Arquivo para cinema de garage

Por um Punhado de Downloads

Posted in Cinema, Música, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 14, 2016 by canibuk

Atenção, muita atenção!

logo-canibal-001Você está penetrando no Mondo Trasho da Canibal Filmes, clicando em qualquer um destes links abaixo disponibilizados você adentrará num universo onde o mal feito é glorificado como o mais valioso dos objetos sagrados, onde a falta de talento é incentivada, onde até mesmo o faxineiro de um grande estúdio conseguiria virar diretor de uma produção. Aqui ninguém é excluído do sonhos de virar uma estrela de cinema. Todas a produções abaixo disponibilizadas foram realizada nos anos de 1990, quando ainda não existiam bons equipamentos de filmagem que fossem baratos e a edição era feita se utilizando de dois vídeo cassetes, o que torna estes filmes ainda mais mongoloides. Estejam avisados, estes links contem o pior do pior, se você acha que possuí bom gosto, clique somente no link da Cadaverous Cloacous Regurgitous. Os links para download estão nos títulos em letras maiúsculas.

Cadaverous Cloacous Regurgitous (1993)

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Demo-Tape

Antes de fazer um filme eu era fanático-radical por noise grind e, junto de meu amigo Toniolli, planejamos montar a banda mais suja do mundo, ou algo assim, afinal éramos apenas uns guris sem nada pra fazer. Eis que nas férias escolares de 1993 fomos para a casa dos pais de Toniolli e gravamos e mixamos a demo-tape “Ópera Indústrial” e intitulamos nossa banda de noise com o belo nome de “CADAVEROUS CLOACOUS REGURGITOUS“. Além de instrumentos tradicionais, também usamos folhas de zinco, motosserras, uma guitarra quebrada com uma corda e, no vocal, uma gravação que Toniolli tinha feito meses antes de porcos sendo castrados. Não satisfeito com essa primeira experiência envolvendo música, em 1999 – desta vez ajudado por meu amigo Carli Bortolanza – gravamos a demo-tape “Anna Falchi”, colocando pra funcionar um projeto de industrial harsh intitulado “Smelling Little Girl’s Pussy” que está junto no zip. “Smelling” não utilizou nenhum instrumento musical, todo o som é produzido com microfonias que criamos com estática de rádio, sujeira sonora e gravamos nos utilizando de uma ilha de edição de vídeo, muitos dos barulhos estranhos captados são oriundos de uma câmera de VHS apontando pra uma tela de TV.

 

Açougueiros (1994)

acougueiros

Petter Baiestorf em 1994

Logo após finalizar e lançar “Criaturas Hediondas” (1993), oficialmente minha primeira tentativa de fazer um filme, reunimos a mesma turma e fomos para uma casa abandonada (que depois foi reutilizada como cenário para as filmagens de “Eles Comem Sua Carne”) passar dois dias, tempo em que filmamos o “AÇOUGUEIROS“, sendo atacados por terríveis aranhas assassinas durante as madrugadas. Já na primeira noite percebemos que as aranhas era inteligentes e estavam a nossa espreita. Deitávamos em nossos colchonetes e, ligando as lanternas contra o chão, víamos as aranhas se aproximando de nossos corpos com suas oito patas famintas por carne humana. Não dormimos. No dia seguinte filmamos quase todas as cenas do “Açougueiros”, já montando o filme na própria câmera. Anoiteceu novamente. Com medo da volta das aranhas assassinas, todos da equipe dormimos em cima de uma mesa de sinuca. Tão logo desligamos as lanternas, já começamos a escutar os cochichos das malditas aranhas. A madrugada foi louca, com a gente correndo das aranhas pela casa e as eliminando sempre que possível. Lá pelas tantas as aranhas se tornaram mutantes com asas e vinham voando famintas contra a gente. O cozinheiro da produção foi o primeiro a tombar morto diante da fúria das aranhas malignas, tendo convulsões até desfalecer completamente sem vida. Sim, as aranhas haviam se organizado e queriam um banquete… E o banquete era nossa equipe!

 

Criaturas Hediondas 2 (1994)

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Crianças Hediondas

Imediatamente após as filmagens de “Açougueiros”, resolvemos fazer uma continuação do primeiro filme e “CRIATURAS HEDIONDAS 2” tomou forma. As filmagens desta produção aconteceram no sítio de Walter Schilke, que entre outros, foi diretor de produção em “A Dama do Lotação” e de vários filmes de Os Trapalhões. Essas filmagens foram completamente sossegadas, com tudo dando certo e novos colaboradores aparecendo para ajudar o grupo. Após cada dia de filmagens todos retornávamos aos trailers da produção, ganhávamos massagens terapêuticas e participávamos de jantares de gala enquanto uma orquestra de querubins tocava sucessos de Beethoven. Depois de pronto foi exibido, no ano seguinte, na I HorrorCon em São Paulo com relativo sucesso. Neste mesmo ano explodiu a moda Trash no Brasil e ficamos bilionários fazendo filmes ruins.

 

2000 Anos Para Isso? (1996)

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Toniolli em banho de sangue

Sabe-se lá porque, até 1995 eu só pensava em fazer longas-metragens (devia ser algum problema de ego). Mas em 1995 fiz uma experiência em curta-metragem e realizei “Detritos” (curta que atualmente está perdido, mas que continuo tentando achar uma cópia para disponibilizar), gostando bastante da simplificação dos problemas que uma filmagem sempre tem. Então, logo no início de 1996 filmamos “Eles Comem Sua Carne” e um festival de curtas gore da Espanha, tendo assistido “O Monstro Legume do Espaço”, me escreveu solicitando um curta para incluir no festival. Como “Detritos” não era gore, resolvi montar algumas cenas do “Eles Comem Sua Carne” no formato de curta e, assim, surgiu este “2000 ANOS PARA ISSO?“, meu primeiro flerte com cinema experimental.

 

Assista “O Monstro Legume do Espaço” aqui:

Bondage 2 – Amarre-me, Gordo Escroto!!! (1997)

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Denise e Souza

Após as filmagens de “Blerghhh!!!” (1996), tive uma ideia fantástica que rendeu um belo punhado de reais: Fazer um filme de putaria assinado por uma diretora, então combinei com a atriz principal de “Blerghhh!!!”, Madame X, que ela iria assinar nosso próximo filme. Com orçamento mínimo escrevi um roteiro fácil de filmar (sob pseudônimo de Lady Fuck e Carla N. Toscan, afinal, melhor que uma mulher tarada, só três, não?). Fomos pra casa do Jorge Timm, nos trancamos lá durante uns quatro dias e cometemos “BONDAGE 2: AMARRE-ME, GORDO ESCROTO!!!“, com climão de filme de Boca do Lixo final dos anos 70. É uma produção extremamente simples, mas na época do lançamento alardeamos tanto que era escrito e dirigido por mulheres que todo mundo quis assistir.

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José Mojica Marins e seu livro preferido.

 

Fase 98 (1997-98)

Ácido (1997) – este curta filmamos durante as gravações de “Blerghhh!!!” e só montamos um ano depois. Os efeitos de cores sobre as imagens captadas foram inseridas via uma ilha de efeitos analógicos. Acredito que foi meu primeiro vídeo arte, a concepção deste vídeo foi desenvolvida em parceria com o Coffin Souza.

Deus – O Matador de Sementinhas (1997) – No ano de 1997 Carli Bortolanza e eu cuidávamos do castelo da Canibal Filmes, local onde todo o equipamento de filmagem, maquiagens, iluminação e figurinos estavam guardados. Como o tempo de tédio era muito enquanto montávamos guarda para que ninguém invadisse nosso estúdio para roubar ideias e bens materiais, começamos a filmar vários curtas experimentais inspirados em Andy Warhol e Paul Morrissey e, assim, surgiram pequenas brincadeiras como “Crise Existencial”, “O Homem Cu Comedor de Bolinhas Coloridas”, “A Despedida de Susana – Olhos e Bocas” (1998), “9.9 (nove.nove)” e este “Deus – O Matador de Sementinhas”.

“Boi Bom” (1998) – Possivelmente meu filme mais polêmico. Antes de me tornar vegetariano realizei este brutal filme sobre a figura do homem se valendo de assassinato para se alimentar em pleno século XX. Em uma bebedeira falei com Jorge Timm e Carli Bortolanza sobre minha intenção de rodar algo extremamente brutal sobre alimentação envolvendo a matança de animais, mas a ideia ficou ali. Alguns meses depois o Jorge Timm apareceu com tudo combinado, ele já tinha encontrado um abatedouro clandestino que iria nos deixar filmar desde que não identificássemos o local. Chamei o Bortolanza e o Claudio Baiestorf e fomos até o abatedouro filmar. Em tempo: a carne deste boi que aparece no filme foi vendida pra um restaurante – pelo abatedouro, não pela gente – após as filmagens, só vindo a reforçar o que acho da alimentação envolvendo assassinatos. Hoje eu não faria outro filme com este teor, mas não renego o curta, está feito, faz parte de uma fase que eu me preocupava mais em chocar. PACK ÁCIDO+DEUS+BOIBOM.

Assista “A Despedida de Susana – Olhos e Bocas” aqui:

Mantenha-se Demente!!! (2000)

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Bortolanza aplicando fx em Loures

Logo após lançar “Zombio” (1999) escrevi o roteiro insano de “Mantenha-se Demente!!!”, um longa gore que misturava a cultura da região oeste de SC com os delírios japoneses envolvendo putaria com tentáculos. Levantei uma parte do dinheiro necessário para as filmagens e chegamos até a rodar algumas cenas do filme. Mas tudo estava tão capenga e caótico que acabei abandonando o projeto para rodar o “Raiva” (2001). O material filmado acabou por se tornar o curta-metragem “FRAGMENTOS DE UMA VIDA“, montado em 2002. Particularmente, gosto bastante do resultado de surrealismo gore alcançado neste cura improvisado, o que sempre me faz pensar que poderia voltar, hora dessas, a realizar experiências nesta linha.

 

Entrevista com Petter Baiestorf no Set de Zombio 2 (2013)

Acabei de encontrar essa ENTREVISTA que o Andye Iore realizou comigo durante as filmagens de “Zombio 2” (2013). Estou visivelmente cansado mas até que bem lúcido falando sobre o caos que foram os primeiros 12 dias de filmagens de “Zombio 2”. Estou compartilhando com vocês essa entrevista de 17 minutos mais como uma curiosidade mesmo, ela deveria estar nos extras de “Zombio 2” mas por um estranho motivo foi esquecida durante a autoração do DVD oficial de “Zombio 2“. Enfim, palhaçadas de uma produtora de cinema completamente atrapalhada.

Memórias em tom de realismo fantástico de Petter Baiestorf.

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Corroendo Pelas Beiradas

Posted in Arte e Cultura, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on junho 18, 2013 by canibuk

Mais um protesto na avenida Paulista marcado para essa semana: Cineastas independentes ganham vitrine para seus filmes na mostra Cinema de Bordas que vai acontecer entre os dias de 20 a 23 de junho no Itaú Cultural (Av. Paulista 149), com a exibição de 28 produções que não contam com dinheiro público em seus orçamentos.

Zombio 2_Católicos ZumbisNo Brasil existem inúmeros cineastas independentes que não se utilizam do dinheiro público para produzirem seus filmes. Estes cineastas criaram seus próprios mecanismos de produção e distribuição e tentam evoluir de filme para filme. A produção do cinema independente é um ato político onde cineastas amadores e profissionais se negam a usar dinheiro público para empregar na realização de filmes populares. Os cineastas independentes tem o privilégio de dizer um grande não às possibilidades de trabalhar com as esmolas do governo e criar, dentro de suas próprias condições, obras que o povão entende e aplaude.

Entre os 28 filmes que serão exibidos está meu novo longa-metragem, “Zombio 2: Chimarrão Zombies”, produzido nun sistema de cooperativa que reuniu as produtoras Canibal Filmes, El Reno Fitas, Camarão Filmes e Idéias Caóticas, Bulhorgia Filmes, Sui Generis Filmes, Projeto Zumbilly, Necrófilos Produções, Fábulas Negras, Gosma e mais uns 50 colaboradores, cada um ajudando a fazer o muito com o pouco que podia ajudar.

A mostra Cinema de Bordas vai exibir o primeiro corte de “Zombio 2” (ainda falta mexer no som, efeitos sonoros, trilha sonora e cores do filme) no dia 23 de junho às 18 horas, no encerramento da mostra que prima por exibir o cinema mais autoral (e livre) produzido atualmente no Brasil.

