Arquivo para biker movie

Bem Vindos à Praia do Pesadelo

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 28, 2016 by canibuk

Welcome to Spring Break (“Nightmare Beach/A Praia do Pesadelo”, 1989, 90 min.) de Umberto Lenzi. Com: Nicholas De Toth, Sarah Buxton e John Saxon.

nightmare-beach1Diablo, líder da gangue de motoqueiros Demons (seria uma homenagem ao filme de Lamberto Bava?), é eletrocutado na cadeira elétrica acusado de assassinar uma garota. Um tempo depois surge, na praia de Spring Break, um misterioso motoqueiro que começa a matar todos os jovens nos quais consegue por as mãos. Em sua cena de apresentação o misterioso motoqueiro dá carona a uma loirinha e a menina, típica bucha de canhão dos slashers da década de 1980, é literalmente fritada na garupa da motocicleta ao som de uma ótima composição de Claudio Simonetti, o que deixa o filme com uma bem-vinda cara de plágio do mestre Dario Argento. O herói do filme é um jovem jogador de futebol americano (Nicolas De Toth) que se une a irmã da vítima de Diablo (a linda Sarah Buxton) e passam a ser perseguidos pela gangue Demons por um motivo banal. John Saxon surge na pele do chefe de polícia local Strycher (quase repetindo seu papel de “A Nightmare on Elm Street/A Hora do Pesadelo” (1984) de Wes Craven) que parece guardar terríveis segredos envolvendo a jovem assassinada.

Como um bom slasher deve ser, “Nightmare Beach” possuí uma ótima trilha sonora composta de Heavy Metal/Hard Rock, momentos climáticos assinados pelo sempre eficiente Simonetti (que é o responsável pelas trilhas de inúmeros clássicos italianos, como “Profondo Rosso/Prelúdio Para Matar” (1975), “Suspiria” (1977), ainda com sua banda Goblin, e “Opera/Terror na Ópera” (1987), todos de Dario Argento), nudez gratuita, muita carne feminina para ser dilacerada e boas mortes violentas/criativas que irão agradar em cheio aos fãs do gênero.

nightmarebeach2

Por ser uma produção italiana e não americana, o filme mostra a corrupção dos políticos, médicos, padre e policia (os alicerces da sociedade) que usam seu poder para encobrir crimes de natureza sexuais e mandar para a cadeira elétrica um inocente líder de gangue de motoqueiros, aqui representando todos os marginalizados da sociedade. E claro que o final da história nos reserva uma surpresa bem bacana, daquelas para você rever seus conceitos de certo/errado na sociedade em que vive.

umberto-lenzi“Nightmare Beach” é dirigido pelo veterano das produções de baixo orçamento Umberto Lenzi, que já realizou produções nos mais variados gêneros cinematográficos ganhando destaque por suas investidas no horror. Depois de dirigir alguns spaghetti westerns como “Uma Pistola per Cento Bare/Uma Pistola para 100 Sepulturas” (1968), acabou comandando a primeira das produções italianas que exploraram o tema do canibalismo com “Il Paese Del Sesso Selvaggio/The Man from the Deep River” (1972, lançado no Brasil em DVD pela distribuidora Ocean Pictures com o título “Mundo Canibal”), tema este que ele revisitou em outras duas produções que se tornaram clássicas, “Mangiati Vivi!/Vivos Serão Devorados” (1980) e “Canibal Ferox” (1981, lançado no Brasil em DVD pela Platina Filmes). Lenzi dirigiu ainda outros filmes clássicos, como o thriller “Spasmo” (1974); o divertido policial “Da Corleone a Brooklyn/O Chefão Siciliano” (1979) e uma série de delírios como “La Guerra Del Ferro: Ironmaster (1983), “La Casa 3/Ghosthouse” (1988) e o “Demoni 3/Black Demons” (1991) filmado aqui no Brasil e mostrando a cultura do vuduísmo em nossas plantações, uma deliciosa peça sem pé nem cabeça do cinema italiano filmando barbaridades em nosso país (Anthonio Margheriti quando realizou aqui seu “Killer Fish/O Peixe assassino” (1979) colocou todos os brasileiros falando com sotaque de Portugal). Em tempo, em seu filme “Incubo Sulla Città Contaminata/Nightmare City” (1980) Lenzi já apresentava ao mundo zumbis raivosos que corriam atrás de suas vítimas, antecedendo em muitos anos um clichê do subgênero “Zombies” após a década de 1990.

