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Nascido em Seraing (Bélgica), em 1932, mas radicado em Las Vegas (EUA), Charles Louis Nizet dirigiu e produziu, a partir do fim da década de 1960, filmes de guerra e horror, sempre com orçamentos minúsculos. Pouco se sabe da sua vida antes de “Commando Squad” (1968), seu filme de estreia, um épico classe-Z ambientado na Segunda Guerra Mundial.
Ainda que não se possa acusá-lo de competente, seus filmes – todos inéditos nos cinemas brasileiros e com equipe e elenco praticamente desconhecidos – são muito divertidos.
Para os ‘não iniciados’, vale dizer que o cinema ‘exploitation’ de Nizet segue a mesma linha de diretores como Ray Dennis Steckler e Al Adamson, cujos trabalhos, sempre misturando muita nudez, violência e nenhum dinheiro, eram direcionados para o então próspero mercado dos ‘drive-ins’ norte-americanos. Em entrevista ao jornal ‘Pioneiro’ de Caxias do Sul, em 2002, afirmou ser discípulo do cineasta John Huston e que “filmes devem ser feitos de acordo com o QI do povo, devem ser fáceis. Como diz um ditado americano: não devemos dar bolo aos porcos”.
Seu melhor filme, “Help Me… I’m Possessed!” (1976) – recém-lançado em DVD nos EUA -, é uma grande salada de velhos clichês do cinema de horror: médico maluco, o assistente corcunda e sádico, um castelo fajuto no meio do deserto, uma masmorra onde se praticam torturas medievais e assassinatos misteriosos; “The Ravager” (1970) é sobre um sujeito que retorna da Guerra do Vietnam e vira um estuprador explosivo – sim, ele explode suas vítimas e outros incautos; o argumento de “Slaves of Love” (1969) parece uma versão classe-Z do seriado “Lost”: uma tribo de mulheres usa um campo magnético para atrair aviões para sua ilha, tornando seus tripulantes escravos sexuais – uma desculpa para intermináveis sequências de ‘naturismo’; “Voodoo Heartbeat” (1972), aparentemente perdido – apesar do trailer circular por festivais e pela internet –, apresenta outro médico louco que, ao se injetar com um “elixir da juventude” – disputado por militares chineses para dar vida eterna ao líder Mao Tsé-Tung – vira uma criatura sedenta de sangue. No elenco, um “Mike Zapata” que, segundo a publicidade da época, era descendente do verdadeiro Zapata.
A história de Nizet fica ainda mais interessante a partir da década de 1990, após dirigir seu sétimo e último longa-metragem, “Rescue Force” (1990) – que conta com o veterano Richard Harrison no elenco, além dos militares Don S. Davis e James ‘Bo’ Gritz, famoso nos anos 1980 por tentar resgatar prisioneiros de guerra norte-americanos no Vietnam. Apesar de a trama se passar no Oriente Médio, o filme foi inteiramente rodado no deserto de Nevada (EUA), no quintal de Nizet.
Numa edição de novembro de 1993 do Jornal do Brasil (RJ), uma matéria do ‘Caderno B’ descreve os planos avançados de um belga (ele mesmo) em ressuscitar a Companhia Cinematográfica Vera Cruz (sim, aquela). Nizet – acompanhado de um sócio brasileiro – investiria “um milhão de dólares na recuperação de dois dos três estúdios”. Ainda segundo o jornal, o então “prefeito de São Bernardo (SP), Walter José Demarchi, tem um acordo verbal com o governo estadual [Luiz Antonio Fleury Filho] para, com verba do Banespa, financiar a produção de filmes brasileiros”. A intenção de Nizet era óbvia: baratear custos. “Nos EUA, se filmamos uma planta, temos que pagar um ecologista para acompanhar as filmagens”, afirmava. A primeira produção da “nova Vera Cruz” seria estrelada pelo conterrâneo de Nizet, o astro das artes marciais Jean Claude Van Damme.
Nunca mais se ouviu falar do assunto.
Supostamente, essa era a segunda investida do belga em terras brasileiras. Segundo reportagem do jornal ‘Pioneiro’, de Caxias do Sul (RS), Nizet contava aos amigos que, na década de 1950, comprara uma mina de ouro em Minas Gerais, mas foi ameaçado de morte pelos próprios sócios e obrigado a retornar a Las Vegas. Décadas depois, casou-se com uma brasileira, que conhecera no aeroporto de Guarulhos. Viveram em Las Vegas por dois anos, de 1998 a 2000, quando decide retornar ao Brasil.
É então que o nome do belga ressurge nos jornais brasileiros em grande estilo.
Nizet e seu sócio, David Morgan, adquirem uma imensa área de 94 hectares às margens da rodovia RS-122, no pequeno município gaúcho de São Sebastião do Caí (RS), de apenas 22 mil habitantes.
Preço: R$600 mil reais, pagos à vista.
Objetivo: construção do gigantesco Las Vegas Park, um parque temático que contaria com a maior montanha-russa do mundo, com 3,5 quilômetros de extensão e 175 metros de altura, construída ao redor de um hotel de 40 andares, no formato de uma garrafa de Coca-Cola (Ver primeira foto).
O espaço ainda contaria com área para grandes shows e cinco hectares destinados à construção de estúdios cinematográficos.
Orçamento: R$ 535 milhões de reais.
Nizet apresentou o projeto para empresários locais e donos de outros parques brasileiros. A meta era fazer os interessados comprarem cotas do empreendimento, formando uma associação.
Fixou residência no município de Flores da Cunha (RS). Virou celebridade instantânea.
Help Me… I’m Possessed!
Alugou um ginásio de esportes local, onde, segundo o jornalista Róger Ruffato, do jornal ‘Pioneiro’, “descarregou os contêineres que traziam filmes e câmeras velhos, material de cenografia, livros antigos, copos, pratos, transformadores e até batedeira […] Tudo foi acondicionado no espaço trancado por cadeados e vigiado por câmeras que nunca funcionaram, apenas serviam para manter criminosos afastados. A mesma tática era empregada na casa onde Nizet vivia com a esposa e as enteadas”.
Apresentava-se na cidade como ex-agente da CIA. Levou um dos amigos que fez em Caxias do Sul (RS) para uma estada em Las Vegas, onde, segundo o hóspede, Nizet era dono de uma mansão, um Cadillac novo, camionetes, motos e um avião Cessna.
Voodoo Heartbeat
Seu colega de profissão, o falecido diretor Ray Dennis Steckler – outro morador do estado de Nevada – quando perguntado sobre o belga, o descreveu como “um sujeito misterioso, sempre muito bem vestido, com ternos e sapatos caros e acompanhado de belas mulheres”. “Não é bom que você me conheça”, teria dito Nizet a Steckler.
Na noite de 4 de fevereiro de 2003, Nizet recebeu um telefonema e saiu de casa. Ao voltar, percebeu que fora seguido por um carro até a porta de sua residência. Desceu de sua ‘Blazer’ armado, mas não teve como reagir ao primeiro disparo em sua direção. Seguiram-se mais dois tiros de pistola, o terceiro no rosto.
Nizet morreu na hora. Tinha 70 anos.
Dois suspeitos do crime foram presos. Meses antes do assassinato, um deles havia sido denunciado por Nizet por ameaça, supostamente após a assinatura da escritura da área do Las Vegas Park. A dupla foi inocentada em 2005, por falta de provas, e o inquérito foi arquivado.
O corpo de Nizet segue, até hoje, na capela da família de um amigo de Caxias do Sul (RS), Eliseu Marin, numa gaveta sem foto, nome ou qualquer indício de que seus restos encontram-se ali. Seu sócio voou dos EUA para acompanhar o enterro – as ex-esposas e filhos do cineasta não vieram – e levou os objetos estocados no ginásio. Não deu entrevistas.
Um investidor visionário? Um apaixonado por cinema? Um picareta? Nizet levou as respostas para o túmulo. Deixou um legado de filmes vagabundos e divertidos, além de um punhado de histórias mais estranhas que sua própria imaginação poderia criar.
“Twice-Told Tales” (“Nos Domínios do Terror”, 1963, 120 min.) de Sidney Salkow. Com: Vincent Price, Joyce Taylor, Sebastian Cabot e Beverly Garland.
Este filme deveria se chamar “Nos Domínios do Amor Perverso”. Com três histórias baseadas em contos do escritor Nathaniel Hawthorne, “Twice-Told Tales” é um filme em episódios que explora o sadismo do amor relacionando-o ao macabro e a ciência. Roteirizado e produzido por Robert E. Kent, somos introduzidos no universo amoroso-tétrico de Hawthorne. No primeiro segmento, intitulado “A Experiência do Dr. Heidigger”, somos apresentados a dois amigos idosos que estão bebendo e relembrando o passado enquanto uma pesada tempestade castiga a noite. Ao fim da tempestade eles percebem que a tumba onde está enterrada Sylvia há 30 anos está aberta e resolvem ir lá ver se a tempestade não causou danos. Assim os dois velhos amigos descobrem que a morta está perfeitamente conservada no caixão e o ex-noivo, agora um renomado médico, desconfia que a água que pinga sobre o cadáver seja o responsável pela conservação do corpo. Após rápidos testes, onde a dupla reanima uma rosa seca, ambos bebem o precioso líquido coletado na tumba e voltam a ser jovens. Animados com o líquido milagroso, injetam no corpo da defunta que volta a vida revelando detalhes sórdidos, macabros e sujos de um triângulo amoroso mortal.
No segundo segmento, “A Filha de Rappaccini”, um pai mantém sua filha prisioneira em seu jardim, até o dia em que um jovem vizinho da casa ao lado se apaixona pela moça e descobre que ela foi vítima de experimentos de seu pai, um renomado cientista que no passado foi traído pela esposa libidinosa, e que transformou sua bela filha numa criatura radioativa que não pode encostar em nada vivo sem matá-lo horrivelmente queimado. Perdidamente apaixonado pela mortal beldade o vizinho tenta de tudo para salvar sua amada da loucura paterna (seu pai fez o que fez para evitar que a filha seguisse os passos pecadores da mãe). Ludibriado pelo cientista o jovem apaixonado é transformado em uma criatura radioativa tal como sua amada (assim nenhum dos jovens poderia trair o parceiro com relacionamentos extra-casamento) e um final explosivo, nos moldes de “Romeu e Julieta” só que mais atômico, acontece na melhor história do longa.
O terceiro segmento, e mais fracos, é “A Casa dos Sete Telhados”, sobre um picareta que volta à casa assombrada de sua família em busca de um cofre maldito que teria o dinheiro necessário para ele pagar suas dívidas de jogo. Sua esposa, que nada sabe, parece ser a resposta para a assombração que persegue aquela maldita casa à gerações. Aos poucos o expectador fica sabendo detalhes da história de amor por traz da maldição da casa dos sete telhados e de como a família do viciado em jogos conseguiu ficar com a casa (através de denúncias de bruxaria, onde o patriarca da família teria “roubado” a propriedade, traçando paralelos com a vida pessoal do escritor Hawthorne). Não sou chegado em historinhas espíritas de fantasminhas, talvez por isso eu não tenha curtido tanto este episódio final.
Vincent Price faz o papel principal (e a narração) em todos os episódios e nos lega interpretações fantásticas, se revelando em grande forma. Filmado no início dos anos de 1960, “Twice-Told Tales” tem aquele climão gótico dos filmes que Roger Corman fez baseado em contos de Edgar Allan Poe para a AIP, e assim como todos estes filmes de Corman, “Twice-Told Tales” faz excelente uso dos cenários belíssimos que são explorados de maneira bem criativa (cada episódio se passa num único cenário), aliados aos efeitos especiais, atuações, roteiro e figurinos que funcionam de modo colaborativo para que o filme seja uma grande diversão macabra do mais alto nível. O título de trabalho do filme foi “The Corpse Makers”, depois alterado para “Twice-Told Tales”, título de um livro coletânea de contos de Hawthorne (que trazia em suas páginas apenas o conto “A Experiência do Dr. Heidigger”). Nos USA o filme foi lançado em um DVD double feature com o clássico “Tales of Terror” (1962) de Roger Corman, verdadeiro objeto de orgasmo aos fãs fanáticos de Vincent Price.
Nathaniel Hawthorne (1804-1864) foi um romancista/contista descendente de John Hathorne (sem o “w”), único juiz envolvido nos julgamentos das bruxas de Salem que nunca se arrependeu de suas ações. Bom material para o escritor Hawthorne, que acrescentou o “w” em seu nome a fim de ocultar essa relação. Seu livro mais famoso, “The Scarlet Letter/A Letra Escarlate” foi publicado em 1850 depois de alguns livros que não fizeram sucesso. “A Letra Escarlate” foi um dos primeiros livros produzidos em massa nos USA e, nos primeiros dez dias após o lançamento, vendeu mais de 2500 cópias. O sucesso deu estabilidade à carreira de escritor e Hawthorne pode se dedicar a literatura, lançando na seqüência os livros “The House of the Seven Gables/A Casa dos Sete Telhados” (1851), que serviu de inspiração para o terceiro segmento de “Twice-Told Tales”, e “The Blithedale Romance” (1852), além de livros coletâneas de contos. No início da Guerra Civil Americana conheceu Abraham Lincoln e usou essas experiências políticas para compor o ensaio “Principalmente Sobre Assuntos da Guerra”, publicado em 1862. “Twice-Told Tales”, que empresta seu nome para este filme, foi lançado em 1837. Hawthorne faleceu enquanto dormia em 1864.
O diretor Sidney Salkow (1909-1998) dirigiu mais de 70 filmes e era pau prá toda obra, bem ao estilo dos diretores clássicos de Hollywood. Durante a Segunda Guerra Mundial Salkow chegou ao posto de major na marinha americana e assim que deu baixa do exército voltou a trabalhar como diretor, alternando filmes B com séries de TV. Seu primeiro filme foi o suspense “Four Days’ Wonder” (1936), seguido de vários outros filmes sem grande importância. Em 1952 chamou atenção com sua direção no filme “The Golden Hawk”, aventura estrelada por Sterling Hayden, e em 1954 dirigiu o ótimo western “Sitting Bull/Touro Sentado”. Depois de trabalhar em muitas séries de TV (coisas como “Lassie”, “Maverick” e “77 Sunset Strip”), foi contratado para dirigir “Twice-Told Tales”, um de seus melhores trabalhos. Ficou amigo de Vincent Price e o co-dirigiu novamente, em parceria com Ubaldo Ragona, no clássico “The Last Man on Earth/Mortos que Andam” (1964), com base no livro “I Am Legend” de Richard Matheson (embora o nome de Sidney Salkow não apareça creditado nas versões em italiano do filme). Depois destes dois grandes filmes do cinema fantástico Salkow realizou mais alguns westerns e se aposentou com apenas 59 anos e passou a viver de cursos de cinema que ministrava em faculdades da California.
O produtor e roteirista Robert E. Kent começou trabalhando para o lendário Sam Katzman na Columbia Pictures, até que formou, em parceria com Audie Murphy, a Admiral Productions e passou a produzir seus próprios filmes. Kent produziu alguns clássicos do horror e sci-fi como “It! The Terror from Beyonf Space” (1958), que mostrava uma expedição a Marte que era atacada por uma estranha forma de vida; “Curse of The Faceless Man” (1958), sobre uma curiosa maldição de um monstro de pedra; “Invisible Invaders” (1959), sobre aliens reanimando mortos humanos; “Beauty and the Beast” (1962), inspirado em “A Bela e a Fera”, este quatro filmes dirigidos por Edward L. Cahn, verdadeiro especialista em criar bons filmes de baixo orçamento; “Jack the Giant Killer/Jack – O Matador de Gigantes” (1962) de Nathan Juran, fantasia envolvendo dragões e princesas; “Diary of a Madman” (1963) de Reginald Le Borg, horror inspirado em história de Guy de Maupassant e estrelado por Vincent Price. Seu último filme foi “The Christine Jorgensen Story” (1970) de Irving Rapper, drama que contava a história de troca de sexo de Jorgensen (para quem não lembra, Christine Jorgensen foi a inspiração para Ed Wood escrever, produzir, dirigir e atuar em “Glen or Glenda?“).