Confira a programação aqui: Cinema de Bordas.

Petter Baiestorf.

Não deixa de acompanhar a mostra Cinema de Bordas

Não deixa de acompanhar a mostra Cinema de Bordas

Zombio 2_Américo Giallo

Zombio 2_Zumbis Podres em Festa 2

Vontade

Posted in Cinema, Entrevista, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 8, 2012 by canibuk

“Vontade” (2012, 10 min.) de Fabiana Servilha. Com: Alexandre Rabello, Douglas Domingues e Marina Ballarin.

Rapaz perturbado com insônia (Alexandre Rabello) se levanta após dizer a enigmática frase: “Vou acabar com isso!”. Pega uma garrafa de vodka na geladeira, uma faca na cozinha, e sai pela cidade com seu carro. Estaciona num mercadinho, fica seguindo um gordo barbudo (Douglas Domingues) que lá fazia compras e logo em seguida seqüestra-o. O rapaz perturbado fica dando voltas sem rumo enquanto os gritos apavorados do gordo barbudo ecoam por sua mente. Num impulso estaciona o carro e liberta o seqüestrado que sai dali correndo. O rapaz, mais perturbado ainda por ter falhado em sua missão, volta para casa com o gosto amargo do fracasso na boca e arranca, com a faca, a carne da batata de sua própria perna, num ótimo momento de auto-mutilação. O desfecho do curta é digno das melhores piadas de humor negro que já tive o prazer de presenciar. Sutil, cômico e porradão!

O roteiro de “Vontade”, de autoria da própria diretora Fabiana Servilha, brinca de maneira soberba com os clichês do cinema de horror ao construir um clima macabro onde explora as várias possibilidades narrativas sem entregar mais do que o espectador deve saber. Num primeiro momento somos levados a acreditar que o jovem com insônia armado da faca e da garrafa de vodka, após a frase “Vou acabar com isso hoje!”, está em busca de sua namorada que pode estar lhe traindo com outro homem. A perseguição ao gordo no mercadinho reforça essa idéia, mas ao mesmo tempo deixa no ar a dúvida: E se o jovem perturbado é somente um psicopata em busca de sua primeira vítima? Após o jovem libertar o gordo, num momento de arrependimento, somos levados a acreditar que o surto psicótico chegou ao fim sem vítimas, sem derramamento de sangue. Ledo engano, aqui Servilha introduz uma linda cena de auto-mutilação gore com o perturbado rapaz colhendo um sucolento pedaço de sua própria carne. O final do curta de Servilha é um delicioso momento de humor negro (não amigo, o perturbado não vai comer sua própria carne não), com a moral às avessas de “Quem ama faz sacrifícios”. É uma bela história que nos faz refletir.

O curta de Fabiana Servilha, de algum modo, faz com que nos lembremos da fixação de William Seabrook e sua ânsia em conseguir algumas gramas de tão preciosa iguaria tabu. Seabrook resolveu o problema subornando um funcionário do hospital de Paris, não tendo sido tão extremo/insano quanto a personagem principal deste belo curta. Aliás, a primeira vista não gostei do título do curta (confesso que tenho queda por títulos mais mirabolantes), mas o desfecho genial do curta é tão lindo que não vejo nome mais apropriado ao curta do que “Vontade”.

Fabiana Servilha é formada em cinema e tem uma grande vontade de realizar cinema de gênero e tentar uma re-aproximação do cineasta com o público. É tarefa árdua, mas a julgar por seus curtas ela (e toda uma nova e jovem geração de cineastas independentes) está conseguindo. Seu filme de TCC foi o curta “Estrela Radiante”, seguido de “Aqueles Olhos” filmado em 16mm. Depois ajudou na realização dos ótimos “Caixa Preta” e “Eternitá”. Para a realização de “Vontade” ela escalou bons atores e técnicos talentosos, como o iluminador/diretor de fotografia Henrique Rodrigues que deu um climão doentio ao curta, as maquiagens gore do Rodrigo Aragão (diretor dos clássicos “Mangue Negro” e “A Noite do Chupacabras”) e a edição dinâmica de André Coletti (que também sempre é assistente de direção dos filmes de Servilha).

“Vontade” está sendo selecionado em inúmeros festivais de cinema, fica a dica para aqueles que gostam de conferir os rumos que nosso cinema está tomando e este novo trabalho de Fabiana Servilha precisa ser apreciado pelo máximo de público possível. Imperdível!

Abaixo uma mini-entrevista que realizei com Fabiana sobre seus curtas e sua maneira de pensar cinema.

Petter Baiestorf: Você estudou na Film Works da Academia Internacional do Cinema, fale como foi este período. Você se interessou por cinema quando?

Fabiana Servilha: Cresci vendo filmes de terror, principalmente os da década de 80, tem uma locadora bem do lado de casa e o setor que eu mais freqüentava era o do terror/suspense, desde que me conheço como gente lembro que reservava do dinheiro da bomboniere para ter como locar “The Return of the Living Dead”. O japonês da locadora dizia: – “Mas você já locou este semana passada… outra vez?” (risos). Minha infância era literalmente: parar a bicicleta e contar muito bem para amigas de bairro tudo que eu via na TV, como “Tales From the DarkSide”. Eu fazia até os efeitos sonoros e as garotas morriam de medo, pois eu esperava anoitecer para contar de propósito. O que elas não sabiam era que eu também me cagava de medo, mas vendo o medo delas, aliviava o meu (risos). Certa vez a mãe de uma dessas garotas toca a campainha de casa para brigar com minha mãe, dizendo: – “Sua filha tem 10 anos! A minha tem 7 e se impressiona com O Exorcista!!!! Não quero que a Fabiana fique mostrando essas coisas a ela! As rodas da bicicleta estão com terra de cemitério!!!” (risos). Isso porque eu costumava pegar amoras no cemitério para fazer suco, coisa bizarra de criança (risos). Com uns 12 anos comecei a ler Stephen king e a escrever roteiros, lembro que eram todos longas metragens!!! Hoje dou risada disso, pois não é uma tarefa tão fácil como uma menina de 12 pensava que fosse , mas só gravei com uns 16 anos um curta para escola, era de aula de educação artística. Cada grupo devia escolher um gênero, eu levantei voando para garantir que o de terror fosse o meu. E ficou bacana mesmo editando na época no vídeo cassete, o resultado foi um plágio da abertura do “Night of the Creeps” (risos), só inverti a situação para anos 70 pois havia conseguido uma brasília emprestada para gravar. Eu ia no cinema praticamente todos os dias, pagava um filme e assistia 3, ou 4 com a famosa ida ao banheiro para entrar nas outras de graça. Comecei a fazer cursos gratuitos de cinema pelas oficinas culturais,  posteriormente conheci Eduardo Aguilar, e fazia curso com o José Mojica Marins, mas nessa época eu fazia um milhão de coisas envolvendo arte, eu me envolvia com teatro, música, dança, e acabei deixando o cinema de lado e estudando Artes Visuais na Belas Artes. Eu já estava no segundo ano, quando o professor de desenho fala: – “Agora peguem o carbono e risquem o vazio e vejam o que encontram, potencializem essa coisa”. E eu pensei: “Que caralho que eu to fazendo aqui? eu queria fazer filme de terror!”. Até que surgiu uma bolsa pela Academia Internacional de Cinema e aproveitei para largar tudo, só que lá eu teria um novo problema, cinema se faz com um grupo e eu teria dificuldades em achar outros alunos que também gostassem de cinema de gênero, então me sentia deslocada, queria apenas ficar ali disfarçando no som e os roteiros eram chatos pra mim, alguns davam vontade de se dar um tiro na boca na sala de aula. Desanimei bastante no começo. Foi a partir dai que surgiu o Cinema do Medo pelo Cine Galpão onde eu poderia trazer pessoas com o mesmo objetivo que eu.

Baiestorf: O que foi o projeto “Cinema do Medo” que você desenvolveu com o Cine Galpão? Quem é o Cine Galpão e qual a proposta do grupo?

Servilha: Eu sentia uma pitadela de preconceito com a galera que estudava cinema, entortavam o nariz pra mim se eu não tivesse visto “Linha de Passe”, pois eu tinha de ver mais cinema nacional e blá blá blá, mas eu não podia entortar o nariz também de eles nem saberem quem é Ivan Cardoso. Sentia que terror no geral era visto como se fosse um gênero inferior e francamente, de fato muita porcaria é feita com o gênero, o que faz piorar essa visão. Mas pessoas esquecem de grandes roteiros, diretores, atores que estiveram sim em filmes de horror. Até hoje tenho espécies de pastores querendo me converter a fazer outros gêneros; o que eles não entendem é: eu não tenho nada contra gênero algum, o que me importa é a estória me interessar. Tem certos filmes de gênero inclusive que o assunto é tão batido e ninguém traz nada de novo que eu nem quero ver, por exemplo, filmes de casa mal assombradas, espíritos, filmes de tema zumbi então nem se fala, muitos eu nem quero ver porque o povo só faz a mesma estória de sempre, parece que voltamos ao cinema mudo, estamos indo ver “A Chegada do Trem na Estação” e é exatamente o que vamos ver, apenas um trem chegando na estação. Filme de zumbi é tudo o que eu já sei, é desinteressante, me diga, me conte algo de novo que partiu de você, algo que eu já não saiba, o que me importa em filmes é algo que me atraia. E eu sou o tipo de pessoa que se interessa mais quando tem elementos fantásticos, para mim “Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”. Dirigir é sua forma de enxergar as coisas. Poderia dirigir um drama ou comédia? Sim, mas é igual futebol, eu entendo tudo do jogo, mas eu acrescento mais ao time sendo goleiro! Então me deixem em paz! (risos) Henrique Rodriguez era meu professor em um curso no Senac e sempre me via resmungando sobre isso, na época ele e Carla Monteiro iriam fundar o Cine Galpão, um espaço de uso coletivo voltado a estudos e produções audiovisuais, eles dão abertura para qualquer um que chegue com alguma proposta bacana e precise de apoio, teríamos equipamentos e auxilio, não havia mais desculpas para não se gravar. Foi então que eu chamei André Coletti para fundarmos um grupo nosso voltado apenas para estudo e produção de filmes de terror: Cinema do Medo, aberto para o público, lá então poderíamos reunir pessoas com os mesmos objetivos e deixar ser integrante, começamos com o projeto “Vontade”. Posso parecer muito idealista e romântica, mas de fato o que eu queria era uma galera para produções constantes de gênero e fazer varredura na galera independente para sermos uma produtora grande de gênero unificada, acolhidos pelo Cine Galpão. Era o nosso paraíso, pois, os cursos de cinema acabavam mas o Cine Galpão continuaria e poderíamos fazer crescer.

Baiestorf: “Estrela Radiante” foi o filme que você realizou para seu TCC. Fale como foi a realização deste curta. Como foi a distribuição dele?

