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O fantástico cineasta Kôji Wakamatsu foi atropelado por um táxi dia 12 de outubro, vindo a falecer no dia 17 em decorrência dos ferimentos causados pelo acidente. Sua morte acabou ofuscada pela morte da atriz erótica Sylvia Krystel no dia 18 de outubro, ontem. Não quero parecer neurótico, nem criador de teorias de conspiração, mas me passou pela cabeça que o governo japonês tenha pagado pro taxista atropelar Wakamatsu e depois assassinado, com requintes samurais, a Krystel para que o mundo não comentasse tanto a morte dele. Mas claro, é coisa da minha cabeça. Sempre é!
Kôji Wakamatsu, nascido em Wakuya (Miyagi) em 1936, ainda adolescente foi tentar a sorte em Tokyo onde, sem dinheiro nem perspectivas de uma vida melhor, entrou para o mundo das gangues de rua e, tempo depois, foi preso. Na cadeia foi abusado pelo guardas e tomou ódio pelo estado, uniformes e instituições de todos os tipos. Nos anos de 1960 conseguiu emprego nos estúdios da Nikkatsu onde estreiou como diretor com o filme “Hageshii Onnatachi” (1963). Nos anos que se seguiram realizou inúmeros filmes de baixo orçamento (dirigiu 10 longas em 1964 e outros 8 em 1965, num ritmo de produção de dar inveja até ao Jesus Franco). “Kabe no Naka no Himegoto/Skeleton in the Closet/Secrets Behind the Wall” (1965) foi selecionado no Festival Internacional de Berlim e teve boa acolhida por parte do público e crítica, mas como os pinku eigas não costumavam ganhar o certificado de exportação do governo japonês, isso originou um embaraço político. O estúdio Nikkatsu, que não queria encrencas com o governo, lançou o filme em alguns poucos cinemas e isso limitou o sucesso da produção. Wakamatsu, irritado com este fato, resolveu deixar a Nikkatsu para formar seu próprio estúdio e realizar seus filmes de modo independente. Seu primeiro filme com produção inteiramente sua foi o drama “Taiji ga Mitsuryo Suru Toki/The Embryo Hunts in Secret” (1966), já com roteiro que misturava sexo com críticas ao governo. Com um orçamento médio de apenas 5 mil dólares por filme, Wakamatsu realizou alguns clássicos mundiais do baixo orçamento, como “Okasareta Hakui/Violated Angels” (1967), pinku eiga violento que se baseava nos crimes do serial killer americano Richard Speck, e “Yuke Yuke Nidome no Shojo/Go, Go, Second Time Virgin” (1969), onde se baseou nos assassinatos da família Mason para criar um dos filmes mais belos dos quais já tive o privilégio de assistir.
Na década de 1970 sua produção continuou intensa e cada vez mais política e provocativa. Em “Seizoku/Sex Jack” (1970) ele teorizou sobre os movimentos revolucionários de esquerda. Paralelo aos filmes que escrevia e dirigia, começou a realizar documentários, como “Sekigun – P.F.L.P.: Sekai Sensô Sengen” (1971), em parceria com Masao Adachi, sobre o exército vermelho do Japão apoiando guerrilheiros do Líbano, ou “Porn Jikenbo: Sei no Ankoku” (1975) sobre o underground sexual de Tokyo. Nesta época foi produtor executivo do clássico erótico político “Ai no Korîda/O Império dos Sentidos” (1976) de Nagisa Ôshima, já lançado em DVD no Brasil. “Seibo Kannon Daibosatsu/Sacred Mother Kannon” (1977) é um de seus filmes mais conceituados, mas infelizmente ainda não consegui assistir à este filme que é considerado um clássico de como usar simbolismos e metáforas no cinema.
A partir dos anos de 1980 seu ritmo de produção diminuiu um pouco. Seus métodos de distribuição foram esmagados pelos conglomerados cinematográficos, relegando seu cinema à festivais e ratos cinéfilos sempre em busca de prazeres da sétima arte. Wakamatsu até apareceu como ator em alguns poucos filmes, como “Rampo” (1994) de Rintaro Mayuzumi e Kazuyoshi Okuyama; “Seishun Kinzoku Batto” (2006) de Kazuyoshi Kumakiri, diretor nascido em 1974 que homenageou o cinema político de Wakamatsu em seu primeiro filme, “Kichiku dai Enkai” (1997), pequeno clássico produzido enquanto ainda era estudante de cinema; ou “Yûheisha-Terorisuto” (2007) de seu amigo Masao Adachi, entre alguns outros.
Conheci o cinema de Kôji Wakamatsu lá pelo meio da década de 1990 e foi paixão à primeira vista, se tornando em pouco tempo um dos meus cineastas japoneses preferidos. Em 2000 comprei o livro “L’Empire Erotique”, do fotografo francês Romain Slocombe, que trazia uma entrevista com Kôji Wakamatsu (traduzida do francês para o português por Ulisses T. Granados para que eu pudesse ler e que publiquei no fanzine “Arghhh” número 31, de outubro de 2002, que resgato agora no Canibuk). Na entrevista participam também o editor do Eichi Publishing e uma assistente de Wakamatsu.
por Petter Baiestorf.
Romain Slocombe entrevista Kôji Wakamatsu:
Slocombe: Ontem, em uma livraria de Jimbo-cho, eu encontrei por acaso uma fita de um dos seus filmes antigo, “Yuke Yuke, Nidome no Shojo”. Eu o assisti essa manhã antes de vir. O Título espanta um pouco, mas eu me surpreendi com a beleza das imagens e com os trechos de jazz da trilha sonora. A história é bastante simples, ainda que intelectual, não? Esse filme deve ter agradado aos estudantes da época que amavam os filmes de Ôshima. No início seus filmes eram mais violentos? Houve uma mudança de estilo?
Wakamatsu: Sim, entre os tratados de segurança Japão-USA de 1960 a 1970, o ambiente social era cada vez mais tenso. Os movimentos estudantis se faziam cada vez mais violentos. Paralelo a isso, meus trabalhos se tornavam cada vez mais excêntricos. Esse filme eu fiz no telhado do prédio da nossa repartição. Um filme dirigido totalmente em cima do telhado! As idéias me vinham enquanto eu respirava olhando para o céu! Isso não me custou quase nada, e só tive que pagar a equipe e os atores. No momento das filmagens eu não sabia se seria um filme interessante ou não. Foram os outros que me diziam se estava bom ou não, eu mesmo não tinha a mínima idéia sobre que filme que eu estava fazendo.
Slocombe: Durante a direção você modificava o script?
Wakamatsu: Eu mudo o tempo todo!
Slocombe: Você não tinha problemas quanto a sua relação com os produtores?
Wakamatsu: Sim, os produtores não ficam contentes quando o filme termina sem ter nada a ver com o projeto apresentado inicialmente.
Slocombe: Mesmo uma pequena sociedade de produção como a Art Theater Guild?
Wakamatsu: Sim, mas o mais importante é colocar o maior número de gente nas salas de exibição. Depois que eles se dão conta do sucesso não dizem mais nada.
Slocombe: Quanto mais excêntrico o filme, mais ele atraí audiência?
Wakamatsu: Sobretudo os estudantes, não o grande público. As pessoas em geral acham meus filmes “sujos”. Meus principais espectadores estão entre os intelectuais, a maior parte são estudantes universitários.
Slocombe: Qual a duração média dos seus filmes?