“Twice-Told Tales” foi lançado em DVD no Brasil com o título “Nos Domínios do Terror” pela distribuidora Flashstar, a qualidade de imagem está ótima.
Rubens Mello – “Canções dos Guarus”(CD), 11 músicas.
Este post é para indicar o CD de meu amigo Rubens Mello. Não sou muito bom no quesito “resenhar discos”, ainda mais num estilo – POP – que não tenho afinidade nenhuma, já que boa parte da minha vida fui um perseguidor de sons extremos como grindcore ou bandas obscuras estranhas.
O CD do Rubens, “Canções dos Guarus”, é feito para aquele público que curte um barzinho onde rola um músico ao vivo com seu violão e um banquinho. É Pop/MPB para se curtir conversando com amigos entre uma e outra taça de vinho. É som para pessoas de bom gosto. Rubens apresenta o CD, “Canções dos Guarus propõe uma viagem sonora através de composições de artistas guarulhenses consagrados e novos talentos, mesclando diferenças e homogeneizando de forma harmoniosa em seu próprio estilo“, escreve ele no encarte. Há vários sons com um instrumental elétrico, mas penso que se fosse somente voz e violão teriam ficado mais poderosas, como as canções “Cinza e Rosa”, “Teoria” ou “Madalena”. As canções “Encontro Marcado”, “Sai Daqui” e “Alguém” grudam na mente, como uma boa música pop deve ser.
Rubens Mello foi o vencedor do concurso do Mojica que escolhia o sucessor do Zé do Caixão, depois apareceu em alguns filmes importantes como “Encarnação do Demônio” (2008) de José Mojica Marins, onde interpretou um dos assistentes do Zé, e “Ivan” (2011) de Fernando Rick, onde interpretou um travesti de maneira brilhante. Criado no teatro, na cidade de Guarulhos/SP, Rubens aprendeu a cantar e encantar com seu timbre de voz único. Paralelo a sua carreira de ator de teatro/cinema e músico, Rubens também dirigiu alguns interessantes curtas de horror (assim que for possível farei entrevista com ele sobre seus filmes), como “Lâmia” (2004), “A História de Lia (2009) e “Vermibus” (2012). Também é o organizador e incentivador da Mostra Guarú Fantástico, evento de cinema que prima pela exibição de filmes brasileiros independentes.
Fica aqui a dica do CD do Rubens Mello, se você curte um pop bem executado, com uma pegada de MPB, é imperdível. Para comprar o CD, ou contratar o Rubens Mello para shows, entre em contato com ele via facebook ou pelo fone (11) 97403-2797. Cinco sons do Rubens podem ser conferidos no seu My Space.
“DR” (2012, 10 min.) de Joel Caetano e Felipe Guerra. Com: Dona Oldina, Mariana Zani e Joel Caetano.
Não há nada pior num relacionamento em crise do que gente de fora dando pitaco. “DR”, curta-metragem que marca a primeira parceria entre Joel Caetano e Felipe Guerra, fala justamente sobre isso: Um casal em crise (Joel e Mariana, casados na vida real) vai discutir sua relação com a sogra (Dona Oldina) não só presente, como no papel de mediadora. A sogra e a esposa despejam acusações contra o marido que escuta tudo pacientemente calado (logo depois descobrimos que ele não se defende porque está amarrado e amordaçado), logo o que era violência verbal se torna violência física e sexual com a sogra abusando do genro imobilizado, assim que a tortura física tem início dentes e dedos quebrados vão surgindo num crescendo de violência que culmina num ataque de fúria do marido contra a sogra. Nada mais atual nos dias de hoje, quando a violência tomou lugar do diálogo. Não sei se foi intencional, mas o modo como o roteiro do filme trata do ciúme possessivo é de longe uma das melhores abordagens do tema que já vi no cinema independente brasileiro. Lógico que o filme se revela meio machista, colocando a culpa de tudo nas mulheres, como se o homem fosse uma vítima do casamento e da tirania da sogra, excluindo-o do fato de, no filme, ficar claro que ele traia a esposa. Fácil de entender quando pensamos que o roteirista é Felipe Guerra, gaúcho tradicional dos pampas. Como o filme não é sério em momento algum, este “machismo” de brincadeira não atrapalha. Não posso falar muito mais sobre a história, mas é um grande acerto da dupla de diretores.
Dividindo a direção, a dupla desenvolveu um argumento que Felipe Guerra havia escrito para filmar em apenas um dia aproveitando que Dona Oldina, sua vó, estaria em São Paulo. “Já tinha colocado minha vó como fantasma, tarada e assassina serial nos meus outros filmes e queria que ela novamente fizesse um papel onde pudesse surpreender o público. Foi quando tive a idéia de “DR”. Porque todo mundo faz filme com vampiro, assassino mascarado, zumbi, mas duas das coisas mais assustadoras da “vida real”, e creio que para ambos os sexos, são sogras e discussões de relação. Imagine que se discutir a relação já é foda, com a sogra junto é duas vezes pior. Então pensei nesse negócio de uma DR em que a sogra passasse um pouco dos limites e o curta tornou-se uma experiência meio “torture porn”, aqueles filmes em que uma personagem passa o tempo todo sendo torturado.”, nos conta Guerra, enquanto Joel explica como foram as filmagens: “Ano passado Dona Oldina veio para São Paulo para acompanhar o Cinefantasy e o Felipe me mandou uma mensagem dizendo que tinha uma idéia que dava para filmar em um dia, num apartamento e com três atores, no caso Dona Oldina, eu e Mariana Zani. Nem precisei ler o roteiro para aceitar a proposta e, depois que li, fiquei muito feliz pois era uma ótima idéia. Assim surgiu o “DR”. O filme foi feito todo de forma colaborativa. O sangue foi cedido de uma oficina que o Rodrigo Aragão estava ministrando na época (um sangue, como ficamos sabendo mais tarde, que seria descartado por não ter funcionado direito). Além de nós quatro também estavam a Daniela Monteiro e a mãe do Felipe, dona Neusa Guerra. Eu e Felipe ficamos na direção, eu mais preocupado com a direção de atores e ele com a direção de cena. O Felipe fez a câmera e fizemos juntos a iluminação. Daniela e Neusa cuidaram da captação direta do som e eu fiquei com os efeitos especiais também”. Aliás, os efeitos especiais estão extremamente convincentes, o que imprime uma força narrativa de maior intensidade ao filme. Joel Continua, “Me orgulho do efeito do dedo se quebrando, simplesmente comprei uma mão falsa, cortei o dedo dela, escondi o meu e quando a mariana dobra é o dedo falso que se move para trás, a sonorização e o corte rápido fizeram o resto, ficou bem convincente, vi algumas pessoas pulando da cadeira no cinema, o que acontece também na cena dos dentes que se quebram, eu mesmo fiquei agoniado com aquilo vendo na tela”.
“DR” é um filme onde tudo está bem realizado e aproveitado, provando que não é necessário grandes orçamentos para se produzir um bom filme. Mas Dona Oldina é quem rouba o filme para si, de longe é sua melhor interpretação e ela está fantástica como a sogra perturbada e violenta. Felipe nos conta como foi trabalhar com ela: “Com 82 anos de idade minha vó topou todas as cenas numa boa e em nenhum momento ficou escandalizada com a violência, porque ela entendia que era algo exagerado e absurdo para divertir e não para chocar. Ela não tem dificuldades com as cenas físicas, seu maior problema é lembrar as falas. Fizemos uns 20 takes só dela tentando falar a frase “discutir a relação”, porque na hora ela se embananava e falava “a questão da relação”. Dona Oldina só ficou preocupada com a possibilidade do filme ser exibido em Carlos Barbosa/RS, que é uma cidadezinha de 25 mil habitantes, e ela tem medo de ser expulsa do grupo da igreja. Minha vó também fez um improvisso hilário em que dá um rápido beijo na boca do Joel, felizmente quando ele está amordaçado”. E Joel completa rindo, “Até hoje o Felipe me chama de vô!”.
A edição do curta foi decidida também em conjunto pela dupla de diretores. “Foi uma edição em conjunto, eu estava operando o software e o Felipe do meu lado, todas as decisões de cortes foram tomadas por nós dois. A montagem só demorou mais porque em determinados momentos, principalmente na cena em que eu chuto a personagem da Dona Oldina, eu tinha crises de riso. O Felipe tinha que me sacudir para eu parar de rir!”, conta Joel. O resultado final deste trabalho em conjunto, além de impressionar o espectador, deixou ambos os diretores satisfeitos, como define Felipe ao dizer “Foi interessante fazer esse projeto em conjunto com o Joel, um cara cujo trabalho eu respeito muito com o qual tenho bastante afinidade. É difícil você encontrar alguém que tope fazer uma parada assim, sem dinheiro e filmada na raça, num único dia”, enquanto Joel dá pistas para o futuro da parceria, “Espero poder repetir a dose em breve!”.
Por enquanto “DR” pode ser visto apenas em mostras e festivais, mas espero que em breve ambos os diretores tomem vergonha na cara e lancem um box com toda sua filmografia, tanto Caetano quanto Guerra estão devendo o lançamento de seus filmes para que o público de outras regiões do Brasil possa tomar contato com suas obras.
“Ein Toter Hing Im Netz” (“Horrors of Spider Island”, 1960, 75 min.) de Fritz Böttger. Com: Helga Franck, Helga Neuner, Harald Maresch e grande elenco de bichos peludos peçonhentos.
A história deste pequeno clássico da tranqueira cinematográfica é das mais vagabundas possíveis: Um grupo de dançarinas de uma boate de New York voa para Singapura onde vão se apresentar num inferninho local. Ao sobrevoar o Oceano Pacífico o avião pega fogo e cai (salvando-se apenas as dançarinas e Gary, o dono da boate). Após alguns dias desidratando num bote salva-vidas, o grupo avista uma ilha. Explorando o terreno eles descobrem água fresca e, também, um estranho martelo que lhes dá esperança de que a ilha seja habitada. Logo em seguida avistam uma cabana e a alegria contagia o grupo de beldades que poderiam estar mais semi-nuas, mas ao abrir a porta se deparam com um homem morto pendurado numa teia de aranha gigante. Lendo o diário as dançarinas descobrem que o morto era um professor que estava procurando urânio (com seu martelo?) e percebem que há comida na cabana para cerca de um mês. Gary resolve explorar o resto da ilha sozinho e é picado por uma inacreditável aranha gigante, se tornando um bestial homem-aranha e, seguindo seus instintos mais primitivos, mata uma das dançarinas. Um mês depois dois homens chegam a ilha com suprimentos para o professor e dão de cara com as meninas que explicam tudo aos heróis e, tendo que esperar o navio voltar no dia seguinte para pegá-los, resolvem comemorar a última noite com uma festa. Nada mais natural, lógico!
Não se iluda com o título do filme, a aranha que pica Gary transformando-o numa besta-fera mistura entre homem e aranha, não aparece nem três minutos na produção (mas sua aparição é motivo de risos involuntários) e Gary, depois de transformado em homem-aranha, não se parece com uma aranha, lembrando mais um lobisomem depilado do que qualquer outra coisa. Aliás, o título original, que significa “Um Cadáver Pendurado na Teia”, tem mais haver com o roteiro. A pobreza da produção é gritante, mera desculpa para colocar lindas atrizes com poucas roupas numa ilha deserta, mas como trashmaníacos não estão atrás de tratados intelectuais filmados, “Ein Toter Hing Im Netz” cumpre bem sua função de divertir, com diálogos ridículos espirituosos onde as mal dirigidas atrizes nunca tem a reação de pânico que a história exige. O filme foi lançado duas vezes nos USA, a primeira em 1962 com o título “It’s Hot in Paradise” e uma segunda vez em 1965 com o título modificado para “Horrors of Spider Island”. Quando lançado em vídeo ganhou o nome de “Girls of Spider Island”.
“Horrors of Spider Island” é dirigido pelo roteirista Fritz Böttger (1902-1981) que se mostra completamente amador e sem criatividade no comando da produção (em 1953 ele tinha assinado outros dois filmes como diretor, “Die Junggesellenfalle” e “Auf Der Grünen Wiese”, que não consegui assistí-los). Como roteirista assinou mais de 35 filmes, principalmente comédias leves e musicais jovens como “Liebe, Jazz und Übermut” (1957) de Erik Ode e “Hula-Hopp, Conny” (1959) de Heinz Paul. Em 1963 passou a escrever roteiros para filmes produzidos pela TV alemã. O filme foi produzido pela dupla Gaston Hakim e Wolf C. Hartwig, ambos especializados em nudie-movies e sexploitation de baixo orçamento e gosto duvidoso. Hakim produziu lindezas como “The Naked Venus” (1959), drama erótico dirigido por Edgar G. Ulmer e “Her Bikini Never Got Wet” (1962), tão vagabundo que não tem nem diretor creditado. Em 1964 se aventurou na direção com “A French Honeymoon”, uma comédia erótica das mais estúpidas possíveis. Hartwig teve carreira repleta de êxitos finaceiros, como “Die Nackte und Der Satan/The Head” (1959) de Victor Trivas, sobre um cientista que inventa um soro capaz de manter a cabeça de um cão viva e, depois de sua morte, é obrigado a ajudar sua enfermeira corcunda numa bizarra experiência; “The Bellboy and the Playgirls” (1962) de Fritz Umgelter, com cenas adicionais escritas e dirigidas por um jovem Francis Ford Coppola; a série sexploitation “Schulmädchen-Report”, que teve 13 filmes entre 1970 e 1980; e o clássico de guerra “Cross of Iron/Cruz de Ferro” (1977) de Sam Peckinpah. A direção de fotografia de “Horrors os Spider Island” é do veterano Georg Krause (1901-1986) que, entre outros, assinou a fotografia de “Paths of Glory/Glória Feita de Sangue” (1957) de Stanley Kubrick. Os efeitos pavorosos desta simpática bomba cinematográfica são de autoria do maquiador Irmgard Forster, sempre incompetente que, em 1968, trabalhou em “Necronomicon – Geträumte Sünden/Succubus”, do genial Jesus Franco.
“Ein Toter Hing Im Netz” conquista por seus defeitos. Coffin Souza me enviou o poster de cinema brasileiro de “Horrors of Spider Island”, que aqui no Brasil de chamou “Um Homem na Rêde”. No próximo post publicaremos a versão dele em fotonovela lançada no Brasil pela revista “Ultra Ciência” (número 6) com o título de “A Ilha do Terror“.
“Vontade” (2012, 10 min.) de Fabiana Servilha. Com: Alexandre Rabello, Douglas Domingues e Marina Ballarin.
Rapaz perturbado com insônia (Alexandre Rabello) se levanta após dizer a enigmática frase: “Vou acabar com isso!”. Pega uma garrafa de vodka na geladeira, uma faca na cozinha, e sai pela cidade com seu carro. Estaciona num mercadinho, fica seguindo um gordo barbudo (Douglas Domingues) que lá fazia compras e logo em seguida seqüestra-o. O rapaz perturbado fica dando voltas sem rumo enquanto os gritos apavorados do gordo barbudo ecoam por sua mente. Num impulso estaciona o carro e liberta o seqüestrado que sai dali correndo. O rapaz, mais perturbado ainda por ter falhado em sua missão, volta para casa com o gosto amargo do fracasso na boca e arranca, com a faca, a carne da batata de sua própria perna, num ótimo momento de auto-mutilação. O desfecho do curta é digno das melhores piadas de humor negro que já tive o prazer de presenciar. Sutil, cômico e porradão!
