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Blood Sabbath (1972, 86 min.) de Brianne Murphy. Com: Anthony Geary, Dyanne Thorne, Susan Damante, Sam Gilman, Steve Gravers, Kathy Hilton, Jane Tsentas e Uschi Digard.
Um veterano do Vietnã está viajando a pé pelos USA quando sofre um acidente e é encontrado por uma ninfa d’água por quem se apaixona. Alotta (Dyanne Throne), a rainha das bruxas e inimiga da ninfa d’água quer o jovem soldado para ela e, com seu clã de feiticeiras, seduz não só o soldado como, também, um padre e Lonzo, um andarilho da floresta que abrigou o soldado em sua casinha.
Filmado em apenas 10 dias, “Blood Sabbath” é uma grande diversão que não se leva a sério em momento algum. O roteiro é todo furado, todas as atrizes ficam peladas o tempo todo, o trabalho de câmera é toscão e os diálogos nonsenses foram captados num sistema de som extremamente vagabundo, bem no clima das produções sem grana que produtores exploitations realizavam de qualquer jeito no início dos anos de 1970 para suprir a demanda por lixos cinematográficos em drive-ins e grindhouses.
“Blood Sabbath” foi dirigido pela atriz inglesa Brianne Murphy em clima de curtição (o filme parece uma grande brincadeira de amigos). Em 1960 Brianne atuou em “Teenage Zombies” de Jerry Warren e se apaixonou pela produção vagabunda americana (tendo se casado com o ator/produtor/diretor Ralph Brooke que concebeu asneiras como “Bloodlust!” de 1961). Ainda no início da década de 1960 se tornou diretora de fotografia e trabalhou em filmes de Hollywood como “Fatso” (1980) de Anne Bancroft e inúmeras séries de TV. Curiosidade: Brianne foi a primeira diretora de fotografia a trabalhar num grande estúdio de Hollywood (a função é dominada por homens).
Ainda na equipe técnica de “Blood Sabbath” encontramos Lex Baxter assinando (como Bax) a trilha sonora do filme. Com mais de 100 trilhas nas costas, Baxter já havia trabalhado em filmes como as produções de baixo orçamento “The Bride and the Beast” (1958), de Adrian Weiss, e realizações da A.I.P., muitas dirigidas por Roger Corman, como “House of Usher/O Solar Maldito” (1960); “Tales of Terror/Muralhas do Pavor” (1962) e “The Raven/O Corvo” (1963).
No elenco vemos Dyanne Thorne se divertindo horrores no papel da bruxa Alotta. Nascida em 1943 se tornou atriz e surpreendeu no softcore “Sin in the Suburbs” (1964) de Joe Sarno. Sempre adepta das produções de baixo orçamento esteve no pequeno clássico da ruindade “Wham! Bam! Thank You, Spaceman!” (1975), de William A. Levey, e entrou definitivamente para a história do cinema vagabundo ao encarnar a oficial nazista Ilsa em uma série de nazixploitations de Don Edmonds com “Ilsa: The She Wolf of the SS” (1975); “Ilsa, Harem Keeper of the Oil Sheiks” (1976) e “Ilsa the Tigress of Siberia” (1977), desta vez dirigida por Jean LaFleur (sem contar “Greta Haus Ohne Männer/Ilsa – The Wicked Warden” (1977), uma picaretagem do Jesus Franco). Sem nunca ter se livrado da personagem Ilsa, Dyanne Thorne apareceu em “House of Forbidden Secrets” (2013), produção do videomaker Todd Sheets, onde contracenou com Lloyd Kaufman da Troma. Entre as garotas peladas de “Blood Sabbath” encontramos ainda Jane Tsentas (atriz em mais de 40 sexploitations, incluindo deliciosas bobagens como “The Exotic Dreams of Casanova” (1971) de Dwayne Avery e “Terror at Orgy Castle” (1972) do especialista em satanismo retardado Zoltan G. Spencer), Kathy Hilton (atriz em mais de 60 produções, incluindo “Sex Ritual of the Cult” (1970) de Robert Caramico, um filme satânico tão imbecil quanto “Blood Sabbath”; “The Toy Box” (1971) de Ron Garcia e “Invasion of the Bee Girls/Invasão das Mulheres Abelhas” (1973) de Denis Sanders) e, segundo o site IMDB, Uschi Digard (atriz que dispensa apresentações aos fanáticos por filmes bagaceiros), que não consegui identificar na cópia ruim que tenho do inacreditável “Blood Sabbath”.