Wakamatsu: No início da minha carreira, sem refletir bem, eu fazia filmes de cerca de uma hora e vinte minutos (80 minutos). E, de tempos em tempos, filmes de duas horas (120 minutos). Depois eu me meti a fazer média-metragens de cerca de uma hora (60 minutos). Esse é o caso de “Okasareta Hakui/Violated Angels”. Eu não fiz esse filme com a intenção de exibi-lo nos cinemas, eu esperava fazer algo mais pessoal. E liguei para Juro Kara dizendo – “Ei, venha se divertir com a gente!”, oferecendo três grandes camarões à guisa de salário. Não custou quase nada e me contentei em exibi-lo em pequenas salas undergrounds. Ainda assim ele chamou a atenção de certos críticos de cinema.
Slocombe: Seus filmes muitas vezes tratam da relação homem-mulher e sempre o faz de uma maneira muito violenta. Numa entrevista a muito tempo atrás, lembro de você dizendo: “Entre um homem e uma mulher não pode existir nada além de guerra” (risos).
Wakamatsu: Mas sim, o relacionamento é sempre uma guerra! Aliás, a relação sempre dura mais tempo quando é mais tensa e quando há uma distância entre os dois, não é verdade?
Editor do Eichi Publishing: A propósito de “Yuke, Yuke, Nidome no Shojo”, você nos disse que o filmou inteiro em cima de um prédio. Em “Gewalt! Gewalt! Shojo Geba-Geba/Violent Virgin” (1969) você mostra uma cruz levantada num deserto e “Okasareta Hakui” se passa numa câmara fechada e desolada.
Wakamatsu: Não sei porque, mas eu adoro criar um drama dentro de um espaço limitado. Eu considerei o deserto como uma câmara fechada, isso me permite concentração. Meus trabalhos considerados mais bem realizados são aqueles que se passam em cenários isolados e limitados.
Slocombe: Gostaria de voltar a “Yuke, Yuke, Nidome no Shojo”, que assisti a pouco. Percebi o herói dele tão puro quanto o de “Okasareta Hakui”, que não tem experiência sexual e parece sentir tanto amor quanto desejo de agressão em relação às mulheres. Ele não consegue se decidir quanto a matar ou não a enfermeira, que reconhece tão pura quanto ele. Quando a garota implora para não estuprá-la, a relação ainda permanece pura. O herói de “Yuke, Yuke…” decide matar os outros garotos, mais adultos, que tinham estuprado a garota. Tenho a impressão de que você mesmo gostaria de ficar puro e encontrar uma mulher pura.
Wakamatsu: No caso de “Okasareta Hakui” fui inspirado pela chacina de enfermeiras que ocorreu em Chicago, USA. O fato de que uma delas foi poupada me interessou. Parece que ela foi a única a entender os sentimentos do assassino e por isso se salvou. No meu caso eu sou o mais jovem entre sete irmãos. Éramos todos homens e só tivemos nossa mãe na infância. Os espectadores dos meus filmes sempre percebem o meu complexo de édipo. Eu sempre me pergunto se essa tendência pessoal vem de minha situação na infância. Mas, à parte disso, eu sinto admiração pelas mulheres em geral.
Assistente de Wakamatsu: Talvez seja um “complexo de virgem imaculada”?
Wakamatsu: Exatamente. Eu procuro conforto nas mulheres, como alguns procuram na Virgem maria ou na deusa Kannon (encarnação feminina de Buda).
Slocombe: No seu filme “Seibo Kannon Daibosatsu” (1977) esse tipo de mulher surge emergindo do mar…
Wakamatsu: Refletindo bem, admito que sou um grande admirador das mulheres. Para mim a mulher é um ser que me entende e aceita totalmente, sem que aja a necessidade de me explicar. Nos meus filmes sempre se vê a aspiração por uma mulher de infinita graça e bondade.
Editor do Eichi Publishing: Há um abismo entre essa mulher idealizada e aquelas do mundo real.
Wakamatsu: É claro, existe muita diferença. Mas eu prefiro continuar buscando esse ideal do que viver na resignação.
Editor do Eichi Publishing: Para Slocombe essa mulher idealizada esta representada em suas fotos de mulheres usando ataduras, estou certo?
Wakamatsu: Eu entendo isso perfeitamente. A mulher machucada, que não pode se mover de sua cama de hospital, de certo modo esta isolada do mundo real – essa imobilidade involuntária lhe deixa mais erótica do que em seu estado natural. Deste modo a mulher se expõe sem artifícios. Uma mulher nua dormindo é uma bela visão. De fato eu sinto uma grande atração quando vejo uma mulher cheia de curativos numa cama de hospital. Se bem que uma mulher doente é algo bem menos erótico.
Slocombe: Certo, é porque a visão de uma mulher doente traz à mente a possibilidade de sua morte, o que não é agradável para mim. Uma mulher em bandagens pode não estar em sua perfeita saúde, mas não vai ter que ficar nessa posição imóvel por muito tempo.
Editor do Eichi Publishing: Visualmente, bandage branca é realmente muito bonita. Slocombe mencionou a pureza do herói de “Yuke, Yuke…”. É essa pureza que o leva a morte não? Porque seu herói morre no final?
Wakamatsu: Eu achei que essa resolução teria mais estilo. Por exemplo, eu acho Che Guevara muito chic – eu gostaria de ter vivido e morrido como ele. Infelizmente eu vou terminar como um mero diretor de filmes. Seguindo os princípios do filme, o herói não deveria morrer, mas eu achei que o final seria melhor com sua morte.
Editor do Eichi Publishing: Eu acredito que o herói teve que morrer para preservar sua pureza.
Wakamatsu: Eu não estava consciente disso porque não uso muito a razão em um filme, prefiro me guiar por minha sensibilidade e sentimentos. Frequentemente os atores não entendem o que eu quero. Eu me acho muito instintivo, como um animal. Nunca estive numa escola de cinema, nunca aprendi técnica cinematográfica. Foi por acaso que entrei nessa profissão. Eu nunca tinha sequer sonhado com isso! Eu simplesmente tive o impulso de criar alguma coisa, fosse um texto ou um filme. Eu queria tornar os meus desejos reais, por exemplo, o meu desejo de matar policiais (risos). Não posso fazer isso na vida real, é claro, mas num filme posso exterminar um monte de policiais de uma vez. Eu comecei a filmar só por esse motivo. Como alguns desses primeiros filmes tiveram sucesso, as pessoas passaram a me chamar de diretor. Desde então eu filmo constantemente, mesmo hoje em dia quando as condições estão cada vez mais difíceis. Eu construo um filme dentro da minha mente. E isso vem repentinamente. Por exemplo, “Taiji ga Mitsuryo Suru Toki” nasceu a partir de uma imagem que eu vi da janela numa manhã chuvosa de maio. A essa imagem inicial eu fui acrescentando outras, uma por uma. Mas tão logo essa imagem inicial me vem a mente, eu chamo os atores e começo a filmar. Se eu esperasse um mês ou mais, o impulso de filmar já teria se perdido.
Slocombe: Você concebeu do mesmo modo “Gendai Kôshoku-Den: Teroru no Kisetsu/Season of Terror” (1969, nota do Canibuk: Com roteiro de Kazuo “Gaira” Komizu), onde o herói, que vive com duas mulheres, explode o Aeroporto de Haneba no final?
Wakamatsu: Sim, eu realmente conhecia um cara que vivia com duas mulheres. Elas tiveram filhos quase ao mesmo tempo e se amavam, era lésbicas! Todos eles viviam muito bem juntos. Eu achei toda a situação muito divertida e quis fazer um filme sobre essas três pessoas. Foi só no fim que acrescentei o detalhe do homem ser um terrorista.