Servilha: “Estrela Radiante” foi uma loucura, haviam outros 2 estudantes da AIC que o abandonaram como projeto de TCC deles, e eu até entendo. Na verdade por volta de 30 pessoas abandonaram o filme ou mais, muitas eu nem conto porque nunca acrescentaram em nada, nem conto como “passaram pelo filme”, teve diversos produtores que pularam fora quando a corda apertou e muitos pioravam mais que ajudavam e faltando uma semana para gravar eu me encontrei sozinha com a produção,  não tinha praticamente nada e as pessoas só desistiam pois sabiam que não seria fácil e muito arriscado. Convenhamos, ir pro meio do mato para passar sufoco não é muito animador. Eu não estava dando conta e sem dinheiro era pior ainda! perdi o departamento inteiro de fotografia e o de produção faltando uma semana, era complicado, não tínhamos dinheiro, nem tempo, tudo era difícil, elenco complicado, gravar no mato, arte complicada, estória bizarra misturando ficção científica com horror made in Brasil. Não sei bem identificar o gênero, eu costumo chamar de “A Gororoba da Fabi” (risos). Lembro que precisava de várias larvas para o filme e um dia antes de ir para o interior gravar, as larvas fugiram dos potes, quando eu e André Coletti acordamos, estávamos rodeados de trocentas larvas e desesperados começamos a pegar uma a uma do chão para colocar de volta aos potes, o André disse: – “Isso não vai abalar o orçamento, apenas 6 larvas morreram na jornada Fabi, não vai afetar a cena.” (risos) Parávamos na Rua Augusta para procurar figuração negra para levar até Ibiuna, era tão absurdo conseguir que chegamos a falar com moradores de rua para participar do filme! Como eles moravam na rua, e não tinham telefone celular falávamos: – “Hey! Esteja na porta do Ecléticos na Augusta sexta próxima as 19 horas para irmos gravar!” (risos). Lembrei bastante da palestra que fui ver do Lloyd Kaufman aqui em São Paulo sobre produções independente. Faltando uma semana e eu sem nada e com pouquíssimas pessoas do meu lado, comecei a desistir de chamar pessoas ligadas a cinema e aceitar ajuda de qualquer pessoa normal, e de fato vieram para somar e foram excelentes produtores pois não faziam corpo mole, não me chamavam de louca, e não vinham com vícios ou achavam que TUDO seria impossível de ser feito dentro daquelas condições, foi a melhor atitude que fiz, gente que nunca havia trabalhado com cinema estavam dando um show de produção e força de vontade, me surpreenderam e eu não teria conseguido nada sem elas; lembro que postei uma imagem de S.O.S no facebook, faltando 1 semana eu pensei em desistir também, não conseguia dormir mais, chorando de raiva eu até escrevi um diário e escrevi que eu conseguiria fazer essa porra sozinha mesma e assim o fiz. Devo muito a todos que aparecerão nos créditos finais cada um vinha com um pequeno milagre e era um leão diferente pra matar a cada 30 minutos. Até a atriz Débora Muniz vendo minha cara de exausta me incentivava nas gravações; tive muita sorte pois não poderia ter um elenco melhor, André Cecatto, Fábio Neppo, Débora Muniz, Valdano Sousa,  todos estavam muito compreensivos comigo e estavam ali para ajudar em qualquer coisa que fosse. Foi uma puta experiência de superação e saber transformar o lodo em pérola. Ficará pronto no final do ano, e em 2013 estará nos telões com muito orgulho!!

Baiestorf: Você não acha que as faculdades de cinema deveriam ter uma distribuidora de filmes para escoar ao público estes filmes produzidos para TCCs?

Servilha: Sim, seria ótimo; muitos curtas ficam encalhados e os realizadores devem parar um pouco e se perguntar a razão de o porque de tudo isso, e a atenção em relação a isso deve partir de lá de trás, na escolha do roteiro, de atores, tudo vai influenciar para que o filme seja bom, e quanto mais rico for o filme, mais vai ser favorável para que você consiga estender o prazo de vida dele posteriormente, é óbvio. Este ano fiquei sem gravar nada pois sofri na pele a dificuldade que é exibir e distribuir sozinha, o filme literalmente morre se você deixar, você acaba desistindo, é um trabalho de cão, acaba se enjoando dele, de saco cheio já, ou partindo para a produção de outro. E NÃO!!! Isso está errado! Vai ser muito difícil eu gravar outra coisa na loucura por impulso, quero analisar na frente tudo que farei com o material pronto pois eu desejo filmes que sobrevivam e se estendam o máximo que puder. É uma delícia gravar, a parte chata é justamente o que fazer com o filme depois de pronto, ele precisará de cuidados e esse tipo de pensamento desde o começo é para seu próprio bem, justamente para te ajudar a gravar ainda mais, você verá que além de gravar, é uma delícia também ele estar em festivais, sendo visto, e o melhor! Te dar uns trocados para você gravar o próximo, para que você não desista.

Baiestorf: “Aqueles Olhos” você fez em 16mm, qual foi o orçamento do curta? Você acha necessário filmar em película nos dias de hoje?

Servilha: Deve ter dado por volta de 1.300 reais, a película partiu da própria AIC; um rolo de nem 13 minutos para tirar um filme final de 5 minutos, eu tinha medo até de bater claquete e ser demorado. A experiência com película foi boa para ver a diferença do digital, no digital eu sou um inferno, nunca tá bom, faço takes demais, a equipe mesmo fala: – “Este está igualzinho ao anterior Fabi, chega!”. No digital acabamos gravando muitas coisas as vezes desnecessárias o que fica até perigoso de perder o foco da tua narrativa, você não está registrando, você está narrando algo! Onde eu coloco a câmera agora? Na película você não é nenhum milionário que pode ficar se aventurando, então te força a focar realmente direto ao necessário, você visualiza seu trabalho de decupagem muito mais porque é literalmente película valiosa torrando. Os dois tem seus pontos positivos e negativos, aplicar o pensamento econômico de se filmar em película para o digital vai ser bom pra seu plano de filmagem e sua decupagem e não sair correndo por ai disparando o REC.

Baiestorf: Como foi a recepção de “Aqueles Olhos”? Ele te abriu algumas portas para a produção de novos filmes?

Servilha: O bacana do curta foi ver em diversas exibições a reação do público, toda hora que aparecia o demônio no bolo a platéia provocava um som, isso é muito maravilhoso, saber que você atingiu a intenção; ele foi exibido no SP TERROR no Reserva, CineSesc, no MIS Festival AIC, Halloween Casa das Rosas, Guaru Fantástico e no Cinefantasy, não havia mandado a muitos lugares na época, engraçado que quando fomos selecionados ao Cinefantasy fomos parar na categoria Novos Rumos e dai eu pensei: “Que tipo de filme eu ando fazendo? Não é terror, não é surrealismo. Novos rumos?! Isso é bom? Que diabo significa isso?” (risos). Fiquei muito surpresa em o filme ser premiado no Cinefantasy na categoria “Estímulo a Estudante”, ele me abriu portas internas eu diria, me diverti muito fazendo na época, eu e André fizemos pensando na gente, pra gente, eu não estava nem um pouco preocupada com o que falariam na banca da AIC e acho que fizemos tão sem pretensões e tão verdadeiro que a banca acabou sendo ótima na escola e as pessoas sempre gostavam do curta quando assistiam, foi dai que arrisquei a enviar a alguns lugares.

Baiestorf: Acabei de assistir teu ótimo curta “Vontade” e o senso de humor negro que você imprimiu ao curta, de maneira sutil, me deixou impressionado. Sua direção é bem segura, com um grande trabalho de decupagem das cenas. Como surgiu a idéia para o roteiro de “Vontade” e sua posterior filmagem? Foi complicado filmá-lo?

Servilha: Que bom que curtiu petter, fico feliz. Eu tenho muitos roteiros em casa que escrevo, tem longa também mas tenho que admitir que amo contos, estórias curtas, e adoro quando a idéia me surge pelo plot, como aconteceu no “Vontade”, infelizmente não tenho $$ para gravar tudo e gosto de escrever roteiros mais malucos, o que piora de realizá-los. Estou tentando fazer estórias mais simples em questão de produção para facilitar a vida e “Vontade” é este caso, uma produção simples, e barata. Sempre fico atenta a coisas pequenas que aparecem ao redor e sou a típica pessoa que dá ouvidos aos loucos sim! Acho que um gesto, uma palavra que a pessoa coloca, um tropeço pode me surgir uma boa idéia, tem coisas bizarras que acontecem ao nosso redor o tempo inteiro e simplesmente não damos atenção, muito que escrevo parte do real. A idéia do “Vontade” era entrarmos em uma busca mistériosa, uma corrida no meio de uma madrugada de um personagem que precisa encontrar coragens de cometer um homicídio para satisfazer uma vontade emergencial e incontrolável. Um Thirller com pouquíssimos diálogos. Fiquei surpresa de ver o filme sendo indicado a Melhor Roteiro do Festival Art Deco Cinema e mais 2 indicações.

Baiestorf: Qual foi o orçamento de “Vontade” e nos conte como foram as filmagens do curta.

Servilha: Deve ter dado por volta de 1.500. O maior gasto foi com a maquiagem do filme, equipamentos eu teria com o apoio do Cine Galpão, Cinema de Guerrilha, e eu iria aproveitar a vinda do cineasta Rodrigo Aragão ao Cinefantasy para gravar quando ele estivesse em São Paulo por conta da maquiagem do filme. Acabou batendo exatamente nos mesmos dias que eu estava filmando Aqueles Olhos pela Academia Internacional de Cinema. Foi exaustivo gravar 2 curtas tão colados, mas para economizar e ter o Aragão só podia ser deste jeito. “Vontade” na verdade é um remake de nós mesmos, eu havia tido a idéia, e no dia seguinte chamei 2 amigos, essa era a “equipe do filme”, entre eles André Coletti, chamei o ator Alexandre Rabello e gravamos em uma mini dv em poucas horas. Eu nem havia feito decupagem alguma e eu mesma fiz a maquiagem e até fui atriz no filme. Quando editamos no dia seguinte vi onde erramos e o que acertamos e vi que aquilo tinha potencial para ser gravado melhor. Quando precisamos inaugurar o Cinema do Medo no Cine Galpão pegamos o Vontade logo de cara para regravá-lo.

Baiestorf: Gostei bastante dos atores e da equipe-técnica que trabalhou no “Vontade”. Fale um pouco como você reuniu este talentoso grupo e como outros produtores fazem prá trabalhar com eles.

Servilha: Algumas pessoas já eram meus amigos, e a sede de reuniões era no Cine Galpão. Carla Monteiro e Henrique Rodriguez vestiram a camisa sendo integrantes da equipe, eu havia feito teatro com o ator Alexandre Rabello que topa qualquer parada, a atriz Marina Baillarin era amiga do André Coletti, consegui trazer algumas pessoas da AIC para o grupo, quem caiu de pára-quedas atuando foi o Douglas Domingues que foi lá ajudar de ultima hora porque estávamos sem um ator, ele acabou fazendo parte do Cinema do Medo depois. Stefanne Marion acabou entrando e cuidando da arte que estava sozinha, conheci o Vitor Melloni pelo festival SP Terror e ele acabou se interessando pelo projeto e ajudou muito na produção do filme, também fico muito feliz com a equipe final, pequena, e funcional. As vezes não precisamos armar um circo de pessoas, o importante é elas funcionarem. Também teve várias entradas e saídas de pessoas pelo Cinema do Medo, manter um grupo andando não é fácil e as pessoas não entendem e preferem botar a culpa em você, não bastava ter equipamentos e achar que tínhamos a faca e o queijo na mão, cinema dependia das pessoas, queria reunir pessoas apaixonadas por filme de gênero de verdade, era a minha tática para animá-las a segurar o tranco de dificuldades que todo cinema independente passa.

Baiestorf: “Vontade” está sendo selecionado em diversos festivais de cinema aqui do Brasil e exterior. Você pode adiantar os lugares onde seu curta estará sendo exibido nos próximos meses para que os leitores do Canibuk possam assisti-lo?

Servilha: Tudo tem sido bacana e com muito sangue meu, tenho trabalhado demais por ele, o filme foi para 3 indicações e levei o Premio Jovem Talento Feminino Brasileiro pelo Festival Art Deco Cinema aqui em São Paulo, com um filme Thriller! (risos). Isso me deixou muito feliz, geralmente eu tenho até medo de mandar filme de gênero competindo com os demais e a abertura e recepção que tive neste festival foi fantástica. Este mês foi uma surpresa ver que o filme será exibido em agosto 7 vezes Em São Paulo na Espantomania, Guaru Fantástico; no Rio de Janeiro, na Rio Fan; no Festival Macabro no México, entre outros. Estou muito contente pela repercussão do filme, todos podem acompanhar as notícias pela página “Vontade Filme” no Facebook. Tive uma recepção ótima de festivais na Califórnia, o primeiro será em Novembro 2012, inclusive tem festivais de cinema de gênero voltado apenas para direção feminina! (risos). Achei genial e estou feliz com tudo isso. Em São Paulo este mês teremos uma mostra especial da galera integrante do Cinema do Medo na ECLA, estaremos lá. Vale a pena conhecer quem se interessou pelo grupo, ou o Cine Galpão.

Baiestorf: Antigamente (até meados de 2005) nós produtores independentes praticamente não tínhamos festivais/mostras para apresentar nossos curtas, nem os canais de divulgação da Internet, tudo era divulgado em eventos undergrounds (bares e botecos com telão) ou fanzines com os filmes sendo enviados via correio. Daquela época prá cá a divulgação melhorou mas o sistema de distribuição dos filmes continua precária e amadora. Como você está distribuindo teus filmes? Eles estão se pagando? Há alguma coletânea em DVD com teus trabalhos para quem quiser tê-los em casa?