nightmare-beach4Uma dúvida que existe quanto às filmagens de “Nightmare Beach” é se realmente existiu um co-diretor chamado Harry Kirkpatrick (que é o nome creditado no filme) ou se este nome é mais um dos inúmeros pseudônimos que Umberto Lenzi usava (Bob Collins, Humphrey Humbert, Bert Lenzi, Humphrey Logan, Hank Milestone, Humphrey Milestone são alguns dos nomes que Lenzi usava para vender seus filmes no mercado internacional). Lenzi afirmou em várias entrevistas que um Harry Kirkpatrick realmente existiu e foi o co-diretor do filme (mas, sabendo o quanto estes italianos são arriados, é possível que Lenzi esteja mentindo). De qualquer modo, para aumentar a confusão, Harry Kirkpatrick foi o nome usado por Alec Baldwin quando dirigiu “The Devil and Daniel Webster/O Julgamento do Diabo” (2003) e se recusou a assinar o filme com seu nome. Seria Alec Baldwin o misterioso Harry Kirkpatrick? Pouco provável, como bem levantou a questão o jornal britânico The Guardian quando publicou a matéria intitulada “Is Harry Kirkpatrick the New Alan Smithee?” (para quem não sabe, o nome Alan Smithee é o pseudônimo oficial criado em 1968 para ser usado por diretores de cinema que reneguem seus trabalhos).

praia-do-pesadelo“Nightmare Beach” é uma produção de Josi W. Konski, o homem por trás de vários filmes da dupla Terence Hill e Bud Spencer (entre eles o Spencer Solo “Banana Joe” (1982), de Steno, que é um dos meus filmes preferidos de todos os tempos). Konski também produziu “Rage – Furia Primitiva/Fúria Primata” (1988) dirigido por Vittorio Rambaldi e escrito por Umberto Lenzi,a dupla por trás deste “Nightmare Beach”. Vittorio (assim como seu irmão Alex, que assina as maquiagens deste filme) é filho de Carlo Rambaldi, mundialmente famoso por ser o criador do extraterrestre do filme “E.T. – The Extra-Terrestrial” (1982) de Steven Spielberg. E a fotografia é assinada pelo também diretor Antonio Climati que trabalhou como câmera no seminal “Mondo Cane/Mondo Cão” (1962) do Trio de malucos Franco Prosperi, Gualtiero Jacopetti e Paolo Cavara, já lançado por aqui em DVD pela Wonder Multimídia, um dos braços da Continental Home Video. Climati foi o responsável pela direção de mondo films como “Ultime Grida Dalla Savana” (1975), sobre rituais bizarros envolvendo matanças de animais e “Dolce e Selvaggio” (1983), sobre carnificinas variadas contadas com belíssimas imagens. Em 1988 Antonio Climati cometeu seu maior lixo: “Paradiso Infernale”, também conhecido como “Cannibal Holocaust 2”, para capitalizar em cima da obra-prima de Ruggero Deodato.

“Nightmare Beach” não é a melhor produção de Lenzi, mas é um filme bem despretensioso que diverte muito e merece uma revisada nestes tempos em que o cinema de horror mundial parou de nos surpreender. Foi lançado em VHS no Brasil pela distribuidora 20/20 Vision (Columbia Tristar) com o título de “A Praia do Pesadelo”.

Escrito por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.

Assista o trailer de “Welcome to Spring Break” aqui:

pesadilla-en-la-playa

The Horror of Party Beach e os Monstros Marinhos Zumbis Dançantes

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 23, 2011 by canibuk

“The Horror of Party Beach” (1964, 78 min.) de Del Tenney. Com: John Scott, Alice Lyon, Allan Laurel e Eulabelle Moore. Também conhecido como “Invasion of the Zombies”.

Em 1954 foi lançado o clássico “Creature from the Black Lagoon” (“O Monstro da Lagoa Negra”, já lançado em DVD no Brasil pela Universal) de Jack Arnold e logo em seguida várias imitações surgiram, sempre produções de baixo orçamento e muito divertidas, como “The Monster of Piedras Blancas” (1959) de Irvin Berwick, “Creature from the Haunted Sea” (“Criaturas do Fundo do Mar”, 1961, já lançado em DVD no Brasil pela Flashstar) de Roger Corman e este pequeno filme do coração, “The Horror of Party Beach“, que vai um pouco além dos outros filmes de monstros marinhos ao misturar filmes de praia com horror e uma grande vontade de soar musical o tempo todo.

