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Infelizmente estou sem tempo algum para atualizar o blog. Mas nessa última semana estava selecionando material que irá fazer parte do livro “Canibal Filmes – Os Bastidores da Gorechanchada” e encontrei um material referente aos nossos lançamentos em VHS (que já estão disponíveis em DVD e que você pode comprar aqui na MONDO CULT):
“Vadias do Sexo Sangrento” (2008, 30 min.) escrito, fotografado, produzido e dirigido por Petter Baiestorf. Maquiagens gore de Carli Bortolanza. Edição de Gurcius Gewdner. Com: Ljana Carrion, Lane ABC, Coffin Souza, PC, Jorge Timm e Petter Baiestorf.
Ao elaborar o “Arrombada – Vou Mijar na Porra do seu Túmulo!!!” (2007), já pensei numa espécie de trilogia da carne, que se seguiu com este “Vadias do Sexo Sangrento” (2008) e “O Doce Avanço da Faca” (2010). Todos com duração de média-metragens para, num futuro próximo, relançá-los como um longa em episódios intitulado “Gorechanchada – A Delícia Sangrenta dos Trópicos”. Inclusive neste ano de 2016 realizei uma exibição deste projeto “Gorechanchada” no Cinebancários de Porto Alegre com grande participação de público, como todos que ali estavam já conheciam os filmes rolou aquele climão de algazarra que tanto faz com que as sessões Canibal Filmes sejam a diversão que são.
“Vadias” foi filmado no início do inverno de 2008 em 4 dias de filmagens e um orçamento de R$ 5.000,00. Reuni praticamente a mesma equipe de “Arrombada” (que já estava afinada) acrescida de Lane ABC e Jorge Timm (que não estava no elenco do filme anterior por estar em Tocantins). Com um roteiro melhor em mãos, cheio de metalinguagem (tentando avançar nas ideias que estava desenvolvendo na época em produções como “Palhaço Triste” (2005) e “A Curtição do Avacalho” de 2006) e pouca abertura para improvisações, fomos pro Rancho Baiestorf rodar um filme que deveria parecer improvisado do início ao fim (gosto da leveza que o clima de improvisação dá numa produção).
Não lembro de nenhum contra tempo nas filmagens de “Vadias”. Foi um daqueles raros casos em que tudo deu certo e não tivemos problemas. Filmávamos apenas durante o dia (acho que apenas duas ou três seqüências que foram filmadas à noite) e ao anoitecer rolava um jantar regado à muita bebida, o que deixava a equipe e elenco bem descontraídos. O frio ainda não estava castigando, o que foi essencial para manter o bom humor do elenco que passava 90% do tempo pelado pelo set. Amo filmar com equipe reduzida, 12 pessoas no set (incluindo elenco) é o que considero o ideal, bem diferente de “Zombio 2” onde tivemos 72 pessoas trabalhando sem parar durante 23 dias.
O lançamento do filme rolou num esquema muito parecido com o que já havíamos feito com o “Arrombada” e o relançamento de “Zombio” (1999). Desta vez resgatamos e re-editamos o policial gore “Blerghhh!!!” (1996) para relançar e completar o programa das exibições. Logo nos primeiros meses computamos 5 mil espectadores para o filme (em salas alternativas, cineclubes e mostras independentes) e as vendas do DVD duplo do filme foram de quase mil cópias. Possibilitou a produção de “Ninguém Deve Morrer” (2009) e a parte final da trilogia, “O Doce Avanço da Faca” (2010).
Todas as histórias de filmagens de “Vadias” irei contar no livro de bastidores que estou elaborando. Aguardem!!!
Breaking Point (1975, 95 min.) de Bo Arne Vibenius. Com: Andreas Bellis, Irena Billing, Jane McIntosch e Susanne Audrian.
Bob Bellings (Andreas Bellis) é um executivo que acha que toda interação que tem com as mulheres, mesmo que estranhas, possui conotação sexual. Assim o nada pacato cidadão esquizofrênico começa a fantasiar relações sexuais tornando o público seu cúmplice nas bestialidades que pratica e, sem saber distinguir fantasia da realidade, acaba estuprando e matando mulheres, desembocando numa fuga alucinada cheia de sexo explícito, violência e horror.
Assista o trailer:
Não tão pretensioso quanto em “Thriller – Em Grym Film/Thriller: They Call Her One Eye” (1973), seu filme anterior, Bo Arne Vibenius avançou um pouco nas suas teorias do que seria cinema comercial, desta vez com a pornografia integrada na história indo muito além das cenas de sexo explícito enxertadas (para as cenas de sexo explícito de “Thriller” ele contratou um casal que fazia apresentações de sexo explícito ao vivo em boates de terceira categoria da Suécia). Bo Arne Vibenius nasceu em 1943 na Suécia e iniciou carreira no cinema como assistente de direção de Ingmar Bergman em “Persona” (1966) e “Vargtimmen/A Hora do Lobo” (1968). Trabalhar como assistente do renomado diretor lhe permitiu tentar a produção/direção de seu próprio filme e assim o fez com “Hur Marie Träffade Fredrik” (1969), uma fantasia familiar que foi um tremendo fracasso de público. Decidido a fazer “o filme mais comercial de todos os tempos” para recuperar o dinheiro investido na produção anterior, Vibenius (usando o pseudônimo de Alex Fridolinski) concebeu o sádico “Thriller: They Call Her One Eye”, onde misturou extrema violência (boatos dizem que ele utilizou um cadáver real para filmar a cena onde arranca o olho) e sexo explícito. “Thriller” acabou virando um clássico do cinema selvagem e foi proibido até mesmo na Suécia, um dos países mais tolerantes do mundo. Logo em seguida, mostrando que aprendeu a lição em partes, Vibenius (desta vez utilizando o pseudônimo de Ron Silberman Jr.) aumentou as doses de sexo e diminuiu a violência neste “Breaking Point”, numa clara tentativa de lucrar no mercado pornográfico da Suécia e Dinamarca, países que haviam liberado a produção de cinema adulto tirando-o da clandestinidade. Mesmo não tendo mais produzido/dirigido filmes, Bo Arne Vibenius continuou trabalhando na indústria cinematográfica em produções dos mais variados estilos como nos dramas “Hempas Bar” (1977) de Lars G. Thelestam; “Tabu” (1977) de Vilgot Sjöman; “Ga Pa Vattnet Om Du Kan” (1979) de Stig Björkman e a comédia “Raskenstam” (1983) de Gunnar Hellström, onde voltou a ser assistente de direção.