Por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.
“Remake, Remix, Rip-Off: About Copy Culture & Turkish Pop Cinema” (2014, 96 min.), de Cem Kaya, ganha exibição neste dia 04 de outubro no Interzona Cineclube (Cine Odeon, Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro, no Rio de Janeiro), às 20:30 com ingresso online sendo vendido aqui no CCLSR.
“Remake, Remix, Rip-Off” conta a história do Cinema Turco entre as décadas de 1960 e 1970, quando a Turquia ostentava o título de um dos maiores polos produtores de cinema do mundo, apesar de sua indústria de cinema sofrer de um déficit criativo crônico: a falta de roteiristas. A fim de manter o fluxo de filmagens, produtores turcos copiavam roteiros e argumentos de produções internacionais. Assim, para qualquer título de sucesso, como Tarzan, Drácula ou Star Trek, passou a existir uma versão turca. Este documentário nos apresenta a época de ouro do cinema popular turco, quando os diretores deviam ser rápidos e os atores resistentes.
Aproveitando essa exibição no Rio de Janeiro entrei em contato com o diretor Cem Kaya e solicitei uma entrevista sobre seu documentário e a indústria cinematográfica turca e fui prontamente atendido. Cem Kaya é extremamente simpático e seu filme, “Remake, Remix, Rip-Off” um dos mais divertidos e inspiradores documentários que tive o prazer de assistir nos últimos tempos. O cinema Turco e o cinema brasileiro são irmãos bastardos e possuem muitas coisas em comuns, como Kaya atesta na entrevista.
Cem Kaya
Baiestorf: Sou um grande fã do cinema realizado na Turquia entre os anos 60 e 80 e seu documentário expandiu ainda mais meus horizontes de cinéfilo. Como surgiu a idéia de documentar este período do cinema de seu país?
Cem Kaya: Eu nasci na Alemanha, em uma comunidade de trabalhadores expatriados turcos na década de 70. Então, não assisti os Yesilçam movies nos cinemas da Turquia e sim em VHSs lançados na Alemanha. Por falta de conteúdo turco na TV alemã, o surgimento dos aparelhos de VHS abriu um imenso mercado para distribuidores de filmes turcos. Vídeo clubes surgiram em todos os lugares. Meu padrasto, que tinha uma mercearia, possuía num cantinho uma sessão de vídeos turcos. Então tive acesso imediato a estes filmes. Nestas lojas não havia somente filmes turcos, mas também muitas produções de Bollywood e Hong Kong dubladas em turco. Os filmes turcos eram de todos os tipos, de melodramas em preto e branco dos anos 60, passando por comédias sexuais dos anos 70, ultra brutais filmes de vingança tipo os dirigidos por Çetin Inanç nos anos 80, até filmes de arte de diretores como Yilmaz Güney. Anos mais tarde, na faculdade, escrevi minha tese de mestrado sobre remakes turcos e, a partir de minha pesquisa acadêmica, desenvolvi o roteiro de “Remake, Remix, Rip-Off”.
Baiestorf: Parece-me que há muitas produções deste período ainda esperando parar serem descobertas pelo resto do mundo.