Servilha: Eu tenho muiiiiitooo o que aprender, estou no começo de tudo mesmo, tem um mundo por trás disso, e eu estou tendo que aprender na marra e sozinha, agora que eu estou entendendo melhor o que fazer com um filme e até onde eu posso ir com ele, estou me aliando com pessoas experientes no assunto que vêem me orientando. Ando pegando nichos e tem como ter uma sobrevivência independente sim. Quando acabar o período de festivais e mostras pretendo distribuir para DVD e televisão.

Baiestorf: Sou um eterno defensor/divulgador do cinema independente e pela primeira vez sinto que o Brasil tem uma cena de filmes independentes que estão tecnicamente bem elaborados/finalizados. Você acha que o caminho a seguir é continuar na produção independente ou pretende tentar alguns editais para captação de recursos mais polpudos?

Servilha: eu acho que você tem que reconhecer a qualidade daquilo que você tem na mão primeiramente, se tiver potencial até a forma independente só tende a dar bons resultados porque o trabalho é bom, acho que é possível as duas coisas, é só o cinema independente pensar mais sério que o retorno será mais sério. Fazer da sua melhor maneira possível e sempre procurar evoluir, graças a Deus criatividade é gratuito. Tem lugares, como o Cine Galpão, que buscam ser co-produtores, há bons atores por ai que ainda topam sim trabalhar de graça se ver qualidade e seriedade no que você está propondo, assim como outras pessoas de parte técnica. Desistentes e gente que provavelmente vão pular do barco, ou largar pois arrumou um outro trabalho vai ter, mas se você tiver perseverança você consegue fazer acontecer.

Baiestorf: Vi você defendendo o cinema de gênero. Você acredita que pode ser alcançado um público maior com o cinema de gênero? Como fazer para que os filmes cheguem ao povão já que hoje o cinema de bairro e/ou de calçada praticamente está extinto e o cinema de shopping exibe apenas cine-sonífero estrangeiro (ou aquelas chatices Globo Filmes)?

Servilha: Claro, porque não? Para chegar no “povão” filmes nacionais de gênero o método talvez seria trilhar um caminho pelas beiradas, é muito difícil você chegar a um adulto forçando-o comer verdura se desde criança ele não tinha costume em comer, não é da cultura brasileira, digo isso por mim que só via filmes gringos desde criança e pra mim Zé do Caixão era um apresentador do Cine Trash apenas. Eu nem tinha acesso aos próprios filmes nacionais de terror nas locadoras, isso é lamentável.

Baiestorf: Projeto futuro? Há algo em pré-produção “made in” Fabiana Servilha?

Servilha: Tem sim, até com HQs estou me envolvendo (risos). Melhor do que deixar estórias jogadas na gaveta (risos). Estou empolgada com 2013, tem um projeto de longa metragem muito bacana a caminho e um programa infanto juvenil de gênero que ando cuidando para dar certo; tenho muito trabalho pela frente, cuidando do “Vontade”, preparando o “Estrela Radiante”, tem sido uma loucura.

fotos de Juliana Cupini e Luciano Abe.

Quarta Edição do Cinema de Bordas

Posted in Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , on julho 28, 2012 by canibuk

Do dia 01 a 05 de agosto o Itaú Cultural abre seu espaço para a mostra Cinema de Bordas que vai trazer ao público paulista cerca de 23 filmes de realizadores independentes. Cinema de Bordas (ou Cinema de Garage ou Cinema Trash ou Cinema Caseiro, tanto faz, é tudo rótulo bom prás vendas) é o cinema independente brasileiro que faz o tudo com o nada e, na base do improvisso mesmo, mantêm viva a possibilidade do fazer sem ajuda do Estado pai-patrão. Se no cinema independente brasileiro o improvisso é o que mais se destaca, note-se que não é uma opção dos diretores (todos estariam filmando com dinheiro se pudessem), mas sim uma triste realidade deste paisinho dominado por corruptos e ignorantes que não tem investidores financeiros, nem canais de distribuição, para estes filmes realizados aos trancos e barrancos que acabam tendo uma recepção de público mais calorosa do que a maioria das produções profissionais de cinema do Brasil.

Nesta edição destaque para a exibição de “A Maudição da Casa de Vanirim” (nota do Canibuk: Sim, “maudição” escrito assim mesmo!) de Seu Manoelzinho, longa produzido em 1987, em VHS, que estava sendo considerado perdido e que agora, finalmente, terá sua primeira exibição pública. “Vermibus” (2012) de Rubens Mello estará estreiando no evento. Rubens Mello, prá quem não sabe, foi ator em filmaços como “Encarnação do Demônio” (2008) de José Mojica marins, “Ivan” (2011) de Fernando Rick e é um dos organizadores do Guarú Fantástico.

Joel Caetano e sua esposa Mariana Zani estarão ministrando uma oficina sobre como fazer filmes sem grana nenhuma em paralelo ao evento. Antes da mostra, dia 31 de julho, rola um debate no programa de TV Jogo de Idéias com participação de Kika de Oliveira (“Mangue Negro”), Dona Oldina (“Extrema Unção”), Gisele Ferran (“O Doce Avanço da Faca“), Mariana Zani (“Estranha“) e o diretor Seu Manoelzinho.

E o mais lindo desta quarta edição da mostra é que vai rolar o lançamento do terceiro livro sobre realizadores de Cinema de Bordas que é uma fonte de pesquisa sempre bem vinda. Os realizadores independentes brasileiros merecem mais iniciativas como essa.

Um fã ao lado de Seu Manoelzinho (dir.)

PROGRAMAÇÃO

1 de agosto (quarta-feira)

20h   Bate-papo com os curadores Bernadette Lyra, Gelson Santana eLaura Cánepa, seguido de exibição de seleção especial de filmes:

Onde Está Meu Rim?, de Renato Dib (1 min, Manaus, 2010)
Roquí Son Contra o Extermínio Ambiental, de Renato Dib (2 min, São Paulo e Manaus, 2012)
DR, de Felipe Guerra e Joel Caetano (12 min, Carlos Barbosa e São Paulo, 2012)
Vermibus, de Rubens Mello (25 min, Guarulhos, 2012)

2 de agosto (quinta-feira)

18h – Morte e Morte de Johnny Zombie, deGabriel Carneiro (14 min, São Paulo, 2011)
Entrega Especial, de Rodrigo Brandão (27 min, Juiz de Fora, 2006)
Fatman & Robada, de Rogério Baldino (32 min, Porto Alegre, 1997)
Brasil, um País de 5%, de Nerivaldo Ferreira e Johel Alvez Bright (36 min, Rio Real, 2011)

20h – Hipnose Para Leigos, deChico Lacerda (6 min, Recife, 2005)
Como Irritar Dandies do Hardcore, de Gurcius Gewdner (16 min, Rio de Janeiro, 2012)
Mais Denso que Sangue, de Ian Abé (15 min, Cabaceiras, 2011)
Jerônimo, O Herói do Sertão, de David Rangel (32 min, Paty do Alferes, 1996)
Seguido de bate-papo com David Rangel, mediado por Rogério Ferraraz

3 de agosto (sexta-feira)

18h – Antes/Depois, de Christian Caselli (9 min, Rio de Janeiro, 2005)
Bastar, de Gustavo Serrate (20 min, Brasília, 2010)
Black Power Jones, de Igor Simões Alonso (17 min, Osasco, 2012)
O Cabra Bode, de Milton Santos (45 min, Cícero Dantas, 2011)

20h – Necrochorume, de Geisla Fernandes (17 min, São Paulo, 2012)
Lua Perversa 2, de André Bozzetto Jr (18 min, Pinhalzinho, 2011)
A Lenda da Lagoa Vermelha II A Vingança, de Eutímio Carvalho (30 min, Cícero Dantas, 2012)
A Maudição da Casa de Vanirim, de Manoel Loreno (26 min, Mantenópolis, 1987)
Seguido de bate-papo do público com os curadores e realizadores presentes.

4 de agosto (sábado)

18h – A Lenda da Lagoa Vermelha II, de Eutímio Carvalho (30 min, Cícero Dantas, 2012)
Uma Vinchester Para Três Tumbas, de Arlindo Filho (91 min, Presidente Prudente, 2012)

20h – Lua Perversa 2, deAndré Bozzetto (18 min, Pinhalzinho, 2011)
Flor de Abril, de Cícero Filho (110 min, São Luiz, 2011)

5 de agosto (domingo)

16h – Jerônimo, O Herói do Sertão, de David Rangel (32 min, Paty do Alferes, 1996)
A Maudição da Casa de Vanirim, de Manoel Loreno (26 min, Mantenópolis, 1987)
Black Power Jones, de Igor Simões Alonso (30 min, Osasco, 2012)
DR, de Felipe Guerra e Joel Caetano (12 min, Carlos Barbosa e São Paulo, 2012)
Seguido de bate-papo entre os curadores e realizadores presentes.

18h Vermibus, de Rubens Mello (25 min, Guarulhos, 2012)
A Noite do Chupacabras, de Rodrigo Aragão (95 min, Guarapari, 2011)

Cinema de Bordas 4

de 01 a 05 de agosto

Sala Itaú Cultural

Av. Paulista 149, Estação Brigadeiro do Metrô

Estacionamento gratuito para bicicletas.

Programa Jogo de Idéias

dia 31 de julho

horários 18h30 e 20h no Itaú Cultural.

Oficina Produzindo com Recurso Zero

de 02 a 04 de agosto

inscrições pelo fone (11) 2168-1779.

Roteiro de A Curtição do Avacalho

Posted in Roteiro, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on maio 7, 2012 by canibuk

Em 2006 eu estava com a idéia fixa de refilmar o clássico “The Incredible Melting Man” (1978) de William Sachs. Comecei a escrever um roteiro chamado “Meleca” que abandonei e, chamando Coffin Souza prá me ajudar, re-organizei as idéias em um roteiro re-intitulado “Meleca Carne Líquida”. Quando começamos a filmar me toquei que estava ficando clichê demais e resolvi re-escrever o roteiro a mão mesmo (veja no final do post, scanner do roteiro escrito a mão), já com novo título de “A Curtição do Avacalho” e depois escrevi um roteiro mais detalhado (que posto scanner dele também porque perdi o word dele). Publicando aqui as quatro versões do roteiro que de refilmagem de filme gore se transmutou numa pequena peça de experimentação marginal autoral de política anarquista.

“A Curtição do Avacalho” produzi sem nenhum puto no bolso. Reuni amigos, algumas pessoas que me pediam para participar dos filmes e iniciamos as filmagens de final de semana (foram uns 5 finais de semana de gravações, o que deu uns 10 dias). Não paguei ninguém. Este longa-metragem foi finalizado em 5 técnicos/atores (eu, Elio Copini, Claudio Baiestorf, Ivan Pohl e Everson Schütz) se revezando nas funções (a cena final filmamos com a câmera no tripé e absolutamente ninguém por trás dela). Foi neste filme que fiz um de meus erros técnicos mais célebres. Meio desanimados (no último final de semana das filmagens), eu e os técnicos que restaram, começamos a encher a cara durante as filmagens (a parte final do filme foi toda filmada conosco bêbados) e acabei filmando duas vezes uma mesma seqüência sem perceber, mesmo com Everson Schütz dizendo “A gente filmou isso ontem!” e eu rebatendo irritado: “Não filmou não, fica atento!”. Editando o filme, eu e Gurcius já cansados e dormindo na mesa de edição, montamos errado a seqüência onde Kika derrete, assumimos este erro e o deixamos no filme. É gostoso demais errar!

Depois de pronto “A Curtição do Avacalho” foi exibido em algumas poucas mostras de cinema experimental e nunca encontrou seu público (por, talvez, não existir público pro cinema anarquista).

Para ler também o roteiro de “Arrombada – Vou Mijar na Porra do seu Túmulo!!!” (2007) e “Vadias do Sexo Sangrento” (2008), clique nos links.

PRIMEIRO ROTEIRO:

MELECA

roteiro de Petter Baiestorf.

homenagem à Splatter Night Fest

Seq. 01 – Casa Baiestorf/dia

música: “Brazuzan – Taller Than A Hill” (TUATHA De DANANN)  (?)

Santiago Segura Pinto, homem, solteiro, adulto, 23 anos + -, viciado em Coca-Cola.

Em casa abre uma latinha de coca-cola e bebe em sua sala.

Opções: * garrafa clássica sendo bebida ao pôr do sol na sacada.

* garrafa de plástico 600ml sendo bebida na cozinha.