Bo Arne Vibenius
Andreas Bellis
Andreas Bellis, que interpreta o atormentado psicopata de “Breaking Point”, não era ator (sua única experiência atuando havia sido no drama “Jag Heter Stelios”, 1972, de Johan Bergenstrahle), mas sim câmera tendo, inclusive, feito a direção de fotografia de “Thriller”, o tal “filme mais comercial do mundo” idealizado por Vibenius. Outros filmes onde trabalhou como câmera (ou diretor de fotografia) incluem o pornô “Porr I Skandalskolan/The Second Coming of Eva” (1974) de Mac Ahlberg; a comédia “O Gyrologos” (1980) de Panos Glykofrydis e os filmes de horror “Blind Date/Visão fatal” (1984); “The Wind/O Sopro do Diabo” (1986) e “In The Cold of the Night/No Frio da Noite” (1990), todos filmes dirigidos pelo gênio incompreendido Nico Mastorakis. Já as atrizes de “Breaking Point” não seguiram carreira no cinema, tendo todas suas estrelas apagadas no acender das luzes dos pulgueiros onde o filme foi exibido.
Como curiosidade: Ralph Lundsten, o compositor da trilha sonora de “Breaking Point” (e também de “Thriller”), foi diretor de vários curtas-metragens. Também compôs a trilha de filmes como “Som Hon Bäddar Far Han Ligga” (1970) de Gunnar Höglund e “Exponerad” (1971), drama erótico de Gustav Wiklund estrelado pela atriz Christina Lindberg.
O cinema exploitation sueco, infelizmente, continua inédito e pouco conhecido no Brasil.
por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.
Ontem eu estava procurando a biografia do Edgar Allan Poe (que tenho guardada numa caixa embaixo da cama) e na minha procura encontrei a revista “Rudolf” (Macho Magazine) que era dos meus tempos de guri. Dei fim da busca pela biografia do Poe e corri aqui digitalizar a “Rudolf” número 1 (editora Ki-Bancas Ltda.) para disponibilizar ela aqui no Canibuk. Achei, também, algumas outras revistas eróticas na mesma caixa e as digitalizarei/postarei mais no futuro.
Boas punhetas com a “Rudolf”, era a pornografia que existia antes da era internet, bateu maior nostalgia!
“Psicofaca – O Maníaco das Facas” ( ? / 51 min.) de ?. Com: ?, ?, ? e ?.
Recentemente minhas amigas Gisele Ferran e Iara Magalhães foram visitar a cidade de Iraí/RS, que faz divisa com Canibal City/SC, e encontraram com um videomaker (cujo nome desconheço e não consta nos créditos do filme) que produziu um vídeo quase que completamente sozinho. Foi assim que fiquei sabendo da existência de “Psicofaca”, um horror amador com alguns bons momentos. Seus primeiros 15 minutos são geniais, mostrando as andanças de um psicopata sem nada para fazer em busca de uma vítima numa estação balneária. Cheio de enquadramentos interessantes, este início consegue ser extremamente tétrico e perturbador, principalmente pela falta da trilha sonora que faz com que os sons da noite fiquem realçados. É de dar agonia ver o psicopata entediado sem conseguir achar ninguém para matar (na ausência de humanos ele mata um inseto, remetendo ao cult “Cannibal Holocaust”). Mas, como na maioria dos filmes amadores, o autor comete o erro de colocar vítimas (atrizes e atores amadores demais até para os padrões do cinema amador) e é aí que “Psicofaca” perde a sua originalidade e fica igual aos milhares de outros filmes de fundo de quintal que são produzidos no Brasil. Como um Michael Meyers pobretão, o maníaco das facas vai matando, sem motivo algum, as várias pessoas que cruzam seu caminho: um pescador, uma menina que ele encontra num rodeio, um homem que estava mijando na capoeira, uma drogada (que injeta heroína misturada ao seu próprio sangue e após injetar a droga em seu corpo continua agindo da mesma maneira de antes) e assim por diante. Até que aparecem três maconheiros, auto-intitulados “os Mad Boys”, que caçam o psicopata em um final bem clichê/previsível. Fica parecendo uma tentativa do autor de fazer uma crítica social, mas nada funciona na sua narrativa mal editada e roteiro cheio de furos.
Mesmo sentindo falta de figurinos melhores, atores mais expressivos, iluminação e edição mais elaborados, achei “Psicofaca – O Maníaco das Facas” uma curiosa produção que merece ser conhecida, se encaixando perfeitamente no que ficou conhecido como “Cinema de Bordas“, um cinema instintivo feito por um autodidata que pode ser estudado/exibido pelo grupo de Bordas. Não tenho maiores informações sobre o realizador, mas assim que eu puder ir até Iraí vou tentar entrevistá-lo e coletarei mais informações sobre o “Psicofaca” (inclusive um endereço pelo qual seja possível encomendar o filme), que segue a tradição de um cinema povão, como aquele produzido por artistas como seu Manuelzinho, José Sawlo ou Simião Martiniano.
