Arquivo para ateu

Ateu Graças A Deus

Posted in ateísmo, Literatura with tags , , , , , , , , , , , , , , on setembro 5, 2013 by canibuk

O acaso é o grande senhor de todas as coisas. A necessidade só vem depois. Não tem a mesma pureza. Se entre meus filmes tenho uma ternura particular por Le Fantôme de la Liberté, é talvez porque ele aborda esse tema inabordável.

O roteiro ideal, com o qual sonhei muitas vezes, procederia de um ponto de partida anódino, banal. Por exemplo: um mendigo atravessa uma rua. Vê uma mão que se estende pela janela aberta de um carro de luxo e joga no chão a metade de um charuto. O mendigo para bruscamente para pegar o charuto. Outro carro o atropela e mata.

A partir desse acidente pode ser feita uma série infinita de perguntas. Por que o mendigo e o charuto se encontraram? Que fazia o mendigo àquela hora na rua? Por que o homem que fumava o charuto o jogou fora naquele momento? Cada resposta dada a essas perguntas gerará outras perguntas, cada vez mais numerosas. Nós nos encontraremos diante de encruzilhadas cada vez mais complexas, levando a outras encruzilhadas, a labirintos fantásticos, onde teremos que escolher nosso caminho. Assim, seguindo causas aparentes que na realidade são apenas uma série, uma profusão ilimitada de acasos, poderíamos remontar cada vez mais longe no tempo, vertiginosamente, sem uma interrupção, através da história, através de todas as civilizações, até os protozoários originais.

Claro está que é possível tomar o roteiro pelo outro sentido e ver que o fato de jogar um charuto pela janela de um carro, provocando a morte de um mendigo, pode mudar totalmente o curso da história e conduzir ao fim do mundo.

Encontro um magnífico exemplo desse acaso histórico num livro claro e denso que representa para mim a quintessência de uma determinada cultura francesa, Ponce Pilate de Roger Caillois. Pôncio Pilatos, conta-nos Caillois, tem todas as razões para lavar suas mãos e deixar que Cristo seja condenado. É essa a opinião de seu conselheiro político, que teme perturbações na Judéia. É esse também o pedido de Judas, para que se realizem os desígnios de Deus. É essa até a opinião de Marduk, o profeta da Caldéia, que imagina a longa sequência de acontecimentos que ocorrerão depois da morte do Messias, acontecimentos que já existem, uma vez que ele os vê e é profeta.

A todos os argumentos Pilatos só pode opor sua honestidade, seu desejo de justiça. Após uma noite de insônia, toma sua decisão e liberta Cristo. Este é recebido com alegria por seus discípulos. Continua sua vida, seu ensinamento e morre bastante idoso, considerado um homem muito santo. A seu túmulo, durante um ou dois séculos, acorrerão peregrinos. Depois será esquecido.

E a história do mundo, naturalmente, será inteiramente diferente.

Esse livro me fez meditar durante muito tempo. Sei bem tudo o que podem dizer-me sobre o determinismo histórico ou sobre a vontade todo-poderosa de Deus, que levaram Pilatos a lavar suas mãos. Recusando a pia e a água, ele mudaria toda a sequência dos tempos.

Quis o acaso que lavasse as mãos. Não vejo, como Caillois, nenhuma necessidade nesse gesto.

Claro está, se nosso nascimento é totalmente fortuito, devido ao encontro acidental de um óvulo com um espermatozoide (por que exatamente este entre milhões?), o papel do acaso desaparece quando se constroem as sociedades humanas, quando o feto e depois a criança se acham submetidos a essas leis. E assim ocorre com todas as espécies. As leis, os costumes, as condições históricas e sociais de uma determinada evolução, de um determinado progresso, tudo o que pretende contribuir para o estabelecimento, o avanço, a estabilidade de uma civilização à qual pertencemos pela boa ou má sorte de nosso nascimento, tudo isso surge como uma luta quotidiana e tenaz contra o acaso. Nunca totalmente aniquilado, vigoroso e surpreendente, ele tenta conformar-se à necessidade social.

Mas creio que é preciso evitar ver, nessas leis necessárias que nos permitem viver juntos, uma necessidade fundamental, primordial. Parece-me, na realidade, que não é necessário que este mundo exista, que não é necessário que estejamos aqui vivendo e morrendo. Já que somos apenas os filhos do acaso, a terra e o universo poderiam ter continuado sem nós, até à consumação dos séculos. Imagem inimaginável, a de um universo vazio e infinito, teoricamente inútil, que nenhuma inteligência poderia contemplar, que existiria sozinho, caos duradouro, abismo inexplicavelmente privado de vida. Talvez outros mundos, que não conhecemos, sigam assim seu curso inconcebível. Atração pelo caos que às vezes sentimos profundamente em nós mesmos.