* garrafa plástica 2 litros sendo bebida na privada durante evacuações.

* garrafa fresca-festiva sendo bebida na sala assistindo TV alienante.

Seq. 02 – Oficina Copini/dia

música: repete.

Repetição das opções de garrafas em locais do serviço. Seu companheiro de serviço sempre bebendo uns goles também. Bebe sempre, inclusive durante o serviço.

Opções: * copos plásticos da Coca-Cola.

* Bonés,camisas,calendários, etc… com a marca Coca-Cola.

Seq. 03 – Locais de lazer/dia

música: repete.

Repetições de opções de garrafas agora em locais de lazer da personagem.

OpÇões: * praça CNEC.

* Bar montado no prédio Apollo.

* praça central de Palmitos.

* piscinas da ilha redonda.

Seq. 04 – Casa Baiestorf/dia

música:

Close numa latinha de Coca-Cola sendo aberta. Santiago dá um gole sentado no sofá na frente da TV que exibia o filme “The Incredible Melting Man”.

Sente uma pústula de pus na cara (maquiadores definam o local), vermelha, irritada. Santiago começa coça-la. Quando sua empregada-faxineira lhe traz nova lata de Coca-cola.

EMPREGADA: É melhor o senhor não coçar isso aí, vai que vira em ferida!

SANTIAGO S.P. : Vou passar alguma coisa!

Levanta-se e sai fora, carregando a latinha de Coca-Cola.

Seq. 05 – Casa Baiestorf/dia

música:

Santiago entra no banheiro, bebe um gole de coca-cola e mexe com os dedos na pústula.

Aperta pensando ser uma espinha e faz a meleca interior respinga para longe.

Fica surpresso com o buraco pútrido que fica em sua testa.

Percebe novas pústulas em seu corpo.

De sua testa continua vazando gosmas malcheirosas.

Pega curativos e sai do banheiro.

Seq. 06 – Casa Baiestorf/dia

música:

Na cozinha a empregada lavava louça.

Santiago chega com curativos na mão.

SANTIAGO S.P.: Acho que é um berne!

EMPREGADA: Que coisa nojenta seu Santiago!… Vou fazer o curativo, mas não sou paga prá essas nojeiras!

Faz o curativo enquando seu braço fica próximo ao nariz de Santiago, que o cheira e num impulso primata lambe-o.

A empregada olha prá ele.

EMPREGADA: Seu Santiago… Hoje não tô a fim de sacanagens!!!

Santiago lambe e pega-a pela mão e morde furiosamente.

Sangue respingando no chão. Grito da empregada. Tombo da empregada. Facada no peito da empregada que tem suas miudezas retiradas de seu peito diretamente à boca de Santiago.

Gore básico.

Seq. 07 – créditos iniciais.

música:

CANIBAL FILMES

apresenta

 um filme de Petter Baiestorf.

 Seq. 08 – animação por computador.

música: repete.

Cara bebendo uma Coca-Cola, após bebe-la derrete formando o título do filme:

 MELECA

Seq. 09 – créditos iniciais.

música: repete.

Elenco:

Equipe-Técnica principal.

Seq. 10 – Ruas do interior de Palmitos que vai para Linha do Sr. Andrade/dia.

música: “número 19” (The Fugs) (?)

Rapaz está fugindo, já ferido com pústulas de pus iguais as de Santiago S.P., de João Travado (sujeito adulto, de óculos escuro, terno, barba por fazer) que leva em suas mãos um revólver.

Pelas plantações o rapaz em fuga ia tropeçando.

João Travado para ao lado da estrada, fica olhando-o correr.

Rapaz fugitivo entra na mata e após alguns minutos correndo para perto de arbustos, d’onde surge um ser quase mutante chamado FREAKY (mão esquerda possuí um facão, barba estilo caipiras americanos, roupa portando um colete de latas de coca-cola) que o sufoca com as mãos.

Rapaz cai ao chão morto.

João travado chega e descarrega seu revólver no morto. Depois pega um pedaço de pau e bate mais sobre o morto enquanto Freaky pica-o com sua mão facão. Depois uma motoserra e picam o defunto (vísceras animais espalhadas por todos os lados), depois pegam um moedor de carne e moem toda a carne do infeliz fazendo um amontoado pegajoso, depois jogam gasolina sobre o defunto capturado e tacam fogo.

Enquanto o infeliz queima os dois gargalham de prazer.

Pegam as cinzas numa latinha de cerveja que Freaky bebeu durante o fogo.

Seq. 11 – casa Baiestorf/dia

música:

Santiago Segura Pinto terminando de comer as vísceras da empregada. Closes em seus dentes mordendo as vísceras.

Ao que percebe o que estava fazendo.

Nota que suas mãos estavam gelatinosas.

Levanta-se e vai ao banheiro.

Seq. 12 – casa baiestorf/banheiro/dia

música:

Em frente ao espelho da pia percebe sua carne gelatinosa.

Enfaixa suas mãos e rosto e, após colocar uma jaqueta, sai do banheiro.

Câmera acompanhando-o sair do banheiro, passando pela sala, saindo pela porta, tomando um elevador,

Porta se fecha e a câmera fica registrando os números dos andares até chegar ao térreo.

Seq. 13 – Auto peças Bola/escritório/dia

música:

Os agentes entram em seu escritório.

Depositam as cinzas num cofre onde haviam outros recipientes com cinzas.

Sobre a mesa estava uma fita VHS. Colocam a fita num vídeo. Close da VHS dentro do vídeo funcionando.

Palestra do Dr. Marins começa na tela da TV.

< Dr. Marins falando >

< montar isto depois >

Na fita, uma voz anuncia que dentro de dez segundos a fita se destruirá. Os agentes ficam afobados, retiram-na com presa de dentro do vídeo cassete e com um martelo Freaky quebra-a histericamente.

Desligam a TV e sentam em seus sofás e cadeiras.

FREAKY: É bom que continue dando efeitos colaterais, assim teremos nosso emprego assegurado por um bom tempo TRAVADO: Isso mesmo… E com licença para matarmos!!!

FREAKY: Manter a ordem e os bons costumes, este é meu lema!

Seq. 14 – Rua/externa do Posto de Saúde/dia

música:

Câmera rente ao chão segue uma trilha de gosma pingada (podemos incluir uma orelha ?) até levantar e revelar que Santiago Segura Pinto estava caminhando pela rua entre meio aos pedestres.

Se dirige ao Posto de Saúde.

Seq. 15 – Consultório de Gabriel/dia

música:

Sala de espera abarrotada de pacientes.

Santiago entra e precisa esperar por algum tempo.

Além das vítimas habituais colocar um personagem com fratura exposta (braço quebrado com osso aparecendo) que conta para Santiago que foi atacado por um monstro verde do espaço.

PERSONAGEM 01: Sei lá o que aconteceu… Só sei que fui atacado por trás por um monstro verde, era um monstro legume…Ou vegetal…Ou algo assim do tipo hortaliças e o puto me arrebentou o braço…

Nisso a enfermeira chama Santiago. Que levanta-se e entra no consultório.

Seq. 16 – Auto-peças do Bola/dia

música: Han Bennink And ICP Orchestra (número 8)

Agentes descansando.

Freaky faz um casaquinho de lã usando um óculos para melhor enxergar, com as mangas de sua camisa arregaçadas revelando uma estranhas feridas.

Travado fumava um baseado, tira sua camisa revelando várias feridas em suas costas.

FREAKY: Tem algo estranho com estes caras derretidos… Acho que eles são radioativos!!!

TRAVADO: É… Também tô achando isso… (depois de um tempinho)… O que é radioativo???

Seq. 17 – Consultório Gabriel/dia

música:

Médico examina Santiago. Não fala muito, apenas resmunga consigo próprio.

MÉDICO: Acomode-o num quarto!!!

Após a enfermeira sair com Santiago Segura Pinto, o médico pega o telefone e liga para os agentes.

MÉDICO: Alô… Freaky???… Encontrei mais um viciado… Gostaria de tê-los por perto enquanto realizo alguns testes neste rapaz… Ele me pareceu mais consciente do que os outros… Certo!!! Certo… Tchau!!!

E desliga o telefone. Fica sentado em sua mesa pensativo.

Até que faz uma carreira de cocaína e dá uma fungadinha, sabe como é, pro dia ser mais hilário…

Seq. 18 – Auto-peças Bola/dia

Música: Julius Fucik (número 18 – grandes clássicos) “Marcha De Florencia”

Os agentes se vestem por vários ângulos, ajeitam suas armas, pareciam cansados com sua atividade, mas o dever os chamava pela milésima vez naquele mês.

Seq. 19 – quarto do hospital/dia

música:

Numa cama Santiago estava deitado, totalmente enfaixado (como no Incrível Homem Que Derreteu), com soro no braço.

Seq. 20  – Consultório Gabriel/dia

Música:

Médico conversando com os agentes.

MÉDICO: Este viciado me parece diferente dos outros, vou testar uma nova vacina nele para tentar reverter a situação… Qualquer progresso eu chamarei vocês, ok?

FREAKY: Certo Doutor… Só me responda uma pergunta:  Estes caras derretidos são radioativos, certo?

MÉDICO: Sim Freaky… Você e Travado estão tendo contato direto com radiação celular que se expande juntamente das gosmas carnículas desprendidas do corpo dos viciados…

Close nos rostos dos três personagens. Alguns segundos de silêncio.

FREAKY: Nós… Nós vamos morrer?

MÉDICO: Não fale bobagem Freaky, você está ficando sentimental… O que foi?… arranjou uma namorada nova?

FREAKY: Não, só que sou muito novo para morrer!!!

MÉDICO: Não se preocupe tanto, este tipo de radiação que se expande juntamente das gosmas carnículas tem cura, não é um câncer qualquer… (e o médico pega um pacote de hóstias dentro da gaveta) … Basta comerem três vezes ao dia estas hóstias sagradas pelo santo padre de roma para que os sintomas desapareçam ao final desta missão…

FREAKY: Obrigado Doutor!!!

MÉDICO: Não precisa me agradecer, agora vão que os chamarei quando for necessário!!!

Seq. 21 – Rua/externa do posto de saúde/noite

música:

Ângulo externo do posto de saúde a noite.

Seq. 22 – Quarto de hospital/noite

música:

Santiago se levanta e se olha num espelho. Fica revoltado ao retirar as bandagens e perceber que estava começando a derreter.

A enfermeira entra e ao vê-lo deixar cair sua bandeja com apetrechos hospitalares e sai correndo.

Santiago vai atrás dela.

Seq. 23 – Corredor de algo parecido com hospital/noite.

Música:

Enfermeira correndo em câmera lenta.

Visão do Santiago com suas mãos derretidas em primeiro plano.

Enfermeira arrebenta uma porta (?) e corre no estacionamento, onde é mutilada por Santiago, que a mutila com as mãos, remexendo seu estômago, arrebentando um de seus braços e abrindo-a para devorar seus deliciosos órgãos vitais internos.

Closes de tela cheia nas vísceras.

Closes de tela cheia em Santiago devorando os órgãos sangrentos.

Closes em melecas que caem ao chão.

Vísceras pisadas pelo Santiago.

Após se banquetear com a carne da enfermeira, Santiago pega o braço decepado e num único golpe enfia-o no rabo dela.

Caminhar com câmera num travelling humorístico se afastando do cadáver da enfermeira com o braço hilário saindo do rabo da enfermeira, como se fosse uma fina flor nascendo num estacionamento perdido num deserto de vazios existênciais.

(tranformar em uma mutilação completamente absurda e exagerada).

SEGUNDO ROTEIRO:

MELECA

roteiro de Petter Baiestorf

baseado em argumento de

Petter Baiestorf & Coffin Souza.

CANIBAL FILMES

apresenta

 01- noite

Sangue respinga contra algo meio branco.

Close numa cabeça detonada com sangue jorrando e algumas tripas vazando do estômago.

As tripas borbulhavam num vermelho escuro macabro de tão aproximado que está na tela.

Plano aberto revelando dois agentes. Seguram armas estranhas e possuem figurino fodão.

COFFIN: Será que ele está morto?

SÃO FODAS: Certifique-se disso!!!

Coffin mutila o corpo já morto fazendo tripas e mais sangue respingar para todos os lados, num banho de sangue repleto de ângulos tortuosos de câmera não parada, sempre na mão, ângulo com filmadora rente ao chão com tripas caindo contra ela até obstruir por completo a visão.