“The Toxic Avenger” (“O Vingador Tóxico”, 1984, 87 min.) de Lloyd Kaufman e Michael Herz. Com: Mitch Cohen, Mark Torgl, Andree Maranda e Marisa Tomei.
Tem alguns filmes que se tornam produções de estimação para nós. Não lembro exatamente quando assisti ao desbotado VHS com “The Toxic Avenger” (gravado em EP), mas quando botei meus olhos neste filme eu já era um trashmaníaco profissional e lembro que delirei com as aventuras do monstro tóxico herói que matava traficantes, bandidos filhos da puta, policiais corruptos (aqui no Brasil ele teria trabalho prá caralho) e namorava uma menina cega (interpretada pela gata Andree Maranda que, infelizmente, não seguiu carreira no cinema). Nas décadas de 1980, até meados de 1990, era muito difícil conseguir as produções da Troma aqui no Brasil. Na época já tinha ouvido falar da produtora nova iorquina (através de fanzines, lógico, porque nossa imprensa oficial é aquela piada desde sempre) e estava atrás de filmes deles como um doido. Logo consegui cópia de produções como “The Toxic Avenger”; “Monster in the Closet/O Monstro do Armário” (1986) de Bob Dahlin, com produção de Lloyd Kaufman e Michael Herz e “Street Trash” (1986) de Jim Muro (este somente distribuido pela Troma) e estes filmes eram o tipo de cinema pelo qual eu procurava: violentos, carregados no humor negro, debochavam do sistema e, além de divertidos, eram produções com muito sangue e gosmas diversas, sujos e alucinados, como o bom cinema precisa sempre ser.
Um pequeno grande clássico do cinema de baixo orçamento, “The Toxic Avenger” conta a história de Melvin (Mark Torgl) que trabalha como zelador no Health Club da fictícia Tromaville. Os jovens “saúde” que frequentam o clube (que são uma espécie de saradões fascistas) odeiam o feioso Melvin e resolvem pregar uma peça no nerd loser, que ao ser flagrado beijando uma ovelha sai correndo e se atira por uma janela pousando dentro de um tambor de lixo tóxico que estava por ali (num caminhão cujo motorista havia parado para dar umas cheiradinhas de pó). Melvin pega fogo e se transforma em Toxie (Mitch Cohen), um monstrengo nuclear deformado extremamente forte e de bom coração. Uma das primeiras ações de Toxie é salvar um policial honesto que estava a ponto de ser linchado por uma gangue de traficantes. Logo camisas com o rosto do bondoso monstro aparecem entre as crianças de Tromaville e o herói faz o trabalho da inapta polícia, mais ou menos como um Charles Bronson do clássico “Death Wish“, só que com voz de galã. O prefeito (Pat Ryan Jr.) da pequena cidade, chefão dos criminosos locais, chama a guarda nacional americana para ajudá-lo a exterminar o monstro herói e o exército aparece com seus tanques de guerra e vão até a barraca de Toxie para matá-lo, em um hilário final envolvendo centenas de extras recrutados no bairro onde está sediada a Troma Entertainment.
Eu & Lloyd Kaufman perdidos em São Paulo em busca de comida vegetariana.
Antes de “The Toxic Avenger”, Lloyd Kaufman e seu sócio Michael Herz produziam/distribuiam comédias sexuais. Lloyd Kaufman (1945) se formou na Universidade de Yale (entre seus colegas estavam gentinhas como Oliver Stone e George W. Bush). Influenciado por cineastas como Kenji Mizoguchi, Lubitsch, Stan Brakhage e o grupo Monty Python, em 1969 lançou seu primeiro filme, a comédia “The Girl Who Returned”, produção de baixo orçamento que trazia seu futuro sócio Herz no elenco. Kaufman acabou conhecendo John G. Avildsen (“Rocky”) e trabalhou em alguns de seus filmes, como “Joe” (1970) e “Cry Uncle!” (1971), ambas comédias, onde atuou de gerente de produção. Muitas vezes usando os pseudônimos Samuel Weil, Louis Su ou H.V. Spider, trabalhou em inúmeras produções, incluíndo os pornôs “Exploring Young Girls” (1977) de David Stitt, estrelado por Vanessa Del Rio, Sharon Mitchell e Erica Havens e “The Secret Dreams of Mona Q.” (1977) de Charles Kaufman (diretor de “Mother’s Day”, 1980), onde fez a direção de fotografia. Suas direções neste período incluiam comédias de mau gosto como “The Battle of Love’s Return” (1971) e os pornôs “The New Comers” (1973), com Harry Reems; “Sweet and Sour” (1974) e “The Divine Obsession” (1976), estrelado por Terri Hall. Em 1974 Kaufman e Herz fundaram a Troma Entertainment filmando lucrativas comédias de baixo orçamento como “Squeeze Play” (1979), e, agora com os dois sócios repartindo a função da direção, “Waitress!” (1981), comédia sobre garçonetes; “Stuck on You!” (1982), hilária comédia escatológica sobre um casal briguento que chegou a ser lançada no Brasil em VHS pela Look Vídeo; e “The First Turn-On!!” (1983), sobre as primeiras experiências sexuais de uma turma de praia. Aí rodaram “The Toxic Avenger”, visão pessoal de Kaufman sobre como realizar um filme de horror, e a Troma moderna, mais alucinada e debochada, teve início.
Lloyd Kaufman, eu e Gurcius Gewdner em almoço patrocinado pelo lendário Fernando Rick.