Íntíkamci
Kaya: O Turkploitation é conhecido por seus notórios remakes, ou reinterpretações como “3 Dev Adam”, “Star Wars Turco” ou o “Turkish Exorcist”. Mas há muito mais remakes ou re-imaginações turcas do que se pode imaginar, porque os roteiristas trabalhavam muito remodelando as histórias. As vezes, assistindo um filme, eu acho que sei para onde a história vai ir, mas, em certo ponto, há uma torção e, de repente, estou numa nova história. Além disso há alguns diretores, não tão cultuados quanto Çetin Inaç ou Yilmaz Atadeniz (que nós amamos), que devemos assistir duas vezes. Um deles é Yilmaz Duru que realmente tinha estilo próprio, outro é Cevat Okçugil (e seu irmão Nejat Okçugil) e meu diretor favorito no cinema turco, Aykut Düz. Por exemplo, há um filme de Aykut Düz chamado “Muhtesem Serseri” (“O Maladro Grandioso”) que nada mais é do que um remake de “3:10 to Yuma” (“Galante e Sanguinário”, 1957) misturado com “Midnight Run” (“Fuga À Meia-Noite”, 1988) que foi lançado no mesmo ano. Ele se desenvolve na Turquia contemporânea e é engraçadíssimo porque a dupla de atores do filme ((Cüneyt Arkin e o próprio Aykut Düz) e comportam como Terence Hill e Bud Spencer. Os diálogos são hilários e as filmagens beiram o documentário, retratando fielmente os distritos de Luz Vermelha em Istanbul. Você não encontra este filme nas listas de remakes turcos.
Baiestorf: Foi fácil encontrar e convencer os velhos cineastas à darem depoimentos? Aqui no Brasil a velha geração de cineastas fica desconfiada quando novos cineastas tentam entrevista-los.
Kaya: A maioria dos cineastas foram bastante amigáveis e estavam prontos para contar suas histórias. O Yesilçam Cinema é considerado cinema industrial convencional sem valor artístico. Então, quando um cara vem da Alemanha e está seriamente interessado em registrar este cinema, mesmo os céticos ficam lisonjeados e aceitam dar entrevista. Fizemos uma centena de entrevistas, das quais cerca de cinquenta estão no filme. Talvez no Brasil também tenha que vir alguém de fora registrar o cinema popular brasileiro.
Baiestorf: É possível você apresentar um pouco da indústria cinematográfica turca para os cinéfilos do Brasil.
Kaya: Mesmo com o atraso em vários aspectos culturais do Império Otomano, os equipamentos cinematográficos chegaram cedo ao país através de um empresário chamado Sigmund Weinberg . Mas infelizmente o cinema não se desenvolveu completamente até a década de 1950. Escolas de cinema não existiram até meados de 1970, ironicamente, surgiram num momento em que o Yesilçam Cinema entrou em crise. Aprender a fazer cinema só era possível artesanalmente ou assistindo a produções estrangeiras que eram exibidas dubladas nos cinemas das grandes cidades. Na década de 30 existiu apenas um diretor, Muhsin Ertugrul, que teve alguma educação sobre cinema no exterior. Na década de 40 alguns novos cineastas surgiram, como Baha Gelenbevi e Faruk Kenç, mas estes tiveram que lidar com os efeitos econômicos da segunda guerra mundial que tiveram um grande impacto na Turquia. Existem três razões principais pelas quais uma indústria cinematográfica como a de Yeşilçam possa surgir do nada:
1- Em 1948 o imposto de entretenimento foi reduzido para os filmes turcos, mas não para os filmes estrangeiros. Então a produção de filmes tornou-se lucrativa;
2- O governo do Partido Democrático (eles não eram democráticos em tudo), na década de 1950, estimulou a economia e levou eletricidade para muitas regiões da Anatólia, onde, em seguida, vários cinemas surgiram;
3- Os importadores de cinema estrangeiro não tinham redes de distribuição na Anatólia.