O roteiro de “Vontade”, de autoria da própria diretora Fabiana Servilha, brinca de maneira soberba com os clichês do cinema de horror ao construir um clima macabro onde explora as várias possibilidades narrativas sem entregar mais do que o espectador deve saber. Num primeiro momento somos levados a acreditar que o jovem com insônia armado da faca e da garrafa de vodka, após a frase “Vou acabar com isso hoje!”, está em busca de sua namorada que pode estar lhe traindo com outro homem. A perseguição ao gordo no mercadinho reforça essa idéia, mas ao mesmo tempo deixa no ar a dúvida: E se o jovem perturbado é somente um psicopata em busca de sua primeira vítima? Após o jovem libertar o gordo, num momento de arrependimento, somos levados a acreditar que o surto psicótico chegou ao fim sem vítimas, sem derramamento de sangue. Ledo engano, aqui Servilha introduz uma linda cena de auto-mutilação gore com o perturbado rapaz colhendo um sucolento pedaço de sua própria carne. O final do curta de Servilha é um delicioso momento de humor negro (não amigo, o perturbado não vai comer sua própria carne não), com a moral às avessas de “Quem ama faz sacrifícios”. É uma bela história que nos faz refletir.
O curta de Fabiana Servilha, de algum modo, faz com que nos lembremos da fixação de William Seabrook e sua ânsia em conseguir algumas gramas de tão preciosa iguaria tabu. Seabrook resolveu o problema subornando um funcionário do hospital de Paris, não tendo sido tão extremo/insano quanto a personagem principal deste belo curta. Aliás, a primeira vista não gostei do título do curta (confesso que tenho queda por títulos mais mirabolantes), mas o desfecho genial do curta é tão lindo que não vejo nome mais apropriado ao curta do que “Vontade”.
Fabiana Servilha é formada em cinema e tem uma grande vontade de realizar cinema de gênero e tentar uma re-aproximação do cineasta com o público. É tarefa árdua, mas a julgar por seus curtas ela (e toda uma nova e jovem geração de cineastas independentes) está conseguindo. Seu filme de TCC foi o curta “Estrela Radiante”, seguido de “Aqueles Olhos” filmado em 16mm. Depois ajudou na realização dos ótimos “Caixa Preta” e “Eternitá”. Para a realização de “Vontade” ela escalou bons atores e técnicos talentosos, como o iluminador/diretor de fotografia Henrique Rodrigues que deu um climão doentio ao curta, as maquiagens gore do Rodrigo Aragão (diretor dos clássicos “Mangue Negro” e “A Noite do Chupacabras”) e a edição dinâmica de André Coletti (que também sempre é assistente de direção dos filmes de Servilha).
“Vontade” está sendo selecionado em inúmeros festivais de cinema, fica a dica para aqueles que gostam de conferir os rumos que nosso cinema está tomando e este novo trabalho de Fabiana Servilha precisa ser apreciado pelo máximo de público possível. Imperdível!
Abaixo uma mini-entrevista que realizei com Fabiana sobre seus curtas e sua maneira de pensar cinema.
Petter Baiestorf: Você estudou na Film Works da Academia Internacional do Cinema, fale como foi este período. Você se interessou por cinema quando?
Fabiana Servilha: Cresci vendo filmes de terror, principalmente os da década de 80, tem uma locadora bem do lado de casa e o setor que eu mais freqüentava era o do terror/suspense, desde que me conheço como gente lembro que reservava do dinheiro da bomboniere para ter como locar “The Return of the Living Dead”. O japonês da locadora dizia: – “Mas você já locou este semana passada… outra vez?” (risos). Minha infância era literalmente: parar a bicicleta e contar muito bem para amigas de bairro tudo que eu via na TV, como “Tales From the DarkSide”. Eu fazia até os efeitos sonoros e as garotas morriam de medo, pois eu esperava anoitecer para contar de propósito. O que elas não sabiam era que eu também me cagava de medo, mas vendo o medo delas, aliviava o meu (risos). Certa vez a mãe de uma dessas garotas toca a campainha de casa para brigar com minha mãe, dizendo: – “Sua filha tem 10 anos! A minha tem 7 e se impressiona com O Exorcista!!!! Não quero que a Fabiana fique mostrando essas coisas a ela! As rodas da bicicleta estão com terra de cemitério!!!” (risos). Isso porque eu costumava pegar amoras no cemitério para fazer suco, coisa bizarra de criança (risos). Com uns 12 anos comecei a ler Stephen king e a escrever roteiros, lembro que eram todos longas metragens!!! Hoje dou risada disso, pois não é uma tarefa tão fácil como uma menina de 12 pensava que fosse , mas só gravei com uns 16 anos um curta para escola, era de aula de educação artística. Cada grupo devia escolher um gênero, eu levantei voando para garantir que o de terror fosse o meu. E ficou bacana mesmo editando na época no vídeo cassete, o resultado foi um plágio da abertura do “Night of the Creeps” (risos), só inverti a situação para anos 70 pois havia conseguido uma brasília emprestada para gravar. Eu ia no cinema praticamente todos os dias, pagava um filme e assistia 3, ou 4 com a famosa ida ao banheiro para entrar nas outras de graça. Comecei a fazer cursos gratuitos de cinema pelas oficinas culturais, posteriormente conheci Eduardo Aguilar, e fazia curso com o José Mojica Marins, mas nessa época eu fazia um milhão de coisas envolvendo arte, eu me envolvia com teatro, música, dança, e acabei deixando o cinema de lado e estudando Artes Visuais na Belas Artes. Eu já estava no segundo ano, quando o professor de desenho fala: – “Agora peguem o carbono e risquem o vazio e vejam o que encontram, potencializem essa coisa”. E eu pensei: “Que caralho que eu to fazendo aqui? eu queria fazer filme de terror!”. Até que surgiu uma bolsa pela Academia Internacional de Cinema e aproveitei para largar tudo, só que lá eu teria um novo problema, cinema se faz com um grupo e eu teria dificuldades em achar outros alunos que também gostassem de cinema de gênero, então me sentia deslocada, queria apenas ficar ali disfarçando no som e os roteiros eram chatos pra mim, alguns davam vontade de se dar um tiro na boca na sala de aula. Desanimei bastante no começo. Foi a partir dai que surgiu o Cinema do Medo pelo Cine Galpão onde eu poderia trazer pessoas com o mesmo objetivo que eu.
Baiestorf: O que foi o projeto “Cinema do Medo” que você desenvolveu com o Cine Galpão? Quem é o Cine Galpão e qual a proposta do grupo?
Servilha: Eu sentia uma pitadela de preconceito com a galera que estudava cinema, entortavam o nariz pra mim se eu não tivesse visto “Linha de Passe”, pois eu tinha de ver mais cinema nacional e blá blá blá, mas eu não podia entortar o nariz também de eles nem saberem quem é Ivan Cardoso. Sentia que terror no geral era visto como se fosse um gênero inferior e francamente, de fato muita porcaria é feita com o gênero, o que faz piorar essa visão. Mas pessoas esquecem de grandes roteiros, diretores, atores que estiveram sim em filmes de horror. Até hoje tenho espécies de pastores querendo me converter a fazer outros gêneros; o que eles não entendem é: eu não tenho nada contra gênero algum, o que me importa é a estória me interessar. Tem certos filmes de gênero inclusive que o assunto é tão batido e ninguém traz nada de novo que eu nem quero ver, por exemplo, filmes de casa mal assombradas, espíritos, filmes de tema zumbi então nem se fala, muitos eu nem quero ver porque o povo só faz a mesma estória de sempre, parece que voltamos ao cinema mudo, estamos indo ver “A Chegada do Trem na Estação” e é exatamente o que vamos ver, apenas um trem chegando na estação. Filme de zumbi é tudo o que eu já sei, é desinteressante, me diga, me conte algo de novo que partiu de você, algo que eu já não saiba, o que me importa em filmes é algo que me atraia. E eu sou o tipo de pessoa que se interessa mais quando tem elementos fantásticos, para mim “Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”. Dirigir é sua forma de enxergar as coisas. Poderia dirigir um drama ou comédia? Sim, mas é igual futebol, eu entendo tudo do jogo, mas eu acrescento mais ao time sendo goleiro! Então me deixem em paz! (risos) Henrique Rodriguez era meu professor em um curso no Senac e sempre me via resmungando sobre isso, na época ele e Carla Monteiro iriam fundar o Cine Galpão, um espaço de uso coletivo voltado a estudos e produções audiovisuais, eles dão abertura para qualquer um que chegue com alguma proposta bacana e precise de apoio, teríamos equipamentos e auxilio, não havia mais desculpas para não se gravar. Foi então que eu chamei André Coletti para fundarmos um grupo nosso voltado apenas para estudo e produção de filmes de terror: Cinema do Medo, aberto para o público, lá então poderíamos reunir pessoas com os mesmos objetivos e deixar ser integrante, começamos com o projeto “Vontade”. Posso parecer muito idealista e romântica, mas de fato o que eu queria era uma galera para produções constantes de gênero e fazer varredura na galera independente para sermos uma produtora grande de gênero unificada, acolhidos pelo Cine Galpão. Era o nosso paraíso, pois, os cursos de cinema acabavam mas o Cine Galpão continuaria e poderíamos fazer crescer.
Baiestorf: “Estrela Radiante” foi o filme que você realizou para seu TCC. Fale como foi a realização deste curta. Como foi a distribuição dele?
Servilha: “Estrela Radiante” foi uma loucura, haviam outros 2 estudantes da AIC que o abandonaram como projeto de TCC deles, e eu até entendo. Na verdade por volta de 30 pessoas abandonaram o filme ou mais, muitas eu nem conto porque nunca acrescentaram em nada, nem conto como “passaram pelo filme”, teve diversos produtores que pularam fora quando a corda apertou e muitos pioravam mais que ajudavam e faltando uma semana para gravar eu me encontrei sozinha com a produção, não tinha praticamente nada e as pessoas só desistiam pois sabiam que não seria fácil e muito arriscado. Convenhamos, ir pro meio do mato para passar sufoco não é muito animador. Eu não estava dando conta e sem dinheiro era pior ainda! perdi o departamento inteiro de fotografia e o de produção faltando uma semana, era complicado, não tínhamos dinheiro, nem tempo, tudo era difícil, elenco complicado, gravar no mato, arte complicada, estória bizarra misturando ficção científica com horror made in Brasil. Não sei bem identificar o gênero, eu costumo chamar de “A Gororoba da Fabi” (risos). Lembro que precisava de várias larvas para o filme e um dia antes de ir para o interior gravar, as larvas fugiram dos potes, quando eu e André Coletti acordamos, estávamos rodeados de trocentas larvas e desesperados começamos a pegar uma a uma do chão para colocar de volta aos potes, o André disse: – “Isso não vai abalar o orçamento, apenas 6 larvas morreram na jornada Fabi, não vai afetar a cena.” (risos) Parávamos na Rua Augusta para procurar figuração negra para levar até Ibiuna, era tão absurdo conseguir que chegamos a falar com moradores de rua para participar do filme! Como eles moravam na rua, e não tinham telefone celular falávamos: – “Hey! Esteja na porta do Ecléticos na Augusta sexta próxima as 19 horas para irmos gravar!” (risos). Lembrei bastante da palestra que fui ver do Lloyd Kaufman aqui em São Paulo sobre produções independente. Faltando uma semana e eu sem nada e com pouquíssimas pessoas do meu lado, comecei a desistir de chamar pessoas ligadas a cinema e aceitar ajuda de qualquer pessoa normal, e de fato vieram para somar e foram excelentes produtores pois não faziam corpo mole, não me chamavam de louca, e não vinham com vícios ou achavam que TUDO seria impossível de ser feito dentro daquelas condições, foi a melhor atitude que fiz, gente que nunca havia trabalhado com cinema estavam dando um show de produção e força de vontade, me surpreenderam e eu não teria conseguido nada sem elas; lembro que postei uma imagem de S.O.S no facebook, faltando 1 semana eu pensei em desistir também, não conseguia dormir mais, chorando de raiva eu até escrevi um diário e escrevi que eu conseguiria fazer essa porra sozinha mesma e assim o fiz. Devo muito a todos que aparecerão nos créditos finais cada um vinha com um pequeno milagre e era um leão diferente pra matar a cada 30 minutos. Até a atriz Débora Muniz vendo minha cara de exausta me incentivava nas gravações; tive muita sorte pois não poderia ter um elenco melhor, André Cecatto, Fábio Neppo, Débora Muniz, Valdano Sousa, todos estavam muito compreensivos comigo e estavam ali para ajudar em qualquer coisa que fosse. Foi uma puta experiência de superação e saber transformar o lodo em pérola. Ficará pronto no final do ano, e em 2013 estará nos telões com muito orgulho!!
Baiestorf: Você não acha que as faculdades de cinema deveriam ter uma distribuidora de filmes para escoar ao público estes filmes produzidos para TCCs?
Servilha: Sim, seria ótimo; muitos curtas ficam encalhados e os realizadores devem parar um pouco e se perguntar a razão de o porque de tudo isso, e a atenção em relação a isso deve partir de lá de trás, na escolha do roteiro, de atores, tudo vai influenciar para que o filme seja bom, e quanto mais rico for o filme, mais vai ser favorável para que você consiga estender o prazo de vida dele posteriormente, é óbvio. Este ano fiquei sem gravar nada pois sofri na pele a dificuldade que é exibir e distribuir sozinha, o filme literalmente morre se você deixar, você acaba desistindo, é um trabalho de cão, acaba se enjoando dele, de saco cheio já, ou partindo para a produção de outro. E NÃO!!! Isso está errado! Vai ser muito difícil eu gravar outra coisa na loucura por impulso, quero analisar na frente tudo que farei com o material pronto pois eu desejo filmes que sobrevivam e se estendam o máximo que puder. É uma delícia gravar, a parte chata é justamente o que fazer com o filme depois de pronto, ele precisará de cuidados e esse tipo de pensamento desde o começo é para seu próprio bem, justamente para te ajudar a gravar ainda mais, você verá que além de gravar, é uma delícia também ele estar em festivais, sendo visto, e o melhor! Te dar uns trocados para você gravar o próximo, para que você não desista.
Baiestorf: “Aqueles Olhos” você fez em 16mm, qual foi o orçamento do curta? Você acha necessário filmar em película nos dias de hoje?
Servilha: Deve ter dado por volta de 1.300 reais, a película partiu da própria AIC; um rolo de nem 13 minutos para tirar um filme final de 5 minutos, eu tinha medo até de bater claquete e ser demorado. A experiência com película foi boa para ver a diferença do digital, no digital eu sou um inferno, nunca tá bom, faço takes demais, a equipe mesmo fala: – “Este está igualzinho ao anterior Fabi, chega!”. No digital acabamos gravando muitas coisas as vezes desnecessárias o que fica até perigoso de perder o foco da tua narrativa, você não está registrando, você está narrando algo! Onde eu coloco a câmera agora? Na película você não é nenhum milionário que pode ficar se aventurando, então te força a focar realmente direto ao necessário, você visualiza seu trabalho de decupagem muito mais porque é literalmente película valiosa torrando. Os dois tem seus pontos positivos e negativos, aplicar o pensamento econômico de se filmar em película para o digital vai ser bom pra seu plano de filmagem e sua decupagem e não sair correndo por ai disparando o REC.