O primeiro filme pós “The Toxic Avenger” foi o cult “Class of Nuke’Em High” (1986), de Lloyd Kaufman, co-dirigido por Richard W. Haines (editor de “The Toxic Avenger”), sobre os alunos de uma escola que fica próxima a uma usina nuclear que começam a se comportar estranhamente; seguido do fracasso de bilheteria, possivelmente por causa dos cortes que sofreu pela MPAA, “Troma’s War” (1988), novamente com co-direção de Michael Herz, divertida e violenta paródia aos filmes de guerra estrelados por Chuck Norris e outros brucutus bobocas dos anos de 1980. Precisando de uma grana a dupla realizou simultaneamente “The Toxic Avenger 2” (1989) e “The Toxic Avenger 3: The Last Temptation of Toxie” (1989), continuações da saga heróica de Toxie. Como a Troma sempre foi bastante popular no Japão, em 1990 filmaram “Sgt. Kabukiman N.Y.P.D.”, hilária aventura do policial de New York que é possuído pelo espírito de um mestre kabuki. Em 1996 lançaram o grande clássico “Tromeu and Juliet”, uma avacalhada adaptação punk do chato “Romeu and Juliet” do ultra-gay Shakespeare, filme que foi lançado em VHS aqui no Brasil pela distribuidora Reserva Especial, o que fez com que a Troma ficasse um pouco mais conhecida por aqui. Na seqüência Kaufman dirigiu outro clássico insuperável, “Terror Firmer” (1999), sobre um psicopata fã de cinemão que ataca o pessoal da Troma comandada pelo diretor cego Larry Benjamin (interpretado pelo próprio Kaufman). Para marcar sua entrada no novo milênio, nada como lançar “Citizen Toxie: The Toxic Avenger 4” (2000), outro filmaço com o vingador tóxico e o capítulo mais alucinado e incorreto da série. Uma quinta parte de “The Toxic Avenger” chegou a ser anunciada, mas acho que não entrou em produção ainda. Depois de uma série de documentários produzidos em vídeo, Kaufman lançou o espetacular “Poultrygeist: Night of the Chicken Dead” (2006), onde galinhas zumbis atacam uma lanchonete e caras como Ron Jeremy e o próprio Lloyd Kaufman parecem se divertir horrores com cenas envolvendo merda, tripas e até dedadas no cu de figurantes. Genial!!! Após mais uma série de documentários picaretas em vídeo, coisas como “Direct Your Own Damn Movie!” (2009); “Diary-Ahh of a Mad Independent Filmmaker” (2009) e “Produce Your Own Damn Movie!” (2011), deve ser lançado em 2013 “Return to the Class of Nuke’Em High”, atualmente em pós-produção. Conheci Lloyd Kaufman em São Paulo alguns anos atrás e foi divertido demais, ele é exatamente igual quando aparece em seus filmes, ou seja, hiperativo, um alucinado debochado dono de uma energia fantástica.
Eu, esposa de Lloyd Kaufman e o debochado criador de Toxie.
Michael Herz conheceu Lloyd Kaufman na Universidade de Yale e parece que não se davam muito bem. Herz se tornou advogado, mas secretamente nutria o desejo de se tornar roteirista. A namorada (e futura esposa) de Herz era amiga de Kaufman e fez com que os dois se re-aproximassem e, juntos, acabaram fundando a Troma Entertainment e criando os clássicos que tanto admiramos. Em 1980 os dois produziram o pequeno clássico “Mother’s Day” (1980) de Charles Kaufman e uma série de comédias idiotas co-dirigidas por ambos. Em 1984 produziram “Combat Shock” de Buddy Giovinazzo, sobre um veterano do Vietnã perturbado que também se tornou clássico. Outras produções da dupla são filmes como “The Dark Side of Midnight” (1984) de Wes Olsen, sobre uma pequena cidade aterrorizada por um maníaco; “Screamplay” (1985) de Rufus Butler Seder, sobre um detetive investigando assassinatos descritos por um roteirista em seu script, estrelado pela lenda underground George Kuchar; “Igor and the Lunatics” (1985) de W.J. Parolini, sobre um lunático e sua gangue se vingando de uma cidadezinha, entre outras produções que foram mantendo a Troma em evidência no underground do cinema americano por toda a década de 1980. O último longa de Herz como co-diretor foi o clássico “Sgt. Kabukiman N.Y.P.D.” (se excluirmos o curta-metragem “The Troma System” que ele co-dirigiu em 1993). Desde então tem cuidado dos negócios burocráticos da Troma, deixando que o carismático Lloyd Kaufman seja o rosto público da produtora. Quando Herz precisa fazer alguma aparição pública ele sempre manda em seu lugar o ator de 200 quilos Joe Fleishaker.
O roteirista de “The Toxic Avenger” é Joe Ritter, um técnico mais conhecido por seu trabalho no departamento elétrico e como operador de steadicam em grandes produções como “Barton Fink/Delírios de Hollywood” (1991) de Joel e Eathan Coen; “Dracula” (1992) de Francis Ford Coppola; “Wayne’s World 2/Quanto Mais Idiota Melhor 2” (1993) de Stephen Surjik; “Pulp Fiction/Tempo de Violência” (1994) de Quentin Tarantino ou “Starship Troopers/Tropas Estelares” (1997) de Paul Verhoeven. Ritter dirigiu alguns filmes de baixo orçamento como “The New Gladiators” (1988), sobre gangues de rua numa Los Angeles pós-holocausto nuclear do anos 2010 e “Beach Balls” (1988), sobre um mané que sonha se tornar rockstar, ambos filmados simultaneamente com produção do lendário Roger Corman. O drama “Hero, Lover, Fool” (1996), com Ron Jeremy no elenco, também tem direção sua. Melvin, o nerd que se torna Toxie, é interpretado pelo ator Mark Torgl que já estava no elenco da comédia juvenil “The First Turn-On!!” (1983), filme anterior da dupla Kaufman-Herz. Em “Citizen Toxie: The Toxic Avenger 4” (2000) Mark voltou a participar da série no papel de Evil Melvin. Em 2005 apareceu no vídeo de horror “Beast” de Gary T. Levinson, mas na realidade ele ganha a vida como editor de seriados para a TV americana trabalhando em coisas como “World’s Most Amazing Videos” e “Inspector America”. Mitch Cohen é o ator que interpreta Toxie e também retornou na parte 4 da série (no papel de Lucifer). Em 1994 Mitch fez um pequeno papel no filme de estréia de Kevin Smith, “Clerks/O Balconista”, e, em 1995, produziu o curta-metragem “The Fan” de Brent Carpenter. O gorducho Pat Ryan Jr., que interpreta o corrupto prefeito de Tromaville, fez participações em filmes como “Birdy/Asas da Liberdade” (1984) de Alan Parker; “Invasion USA” (1985) de Joseph Zito e estrelado por Chuck Norris; “Street Trash” (1986) de Jim Muro e “Eat and Run/O Comilão de Outro Mundo” (1987) de Christopher Hart. Ryan morreu de ataque cardíaco em 1991, aos 44 anos. Como curiosidade, “The Toxic Avenger” é o primeiro filme onde a oscarizada Marisa Tomei deu as caras, ela faz parte dos figurantes do Health Club, não tendo sido creditada no filme.