O começo de “The Horror of Party Beach” é eletrizante, com jovens indo a praia e uma garota fogosa provocando uma gang de motoqueiros (interpretada por motoqueiros verdadeiros do The Charter Oaks Motorcycle Club de Riverside, Connecticut). Próximo a praia um navio carregado de lixo tóxico joga vários barris no fundo do mar (que são filmados num aquário com a pior maquete do fundo do mar que já vi) e, claro, o lixo tóxico vaza e reanima vários esqueletos que estão no fundo do mar (a praia em questão deveria ser um cemitério clandestino da máfia para desova de cadáveres, só isso prá explicar os cadáveres ali) que se tornam uma espécie de monstro aquático que fica à espreita dos jovens que escutam e dançam surf music na praia. Não demora muito para, na praia, motoqueiros (que estão sempre com pesadas jaquetas de couro) e playboys sairem no braço por causa da fogosa garota do começo do filme, originando uma divertida luta. O primeiro ataque do monstro é contra a garota fogosa que vai nadar enquanto a banda da praia toca a canção “The Zombie Stomp”.

Depois deste início alucinante, “The Horror of Party Beach” muda de ritmo com a investigação do estranho assassinato que ocorreu na praia, durante o dia, na frente de todos (mas curiosamente sem testemunhas). A noite várias meninas se reúnem para uma festa do pijama numa casa isolada que, rapidamente, é cercada por inúmeros monstros marinhos com cheiro de peixe podre (cenas que lembram os zumbis do clássico “The Night of the Living Dead” de George A. Romero, só que filmadas antes) e num violentíssimo ataque os monstrengos matam todas as meninas (levando inclusive algumas com eles). Mesmo com a cidade em alerta por causa dos ataques, os jovens continuam organizando festinhas porque a diversão não pode parar. Em novo ataque um cientista consegue um pedaço do corpo putrefacto de um dos monstros e após examiná-lo chega a conclusão que os monstros são zumbis que necessitam de sangue humano para continuar zumbizando e acha que sódio pode acabar com esses monstros. Perto do final do filme, o dia vira noite (e vice-versa) de um take prá outro e inúmeros monstros marinhos zumbis se levantam numa espécie de luta contra a humanidade, sendo combatidos com bombas de sódio.

Ao contrário dos filmes de praia da A.I.P. (a maioria dirigidos por William Asher), “The Horror of Party Beach” foi filmado em preto e branco (provavelmente por causa de seu baixo orçamento), o que lhe conferiu um visual mais cru que os demais filmes da época. No seu lançamento Del Tenney recorreu à um gimmick que já havia sido utilizado por William Castle, onde mandou colocar anúncios em alguns jornais onde, no convite para as pessoas irem ver seu filme nos cinemas, afirmava: “Para sua proteção não vamos deixa-lo assistir à este chocante filme, a menos que você concorde em assinar um contrato que libera a responsabilidade deste cinema em caso de morte por medo!”. Assim como Ray Dennis Steckler havia feito alguns meses antes ao lançar seu “The Incredibly Strange Creatures Who Stopped Living and Became Mixed-Up Zombies”, os produtores de “The Horror of Party Beach” também o divulgaram como o primeiro musical de horror já lançado, mas o fato é que nenhum dos dois filmes chega a ser um filme verdadeiramente musical, ambos possuem ótimas trilhas sonoras, apenas isso!

Como curiosidade na produção do filme temos a participação do ator pornô Zebedy Colt (usando seu nome real: Edward Earl) que compôs três músicas da trilha sonora, “Joy Ride”, “The Zombie Stomp” e “You are not a Summer Love”, todas executadas pela banda The Del-Aires (que são a banda que aparece no filme). Zebedy Colt ficou famoso como ator pornô alguns anos depois, estrelou clássicos da pornográfia como “The Story of Joanna” (1975, para o qual também compôs a trilha sonora) de Gerard Damiano, “Sex Wish” (1976) de Victor Milt e “Barbara Broadcast” (1977) de Radley Metzger, além de dirigir outros como “The Farmer’s Daughter” (1973) e “The Devil Inside Her” (1977).

Del Tenney, o produtor e diretor de “The Horror of Party Beach”, realizou outros dois pequenos filmes de horror em 1964: “Zombies” (também conhecido pelo título “I Eat Your Skin”) e “The Curse of the Living Corpse”, que foram mal nas bilheterias. Voltou a dirigir um filme apenas em 2003, quando realizou “Descendant”. Em 2001 Tenney produziu um filme que foi lançado em DVD no Brasil e que fez relativo sucesso de locação nas vídeo-locadoras, “Do You Wanna Know a Secret?” (“Você quer Saber um Segredo?”) de Thomas Bradford.

Se você tem curtido os filmes que estou resenhando nesta semana de Natal, fica aqui a dica de outros títulos interessantes que merecem sua atenção: “House on Bare Mountain” (1962) de Lee Frost, “The Monster of Camp Sunshine or How i Learned to Stop Worrying and Love Nature” (1964) de Ferenc Leroget, “Kiss me Quick!” (1964) de Peter Perry Jr., “The Beast That Killed Woman” (1965) de Barry Mahon e “The Beach Girls and the Monster” (1965) de Jon Hall.

por Petter Baiestorf.