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Canibuk Apresenta: A Arte de Leyla Buk

Posted in Arte e Cultura, Entrevista, Ilustração, Pinturas with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on março 8, 2018 by canibuk

Hoje é o dia internacional da Mulher e a série do Canibuk não podia deixar de apresentar a arte de uma das mulheres mais fortes, criativas e completas que já tive o prazer de conhecer.

Acompanho o trabalho de Leyla Buk faz, pelo menos, uma década, e cada nova fase dela me surpreendo com a franca evolução de seus trabalhos. Leyla é inquieta, está sempre na ânsia pela busca de se superar.

Autorretrato, 2018 (inédito).

Leyla, nascida em Recife/PE, é artista autodidata e desde a infância já se interessava por desenhos e pintura. Há pelo menos 9 anos trabalha em tempo integral, de modo profissional, com sua arte, experimentando vários meios, estilos e técnicas. É uma artista curiosa e dona de uma arte fenomenal, seja como desenhista, pintora ou escultora, fazendo um Monku, ou uma Buky, personagens que criou para explorar essa técnica – o que não a impede de aceitar encomendas com seu personagem preferido. Suas esculturas já estão em inúmeros países da América – USA e Canadá – e Europa – Finlândia, Inglaterra, Suécia e outros.

Já realizou exposições por vários estados do Brasil. Também foi capista da Editora Estronho e realizou cartazes para filmes, estando sempre aberta às mais variadas encomendas.

Agora Leyla se prepara para uma importante exposição coletiva em Porto Alegre que irá acontecer no mês de Maio próximo, ao lado de importantes artistas brasileiros. Em breve divulgarei aqui essa exposição e em maio estarei lá fazendo a cobertura. Adianto que é imperdível e tem a ver com o FantasPoa 2018.

Leyla Buk

Segue a entrevista que realizei com Leyla para o Canibuk.

Petter Baiestorf: Gostaria que você contasse como começou seu interesse pela arte e, também, sobre seus primeiros trabalhos.

Leyla Buk: Me interesso por arte desde que me entendo por gente. Minhas memórias mais fortes da infância são aquelas que envolvem algum tipo de arte, em casa ou no colégio. Não lembro muito dos meus primeiro trabalhos, mas eu desenhava o tempo todo. Eu fui uma criança estranha e que não se encaixava muito nas coisas. Desenhar me libertava. A arte pra mim é e sempre foi uma necessidade, uma busca por respostas, por algum tipo de salvação. E me salva. Sempre me salvou.

Buky

Baiestorf: Sua arte sofre influências de quais artistas e escolas estéticas. Fale o que te atraí neles, se quiser falar sobre os porquês seria muito interessante.

Leyla: A lista de influência é grande, de varias escolas, varias épocas e lugares, por varias razões. Eu bebo de muitas fontes, de renascentistas à artistas pop do “momento”, todos têm uma importância e fazem ou fizeram parte de algum momento meu. Eu gosto muito dos expressionistas do começo do século XX, quanto movimento, quanto proposta, quanto resposta. Artistas como Schiele sempre me influenciaram demais, pela coragem, pelo sentimento, pela angústia, pelo peso psicológico, pelo estilo. Sempre tive na arte um lugar onde posso buscar respostas e exorcizar meus demônios. Um lugar onde me encaixo e posso ser livre. Por isso me identifico muito com artistas assim. Picasso é um cara que tem uma importância enorme pra mim, porque com ele eu aprendi que não tem problema mudar, não tem problema ter muitas fases, não tem problema ser livre nesse sentido. Que meu compromisso maior é com o que sinto e com minha verdade. E eu tenho muitas fases, quem me acompanha sabe. Talvez um dia alguém vai nomear cada uma delas como fizeram com ele? “Essa é a fase preta”, “essa é a fase ocre”, “essa é a fase niilista” e arrumar justificativas pra cada uma (risos). Apenas deixem ser. Mas pra falar mais alguns nomes cito caras como da Vinci, Rembrandt, Caravaggio, Hans Memling, Bosch, Botticelli, Klimt, Van Gogh, Modigliani, Rothko. Muitos outros. Sempre da medo de esquecer alguém muito importante. E sei que esqueci. O mundo a minha volta, as pessoas com as quais eu convivo e sempre me ensinam algo, família, amigos próximos, quem eu amo e qualquer pessoa que faça o que gosta com vontade e paixão me inspira. Pode ser o maior artista vivo ou o tiozinho da esquina que vende pipoca. Gentileza, empolgação e sonhos me motivam. Inocência idem. Cinema, literatura e música também têm forte influência sobre meu trabalho, desenhos, pinturas, esculturas… Estão presentes em absolutamente tudo. Mas eu vou parar por aqui senão não vai acabar nunca essa resposta.

Stillness, 2018

Baiestorf: Com sua arte você está aberta a todo tipo de trabalho ou gostaria de se especializar somente em uma área? Porque?

Leyla: Assim, dentro da minha área eu estou aberta a tudo, porém cada coisa no seu tempo. Eu me interesso por muitas coisas, mas eu não me vejo fazendo varias coisas de áreas diferentes, eu jamais conseguiria fazer bem todas elas. Eu sou intensa demais no que eu faço então eu gasto toda energia naquilo, não conseguiria fazer isso com varias coisas. Algo sairia mal feito ou não teria a mesma atenção e cuidado que merece e eu iria sucumbir também, certamente (risos).