Fazer com a filmadora permaneça ali parada com uma montanha de tripas em tela cheia, para ouvir o diálogo:

COFFIN: Será que ele está morto?

SÃO FODAS: Acho que sim !!!

COFFIN: Então vamos… Hoje tem o último capítulo da novela das oito e não quero perder…

Passos são escutados, por detrás das tripas o espectador percebe que os agentes estão se afastando.

02 – dia. (rio Uruguai-rancho baiestorf).

Close em na boca de Schütz que está bebendo uma garrafa de 2 litros de coca-cola, câmera se afasta revelando sua sede por alimentos industrializados.

Schütz estava fazendo um piquenique com sua noiva que ainda não aparece.

De sua testa estava vertendo algo parecido com uma meleca pustulenta. Vai até o espelho de seu carro e aperta a ferida fazendo respingar uma gosma contra o espelho de modo exagerado. Verte gosmeira prá tudo que é lado, inclusive sobre uma fatia de pão que estava sobre uma toalha xadrez de pik nik no banco do carroneiro.

Schütz se levanta e sai em direção ao rio.

SCHÜTZ: Bela, Bela… Tira essa espinha nojenta da minha testa!!!

Bela sai de bikini das águas poluídas do Rio Uruguai. Caminha até Schütz e olha com nojo prá ferida melequenta. Espreme a ferida e respinga contra seu corpo, em jorros generosos e melequentos.

BELA: Aí, que nojo!!!… Você é um porco!!!

E dá-lhe um tapa na cara.

BELA: E acabou tudo entre a gente, não vou ficar saindo com um leproso sem educação…

SCHÜTZ: Mas o que é que eu fiz?

Fica parado com meleca vertendo de sua testa.

Bela senta-se no carro onde coloca uma camiseta branca (fica de bikini por baixo) e pega a fatia de pão levando-a boca e mastigando-a de maneira gulosa.

BELA: E vou embora de a pé… Adeus!!!

E sai caminhando determinada a ir embora.

Close em Schütz com sua cara surpresa, com meleca escorrendo por entre seu rosto.

Pega um pacote de Doritos da Elma Chips e come tristemente, bebericando mais coca-cola, diz;

SCHÜTZ: Sorte que tenho vocês que não me abandonam!!!

E abraça seus amiguinhos alimentícios industrializados numa demonstração de amor.

Respinga gosma contra a lente da filmadora ao se aproximar do rosto de Schütz.

03- dia

Agentes estão numa sala mal iluminada onde vemos seu chefe na penumbra, sem revelar nada de seu físico.

MASTER: Coffin, você e São Fodas deverão ir atrás de Schütz, outro elemento que começou a derreter… (entregando um envelope)… Aqui tem uma foto dele e de sua adorável noivinha…

COFFIN: Sim Master, Deixe essa divertida missão conosco, traremos os restos mortais deste viciado em alimentos industrializados para vosso delicioso projeto gastronômico intergaláctico magistral…

E os três gargalham de maneira clichê, tipo “dominarei o mundo”, após isso os dois agentes saem dali.

04- dia

Na floresta dos cogumelos saltitantes, Bela estava perdida.

BELA: Mas que merda, onde está aquela trilha… Schütz… Schütz… (chama por seu amado gritando).

Uma mão decomposta entra no plano da filmadora sendo colocada na árvore que está em primeiro plano no canto esquerdo da tela, com Bela ao fundo em segundo plano.

Bela se vira de frente para a filmadora e detrás da árvore surge Schütz derretido em boa parte de seu corpo visível.

Pega em Bela que se vira gritando e ao perceber que era ele, dá-lhe um tapa no rosto e grita:

BELA: Não me assuste mais, seu idiota!!!

Schütz desnorteado fica olhando-a e aí tenta mordê-la, leva um novo tapa no rosto.

BELA: O que é que tu tá fazendo, palhaço!!!

SCHÜTZ: Não sei… O cheiro da tua carne é delicioso, tenho vontade de comê-la… (e aí morde a BELA, arrancando um naco de carne)…

Ela empurra-o e ele rasga sua camiseta banca. Ela sai correndo e ele atrás.

05 – Dia – frente a sub-estação.

Garotona caminha em frente a sub-estação de Palmitos. Música estúpida com ângulos engraçados.

Revelar Coffin & São Fodas olhando para uma foto de Schütz.

COFFIN: Acho que é nosso infectadado… (diz isso com um sorriso debochado no rosto).

SÃO FODAS: É, sem sombra de dúvida é ele!!!

E os dois vão até lá e matam a mulher com requintes de crueldade. Preparar baldes e baldes de sangue e vísceras.

Após detonarem a vítima, Coffin mexe nos bolsos da vítima (antes retiram relógio de pulso, corrente, dinheiro, etc…) e pegando a carteira olha os documentos.

COFFIN: Nossa, não é ela…

SÃO FODAS: Que droga né, isso quer dizer que temos que nos livrar do corpo…

Ambos se entre-olham e cada um pega um naco de carne da gorda e começam a come-la alucinados. Câmera nervosa, closes nos dentes, gosmas ensangüentadas, etc…

06- Dia

Schütz perseguindo sua noiva, que cai num barranco e é morta por estacas pontiagudas, várias delas que respingam sangue por todos os lados.

Schütz morde-lhe o pescoço arrancando um pedaço de carne, mas ao mastigar percebe o que está fazendo e começa a chorar se lamentando de ter matado-a.

Retira-a dali e sai carregando o corpo de sua noiva.

07- Dia

Coffin & São Fodas terminavam de devorar o cadáver da mulher, quando um colono carregando uma enchada chega até eles.

COLONO: O que vocês estão fazendo aqui?

São Fodas atira no colono abrindo-lhe um buraco no peito. O Colono cai morto.

Ambos vão até no corpo e mexem nos bolsos, tirando as coisas de valor.

COFFIN: E esse cara também não é o Schütz!!!

SÃO FODAS: É, não é não!!!

COFFIN: (após olhar as horas no relógio do colono) … São seis da tarde, acabou o expediente porque logo vai escurecer e não gosto de fazer horas extras, amanhã a gente continua as buscas ao viciadinho em comida industrial…

08- Noite – frente a casa no rancho baiestorf.

Close nos olhos melequentos de Schütz.

De cima de um andaime revelar um cenário surreal com uma cama de solteiro, em volta dela pequenas árvores secas e fumaça.

Sobre a cama estava o corpo de Bela, morto, sem vida, mas com feridas brilhantes cortesia dos pedaços de galhos pontiagudos malvados matadores de menininhas que fogem pela mata.

Schütz entra no ângulo (filmado de cima do andaime) e caminha até perto da cama.

Deita-se ao lado de sua noiva morta.

Fumaça. Ângulos entre os galhos secos, close em Schütz, em seus olhos que ainda permaneciam um pouco humanos.

THE FLASHBACK:

09- (praça).

Schütz vestido de mendigo remexendo lixo numa praça pública, quando chega Bela. Olhares clichês do tipo “eu te amo para sempre neste filme” e ambos saem abraçados tipo “encontrei meu amor eterno”.

(casa baiestorf – cozinha)

Em casa, Schütz ainda vestido de mendigo, com uma banana saindo das calças, Bela agarra-a e sorri para ele que sorri de prazer.

(casa baiestorf – sacada da sala)

Schütz de banho tomado, cabelo penteado, comendo uma torta que Bela lhe dava com colherzinha.

(casa baiestorf – cama rick)

Bela deitada com Schütz tirando o chinelo dela e beijando as pernas, do pé em direção a coxa.

Pedir para Kika trazer várias roupas sexys para estes takes.

10 – Noite – frente a casa do rancho baiestorf

Fim do flashback.

Rosto de Schütz coladinho ao de Bela, ao afastar sua face da dela, uma gosmeira fica no lindo rostinho.

Câmera do alto do andaime revelando o cenário estranho.

Schütz beija sua noiva morta na boca.

Câmera na mão andando em volta da cama enquanto Schütz beija-a.

11- Dia – SALA CASA Baiestorf (tela dividida com seq. 12 – edição)

Close numa tela de TV que exibia cenas XXX.

Rapaz batia uma punheta em frente o televisor.

Vários ângulos para ter material para edição.

Ainda batendo punheta, Rapaz caminha até a sacada de sua casa onde tem um orgasmo com a cidade de fundo.

* Durante esta seqüência, deixar apenas gemidos de vagabas XXX).

12- rua einloff 38 (editar com tela dividida)

Diabo, Ivan, Com sua vestimenta bizarra e uma estrela de xerife (ou distintivo) no peito, olhando para cima, quando uma estranha gosma cai em seu rosto.

Segue caminhando (de baixo para cima) até virar a esquina…

13- subestação

Diabo, Ivan, caminhando perto da estação onde outros 2 detetives engravatados olhavam os corpos mutilados da mulher e do colono.

Diabo ergue o pano que cobria o rosto do colono.

Depois o pano que cobria a mulher e ao vê-la ele se levanta estranho.

DIABO: É minha irmazinha…

Close na mulher. Câmera se aproxima de Diabo, o detetive pohlinizado.

DIABO: … Vou matar todos os suspeitos que cruzarem meu caminho, o caos tomará conta do mundo, nada mais será como antes… (e gargalha sadicamente, tipo cientista louco) e sai dali caminhando em frente, para dentro do mato.

Os dois detetives se entreolham.

DETETIVE 01: O Diabo tá chapado… Ele nem tem irmã !!!

DETETIVE 02: Será que ele tem um baseado… (ao falar isso os dois saem atrás dele)…

E a Câmera desce até dentro das vísceras de uma das vítimas.

*** Dentro das vísceras colocar um papel onde se lê em letras garrafais:

CANIBAL FILMES

– apresenta –

14- créditos iniciais

M E L E C A

15- Dia – pátio do rancho baiestorf

*** Coffin e São Fodas estão parados (PM deles). Coffin bate palmas, igual quando se mata um mosquito com as mãos.

Close nas palmas das mãos de Coffin se abrindo, onde se lia num papel:

um filme de

PETTER BAIESTORF

Revelar que estão em frente a noiva de Schütz morta, mutilada e tal.

Coffin atende um celular…

Enquanto Coffin fica dizendo coisas do tipo “Sim, sim… Claro Master… Sim, entendido…Sim, tudo sob controle, etc…” … São Fodas Prepara uma dose de heroína e se injeta no pescoço (ou dentro da boca,  embaixo da língua, decidir com técnicos de fx).

Coffin desliga.

COFFIN: Schütz foi para o norte, o Master está rasteando-o com a ajuda dos militares de Brasília… Só temos um problema: Diablo, aquele policial louco da Federal se meteu no caso… Temos que tentar fazer aquela mula nos ajudar sem que perceba nada !!!

Câmera se aproxima dos dois, roda ao redor dos dois e baixa até os restos mortais de Bela dando seu adeus ao tão belo cadáver putrefacto.

16- Dia

Schütz encontra uma garota vendendo uma árvore de natal, mata-a (elaborar a forma com técnicos FX).

Árvore cai ao chão enquanto sangue e vísceras a decoram de forma fantasticamente gore-splatter.

Diabo chega ao local deste assassinato dando o flagrante.

Schütz e Diabo lutam e Schütz detona Diabo enfiando-lhe a árvore de Natal no rabo.

Schütz se manda sem devorar ninguém.

Diabo se levanta capengando com a árvore enfiada no rabo, sangue denso vertia das nádegas com alguns pedaços de tripas que ficavam penduradas pelas pernas.

17- Dia

Coffin e São Fodas encontram diabo ferido com a árvore enfiada na bunda. Arrancam-na de sua bunda fazendo com que respingue um absurdo muito grande de sangue.

DIABO: Mataram minha irmã… Preciso de vocês para pegar este tarado!!!

COFFIN:  Claro, também estamos atrás desta aberração… Vamos unir forças e extermina-lo!!!

Diabo vai seguindo em frente, Coffin cochicha baixinho para seu colega:

COFFIN: Vamos nos aproveitar deste maluco!!!

18- Dia/ mato

Schütz ataca os dois detetives que bebiam coca-cola no meio do mato. Elaborar uma sangueira de primeira grandeza (ver com fx man).

Após mata-los, devora alguns pedaços de carne humana com generosos goles de coca-cola.

19- dia/ Mato

Schütz se empanturrava com a carne dos detetives quando Coffin, São Fodas e Diabo aparecem por trás.