Slocombe: Sexo e terrorismo são temas que não se misturam. Foi por esse motivo que um dos meus livros foi censurado na França.
Wakamatsu: Meu filme “Seizoku/Sex Jack” foi banido da França também. Ele foi exibido primeiramente em Cannes e então proibido – embora muitos cinéfilos gostarem dele. O problema foi que no fim do filme o terrorista bonzinho tenta matar o primeiro ministro. Eles acharam muito anti-social, como também falaram que havia muito sangue em “Okasareta Hakui”.
Slocombe: Algo me intriga: Na França ou Inglaterra, um filme ou comic mostrando SM ou violência contra mulheres enfrenta censura, enquanto que cenas de sexo são bem toleradas. No Japão a situação é inversa, não?
Wakamatsu: Sim, mostrar SM ou violência num filme é perfeitamente normal, mas para sexo alguns limites foram fixados. O que significa que você não pode mostrar tudo, entende? Em alguns festivais da Europa as pessoas frequentemente riem dos filmes japoneses porque a câmera faz movimentos esquisitos para não mostrar certas coisas. Eu fico meio embaraçado quando um europeu me pergunta: – “Qual o significado daquele movimento apressado da câmera?”. Por que alguém teria que esconder órgãos genitais? Eu acho que no Japão sexo sempre foi privilégio dos poderosos, políticos, milionários, etc. No passado se dizia “os pobres que se contentem em comer arroz”. É como hoje dizerem “se contentem sem imagens de sexo”. No período Edo, pelo que li, a abertura era maior, mas após as eras Meiji e Taisho, as autoridades ficaram mais restritas.
Editor do Eichi Publishing: Enquanto SM e violência continuaram tolerados como sempre.
Wakamatsu: Sim, talvez as autoridades achem essas coisas perfeitamente normais.
Editor do Eichi Publishing: Achei a idéia interessante, o poder monopolizando o sexo.
Wakamatsu: É por isso que nos meus filmes eu caçoo do poder associando-o ao sexo.
Slocombe: Você percebeu alguma mudança recente ao assistir filmes dos jovens cineastas? E você pretende tentar outros gêneros?
Wakamatsu: Eu frequentemente noto que os jovens diretores mostram nudez com um propósito puramente comercial. Acho isso muito superficial. É por isso que raramente assisto seus filmes. Eu e alguns outros diretores, se fizemos pinku eiga, foi para expressar alguns sentimentos mais sérios. E quanto a outros gêneros, eu já experimentei a todos.
Editor do Eichi Publishing: Se entendi direito, mesmo nos seus pinku eigas, o assunto principal não era sexo?
Wakamatsu: Certo. Primeiramente eu não era aceito pelas grandes produtoras. Para fazer um filme tive que recorrer ao campo dos pinku eigas. E meus filmes tinham que ser vistos pela maior audiência possível, o que me levou a colocar nomes escandalosos como “Yuke, Yuke, Nidome no Shojo”. Lendo a palavra “virgem” (nota do Canibuk: Shojo significa virgem) as pessoas imaginavam coisas pornográficas e corriam para os cinemas. E o importante é que elas ficaram contentes com o que viam, mesmo que isso não tenha sido exatamente o que esperavam inicialmente, não acha?
Assistente de Wakamatsu: Então, agora que você pode dirigir os filmes que quiser, eles não precisam ser pinku eigas?
Wakamatsu: As coisas mudaram totalmente, atualmente estou até filmando para a TV!
Em 2006 eu estava com a idéia fixa de refilmar o clássico “The Incredible Melting Man” (1978) de William Sachs. Comecei a escrever um roteiro chamado “Meleca” que abandonei e, chamando Coffin Souza prá me ajudar, re-organizei as idéias em um roteiro re-intitulado “Meleca Carne Líquida”. Quando começamos a filmar me toquei que estava ficando clichê demais e resolvi re-escrever o roteiro a mão mesmo (veja no final do post, scanner do roteiro escrito a mão), já com novo título de “A Curtição do Avacalho” e depois escrevi um roteiro mais detalhado (que posto scanner dele também porque perdi o word dele). Publicando aqui as quatro versões do roteiro que de refilmagem de filme gore se transmutou numa pequena peça de experimentação marginal autoral de política anarquista.
“A Curtição do Avacalho” produzi sem nenhum puto no bolso. Reuni amigos, algumas pessoas que me pediam para participar dos filmes e iniciamos as filmagens de final de semana (foram uns 5 finais de semana de gravações, o que deu uns 10 dias). Não paguei ninguém. Este longa-metragem foi finalizado em 5 técnicos/atores (eu, Elio Copini, Claudio Baiestorf, Ivan Pohl e Everson Schütz) se revezando nas funções (a cena final filmamos com a câmera no tripé e absolutamente ninguém por trás dela). Foi neste filme que fiz um de meus erros técnicos mais célebres. Meio desanimados (no último final de semana das filmagens), eu e os técnicos que restaram, começamos a encher a cara durante as filmagens (a parte final do filme foi toda filmada conosco bêbados) e acabei filmando duas vezes uma mesma seqüência sem perceber, mesmo com Everson Schütz dizendo “A gente filmou isso ontem!” e eu rebatendo irritado: “Não filmou não, fica atento!”. Editando o filme, eu e Gurcius já cansados e dormindo na mesa de edição, montamos errado a seqüência onde Kika derrete, assumimos este erro e o deixamos no filme. É gostoso demais errar!
Depois de pronto “A Curtição do Avacalho” foi exibido em algumas poucas mostras de cinema experimental e nunca encontrou seu público (por, talvez, não existir público pro cinema anarquista).
música: “Brazuzan – Taller Than A Hill” (TUATHA De DANANN) (?)
Santiago Segura Pinto, homem, solteiro, adulto, 23 anos + -, viciado em Coca-Cola.
Em casa abre uma latinha de coca-cola e bebe em sua sala.
Opções: * garrafa clássica sendo bebida ao pôr do sol na sacada.
* garrafa de plástico 600ml sendo bebida na cozinha.
* garrafa plástica 2 litros sendo bebida na privada durante evacuações.
* garrafa fresca-festiva sendo bebida na sala assistindo TV alienante.
Seq. 02 – Oficina Copini/dia
música: repete.
Repetição das opções de garrafas em locais do serviço. Seu companheiro de serviço sempre bebendo uns goles também. Bebe sempre, inclusive durante o serviço.
Opções: * copos plásticos da Coca-Cola.
* Bonés,camisas,calendários, etc… com a marca Coca-Cola.
Seq. 03 – Locais de lazer/dia
música: repete.
Repetições de opções de garrafas agora em locais de lazer da personagem.
OpÇões: * praça CNEC.
* Bar montado no prédio Apollo.
* praça central de Palmitos.
* piscinas da ilha redonda.
Seq. 04 – Casa Baiestorf/dia
música:
Close numa latinha de Coca-Cola sendo aberta. Santiago dá um gole sentado no sofá na frente da TV que exibia o filme “The Incredible Melting Man”.
Sente uma pústula de pus na cara (maquiadores definam o local), vermelha, irritada. Santiago começa coça-la. Quando sua empregada-faxineira lhe traz nova lata de Coca-cola.
EMPREGADA: É melhor o senhor não coçar isso aí, vai que vira em ferida!
SANTIAGO S.P. :Vou passar alguma coisa!
Levanta-se e sai fora, carregando a latinha de Coca-Cola.