Baiestorf: Conte sobre suas exposições e como produtores poderiam levá-la para suas cidades/estados.

Leyla: Acho que minha primeira exposição foi em 2010, em Maceió. Num bar que reuniu vários artistas undergrounds de vários estilos. Na época eu estava forte na fase erótica e tinha acabado de começar a pintar (olha eu já definindo minhas fases tipo Picasso – risos). Depois expus em outros lugares também, todas exposições coletivas. Todas importantes, mas lembro com muito amor da exposição na Mondo Estronho que aconteceu em 2015 em Curitiba, onde expus umas 20 peças inspiradas no cinema de horror das décadas de 20 a 50, filmes que tem grande influência na minha vida e na minha arte. Depois, em 2016, expus em alguns eventos em Porto Alegre também. Se alguém tiver interesse em promover alguma exposição com meus trabalhos pode entrar em contato comigo pelo e-mail bukleyla@gmail.com e podemos acertar todos os detalhes.

Edgar Allan Poe, 2017

Baiestorf: Como é realizar trabalhos artísticos aqui no Brasil? Há reconhecimento? Oportunidades?

Leyla: Eu me sinto privilegiada por poder trabalhar com o que eu amo em tempo integral e me dedicar apenas a isso, isso pra mim já vale por qualquer reconhecimento, fama, o que for, porque eu sei que essa não é a realidade da maioria. Eu já trabalho nisso ha algum tempo e estou incansavelmente fazendo alguma coisa. A gente tem que abraçar qualquer oportunidade que apareça. A divulgação é nossa maior amiga nisso tudo e a internet oferece muitos meios pra isso. Eu tento aproveitar cada um deles.

Baiestorf: Você está com trabalhos em finalização? Poderia falar sobre eles e como o público poderá acompanhá-los?

Leyla: Eu sempre estou com trabalhos em andamento. No momento, estou trabalhando em algumas ilustrações novas e finalizando dolls de algumas encomendas. Quem quiser obter informações ou fazer pedidos (eu aceito encomendas das BukDolls, dos Monkus, das Bukys, de pinturas e de ilustrações também) pode entrar em contato através do e-mail bukleyla@gmail.com ou pelas minhas redes sociais no Instagram @leylabuk e Facebook @LeylaBukArt.

Mary Shaw (Dead Silence), 2018

Baiestorf: E seus projetos? É possível sabermos um pouquinho deles?

Leyla: Entre os outros trampos em andamento estou trabalhando também numas peças pra uma exposição que vai acontecer em maio. Darei mais detalhes em breve.

Baiestorf: Geralmente a arte no Brasil é produzida de forma independente e é difícil conseguir se manter. O que você gostaria de observar sobre isso.

Leyla: A gente tem que aprender a lidar com os altos e baixos disso tudo. Pesa mais pra gente quando pesa pra todo mundo. Mas o amor pelo o que faço é o que me move. Eu realmente não sei se saberia fazer outra coisa da minha vida! Então fica tudo muito pequeno quando penso no prazer que é poder fazer o que faço.

Baiestorf: O espaço é seu para as considerações finais:

Leyla: Obrigada, Petter, pelo espaço e pelo apoio sempre! Isso é muito importante quando a gente faz tudo por conta própria e não tem patrono, não tem arte em grandes galerias ou não morreu ainda pra que a obra, quem sabe, passe a valer alguma coisa. Valorizem os artistas enquanto vivos! Consumam sua arte! Divulguem! Apreciem! A arte salva.

Monkus, 2016

Contatos de Leyla Buk:

Email:  bukleyla@gmail.com

Instagram: @leylabuk

Instagram: @_monku_

Facebook: @LeylaBukArt

Artes de Leyla Buk:

 

Cat, 2018

Pennywise – It, 2018

Vampira e Bride of Frankenstein, 2017

Mina (Bram Stoker’s Dracula), 2017

Vanessa Ives – Possession, 2017

Edward Scissorhands Black and White, 2017

Vampira, 2016

Eu

Posted in Literatura with tags , , , , , , , , , , , , , on setembro 26, 2012 by canibuk

mulheres não sabem como amar,

ela me disse.

você sabe como amar

mas mulheres só querem

parasitar.

sei disso porque sou

mulher.

.

hahaha, eu ri.

.

por isso não se preocupe por ter terminado

com Susan

porque ela apenas irá parasitar

outro homem.

.

falamos um pouco mais

então eu me despedi

desliguei o telefone

fui ao banheiro

e mandei uma boa merda de cerveja

basicamente pensando, bem,

continuo vivo

e tenho a capacidade de expelir

sobras do meu corpo.

e poemas.

e enquanto isso acontecer

serei capaz de lidar com

traição

solidão

unhas encravadas

gonorreia

e o boletim econômico do

caderno de finanças.

com isso

me levantei

me limpei

dei a descarga

e então pensei:

é verdade:

eu sei como

amar.

.

ergui minhas calças e caminhei

para a outra peça.

poema de Charles Bukowski.

Numa Vizinhança de Assassinos

Posted in Literatura with tags , , , , , , , , , , , on fevereiro 18, 2012 by canibuk

as baratas cospem

clipes de papel

e o helicóptero descreve círculos e mais círculos

em busca de sangue

luzes de busca deslizando furtivas por nosso

quarto

.