Alguns sonham com um universo infinito, outros o apresentam a nós como finito no espaço e no tempo. Eis-me entre dois mistérios, um e outro igualmente impenetráveis. De um lado a imagem de um universo infinito é inconcebível. Do outro, a idéia de um universo finito, que um dia já não existirá, torna a mergulhar-me num Nada impensável, que me fascina e me horroriza. Perambulo de um a outro. Nada sei.

Imaginemos que o acaso não existe e que toda a história do mundo, bruscamente tornada lógica e previsível, possa resumir-se em algumas fórmulas matemáticas. Nesse caso, seria necessário acreditar em Deus, supor, como inevitável, a existência ativa de um grande relojoeiro, de um ser supremo organizador.

Mas Deus, que tudo pode, não teria podido criar, por capricho, um mundo entregue ao acaso? Não, respondem-nos os filósofos. O acaso não pode ser uma criação de Deus, já que ele é a negação de Deus. Esses dois termos são antinômicos. Excluem-se mutuamente.

Não tendo fé (e persuadido de que a fé, como todas as coisas, nasce frequentemente do acaso), não vejo como sair desse círculo. É por isso que não penetro nele.

A consequência que disso extraio, para uso próprio, é muito simples: crer e não crer dá no mesmo. Se me provassem, neste instante, a luminosa existência de Deus, isso não modificaria rigorosamente em nada meu comportamento. Não posso crer que Deus me vigie permanentemente, que se ocupe de minha saúde, de meus desejos, de meus erros. Não posso crer, e de toda maneira não aceito isso, que ele pudesse punir-me por toda a eternidade.

Que sou eu para ele? Nada, um vestígio de lama. Minha passagem é tão rápida que não deixa marca alguma. Sou um pobre mortal, não conto nem no espaço nem no tempo. Deus não se ocupa de nós. Se existe, é como se não existisse.

Raciocínio que resumi no passado nesta fórmula: “Sou ateu, graças a Deus.” Uma fórmula que só aparentemente é contraditória.

Luis Buñuel, retirado de seu livro “Mon Dernier Soupir”.

Buñuel.

Buñuel.

O Caso Idalina

Posted in Anarquismo with tags , , , , , , , on fevereiro 12, 2011 by canibuk

Entre 1910 a 1912, destacou-se na imprensa anticlerical e anarquista a campanha de denúncias sobre o desaparecimento de uma menina de dez anos, Idalina de Oliveira, que se encontrava internada no Orfanato Cristóvão Colombo, em São Paulo.

Os jornais La Battaglia e A Lanterna, seguidos por outros jornais libertários, acusaram o padre Stefani de ter estuprado a menina, e que ela teria sido morta a golpes de pá na cabeça pelo padre Faustino Consoni, diretor do orfanato, ao tentar fugir.

Os jornais que denunciaram o estupro e a ocultação do cadáver, publicaram vários números especiais sobre o caso. Cartas de ex-alunos da escola foram enviadas às redações, denunciando novos crimes cometidos no orfanato-escola e em outras instituições religiosas. Os redatores, nas suas manchetes insistiam: “Onde está Idalina?” Os grupos anticlericais convocaram uma série de manifestações e comícios de protesto, exigindo o fechamento do estabelecimento e a punição dos envolvidos. Os responsáveis pelo inquérito policial foram acusados de conivência com os envolvidos e de não procurarem apurar com afinco o episódio.

A Igreja reagiu, chamando a polícia para reprimir as manifestações e recebendo o apoio da grande imprensa diária. Os denunciantes foram acusados de difamadores, procurando com suas ideologias exóticas denegrir a Santa Madre Igreja. Vários padres, procurando resguardar a reputação da Igreja e absolver os implicados no caso, partiram para o ataque. Artigos nos jornais e panfletos foram publicados produrando desmoralizar os “hereges anarquistas”. Entre os folhetos publicados, encontrava-se um do frei Pedo Sinzig, que apesar de ter como principal preocupação, impedir a criação de uma Escola Racionalista em Petrópolis e denunciar a pedagogia de Ferrer, acabava refutando a versão dos anticlericais sobre o ocorrido no orfanato Cristóvão Colombo.

– Muito bem, vamos a Idalina! Pensa o Sr. que são os católicos que têm de fugir da discussão? Vamos. Sabe como foi o fato, a calúnia? Foi esta: “o padre Stefani fez mal a Idalina em junho de 1907.” Foi ou não foi assim que disseram?

