tipo de trabalho ou gostaria de se especializar somente em uma área?
Talita: Não consigo olhar pra mim mesma e me encaixar em uma área só. Eu amo tudo e tenho curiosidade por tudo! A ilustração é minha área de atuação e mesmo dentro dela eu adoro transitar entre materiais diferentes e conhecer e estudar tudo o que eu puder. Essa é a beleza de uma mente que não para, mesmo que a gente precise se forçar ao extremo para segurar o foco no topo da lista.
Sad Devil 1
Baiestorf: Conte sobre suas exposições e como produtores poderiam levá-la para suas cidades/estados.
Talita: De aquarelas de todos os temas, ilustrações e histórias infantis, ilustrações de horror, BDSM, retratos femininos de modelo vivo, séries de pinturas de personagens Star Wars, aulas e workshops de desenho e aquarela, eu possuo um acervo que pode agradar a públicos do 8 ao 80 e estou sempre aberta a propostas e projetos. Basta entrar em contato e com certeza algo bacana nasce.
Baiestorf: Como é realizar trabalhos artísticos aqui no Brasil? Há reconhecimento? Oportunidades?
Talita: É muito complicado e não acredito que isso seja segredo pra ninguém. A coisa vem com muita luta, pouco apoio, pouquíssimo reconhecimento. É legal que trabalhemos por amor, mas pagar as contas não é uma condição que a gente possa abrir mão. A maioria das “oportunidades” são na verdade pessoas oportunistas querendo trabalho de graça, mas também existem algumas poucas pessoas incríveis que sabem dar oportunidades reais a artistas.
Precisamos de uma conscientização maior sobre o que é viver de arte para que as pessoas entendam que não é um caminho fácil… Ouvir coisas do tipo “você só desenha ou trabalha também?” mostra o quanto o brasileiro ainda está meio que “lá atrás” quando se trata de arte, ver a galera pagando 500 reais no ingresso do artista internacional tal mas não consegue despender 50 conto no livro do amigo que mora na tua cidade, diz muito sobre como a nossa mentalidade alcança um ponto limitado às vezes. Precisamos muito de reconhecimento, sim, mas mais oportunidades de ser o que somos.
Trio de Doces
Baiestorf: Você está com trabalhos em finalização? Poderia falar sobre eles e como o público poderá acompanhá-los?
Talita: Estou terminando um livro que espero que seja lançado até o final de 2018 e ilustrando para um autor de horror maravilhoso e pretendemos lançar em Setembro também desse ano. Não posso falar muito desses, mas logo logo uma coisa ou outra começa a apontar por aí.
Faço atualizações constantes nas minhas redes sociais que são minha página no facebook e instagram: @talitaabreu.art
Pra comprar material meu, fazer encomendas ou falar sobre projetos, as pessoas podem entrar em contato comigo por essas redes sociais ou irem direto no site: http://www.capitaodoce.com.br
Baiestorf: E seus projetos? É possível sabermos um pouquinho deles?
Talita: Tenho um projeto em andamento com mulheres voluntárias que posam para mim e contam suas histórias de abuso e uma série de ilustrações sobre BDSM também em andamento. Qualquer mulher que queira participar do projeto Ser Mulher, pode entrar em contato via e-mail:
talitaabreu.art@gmail.com
Baiestorf: Geralmente a arte no Brasil é produzida de forma independente e é difícil conseguir se manter. O que você gostaria de observar sobre isso.
Talita: A arte independente depende de vários fatores e pra ser um apoiador, claro que você pode comprar os produtos, mas a divulgação não custa nada e também é fundamental. Se você gosta de um artista, divulgue a arte dele, fale dele pros seus amigos, comente e compartilhe suas postagens, vá a seus eventos, mostre ele por aí, porque assim você não só faz a arte circular e se tornar algo vivo, como ajuda a gerar renda para esses artistas para que eles continuem fazendo arte! Assim você literalmente faz a arte existir.
Sad Devil 2
Baiestorf: O espaço é seu para as considerações finais:
Talita: Queria primeiro agradecer ao Petter por todo o carinho e consideração com os artistas. É difícil ver alguém que não gira em torno dos próprios projetos e está sempre procurando uma forma nova de entrar em contato com os outros e fazer a arte deles crescer. É de pessoas assim que podemos fazer um país onde a arte prospere e se expanda. A oportunidade de estar aqui no seu blog e inaugurar esse hall de entrevistas me põe um baita sorriso no rosto… Obrigada Petter! Se você é um aspirante a artista, eu só posso te dizer… Lute pela sua arte, mas antes de mais nada, estude, estude sempre, estude MUITO!!! A gente nunca vai ser o melhor no que fazemos, então a humildade é um órgão vital a partir do momento em que você se compromete com você mesmo e com a verdade. Fale com outros artistas, saia da sua zona de conforto. E obrigada a você que leu minha entrevista e se deu uma oportunidade de ver as coisas desse ponto de vista. Queria deixar o canal aberto para a comunicação comigo por qualquer meio que te for mais confortável. E não se esqueça… Apoie os artistas!
Pintar e desenhar é, também, muito sobre minhas obsessões. Nos meus últimos esboços e quadros não pude fugir disso e tenho feito uma série de garotas galhadas, de selvagens que carregam um puta fardo na cabeça. Eu até diria que são atormentadas, embora elas jurem que não, mas, para mim, são únicas e fascinantes. Meio gente, meio bicho. A série é composta por ilustrações e pinturas – as pinturas se encaixam dentro de uma série-mãe chamada “Don’t Fit” que já tenho divulgado por aí.
Outra série de ilustrações que provavelmente não terá fim é a “Personas”, inspirada em Bergman e seus filmes, não só o “Persona”, mas vários deles. Filmes e autores teem me inspirado desde o começo e eu tenho uma verdadeira obsessão pelos filmes do Bergman, por sua visão, temáticas, me identifico com suas manias, então eu precisava extrair isso mais cedo ou mais tarde e fazer a minha homenagem. Como essas séries não tem um fim, fiquem ligados no meu site e no facebook para ver todas as novidades que forem surgindo, atualizo o tempo todo.
Aqui estão os primeiros esboços.
Antler Girls – nanquim sobre papel – 20x30cm – 2012
Antler Girl #1 – Original à venda – com moldura – R$ 100,00, frete grátis para todo o Brasil. Para mais informações: bukleyla@gmail.com
Antler Girl #2 – Original à venda – com moldura – R$ 100,00, frete grátis para todo o Brasil. Para mais informações: bukleyla@gmail.com
Antler Girl #3 – Original à venda – com moldura – R$ 100,00, frete grátis para todo o Brasil. Para mais informações: bukleyla@gmail.com
Antler Girl #4 – Original à venda – com moldura – R$ 100,00, frete grátis para todo o Brasil. Para mais informações: bukleyla@gmail.com
Originais emoldurados à venda – R$ 100,00, frete grátis para todo o Brasil. Para mais informações: bukleyla@gmail.com
Personas (não estão à venda) – nanquim e acrílica sobre papel – 20x30cm – 2012
Há pouco tempo fiz outro blog, um pouco mais pessoal e onde falo mais sobre meus trabalhos e coisas que me inspiram. Atualizo sempre que dá. Me sigam por lá também: http://leylabuk.wordpress.com/