Kilink Istanbul’da
Essas circunstâncias criaram um mercado no interior da Anatólia. Assim, de repente, cineastas turcos tinham de produzir centenas de filmes para o público rural com fome de histórias nacionais. Para ser capaz de alimentar o mercado, o cinema de Yesilçam (que é o nome de uma rua em Istanbul onde as empresas tiveram seus escritórios, comparável a Boca do Lixo paulista) teve de produzir histórias rápidas e baratas, sob medida para o gosto de seu público rural. Devido a falta de pessoal competente, roteiristas muitas vezes adaptavam histórias que tinham visto em faroestes. Devido a falta de leis e acordos internacionais de direitos autorais, a indústria local estava “autorizada a emprestar” roteiros, trilhas sonoras e, muitas vezes, até mesmo trechos de filmes ocidentais de sucesso que foram, elegantemente, editados com o material filmado pelos cineastas. Quando, por exemplo, tinham de mostrar terremotos, perseguições de carros ou um combate espacial, filmes de sucesso forneciam o material de arquivo. Mas muitos cineastas turcos também fizeram filmes importantes, cineastas como Metin Erksan ou o curdo Yilmaz Güney, produziram filmes de ação baratos e melodramas de doenças terminais para as massas, mas também cinema sério sobre temas socialmente relevantes, a maioria dos quais hoje clássicos do cinema turco. O cinema de Yesilçam teve seu auge na década de 70 com suas comédias sexuais, muito semelhantes à pornochanchada realizada na Boca do Lixo paulista. Dois golpes militares (1971 e 1980), censura severa e, finalmente, com o advento da televisão no final dos anos 60, o cinema foi perdendo força. 1989/1990 são considerados os últimos anos do cinema de Yesilçam. Com o surgimento da TV a cabo uma nova forma de entretenimento apareceu: Os seriados de TV. Turquia, assim como o Brasil, é um dos maiores produtores de novela do mundo.
Baiestorf: Assistindo seu documentário temos uma ideia de como os cineastas sofriam com a censura. E nos dias de hoje? Como funciona a censura, há mais liberdade para se fazer filmes?
Kaya: Desde seu início o cinema turco sofreu com a censura. O conselho de censura que foi fundado nos anos 30 tinha de liberar os roteiros e depois conferir os filmes produzidos. Os membros do conselho eram representantes da polícia, militares, o ministério da educação e assim por diante. Assim, os cineastas precisavam pensar em roteiros que fossem aprovados pelo conselho, desnecessário dizer que eles não eram muito corajosos. Eles tinham que ter muito cuidado para não colocar assuntos sociais ou políticos em seus filmes. Nada contra o sistema político poderia aparecer, sob risco de serem considerados propaganda esquerdista e, portanto, proibidos. Muitos filmes estavam autorizados a serem exibidos apenas na Turquia porque o governo temia que eles poderiam denegrir a imagem do país no exterior. Muitos filmes só puderem ser exibidos após terem ganhado processos contra o conselho de censura na suprema corte. A censura hoje é muito pior do que nos tempos do cinema de Yesilçam. Estamos vivendo sob uma ditadura muçulmano radical com agenda neo liberal na Turquia. Todas as formas de cultura (cinema, imprensa, teatro, artes, literatura, até a vida social) estão sofrendo muito com a censura cada vez mais forte. Isso incluí o cinema, do financiamento até a distribuição. É muito triste.
Baiestorf: Você pode contar algo que não está no documentário? Talvez sobre o filme “Dünyayi Kurtaran Adam” (“Star Wars Turco”), que acredito que seja o filme de seu país mais conhecido aqui no Brasil.