Lloyd Kaufman e o emocionado fã brasileiro Gabriel Zumbi, muito a vontade com a lenda do cinema underground.
“The Toxic Avenger” foi lançado em VHS no Brasil pela distribuidora Play Filmes e continua inédito em DVD/Blu-Ray. Um remake versão família e censura livre deve ser lançado em breve deste primeiro filme. Em 2011 Lloyd Kaufman esteve aqui no Brasil realizando sua hilária “Master Class” onde ensinou como realizar filmes independentes. Quem perdeu é um mané!!!
por Petter Baiestorf.
Capa do meu VHS de “Stuck on You!” devidamente autografado por Lloyd Kaufman que fico impressionado ao ver alguém com este filme aqui no Brasil.
“Basket Case” (1982, 91 min.) de Frank Henenlotter. Com: Kevin Van Hentenryck, Terri Susan Smith e Beverly Bonner.
Este cult movie, que marca a estréia de Frank Henenlotter como diretor de longas, conta a história de Duane Bradley (Kevin Van Hentenryck) que se hospeda em hotel fuleiro de New York cheio da grana e com um misterioso cesto sempre nas mãos. Logo ficamos sabendo que dentro do cesto está Belial, gêmeo siamês de Duane que nada mais é do que um monstruoso torso. Duane e Belial foram separados quando tinham uns 12 anos de idade via uma sangrenta e traumatizante operação realizada a pedido do pai deles que não aceitava o monstrengo Belial grudado em Duane. Matando um a um os médicos veterinários que realizaram a operação, Duane encontra tempo para tecer amizade com uma puta acabadaça que reside no hotel e se apaixonar por uma jovem secretária, loirinha e tontinha, cuja relação desperta os ciúmes de Belial que mutila e estupra a jovem numa bela e rápida cena de necrofilia gore, desencadeando uma luta mortal com seu irmão.
Com efeitos especiais de stop motion Henenlotter deu vida à Belial, o mais divertido psicopata deformado da história do cinema. Belial era um mix de fantoche com outro boneco em tamanho grande onde um ator era metido dentro para os closes de seus olhos vermelhos (e todas as vezes que aparece a mão de Belial, é o braço do próprio Henenlotter dentro da prótese). Para dar vida ao Belial o diretor chamou os técnicos John Caglione Jr. (que havia sido assistente de maquiagens em “Friday The 13th Part 2/Sexta-feira 13 – Parte 2” (1981) de Steve Miner), Kevin Haney e Ugis Nigals, que estreiaram profissionalmente em “Basket Case” (Haney viria a fazer os animatrônicos do clássico “C.H.U.D.” (1984) de Douglas Cheek). Mesmo com uma produção de orçamento extremamente baixo, Henenlotter era um profundo conhecedor do cinema vagabundo e soube contornar todos os problemas ao conceber um divertido filme que foi lançado nos cinemas de New York em sessões da meia-noite, passando meio desapercebido, até ser descoberto e cultuado quando lançado em VHS.
Frank Henenlotter (1950) é um diretor independente que começou a fazer cinema inspirado pelos exploitations que eram exibidos nos cinemas da 42nd Street (que eram as verdadeiras grindhouses, termo popularizado e banalizado após Tarantino/Rodrigues terem feito seu “Grindhouse“). Começou fazendo filmes em super 8 quando adolescente e seu primeiro curta em 16mm, “Slash of the Knife”, foi exibido em sessão com o cult “Pink Flamingos” de John Waters. Ainda fez outros curtas, como “Son of Psycho” e “Lurid Women”, antes de estrear profissionalmente com “Basket Case” em 1982. Em 1988 realizou outro clássico do cinema sleaze, o também cult “Brain Damage”, uma interessante alegoria sobre a dependência das drogas. Na seqüência filmou três novos filmes, “Basket Case 2” (1990), continuação ainda mais debochada de seu grande clássico, filmado simultaneamente com “Frankenhooker” (1990), versão podreira da história de Frankenstein que mostrava como um nerd reanima o corpo de sua noiva, despedaçada por um cortador de grama, utilizando-se de pedaços de corpos de prostitutas, e “Basket Case 3” (1992), encerrando assim a saga do simpático monstrengo Belial. Depois de anos sem filmar, em 2008 Henenlotter lançou “Bad Biology”, sobre um homem e uma mulher que procuram a satisfação sexual e quando se encontram sua ligação sexual se revelará uma explosiva experiência. Em 2010 co-dirigiu, com Jimmy Maslon, o documentário “Herschell Gordon Lewis: The Godfather of Gore” que, além de H.G. Lewis, trazia ainda depoimentos de gênios como David F. Friedman e John Waters. Aliás, como curiosidade, “Basket Case” é dedicado ao avacalhado Lewis.