5 caras nesta área têm pistolas

outro um

facão

somos todos assassinos e

alcoólatras

mas a coisa é ainda pior no hotel

do outro lado da rua

eles ficam sentados na entrada verde e branca

banais e depravados

esperando para serem institucionalizados

.

aqui cada um de nós tem um pequeno vaso

na janela

e quando brigamos com nossas mulheres às 3 da manhã

falamos

baixinho

e em cada uma das varandas

há um pequeno prato de comida

sempre esvaziados pela manhã

presumimos

pelos

gatos.

por Charles Bukowski.

Ilustração de Robert Crumb.

Enquanto os novos não vêm…

Posted in Arte e Cultura, Arte Erótica, Buk & Baiestorf, erótico, Fetiche, Ilustração, Nossa Arte with tags , , , , , , , , , , on novembro 24, 2011 by canibuk

Estou trabalhando numa série de ilustrações novas e assim que estiver pronta postarei com exclusividade aqui no blog, mas por enquanto deixo por aqui umas ilustrações que, embora eu não tenha postado no Canibuk ainda, aqueles que me seguem no facebook e Deviant já conhecem. Esses desenhos dão continuidade aos últimos trampos que venho fazendo com nanquim na tentativa de fazer um trabalho cada vez melhor e com um estilo único. Tenho desenvolvido uma preocupação maior com detalhes e composição, testado desenhos menos limpos, apesar de estar buscando uma suavidade maior nos traços, e técnicas diferentes de sombreamento. Como testo e experimento muita coisa os resultados acabam sendo bem diversificados e, na verdade, eu gosto disso. Nos últimos desenhos dá pra ver sombreamentos com nanquim, com lápis de cor, com grafite ou simplesmente sombreado nenhum. Não escolhi ainda uma técnica específica, quem sabe no futuro, mas, por enquanto, gosto de poder usar tudo o que tenho à mão e de acordo com minha vontade e humor do momento. Nem tudo dá certo, mas toda tentativa vale e o que deu errado é bobagem classificar como tempo perdido, porque, além de descobertas e evolução, é também parte crucial do tratamento intensivo para mentes neuróticas e inquietas. Vamos desenhar, cambada!

Fear” – Leyla Buk Artwork, 2011 (Não use, copie, publique sem autorização)

Collection” – Leyla Buk Artwork, 2011 (Não use, copie, publique sem autorização)

The Dead Girls” – Leyla Buk Artwork, 2011 (Não use, copie, publique sem autorização)

Wake Up Right Now” – Leyla Buk Artwork, 2011 (Não use, copie, publique sem autorização)

Chaotic, Almost Erratic” –  Leyla Buk Artwork, 2011 (Não use, copie, publique sem autorização)

Reverie” – Leyla Buk Artwork, 2011 (Não use, copie, publique sem autorização)

Contatos pelo e-mail leylalua@hotmail.com

Camas, banheiros, você e eu.

Posted in Bebidas, Buk & Baiestorf, Literatura with tags , , , , , , , on novembro 22, 2011 by canibuk

pensando nas camas

usadas e reutilizadas

para trepar

para morrer.

nesta terra

alguns de nós trepam mais do que

nós morremos

mas a maioria de nós morre

melhor do que

trepamos,

e morremos

bocado a bocado também –

em parques

tomando sorvete, ou

nos iglus

da demência,

ou em esteiras de palha

ou sobre amores

desembarcados

ou

ou.

camas, camas, camas

banheiros, banheiros, banheiros

o sistema de esgoto humano

é a maior invenção do

mundo.

e você me inventou

e eu inventei você

e é por isso que nós não

damos

mais certo

nesta cama.

você era a maior invenção

do mundo

até que resolveu

me mandar descarga

abaixo.

agora é a sua vez

de esperar que alguém aperte

o botão.

alguém fará isso

com você,

puta,

e se eles não fizerem

você fará –

misturada ao seu próprio

adeus

verde ou amarelo ou branco

ou azul

ou lavanda.

Charles Bukowski.

Aquele gato não enfrentava apenas o buldogue, ele enfrentava a humanidade inteira.

Posted in Conto, Literatura, Livro with tags , , , , , on novembro 10, 2011 by canibuk

Havia um gatinho branco com as costas voltadas para um dos cantos do muro. Não podia subir pelos tijolos nem fugir em qualquer outra direção. Suas costas estavam arqueadas e ele bufava, as garras prontas. Era, no entanto, pequeno demais para dar conta do buldogue de Chuck, Barney, que rosnava e se aproximava mais e mais. Tive impressão de que aquele gato havia sido colocado ali pelos garotos e de que somente depois o buldogue fora levado até ali. Sentia isso intensamente pelo modo que Chuck e Eddie e Gene acompanhavam a cena: o aspecto deles os incriminava.

– Caras, vocês armaram essa – eu disse.

– Não – rebateu Chuck –, a culpa é do gato. Ele veio até aqui.

– Deixe que ele se vire agora para escapar.

– Odeio vocês, seus desgraçados – eu disse.

– Barney vai matar o gato – disse Gene.

– Barney vai fazer picadinho do bichano – disse Eddie. – Ele está com medo das unhas do gato, mas quando avançar estará tudo encerrado.