Montar um clima de faroeste italiano em tom de farsa. Enriquecer com vários closes e uma montagem dinâmica e música hipnótica para duelos fakes. Schütz pega uma arma dos detetives, lógico!!!

CLIMA, CLIMA, CLIMA…

Silêncio, nervosismo…

Sem diálogos…

São Fodas Saca um baseado e acende neste clima todo. E traga prazeirosamente.

O duelo é feito ao modo antigo.

E o resultado ? … O RESULTADO: Coffin é morto com um balaço na cabeça ! Diabo cai ao chão baleado quase que mortalmente no Saco Escrotal ! E São Fodas nada percebe, pois a maconha era da boa !!!

Schütz se aproxima do grupo pós o duelo e São Fodas lhe alcança o baseado que ele pega e traga majestosamente com um prazer gotejante. Diabo fuçava em sua ferida no saco para retirar a bala.

Schütz vai embora com o baseado,

São Fodas acende outro baseado,

Diabo arranca a bala do saco se contorcendo de dor.

20 – dia/ Pátio de festas do Rancho.

Close em um balde de tinta com as mãos de um artista de vanguarda se sujando todo de tinta, totalmente colorido. Ao fazer o plano aberto, revelar um artista se sujando de tinta defronte à um pano branco estendido no chão com vários outros sentando a sua volta tocando violão e bongôs.

Ele se atira sobre o pano branco criando arte. ARTE NÃO COMERCIAL!!!

E todos festejam de modo histérico uma volta a condição de primatas não pensantes.

O quadro fica pronto e é levado pelos festeiros até perto de umas árvores.

Câmera correndo junto deles, entre meio, loucura, sons, barulhos…

Junto a mesa, o artista discursa:

VANGUARDEIRO: A arte escapa do meu inconsciente como um peido alado que escapa de meu cu!!!

VANGUARDEIRO: A arte está acabada… Morte à arte antes que seja tarde demais!!!

E gritando como índios estendem o pano e o encharcam de gasolina e tacam fogo. Tudo se queima. Quem guardou a obra na cabeça preencheu um pouco do seu vazio existencial, já quem não memorizou não perdeu nada.

VANGUARDEIROS: Mate a arte antes que o curador apareça com um cheque polpudo!!!

VANGUARDEIROS: Vamos comer a arte comercial!!!

VANGUARDEIROS: Canibalizar, Canibalizar, Canibalizar a arte!!!

E servem um banquete com DVD’s comerciais (filmes de Hollywood), fitas VHS de grandes filmes, livros de grandes autores de best-sellers, revistas estúpidas, CD’s, etc…

Mostrar os artistas comendo tudo, devorrando a arte que devorra  nossos cérebros…

21- dia

Vanguardeiros estavam fazendo a sesta, alguns bebiam chimarrão, alguns dormiam em redes, alguns bebiam vinho do gargalo da garrafa, alguns escreviam poemas em pedaços de papel usado, etc…

Schütz aparece para eles no horizonte.

VANGUARDEIRO: Pelo amor do acaso, este homem é uma criatura derretida, olhem as formas dadaístas orgânicas dele…

Todos se levantam cercando Schütz admirados com sua forma derretida.

Schütz num gesto amistoso alcança o baseado para um artista que pega-o e fuma.

VANGUARDEIRO: Estamos diante da evolução humana, quando as mãos do artista conseguirão domar a podridão da carne para criar novas formas para o corpo humano…

VANGUARDEIRO: Conte-nos o segredo mestre do sonho amorfo…

VANGUARDEIRO: Mostre-nos o caminho sagrado ao cogumelo perfeito que revelará para nós os métodos de criação sem limites formais e morais…

VANGUARDEIRO: Mostre Mestre, mostre mestre, mostre mestre…

E um vanguardeiro trás um corpo podre sobre uma mesa.

Câmera se aproxima do corpo podre, autopsiado, putrefacto e uma cruz cristã se levanta de seu interior… E depois mais outra e mais outra e mais outra criando um jardim cristão putrefacto que todos olham admirados e gritam:

VANGUARDEIROS: Mostre-nos o caminho mestre!!! (e ficam repetindo isso enquanto a câmera se afasta).

22- anoitecer

São Fodas e diabo sentados num local deserto com o sol se pondo às suas costas. Carregavam suas armas.

São Fodas espalha uma carreira de cocaína e cheira. Diabo também faz uso da substância.

Se levantam fazendo pose de atores de filmes de ação pronto para matar todos os seres do planeta…

23- noite/ Rancho/ Trovões e chuva.

Artistas bebiam com Schütz na chuva, estavam festejando a chegada do messias dadaísta…

VANGUARDEIROS: Com a chegada do Mestre, Messias do Caos, a criatura iluminada, sentimos que é o momento de criarmos a zona autônoma de Kanibaru onde todos serão iguais e criarão obras-primas que durarão segundos…

Close numa espingarda que dispara.

O vanguardeiro que falava tem sua cabeça arrebentada e cai morto.

Cria-se o caos com gente para todos os lados, tiroteio, mortos ensanguentados, perdendo tripas com simples tiros e chuva e raios e trovões e cãmera nervosa no meio de todos…

Todos vão sendo mortos, Diabo leva uns balaços e cai morto, sendo mutilado por um vaguardeiro de facão numa cena gore extrema…

Schütz ataca São Fodas que também é arrebentado, revelando seu sangue de cor VERDE ESCURO.

Todos os Vanguardeiros estão mortos, a verdadeira arte nem teve tempo de nascer.

Barros e lama, alguns se arrastando pelo chão, Schütz caminha embora,etc…

Bolar muita coisa de improvisso na hora. COMBINAR os fxs possíveis antes…

24- Dia/ rancho

Galinhas comendo entre meio aos cadáveres sujos de sangue e vísceras exageradas. São Fodas se levanta e sai cambaleante.

Escolher uma música tocante climatica.

E ele caminha em direção a cidade (revelar a cidade ao fundo, filmar num dos morros perto de palmitos)

25- dia/

São Fodas entra numa sacristia onde um padre lhe abençoa. Eram conhecidos um do outro. O padre lhe aplica uma dose de heroína na veia e bebe uisque da garrafa rotando como o verdadeiro porco que sua profissão lhe obrigava a ser.

São Fodas fica melhor com a dose de heroína.

SÃO FODAS: Preciso ir até o Master!!!

PADRE: Sim, eu sei… O Master está te esperando…

26- dia (filmar a noite pelo clima)/oficina Copini.

São Fodas e o padre entram numa sala onde o Master estava sentado na penumbra (revelava somente metade de seu corpo) junto de engravatados, fumava um charuto que cada pouco se acendia no escuro, uma grande ponta vermelha.

MASTER: Sentem-se…

São Fodas e o padre sentam-se.

MASTER: Logo localizaremos o Schütz, o exército já está cuidando disso… O mais importante é que fechei negócios com mais fábricas de comida industrializada para infectarmos os humanos e com isso teremos papinha de terráqueos para nossos bebês por muito tempo… Nosso negócio de papinhas para bebês alienígenas  se tornará um monopólio imperial em todos os cantos do sistema solar… Sucesso absoluto do capitalismo neo-liberal…

Todos os engravatados aplaudem…

Um militar entra na sala.

MILITAR: Senhor Master, localizamos o Schütz no quadrante Souza…

MASTER: Ótimo, eu mesmo comandarei essa caçada, afinal, eu também quero me divertir…

Ao falar isso ele se levanta.

Música do THE CRAMPS – “Mojo Man From Mars” no áudio.

Câmera sobe até perto do peito, corte.

Câmera faz travelling da direita para esquerda até o peito, corte.

Câmera faz travelling da esquerda para direita até o peito, corte.

Câmera sobe da cintura até no rosto ainda na escuridão, aí Master dá um passo para a frente e revelar se um Monstro Legume de óculos escuro, que gargalha cafajestemente.

São Fodas se levanta também e retira sua máscara humana se revelando também um monstro legume do espaço sideral.

Ambos caminham contra a Câmera.

27- dia/escombros de pesagem em Maravilha.

Schütz estava derretendo nos escombros de uma construção sob sol forte perto da cidade de Maravilha.

Levanta-se derretendo e sai caminhando naquele labirinto de escombros, revelando um mosaico caótico.

Sai para fora da construção após caminhar pelos escombros internos revelando o solão insuportável.

Um carro para perto dele e os dois Monstros legumes saem do carro.

Novo duelo em homenagem ao cinema western spaghetti. Criar todo clima clichês, desta vez com Schütz derrendo, pingando líquidos, etc…

Tiros…

Schütz cai morto.

28- dia/ pesagem Maravilha

Monstro colocam a carne de Schütz (que ainda derretia) numa lata com uma pazinha. Após isso vão embora deixando para trás partes impuras e roupas de Schütz (idéias FX Man ???).

Câmera rente ao chão, em primeiro plano os restos derretidos de Schütz, ao fundo o carro se afstando…

Fade-out???

29- Oficina copini

Carregando latas de carne derretida.

Master fiscalizando tudo.

Elaborar algo que talvez lembre uma porta de Espaçonave. Isopor, cola e criatividade…

30- ???

Espaçonave levando tudo ao planeta ML.

Elaborar ela saindo do planeta terra, etc…

Talvez com uma sequencia do punheteiro vendo a nave partir de sua sacada no Apolo???

Elaborar algo deste gênero.

31- dia/ Sala Baiestorf apollo.

Numa sala os ML + padre + engravatados + militar estavam assistindo Mojica falar sobre o quanto Coca-cola faz mal prá saúde.

Um publicitário entra na sala com uma fita VHS na mão. Diz ser o novo comercial que incentiva os humanos a comer mais o consumo de comida industrializada.

Fita no Vídeo. Close interno nas engrenagens dele funcionando.

32-

Sobre imagem de inúmeros rótulos de produtos multinacionais (principalmente comida e bebida) colocar um texto (bolar ainda) incentivando a comer estes produtos, como se fosse importante para sua sobrevivência.

33- Créditos gerais finais…

Música:

34- Rodar aqui mais um pedaço do filme, utilizando mais uma aventura do Monstro Legume, elaborar algo bem divertido e trasheira anos 50, tipo filme de MONSTERS. Filmar após concluir as filmagens anteriores do “Meleca”, para depois revelar que o filme não acabou com os créditos finais.

Fazer várias ligações complicadas com personagens que achamos estarem mortos, como Diablo (que não morreu) e outras supressas que revelarei no sermão da colina.

até mais velhino!!!

TERCEIRO ROTEIRO:

QUARTO ROTEIRO (oficial):

Primitivista Cinema Canibal

Posted in Nossa Arte, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on abril 26, 2012 by canibuk

Dando seqüência aos filmes hospedados no youtube/vimeo, foram disponibilizados mais 3 curtas meus e vários trailers de filmes ruins que fiz no passado (e vários curtas de Coffin Souza que entrevistarei em breve sobre suas experiências no Nordeste onde ele filmou cerca de seis horas de curtas experimentais lançados em 5 coletâneas em VHS). Entre os curtas online de agora, dois que eu gostei muito de filmar: “2000 Anos Para Isso?” (1996), que tem uma história de produção bem curiosa, e “Primitivismo Kanibaru na Lama da Tecnologia Catódica” (2003), um curta onde percebi que as vezes o improviso funciona melhor que os planos originais.

“Primitivismo Kanibaru na Lama da Tecnologia Catódica” (2003, 12 min.) de Petter Baiestorf. Com: Elio Copini e Coffin Souza. Filmado com ajuda técnica do trio Jorge Timm, CB Rot e Claudio Baiestorf.

Não lembro mais qual era a história que iríamos filmar naquele dia de dezembro de 2002 (vários roteiros de curtas eu escrevia em pedaços de papel e depois, na hora de filmar, ia moldando as idéias), mas quando nos dirigíamos para o set (aquele lamaçal visto no vídeo), CB Rot (ou Coffin Souza, não consigo lembrar direito) encontrou uma velha TV jogada no lixo e a pegou para algo futuro. Quando vi aquela TV no porta malas de um dos carros da produção, deu estalo na mente e a história toda para o “Primitivismo Kanibaru” surgiu. Elio Copini estava com bastante receio de entrar naquela lama com água podre (dava prá ver vermes e lombrigas boiando mortas entre a sujeira da água), mas como eu e CB Rot (na época meu assistente de direção) entramos naquela podridão com a filmadora e um rebatedor, Copini se sentiu na obrigação de fazer o mesmo. Em mais ou menos 3 horas de trabalhos conseguimos o material necessário para editar o curta. Coffin Souza foi improvissado no papel do primata (no estojo de maquiagens tinha uma dentadura velha de quando filmamos, vários anos antes, o longa “Caquinha Superstar a Go-Go” (1996) e essa dentadura deu um ótimo visual selvagem ao Souza), sujamos ele todo com lama e o colocamos entre uma vegetação espinhosa e ação!