Frank Henenlotter renega que faz filmes de horror, em suas palavras, “Faço exploitation movies que tem uma atitude que você não vai encontrar nas produções de Hollywood. Meus filmes são rudes, provocadores, eles falam sobre assuntos que as pessoas costumam ignorar!”. Henenlotter até pode filmar pouco, mas é louvável sua postura de se manter a margem da indústria cinematográfica americana. “Basket Case” foi lançado em VHS em Portugal com o título de “O Mistério do Cesto” e via essa fita VHS que pude assistí-lo pela primeira vez no início dos anos de 1990. Aqui no Brasil continua inédito.
Em março de 2006 a dupla de trombadinhas Paulo Gerloff e Luimar editaram e lançaram a revista de quadrinhos de humor “Banda Grossa” na cidade de Joinville/SC e resolvi resgatar aqui no Canibuk uma das HQs, “A Morte de Anderson R.” (de autoria de Gerloff), para apresentar aos leitores essa estupenda revista que, infelizmente (até onde sei), só teve seu primeiro número editado. Como no expediente da revista diz “Banda Grossa é uma publicação sem periodicidade da Esprito de Porco Quadrinhos” (sim, “Esprito” escrito assim mesmo, não é erro de digitação), espero que este post renove as energias da dupla de editores e que a número 2 saia logo pois nada impede que uma revista seja lançada de seis em seis anos, coisas de mercado brasileiro, lógico!
Como diz Luimar no editorial: “Não somos bons, ou do bem, ou bonitos (não, bonito eu sou), mas queria ter feito desenhos instantâneos que efetivassem todo o reconhecimento pela participação dos animados e inanimados nesta revista. Desde os seres unicelulares até a internet (esta é cria do capeta e ninhuém tasca). Desta feita: você que enxerga pode constatar que não rolou. Você que não enxerga pode passar o dedo no braille e sentir que necas. Você que não enxerga e é leproso ou não têm mãos mesmo, pede prá alguém ler e também confirmará que lhufas. Você que não enxerga, não têm mãos e não ouve, já sentiu o cheiro da revista e finalmente sacou o esprito da coisa. Então berre: esta revista é prá pessoas que tão a fim duma putaria!!! Como Você.”
Ou seja, senso de humor bizarro 100% catarina, o estado dos débeis, idiotas e imbecis! Sejam bem-vindos à “Banda Grossa”.
“Cinema de Garagem – Panorama da Produção Brasileira Independente do Novo Século” (280 páginas, Caixa Cultural), coletânea de textos sobre a produção independente brasileira organizada pela dupla Marcelo Ikeda e Dellani Lima.
O cinema independente brasileiro, nos últimos 10 anos, voltou com força total por conta da facilidade de produção por meios digitais (filmadoras e computadores estão cada vez mais acessíveis). Novos realizadores estão surgindo em todos os cantos do Brasil, pequenas cidadezinhas começam a se tornar polos de cinema, festivais e mostras são organizadas em capitais e cidades de médio porte do território brasileiro, na net os produtores encontram um local onde escoar sua produção tendo contato direto com um público informado e até alguns livros de teoria cinematográfica, como a série de livros do “Cinema de Bordas” ou este “Cinema de Garagem”, surgem, ainda que timidamente, aqui e ali.
Este “Cinema de Garagem” é um livro-catálogo lançado junto da Mostra de Cinema de Garagem que a Caixa Cultural do Rio de Janeiro realizou, em parceria com a WSET, entre julho e agosto de 2012 com a exibição de 25 longas e uma incrível quantidade de curtas sem nunca repetir os realizadores (de modo que foi possível exibir trabalhos de inúmeros diretores). O livro é uma coletânea de textos escritos por realizadores, críticos e cinéfilos que possuem afinidade com o cinema independente brasileiro e versa sobre os seguintes assuntos: “Cinema Contemporâneo e Artes Plásticas” de Ana Moravi; “Economia de Gestos: Uma Política da Intimidade” de Arthur Tuoto, sobre as possibilidades da câmera; “Minha Memória, Senhor, é como um Depósito de Lixo” de Bruno de Andrade, crítico de cinema aqui de Santa Catarina que versa sobre a crítica e seu olhar ao “novíssimo cinema” (rótulos bestas, nossa crítica é mais perdida que os próprios realizadores); “Mosaico em Construção: Breve Panorama da Nova Produção Audiovisual Cearense” de Camila Vieira; “Filmes de uma Nota Só” da pesquisadora Carla Maia, considerações sobre os filmes “Vida” (2008) de Paula Gaitán e “A Casa de Sandro” (2009) de Gustavo Beck; “Gregarismo e Teatralidade” de Carlos Alberto Mattos sobre a relação entre o cinema independente de agora e o cinema independente brasileiro do passado; “Cinema Inclassificável, Urgente e Afetivo” do realizador Dellani Lima, sobre as formas de produzir/distribuir cinema; “Lições do Fracasso” do professor Denilson Lopes, texto extremamente sóbrio sobre o novo cinema independente brasileiro que coloca no papel o que penso deste novo modo de produzir: Ainda é cedo demais para qualquer tipo de conclusões; “O Cinema Pernambucano Entre Gerações” de Rodrigo Almeida e Fernando Mendonça; “O Nevoeiro”, onde Marcelo Ikeda dá um panorama geral do que está sendo produzido no Brasil; “O Trânsito Intenso nas Garagens de Minas Gerais” de Marcelo Miranda, sobre o cinema mineiro e, fechando o livro, o texto “Manifesto Canibal“ de minha autoria onde teorizei, em 2002, sobre as possibilidades de se fazer filmes independentes com produção caseira e que algumas pessoas levaram a sério (mas prefiro pensar que ninguém me leva a sério porque assim me mantenho jovial).