Barney era um buldogue grande e marrom com as bochechas flácidas e cheias de baba. Ele era gordo e meio abobalhado e tinhas olhos castanhos inexpressivos. Rosnava constantemente e ia avançando devagar, os pelos do pescoço e das costas eriçados. Eu sentia vontade de lhe dar um chute no seu rabo estúpido, mas percebi que ele arrancaria minha perna fora. O cão estava completamente tomado por um espírito assassino. O gato branco sequer tinha terminado de crescer. O bichinho soltava um silvo agudo e esperava, comprimido contra o muro, uma criatura belíssima, tão limpa.

O cachorro avançou lentamente. Por que esses caras precisavam disso? Não era uma questão de coragem, era apenas um jogo sujo. Onde estavam os adultos? Onde estavam as autoridades? Para me acusar de alguma coisa estavam sempre por perto. Onde tinham se enfiado agora?

Pensei em intervir na cena, apanhar o gato e sair correndo, mas eu não tinha forças. Tinha medo de que o buldogue me atacasse. A consciência de que me faltava coragem para fazer o que era necessário fez com que me sentisse péssimo. Comecei a ficar enjoado. Estava fraco. Eu não queria que aquilo acontecesse, ainda que eu não conseguisse encontrar nenhuma maneira de evitar o massacre.

– Chuck – eu disse –, deixe o gato ir, por favor. Chame seu cachorro.

Chuck não respondeu. Continuou apenas observando. Então disse:

– Vai, Barney, pegue ele! Pegue o gato!

Barney avançou e de súbito o gato deu um salto. O bicho se transformara numa furiosa mancha branca, toda silvos, garras e dentes. Barney recuou e o gato voltou novamente para o muro.

– Pegue ele, Barney – disse Chuck novamente.

– Cale a boca, maldito! – gritei para ele.

– Não fale comigo desse jeito – retrucou.

Barney começava a avançar novamente.

– Caras, vocês armaram tudo isso aqui – eu disse.

Ouvi um leve ruído atrás de nós e voltei a cabeça. Vi o velho sr. Gibson a nos observar de trás da janela de seu quarto. Ele também queria que o gato fosse morto, assim como os garotos. Por que?

O velho sr. Gibson era nosso carteiro. Usava dentadura. Tinha uma esposa que passava o tempo inteiro em casa. A sra. Gibson sempre usava uma rede sobre os cabelos e sempre trajava uma camisola, roupão de banho e chinelos.

Então apareceu a sra. Gibson, vestida como de costume, e se postou ao lado do marido, esperando pela carnificina. O velho sr. Gibson era um dos poucos que tinha um emprego, mas ainda assim ele precisava ver o gato morto. Gibson era como Chuck, Eddie e Gene.

Havia muitos deles.

O buldogue se aproximou. Eu não podia ver aquele crime. Senti uma vergonha profunda por abandonar o gato à própria sorte. Havia sempre a chance de que o bichano pudesse escapar, mas eu sabia que os garotos não deixariam isso acontecer. Aquele gato não enfrentava apenas o buldogue, ele enfrentava a humanidade inteira.

Dei meia-volta e me afastei, para fora do quintal, passando pela entrada do carro e chegando ã calçada. Caminhei em direção ao local onde eu morava e lá, no pátio em frente ã sua casa, meu pai estava plantado, me esperando.

– Onde você estava? – ele perguntou.

Não respondi.

– Já pra dentro – ele disse. – E pare de parecer tão infeliz ou lhe darei algo para que você realmente sinta o que é infelicidade!

 Charles Bukowski – do livro Misto Quente.

Uma Mulher Incomum

Posted in Literatura with tags , , , , , on outubro 29, 2011 by canibuk

conheci essa mulher

e ela disse,

você está péssimo,

vamos te limpar,

e ela começou a espremer minhas

espinhas.

ela espremia essas espinhas

em tudo quanto é canto:

no carro, no mercado, na

cama, no parque

(entre uma foda e

outra).

eu fiquei sem espinhas antes de

ficar sem

amor.

o que vamos fazer

agora? ela perguntou.

.

então ela começou a arrancar os pêlos

de minhas orelhas e nariz e ao redor dos olhos

e sobrancelhas, das costas,

com uma pinça. ficamos sem

pêlos antes de eu

ficar sem

amor.

o que vamos fazer

agora? ela perguntou.

.

fiquei sem espinhas e sem pêlos

antes de ficar sem

amor.

agora ela fez as malas e

está se mudando

hoje à noite mas não antes de ela

limpar a cera

dos meus

ouvidos.

.

uma mulher altamente

incomum.

escrito por Charles Bukowski.

Arte de Leyla Buk – Deviant Girls

Posted in Arte e Cultura, Arte Erótica, Fetiche, Nossa Arte with tags , , , , , , , , , , , , , , on agosto 4, 2011 by canibuk

Há dois anos comecei a pintar quadros, sem intuito nenhum de comercializar nem nada do tipo. Meu primeiro foi, na verdade, um quadro de colagens feito com papelão, eu tinha acabado de mudar de ap e a casa tava cheia de papelão, encontrei uma utilidade praquilo e transformei num quadro. Em seguida pintei minha primeira freak girl, a “Skullrain“, e fiquei admirada com a quantidade de comentários e elogios que recebi com esse quadro. Aliás, é bem interessante ver como as pessoas aqui no Brasil adoram e valorizam a arte, elogiam pra caralho, mostram-se super interessadas, mas o primeiro impulso é o de pedir o trampo de graça, ninguém quer pagar por nada, acham que artista é tudo rico e que materiais e o tempo que gastamos trabalhando não significa nada. Quem acompanha o processo todo sabe o quanto é difícil e quanto trabalho dá, exige tempo e dedicação, costas fudidas, tensão, ansiedade e grana, sim. Mas não vou me alongar com isso porque é algo que me indigna e periga eu não conseguir mais parar de falar.