Baiestorf: Como foi a recepção de “Aqueles Olhos”? Ele te abriu algumas portas para a produção de novos filmes?
Servilha: O bacana do curta foi ver em diversas exibições a reação do público, toda hora que aparecia o demônio no bolo a platéia provocava um som, isso é muito maravilhoso, saber que você atingiu a intenção; ele foi exibido no SP TERROR no Reserva, CineSesc, no MIS Festival AIC, Halloween Casa das Rosas, Guaru Fantástico e no Cinefantasy, não havia mandado a muitos lugares na época, engraçado que quando fomos selecionados ao Cinefantasy fomos parar na categoria Novos Rumos e dai eu pensei: “Que tipo de filme eu ando fazendo? Não é terror, não é surrealismo. Novos rumos?! Isso é bom? Que diabo significa isso?” (risos). Fiquei muito surpresa em o filme ser premiado no Cinefantasy na categoria “Estímulo a Estudante”, ele me abriu portas internas eu diria, me diverti muito fazendo na época, eu e André fizemos pensando na gente, pra gente, eu não estava nem um pouco preocupada com o que falariam na banca da AIC e acho que fizemos tão sem pretensões e tão verdadeiro que a banca acabou sendo ótima na escola e as pessoas sempre gostavam do curta quando assistiam, foi dai que arrisquei a enviar a alguns lugares.
Baiestorf: Acabei de assistir teu ótimo curta “Vontade” e o senso de humor negro que você imprimiu ao curta, de maneira sutil, me deixou impressionado. Sua direção é bem segura, com um grande trabalho de decupagem das cenas. Como surgiu a idéia para o roteiro de “Vontade” e sua posterior filmagem? Foi complicado filmá-lo?
Servilha: Que bom que curtiu petter, fico feliz. Eu tenho muitos roteiros em casa que escrevo, tem longa também mas tenho que admitir que amo contos, estórias curtas, e adoro quando a idéia me surge pelo plot, como aconteceu no “Vontade”, infelizmente não tenho $$ para gravar tudo e gosto de escrever roteiros mais malucos, o que piora de realizá-los. Estou tentando fazer estórias mais simples em questão de produção para facilitar a vida e “Vontade” é este caso, uma produção simples, e barata. Sempre fico atenta a coisas pequenas que aparecem ao redor e sou a típica pessoa que dá ouvidos aos loucos sim! Acho que um gesto, uma palavra que a pessoa coloca, um tropeço pode me surgir uma boa idéia, tem coisas bizarras que acontecem ao nosso redor o tempo inteiro e simplesmente não damos atenção, muito que escrevo parte do real. A idéia do “Vontade” era entrarmos em uma busca mistériosa, uma corrida no meio de uma madrugada de um personagem que precisa encontrar coragens de cometer um homicídio para satisfazer uma vontade emergencial e incontrolável. Um Thirller com pouquíssimos diálogos. Fiquei surpresa de ver o filme sendo indicado a Melhor Roteiro do Festival Art Deco Cinema e mais 2 indicações.
Baiestorf: Qual foi o orçamento de “Vontade” e nos conte como foram as filmagens do curta.
Servilha: Deve ter dado por volta de 1.500. O maior gasto foi com a maquiagem do filme, equipamentos eu teria com o apoio do Cine Galpão, Cinema de Guerrilha, e eu iria aproveitar a vinda do cineasta Rodrigo Aragão ao Cinefantasy para gravar quando ele estivesse em São Paulo por conta da maquiagem do filme. Acabou batendo exatamente nos mesmos dias que eu estava filmando Aqueles Olhos pela Academia Internacional de Cinema. Foi exaustivo gravar 2 curtas tão colados, mas para economizar e ter o Aragão só podia ser deste jeito. “Vontade” na verdade é um remake de nós mesmos, eu havia tido a idéia, e no dia seguinte chamei 2 amigos, essa era a “equipe do filme”, entre eles André Coletti, chamei o ator Alexandre Rabello e gravamos em uma mini dv em poucas horas. Eu nem havia feito decupagem alguma e eu mesma fiz a maquiagem e até fui atriz no filme. Quando editamos no dia seguinte vi onde erramos e o que acertamos e vi que aquilo tinha potencial para ser gravado melhor. Quando precisamos inaugurar o Cinema do Medo no Cine Galpão pegamos o Vontade logo de cara para regravá-lo.
Baiestorf: Gostei bastante dos atores e da equipe-técnica que trabalhou no “Vontade”. Fale um pouco como você reuniu este talentoso grupo e como outros produtores fazem prá trabalhar com eles.
Servilha: Algumas pessoas já eram meus amigos, e a sede de reuniões era no Cine Galpão. Carla Monteiro e Henrique Rodriguez vestiram a camisa sendo integrantes da equipe, eu havia feito teatro com o ator Alexandre Rabello que topa qualquer parada, a atriz Marina Baillarin era amiga do André Coletti, consegui trazer algumas pessoas da AIC para o grupo, quem caiu de pára-quedas atuando foi o Douglas Domingues que foi lá ajudar de ultima hora porque estávamos sem um ator, ele acabou fazendo parte do Cinema do Medo depois. Stefanne Marion acabou entrando e cuidando da arte que estava sozinha, conheci o Vitor Melloni pelo festival SP Terror e ele acabou se interessando pelo projeto e ajudou muito na produção do filme, também fico muito feliz com a equipe final, pequena, e funcional. As vezes não precisamos armar um circo de pessoas, o importante é elas funcionarem. Também teve várias entradas e saídas de pessoas pelo Cinema do Medo, manter um grupo andando não é fácil e as pessoas não entendem e preferem botar a culpa em você, não bastava ter equipamentos e achar que tínhamos a faca e o queijo na mão, cinema dependia das pessoas, queria reunir pessoas apaixonadas por filme de gênero de verdade, era a minha tática para animá-las a segurar o tranco de dificuldades que todo cinema independente passa.
Baiestorf: “Vontade” está sendo selecionado em diversos festivais de cinema aqui do Brasil e exterior. Você pode adiantar os lugares onde seu curta estará sendo exibido nos próximos meses para que os leitores do Canibuk possam assisti-lo?
Servilha: Tudo tem sido bacana e com muito sangue meu, tenho trabalhado demais por ele, o filme foi para 3 indicações e levei o Premio Jovem Talento Feminino Brasileiro pelo Festival Art Deco Cinema aqui em São Paulo, com um filme Thriller! (risos). Isso me deixou muito feliz, geralmente eu tenho até medo de mandar filme de gênero competindo com os demais e a abertura e recepção que tive neste festival foi fantástica. Este mês foi uma surpresa ver que o filme será exibido em agosto 7 vezes Em São Paulo na Espantomania, Guaru Fantástico; no Rio de Janeiro, na Rio Fan; no Festival Macabro no México, entre outros. Estou muito contente pela repercussão do filme, todos podem acompanhar as notícias pela página “Vontade Filme” no Facebook. Tive uma recepção ótima de festivais na Califórnia, o primeiro será em Novembro 2012, inclusive tem festivais de cinema de gênero voltado apenas para direção feminina! (risos). Achei genial e estou feliz com tudo isso. Em São Paulo este mês teremos uma mostra especial da galera integrante do Cinema do Medo na ECLA, estaremos lá. Vale a pena conhecer quem se interessou pelo grupo, ou o Cine Galpão.
Baiestorf: Antigamente (até meados de 2005) nós produtores independentes praticamente não tínhamos festivais/mostras para apresentar nossos curtas, nem os canais de divulgação da Internet, tudo era divulgado em eventos undergrounds (bares e botecos com telão) ou fanzines com os filmes sendo enviados via correio. Daquela época prá cá a divulgação melhorou mas o sistema de distribuição dos filmes continua precária e amadora. Como você está distribuindo teus filmes? Eles estão se pagando? Há alguma coletânea em DVD com teus trabalhos para quem quiser tê-los em casa?
Servilha: Eu tenho muiiiiitooo o que aprender, estou no começo de tudo mesmo, tem um mundo por trás disso, e eu estou tendo que aprender na marra e sozinha, agora que eu estou entendendo melhor o que fazer com um filme e até onde eu posso ir com ele, estou me aliando com pessoas experientes no assunto que vêem me orientando. Ando pegando nichos e tem como ter uma sobrevivência independente sim. Quando acabar o período de festivais e mostras pretendo distribuir para DVD e televisão.
Baiestorf: Sou um eterno defensor/divulgador do cinema independente e pela primeira vez sinto que o Brasil tem uma cena de filmes independentes que estão tecnicamente bem elaborados/finalizados. Você acha que o caminho a seguir é continuar na produção independente ou pretende tentar alguns editais para captação de recursos mais polpudos?
Servilha: eu acho que você tem que reconhecer a qualidade daquilo que você tem na mão primeiramente, se tiver potencial até a forma independente só tende a dar bons resultados porque o trabalho é bom, acho que é possível as duas coisas, é só o cinema independente pensar mais sério que o retorno será mais sério. Fazer da sua melhor maneira possível e sempre procurar evoluir, graças a Deus criatividade é gratuito. Tem lugares, como o Cine Galpão, que buscam ser co-produtores, há bons atores por ai que ainda topam sim trabalhar de graça se ver qualidade e seriedade no que você está propondo, assim como outras pessoas de parte técnica. Desistentes e gente que provavelmente vão pular do barco, ou largar pois arrumou um outro trabalho vai ter, mas se você tiver perseverança você consegue fazer acontecer.
Baiestorf: Vi você defendendo o cinema de gênero. Você acredita que pode ser alcançado um público maior com o cinema de gênero? Como fazer para que os filmes cheguem ao povão já que hoje o cinema de bairro e/ou de calçada praticamente está extinto e o cinema de shopping exibe apenas cine-sonífero estrangeiro (ou aquelas chatices Globo Filmes)?
Servilha: Claro, porque não? Para chegar no “povão” filmes nacionais de gênero o método talvez seria trilhar um caminho pelas beiradas, é muito difícil você chegar a um adulto forçando-o comer verdura se desde criança ele não tinha costume em comer, não é da cultura brasileira, digo isso por mim que só via filmes gringos desde criança e pra mim Zé do Caixão era um apresentador do Cine Trash apenas. Eu nem tinha acesso aos próprios filmes nacionais de terror nas locadoras, isso é lamentável.
Baiestorf: Projeto futuro? Há algo em pré-produção “made in” Fabiana Servilha?
Servilha: Tem sim, até com HQs estou me envolvendo (risos). Melhor do que deixar estórias jogadas na gaveta (risos). Estou empolgada com 2013, tem um projeto de longa metragem muito bacana a caminho e um programa infanto juvenil de gênero que ando cuidando para dar certo; tenho muito trabalho pela frente, cuidando do “Vontade”, preparando o “Estrela Radiante”, tem sido uma loucura.
“La Montagna del Dio Cannibale” (1978, 103 min.) de Sergio Martino. Com: Ursula Andress, Stacy Keach, Claudio Cassinelli e Franco Fantasia.
“A Montanha dos Canibais” começa com Susan Stevenson (Ursula Andress) tentando encontrar, com ajuda de seu irmão (Antonio Marsina) e do professor Edward Foster (Stacy Keach), seu marido nas selvas da Nova Guiné. Como acreditam que o marido de Susan desapareceu numa montanha amaldiçoada, que ainda abrigaria uma tribo de canibais selvagens, eles só podem contar com a ajuda de outro explorador, Manolo (Claudio Cassinelli), para tentar chegar até a terrível montanha. Enfrentando sucuris, jacarés, tarantulas, cobras, pernilongos, plantas venenosas e outras armadilhas mortais da selva, o grupo chega até a missão do padre Moses (Franco Fantasia, sempre inspirado) onde atrapalham a paz do dia-a-dia da comunidade religiosa comandada pelo padre. São os instintos carnais do homem civilizado batendo de frente com os instintos primitivos de índios domesticados pela mão do cristianismo branco que vê pecado em tudo. Logo o grupo precisa deixar a comunidade religiosa e chega à montanha onde são capturados pelo índios canibais. Finalmente ficamos sabendo que a montanha é constituida de urânio que Ursula Andress deseja mais ardentemente do que seu marido (agora um cadáver com um contador Geiger batendo no lugar de seu coração e adorado pelos selvagens como se fosse um Deus). Manolo é torturado e Susan despida e preparada para ser a Deusa viva da tribo, enquanto os outros viram o ingrediente principal do banquete de sangue para a Deusa branca da montanha dos canibais.
Com uma produção de baixo orçamento, mas bem cuidada, “La Montagna del Dio Cannibale” é mais violento do que “Il Paese del Sesso Selvagio/Man From Deep River/Mundo Canibal” (1972, Ocean Pictures em DVD) de Umberto Lenzi, mas bem comportado se comparado aos sádicos filmes de Ruggero Deodato de mesmo tema como “Ultimo Mondo Cannibale/O Último Mundo dos Canibais” (1977, Omni Vídeo em VHS) ou “Cannibal Holocaust” (1980, Platina Filmes em DVD). É engraçado ver uma atriz com fama, como era o caso de Ursula Andress, no elenco deste filme. Ela fica pelada boa parte das cenas, faz sexo e é vítima de todo tipo de abusos físicos típicos de uma produção italiana deste período. “A Montanha dos Canibais” foi roteirizado pelo diretor Martino e Cesare Frugoni (entre outros trabalhos, ajudou nos roteiros de filmaços como “Cani Arrabbiati” (1974) de Mario Bava; “I Guerrieri Dell’Anno 2072/New Gladiators” (1984) de Lucio Fulci ou “Inferno in Direta/Cut and Run” (1985) de Ruggero Deodato), sempre confrontando o civilizado com o primitivo.
Sergio Martino (1938) nasceu em Roma, Itália. É neto do cineasta Gennaro Righelli (que tem o mérito de ter dirigido o primeiro filme sonoro do cinema italiano, “La Canzone Dell”Amore”, em 1930). Começou realizando documentários no final de 1960. Em 1970 dirigiu o western “Arizona si Scatenò… E li Fuori Tutti/O Retorno de Arizona Colt”, estrelado pelo brasileiro Anthony Steffen. Logo se especializou na produção de Giallos, a maioria escritos pelo roteirista Ernesto Gastaldi e estrelados por sua cunhada Edwige Fenech (que era casada com seu irmão Luciano, também produtor deste “A Montanha dos canibais”), dos quais destaco o maravilhoso “I Corpi Presentano Tracce di Violenza Carnale/Torso” (1973, Continental em DVD). Antes da realização de seu filme de canibais, voltou a realizar um western de destaque: “Mannaja/A Man Called Blade” (1977). Em 1979 escalou a gostosa Barbara Bach para levar alguns sustos no maravilhoso “L’Isola Degli Uomini Pesce/Island of the Fishmen”. No rastro do sucesso de “Escape from New York” (1981, Universal Home Video em DVD) de John Carpenter, realizou a sci-fi de ação “2019 – Dopo la Caduta di New York” (1983), estrelado por George Eastman. Com o cinema italiano entrando em falência, Martino migrou para a televisão onde produz até hoje. A título de curiosidade, para o lançamento de “La Montagna del Dio Cannibale” seu irmão usou o pseudônimo de Darryl F. Zanuch, a picaretagem do cinema italiano tem muito que ensinar ao cinema bom-moço brasileiro.