Seq. 05 – Casa Baiestorf/dia
música:
Santiago entra no banheiro, bebe um gole de coca-cola e mexe com os dedos na pústula.
Aperta pensando ser uma espinha e faz a meleca interior respinga para longe.
Fica surpresso com o buraco pútrido que fica em sua testa.
Percebe novas pústulas em seu corpo.
De sua testa continua vazando gosmas malcheirosas.
Pega curativos e sai do banheiro.
Seq. 06 – Casa Baiestorf/dia
música:
Na cozinha a empregada lavava louça.
Santiago chega com curativos na mão.
SANTIAGO S.P.: Acho que é um berne!
EMPREGADA:Que coisa nojenta seu Santiago!… Vou fazer o curativo, mas não sou paga prá essas nojeiras!
Faz o curativo enquando seu braço fica próximo ao nariz de Santiago, que o cheira e num impulso primata lambe-o.
A empregada olha prá ele.
EMPREGADA: Seu Santiago… Hoje não tô a fim de sacanagens!!!
Santiago lambe e pega-a pela mão e morde furiosamente.
Sangue respingando no chão. Grito da empregada. Tombo da empregada. Facada no peito da empregada que tem suas miudezas retiradas de seu peito diretamente à boca de Santiago.
Gore básico.
Seq. 07 – créditos iniciais.
música:
CANIBAL FILMES
apresenta
um filme de Petter Baiestorf.
Seq. 08 – animação por computador.
música: repete.
Cara bebendo uma Coca-Cola, após bebe-la derrete formando o título do filme:
MELECA
Seq. 09 – créditos iniciais.
música: repete.
Elenco:
Equipe-Técnica principal.
Seq. 10 – Ruas do interior de Palmitos que vai para Linha do Sr. Andrade/dia.
música: “número 19” (The Fugs) (?)
Rapaz está fugindo, já ferido com pústulas de pus iguais as de Santiago S.P., de João Travado (sujeito adulto, de óculos escuro, terno, barba por fazer) que leva em suas mãos um revólver.
Pelas plantações o rapaz em fuga ia tropeçando.
João Travado para ao lado da estrada, fica olhando-o correr.
Rapaz fugitivo entra na mata e após alguns minutos correndo para perto de arbustos, d’onde surge um ser quase mutante chamado FREAKY (mão esquerda possuí um facão, barba estilo caipiras americanos, roupa portando um colete de latas de coca-cola) que o sufoca com as mãos.
Rapaz cai ao chão morto.
João travado chega e descarrega seu revólver no morto. Depois pega um pedaço de pau e bate mais sobre o morto enquanto Freaky pica-o com sua mão facão. Depois uma motoserra e picam o defunto (vísceras animais espalhadas por todos os lados), depois pegam um moedor de carne e moem toda a carne do infeliz fazendo um amontoado pegajoso, depois jogam gasolina sobre o defunto capturado e tacam fogo.
Enquanto o infeliz queima os dois gargalham de prazer.
Pegam as cinzas numa latinha de cerveja que Freaky bebeu durante o fogo.
Seq. 11 – casa Baiestorf/dia
música:
Santiago Segura Pinto terminando de comer as vísceras da empregada. Closes em seus dentes mordendo as vísceras.
Ao que percebe o que estava fazendo.
Nota que suas mãos estavam gelatinosas.
Levanta-se e vai ao banheiro.
Seq. 12 – casa baiestorf/banheiro/dia
música:
Em frente ao espelho da pia percebe sua carne gelatinosa.
Enfaixa suas mãos e rosto e, após colocar uma jaqueta, sai do banheiro.
Câmera acompanhando-o sair do banheiro, passando pela sala, saindo pela porta, tomando um elevador,
Porta se fecha e a câmera fica registrando os números dos andares até chegar ao térreo.
Seq. 13 – Auto peças Bola/escritório/dia
música:
Os agentes entram em seu escritório.
Depositam as cinzas num cofre onde haviam outros recipientes com cinzas.
Sobre a mesa estava uma fita VHS. Colocam a fita num vídeo. Close da VHS dentro do vídeo funcionando.
Palestra do Dr. Marins começa na tela da TV.
< Dr. Marins falando >
< montar isto depois >
Na fita, uma voz anuncia que dentro de dez segundos a fita se destruirá. Os agentes ficam afobados, retiram-na com presa de dentro do vídeo cassete e com um martelo Freaky quebra-a histericamente.
Desligam a TV e sentam em seus sofás e cadeiras.
FREAKY:É bom que continue dando efeitos colaterais, assim teremos nosso emprego assegurado por um bom tempo TRAVADO:Isso mesmo… E com licença para matarmos!!!
FREAKY: Manter a ordem e os bons costumes, este é meu lema!
Seq. 14 – Rua/externa do Posto de Saúde/dia
música:
Câmera rente ao chão segue uma trilha de gosma pingada (podemos incluir uma orelha ?) até levantar e revelar que Santiago Segura Pinto estava caminhando pela rua entre meio aos pedestres.
Se dirige ao Posto de Saúde.
Seq. 15 – Consultório de Gabriel/dia
música:
Sala de espera abarrotada de pacientes.
Santiago entra e precisa esperar por algum tempo.
Além das vítimas habituais colocar um personagem com fratura exposta (braço quebrado com osso aparecendo) que conta para Santiago que foi atacado por um monstro verde do espaço.
PERSONAGEM 01: Sei lá o que aconteceu… Só sei que fui atacado por trás por um monstro verde, era um monstro legume…Ou vegetal…Ou algo assim do tipo hortaliças e o puto me arrebentou o braço…
Nisso a enfermeira chama Santiago. Que levanta-se e entra no consultório.
Seq. 16 – Auto-peças do Bola/dia
música: Han Bennink And ICP Orchestra (número 8)
Agentes descansando.
Freaky faz um casaquinho de lã usando um óculos para melhor enxergar, com as mangas de sua camisa arregaçadas revelando uma estranhas feridas.
Travado fumava um baseado, tira sua camisa revelando várias feridas em suas costas.
FREAKY:Tem algo estranho com estes caras derretidos… Acho que eles são radioativos!!!
TRAVADO: É… Também tô achando isso… (depois de um tempinho)… O que é radioativo???
Seq. 17 – Consultório Gabriel/dia
música:
Médico examina Santiago. Não fala muito, apenas resmunga consigo próprio.
MÉDICO: Acomode-o num quarto!!!
Após a enfermeira sair com Santiago Segura Pinto, o médico pega o telefone e liga para os agentes.
MÉDICO:Alô… Freaky???… Encontrei mais um viciado… Gostaria de tê-los por perto enquanto realizo alguns testes neste rapaz… Ele me pareceu mais consciente do que os outros… Certo!!! Certo… Tchau!!!
E desliga o telefone. Fica sentado em sua mesa pensativo.
Até que faz uma carreira de cocaína e dá uma fungadinha, sabe como é, pro dia ser mais hilário…
Seq. 18 – Auto-peças Bola/dia
Música: Julius Fucik (número 18 – grandes clássicos) “Marcha De Florencia”
Os agentes se vestem por vários ângulos, ajeitam suas armas, pareciam cansados com sua atividade, mas o dever os chamava pela milésima vez naquele mês.
Seq. 19 – quarto do hospital/dia
música:
Numa cama Santiago estava deitado, totalmente enfaixado (como no Incrível Homem Que Derreteu), com soro no braço.
Seq. 20 – Consultório Gabriel/dia
Música:
Médico conversando com os agentes.
MÉDICO:Este viciado me parece diferente dos outros, vou testar uma nova vacina nele para tentar reverter a situação… Qualquer progresso eu chamarei vocês, ok?