Hoje devo ter por volta de 24 telas, em sua maioria mulheres que trazem muito de mim e do que gosto. Algumas já foram vendidas, já ganharam o mundo (arte é pra isso!), mas muitas ainda estão disponíveis para venda. Quem se interessar basta entrar em contato.  Lembrando que voltei a aceitar encomendas, minha única exigência é que me dêem a liberdade de criar.

Quem tiver algum pedido pode entrar em contato comigo pelo e-mail leylalua@hotmail.com ou pela minha página no facebook http://facebook.com/leyla.buk e trocamos idéia.

Algumas das minhas garotas:

“SkullRain”, 20×60, 2009 – Indisponível

“RockaCherry”, 30×30, 2009 – Vendido

“À Meia Noite Te Levarei Flores Mortas”,  70×100, 2009 – Disponível

“June”,  30×60, 2009 – Disponível

“Bitch-Absinthe Cryin'”, 40×40,  2009 – Disponível

“Never Forget, Never Forgive”, 40×40, 2010 – Disponível

“She’ll Swallow Your Cum… And Your Blood.”, 40×60, 2010 – Disponível

“Palhaça Triste”, 40×50, 2009  – Disponível

“Para Madeleine”, 40×50, 2010 – Indisponível

“A Faca”,  50×70, 2011  – Indisponível

“Bloody Catrina”, 50×70, 2011 – Vendido

Para ver os trabalhos com mais detalhes é só ir na minha página no DeviantArt que tá linkada aqui do lado no blog.

Entrevista com o velho safado

Posted in Arte e Cultura, Entrevista with tags , , , , on junho 21, 2011 by canibuk

Petter e eu somos adoradores do Bukowski, ele é sem dúvida meu escritor preferido de todos os tempos e a cada pouco postamos aqui no blog poemas e outras curiosidades sobre  esse gênio do sarcasmo e da linguagem crua e sem rodeios, hoje reproduzimos uma entrevista de 1987 feita pelo Sean Penn enquanto estava em Los Angeles para protagonizar “Barfly“, a cinebiografia sobre a vida de Charles Bukowski (papel que ele acabou perdendo pro Mickey Rourke), na entrevista o Bukowski fala sobre as mesma questões que estão sempre presentes em seus livros,  contos, poemas e da mesma forma desbocada e debochada/cínica/bêbada/demente que lhe é peculiar.

BARES: “Eu não vou muito a bares. Tirei isso do meu sistema. Hoje, quando entro num bar, sinto náuseas. Freqüentei muito, enche o saco. Os bares servem para quando somos jovens e queremos brigar, dar uma de macho, arrumar umas mulheres. Na minha idade, eu não preciso mais dessas coisas. Agora só entro nos bares para urinar. Às vezes, entro e já começo a vomitar”.

ÁLCOOL: “O álcool é provavelmente uma das melhores coisas que chegaram à Terra, além de mim. Nos entendemos bem. É destrutivo para a maioria das pessoas, mas eu sou um caso à parte. Faço todo o meu trabalho criativo quando estou intoxicado. O álcool, inclusive, me ajudou muito com as mulheres. Sempre fui reticente durante o sexo, e ele me permitiu ser mais livre na cama. É uma liberação porque basicamente eu sou uma pessoa tímida e introvertida, e ele me permite ser este herói que atravessa o espaço e o tempo, fazendo uma porção de coisas atrevidas… O álcool gosta de mim.”

FUMAR: “O cigarro e o álcool se equilibram. Certa vez, ao despertar de uma embriaguês, notei que havia fumado tanto que minhas mãos estavam amarelas, quase marrons, como se eu tivesse colocado luvas. E passei a reclamar: ‘Droga! Como estarão os meus pulmões?'”

BRIGAR: “A melhor sensação é quando você acerta um sujeito que todo mundo acha impossível. Certa ocasião enfrentei um cara que estava me xingando. Falei pra ele: ‘Tudo bem, venha’. Não tive problema – ganhei a briga facilmente. Caído no chão, com o nariz ensangüentado, ele falou: ‘Jesus, você se move tão lentamente que pensei que seria fácil. Mas quando começou a briga, eu não conseguia nem ver as tuas mãos. O que aconteceu?’. Respondi: ‘Não sei, cara. As coisas são assim. Um homem se prepara para o dia que precisa’.”

GATOS: “É bom ter um monte de gatos em volta. Se você está mal, basta olhar pra eles e fica melhor, porque eles sabem que as coisas são como são. Não tem porque se entusiasmar com a vida, e eles sabem. Por isso, são salvadores. Quantos mais gatos um sujeito tiver, mais tempo viverá. Se você tem cem gatos, viverá dez vezes mais que se tivesse dez. Um dia, isso será descoberto: as pessoas terão mil gatos e viverão para sempre.”