Kaya: “Dünyayi Kurtaran Adam” foi filmado no rescaldo do golpe militar de 12 de Setembro de 1980, quando a Turquia ainda era governada sob lei marcial, assim como nos dias de hoje. Çetin Inanç e sua equipe, no entanto, estavam filmando em Cappadocia que tem uma geografia muito peculiar para se parecer com outro planeta. Nas cenas dentro das cavernas necessitava-se iluminação, mas eles não podia colocar lá a iluminação porque o gerador não funcionava devido a umidade. Então eles decidiram construir um sistema de espelhos que trazia a luz para dentro das cavernas. Você pode perceber, claramente, alguns pontos de luzes em algumas cenas. Çetin Inanç havia construído um cenário para as cenas de efeitos especiais no espaço, mas elas foram destruídas com um vendaval. Após a destruição de seu cenário que ele decidiu usar cenas de “Star Wars” em sua produção. O cérebro por trás das cenas de found footage era Kunt Tulgar, dono de um estúdio de dublagem e diretor de “Supermen Dönüyor” (“Superman Returns”, 1979). Seu pai, Sabahattin Tulgar, era importador de filmes estrangeiros e foi diretor de “Tarzan Intanbulda” (“Tarzan in Istanbul”, 1952). Em seu porão ele tinha os rolos de todos os filmes que importou, um grande tesouro na era não-digital. Desta forma, além de “Star Wars”, eles puderam pegar trechos de “Black Hole” da Disney, “The Magic Sword” (1962) de Bert I. Gordon, alguns italianos de sci-fi menos conhecidos e, até, filmagens da NASA que encontraram em documentários. As fantasias e monstros foram inspiradas pelo filme de Hong Kong “Inframan” (“Zhong Guo Chao Ren”, 1975) de Shan Hua. Conheci o designer do cartaz do filme em Istanbul que me contou que a promoção para o filme era maior do que o habitual. Havia dois cartazes diferentes, um em inglês, o que significa que desde o início eles já planejavam vender para o exterior e, outro, em turco. O filme também teve uma quantidade maior de lobby cards.
Baiestorf: Ao assistir “Remake, Remix, Rip-Off” me dei conta de que a indústria cinematográfica turca e a brasileira são muito parecidas. Como está a produção de filmes hoje? Você poderia indicar ao público brasileiro alguns divertidos filmes atuais?
Kaya: Hoje temos uma produção de filmes de arte, bem diferentes do cinema de Yesilçam. Estes diretores vem de uma tradição que negligencia o cinema de Yesilçam por suas próprias razões. Muitos dos cineastas de cinema de arte de hoje foram inspirados pelos pioneiros do cinema turco independente dos anos 80, como o já mencionado Yilmaz Güney e Ömer Kavur ou, cineastas dos anos 90 como Yesim Ustaoglu e Zeki Demirkubuz. Eles realizaram filmes com pouco dinheiro e equipe reduzida e, mesmo assim, tiveram reconhecimento internacional em festivais de todo o mundo. Os anos 90 foram uma época difícil para os cineastas curdos. Após a implantação da política Islã com o governo islâmico radical AKP no poder, fazer cinema independente está se tornando cada vez mais difícil. Além disso, o cinema comercial e a TV comercial estão florescendo. Diz-se que há mais câmeras Arri em Istanbul do que em toda a Europa. No cinema de gênero “Baskin” (2015), o filme de estreia de Can Evrenol, foi uma verdadeira surpresa. É um filme de horror que atraiu público no mundo todo. O próprio diretor é um fã dedicado do cinema fantástico turco. Outro filme bem divertido que gosto bastante é “Vavien” (2009) dos irmãos Taylan, sobre um cara que quer matar sua esposa com uma abordagem Coen Brothers para a história. Dos documentários turcos gosto de “Bakur” (2015), sobre combatentes do PKK curdo nas montanhas de Kandil ou “Iki Dil Bir Bavul” (2008), sobre um professor de escola primária turca que tenta ensinar a língua turca para crianças curdas, estão entre os dez melhores documentários turcos para se assistir. Outro filme importante é “Tepecik Hayal Okulu” (2015), documentário sobre o diretor Ahmet Uluçay, recentemente falecido, um cineasta único que tem minha simpatia por ser um visionário e possuir uma maneira única de narrar suas histórias. Seu filme de ficção “Karpuz Kabugundan Gemiler Yapmak” (“Boats of Watermelon Rinds”, 2004) é uma ode ao cinema DIY (do it yourself).
Baiestorf: Como está sendo a carreira comercial de seu documentário? Ele foi lançado em muitos países? Sei que foi sensação em várias mostras de cinema pelo mundo.
Kaya: “Remake, Remix, Rip-Off” foi exibido em cerca de cem festivais em todo o mundo, incluindo Locarno, Rotterdam e o Festival de Berlin. Também foi exibido em muitos festivais de cinema de gênero, como Fantastic Fest, Fantasia e Sitges. No Brasil estávamos no Festival do Rio e outros dois que esqueci o nome (shame on me!). O lugar mais longe em que foi exibido foi no Hawaii e o mais perto (de onde vivo) Munique. Ele também tem uma versão mais curtas exibida na TV alemã ZDF, que também financiou uma grande parte do filme. No momento estamos trabalhando para o lançamento em DVD e, também, lançamentos nas plataformas de VOD.