– Foi sim.

– Pois bem, o padre Stefani, nesta data estava na Itália, como podia fazer mal a uma menina em São Paulo?

Vamos ao segundo ponto. Sua imprensa lá, A Lanterna, que de luz não tem nada, afirmou…

– A Lanterna é uma luz verdadeira.

– Sim, como uma vela ao lado do sol rutilante. Vamos ao caso. Sua imprensa afirmou que “depois Idalina fora morta pelo padre Faustino Consoni, diretor do estabeleciemnto.

– Como o padre Faustino Consoni podia matá-la se ele estava muito longe, na fazenda S. Martinho!

O jornal A Lanterna retrucou as colocações do padre Sinzig com um agressivo artigo, cujo título era: “Fustigando um miserável Tartufo – resposta ao pé da letra ao frade Pedo (sic) Sinzig, que publicou um imundo folheto difamando a memória do grande mártir.”

Frei Pedo, o autor de tal moxinifada, é um ser anormal, de temperamento doentio, irritável, perigoso. Ele odeia mortalmente a todos os homens livres, a todas as iniciativas tendentes a instruir e educar racionalmente o povo, e, para impedir o progresso das idéias novas, a golpe de audácia, inverter a ordem natural das coisas.

Apesar de toda agitação, os padres acusados não foram castigados. Pelo contrário, a polícia prendeu Edgard Leuenrouth, diretor do jornal A Lanterna, e Oresti Ristori, diretor do La Battaglia.

O caso chegou aos tribunais. O frade Dr. J. de Souza Carvalho “pede 30 anos de prisão para O. Ristori e E. Leuenrouth, como reparo moral ao seu colega Faustino Consoni, por não existir pena de morte no Brasil”.

Apenas o crescimento dos protestos, a injustiça da acusação e os esforços do advogado e anarquista Benjamim Mota – que havia sido fundador do jornal A Lanterna – permitiram com que os prisioneiros fossem libertados.

escrito por Eduardo Valladares, parte do livro “Anarquismo e Anticlericalismo” (editoras Imaginário, Nu-Sol e Coletivo Anarquista SOMA). 

Nota do Blog: Pelos menos nos dias de hoje, aos poucos, os padres pedófilos estão (as vezes) pagando por seus crimes. A Igreja Católica dos U.S.A. já gastou mais de 3 bilhões de dólares para defender seus padres pedófilos.

Café

Posted in Bebidas with tags , , , , on janeiro 24, 2011 by canibuk

Leyla e eu somos apreciadores viciados de café e hoje eu acordei numa ressaca fodida só pensando em beber café e café e mais café. Café, porra, café salva sempre!!!

Diz a lenda que o café foi descoberto por um pastor chamado Kaldi, lá pelo Século IX, que observava que suas cabras ficavam mais espertas ao comer as folhas e frutos do cafeeiro, então ele experimentou os frutos e sentiu maior vivacidade. Um monge, informado por Kaldi, passou a fazer infusões de café para espantar seu sono na hora das rezas (tá vendo, café salva até do tédio que são essas orações idiotas).

O conhecimento sobre o café se disseminou no século XVI, sendo torrado pela primeira vez na Pérsia. Na Turquia Otomana o café era conhecido como “kahve” cujo significado também era vinho, dada a importância que o café possuía (nada mais justo, já que o café é tão delicioso quanto o vinho). Por volta de 1570 o café foi introduzido em Veneza, Itália, mas era proibido aos cristãos por ser considerado uma bebida maometana (religiosos realmente são bobos demais), só sendo liberado seu consumo após papa Clemente VIII ter experimentado e adorado (passou a usar para não dormir nos cultos).

Em 1727,no Brasil, o sargento-mor Francisco de Melo Palheta (cara desenhado aí do lado) recebeu a missão de conseguir mudas de café que já possuíam um grande valor comercial. Palheta, como um pré-agente secreto, foi prá Guiana Francesa e lá se aproximou da esposa do governador de Caiena e após várias investidas conquistou a confiança da moça e conseguiu com ela uma muda de café-arábico e a trouxe clandestinamente ao Brasil (a muda de café, não a esposa do governador). Genial a história de como o café foi trazido ao Brasil, daria um ótimo filme!

Enfim, como sempre digo (e Leyla me lembrou desta frase porque de ressaca meu cérebro anda em câmera lenta): “Café é melhor que Jesus Cristo. Jesus só salva cristão, café salva todo mundo!!!”.

fonte das informações: Wikipedia.