MULHERES, SEXO: “Eu as chamo de máquinas de queixas. As coisas entre elas e os homens nunca estão bem para elas. E quando vêm com essa histeria… Ah, eu tenho que sair, pegar o carro, ir embora para qualquer lugar. Tomar café em algum canto, fazer qualquer coisa, menos encontrar outra mulher. Acho que elas são feitas de maneira diferente, não? Quando a histeria começa, o cara tem de ir embora e elas não entendem porque. ‘Onde vai?’, gritam. ‘Vou à merda, querida!’. Pensam que sou um misógino, mas não é verdade. É fofoca. Ouvem por aí que Bukowski é ‘um porco chauvinista’, mas não vêm de onde partiu o comentário. Verdade! Às vezes, eu pinto uma má imagem das mulheres nos meus contos, e faço a mesma coisa com os homens. Até eu me ferro nesses escritos. Se realmente não gostar de uma coisa, digo que é ruim, seja homem, mulher, criança ou cachorro. As mulheres são tão encanadas que pensam que são meu alvo especial. Esse é o problema delas.”

PRIMEIRA VEZ: “Minha primeira vez foi insólita. Não sabia como fazer, e ela me ensinou todas essas coisas de sacanagem. Lembro que ela dizia: ‘Hank, você é um bom escritor, mas não sabe nada sobre as mulheres.’ ‘O que você está dizendo? Eu já estive com uma porção de mulheres.’ ‘Não, não sabe nada. Vou te ensinar algumas coisas.’ Concordei. Depois, e ela disse: ‘Você é bom aluno, entende rápido’. [Bukowski faz cara de envergonhado. Não pelos detalhes, mas pelo sentimento da lembrança.] Mas esse assunto de … Eu gosto de servir a mulher, mas isso tudo tá tão exagerado! O sexo só é bom quando você não o faz.”

ESCREVER: “Escrevi um conto a partir do ponto de vista de um violentador de uma menininha. E as pessoas passaram a me acusar. Diziam: ‘Você gosta de violentar criancinhas?’. Eu disse: ‘Claro que não. Estou fotografando a vida’. De repente, estava envolvido com uma porrada de problemas. Por outro lado, os problemas vendem livros. Em última instância, eu escrevo para mim. [Bukowski dá uma longa tragada em seu cigarro.] É assim. A tragada é para mim, a cinza é para o cinzeiro. Isto é publicar. Nunca escrevo de dia porque é como ir pelado a um supermercado – todos te podem ver. À noite é quando saem os truques da manga… E vem a magia.”

POESIA: “Faz séculos que a poesia é quase um lixo total, uma farsa. Tivemos grandes poetas, entenda bem. Existiu um poeta chinês chamado Li Po que tinha a capacidade de colocar mais sentimento, realismo e paixão em quatro ou cinco simples linhas que a maioria dos poetas em suas doce ou treze páginas de merda. Li Po bebia vinho também e costumava queimar seus poemas, navegar pelo rio e beber vinho. Os imperadores o amavam porque entendiam o que ele dizia. Lógico que ele só queimou os maus poemas. O que eu quis fazer, desculpem, é incorporar o ponto de vista dos operários sobre a vida… Os gritos de suas esposas que os esperam quando voltam do trabalho. As realidades básicas da existência do homem comum… Algo que poucas vezes se menciona na poesia há muito tempo.”

SHAKESPEARE: “É ilegível e está demasiadamente valorizado. Só que as pessoas não querem ouvir isso. Ninguém pode atacar templos. Shakespeare foi fixado à mente das pessoas ao longo dos séculos. Você pode dizer que fulano é um péssimo ator, mas não pode dizer que Shakespeare é uma merda. Quando alguma coisa dura muito tempo, os esnobes começam a se agarrar a ela como pás de um ventilador. Quando os esnobes sentem que algo é seguro, se apegam. E se você lhes disser a verdade, eles se transformam em bichos. Não suportam a negação. É como atacar o seu próprio processo de pensamento. Esses caras me enchem o saco.”

HUMOR E MORTE: “Para mim, o último grande humorista foi um cara chamado James Thurber. Seu humor era tão real que as pessoas gritavam de rir, como numa liberação frenética. Eu tenho um ‘fio cômico’ e estou ligado a ele. Quase tudo o que acontece é ridículo. Defecamos todos os dias – isso é ridículo, não? Temos que continuar urinando, pondo comida em nossas bocas, sai cera de nossos ouvidos… As tetas, por exemplo, não servem para nada, exceto…”.

NÓS: “A verdade é que somos umas monstruosidades. Se pudéssemos nos ver de verdade, saberíamos como somos ridículos com nossos intestinos retorcidos pelos quais deslizam lentamente as fezes… enquanto nos olhamos nos olhos e dizemos: ‘Te amo’. Fazemos e produzimos uma porção de porcarias, mas não peidamos perto de uma pessoa. Tudo tem um fio cômico.”

GANHAR: “E depois de tudo, morremos. Mas a morte não nos ganhou. Ela não mostrou nenhuma credencial; nós é que nos apresentamos com tudo. Com o nascimento, ganhamos a vida? Não, verdadeiramente, mas a filha da puta da morte nos sufoca… A morte me provoca ressentimento, a vida também, e muito mais estar pressionado entre as duas. Você sabe quantas vezes eu tentei o suicídio? Me dá um tempo, tenho só 66 anos. Quando alguém tem tendências suicidas, nada o incomoda, exceto perder nas corridas de cavalos.”