Nunca fui fã da atriz Ursula Andress (1936), mas neste filme ela está fantástica como a megera branca querendo roubar as riquezas naturais dos povos primatas. Andress é suiça e virou sex symbol depois de ser a primeira Bond girl em “Dr. No/007 Contra o Satânico Dr. No” (1962) de Terence Young. Daí em diante apareceu em inúmeros filmes de Hollywood como “Fun in Acapulco/Seresteiro de Acapulco” (1963) de Richard Thorpe, estrelado por Elvis Presley; “4 for Texas/Os Quatro Heróis do Texas” (1963) de Robert Aldrich, com a lindíssima Anita Ekberg e a dupla de conquistadores baratos Frank Sinatra e Dean Martin; “She” (1965) de Robert Day, uma interessante fantasia sobre uma cidade perdida com produção da Hammer e Peter Cushing batendo ponto no elenco; “What’s New Pussycat/O Que é que Há, Gatinha?” (1965) de Clive Donner com roteiro de Woody Allen e Peter Sellers no elenco; “Soleil Rouge/Sol Vermelho” (1971) de Terence Young, com Charles Bronson e Toshirô Mifune e “Africa Express” (1976) de Michele Lupo até que, acredito eu, deve ter perdido alguma aposta com os irmãos Martino e acabado em “La Montagna del Dio Cannibale”. Depois disso sua carreira de atriz não trouxe nada de relevante (só uma aparição meia boca no engraçado “Clash of the Titans/Fúria de Titãs” (1981) de Desmond Davis, com efeitos de stop motion do mestre Ray Harryhausen.
Já o ator Stacy Keach (1941) saiu do set de “La Montagna del Dio Cannibale” diretamente para o set de “Up in Smoke/Queimando Tudo” (1978) de Lou Adler com a dupla Cheech Marin e Tommy Chong (ele também dá as caras em “Nice Dreams/Altos Sonhos de Cheech e Chong” (1981) de Tommy Chong). Keach apareceu em muito filme bom, como “The Long Riders/Cavalgada dos Proscritos” (1980) de Walter Hill no papel do vilão boa praça Frank James; “Roadgames/Enigma na Estrada” (1981) de Richard Franklin; “Body Bags/Trilogia do Terror” (1993, London Films em DVD) e “Escape From L.A./Fuga de Los Angeles” (1996, Paramount Home Video em DVD), ambos de John Carpenter. Outro ator que merece destaque é Franco Fantasia (1924-2002), que participou de mais de 130 filmes (em “La Montagna del Dio Cannibale” ele, além de atuar, também foi assistente de direção), inúmeras produções que viraram cults nos dias de hoje, como os clássicos “Space Men/Assignment: Outer Space” (1960) de Antonio Margheriti; “Un Dollaro Bucato/O Dólar Furado” (1965) de Giorgio Ferroni; “Justine de Sade” (1972) de Claude Pierson; “Zombie 2” (1979, London Films em DVD); “Mangiati Vivi!/Os Vivos Serão Devorados” (1980) de Umberto Lenzi e “Vendetta del Futuro/Keruak – O Exterminador de Aço” (1986) também de Sergio Martino, em participação não-creditada.
Em tempo, a trilha sonora de “La Montagna del Dio Cannibale” é assinada por Guido e Maurizio de Angelis, os irmãos responsáveis por soundtracks sensacionais para filmaços como “… Continuavano a Chiamarlo Trinità/Trinity Ainda é Meu Nome” (1971, New Line Video em DVD) de Enzo Barboni, estrelado pela genial dupla Bud Spencer e Terence Hill; “Valdez – Il Mezzosangue/Chino” (1973, Studio T Home Video em DVD) de John Sturges e Duilio Coleti, estrelado por Charles Bronson; “Zorro/A Marca do Zorro” (1975) de Duccio Tessari; “Keoma” (1976, USA Filmes em DVD) de Enzo G. Castellari, com Franco Nero; “Killer Fish/O Peixe Assassino” (1979, Abril Video em VHS) de Antonio Margheriti; “Alien 2 – Sulla Terra” (1980) de Ciro Ippolito e “Banana Joe” (1982, Paris Filmes em DVD) de Steno, comédia sobre a burocracia do estado genialmente estrelada por Bud Spencer em grande forma. A dupla trabalhou compondo trilhas para praticamente todos os grandes diretores italianos dos anos 70/80, que iam de Umberto Lenzi, passando por gente como Ruggero Deodato, Sergio Corbucci, Bruno Corbucci, Marino Girolami, Sergio Sollima, até Michele Lupo.
“La Montagna del Dio Cannibale” foi lançado em DVD no Brasil pela Cult Classic em cópia com alguns minutos a mais de Ursula Andress pelada do que a cópia em VHS da distribuidora Pole Vídeo que circulava por aqui antes. Não é o melhor filme do ciclo de filmes de canibais italianos, mas mesmo assim garante momentos de diversão. Obrigatório!
Do dia 01 a 05 de agosto o Itaú Cultural abre seu espaço para a mostra Cinema de Bordas que vai trazer ao público paulista cerca de 23 filmes de realizadores independentes. Cinema de Bordas (ou Cinema de Garage ou Cinema Trash ou Cinema Caseiro, tanto faz, é tudo rótulo bom prás vendas) é o cinema independente brasileiro que faz o tudo com o nada e, na base do improvisso mesmo, mantêm viva a possibilidade do fazer sem ajuda do Estado pai-patrão. Se no cinema independente brasileiro o improvisso é o que mais se destaca, note-se que não é uma opção dos diretores (todos estariam filmando com dinheiro se pudessem), mas sim uma triste realidade deste paisinho dominado por corruptos e ignorantes que não tem investidores financeiros, nem canais de distribuição, para estes filmes realizados aos trancos e barrancos que acabam tendo uma recepção de público mais calorosa do que a maioria das produções profissionais de cinema do Brasil.
Nesta edição destaque para a exibição de “A Maudição da Casa de Vanirim” (nota do Canibuk: Sim, “maudição” escrito assim mesmo!) de Seu Manoelzinho, longa produzido em 1987, em VHS, que estava sendo considerado perdido e que agora, finalmente, terá sua primeira exibição pública. “Vermibus” (2012) de Rubens Mello estará estreiando no evento. Rubens Mello, prá quem não sabe, foi ator em filmaços como “Encarnação do Demônio” (2008) de José Mojica marins, “Ivan” (2011) de Fernando Rick e é um dos organizadores do Guarú Fantástico.
Joel Caetano e sua esposa Mariana Zani estarão ministrando uma oficina sobre como fazer filmes sem grana nenhuma em paralelo ao evento. Antes da mostra, dia 31 de julho, rola um debate no programa de TV Jogo de Idéias com participação de Kika de Oliveira (“Mangue Negro”), Dona Oldina (“Extrema Unção”), Gisele Ferran (“O Doce Avanço da Faca“), Mariana Zani (“Estranha“) e o diretor Seu Manoelzinho.
E o mais lindo desta quarta edição da mostra é que vai rolar o lançamento do terceiro livro sobre realizadores de Cinema de Bordas que é uma fonte de pesquisa sempre bem vinda. Os realizadores independentes brasileiros merecem mais iniciativas como essa.
Um fã ao lado de Seu Manoelzinho (dir.)
PROGRAMAÇÃO
1 de agosto (quarta-feira)
20h– Bate-papo com os curadores Bernadette Lyra, Gelson Santana eLaura Cánepa, seguido de exibição de seleção especial de filmes:
Onde Está Meu Rim?, de Renato Dib (1 min, Manaus, 2010) Roquí Son Contra o Extermínio Ambiental, de Renato Dib (2 min, São Paulo e Manaus, 2012) DR, de Felipe Guerra e Joel Caetano (12 min, Carlos Barbosa e São Paulo, 2012) Vermibus, de Rubens Mello (25 min, Guarulhos, 2012)
2 de agosto (quinta-feira)
18h –Morte e Morte de Johnny Zombie, deGabriel Carneiro (14 min, São Paulo, 2011) Entrega Especial, de Rodrigo Brandão (27 min, Juiz de Fora, 2006) Fatman & Robada, de Rogério Baldino (32 min, Porto Alegre, 1997) Brasil, um País de 5%, de Nerivaldo Ferreira e Johel Alvez Bright (36 min, Rio Real, 2011)
20h –Hipnose Para Leigos, deChico Lacerda (6 min, Recife, 2005) Como Irritar Dandies do Hardcore, de Gurcius Gewdner (16 min, Rio de Janeiro, 2012) Mais Denso que Sangue, de Ian Abé (15 min, Cabaceiras, 2011) Jerônimo, O Herói do Sertão, de David Rangel (32 min, Paty do Alferes, 1996)
Seguido de bate-papo com David Rangel, mediado por Rogério Ferraraz
3 de agosto (sexta-feira)
18h –Antes/Depois, de Christian Caselli (9 min, Rio de Janeiro, 2005) Bastar, de Gustavo Serrate (20 min, Brasília, 2010) Black Power Jones, de Igor Simões Alonso (17 min, Osasco, 2012) O Cabra Bode, de Milton Santos (45 min, Cícero Dantas, 2011)
20h –Necrochorume, de Geisla Fernandes (17 min, São Paulo, 2012) Lua Perversa 2, de André Bozzetto Jr (18 min, Pinhalzinho, 2011) A Lenda da Lagoa Vermelha II − A Vingança, de Eutímio Carvalho (30 min, Cícero Dantas, 2012) A Maudição da Casa de Vanirim, de Manoel Loreno (26 min, Mantenópolis, 1987)
Seguido de bate-papo do público com os curadores e realizadores presentes.
4 de agosto (sábado)
18h –A Lenda da Lagoa Vermelha II, de Eutímio Carvalho (30 min, Cícero Dantas, 2012) Uma Vinchester Para Três Tumbas, de Arlindo Filho (91 min, Presidente Prudente, 2012)
20h –Lua Perversa 2, deAndré Bozzetto (18 min, Pinhalzinho, 2011) Flor de Abril, de Cícero Filho (110 min, São Luiz, 2011)
5 de agosto (domingo)
16h –Jerônimo, O Herói do Sertão, de David Rangel (32 min, Paty do Alferes, 1996) A Maudição da Casa de Vanirim, de Manoel Loreno (26 min, Mantenópolis, 1987) Black Power Jones, de Igor Simões Alonso (30 min, Osasco, 2012) DR, de Felipe Guerra e Joel Caetano (12 min, Carlos Barbosa e São Paulo, 2012)
Seguido de bate-papo entre os curadores e realizadores presentes.
18h – Vermibus, de Rubens Mello (25 min, Guarulhos, 2012) A Noite do Chupacabras, de Rodrigo Aragão (95 min, Guarapari, 2011)
“Torrente – El Brazo Tonto de la Ley” (1998, 97 min.) de Santiago Segura. Com: Santiago Segura, Tony Leblanc, Javier Cámara e Neus Asenti.
“No es Sylvestre Stallone! No es Steven Seagal! Es Santiago Segura!”, assim começava aquele instigante trailer. O ano era 1998 e vivia o impacto do ultra sucesso “Titanic” (1997) de James “Piranha 2” Cameron. Na Espanha o quase desconhecido Santiago Segura lança uma produção de baixo orçamento chamada “Torrente” que causa sensação por seu senso de humor cafajeste descompromissado e lota os cinemas espanhóis desbancando “Titanic” do posto de maior bilheteria na Espanha. Nada mal para um filme que ri dos defeitos do povo espanhol: Torrente é um porco machista de extrema direita, racista, homofóbico, fascista fã do general Franco e anti-comunista, um cidadão comum da nova Europa miserável assolada pela crise financeira. Na época, assim que “Torrente” foi lançado, fiz contato com amigos fanzineiros espanhóis e consegui uma cópia em VHS Pal Europeu, transcodificamos a fita prá VHS NTSC e pude me deleitar com as palhaçadas de Santiago Segura (eu já era fã dele por sua atuação no clássico “El Día de la Bestia” e seu “Perturbado”, um curta imperdível). “Torrente” já teve três seqüências, todas dirigidas, escritas e estreladas por Segura e tão divertidas quanto o filme de estréia.
Em “Torrente – El Brazo Tonto de la Ley”, somos introduzidos no mundo dos maus hábitos de José Luis Torrente, um gordo feio e careca que sonha em ser policial nas periferias de Madrid para combater traficantes e imigrantes ilegais. Sem escrúpulos, Torrente usa seu pai – que está numa cadeira de rodas – para conseguir dinheiro de esmolas, até o dia que Amparito (Neus Asenti) vem morar na vizinhança de Torrente, que fará de tudo para impressioná-la e garantir uma boa foda. Paralelo às suas grossas tentativas de conquistar a garota, Torrente reune um grupo de nerds fracassados – de quem ele tira dinheiro com a desculpa de que os está ensinando – e tenta prender/roubar os traficantes de droga que operam no restaurante chinês do bairro. Com uma produção de poucos recursos Santiago Segura se armou de um roteiro cheio de boas piadas, doses cavalares de humor negro incorreto e tiradas geniais que não se via mais no cinema mundial. Como curiosidade, o título deste primeiro filme é uma paródia com o título espanhol de “Cobra”, estrelado por Sylvestre Stallone, que lá tinha o subtítulo “El Brazo Fuerte de la Ley”.
“Torrente 2 – Missión en Marbella” (2001, 99 min.) é novamente escrito, dirigido e interpretado por Santiago Segura, agora munido de uma produção mais bem cuidada (ter dinheiro para fazer um filme não é tudo, mas que ajuda, isso ajuda!) e com muito mais ação. Como Torrente ficou rico (com dinheiro roubado dos traficantes) na primeira parte, agora ele mora em Marbella onde gasta rapidamente tudo em putas e casas de jogos. Sem dinheiro e sem mulheres, Torrente abre uma agência de investigação particular e se diverte fotografando e chantageando seus clientes. Sem perceber ele se envolve numa trama onde um terrorista planeja destruir a cidade se não for pago pela prefeitura de Marbella e numa de suas andanças por puteiros arranja confusão no estabelecimento de um criminoso que se revela seu tio (que depois descobrimos ser o verdadeiro pai de Torrente, novamente interpretado pelo lendário Tony Leblanc) e a conclusão da trama é uma das mais cretinas possíveis, com cada um por si e Torrente por ninguém mais que si. Um dos encantos desta segunda parte é seu humor grosso envolvendo muitas piadas familiares, Segura sabe como poucos como avacalhar o cidadão comum espanhol, a tradição familiar e seu respeito ao estado e a fé católica. O filme contabilizou mais de 5 milhões de espectadores.
Como Torrente virou herói nacional na segunda parte dos filmes, em “Torrente 3 – El Protector” (2005, 91 min.) ele é chamado pelo governo espanhol para ser o guarda-costas pessoal da gostosa deputada italiana Giannina Ricci (Yvonne Scio) que já havia sido vítima de vários atentados. Lógico que Torrente acredita cegamente que a deputada está apaixonada por ele e quer noitadas de sexo selvagem com nosso gordinho fascista. Nesta terceira parte da série, Segura escreveu um roteiro redondinho com o humor negro em sua plenitude, os testes que Torrente realiza com um grupo de vagabundos improvissados como policiais rendem ótimos momentos e sua obsessão pelo cantor El Fary atinge o âpice. Há, ainda, ótimas cenas de ação que Santiago Segura soube dosar muito bem com o humor do filme, tudo aqui é feito para resultar em gargalhadas. O filme fecha como uma ótima piada envolvendo Bush, o então presidente dos USA na época. E para nossa surpresa diretores como John Landis e Oliver Stone fazem participações especiais nesta terceira parte que arrecadou mais de 18 milhões de euros.