Santa Igreja da Roubalheira Consentida

Posted in Literatura, Nossa Arte with tags , , , , on novembro 12, 2010 by canibuk

Uma gata prenhe cheia de pulgas olha gordos trovões e seios amolecidos iluminados pelos relâmpagos na noite das orgias gastrostomicas lançadas via intravenosa por crianças com pernas amputadas e transgênicas senhoras calçando chinelos podres que sonham em transar com o Bispo da Santa Igreja Católica da Roubalheira Consentida, abarrotada de ouro Latino, que gargalha da sorte dos indígenas excluídos bebedores de raízes e água poluída vertente das entranhas da Mãe-Terra infestada de minhocas Euro-Mutantes cheias de perninhas-mãozinhas gatunas invisíveis que proíbem  os nativos de se rebelarem. ( Índio falastrão, fique deitado na sombra, não pense, não grite, não discuta !!! Índio falastrão, espere em silêncio que o belo pelicano de busto siliconizado Made In U.S.A. te devore !!! ).

Mande-me uma cereja rosa, pingando líquidos cheirosos, para mim esfrega-la na cara !!! Mande-me uma cereja peluda para arrancar os pentelhos da guria com os dentes e faze-la gemer o Pai-Nosso durante o gozo masoquista !!! Mande-me uma cereja virgem que clama por uma estátua do Papa lhe rasgando o hímen enquanto tenta se concentrar para visualizar o exato instante do casamento do anão judeu negão com seu padre pedófilo arrependido ( mas de véu e grinaldas ) adorado por toda uma geração de velhas fêmeas cegas que se banham na putrefacta água benta dos pântanos do cristianismo secular !

A secura das pupilas da garota que cai no abismo da eternidade me pertence tanto quanto o convento repleto de dançarinas rodopiantes que lambem o umbigo peludo das santas madres superioras bebedoras de líquidos etílicos construídos na montanha de Jodo durante uma tempestade maligna provocada por guerrilheiros que fugiram do hospício em que você reside !!!

Chame o padre e lhe diga que tua mão não mais irá alimenta-lo !!! ( Neste meio-tempo reunirei todas as bíblias do mundo e com elas construirei casas populares para os pobres… ).

Os cavalos ateus da liberdade rasgarão ao meio o Papa e toda a corja de parasitas que o acompanham e o estouro das tripas papais sagradas imitarão o som da vitória e o riso das mocinhas inocentes se misturarão ao sangue excrementado de Cristo ( aquele que sente falta de uma cruz para que você, leitor, sinta pena dele e o carregue para todo o sempre na tua corcunda inútil adoradora da miséria humana e escrava dos nunca vistos nem sentidos castigos divinos !!! ).

poesia de Petter Baiestorf.

Colagens Artísticas de Coffin Souza

Posted in Colagens with tags , , , , , , on outubro 3, 2010 by canibuk

Primeiro uma pequena introdução sobre o artista marginal Coffin Souza: Porto Alegrense nascido em plena ditadura brasileira nos anos 60, virou ateu na adolescência, começou a fazer filmes em super 8 com seus primos e amigos pouco depois chegando até a ganhar um prêmio de melhor fotografia de super 8 no festival de Gramado com um curta inspirado no poema “O Corvo” de Edgar Allan Poe. Depois, lá por 1988, parou de fazer qualquer produção até 1995 quando começou a trabalhar comigo na Canibal Filmes como produtor dos meus filmes e depois maquiador gore e ator. Coffin Souza também é escritor, poeta, video-artista (sua série de filmes experimentais feitos com experimentações no manuseio de imagens distorcidas no vídeo, que ele realizou em Fortaleza durante um ano inteiro que viveu no Ceará trancado num quarto por não suportar sol e calor, é genial) e, vez ou outra, se arisca em experiências com colagens como essa série sem nome que aborda temáticas cristãs.

Essa série de colagens Coffin Souza realizou em 2005 e acabei usando-as nos créditos iniciais do meu curta “Que Buceta do Caralho, Pobre só se Fode!!!” (2007, 23 min., roteiro-produção-direção de Petter Baiestorf). Coffin Souza estava em grande forma com seu humor anarco-ateísta quando realizou essas colagens. São imagens belíssimas que não recomendo aos fanáticos religiosos. Se os fanáticos religiosos tem liberdade total (e não pagam impostos) para terem templos e igrejas que cobram de seus fiéis para freqüentar os locais de reza e lamentações, Coffin Souza (que é ateu e não cobra nada de ninguém por isso), também tem a liberdade total de exercitar sua arte com ícones da mitologia cristã sempre que quiser.