AS CORRIDAS: “Durante um tempo quis ganhar a vida com as corridas de cavalos. É doloroso, vigoroso. Tudo está no limite, o dinheiro do aluguel, tudo. É preciso ter cuidado. Uma vez, eu estava sentado numa curva, haviam doze cavalos na disputa, todos amontoados. Parecia um grande ataque. Tudo o que eu via era essas grandes traseiras de cavalos subindo e descendo… Pareciam selvagens. Pensei: ‘Isso é uma loucura total’. Mas tem outros dias em que você ganha 400 ou 500 dólares, ganha oito ou nove corridas, e se sente Deus, como se soubesse tudo.”

AS PESSOAS: “Não olho muito as pessoas. É perturbador. Dizem que se você olha muito para uma outra pessoa acaba ficando parecido com ela. Pobre Linda! Na maioria das vezes eu posso passar sem as pessoas. Elas me esvaziam e eu não respeito ninguém. Tenho problemas nesse sentido. Estou mentindo, mas, creia-me: é verdade.”

A FAMA: “É uma cadela, é a maior destruidora de todos os tempos. A fama é terrível, é uma medida numa escala do denominador comum que sempre trabalha num nível baixo. Não tem valor nenhum. Uma audiência seleta é muito melhor.”

SOLIDÃO: “Nunca me senti só. Durante um tempo fiquei numa casa, deprimido, com vontade de me suicidar, mas nunca pensei que uma pessoa podia entrar na casa e curar-me. Nem várias pessoas. A solidão não é coisa que me incomoda porque sempre tive esse terrível desejo de estar só. Sinto solidão quando estou numa festa ou num estádio cheio de gente. Cito uma frase de Ibsen: ‘Os homens mais fortes são os mais solitários’. Viu como pensa a maioria: ‘Pessoal, é noite de sexta, o que vamos fazer? Ficar aqui sentados?’. Eu respondo sim porque não tem nada lá fora. É estupidez. Gente estúpida misturada com gente estúpida. Que se estupidifiquem eles, entre eles. Nunca tive a ansiedade de cair na noite. Me escondia nos bares porque não queria me ocultar em fábricas. Nunca me senti só. Gosto de estar comigo mesmo. Sou a melhor forma de entretenimento que posso encontrar.”

TEMPO LIVRE: “É muito importante e temos que parar por completo, não fazer nada por longos períodos para não perdê-los inteiramente. Ficar na cama olhando o teto. Quem faz isso nesta sociedade moderna? Pouquíssimas pessoas. Por isso é que a maioria está louca, frustrada, enojada e com ódio. Antes de me casar, ou de conhecer muitas mulheres, eu baixava as cortinas e me punha na cama por três ou quatro dias. Levantava só para ir ao banheiro e comer uma lata de feijão. Depôs me vestia e saía à rua. O sol brilhava e os sons eram maravilhosos. Me sentia poderoso como uma bateria recarregada.”

BELEZA: “A beleza não existe, especialmente num rosto humano – ali está apenas o que chamamos fisionomia. Tudo é um imaginado, matemático, um conjunto de traços. Por exemplo, se o nariz não sobressai muito, se as costas estão bem, se as orelhas não são demasiadamente grandes, se o cabelo não é muito comprido. Esse é um olhar generalizante. A verdadeira beleza vem da personalidade e nada tem a ver com a forma das sobrancelhas. Me falam de mulheres que são lindas… Quando as vejo, é como olhar um prato de sopa.”

FIDELIDADE: “Não existe. Há algo chamado deformidade, mas a simples fidelidade não existe.”

IMPRENSA: “Aproveito as coisas más que dizem sobre mim para aumentar a venda de livros e me sentir malvado. Não gosto de me sentir bem porque sou bom. Mas, mau? Sim, me dá outra dimensão. Gosto de ser atacado. ‘Bukowski é desagradável!’ Isso me faz rir, gosto. ‘É um escritor desastroso!’ Rio mais ainda. Mas quando um cara me diz que estão dando um texto meu como material de leitura numa universidade, fico espantado. Não sei, me assusta ser muito aceito. Parece que fiz alguma coisa errada.”

O DEDO: [Ergue o dedo mínimo de sua mão esquerda] “Você viu alguma vez este dedo? [O dedo parece paralisado em forma de “L”]. Quebrei uma noite, bêbado. Não sei porque, ele nunca voltou ao normal. Mas funciona bem para a letra ‘a’ da máquina de escrever, e – que mistério! – acrescenta coisas aos meus personagens.”

VALENTIA: “Falta imaginação à maioria das pessoas supostamente valentes. É como se não pudessem conceber o que aconteceria se alguma coisa saísse mal. Os verdadeiros valentes vencem a sua imaginação e fazem o que devem fazer.”

MEDO: “Não sei nada sobre isso.” [Risos]

VIOLÊNCIA: “Acho que, na maioria das vezes, a violência é mal interpretada. Faz falta uma certa violência. Existe em nós uma energia que precisa ser liberada. Se ela for contida, ficamos loucos. Às vezes, chamam de violência à expulsão da energia com honra. Existe loucura interessante e loucura desagradável; há boas e más formas de violência. Sei que é um termo vago, mas ela fica bem se não acontecer às custas dos outros.”