“Cinema de Garagem” foi organizado por dois realizadores (que juntos já haviam lançado o livro “Cinema de Garagem: Um Inventário Afetivo Sobre o Jovem Cinema Brasileiro do Século XXI“), o que faz com que a abordagem do assunto no livro não seja acadêmica xarope (nada pior do que ler textos acadêmicos sobre cinema). Dellani Lima nasceu em Campina Grande/PB e formou-se em dramaturgia e realização de cinema no Ceará, mas foi em Belo Horizonte/MG que vimos seu cinema vigoroso surgir em grande estilo. Clique em “Dellani Lima e a Arte de Experimentar Sensações” e assista os longas-metragens dele (tive o prazer de ser ator no longa “O Sonho Segue Sua Boca” que Dellani dirigiu em 2008 e pretendo repetir a parceria num futuro próximo). Marcelo Ikeda trabalhou na Ancine entre 2002 e 2010 e já realizou diversos curtas-metragens como “O Posto” (2005) e “Carta de um Jovem Suicida” (2008). É curador da Mostra do Filme Livre, professor de cinema e mantêm o blog Cinecasulofilia.
“Cinema de Garagem” tem sua venda proibida (por ter sido bancado pela Caixa Cultural), não sei como os interessados podem conseguir um exemplar, mas adianto aqui que é um livro imperdível para qualquer cinéfilo ou historiador do cinema independente brasileiro. Estamos, ainda, no comecinho de algo. Para onde iremos ninguém tem como prever. Eu, na qualidade de cinéfilo, espero apenas que bons filmes continuem sendo produzidos e mais canais exibidores sejam criados. O resto é teoria prá passar o tempo enquanto se espera o horário do voo!!!
“Piranha 2 – The Spawning” (“Piranhas 2 – Assassinas Voadoras”, 1981, 84 min.) de James Cameron. Produção de Ovidio G. Assonitis. Com: Tricia O’Neil, Lance Henriksen e Steve Marachuk.
No calor da noite jamaicana um casal de turistas mergulha no local onde há os destroços de um navio afundado para ter um pouquinho de sexo nas profundezas do mar azul. Peitinhos a mostra, sunga rasgada e os corpos do casal de amantes assanhados são devorados por piranhas famintas!… Hum, espere aí, piranhas em água salgada?… Sim, este é o brilhante ponto de partida do genial (e muito tosco) roteiro do produtor Ovidio Assonitis (com alguns pitacos do diretor James Cameron em seu único trabalho que admiro). Aqui somos apresentados ao Clube Elysium, uma espécie de hotel cheio dos mais variados tipos humanos que somente o cinema italiano tem a capacidade de criar. Entre uma e outra cena idiota, somos apresentados à Anne Kimbrough (Tricia O’Neil), instrutora de mergulho que trabalha ali com seu filho tapado, caçadoras de homens ricos, velhas ninfomaníacas, pescadores que usam dinamite, ricaços egocentricos, o xerife boa pinta, dentistas otários e, lógico, como não poderia faltar, o dono de hotel ganancioso que, a todo custo, quer fazer um festival do peixe frito na praia.
Em uma de suas aulas de mergulho Anne leva seus alunos até os destroços do navio onde as piranhas vivem. Um dos alunos entra no navio e é comido pelas piranhas. Assim o xerife, que se revela marido de Anne, começa as investigações. Anne, auxiliado por um aluno que quer comer ela, invade o necrotério para analizar o corpo podre do aluno morto. Enquanto estão fotografando o cadáver uma enfermeira descobre a farra e os expulsa. Ao arrumar o corpo do morto a enfermeira tem a surpresa que todos estão esperando, ou seja, uma piranha voadora sai de dentro do corpo e voa até sua jugular estraçalhando-a (as piranhas são de borracha, quando atacam os próprios atores precisam segurá-las e simular que estão vivas e violentas, rendendo momentos impagáveis de humor involuntário). Já em sua casa, Anne e seu aluno estão vendo as fotos do cadáver quando, como seria normal num caso assim, pinta um clima de tesão e eles se beijam e vão prá cama para uma foda revigorante. Deste ponto em diante o filme fica cada vez mais divertido, com as piranhas voadoras saindo da água como um cardume/bando sedento por carne humana. Logo Anne está implorando para o dono do Clube Elysium cancelar todas as atividades na água, mas ele não aceita isso (Assonitis e Cameron perdem aqui uma ótima oportunidade de esculhambar este clichê, já que como as piranhas voam e respiram fora da água, se todas todas as atividades da água fossem canceladas, ainda teríamos os deliciosos ataques).
Quando o aluno de Anne se revela um bioquímico, ficamos sabendo que ele sabia que no navio afundado havia ovos de piranhas modificadas geneticamente para serem utilizadas como armas pelos militares americanos. Como o festival do peixe frito não foi cancelado, todos os hóspedes que esperavam comer um peixinho frito de graça viram a refeição principal das piranhas que promovem uma carnificina gore repleta de feridas pustulentas, sangue grosso e membros amputados. A última esperança de todos é Anne mergulhar até o navio, ninho das piranhas, e explodir tudo com bananas de dinamite, promovendo assim um dos finais mais toscos que o cinema trash já filmou.