FREAKY: Certo Doutor… Só me responda uma pergunta: Estes caras derretidos são radioativos, certo?
MÉDICO: Sim Freaky… Você e Travado estão tendo contato direto com radiação celular que se expande juntamente das gosmas carnículas desprendidas do corpo dos viciados…
Close nos rostos dos três personagens. Alguns segundos de silêncio.
FREAKY:Nós… Nós vamos morrer?
MÉDICO:Não fale bobagem Freaky, você está ficando sentimental… O que foi?… arranjou uma namorada nova?
FREAKY: Não, só que sou muito novo para morrer!!!
MÉDICO:Não se preocupe tanto, este tipo de radiação que se expande juntamente das gosmas carnículas tem cura, não é um câncer qualquer… (e o médico pega um pacote de hóstias dentro da gaveta) … Basta comerem três vezes ao dia estas hóstias sagradas pelo santo padre de roma para que os sintomas desapareçam ao final desta missão…
FREAKY:Obrigado Doutor!!!
MÉDICO:Não precisa me agradecer, agora vão que os chamarei quando for necessário!!!
Seq. 21 – Rua/externa do posto de saúde/noite
música:
Ângulo externo do posto de saúde a noite.
Seq. 22 – Quarto de hospital/noite
música:
Santiago se levanta e se olha num espelho. Fica revoltado ao retirar as bandagens e perceber que estava começando a derreter.
A enfermeira entra e ao vê-lo deixar cair sua bandeja com apetrechos hospitalares e sai correndo.
Santiago vai atrás dela.
Seq. 23 – Corredor de algo parecido com hospital/noite.
Música:
Enfermeira correndo em câmera lenta.
Visão do Santiago com suas mãos derretidas em primeiro plano.
Enfermeira arrebenta uma porta (?) e corre no estacionamento, onde é mutilada por Santiago, que a mutila com as mãos, remexendo seu estômago, arrebentando um de seus braços e abrindo-a para devorar seus deliciosos órgãos vitais internos.
Closes de tela cheia nas vísceras.
Closes de tela cheia em Santiago devorando os órgãos sangrentos.
Closes em melecas que caem ao chão.
Vísceras pisadas pelo Santiago.
Após se banquetear com a carne da enfermeira, Santiago pega o braço decepado e num único golpe enfia-o no rabo dela.
Caminhar com câmera num travelling humorístico se afastando do cadáver da enfermeira com o braço hilário saindo do rabo da enfermeira, como se fosse uma fina flor nascendo num estacionamento perdido num deserto de vazios existênciais.
(tranformar em uma mutilação completamente absurda e exagerada).
SEGUNDO ROTEIRO:
MELECA
roteiro de Petter Baiestorf
baseado em argumento de
Petter Baiestorf & Coffin Souza.
CANIBAL FILMES
apresenta
01- noite
Sangue respinga contra algo meio branco.
Close numa cabeça detonada com sangue jorrando e algumas tripas vazando do estômago.
As tripas borbulhavam num vermelho escuro macabro de tão aproximado que está na tela.
Plano aberto revelando dois agentes. Seguram armas estranhas e possuem figurino fodão.
COFFIN: Será que ele está morto?
SÃO FODAS: Certifique-se disso!!!
Coffin mutila o corpo já morto fazendo tripas e mais sangue respingar para todos os lados, num banho de sangue repleto de ângulos tortuosos de câmera não parada, sempre na mão, ângulo com filmadora rente ao chão com tripas caindo contra ela até obstruir por completo a visão.
Fazer com a filmadora permaneça ali parada com uma montanha de tripas em tela cheia, para ouvir o diálogo:
COFFIN: Será que ele está morto?
SÃO FODAS: Acho que sim !!!
COFFIN: Então vamos… Hoje tem o último capítulo da novela das oito e não quero perder…
Passos são escutados, por detrás das tripas o espectador percebe que os agentes estão se afastando.
02 – dia. (rio Uruguai-rancho baiestorf).
Close em na boca de Schütz que está bebendo uma garrafa de 2 litros de coca-cola, câmera se afasta revelando sua sede por alimentos industrializados.
Schütz estava fazendo um piquenique com sua noiva que ainda não aparece.
De sua testa estava vertendo algo parecido com uma meleca pustulenta. Vai até o espelho de seu carro e aperta a ferida fazendo respingar uma gosma contra o espelho de modo exagerado. Verte gosmeira prá tudo que é lado, inclusive sobre uma fatia de pão que estava sobre uma toalha xadrez de pik nik no banco do carroneiro.
Schütz se levanta e sai em direção ao rio.
SCHÜTZ: Bela, Bela… Tira essa espinha nojenta da minha testa!!!
Bela sai de bikini das águas poluídas do Rio Uruguai. Caminha até Schütz e olha com nojo prá ferida melequenta. Espreme a ferida e respinga contra seu corpo, em jorros generosos e melequentos.
BELA: Aí, que nojo!!!… Você é um porco!!!
E dá-lhe um tapa na cara.
BELA: E acabou tudo entre a gente, não vou ficar saindo com um leproso sem educação…
SCHÜTZ: Mas o que é que eu fiz?
Fica parado com meleca vertendo de sua testa.
Bela senta-se no carro onde coloca uma camiseta branca (fica de bikini por baixo) e pega a fatia de pão levando-a boca e mastigando-a de maneira gulosa.
BELA: E vou embora de a pé… Adeus!!!
E sai caminhando determinada a ir embora.
Close em Schütz com sua cara surpresa, com meleca escorrendo por entre seu rosto.
Pega um pacote de Doritos da Elma Chips e come tristemente, bebericando mais coca-cola, diz;
SCHÜTZ: Sorte que tenho vocês que não me abandonam!!!
E abraça seus amiguinhos alimentícios industrializados numa demonstração de amor.
Respinga gosma contra a lente da filmadora ao se aproximar do rosto de Schütz.
03- dia
Agentes estão numa sala mal iluminada onde vemos seu chefe na penumbra, sem revelar nada de seu físico.
MASTER: Coffin, você e São Fodas deverão ir atrás de Schütz, outro elemento que começou a derreter… (entregando um envelope)… Aqui tem uma foto dele e de sua adorável noivinha…
COFFIN: Sim Master, Deixe essa divertida missão conosco, traremos os restos mortais deste viciado em alimentos industrializados para vosso delicioso projeto gastronômico intergaláctico magistral…
E os três gargalham de maneira clichê, tipo “dominarei o mundo”, após isso os dois agentes saem dali.
04- dia
Na floresta dos cogumelos saltitantes, Bela estava perdida.
BELA: Mas que merda, onde está aquela trilha… Schütz… Schütz… (chama por seu amado gritando).
Uma mão decomposta entra no plano da filmadora sendo colocada na árvore que está em primeiro plano no canto esquerdo da tela, com Bela ao fundo em segundo plano.
Bela se vira de frente para a filmadora e detrás da árvore surge Schütz derretido em boa parte de seu corpo visível.
Pega em Bela que se vira gritando e ao perceber que era ele, dá-lhe um tapa no rosto e grita:
BELA: Não me assuste mais, seu idiota!!!
Schütz desnorteado fica olhando-a e aí tenta mordê-la, leva um novo tapa no rosto.
BELA: O que é que tu tá fazendo, palhaço!!!
SCHÜTZ: Não sei… O cheiro da tua carne é delicioso, tenho vontade de comê-la… (e aí morde a BELA, arrancando um naco de carne)…
Ela empurra-o e ele rasga sua camiseta banca. Ela sai correndo e ele atrás.