Baiestorf: Assisti seu filme no festival A Vingança dos Filmes B, em Porto Alegre. Sessão lotada e o público rolando de rir. Foi uma ótima sessão, com o público muito feliz e inspirado ao final da sessão. Cem, obrigado pela entrevista e, mais importante, obrigado por ter feito este documentário tão divertido e informativo.
Kaya: Muito obrigado pra ter a chance falar sobre o meu filme.
Veja o trailer de “Remake, Remix, Rip-Off” aqui:
Quando: dia 04/10, as 20:30 no Odeon.
Interzona Cineclube e Cine Odeon – Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro apresentam a sessão de Remake Remix Rip-Off – O fantástico cinema popular turco!, o sensacional documentário dirigido por Cem Kaya sobre umas das filmografias mais divertidas e ensandecidas do planeta: o cinema popular turco!!
Cultuado por colecionadores e pesquisadores de filme B, é difícil pensar nos turcos sem lembrar em cinema de gênero, especialmente no gênero fantástico. Com poucos recursos, mas ricos em criatividade, nada era impossível para os realizadores destes filmes. Donos de um fazer cinema orquestrado por profissionais apaixonados, acostumaram a trabalhar rápido, com baixo orçamento, muito improviso e em escala industrial.
Nesse liquidificador cultural entrava de tudo: quadrinhos, westerns italianos, novelas pulp, naves espaciais, cientistas malucos, robôs, monstros, super heróis, vilões, vikings, fadas, cowboys, justiceiros, gangsters, dramalhão, muito nonsense e soluções inusitadas devido ao pouco tempo e dinheiro. O resultado desta mistura maluca é a mais pura diversão e inventividade.
A sessão contará com apresentação do pesquisador Fábio Vellozo e um debate após a sessão: “As delicias do maravilhoso cinema popular turco” contando com Fábio Vellozo, Christian Caselli e Gurcius Gewdner, 3 fanáticos pelo mundo maluco e divertido dos cineastas turcos.
Ontem eu estava procurando a biografia do Edgar Allan Poe (que tenho guardada numa caixa embaixo da cama) e na minha procura encontrei a revista “Rudolf” (Macho Magazine) que era dos meus tempos de guri. Dei fim da busca pela biografia do Poe e corri aqui digitalizar a “Rudolf” número 1 (editora Ki-Bancas Ltda.) para disponibilizar ela aqui no Canibuk. Achei, também, algumas outras revistas eróticas na mesma caixa e as digitalizarei/postarei mais no futuro.
Boas punhetas com a “Rudolf”, era a pornografia que existia antes da era internet, bateu maior nostalgia!
Ana Cristina Cruz Cesar (1952-1983) antes mesmo de aprender a ler, aos seis anos de idade, já editava poemas para sua mãe. Em 1970 começou a divulgar seus próprios poemas em jornais alternativos, fanzines mimeógrafados e outras publicações independentes. Aos 31 anos cometeu suicídio atirando-se pela janela do apartamento de seus pais que ficava no oitavo andar.
Certa vez ela afirmou:
“Mantê-la mantê-la a todo custo
eu ainda sei ler, minha mãe
eu ainda sei ler, meu pai
estou mantendo ainda
ainda tenho algumas horas no dia
ainda sonho em fazer canções
e mesmo quando me apaixono insanamente
e desejo fontes de juventude boca a boca
(na praça clóvis minha carteira foi batida)
e mesmo quando endoideço aos vôos flutuantes perseguida por
galgos que me brincam e acalantam minha insônia
forçada de doideira
(chega um pouco pra lá, meu amor, se afasta um pouco)
e mesmo quando as lentes se perdem (e as palavras)
ainda sei ler, meu pai
ainda sei ler, minha mãe
ainda sei dizer: queimo,
e não arder simplesmente.”