Durante as filmagens Jorge Timm e Claudio Baiestorf ficaram bebericando uma garrafa de uisque vagabundo e logo estavam bebaços tropeçando em poças de lama. Acostumados com filmagens de guerrilha, gravamos o “Primitivismo Kanibaru” rápido e sem contra-tempo algum, apenas falei a frase que costumo dizer quando percebo o desconforto dos atores que trabalham comigo: “Tu confia em mim?… Sei o que estou fazendo, vai ficar foda!!!” e isso cria um clima de cumplicidade e o trabalho se torna mais intenso.  Claro que Copini e Souza estavam com o senso de humor meio prá baixo por causa do desconforto físico das filmagens, mas ambos tinham noção que as imagens gravadas estavam com uma qualidade bem boa (claro que este “bem boa” leva em consideração as imagens “bem boas” do Super VHS do final dos anos 90). Editei este curta em mais algumas poucas horas (não mais do que 4 horas, pois a maioria das imagens foram feitas de take único), na trilha sonora coloquei músicas das bandas MÚ (do desenhista Edgar S. Franco) e Los Activos que encaixaram perfeitamente e comecei a divulgá-lo em vários festivais de cinema aqui pelo Brasil. “Primitivismo Kanibaru na Lama da Tecnologia Catódica” nunca foi lançado em VHS, nem em DVD, mas continua sendo um de meus filmes mais populares.

“2000 Anos Para Isso?” (1996, 12 min.) de Petter Baiestorf. Com: E.B. Toniolli. Filmado com Coffin Souza, Marcos Braun e Claudio Baiestorf na equipe-técnica.

Este curta nem era para existir, todas as imagens dele foram produzidas para o longa-metragem “Eles Comem Sua Carne” (1996) que escrevi e dirigi (com produção do Souza) no começo daquele ano. As filmagens deste longa foram meio insanas, tínhamos uma equipe de 26 pessoas trabalhando num lugar isolado, cheio de aranhas, sem água potável e fazendo um calor absurdo que quase chegava aos 40 graus. Canibal 40 graus: Mas éramos jovens, loucos e completamente sem noção (foi neste longa que banhamos Marcos Braun – nesta época meu assistente de direção – com tinta vermelha para concreto e o cabelo dele ficou rosa, obrigando-o a raspar a cabeça quando teve que voltar ao seu emprego normal. Também nestas filmagens convenci o ator E.B. Tonioli a se banhar uma piscina com água podre para usar no longa-metragem “Caquinha Superstar a Go-Go” estava sendo filmado simultaneamente e, imprudentemente, embolotamos toda a pele de uma das atrizes com uma tinta tóxica que não testamos antes, coisas que nunca mais deixei repetir numa produção).

“2000 Anos Para Isso?” existe porque um espanhol convidou um curta da Canibal Filmes para seu festival de curtas gore que aconteceria na Espanha. Nesta época eu só tinha feito os longas “Criaturas Hediondas” (1993), “Criaturas Hediondas 2” (1994), “O Monstro Legume do Espaço” (1995), o média “Açougueiros” (1994) e o curta “Detritos” (1995), que não era gore. Ao invés de usar o bom senso e recusar o convite, peguei e montei este filminho com as cenas do “Eles Comem Sua Carne”, tentando dar um novo significado às imagens que, no fim das contas, passa praticamente a mesma mensagem que quando incorporadas no longa.

As filmagens destas cenas foram cansativas, o banheiro que usamos nas gravações era pequeno demais e não comportava o casal de atores e uma equipe-técnica. Pedi então para Braun e Claudio que removessem o teto do banheiro, o que possibilitou fazer vários takes do alto. Com uma equipe reduzida à 4 técnicos e os dois atores, enquanto fomos filmando as cenas em planos abertos, Coffin Souza ficou maquiando um porco morto depilado (que compramos num açougue) para usarmos para fazer os closes do cutelo penetrando na carne da garota e para os closes das tripas saindo da cavidade estomacal. Claro que devido ao calor intenso e ao tamanho reduzido daquele banheiro maldito, o cheiro das vísceras ficou insuportável, mas nada que assustasse o pessoal que já estava acostumado a filmar comigo. Até hoje este curta continua sendo exibido em algumas mostras, mesmo nunca tendo sido lançado em DVD. Em VHS ele foi lançado, fazia parte da coletânea de curtas “Festival Psicotrônico Vol. 1” (lançada em 1999).

“Vomitando Lesmas Lisérgicas” (1997) de Petter Baiestorf. Filmado com ajudatécnica de Marcos Braun.

Este curta só existe por um único motivo: Eu queria testar as possibilidades da íris de uma filmadora VHS com defeito que eu tinha e o desbotamento das cores que resultavam das cópias de VHS para VHS (este filme não é preto e branco, é colorido desbotado). Como não tinha história nenhuma para filmar, me improvisei de ator (Braun ficou segurando a filmadora para mim), fiquei caminhando de um lado pro outro, legendei a porra toda com um poema que eu tinha escrito chapado e… Porque não mostrar o resultado destas experiências para todo mundo que se interessar em vê-lo. “Vomitando Lesmas Lisérgicas” é um curta que eu nem lembrava que tinha feito e fiquei bem feliz quando mostrei ele para minha namorada (e companheira de Canibuk) Leyla Buk e ela me disse que adorou o curta.

Se você gostou desta postagem, veja também “Fragmentos do Nobre Deputado Fraude Tomando no Orifício Pomposo“, “Deus – O Matador de Sementinhas & Poesia Visceral“, “A Paixão dos Mortos“, “A Despedida de Susana – Olhos & Bocas“, “Criando Ninguém Deve Morrer” e “Encarnación Del Tinhoso“.

Memórias de Petter Baiestorf.

Fragmentos do Nobre Deputado Fraude Tomando no Orifício Pomposo

Posted in Nossa Arte, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on abril 17, 2012 by canibuk

Nesta semana Gurcius Gewdner está disponibilizando em sites como Vimeo e Youtube alguns curtas que fiz tempos atrás e que nunca foram lançados em DVD. Segue link para mais quatro curtinhas bagaceiros. Para Assistir “Deus – O Matador de Sementinhas” (1997) e “Poesia Visceral” (2004), clique aqui.

“Fragmentos de uma Vida” (2002, 7 min.) de Petter Baiestorf. Com: Juliana, PC e Loures Jahnke.

Em 2001, logo após o lançamento do longa-metragem “Raiva”, comecei as filmagens de outro longa chamado “Mantenha-se Demente”, uma homenagem ao cinema gore exagerado japonês que naquela época eu assistia aos montes em fitas VHS piratas sem legendas em nenhuma língua ocidental. Como o “Raiva” não deu lucro financeiro nenhum, tive que abortar as filmagens do “Mantenha-se Demente” (bem mais caras e complicadas), mesmo já tendo filmado algumas seqüências. Depois de um ano resolvi rever as cenas que havíamos filmado e percebi que tinha um curta nas mãos. Não gosto de filmar e não aproveitar o material. Mudando o título para “Fragmentos de uma Vida”, montei as cenas para ser uma reflexão sobre a brutalidade do machismo na sociedade brasileira (sem deixar de lado minhas críticas religiosas, desta vez centradas na figura de um satanista, que para mim é tão ignorante quanto um católico, um evangélico, um espírita, um cabalista, macumbeiro, budista, muçulmano e o que mais os medos humanos criarem para servir de muletas). Não filmo o sobrenatural porque o que não existe não me interessa (salvo zumbis e alienígenas que aí é pura diversão), meu interesse está voltado aos assuntos possíveis, como a imbecilidade do homem, seu fanatismo religioso, sua brutalidade que ganha força com sua ignorância; uma horda de torcedores fanáticos vindo em minha direção me assusta, fanáticos religiosos segurando um facão me assustam (o mundo está cheio de exemplos de massacres religiosos), a mente humana me assusta muito mais que vampirinhos ou fantasminhas de filme de horror americano que o cinema brasileiro está começando a pegar gosto em copiar. A trilha sonora do curta trás músicas das bandas Ornitorrincos e Intestinal Disgorge.

“Frade Fraude Vs. O Olho da Razão” (2003, 13 min.) de Petter Baiestorf. Com: Coffin Souza e Petter Baiestorf.

Este é outro curta que só filmamos por culpa do tédio (se você não gosta de filmes sem um mínimo de produção nem assista). Estávamos, Coffin Souza e eu, sem nada para fazer num domingo e, depois de algumas cervejas, resolvemos filmar uma reflexão sobre os rumos da humanidade. Nos apropriamos de textos do Nietzsche (e de outros filósofos que fomos lembrando frases) e elaboramos um curta cíclico como a vida; ação/reação – tudo que tu faz na vida resulta em críticas positivas e destrutivas (e no final arrisco dar minha fórmula para a implantação de uma sociedade anarquista na sociedade de hoje). Revendo este curta hoje me arrependo de não tê-lo filmado direito, com outro ator no meu papel (para mim manejar a filmadora e dirigir direito), figurinos apropriados e outras coisinhas mínimas de produção. Mas a idéia está aí, rodando por todos os lados, essa tranqueira foi até exibida em alguns festivais de cinema experimental. Neste curta temos uma participação especial de Claudio Baiestorf (meu pai, que infelizmente faleceu em 2009), no final do filme, com um diálogo enigmático que remete à uma piada interna da Canibal Filmes envolvendo o clássico “Invasion of the Body Snatchers/Vampiros de Almas” (1956) de Don Siegel.

“Vai Tomar no Orifício Pomposo” (2004, 14 min.) de Petter Baiestorf. Com: Coffin Souza, Elio Copini e DG.

Não é segredo prá ninguém que sou um grande fã do escritor Charles Bukowski e este curta é minha tentativa de filmar algo no universo do velho safado. Não lembro muita coisa destas filmagens, não lembro nem de ter escrito o roteiro (to achando que filmei este curta todo de cabeça), nesta época eu estava mais preocupado em me matar bebendo do que na possibilidade de realizar meus projetos. A casa usada nestas filmagens era a casa real do Souza e como a casa vizinha à dele estava vazia, arrancamos a parede para criar o clima surreal que a briga de vizinhos pedia. Elio Copini interpretou o evangélico cretino e Coffin Souza o escritor maldito com problemas com as bebidas (essa personagem sou eu, mas pode ser o Souza mesmo, pode ser o Bukowski, pode ser você). Não gosto muito da edição que fiz (montei tudo na câmera, inclusive os efeitos sonoros e as músicas). Desde a época que filmei “Vai Tomar no Orifício Pomposo” que tenho planejado um longa-metragem dramático com este clima de desespero fantástico, mas como tenho preferência por projetos sexploitations de humor negro, sempre vou deixando prá depois essa minha vontade de produzir um drama etílico surrealista.

“O Nobre Deputado Sanguessuga” (2007, 13 min.) de Petter Baiestorf. Com: Elio Copini, Coffin Souza, Gurcius Gewdner, Carli Bortolanza, Iara e Claudio Baiestorf.

Essa fábula infantil que ensina as crianças sobre as maldades dos políticos brasileiros eu escrevi e dirigi em 2007 para testar minha nova filmadora (escolhi a temática infantil por dois motivos, primeiro: nesta época eu estava planejando um livro infantil com ilustrações de Gurcius Gewdner – idéia que não abandonei ainda; segundo: porque é uma temática que me interessa muito). Inspirado no cinema expressionista alemão, “O Nobre Deputado Sanguessuga” foi a desculpa perfeita para reunir amigos para algumas cervejas no meu sítio e me exercitar na narrativa do cinema mudo. Gostei bastante da experiência de rodar um curta infantil, mas acabei não repetindo a dose porque depois dele rodei somente sexploitations gores com títulos como “Arrombada – Vou Mijar na Porra do seu Túmulo!!!” (2007), “Vadias do Sexo Sangrento” (2008) e “O Doce Avanço da Faca” (2010) e uma comédia musical western cafajeste chamada “Ninguém Deve Morrer” (2009).