05 – Dia – frente a sub-estação.
Garotona caminha em frente a sub-estação de Palmitos. Música estúpida com ângulos engraçados.
Revelar Coffin & São Fodas olhando para uma foto de Schütz.
COFFIN: Acho que é nosso infectadado… (diz isso com um sorriso debochado no rosto).
SÃO FODAS: É, sem sombra de dúvida é ele!!!
E os dois vão até lá e matam a mulher com requintes de crueldade. Preparar baldes e baldes de sangue e vísceras.
Após detonarem a vítima, Coffin mexe nos bolsos da vítima (antes retiram relógio de pulso, corrente, dinheiro, etc…) e pegando a carteira olha os documentos.
COFFIN: Nossa, não é ela…
SÃO FODAS: Que droga né, isso quer dizer que temos que nos livrar do corpo…
Ambos se entre-olham e cada um pega um naco de carne da gorda e começam a come-la alucinados. Câmera nervosa, closes nos dentes, gosmas ensangüentadas, etc…
06- Dia
Schütz perseguindo sua noiva, que cai num barranco e é morta por estacas pontiagudas, várias delas que respingam sangue por todos os lados.
Schütz morde-lhe o pescoço arrancando um pedaço de carne, mas ao mastigar percebe o que está fazendo e começa a chorar se lamentando de ter matado-a.
Retira-a dali e sai carregando o corpo de sua noiva.
07- Dia
Coffin & São Fodas terminavam de devorar o cadáver da mulher, quando um colono carregando uma enchada chega até eles.
COLONO: O que vocês estão fazendo aqui?
São Fodas atira no colono abrindo-lhe um buraco no peito. O Colono cai morto.
Ambos vão até no corpo e mexem nos bolsos, tirando as coisas de valor.
COFFIN: E esse cara também não é o Schütz!!!
SÃO FODAS: É, não é não!!!
COFFIN: (após olhar as horas no relógio do colono) … São seis da tarde, acabou o expediente porque logo vai escurecer e não gosto de fazer horas extras, amanhã a gente continua as buscas ao viciadinho em comida industrial…
08- Noite – frente a casa no rancho baiestorf.
Close nos olhos melequentos de Schütz.
De cima de um andaime revelar um cenário surreal com uma cama de solteiro, em volta dela pequenas árvores secas e fumaça.
Sobre a cama estava o corpo de Bela, morto, sem vida, mas com feridas brilhantes cortesia dos pedaços de galhos pontiagudos malvados matadores de menininhas que fogem pela mata.
Schütz entra no ângulo (filmado de cima do andaime) e caminha até perto da cama.
Deita-se ao lado de sua noiva morta.
Fumaça. Ângulos entre os galhos secos, close em Schütz, em seus olhos que ainda permaneciam um pouco humanos.
THE FLASHBACK:
09- (praça).
Schütz vestido de mendigo remexendo lixo numa praça pública, quando chega Bela. Olhares clichês do tipo “eu te amo para sempre neste filme” e ambos saem abraçados tipo “encontrei meu amor eterno”.
(casa baiestorf – cozinha)
Em casa, Schütz ainda vestido de mendigo, com uma banana saindo das calças, Bela agarra-a e sorri para ele que sorri de prazer.
(casa baiestorf – sacada da sala)
Schütz de banho tomado, cabelo penteado, comendo uma torta que Bela lhe dava com colherzinha.
(casa baiestorf – cama rick)
Bela deitada com Schütz tirando o chinelo dela e beijando as pernas, do pé em direção a coxa.
Pedir para Kika trazer várias roupas sexys para estes takes.
10 – Noite – frente a casa do rancho baiestorf
Fim do flashback.
Rosto de Schütz coladinho ao de Bela, ao afastar sua face da dela, uma gosmeira fica no lindo rostinho.
Câmera do alto do andaime revelando o cenário estranho.
Schütz beija sua noiva morta na boca.
Câmera na mão andando em volta da cama enquanto Schütz beija-a.
11- Dia – SALA CASA Baiestorf (tela dividida com seq. 12 – edição)
Close numa tela de TV que exibia cenas XXX.
Rapaz batia uma punheta em frente o televisor.
Vários ângulos para ter material para edição.
Ainda batendo punheta, Rapaz caminha até a sacada de sua casa onde tem um orgasmo com a cidade de fundo.
* Durante esta seqüência, deixar apenas gemidos de vagabas XXX).
12- rua einloff 38 (editar com tela dividida)
Diabo, Ivan, Com sua vestimenta bizarra e uma estrela de xerife (ou distintivo) no peito, olhando para cima, quando uma estranha gosma cai em seu rosto.
Segue caminhando (de baixo para cima) até virar a esquina…
13- subestação
Diabo, Ivan, caminhando perto da estação onde outros 2 detetives engravatados olhavam os corpos mutilados da mulher e do colono.
Diabo ergue o pano que cobria o rosto do colono.
Depois o pano que cobria a mulher e ao vê-la ele se levanta estranho.
DIABO: É minha irmazinha…
Close na mulher. Câmera se aproxima de Diabo, o detetive pohlinizado.
DIABO: … Vou matar todos os suspeitos que cruzarem meu caminho, o caos tomará conta do mundo, nada mais será como antes… (e gargalha sadicamente, tipo cientista louco) e sai dali caminhando em frente, para dentro do mato.
Os dois detetives se entreolham.
DETETIVE 01: O Diabo tá chapado… Ele nem tem irmã !!!
DETETIVE 02: Será que ele tem um baseado… (ao falar isso os dois saem atrás dele)…
E a Câmera desce até dentro das vísceras de uma das vítimas.
*** Dentro das vísceras colocar um papel onde se lê em letras garrafais:
CANIBAL FILMES
– apresenta –
14- créditos iniciais
M E L E C A
15- Dia – pátio do rancho baiestorf
*** Coffin e São Fodas estão parados (PM deles). Coffin bate palmas, igual quando se mata um mosquito com as mãos.
Close nas palmas das mãos de Coffin se abrindo, onde se lia num papel:
um filme de
PETTER BAIESTORF
Revelar que estão em frente a noiva de Schütz morta, mutilada e tal.
Coffin atende um celular…
Enquanto Coffin fica dizendo coisas do tipo “Sim, sim… Claro Master… Sim, entendido…Sim, tudo sob controle, etc…” … São Fodas Prepara uma dose de heroína e se injeta no pescoço (ou dentro da boca, embaixo da língua, decidir com técnicos de fx).
Coffin desliga.
COFFIN: Schütz foi para o norte, o Master está rasteando-o com a ajuda dos militares de Brasília… Só temos um problema: Diablo, aquele policial louco da Federal se meteu no caso… Temos que tentar fazer aquela mula nos ajudar sem que perceba nada !!!
Câmera se aproxima dos dois, roda ao redor dos dois e baixa até os restos mortais de Bela dando seu adeus ao tão belo cadáver putrefacto.
16- Dia
Schütz encontra uma garota vendendo uma árvore de natal, mata-a (elaborar a forma com técnicos FX).
Árvore cai ao chão enquanto sangue e vísceras a decoram de forma fantasticamente gore-splatter.
Diabo chega ao local deste assassinato dando o flagrante.
Schütz e Diabo lutam e Schütz detona Diabo enfiando-lhe a árvore de Natal no rabo.
Schütz se manda sem devorar ninguém.
Diabo se levanta capengando com a árvore enfiada no rabo, sangue denso vertia das nádegas com alguns pedaços de tripas que ficavam penduradas pelas pernas.