Com uma equipe-técnica completamente italiana (onde ninguém falava inglês), James Cameron deve ter se sentido um peixe fora d’água nesta produção do picareta Assonitis. “Piranha 2” era para ter sido dirigido por Miller Drake (assistente de direção no clássico “Alligator” de Lewis Teague, filmado um ano antes) que havia trabalhado com Roger Corman e Joe Dante no primeiro “Piranha” (1978) que traria de volta as personagens de Kevin McCarthy (que reapareceria todo cheio de cicatrizes porque foi vítima das piranhas no primeiro filme) e de Barbara Steele. James Cameron havia sido contratado para fazer os efeitos especiais do filme e, quando Drake foi despedido da produção, Cameron pode realizar seu sonho de dirigir um filme, mas, para azar do americano, Assonitis resolveu acompanhar as filmagens de perto e discutia quase sobre tudo com Cameron (nada pior para um produtor do que ter um diretor que não faz o que lhe é ordenado) e assim proibiu Cameron de ver as filmagens do dia e, depois, não o deixou acompanhar a edição do filme. Aliás, James Cameron se refere ao “The Terminator/O Exterminador do Futuro” (1984) como seu primeiro filme (há um curta-metragem de Cameron de 1978, intitulado “Xenogenesis” que merece ser redescoberto).
Ovidio G. Assonitis (1943) nasceu no Egito e é produtor de cinema independente. Nos anos de 1960 se tornou distribuidor de filmes no sudoeste da Ásia (em apenas 10 anos como distribuidor colocou no mercado mais de 900 filmes). Entre 1970 e 2000 produziu cerca de 50 filmes, muitos deles coproduções com produtoras como American International Pictures, Nippon Herald Films Inc. e Toho-Towa, geralmente com lucros absurdos como “Chi Sei?/Beyond the Door/Espírito Maligno” (1974), filme de baixo orçamento dirigido por ele mesmo, que teve arrecadação mundial de mais de 40 milhões de dólares. Com o pseudônimo de Oliver Hellman, além de “Chi Sei?”, dirigiu ainda “Tentacoli” (1977), trasheira estrelada por John Huston, sobre polvos assassinos; “There Was a Little Girl/Madhouse” (1981), sobre uma professora de surdos atormentada por sua irmã gêmea e a comédia “Desperate Moves” (1981). Como produtor trabalhou com os mais variados tipos de diretores italianos possíveis, realizando belíssimos filmes de baixo orçamento como “Nel Labirinto del Sesso” (1969) de Alfonso Brescia; “Il Paese del Sesso Selvaggio/The Man from the Deep River” (1972) de Umberto lenzi, um dos primeiros filmes do ciclo de filmes de canibais italianos; “Dedicato a una Stella” (1976) de Luigi Cozzi, um drama romantico; “Stridulum/Herdeiros da Morte” (1979) de Giulio Paradisi, sci-fi de horror sobre o bem e o mal em luta secular; “Iron Warrior/O Guerreiro de Aço” (1987) também de Alfonso Brescia; “Curse 2 – The Bite” (1989) de Frederico Prosperi, sobre um mané que é mordido por uma cobra radioativa e o resto pode ser imaginado; “Lambada” (1991) de Fábio Barreto, trasheira musical que tentava lucrar com a moda da lambada; “American Ninja 5” (1993) de Bobby Gene Leonard, com Pat Morita no elenco; entre vários outros exemplos de como ser um exploitation man do cinema.
Giannetto De Rossi (1942), responsável pelos ótimos momentos gores de “Piranha 2”, começou como maquiador em filmes como “Le Ore Dell”Amore” (1963) de Luciano Salce, comédia romântica estrelada por Ugo Tognazzi e Barbara Steele, “C’era una Volta il West/Era uma vez no Oeste” (1969) de Sergio Leone e “Quando le Donne Avevano la Coda/Quando as Mulheres Tinham Rabo” (1971) de Pasquale Festa Companile, comédia incorreta com Senta Berger. Em 1972 trabalhou na comédia “All’Onorevole Piacciono le Donne…/O Deputado Erótico”, dirigido por Lucio Fulci, trampo que colocou os dois em contato. Logo em seguida De Rossi trabalhou com Jorge Grau no clássico “Non si Deve Profanare il Sono dei Morti/Let Sleeping Corpse Lie/Zumbi 3”, onde criou efeitos de maquiagens gores convincentes. Mas foi com Lucio Fulci que extrapolou todos os limites do bom gosto ao elaborar os efeitos ultra gores de filmes como “Zumbi 2” (1979); “… E Tu Vivrai nel Terrore! L’Aldilà/Terror nas Trevas” (1981) e “Quella Villa Accanto al Cimitero/The House by the Cemetery/A Casa dos Mortos-Vivos” (1981). Sempre metido nas produções mais divertidas, De Rossi trabalhou em inúmeros filmes que marcaram época, como “L’Umanoide/O Humanóide” (1979), sci-fi cara de pau de Aldo lado; “Conan The Destroyer/Conan, O Destruidor” (1984) de Richard Fleischer, fantasia com Schwarzenegger; “Rambo III” (1988) de Peter McDonald, ação com Stallone; “Killer Crocodille” (1989), horror sobre um crocodilo gigante de Fabrizio de Angelis; entre vários outros. Giannetto De Rossi também foi responsável pela criação dos efeitos realistas do “snuff movie” que é projetado em “Emanuelle in America” (1977) de Joe D’Amato, estrelado por Laura Gemser. Giannetto ainda dirigiu três longas: “Cyborg, il Guerriero D’Acciaio” (1989), sci-fi de ação; “Killer Crocodille II” (1990), continuação sangrenta das aventuras do crocodilo gigante; e o filme em vídeo “Tummy” (1995), sobre um garoto que foge do orfanato com duas criaturas mágicas.
“Piranha 2 – Assassinas Voadoras” foi lançado em DVD no Brasil pela Columbia Tri Star Home Video e é ótimo para ver que todos os gigantes da indústria cinematográfica mundial começam pequenos.