Arquivo para cangaceiros

Aparício e a Boiada

Posted in Quadrinhos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 14, 2012 by canibuk

A Editora Vecchi, lá pelo final dos anos de 1970 e primeira metade dos anos de 1980, se especializou em publicar HQs de horror de artistas brasileiros. Paralelo à títulos como “Spektro” e “Pesadelo”, a Vecchi publicou várias outras revistas, como a “Histórias do Além” que trazia quadrinhos nos moldes daqueles eternizados pela, principalmente, “Spektro”. Digitalizei a HQ “Aparício e a Boiada”, com texto de E.C. Cunha e desenhos de Roberto Portela, da “Histórias do Além” número 20 (de novembro de 1982).

A Morte da Besta Fera

Posted in Quadrinhos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on janeiro 12, 2012 by canibuk

Na “Spektro # 7” (setembro de 1978) foi publicado a HQ “A Morte da Besta Fera” com roteiro de Gilberto F. Costa e desenhos do mestre Watson. Resgato ela aqui no Canibuk para as gerações mais novas tomarem contato com essa época maravilhosa dos quadrinhos brasileiros.

Lampião: Herói ou Bandido?

Posted in Cordel with tags , , , , , on março 19, 2011 by canibuk

Na fazenda Ingazeira ele nasceu

Vila Bela, atual Serra Talhada

Virgulino Ferreira na estrada

Das caatingas do Sertão empreendeu

Uma marca que o cangaço conheceu

Como linha divisória do cangaço

Que com ele assumiu ares de traço

Permanente fazendo a divisão

Do período a partir de Lampião

E de antes do seu primeiro passo.

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Foi parido no mês de fevereiro

Dia 12 de 1900

Virgulino era mais um dos rebentos

Da família de um simples fazendeiro

Admirava a vida de vaqueiro

Inda moço amansava animal bruto

Em seu plano de vida resoluto

Artesão de arreios de cavalo

Mudou tudo assim num só estalo

Para a vida perdeu salvo-conduto.

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Um artista do couro que fazia

Sela, arreios, bornais, gibão, perneira

Às cidades vizinhas ia prá feira

Pra vender o que ele produzia

Tinha sempre o pai por companhia

Nessas idas também os irmãos iam

Os negócios a eles garantiam

Um retorno que dava pro sustento

Não faltava à mesa o alimento

E assim tranqüilamente eles viviam.

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Nesse tempo com 17 anos

Mesma idade que entrou para o cangaço

Ocorreu de uma vez no mesmo passo

O fracasso dos seus atuais planos

José Saturnino e outros manos

Decorrente de encrencas por chocalhos

Saiu de Cachimbos por atalhos

Encontrando-os perto de Nazaré

Atirou em quem viu que estava em pé

E o tempo fechou por entre os galhos.

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Os irmãos do jovem Virgulino

Baleados foram prá Mata Grande

Antes mesmo que ele mesmo mande

Resolveram tomar esse destino

Entretanto antes de tomarem tino

Aparece o tenente Zé Lucena

Delegado volante dessa cena

E atira no pai de Lampião

Que atingido é morto e cai no chão

Friamente o mataram sem ter pena.

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Quando soube o que tinha acontecido

Com o marido a mão de Lampião

Agachou-se de dor e o coração

Já estava batendo combalido

O socorro chegou mas foi perdido

Não havia mais nada prá fazer

Morto o pai, morta a mãe e ele não vê

A saída, mas seu olhar se lança

Ao desejo instintivo de vingança

E partiu pra matar ou pra morrer.

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Ingressou no cangaço e foi viver

Com o bando de Antonio Silvino

Ainda moço partia Virgulino

Para o mais contraditório proceder

Com as suas próprias mãos queria ver

O que ele não via na justiça

E se a ira no coração lhe atiça

A vingança foi generalizada

Onde andou sua marca foi deixada

Por projéteis de sua arma roliça.

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Da fazenda Ingazeira deu no pé

Devido as encrencas com os Nogueira

Seus vizinhos que agora se entrincheira

Depois do que houve em Nazaré

Espantalho dos Sertões Lampião é

Mesmo antes de tornar-se Lampião

E promete botar a própria mão

Sobre Zé Saturnino e Zé Lucena

E outros tantos que estão na mesma cena

Que o fizeram sair do teu torrão.

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Eram os reis do cangaço nessa era

Casemiro Honório e Antõe Quelé

Né Pereira, os quais mantinham em pé

Os instintos terríveis de uma fera

Os inúmeros membros da quimera

Do cangaço ganhava habilidade

Desafios a toda autoridade

Com certeza se desenvolveria

Com a chegada da sua maior cria

O cangaço ganhou vitalidade.

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Quando Antonio Matilde se casou

Com uma moça prima de Lampião

Não contava que por provocação

Levaria a surra que levou

José Saturnino, que o surrou

Provocou Lampião e se deu mal

Este veio deixando o pessoal

No estado de Alagoas onde estava

Depois de brigar ele matava

Todo gado que achava no curral.

