O Pântano
Podem vê-lo, sem dor, meus semelhantes!…
Mas, para mim que a Natureza escuto,
Este pântano é o túmulo absoluto,
De todas as grandezas começantes!
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Larvas desconhecidas de gigantes
Sobre o seu leito de peçonha e luto
Dormem tranqüilamente o sono bruto
Dos superorganismos ainda infantes!
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Em sua estagnação arde uma raça,
Tragicamente, à espera de quem passa
Para abrir-lhe, às escâncaras, a porta…
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E eu sinto a angústias dessa raça ardente
Condenada a esperar perpetuamente
No universo esmagado da água morta!
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O Fim das Coisas
Pode o homem bruto, adstrito à ciência grave,
Arrancar, num triunfo surpreendente,
Das profundezas do Subconsciente
O milagre estupendo da aeronave!
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Rasgue os broncos basaltos negros, cave,
Sôfrego, o solo sáxeo; e, na ânsia ardente
de perscrutar o íntimo do orbe, invente
A Lâmpada aflogística de Davy!
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Em vão! Contra o poder criador do Sonho
O Fim das Coisas mostra-se medonho
Como o desaguadouro atro de um rio,
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E quando, ao cabo do último milênio,
A humanidade vai pesar seu gênio
Encontra o mundo, que ela encheu, vazio!
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Nimbus
Nimbos de bronze que empanais escuros
O santuário azul da Natureza,
Quando vos vejo negros palinuros
Da tempestade negra e da tristeza,
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Abismados na bruma enegrecida,
Julgo ver nos reflexos da minh’alma
As mesmas nuvens deslizando em calma,
Os nimbos das procelas desta vida;
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Mas quando céu é límpido, sem bruma
Que a transparência tolda, sem nenhuma
Nuvem sequer, então, num mar de esperança,
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Que o céu reflete, a vida é qual risonho
Batel, e a alma é a flâmula do sonho,
Que o guia e leva ao porto da bonança.
por Augusto dos Anjos.
“Eu & Outras Poesias Vol. 2”, editora Civilização Brasileira, 1982.
Entrevista com: Augusto dos Anjos.