Já em “Torrente 4 – Lethal Crisis” (2011, 93 min.) o imbecil policial eternamente corruptível tenta enfrentar a crise européia comendo comida dos lixos das ruas e explorando imigrantes ilegais (ele subloca seu apartamento para mais de 30 latinos que estão ilegalmente em Madrid sob ameaças de deportação). A chance de ganhar uma boa grana surge quando Torrente é contratado para assassinar um homem. Depois de tentar terceirizar o serviço, o preguiçoso agente da lei precisa executar o serviço com as próprias mãos. Quando entra na casa de seu alvo, percebe que foi vítima de uma armação e é preso, indo para uma penitenciária onde comandará uma atrapalhada fuga de prisioneiros durante um jogo de futebol. Uma vez fora da cadeia, Torrente vai à um puteiro para comer putas e pensar num modo de limpar seu nome. Essa quarta, e por enquanto última, parte traz um Torrente muito parecido com os policiais da Polícia Federal Brasileira, ou seja, agentes da lei sempre querendo tirar vantagem em tudo, custe o que custar.
Sem nunca perder o pique, a série “Torrente” é fruto da imaginação do diretor, produtor, roteirista e ator Santiago Segura. Nascido em Madrid em julho de 1965, resolveu que queria ser cineasta quando dirigiu a produção amadora em vídeo “Relatos de la Medianoche” (1989) que já trazia várias características de sua obra, como o senso de humor negro. Este filme custou o equivalente à 50 dólares e abriu as portas para seu primeiro curta-metragem profissional, “Evilio” (1992), onde interpretou um psicopata imbecil com algumas boas cenas gore. Em seguida dirigiu seu primeiro grande clássico, o curta “Perturbado” (1993) onde interpreta o perturbado do título, revelando-se como o grande humorista que é. “Perturbado” merecia virar um longa-metragem. Antes de acertar em cheio com “Torrente” ainda fez o fraco “Evilio Vuelve (O Purificador)” (1994). Santiago Segura também fundou a produtora Amiguetes Entertainment que já produziu pequenos bons filmes, como “Asesino en Serio/Assassinato em Série” (2002, Europa Filmes) de Antonio Urrutia, uma debochada história do psicopata que matava mulheres através do orgasmo onde Santiago interpreta um padre filho da puta; “Una de Zombis” (2003) de Miguel Ángel Lamata, onde a trama se passa nas dependências da própria produtora Amiguetes, com Segura no papel de um produtor assediado pelas mulheres que sonham em fazer sucesso no cinema; “Promedio Rojo” (2004) de Nicolás López sobre um nerd fã de Robert Rodrigues; a comédia maluca “El Asombroso Mundo de Borjamari y Pocholo” (2004) de Juan Cavestany e Enrique López Lavigne, onde Segura interpreta Borjamari; “La Máquina de Bailar” (2006) de Óscar Aibar e “Tensión Sexual no Resuelta” (2010) de Miguel Ángel Lamata, onde o amor se torna uma arma de destruição em massa.
Como ator já participou de mais de 70 filmes, com destaque para suas parcerias com o genial diretor Álex de la Iglesia, para quem emprestou seus talentos cômicos em filmes como “Acción Mutante” (1993); “El Día de la Bestia” (1995), onde se imortalizou no papel do metaleiro retardado José Maria; “Perdita Durango” (1997); “Muertos de Risa” (1999), onde interpretou um comediante psicopata e no “Balada Triste de Trompeta” (2010), uma espécie de reciclagem chapada de ácido da idéia apresentada em “Muertos de Risa”. Também teve papel de destaque em “Killer Barbys” (1996) de Jesus Franco; “Chica de Río/A Garota do Rio” (2001) de Christopher Monger, que foi filmado no Rio de Janeiro e a única coisa que presta é Santiago Segura no papel de um taxista brasileiro; “Beyond Re-Animator” (2003) de Brian Yuzna, onde deu as caras na pele de uma personagem chamada “Speedball” ao lado do ator cult Jeffrey Combs. Eventualmente Santiago Segura aparece em pequeno papéis em filmes de Hollywood, como nas mega bombas “Blade 2”, “Hellboy 1 e 2”, “Agent Cody Banks 2”, entre outras tralhas. Não percam de vista este genial realizador espanhol.
A idéia para o primeiro filme veio enquanto Santiago trabalhava em “El Día de la Bestia”. Um dia, ao almoçar num restaurante chinês, o diretor/ator presenciou um homem sendo extremamente estúpido e grosso com uma garçonete e seu cérebro fervilhou de idéias e possibilidades para seu primeiro longa. Revivendo a comédia popular (sim, a comédia de gente genial como Bud Spencer/Terence Hill ou Os Trapalhões faz falta), Segura acertou em cheio – mesmo que sem querer – no que o público espanhol queria ver. Devido ao sucesso de público, ainda em 1998, foi lançada uma versão em quadrinhos do filme com desenhos de José Antonio Calvo publicada na revista “El Víbora”. Em 2001 a Virtual Toys lançou o jogo para PC “Torrente: El Juego”. Em 2005 a Virgin Play lançou outro jogo, desta vez para PlayStation 2, baseado na terceira parte da série intitulado, justamente, “Torrente 3: The Protector”. Correm boatos de que a New Line Cinema pode adaptar “Torrente” para o mercado americano em refilmagem que seria estrelada por Sacha Baron Cohen, mas espero que essa palhaçada fique somente nos boatos. O crítico Luis Garcia Berlanga afirmou, certa vez, sobre a primeira parte de Torrente: “O filme contém uma gag genial que define com perfeição o caráter espanhol: apoiando-se no bar, Torrente palita os dentes!”.
Neste ano de 2012 a distribuidora Paris Filmes lançou as três seqüências de “Torrente” em DVD, mas lógico que tudo sem material extra e com o pecado mortal de não ter disponibilizado o primeiro filme da série. Que venha “Torrente 5”, como fã fanático de Santiago Segura e sua estúpida maravilhosa série, fico no aguardo ansioso por mais uma desventura do gordo policial de extrema direita sem noção de nada.
por Petter Baiestorf.
Assista aqui “Torrente – El Brazo Tonto de la Ley”:
Com a proximidade do Guarú Fantástico resolvi postar aqui o roteiro de “Ninguém Deve Morrer”, western musical que escrevi/produzi/dirigi em 2009 e que ganhou no Guarú prêmio de melhor direção, produção e edição pelo voto popular. “Ninguém Deve Morrer” teria sido um filme bem ruim se numa das minhas conversas com a Leyla Buk ela não tivesse me enviado a música “Porque Brigamos?” de Diana e essa música deu um estalo do que eu precisama fazer prá transformar uma idéia de jerico em algo, no mínimo divertido. Ao fazer um filme minha primeira preocupação é a de divertir quem for ver o filme, acho que por isso dificilmente vocês verão um filme de Petter Baiestorf metido a sério, pois eu realmente não curto filmes metidos à sério. Aliás, como eu adorei a experiência de produzir um musical, é mais fácil eu fazer outro novo musical, a idéia me persegue desde 1996 quando falhei tentando realizar o muito ruim “Caquinha Superstar a Go-Go” como musical.
Segue o que teria sido o segundo roteiro (a primeira idéia do que seria um projeto chamado “Ninguém Deve Morrer” é outro argumento, mas como é algo que ainda quero filmar não vou colocar a idéia aqui), antes de incluir a estética musical no projeto:
Tela escura com créditos: CANIBAL FILMES & BULHORGIA PRODUÇÕES apresentam.
Tela escura com créditos: UM FILME DE PETTER BAIESTORF.
Seq. 01 – estrada seca com pedras (Rancho baiestorf)/ Dia – Sol intenso.
Música:
Cena:
Câmera estática mostrando pedras e sol, respinga sangue, muito sangue sobre as pedras, personagem solta grito abafado, escuta-se um corpo caindo. Outro personagem está gemendo, nota-se pelo som que está ferido, câmera se ergue um pouco e consegue pegar o Ninguém caindo contra o barranco do local da luta com a barriga aberta por um faconaço, pedaços de tripas são vistas na tela entre os dedos da personagem. Câmera se aproxima do rosto suado em agonia e dor, permanece por alguns segundos sobre ele.
Personagem recoloca suas tripas para dentro, com um pedaço de arame retirado de seu bolso e um barbante de amarar fumo ele se costura. Closes explícitos nessa operação. Estando pronto ele pega seu facão e se levanta olhando para o cadáver ensangüentado ao seu lado.
E sai cambaleante pela estrada de pedras determinado na sua sede de vingança.
Câmera colocada rente ao chão, em primeiro plano os pés com tripas do morto e em segundo plano, se distanciando, a personagem sem nome cambaleante.
Ninguém segue cambaleante (ao ritmo da música) pela estrada, segurando suas tripas e deixando pedaços caídos pela estrada.
Closes em seu rosto suado nojento.
Closes em seu estômago arregaçado com moscas dançarinas ao redor.
Closes em pedaços de tripas que por ventura caírem na estrada.
Respingos de sangue pelo chão.
Ninguém para sua caminhada, câmera caminha em direção ao personagem, enquadra seu rosto na tela.
VOZ em off de NINGUÉM: “Eu sinto um gosto de sangue em minha boca… Somente a vingança saciará minha sede de violência!!!”
Depois de sair cambaleando de novo, corte brusco para câmera caída no chão, por trás de pedras, como uma visão voierística dos espectadores filhos da puta.
Ninguém cambaleante para novamente, olha fixo para o nada em direção ao céu, se ajoelha (mais caindo pela dor do que por querer se ajoelhar)…
aparição da NOSSA SENHORA APARECIDA (aqui chamada de Circe Circense)… (Filmar em separado essa joça).
Ninguém esfrega os olhos, não acredita em sua aparição, era Ateu.
Câmera permanece enquadrando meio Ninguém por um bom tempo
VOZ em off de NINGUÉM: “Puta que o pariu, assim não dá, preciso de um trago!!!… Preciso matar meia dúzia de cristão filho da puta!!!… Preciso sentir meu facão rasgando a carne desses filhos duma égua!!!”
Ninguém se levanta e continua sua caminhada cambaleante.
Câmera do alto de uma colina mostrando Ninguém na estrada caminhando, um corpo de pobre entra na visão da câmera, carregava uma foice, sai em direção à Ninguém com rapidez…
Seq. 04 – Estrada seca – canavial (rancho baiestorf/dia do jeito que estiver
Musica:
Cenas:
Câmera em close no rosto de Ninguém, afasta-se para registrar o Colono da foice chegando por trás e dando o golpe. Ninguém cai ao chão…
Colono com foice parado (filma-lo meio de lado, com tripé).
Close no sangue escorrendo pela foice.
Ninguém coloca sua mão nas costas e olha para seus dedos. CLOSE nos dedos ensangüentados. Ele se levanta apoiando-se em seu facão.
Os dois estão se estudando (ao fundo se vê um canavial).
ENXERTO: da Circe Circense-nossa senhora olhando de longe a briga…
Ninguém parte para cima do colono e acerta o primeiro faconaço (Se eles não conseguirem lutar, filmar de longe alternando planos bem fechados e editar a porqueira do jeito que der e foda-se).
Colono cai ao chão com sua tripas meio que vazando do peito (isso mesmo mane, do peito né!!!), fica ajoelhado de costas pro Ninguém, que se aproxima dele e com o facão corta a jugular do colono fazendo o sangue respingar bonito.
Colono fica com as mãos no pescoço enquanto o sangue verte grosso.
Plano aberto dele se levantando e saindo com as mãos no pescoço em direção ao canavial, entra no canavial e Ninguém entra logo atrás. Arranca e come o olho do Colon0.
Ver qual que é do canavial e bolar uma perseguição meio comprida dentro do canavial.
Câmera na mão o tempo todo, closes nas feridas, expressões de medo, pavor, etc…
ENXERTOS ALEATÓRIOS da Circe Circense
Terminar essa desgraça de cena com Ninguém Dando várias faconaços no Colono dentro do canavial. Colono não morre. Ninguém sai do canavial em direção a old house.
Seq. 05 – Casa Velha do Blerghhh/ dia
Música:
Cenas:
Câmera filma de longe Ninguém vindo em direção a casa onde filmamos o Blerghhh (desta vez filmada do lado da árvore grande).
Câmera na mão caminhando junto do Ninguém, ele para…
ENXERTO de Circe Circense sentada ao lado da casa…
Close do rosto de Ninguém.
Casa sem Circe – Nossa Senhora…
Ninguém caminha até a casa, encontra cachaça e bebe generosos goles.
Ninguém senta-se na sujeira, limpa seu rosto suado/ensangüentado…
Câmera sai caminhando de Ninguém, mostrando o chão, depois erguendo à altura de um metro e sessenta até chegar e enquadrar um cabeludo metaleiro futurista decadente mendigo portando uma motosserra já ligada sobre sua cabeça. Imitando um viking o Cabeludo grita e sai correndo em direção a casa velha, câmera tenta acompanha-lo… Tremedeira do caralho, barulho da motosserra, copada das árvores, correria, gritos, essas porras prá editar depois…
Corta para Ninguém se levantando rápido, se desviando do ataque.
Close na parte da serra da motosserra entrando com fúria dentro de uma madeira.
Ninguém ergue o facão e acerta nas costas do cabeludo (agora tipo facada, tem de arrumar uma cabo de facão para prender nas costas do cabeludos).
Close no rosto do cabeludo que grita de dor largando a motosserra ligada para tentar inutilmente tentar tirar o facão de suas costas.
Cabeludo se afasta um pouco.
Ninguém fica olhando-o.
Cabeludo tentando tirar o facão.
Ninguém pega a motosserra e parte contra o cabeludo.
Closes de muito sangue, motosserra penetrando o corpo do cabeludo (ver manequim ou algo assim vestido com a roupa do cabeludo), tripas e sangue a rodo, muito.
Closes no cabeludo gritando com muito sangue contra ele.
Closes no Ninguém com baldes e baldes de sangue contra ele.
TRABALHAR ESSA CENA TODA NO TRIPÉ
Terminar com o cabeludo desmembrado caindo no chão entre tripas e seus membros decepados. Mesmo depois de morto Ninguém continua a violência contra o corpo.
Um enxame de moscas pousando no corpo do cabeludo para deliciarem com as imundices.
Ninguém larga a motosserra, pega seu facão retirando-o das costas do cabeludo morto e caminha entre as árvores…
XXXXXXXXXXXX (fim do primeiro final de semana de filmagens)
Seq. 06 – rancho baiestorf/qualquer lugar
Música:
Cenas:
Ninguém para ao lado de uma árvore, senta-se contra ela, olha fixo para sua visão santa
Plano médio da Circe-Nossa Senhora olhando para Ninguém, ela começa a caminhar em direção ao moribundo. Ao lado de Ninguém um batedor de terra de construção.
Plano aberto de longe mostrando a Circe/Nossa Senhora chegando próximo à Ninguém, parando em frente dele.
Fechado em Ninguém se abraçando à Nossa Senhora, abraçando-a toda nas pernas, ele olha para cima.
Close no rosto dela olhando-o.
Plano aberto com os dois, a mão de Ninguém larga o facão e desliza para baixo do vestido/pano extravagante da Nossa Senhora esfregando e apalpando as coxas dela.
Ninguém agarra a Nossa senhora e a puxa para si, fazendo-a sentar em seu colo.
Close em Ninguém babando sua taradice.
Esfrega sua mão (por baixo do vestido) no ventre de Nossa Senhora, fazendo-a ofegar meio assustada.
Mão esquerda aperta os seios de Nossa Senhora, abrindo o pano ele aperta os bicos do seio da Nossa Senhora…
Ninguém se levanta e abre seu zíper.
Close na Nossa Senhora olhando-o séria.
Ninguém puxa o rosto da Nossa Senhora contra seu ventre.