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Dois dos reis do cangaço em socorro

À família de José Saturnino

Lançaram-se em grande desatino

Como à caça se lança o cachorro

Virgulino disse: da luta eu não corro

Mas botou prá fugir quem combatia

Baleou os Nogueira mas não via

Nenhum morto daqueles que esperava

Tocou fogo em tudo que encontrava

Na fazenda que as chamas consumia.

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Pouco tempo sua fama se espalhou

As pessoas daquela região

Que sofria qualquer humilhação

Procurava-o pra ser seu seguidor

Como rei do cangaço ele ficou

Conhecido e temido no Sertão

Não faltava a ele ocasião

De exibir-se com suas diabruras

Humilhava e exaltava criaturas

O terrível e valente capitão.

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Componentes do bando de Lampião:

Corisco, Jararaca e Nevoeiro

Volta seca, Pancada e Cajueiro

Cravo Rocho, Moita Brava e Azulão

Cajarana, Sabonete e Mergulhão

Gato Bravo, Enedina e Pente Fino

Juriti, Passarinho e Livino

Zabelê, Elétrico e Quinta Feira

Mais Sereno e Antonio Ferreira

E outros tantos que seguiam Virgulino.

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Maria estava com a vizinha

Quando alguém do lugar anunciou:

Lampião vem aí, e ela falou:

Credo cruz minha gente, eu tô calminha

Quero mesmo é ser sua rainha!

Eu queria era ir com ele embora!

Mas a Rosa sua amiga lhe implora:

Fala baixo alguém pode te ouvir

Eu quero é que ouça que é pr’eu ir

Com ele pro fim do mundo agora.

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Era ela a mulher de um sapateiro

Vida simples em seu cotidiano

Mas sonhava com o mundo desengano

E jogou-se nas mãos do bandoleiro

Lampião a levou para o vespeiro

O cangaço era a sua moradia

Numa vida de aventura fugidia

Foi Maria Bonita a rainha

Desse mundo que quase nada tinha

A não ser sua própria revelia.

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Mesmo havendo poesia, ainda assim

Era errante a vida o tempo inteiro

Se roubava prá conseguir dinheiro

Se matava prá ir até o fim

Torturava quem achava ruim

Corrompia pela imposição

A conquista à força da ação

Amizades compradas pelo medo

Tanto foi que acabou-se num enredo

Descoberto por um coiteiro irmão.

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Era um tempo em que a lei foi esquecida

A do homem e a de Deus também

Tudo era a base de quem tem

O poder da lei atribuída

Conforme a vontade suicida

Sem medida de qual a conseqüência

Era assim pro governo dá ciência

Era assim prá ninguém obedecer

A vontade de cada era fazer

Uma lei pela sua onipotência.

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A polícia cometia atrocidades

O coiteiro da mesma forma agia

Cangaceiro a nada obedecia

O governo cheio de incapacidades

A justiça com mais de mil verdades

Mesmo em nome de uma religião

Alguém avançava com a mão

Tomando para si algum partido

Até Deus era desobedecido

Imagine o restante da nação.

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O governo Federal pra combater

A coluna de Prestes no Sertão

Procurou conversar com Lampião

O fazendo agora merecer

A patente que iria receber

O tornava pra sempre capitão

Padre “Ciço” fez a negociação

Virgulino Ferreira é empossado

Novas fardas e o bando bem armado

O errado tornou-se solução.

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O que fez Lampião e seus bandidos

Nas tantas investidas contra a vida

É a página mais suja empedernida

Que ficou desses tempos esquecidos

Quando ouviu inda moço os estampidos

Dos tiros que mataram o próprio pai

A diabólica ação que lhe atrai

É matar. É matar até morrer

E aí matou gente sem porquê

Só prá vê como é que um morto cai.

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O poder militar, do mesmo jeito

Que buscava combater o infeliz

Ajudava autoridades civis

Pra tirar disso tudo algum proveito

Fazendeiro vivia satisfeito

A despeito de sua transgressão

Mesmo assim não podemos ver razão

Pra dizer que o errado virou certo

Foi herói ou foi bandido esperto

Virgulino Ferreira, o Lampião?

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O final da estrada foi traçado

Pela prática do seu caminhador

Que de tanto atirar-se ao horror

O horror a si foi atirado

O caminho do valente é encurtado

E aos 38 anos, Lampião

Deixa a vida perdida sobre o chão

Que não pôde mais nele caminhar

Acabou seu reinado no Sertão.

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Lampião encontrou-se com a morte

No seu esconderijo preferido

Por um dos seus coiteiros foi traído

Mudando do cangaço toda a sorte

Tenente Bezerra, se fez forte

Para a Grota dos Angicos, comandava

Sua tropa que à noite caminhava

Pra no dia seguinte aparecer

E aos bandidos poder surpreender

De manhã quando o dia inda raiava.

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Cedinho Lampião se levantou

Com um caneco de água em sua mão

De repente um tiro o leva ao chão

Já cai morto e morto ali ficou

E Maria Bonita se jogou

Sobre o corpo caído posto ao nada

Sobre ela desceu uma rajada

Outros tantos morreram no embate

Não havia mais força pro combate

A coroa do rei foi derrubada.

FIM.

escrito por Abdias Campos.