Torquato Pereira de Araújo Neto nasceu em Teresina/PI em 1944. Na década de 1960 mudou-se para o Rio de Janeiro/RJ dedicando-se ao curso de jornalismo. Em 1971 estrelou “Nosferatu no Brasil” de Ivan Cardoso, fazendo o papel de um hilário vampiro que andava de dia pelas praias cariocas. Se suicidou no ano seguinte deixando o bilhete que dizia: “Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar”.
“Torremolinos 73” (“Da Cama Para a Fama”, 2003, 91 min.) de Pablo Berger. Com: Javier Cámara, Candela Peña e Juan Diego.
Este filme é uma bela surpresa para qualquer cinéfilo. Tinha visto ele na época de seu lançamento em DVD aqui no Brasil, com o equivocado título nacional de “Da Cama para a Fama” (coisas da distribuidora Imagem Filmes, que nunca teve grande criatividade para títulos, nem capinhas, e nunca soube muito bem como vender seus produtos para o público certo), e alguns dias atrás revi este pequeno grande filme e continuei achando empolgante e digno de indicação.
“Torremolinos 73” conta a história de Alfredo López (Javier Cámara), vendedor de enciclopédias de porta em porta, que está com problemas em casa: Não entra dinheiro e sua esposa Carmen (Candela Peña) está querendo um filho. Ao ser chamado por seu patrão para uma reunião, Alfredo teme pelo pior. Mas não, eis que surge a oportunidade dele ingressar no maravilhoso mundo do cinema com produções eróticas em Super 8 para serem encartadas numa enciclopédia audiovisual sobre a reprodução humana. Com sua esposa sendo sua atriz-musa inspiradora, nosso aspirante a cineasta começa a fazer vários curtas pornográficos e finalmente o dinheiro começa a entrar em sua vida. Estuda técnicas e iluminações possíveis para o Super 8 e de filme em filme vai evoluindo e caindo nas graças de seu patrão mercenário. Ao mesmo tempo que Alfredo se encanta com as possibilidades do cinema, Carmen fica mais frustrada por não conseguir engravidar (numa linda comparação entre cinema-filhos). É significativo a cena em que Alfredo vai se masturbar no banheiro de um hospital para colher seu esperma para exames – onde a contagem de seu esperma é zero – e ali, se masturbando solitário com uma foto da esposa, ele concebe a idéia para o roteiro de seu primeiro longa, intitulado “Torremolinos 73”.
Alfredo López é fanático pela obra de Ingmar Bergman, mas filma como se fosse Jesus Franco. Essa relação entre Bergman-Franco fica ainda mais óbvia quando a produção de “Torremolinos 73” tem início. Filmado no inverno na cidade de Torremolinos (município turístico banhado pelas água do Mediterrâneo), portanto quase uma cidade fantasma. Alfredo e sua pequena e dedicada equipe-técnica (composta de dinamarqueses que não falam espanhol) vão criando uma homenagem à “Det Sjunde Inseglet/O Sétimo Selo”, com cara de “Macumba Sexual”, que fala sobre sexo, desejo e morte, com momentos do mais puro horror acidentalmente surrealista de Franco. Arte e lixo andam de mãos dadas! Não posso revelar o final, mas basta dizer que numa seqüência chave Alfredo consegue finalizar seu filme e Carmen consegue realizar seu sonho de engravidar. Aliás, Alfredo e Carmen são Jesus e Lina!!!
Ernst Ingmar Bergman (1918-2007) nasceu na Suécia e começou a trabalhar no cinema em 1941 como roteirista. Em 1957 surpreendeu o mundo ao lançar, com apenas 10 meses de intervalo, dois clássicos do cinema mundial, “Det Sjunde Inseglet/O Sétimo Selo” e “Smultronstället/Morangos Silvestres”, filmes eternamente copiados por cineastas acadêmicos sem imaginação ou inventividade. Com uma sucessão incrível de filmes excepcionais, muitos deles explorando a fé e a existência de Deus (o pai de Bergman era um luterano fanático, simpatizante do nazismo, que foi ministro do rei da Suécia), em 1966 escreveu e dirigiu “Persona”, filme que ele considerava sua obra-prima. Em 1976 foi preso por sonegação de impostos e jurou que nunca mais faria um filme na Suécia, promessa quebrada em 1982 quando voltou ao seu país de origem para dirigir “Fanny Och Alexandre”. Bergman é adorado tanto por acadêmicos chatos quanto por trashmaníacos descolados.
Jesús Franco Manera (1930) é o principal cineasta ativo na Espanha (gente como Almodóvar, Iglesia ou Segura, me desculpem, vem depois), um gênio dos filmes de baixo-orçamento nunca reconhecido em seu próprio país. Fez filmes de tudo quanto é gênero e ganhou destaque internacional com seus filmes de horror entrelados por suas deliciosas mulheres, primeiro Soledad Miranda, depois a deusa Lina Romay. Dirigiu mais de 200 longa-metragens (neste ano de 2012, por exemplo, já lançou “La Cripta de las Condenadas” parte 1 e 2 e agora trabalha na pós-produção de “Al Pereira Vs. The Alligator Ladies” e 2012 ainda tem mais quatro meses). Você até pode odiar o cinema de Jesus Franco, mas nunca poderá fugir de suas produções. Aqui no Brasil inúmeros clássicos do mestre espanhol estão sendo laçandos em DVD pela distribuidora Vinny com o abusivo preço de R$ 40.00, em média, cada! Jesus Franco nunca foi preso por sonegação de impostos e seu pai não foi ministro do ditador generalíssimo Francisco Franco.
Pablo Berger (1963) nasceu em Bilbao, Espanha, e se tornou jornalista e, logo depois, publicitário. Em 1988 lançou o genial curta-metragem “Mamá” (que trazia como diretor artístico o cineasta Álex de la Iglesia), uma comédia de humor negro alucinada sobre um moleque fanático por cultura pop vivendo num porão com sua família histérica após os marcianos terem destruido a central Nuclear de Erandio. “Torremolinos 73” foi seu primeiro longa-metragem, onde o jovem diretor exercitou sua paixão pelo cinema com muito bom humor e uma trilha sonora carregada de fantásticos sucessos dançantes da música popular espanhola. Em setembro de 2012 deverá estreiar (na Espanha) seu novo longa, “Blancanieves”, sua versão dramática (seja lá o que isso signifique) do chatinho conto de fadas “Branca de Neves”. Pode ser uma merda, mas se tratando de um filme de Pablo Berger é bom dar uma espiadinha na produção.
Na “Spektro” número 13 (dezembro de 1979) foi publicada a HQ “O Papa-Figo” (corruptela de Papa-Fígado), escrita e desenhada pelo Mano, que contava a história desta interessante criatura do folclore brasileiro, também conhecida pela alcunha de “Velho do Saco”, que no cinema nacional fez uma macabra aparição no longa-metragem “A Noite do Chupacabras” (2011) de Rodrigo Aragão, magnificamente interpretada pelo gaúcho Cristian Verardi.
Tadanori Yokoo é um designer gráfico e artista plástico japonês nascido em 1936.
Tem uma obra extensa, passando por diversas áreas, como cinema, escultura, fotografia, colagens, cartazes e pintura. Com fortes influências do cineasta Akira Kurosawa e do escritor Yukio Mishima o cara esbanja originalidade e tráz uma mistura linda de herança da cultura oriental com a cultura conteporânea ocidental.
Criou inúmeros posteres psicodélicos para vários músicos nos anos 70, entre eles Beatles, Santana e Miles Davis:
The Beatles, 1972
Beatles - Star Club, 1977
Emerson, Lake & Palmer concert poster, 1972
Santana - Lotus, 1974
Tangerine Dream, 1976
E alguns posteres pra filmes, como o “The Trip” de Roger Corman’s
The Trip, 1968
Segue umas animações dele que é chamado de Andy Warhol do Japão. A semelhança é mesmo grande…