Close em Nossa Senhora abrindo a boca.
Close no rosto de Ninguém sentindo prazer.
Plano médio com a Nossa Senhora ajoelhada na frente de Ninguém simulando um boquete.
Close no rosto de Ninguém que goza de prazer.
Durante o Gozo suas mãos apertam com força a cabeça de Nossa Senhora contra seu ventre.
Plano médio com Nossa Senhora se afastando do ventre de Ninguém.
Close no rosto de Nossa Senhora, de sua boca escorre esperma (Souza, arranjar alguma coisa com cor e consistência de porra) pelo canto da boca…
NOSSA SENHORA: Você não devia ter feito isso!!!
NINGUÉM: Porque não vagabunda???
NOSSA SENHORA: Porque eu vim à Terra para anunciar que você é o novo profeta e será sacrificado pelos homens…
Ninguém Gruda um tapão no rosto dela derrubando-a no chão.
Plano aberto dos dois, ele ergue o vestido dela, arranca as calcinhas e enraba a Nossa Senhora.
Nossa senhora grita de dor.
Sangue escorre pelas pernas de Nossa Senhora.
Plano fechado no rosto de Nossa Senhora e Ninguém por trás estuprando-a…
NINGUÉM: Sempre quis comer uma santinha!!!
NOSSA SENHORA: Isso não irá mudar em nada a profecia… (neste momento ela solta um suspiro de prazer)… Aí desgraçado… Faz Dois mil anos que ninguém me come direito… hãããããããããã…
Ninguém Goza pela segunda vez, deita-se ao lado dela…
NINGUÉM: Na verdade eu odeio Santas…
NOSSA SENHORA: Eu não sou santa, eu sou a Nossa Senhora, mãe, irmã, amante do escolhido… (diz isso com um sorriso de satisfação nos olhos)
NINGUÉM: Sério vadia ??? … Me chupa de novo então… (e puxa com sua mãos ela em direção ao ventre)…
Nossa Senhora lambe sua barriga, passa a língua pela pele, chupa seus pelos em close (de maneira erótica, com pouco de cuspe), até chegar ao ventre…
Ninguém segura-as pela cabeça, apertando-a contra seu ventre, delirava de prazer…
Close em Ninguém, que de repente grita de dor.
Sangue espirra de seu ventre.
Nossa Senhora ergue a cabeça com o pênis amputado dentro da boca, sangue escorre pelos lábios.
Ninguém segura seu ventre decepado/inutilzado…
Gritando de dor se levanta e pega o batedor de chão de construções e ataca a Nossa Senhora batendo com vontade nela.
Muito sangue contra ele, exagerar o máximo possível que pudermos.
Closes de Nossa Senhora gritando de dor diante das porradas que levava com o batedor de terra.
Sangue, muito sangue espirrando para todos os lados, tripas e amontoados de melecas, violência até sobrar apenas as vestimentas dela completamente ensangüentadas com carne esmigalhada e merda para todos os lados.
Ninguém tinha muito sangue em suas calças saídas de seu ventre agora sem pênis…
Pega seu facão e sai dali…
Seq. 07 – créditos:
Música:
‘NINGUÉM DEVE MORRER’
Seq. 08 – qualquer lugar.
MúSica:
Cenas:
Um ferro em brasa contra uma ferida em carne viva.
Plano aberto para ninguém largando o ferro quente ao chão, de seu ventre saia uma fumaça com cheiro de queijo mofado com cobertura de morangos silvestres batidos com açúcar caramelizado.
Ninguém bebe generosos goles de cachaça.
Ninguém estava ensandecido, sai caminhando com muita raiva.
XXXXXXXXXXXXX
Primeiro dia de filmagens com:
Coffin Souza (Ninguém)
Primeiro Morto (Cláudio Baiestorf)
Colono com Foice (Elio Copini)
Cabeludo da Motoserra (Petter Baiestorf)
Neste ponto eu já havia desistido de escrever essa porcaria de roteiro que, com certeza, não iria prá lugar algum. Quando desisti deste roteiro que aconteceu da Leyla Buk me enviar a música que deu estalo na cabeça, faíscas explodiram os neurônios, tudo pegou fogo e ficou claro na cabeça como eu deveria fazer o filme. Segue o roteiro oficial de “Ninguém Deve Morrer”:
Seq. 01 – Dia/Mato Rancho Baiestorf
Música:
Elenco:
Cenas: Artista plástico Uzi Uschi apresenta para câmera sua nova intervenção anti-carros na natureza.
UZI USCHI: Meu nome é Uzi Uschi e estou aqui hoje para organizar os carros anti-frutos, um protesto anti-carros, essas caixas de poluição ambulantes que acredito que deveriam ser exterminadas do Planeta Terra enquanto ainda temos planeta.
Usando roldanas, o carro (carcaça batida) é levantado numa árvore e colocado ali como um fruto do progresso em uma árvore da natureza e esse blá blá blá de sempre. Alguém vestido de modo extravagante é parte da intervenção tendo que segurar a corda do carro.
Câmera perto do rosto de Uzi Uschi (em primeiro plano), com carro pendurado ao fundo.
UZI USCHI: Esta caixa de poluição ambulante agora oprime essa árvore. Esta caixa de poluição ambulante é um peso para esta árvore e para todo o globo terrestre. Esta caixa de poluição ambulante que você transformou em um altar do progresso precisa ser modificada… (Câmera começa a se afastar)… Ei, prá onde você está indo… Volte aqui, volte aqui que ainda não terminei minha explanação contra o uso dos carros, tenho mais coisas para falar… Volte aqui!!!!… Porra, sempre assim, quando se fala do problema das caixas de poluição ambulante ninguém quer ouvir, ninguém se importa…
E a câmera chega até o lugar onde Olga está sentada com Ninguém numa mesa. Olga chorando.
Seq. 02 – Noite/Pátio da casa do Blerghhh/Rancho Baiestorf
Música: BARROS DE ALENCAR – “Prometemos não Chorar”.
Elenco:
Cenas: Elaborar a cena como um vídeo clip prá música “Prometemos não chorar” de Barros de Alencar. Decupar todos os ângulos desta cena em separado. Usando NINGUÉM, Olga (mulher de Ninguém), 3 caras travestidos para fazer o backing vocal da música + um Garçon. Este cenário é composto de duas cadeiras e uma mesa de bar somente. Minimalismo total. Cenário sem cenário.
Terminar a cena com Ninguém saindo do Bar. Olga fica na mesa chorando com as mãos no rosto, desesperado porque perdeu seu grande e único amor.
Seq. 03 – Dia/ Mangueira
Música:
Elenco:
Cenas: Ninguém chega até na mangueira onde a equipe-técnica de filmagens do Coronel Bajon o aguardava (coronel, operador de câmera S-8, iluminador com rebatedor, boizinho).
Travelling até rosto do Coronel Bajon.
CORONEL BAJON: Porra Ninguém, onde tu tava? Estamos aqui te esperando prá filmar!!!
NINGUÉM: “Eu estou cansado (pausa), vamos falar sobre isso amanhã!”*
CORONEL BAJON: Tudo bem, preparem o boi e vamos filmar.
Equipe começa a filmar. Ninguém começa a passar a mão no boi. Mão dando a impressão que vai descer até no pau do boi.
Alternar closes do Coronel dirigindo e da equipe filmando.
Ninguém para a ação no meio e se levanta olhando para o Coronel.
CORONEL BAJON: Porra, quem mandou parar seu viado!!!
NINGUÉM: “Vá pro inferno!”*
CORONEL BAJON: O que? Perdeu a cabeça, tá me desrespeitando??? Faz o que eu mandei!!!
NINGUÉM: “Seu Canalha!”*
E começa a chutar e a bater no Coronel que caí no Chão. Derruba os técnicos também e saí correndo d’onde estava.
Coronel se levanta limpando o sangue que saia de sua boca.
CORONEL BAJON: Sinto um gosto de sangue em minha boca!!!… (pega no ombro do iluminador)… Chame o Vieira… Esse puto vai levar chumbo quente no rabo!!!
Câmera permanece tempinho no rosto em close do Coronel Bajon.
Seq. 04- Créditos Iniciais/pintados.
Música:
Cenas: Pinturas da Leyla com desenhos de pistoleiros atirando e morrendo (enviar antes, prá ela, personagens caracterizados prá ela se basear) com os nomes:
PINTURA UM: Canibal Filmes e Bulhorgia Produções apresentam: (FUNDO VERMELHO COM DOIS PISTOLEIRO PRONTOS PRÁ SACAR AS ARMAS, UM OLHANDO PRO OUTRO, CENA CLÁSSICA DE DUELO, COLOCAR SOM DO TIRO QUANDO SACAR A ARMA DE UMA SEQUENCIA PRÁ OUTRA, NO CORTE DAS IMAGENS).
PINTURA DOIS: NINGUÉM DEVE MORRER (FUNDO VERMELHO COM UM DOS PISTOLEIROS COM MÃO SOBRE ESTOMÂGO, FERIDO, CAMBALEANDO PRÁ CAIR, COM SOM DE ALGUÉM FERIDO JUNTO DA MÚSICA).
PINTURA TRÊS: roteiro, produção e direção: Petter Baiestorf (FUNDO VERMELHO COM O PISTOLEIRO MORTO DEITADO ESTILO MORTO COM MÃOS CRUZADAS SOBRE PEITO COM UMA FLOR BRANCA SAINDO DE SUAS MÃOS).
Seq. 05 – Noite/casebre beira de rio/puteiro.
Músicas: DIANA – “Porque Brigamos?”
Elenco:
Cenas: Ajeitar aquele casebre como se parecesse uma casa pobre de ninguém e Olga. Uma rede de dormir à vista, fogo no fogão com fumaça, etc…
Olga sozinha, pós briga no bar, canta de maneira bem brega a música “Por Que Brigamos?” de Diana.
Alternar com Ninguém correndo pelo campo, Coronel Bajon mandando o iluminador ir buscar os capatazes (decidir se no puteiro).
Terminar a cantoria com Olga ainda em casa, Ninguém correndo pelo potreiro que dá prá casa de Olga e os Capatazes chegando na mangueira set de filmagem do Coronel Bajon.
O GRUPO DE CAPATAZES ENCONTRA FRAGA APÓS A MÚSICA TER TERMINADO, METROS ANTES DA MANGUEIRA, SEGUE ESTE DIÁLOGO E PÓS O DIÁLOGO ELES VÃO ATÉ O CORONEL BAJON COMO DESCRITO NA PRÓXIMA SEQÜÊNCIA:
VIEIRA: “Esporro-me todo ao vê-lo!”*
FRAGA: “Satisfação prá caralho!”*
Seq. 06 – Dia/mangueira.
Música:
Elenco:
Cenas: Capatazes chegando junto do Coronel Bajon e do operador de câmera. (Tony) Vieira (magrela afeminado com visual pós-punk feito por garota), (ody) Fraga (cara grande estilo gigôlo anos 70), (ozualdo) Candeias (colonão com capim na boca) e (Francisco) Cavalcanti (pistoleiro estilo gaúcho) + o iluminador.
CORONEL BAJON: Mil reais pela cabeça de Ninguém!!!
VIEIRA: “O Negócio é provocar uma confusão e pegar ele de calça curta!”*
FRAGA: “Deixa com a gente que não tem Xabu!”*
ILUMINADOR: “Vamos embora… Mas não me comprometa, meu negócio é outro!!!”*
CORONEL BAJON: Vivo ou morto!!!
CANDEIAS: “Cortar a garganta de uma garotinha é como cortar manteiga quente!”*
VIEIRA: “Ele Vai queimar no fogo do inferno quando eu acabar!”*
CAVALCANTI: “E você acredita que ele nos vá criar qualquer problema!”*
CORONEL BAJON: Vai criar problema nenhum… Matem o desgraçado!!!
Todos os capatazes (incluindo o Iluminador) montam em seus cavalos imaginários (DUBLAR AQUI CAVALOS) e saem dali em cavalgada.
Seq. 07 – dia/casebre beira do rio
Música:
Elenco:
Cenas: Ninguém abraçado de modo clássico em filme de westerns com Olga.
NINGUÉM: “Tenho que cumprir meu destino!”*
OLGA: “Não vá, pode ser perigoso!”*
Ninguém pega sua espingarda e seu facão. Sobre em seu cavalo.
NINGUÉM: “Tchau querida!… Tchau amor!”*
E sai galopando com seu cavalo imaginário também.
Câmera se volta prá Olga.
OLGA: “Ai eu to tão nervosa, eu quero um sorvete!”*
E fica abanando em despedida ao seu grande amor.
Seq. 08 – dia/mangueira
Música:
Elenco:
Cenas: Coronel Bajon e o operador de câmera abrem um isopor de cerveja e começam a beber algumas.
CORONEL BAJON: O negócio agora é esperar pela vingança bebendo uma cervejinha!!!”
OPERADOR DE CÂMERA: “É Vivendo que se aprende!”*
E mete o gargalo da cerveja goela abaixo.
Seq. 09 – Noite/casebre beira do rio.
Música: ADILSON RAMOS – “Olga”.
Elenco:
Cenas:
Os capatazes chegam até a casa de Olga que estava parada olhando-os chegar.
Todos param de frente prá ela, descem dos cavalos imaginários. Empunham seus facões.
Vieira chega próximo de Olga.
VIEIRA: “Eu tenho uma coisa prá dar prá você que vai gostar!”*
OLGA: “Sai da minha casa!”
VIEIRA: “Onde está seu amigo?… Eu perguntei prá onde ele foi!”* (e já dá uns tapas fazendo Olga cair).
Olga em primeiro plano. Vieira caminha até ela e a pega pelos cabelos. Filete de sangue escorre da boca dela.
VIEIRA: “Vamos, seja boazinha!!!”*
OLGA: “E daí?… Sou mulher até debaixo d’água, rola prá mim tem que ser por metro!!!”*
FRAGA: “Caralho!”*
VIEIRA: “Vou te mandar prá puta que te pariu!” (risadas e todos os capatazes sacam seus facões) e começam a chutar e a bater nela com eles.
CORTA PRÁ NINGUÉM SOBRE SEU CAVALO IMAGINÁRIO QUE COMEÇA A CANTAR “Olga” de Adilson Ramos.
NÃO ESQUECER DO TRIO DE DRAG QUEENS AQUI PRÁ FAZER BAKING VOCAL DA MÚSICA, ESTARÃO NO CENÁRIO QUE NINGUÉM ESTÁ E TAMBÉM NO CENÁRIO EM QUE OCORRE O ESPANCAMENTO.
Alternar Ninguém cantando “Olga” com Olga apanhando dos capatazes, elaborar chutes, faconaços, etc… tudo com cortes bem rápidos.
Ao encerrar a música os capatazes deixam Olga caída no chão cheia de cortes e sangrando. Montam em seus cavalos imaginários e saem cavalgando em linha reta, e logo alguns metros mais a frente começam a se separar em direções contrárias.
A Música “Olga” servirá de trilha pro espancamento e para mostrar o quanto Ninguém ainda amava sua mulher.
Seq. 10 – dia/potreiro estilo pampas.
Música:
Elenco:
Cenas: Ninguém tomando seu chimarrão. Estava sentado sobre pedras. Quando o chimarrão roca anunciando seu final, ele o coloca de lado. Pega sua espingarda e começa a acaricia-la. Coloca-a entre suas pernas e começa a masturbar o canos da espingarda até o jorro de um líquido branco acontecer de maneira inesperada.
Era ninguém mostrando ao público sua intimidade com suas armas.
Seq. 11 – dia/casebre de beira do rio
Música:
Elenco:
Cenas: Puta encontra Olga no casebre toda ensaguentada, coloca-a de pé e deixando que ela se apóie em seu ombro, leva-a consigo.