DOR FÍSICA: “Com o tempo, o cara se endurece e agüenta. Quando eu estava no Hospital Geral, um cara entrou e disse: ‘Nunca vi ninguém agüentar a agulha com tanta frieza’. Ora, isso não é valentia. Se o sujeito agüenta, alguém cede. É um processo, um ajuste. Mas não existe maneira de se acostumar com a dor mental. Fico longe dela.”

PSIQUIATRIA: “O que conseguem os pacientes psiquiátricos? Uma conta. Creio que o problema entre um psiquiatra e seu paciente é que o psiquiatra atua de acordo com o livro, ainda que o paciente chegue pelo que a vida lhe fez. E mesmo que o livro possa ter certa astúcia, as páginas sempre são as mesmas e cada paciente é diferente. Existem muito mais problemas individuais que páginas. Tem muita gente louca para resolvê-los, dizendo: ‘São tantos dólares por hora e quando a campainha tocar a sessão estará terminada’. Isso só pode levar um cara um pouco louco à loucura total. Quando as pessoas começam a se abrir e sentir bem, o psiquiatra diz: ‘Enfermeira, marque a próxima consulta’. O cara tá aí para sugar, não para curar. Quer o teu dinheiro. Quando toca a campainha, que entre o louco seguinte. Aí o louco sensível vai perceber que quando toca a campainha, é sinal que o fodeu. Não existem limites de tempo para curar a loucura. Muitos psiquiatras que vi parecem estar no limite deles mesmos, mas estão bem acomodados. Ah, os psiquiatras são totalmente inúteis. Próxima pergunta…”

FÉ: “Tudo bem que as pessoas a tenham, mas não me venham enfiar isso na cabeça. Tenho mais fé no encanador que no Ser Eterno.”

CINISMO: “Me chamaram sempre de cínico. Creio que o cinismo é uma uva amarga, uma debilidade. É dizer: ‘Tudo está uma merda. Isso não tá bom, aquilo tá ruim’. O cinismo é a debilidade que evita que nos ajustemos ao que acontece no momento. O otimismo também é uma debilidade: ‘O sol brilha, os pássaros cantam, sorria.’ Isso é uma merda igual. A verdade está em algum ponto entre os dois. O que é, é. Se você não está disposto a suportar a verdade, dane-se!”

MORALIDADE CONVENCIONAL: “Pode ser que não exista o inferno, mas os que julgam podem perfeitamente criá-lo. As pessoas estão muito domesticadas. O cara tem que ver o que acontece e como vai reagir. Vou usar um termo estranho aqui: o bem. Não sei de onde vem, mas sinto que existe um componente de bondade em cada um de nós. Não acredito em Deus, mas creio nessa ‘bondade’ como um tubo que está dentro de nossos corpos e que pode ser alimentada. Ela é sempre mágica quando, por exemplo, numa estrada sobrecarregada de automóveis, um estranho te oferece lugar para mudar de mão.”

SOBRE SER ENTREVISTADO: “É vergonhoso e, por isso, nem sempre digo toda a verdade. Gosto de brincar e mentir um pouco. Daí que dou informações falsas só pelo gosto de distrair. Se quiserem saber alguma coisa de mim, não leiam uma entrevista. Ignorem esta, também”.

Com a Corda no Pescoço

Posted in Literatura with tags , , , , on junho 18, 2011 by canibuk

muitas vezes enquanto dirijo pela auto-estrada tenho vontade

de botar minha cabeça no volante e fechar os

olhos, ou no supermercado enquanto a garota está

somando as compras súbito sinto vontade de pegá-la e

rasgar seu vestido para poder ver seus

peitos, e

muitas vezes quando acordo de manhã não tenho vontade

de levantar e me vestir

fazer o que tem que ser feito, em vez disso tenho vontade

de ficar na cama  por 3 ou 4 dias e noites

ou

muitas vezes quando paro no sinal vermelho

e não há outros carros por perto me vem esse

impulso de furar o sinal

e então quando me vem esse pensamento me pergunto por que

é que

ainda me deixam dirigir meu carro?

não parece correto que me permitam virar e

parar e dar partida e acelerar como aquela

velha senhora de chapéu azul num Ford verde

que eu vi algumas horas atrás quando ultrapassei

numa colina íngreme.

ou às vezes durante a noite eu acordo e sento

e olho fixamente para fora da janela pra dentro da

noite mas entretanto posso sentir minha perplexidade

sentada ao meu lado, amontoada como uma pilha

de pneus velhos.

e às vezes quando estou copulando

penso, o que estou fazendo copulando?

sou continuamente assombrado por ter que realizar todas

as coisas ordinárias, as pequenas coisas que a maioria das pessoas pode

fazer com tanta facilidade.

fico aqui sentado à meia-noite e nove e quero

acender este cigarro e fico pegando as mesmas

5 ou 6 caixas de fósforo vazias, abrindo-as e fitando

o vazio dentro delas. outra pessoa teria um isqueiro,

outra pessoa estaria dormindo tranqüilamente, em vez disso

eu lembro de repente de uma doida com quem vivi

por 3 anos e que podia fazer todas as pequenas coisas com facilidade,

sem ao menos pensar, sem embaraço, e provavelmente ela ainda

pode.