17- Dia
Coffin e São Fodas encontram diabo ferido com a árvore enfiada na bunda. Arrancam-na de sua bunda fazendo com que respingue um absurdo muito grande de sangue.
DIABO: Mataram minha irmã… Preciso de vocês para pegar este tarado!!!
COFFIN: Claro, também estamos atrás desta aberração… Vamos unir forças e extermina-lo!!!
Diabo vai seguindo em frente, Coffin cochicha baixinho para seu colega:
COFFIN: Vamos nos aproveitar deste maluco!!!
18- Dia/ mato
Schütz ataca os dois detetives que bebiam coca-cola no meio do mato. Elaborar uma sangueira de primeira grandeza (ver com fx man).
Após mata-los, devora alguns pedaços de carne humana com generosos goles de coca-cola.
19- dia/ Mato
Schütz se empanturrava com a carne dos detetives quando Coffin, São Fodas e Diabo aparecem por trás.
Montar um clima de faroeste italiano em tom de farsa. Enriquecer com vários closes e uma montagem dinâmica e música hipnótica para duelos fakes. Schütz pega uma arma dos detetives, lógico!!!
CLIMA, CLIMA, CLIMA…
Silêncio, nervosismo…
Sem diálogos…
São Fodas Saca um baseado e acende neste clima todo. E traga prazeirosamente.
O duelo é feito ao modo antigo.
E o resultado ? … O RESULTADO: Coffin é morto com um balaço na cabeça ! Diabo cai ao chão baleado quase que mortalmente no Saco Escrotal ! E São Fodas nada percebe, pois a maconha era da boa !!!
Schütz se aproxima do grupo pós o duelo e São Fodas lhe alcança o baseado que ele pega e traga majestosamente com um prazer gotejante. Diabo fuçava em sua ferida no saco para retirar a bala.
Schütz vai embora com o baseado,
São Fodas acende outro baseado,
Diabo arranca a bala do saco se contorcendo de dor.
20 – dia/ Pátio de festas do Rancho.
Close em um balde de tinta com as mãos de um artista de vanguarda se sujando todo de tinta, totalmente colorido. Ao fazer o plano aberto, revelar um artista se sujando de tinta defronte à um pano branco estendido no chão com vários outros sentando a sua volta tocando violão e bongôs.
Ele se atira sobre o pano branco criando arte. ARTE NÃO COMERCIAL!!!
E todos festejam de modo histérico uma volta a condição de primatas não pensantes.
O quadro fica pronto e é levado pelos festeiros até perto de umas árvores.
Câmera correndo junto deles, entre meio, loucura, sons, barulhos…
Junto a mesa, o artista discursa:
VANGUARDEIRO: A arte escapa do meu inconsciente como um peido alado que escapa de meu cu!!!
VANGUARDEIRO: A arte está acabada… Morte à arte antes que seja tarde demais!!!
E gritando como índios estendem o pano e o encharcam de gasolina e tacam fogo. Tudo se queima. Quem guardou a obra na cabeça preencheu um pouco do seu vazio existencial, já quem não memorizou não perdeu nada.
VANGUARDEIROS: Mate a arte antes que o curador apareça com um cheque polpudo!!!
VANGUARDEIROS: Vamos comer a arte comercial!!!
VANGUARDEIROS: Canibalizar, Canibalizar, Canibalizar a arte!!!
E servem um banquete com DVD’s comerciais (filmes de Hollywood), fitas VHS de grandes filmes, livros de grandes autores de best-sellers, revistas estúpidas, CD’s, etc…
Mostrar os artistas comendo tudo, devorrando a arte que devorra nossos cérebros…
21- dia
Vanguardeiros estavam fazendo a sesta, alguns bebiam chimarrão, alguns dormiam em redes, alguns bebiam vinho do gargalo da garrafa, alguns escreviam poemas em pedaços de papel usado, etc…
Schütz aparece para eles no horizonte.
VANGUARDEIRO: Pelo amor do acaso, este homem é uma criatura derretida, olhem as formas dadaístas orgânicas dele…
Todos se levantam cercando Schütz admirados com sua forma derretida.
Schütz num gesto amistoso alcança o baseado para um artista que pega-o e fuma.
VANGUARDEIRO: Estamos diante da evolução humana, quando as mãos do artista conseguirão domar a podridão da carne para criar novas formas para o corpo humano…
VANGUARDEIRO: Conte-nos o segredo mestre do sonho amorfo…
VANGUARDEIRO: Mostre-nos o caminho sagrado ao cogumelo perfeito que revelará para nós os métodos de criação sem limites formais e morais…
E um vanguardeiro trás um corpo podre sobre uma mesa.
Câmera se aproxima do corpo podre, autopsiado, putrefacto e uma cruz cristã se levanta de seu interior… E depois mais outra e mais outra e mais outra criando um jardim cristão putrefacto que todos olham admirados e gritam:
VANGUARDEIROS: Mostre-nos o caminho mestre!!! (e ficam repetindo isso enquanto a câmera se afasta).
22- anoitecer
São Fodas e diabo sentados num local deserto com o sol se pondo às suas costas. Carregavam suas armas.
São Fodas espalha uma carreira de cocaína e cheira. Diabo também faz uso da substância.
Se levantam fazendo pose de atores de filmes de ação pronto para matar todos os seres do planeta…
23- noite/ Rancho/ Trovões e chuva.
Artistas bebiam com Schütz na chuva, estavam festejando a chegada do messias dadaísta…
VANGUARDEIROS: Com a chegada do Mestre, Messias do Caos, a criatura iluminada, sentimos que é o momento de criarmos a zona autônoma de Kanibaru onde todos serão iguais e criarão obras-primas que durarão segundos…
Close numa espingarda que dispara.
O vanguardeiro que falava tem sua cabeça arrebentada e cai morto.
Cria-se o caos com gente para todos os lados, tiroteio, mortos ensanguentados, perdendo tripas com simples tiros e chuva e raios e trovões e cãmera nervosa no meio de todos…
Todos vão sendo mortos, Diabo leva uns balaços e cai morto, sendo mutilado por um vaguardeiro de facão numa cena gore extrema…
Schütz ataca São Fodas que também é arrebentado, revelando seu sangue de cor VERDE ESCURO.
Todos os Vanguardeiros estão mortos, a verdadeira arte nem teve tempo de nascer.
Barros e lama, alguns se arrastando pelo chão, Schütz caminha embora,etc…
Bolar muita coisa de improvisso na hora. COMBINAR os fxs possíveis antes…
24- Dia/ rancho
Galinhas comendo entre meio aos cadáveres sujos de sangue e vísceras exageradas. São Fodas se levanta e sai cambaleante.
Escolher uma música tocante climatica.
E ele caminha em direção a cidade (revelar a cidade ao fundo, filmar num dos morros perto de palmitos)
25- dia/
São Fodas entra numa sacristia onde um padre lhe abençoa. Eram conhecidos um do outro. O padre lhe aplica uma dose de heroína na veia e bebe uisque da garrafa rotando como o verdadeiro porco que sua profissão lhe obrigava a ser.
São Fodas fica melhor com a dose de heroína.
SÃO FODAS: Preciso ir até o Master!!!
PADRE: Sim, eu sei… O Master está te esperando…
26- dia (filmar a noite pelo clima)/oficina Copini.
São Fodas e o padre entram numa sala onde o Master estava sentado na penumbra (revelava somente metade de seu corpo) junto de engravatados, fumava um charuto que cada pouco se acendia no escuro, uma grande ponta vermelha.
MASTER: Sentem-se…
São Fodas e o padre sentam-se.
MASTER: Logo localizaremos o Schütz, o exército já está cuidando disso… O mais importante é que fechei negócios com mais fábricas de comida industrializada para infectarmos os humanos e com isso teremos papinha de terráqueos para nossos bebês por muito tempo… Nosso negócio de papinhas para bebês alienígenas se tornará um monopólio imperial em todos os cantos do sistema solar… Sucesso absoluto do capitalismo neo-liberal…
Todos os engravatados aplaudem…
Um militar entra na sala.
MILITAR: Senhor Master, localizamos o Schütz no quadrante Souza…
MASTER: Ótimo, eu mesmo comandarei essa caçada, afinal, eu também quero me divertir…
Ao falar isso ele se levanta.
Música do THE CRAMPS – “Mojo Man From Mars” no áudio.
Câmera sobe até perto do peito, corte.
Câmera faz travelling da direita para esquerda até o peito, corte.
Câmera faz travelling da esquerda para direita até o peito, corte.
Câmera sobe da cintura até no rosto ainda na escuridão, aí Master dá um passo para a frente e revelar se um Monstro Legume de óculos escuro, que gargalha cafajestemente.
São Fodas se levanta também e retira sua máscara humana se revelando também um monstro legume do espaço sideral.
Ambos caminham contra a Câmera.
27- dia/escombros de pesagem em Maravilha.
Schütz estava derretendo nos escombros de uma construção sob sol forte perto da cidade de Maravilha.
Levanta-se derretendo e sai caminhando naquele labirinto de escombros, revelando um mosaico caótico.
Sai para fora da construção após caminhar pelos escombros internos revelando o solão insuportável.
Um carro para perto dele e os dois Monstros legumes saem do carro.
Novo duelo em homenagem ao cinema western spaghetti. Criar todo clima clichês, desta vez com Schütz derrendo, pingando líquidos, etc…
Tiros…
Schütz cai morto.
28- dia/ pesagem Maravilha
Monstro colocam a carne de Schütz (que ainda derretia) numa lata com uma pazinha. Após isso vão embora deixando para trás partes impuras e roupas de Schütz (idéias FX Man ???).
Câmera rente ao chão, em primeiro plano os restos derretidos de Schütz, ao fundo o carro se afstando…
Fade-out???
29- Oficina copini
Carregando latas de carne derretida.
Master fiscalizando tudo.
Elaborar algo que talvez lembre uma porta de Espaçonave. Isopor, cola e criatividade…
30- ???
Espaçonave levando tudo ao planeta ML.
Elaborar ela saindo do planeta terra, etc…
Talvez com uma sequencia do punheteiro vendo a nave partir de sua sacada no Apolo???
Elaborar algo deste gênero.
31- dia/ Sala Baiestorf apollo.
Numa sala os ML + padre + engravatados + militar estavam assistindo Mojica falar sobre o quanto Coca-cola faz mal prá saúde.
Um publicitário entra na sala com uma fita VHS na mão. Diz ser o novo comercial que incentiva os humanos a comer mais o consumo de comida industrializada.
Fita no Vídeo. Close interno nas engrenagens dele funcionando.
32-
Sobre imagem de inúmeros rótulos de produtos multinacionais (principalmente comida e bebida) colocar um texto (bolar ainda) incentivando a comer estes produtos, como se fosse importante para sua sobrevivência.
33- Créditos gerais finais…
Música:
34- Rodar aqui mais um pedaço do filme, utilizando mais uma aventura do Monstro Legume, elaborar algo bem divertido e trasheira anos 50, tipo filme de MONSTERS. Filmar após concluir as filmagens anteriores do “Meleca”, para depois revelar que o filme não acabou com os créditos finais.
Fazer várias ligações complicadas com personagens que achamos estarem mortos, como Diablo (que não morreu) e outras supressas que revelarei no sermão da colina.
Nascido em 24 de outubro de 1960 na cidade de Oberhausen, Christoph Maria Schlingensief começou sua carreira como cineasta underground no porão de sua casa ainda criança. Já em 1968 fez seu primeiro curta intitulado “Mein 1. Film” com amiguinhos de sua vizinhança e desde aquela época já se considerava um artista provocador. Com “Tunguska – Die Kisten Sind Da”, seu primeiro longa-metragem produzido em 1984 e filmado em 16mm, realizou uma peça surrealista debochada e experimental com a qual já foi bem recebido pela crítica.
Sendo influênciado por cineastas como Fassbinder (filmou vários longas usando Udo Kier no elenco), Russ Meyer (usou Kitten Natividad no elenco de seu clássico “United Trash”), Buñuel e Werner Schroeter, o experimentalista Schlingensief soube criar seu próprio estilo cinematográfico, infelizmente ainda não descoberto aqui no Brasil (mas que homenageei no longa-metragem “A Curtição do Avacalho” em 2006). Seus filmes são histéricos, políticos (de visão libertária) e cheios de soluções criativas que podem não agradar aos puristas.
Com sua “germany trilogy”, composta de três longas: “100 Jahre Adolf Hitler – Die Letzte Stunde in Führerbunker” (1989), sobre as últimas horas de Hitler ensandecido no seu bunker; “Das Deutsche Kettensägen Massaker” (1990), genial refilmagem do “The Texas Chainsaw Massacre” transposto para a realidade alemã, mostrando a reunificação da Alemanha na história de uma família da Alemanha Oriental que atravessa a fronteira com a Alemanha Ociedental e são abatidos com motoserras por uma família de psicopatas da parte Ocidental; e, “Terror 2000 – Intensivstation Deutschland” (1994), sobre a violência xenófoba pós o processo de reunificação. Essa trilogia tornou-o um dos artistas mais respeitados e versáteis de seu país.
Em 1996 Schlingensief lançou o longa “United Trash”, uma histérica co-produção da Alemanha com Zimbabwe, estrelada por Udo Kier e Kitten Natividad, que re-encena o nascimento de Jesus Cristo. Anarquista por excelência, “United Trash” se apropria do estilo Russ Meyer de edição e destroí o cristianismo, a política dos brancos na África, a ONU e sua “ajuda humanitária”, USA e sua política externa, ditadores africanos e não deixa escapar nada com sua crítica feroz contra a manipulação de humanos por outros humanos (a título se curiosidade, logo nos créditos iniciais, preste atenção numa rápida cena onde a equipe-técnica deste filme aparece realizando uma ceia perto de uma aldeia). Clássico!!!
Sempre dado à polêmicas, em 1998 Schlingensief criou seu próprio partido político que se chamava “vote em si mesmo”, onde qualquer pessoa poderia se tornar candidato.
Paralelo ao cinema, Schlingensief encenou várias peças de teatro e óperas, como uma versão de Hamlet com o subtítulo “This is Your Family, Nazi-Line” onde questionava a “neutralidade” da Suiça em face ao crescente racismo e movimentos de extrema direita na Europa, com ex-membros de grupos neo-nazistas desempenhando personagens que exploravam suas próprias fraquezas. Sua última produção, “Mea Culpa”, era uma ópera onde Schlingensief encenava suas próprias experiências com o câncer, doença que lhe tirou a vida no dia 21 de agosto de 2010, em Berlim.
Longas dirigidos por Christoph Schlingensief:
1984- Tunguska – Die Kisten Sind Da
1986- Menu Total
1986- Egomania – Insel Ohne Hoffnung
1988- Mutters Maske
1989- 100 Jahre Adolf Hitler – Die Letzte Stunde im Führerbunker