(TALVEZ EDITAR ESSA CENA COM MENOS QUADROS POR SEGUNDO PRÁ DIALOGAR COM CINEMA MUDO).
Seq. 12 – dia/potreiro estilo pampas.
Música:
Elenco:
Cenas: Ninguém escuta o relinchar e cavalo e pega sua espingarda. Caminha até atrás de uma grande pedra.
Vê o iluminador bebendo água agachado num riozinho. Ninguém faz mira (câmera subjetiva mostrando o tiro) e mata o iluminador com um tiro certeiro pelas costas. O Iluminador cai ensangüentado e já morto dentro do rio. Fica boiando.
Close no iluminador morto dentro do rio. Ninguém se levanta de trás das pedras e volta para se acampamento e sobe sobre seu cavalo imaginário e se manda dali.
(TALVEZ EDITAR ESSA CENA COM MENOS QUADROS POR SEGUNDO PRÁ DIALOGAR COM CINEMA).
Seq. 13 – dia/potreiro estilo pampas.
Música:
Elenco:
Cenas: Vieira encontra o iluminador morto na água, puxa-o para fora da água e revista os bolsos do iluminador tirando as moedas que ele trazia no bolso.
Termina de roubar os pertences do iluminador e acende um cigarro quando os outros capatazes (Fraga, Candeias, Cavalcanti) chegam ali também fazendo barulho com seu cavalos imaginários.
Close no rosto do iluminador, que abre os olhos e diz:
ILUMINADOR: “Me enterre, não me deixe pros animais!”*
VIEIRA: “Queres tomar no cú outra vez?”*
E Vieira mete o dedo dentro do ferimento do tiro na garganta do iluminador…
VIEIRA: “Negócio é o seguinte meu irmão, o dono do pedaço aqui sou eu, falou!”*
FRAGA: “Mas é claro, eu sou esperto!”*
VIEIRA: “Vamos!”*
E todos eles saem com seus cavalos. Câmera tendo em primeiro plano o rosto morto do iluminador.
Seq. 14 – dia/puteiro
Música:
Elenco: Cenas: Capatazes chegam no puteiro e começam a barbarizar as quatro putas mais Olga enfaixada sobre uma cama. Cada capataz com suas taras que não são sexuais.
Vieira molesta sexualmente com uma banana Olga enfaixada. Pouco antes ele obriga Olga a se ajoelhar e limpar seus sapatos com um lenço onde ele cuspiu.
Fraga derruba outra puta contra uma cama e com um chicote ou pá de madeira espanca na bunda, como um pai que pune a filha.
Caprichar no visual de Olga com suas bandagens. Filmar essas cenas de estupro como se filma naqueles faroestes antigos, meninas vestidas com grande vestidões prendados e etc…
Terminar com os capatazes montando em seus cavalos e seus cavalos e saindo dali.
Trabalhar essa cena ainda. (TALVEZ EDITAR ESSA CENA COM MENOS QUADROS POR SEGUNDO PRÁ DIALOGAR COM CINEMA MUDO).
Seq. 15 – Noite/pátio da casa do blerghhh!!!
Música: LOS LOBOS – “Só Vejo Você”
Elenco:
Cenas: Ninguém chega na casa abandonada de alguém. Procura algo prá comer, encontra um velho pão e parte um pedaço com suas próprias mãos e come.
Enquanto está comendo é empurrado por Vieira por um chute nas costas, cai no chão deixando seu pão voar pela terra. Vieira fica chutando-o fazendo rolar pelo chão. Os outros capatazes vão aparecendo aos poucos.
Vieira começa a cantar “Só vejo você” dos Los Lobos. DESTA VEZ OS BACKING VOCALS SERÃO FEITOS PELOS OUTROS CAPATAZES.
Durante a música, Ninguém fica sendo espancado. Na parte do backing vocal (perto do final), Vieira e amarrado ao estilo de filmes de faroeste e os capatazes ficam socando-o e cantando.
Ver storyboards.
Seq. 16 – dia/puteiro
Música:
Elenco:
Cenas: Olga se levanta do chão totalmente enfaixada com suas gazes, Sangrava por alguns pontos. Ajuda outra das putas levantar. Puta limpa sangue que escorria da boca.
Olga pega um pedaço de tábua com pregos . Olha prá suas amigas do puteiro e diz:
OLGA: A gente mesmo precisa acabar com esses filhos da puta!!!
As outras putas concordam com a cabeça. Uma pega um garrafa de cachaça já quebrada (uma garrafa de cachaça de plástico, cortar ela em formato clássico de garrafa quebrada) e outra uma xícara.
As putas saem dali lideradas por Olga enfaixada.
Seq 17 – dia/pátio da casa do Blerghhh!!!
Música:
Elenco:
Cenas: Ninguém estava amarrado com cordas presas no teto. Aquele estilo clássico de westerns.
Só Candeias estava por ali cuidando de Ninguém com uma grande faca. Ninguém consegue imobiliza-lo com os pés e obriga-o a cortar uma das cordas.
NINGUÉM: “Está com medo, valentão!”*
CANDEIAS: “Caralhos que me fodam!!!”*
NINGUÉM: “Não tem cu vai tu mesmo!!!”*.
E Candeias corta a corda. Ninguém dá gravata nele com apenas uma das mãos e corta a outra corda.
Vieira aparece com os outros dois capatazes (Fraga e Cavalcanti).
VIEIRA: “Merdinha!”*
FRAGA: “Pode Matar!”*
Vieira dá tiro que explode algo atrás de Ninguém e ele sai correndo dali.
CAVALCANTI: “É um gigante prá ninguém botar defeito!”*
Vieira e Fraga olham prá ele. Candeias levanta ficando em primeiro plano.
VIEIRA: “Você é um cornô sem-vergonha!”*
Seq. 18 – dia/mato rancho baiestorf
Música:
Elenco:
Cenas:
Mesmo cenário onde Uzi Uschi falava sobre sua intervenção anti-carros.
Ninguém passa correndo por baixo da árvore onde havia o carro de Uzi Uschi e ao passar o carro cai sobre ele.
Fazer essa seqüência com câmera sobre tripé, ao estilo dos cortes bruscos de monty python.
Deixar aparecendo no ângulo o carro pendurado (sem aparecer as cordas), Ninguém correndo por baixo. Corta imagem quando ele está reto embaixo do carro e sem mudar ângulo nenhum já coloca carro despencando sobre a cabeça de ninguém (no mesmo estilo que Monty Python filmava aquele peso de 16 toneladas caindo sobre seus membros).
Corta prá expressões de felicidade no rosto dos capatazes.
Seq. 19 – Noite/mato rancho baiestorf
Música: FÁBIO – “Lindo Sonho Delirante”
Elenco:
Cenas:
Capatazes chegam até no carro que estava sobre Ninguém quase morto. Metade do seu corpo estava esmagado sobre o carro. Tripas e merda por todo o corpo e rosto de Ninguém. Seus braços se debatiam um pouco ainda.
Começa o som de Fábio – “Lindo sonho delirante”. Ninguém mesmo quem canta.
Enquanto ninguém canta, alternar com os capatazes arrancando seus braços aproveitando para puxa-lo pelos braços já que ele estava preso nas ferragens.
Alternar também as putas saindo do puteiro armadas com armas ridículas a definir ainda.
Quando termina a música os capatazes saem cada um prá um lado e Ninguém morre de vez.
Seq. 20 – dia/mangueira
Música:
Elenco:
Cenas:
Coronel Bajon e o operador de câmera estavam filmando outro freak zoofílo comendo o boizinho, engatadão atrás do boi.
Câmera filmava alucinadamente.
Coronel bebia cerveja se babando de prazer.
Vieira chega até ali.
CORONEL BAJON: Corta!!! (se virando pro Vieira completa)… Mataram o filho da puta???
VIEIRA: “Deu merda novamente, mas o problema já foi resolvido!!!”*
OPERADOR DE CÂMERA: “Meu jovem, você é mais perigoso que a bomba atômica!”*
VIEIRA: “Mas é claro, eu sou esperto!”*
Coronel Bajon gargalha. Todos gargalham.
CORONEL BAJON: Ação!!!!!
E recomeça as filmagens.
Seq. 21 – dia/mato rancho baiestorf
Música:
Elenco:
Cenas:
Olga e as putas caminhando devagar. Colocar aqui um som dos El mariachis tocando Queen (ou algo com clima assim).
Elas passam por um cara penitente que chicoteava suas próprias costas já ensaguentadas. Câmera passa pelo penitente devagar, alternando closes do rosto das meninas com as chicoteadas nas costas.
Caminham mais um pouco em encontram um engravatado com seus pés presos em blocos de cimento tentando caminhar mas não conseguindo por causa do peso.
Olga e as putas encontram Ninguém morto, despedaçado, com as tripas saindo debaixo do carro.
Olga se ajoelha perto de Ninguém e coloca a cabeça dele contra seu colo.
OLGA: A gente vai vingar você amor!!!
Outra puta pega do chão os dois braços arrancados de ninguém e fica olhando-os. Começa a levantar os braços…
Seq. 22 – dia/barreira
Música: ENNIO MORRICONE & SERGIO CORBUCCI – “Il Grande Silenzio”.
Elenco:
Cenas:
Contra o céu azul os dois braços de Ninguém são cruzados formando um “X” mórbido.
Câmera abre a revela que as putas estão na barreira, desertinho, com os braços de Ninguém como uma espécia de símbolo de uma novo culto que estaria surgindo naquele axato momento. Um culto enebriante que a igreja católica se empenharia com seu representante máximo a tomar prá si.
Puta segurava os braços ao alto. Outra segurava a bandeira que já usamos em filmes como “A Curtição do Avacalho” e “Arrombada”.
Olga com seu pedaço de tábua com pregos na ponta ergue-o e grita:
OLGA: “vamos a matar companheiros!!!”* (começa a tocar a música exatamente no diálogo de Olga).
As três putas saem cavalgando seus cavalos imaginários, cada uma prá um lado. Enquanto toca a música de Morricone/Corbucci.
Olga encontra Fraga e o mata com pauladas da tábua com prego.
Puta 1 encontra Candeias e o mata com uma xícara na testa.
Puta 2 encontra Cavalcanti e o mata com um balde escrito “lixo nuclear”.
Queima completamente o Cavalcanti que vira uma massa de pus e sangue e foge para avisar seus amigos que as putas estão rebeladas. Fazer referências aqui ao Toxic Avenger pós ter caído dentro do tonel de lixo tóxico.
Seq. 23 – dia/potreiro estilo pampas.
Música:
Elenco:
Cenas:
Cavalcanti correndo cheio de pústulas de pus e sangue e gosmas pelo corpo. Filmar que remeta àqueles filmes dos anos 70. Bolar essa coisa toda depois no set de filmagem. O ritmo da cena aparece com a maquiagem gore no infeliz.
Seq. 24 – dia/mangueira
Música: The Bob Crewe Generation Orchestra – “The Black Queen’s Beads”.
Elenco:
Cenas:
Cavalcanti chega capenga até onde estão filmando.
Close em seu rosto que grita:
CAVALCANTI: Corta!!!
Todos param o que estavam fazendo e se viram prá ele.
CORONEL BAJON: Porra Cavalcanti, não atrapalha a filmagem caralho!!!
CAVALCANTI: Coronel, as putas se uniram e estão caçando todos nós!!!
VIEIRA: “Lá se foi meu cu prá merda, porra!!!”*
CORONEL BAJON: Calma lá… Eu sei o que fazer!!!
Coronel Bajon se ajoelha e dá as mãos prá Vieira, Cavalcanti derretido, operador de câmera, freak zoófilo e começam a rezar o Pai Nosso.
Todos ajoelhados de mãos dadas rezando o pai nosso:
VOZES DELES EM CORO: Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o nosso nome e blá blá blá…
As vozes deles ficam sobre a imagem do sol quase se pondo. Câmera no tripé. Fazer aqueles cortes sem mudar a imagem e aparece a silhueta de dois caras. O Papa Católico e o Padre Marricone contra o sol. Padre Marricone de quatro e o papa de pé segurando o padre por uma coleira de cachorro, hehehehehehehehehehehehehe
Volta pros caras rezando ajoelhados.
Papa e Padre Marricone (padre Marricone usa uma máscara de Zorro na cara) na frente deles. Papa coloca a mão sobre seus protegidos e eles param de rezar.
CORONEL BAJON: Meu santo pai, precisamos de sua ajuda!!!
Padre Marricone ergue um espelho onde tem uma carreira de cocaína que o Papa cheira com um canudinho feito de uma cédula de dinheiro.
PAPA: Não se preocupem meus filhos, já sei como resolver este pequeno problema de vocês!!!
Papa cheira nova carreira de cocaína, mete mão dentro de prato de óstias e bebe cálice de vinho. Tudo em edição rápida. Começa a tocar “The Black Queen’s Beads” do The Bob Crewe Generation Orchestra. Tudo bem anos 70 e dançante.
PAPA (limpando nariz com mão): Venham meus filhos!!!
E todos saem caminhando atrás dele, numa divertida procissão de malditos.
Seq. 25 – dia/potreiro estilo pampas
Música: MENINOS DE DEUS – “Que é que fez Jesus”
Elenco:
Cenas:
Putas estão caminhando com a bandeira e os braços de ninguém pelo campo. De direção oposta estão vindo o grande Papa e seus amigos, com cruzes cristãs.
Grupo de pessoas com o Papa aparece de frente. Os dois grupos se encontram. Filmar isso de longe, de perto, câmera subjetiva e muitos outros planos, prá ter um bom material prá editar usando o som dançante da seqüência anterior que ainda estará tocando sobre essas imagens.
Os dois grupos para um na frente do outro. Realizar diversos closes em todos os rostos, editar isso de maneira rápida. Vários rosto de alternando cada vez em ritmo mais veloz.
Close no rosto do Papa. Ele aponta pro céu e diz:
PAPA: Olhem!!!… um disco-voador!!!
Assim que todos olham pro céu, Padre Marricone ergue o espelho com uma carreira de pó e o Papa cheira gostosamente. Os presentes olham de volta prá ele.
PAPA: Minhas filhas, meus filhos, estou aqui para trazer a paz do menino Jesus Cristo, nosso senhôzinho todo poderoso. A vingança é um instrumento do diabo, todos deverão viver em harmonia, o pobre na pobreza e o rico fazendo proveito disso!!!
Corta prá Padre Marricone com um violão na mão, ele começa a tocar.
Todos começam a dançar e cantar Meninos de Deus – “Que é que Fez Jesus?”.
Alternar closes de todos felizes cantando, braços de Ninguém, cruzes, e tudo mais.
Ao terminar a música todos estão felizes e se sentindo bem. As putas já esqueceram da vingança.
VIEIRA: “Bem, agora que todos se conhecem, vamos tomar um sorvete de Bucereja prá comemorar!”*
Seq. 26 – dia/mangueira
Música:
Elenco:
Cenas:
Corte seco prá o Freak Zoófilo comendo o terneiro, as putas fazendo que estão chupando Vieira e o Padre Marricone ao fundo da cena, o operador de câmera filmando tudo com o derretido Cavalcanti segurando o rebatedor de luz.
Papa e o Coronel Bajon seguravam na mão litros de pinga e grandes baseados.
PAPA: Meu filho, pode me pagar com esses teus filmes aí que eles são do balakobako!!!
E os dois ficam gargalhando. Bebendo pinga e fumando seus grande baseados.
Seq. 27 – créditos finais.
Música:
Veja “Ninguém Deve Morrer” aqui e compare com o roteiro: