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Arrepios Sangrentos do Cinema (1960-1980)

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 8, 2018 by canibuk

O cinema sempre foi terreno fértil para a exploração do corpo. Se nas décadas de 1950 e 1960 o cinema era mais sugestivo do que apelativo (mas com a sci-fi e seus monstros e aliens deformados já apontando os rumos que a nova audiência exigia), foi na ressaca da contracultura, nos anos de 1970, que o cinema foi tratando de ficar mais explícito e cínico, culminando numa explosão de corpos monstruosos/pegajosos nas telas do cinema da década de 1980, onde a crítica social-niilista-pessimista da década anterior cedeu lugar à auto paródia do terrir.

Podemos afirmar que a auto paródia que o cinema dos anos de 1980 viveu, principalmente o americano, tem suas raízes nos filmes da dupla H. G. Lewis e David F. Friedman, principalmente na trinca de goremovies “Banquete de Sangue” (Blood Feast, 1963), “2000 Maníacos” (2000 Maniacs, 1964) e “Color Me Blood Red” (1965), que aproveitaram para extrapolar, para deleite do jovem público de drive-ins, o bom gosto estético, aproveitando até mesmo idéias de mortes exageradas dadas por seus filhos pré-adolescentes. O corpo humano deixava de ser um templo sagrado e, agora, estava disponível para todo o tipo de mutilações que os técnicos de efeitos especiais conseguissem elaborar. E mais, agora o tabu do canibalismo também caia por terra e o corpo humano servia de alimento às sádicas personagens.

No final dos anos de 1950 e início dos anos de 1960, a cinematografia gore ainda foi discreta, com obras como “First Man Into Space (1959), de Robert Day, sobre um astronauta que começa a derreter e que foi a inspiração para a produção do clássico “O Incrível Homem Que Derreteu” (The Incredible Melting Man, 1977, de William Sachs. “Inferno” (Jigoku, 1960), de Nobuo Kakagawa, tomou como inspiração o inferno concebido por Dante e ousou mostrar, em cores, os horrores explícitos de um purgatório onde os pecadores sofriam todo tipo de violência na carne. “Six She’s and A He” (1963), de Richard S. Flink, contava a história de um astronauta feito de prisioneiro por uma tribo de lindas mulheres que costumavam realizar incríveis banquetes com os membros decepados de seus algozes. “Six She’s and A He” é uma espécie de irmão bastardo dos filmes da dupla Lewis-Friedman, já que seu roteirista é o ator William Kerwin, que atuou em “Blood Feast” e “2000 Maniacs” usando o pseudônimo de Thomas Wood. “Está Noite Encarnarei no teu Cadáver” (1967), de José Mojica Marins, à exemplo de “Jigoku”, também mostrava em cores os horrores do inferno com muitos membros decepados, sofrimentos diversos e inventivos demônios feito com parte dos corpos de seus alunos de curso de cinema.

No ano seguinte o horror ficou ainda mais explícito com duas obras seminais: Mojica realizou um banquete canibal em seu longa de episódios “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (1968), no episódio “Ideologia”, e o Cult “A Noite dos Mortos-Vivos” (The Night of the Living Dead, 1968), de George A. Romero, que trazia o canibalismo explícito para as telas com a virulenta modernização dos zumbis, desta vez se deliciando com tripas e toda variedade de carne humana, de crua à carbonizada, dando apontamentos do caminho que o cinema de horror viria a tomar nos anos seguintes.

Jigoku (1960)

Charles Manson e a Família haviam acordado a América de seu “American Way of Life” e os horrores do Vietnã eram televisionados nos jornais do café da manhã, toda uma geração insatisfeita queria voz. Na década de 1970 o cinema de horror ficou mais insano, pessimista e violento para com as instituições oficiais. Jovens cineastas perceberam, ensinados por H.G. Lewis e George A. Romero, que o cinema independente era o caminho natural para adentrar no mundo das produções cinematográficas, e o melhor, o horror niilista tinha público fiel ávido por “quanto pior melhor”.

Tom Savini em Dawn of the Dead (1978)

Inspirados por Charles Manson e “A Noite dos Mortos-Vivos”, no Canadá, a dupla Bob Clark e Alan Ormsby profanaram os defuntos com seu clássico “Children Shouldn’t Play With Dead Things” (1972), podreira sobre um grupo de degenerados comandados por uma espécie de guru fake a la Manson que desenterram alguns corpos num cemitério isolado e realizam um verdadeiro show de barbaridades e imaturidade. Aliás, Ormsby deve ser atraído por personalidades problemáticas, já que na seqüencia realizou o clássico “Confissões de um Necrófilo” (Deranged, 1974), co-dirigido por Jeff Gillen, inspirado na figura do psicopata Ed Gein e que, na minha opinião, é a melhor abordagem cinematográfica já feita sobre Gein, que inspirou, entre outros, também os clássicos “Psicose” (Psycho, 1960), de Alfred Hitchcock, e “O Massacre da Serra-Elétrica” (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), a obra-prima de Tobe Hooper, realizado no mesmo ano de “Deranged” e que contava com efeitos do ex-fotografo de guerra Tom Savini, que se inspirava nos horrores reais que presenciou para criar as maquiagens mais podreiras possíveis. Os corpos dos mortos agora não eram mais sagrados, podiam alimentar psicopatas dementes ou, até, se tornarem grotescas obras de arte ou peça de happenings.

O público clamava por histórias mais adultas, além da violência explícita, o sexo também gerava curiosidade. Andy Warhol e Paul Morrissey foram para a Europa filmar, com ajuda do italiano Antonio Margherity, “Carne para Frankenstein” (Flesh for Frankenstein, 1974), uma releitura sexual-splatter de Frankenstein de Mary Shelley, com litros de sangue, referências à necrofília e abordagem erótica da história do cientista que brincava de Deus, dando especial atenção ao detalhes sórdidos e eróticos. No Canadá David Cronenberg previa as epidemias de doenças sexualmente transmissíveis ao realizar “Calafrios” (Shivers, 1975), com roteiro sério que discutia o sexo, sem deixar de incluir taras, fetiches e doenças como a pedofília em roteiro genial (o final do filme continua poderoso).

De volta à América, o cineasta underground Joel M. Reed lançou em 1976 o perturbador e doentio “Bloodsucking Freaks” (The Incredible Torture Show), com a personagem de Sardu, ajudado por um anão tarado, que raptava jovens mulheres que se tornavam deliciosas iguarias para seus banquetes explícitos onde até mesmo sanduíches de pênis era devorados. Ainda em 1976, os exageros do cinema gore se encontraram com a falta de limites do mundo da pornografia e o jovem Michael Hugo cometeu o, ainda hoje, obscuro “Hardgore”, uma carnificina envolvendo sexo explícito com todo o tipo de perversões na história de uma inocente mocinha internada numa instituição mental. “Hardgore” parecia preparar terreno para “Cannibal Holocaust” (1980), do italiano Ruggero Deodato, produção que extrapolou qualquer limite do bom gosto ao assassinar, em frente às câmeras, todo tipo de animais, incluindo a famosa cena da tartaruga, filmada com verdadeiros requintes de crueldade.

Mas um pequeno curta independente, filmado em super 8 por um grupo de amigos, anunciava que o cinema de horror voltaria a ficar mais artístico (sem assassinatos reais ou pornografia): “Within the Woods” (1978), de Sam Raimi, produzido com os amigos Robert Tapert e Bruce Campbell, era um ensaio para a produção do Cult “A Morte do Demônio” (Evil Dead, 1981), que influenciaria meio mundo nos anos de 1980 e 1990 com sua ensandecida história envolvendo jovens possessados por demônios numa cabana isolada. O cinema de horror começava a sair dos cinemas pulgueiros para tomar de assalto toda uma nova geração que descobriria os filmes malditos com o videocassete.

De certo modo “Evil Dead” preparava o público para a exploração do corpo que o cinema da década de 1980 realizou. Nunca na história da indústria cinematográfica tivemos outra época tão rica na exploração de anomalias, doenças, mutações e toda uma rica gama de deformações genéticas. Era a época da disco, da cocaína acessível e barata, do “viva rápido, morra jovem”, então… Pro inferno com a seriedade, o negócio agora era a auto paródia e o cinema de horror, principalmente o americano, soube não se levar em sério e por toda a década de 1980 cineastas como Lloyd Kaufman, Stuart Gordon, Dan O’Bannon, Fred Deker, Roger Corman, Fred Olen Ray, Jim Wynorski, entre outros, conseguiram passar através de seus filmes o clima de curtição que os anos de 1980 possuíam.

por Petter Baiestorf

Veja os trailers aqui:

Outros Posters:

The Incredible Melting Man

Vigor Mortis

Posted in Arte e Cultura, Cinema, Literatura, Teatro with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 16, 2013 by canibuk

Paulo Biscaia Filho e BaiestorfNo mês de novembro conheci o cineasta Paulo Biscaia Filho que me levou à Curitiba para a segunda edição do evento “Madrugada Sangrenta”, uma festa do cinema de horror que consiste em fazer jorrar sangue falso no público enquanto os filmes são exibidos na tela (nesta segunda edição do evento foram exibidos “Evil Dead 2” (1987) de Sam Raimi, “Nervo Craniano Zero” (2012) de Paulo Biscaia Filho e “Zombio 2: Chimarrão Zombies” (2013), meu último longa). E preciso dizer que o longa de Paulo me surpreendeu em todos os sentidos (tem um roteiro bem construido aliado à interpretações perfeitas, cenários e efeitos especiais ótimos e é, com certeza, um dos grandes momentos do horror nacional dos últimos anos).

Paulo Biscaia Filho é mestre em Artes pela Royal Holloway University of London e dá aulas de teatro e cinema na faculdade de Artes do Paraná. Na Companhia Vigor Mortis dirigiu montagens teatrais de peças Grand Guignol como “Morgue Story” (que virou filme em 2009), “Garotas Vampiras Nunca Bebem Vinho”, “Snuff Games”, “Graphic” e “Nervo Craniano Zero”. Atualmente ele está com a peça “Marlon Brandon, Whiskey, Zumbis e Outros Apocalipses” em cartaz. Humor negro delicioso, cultura pop e inventividade fazem o cardápio de sucesso de Paulo e sua Vigor Mortis.

Neste encontro com Paulo ganhei dois álbuns que quero indicar à todos:

Vigor Mortis ComicsO primeiro é “Vigor Mortis Comics”, um álbum de quadrinhos dementes que são imperdíveis. Contando com a ajuda dos quadrinistas José Aguiar e DW Ribatski, Biscaia nos legou um punhado de HQs hilárias, onde as personagens de suas peças teatrais ganham novas histórias carregadas de humor negro, cinismo e alguns toques picantes do bom e velho sexo (a demência sem sexo nunca é completa!). São oito histórias envolvendo zumbis, necrofilia, vampiros, putas e desajustados sociais com histórias cafajestes que nos deixam com aquele sorrisão de sadismo no rosto. Destaco duas HQs que gostei muito, “Oswald Apaixonado”, que tem um roteiro parecido com o filme-bomba “Warm Bodies/Meu Namorado é um Zumbi” (2013), só que aqui verdadeiramente mais sarcástico e com uma visão mais adulta (mesmo que essa visão mais adulta pareça ser de um eterno adolescente de 40 anos); e, “Corra Cataléptico, Corra”, perversa HQ que investiga os obscuros caminhos irracionais da mente humana. “Vigor Mortis Comics” é impecável.

O segundo álbum é “Palcos de Sangue” e traz os roteiros teatrais das peças “Morgue Story”, “Graphic” e “Nervo Craniano Zero”, além de uma inspiradora introdução ao maravilhoso mundo absurdo do teatro Grand Guignol. Não sou um ardoroso fã do teatro (sempre preferi cinema, quadrinhos e pinturas), mas foi uma boa experiência tomar contato com os roteiros destas peças, pois a partir do momento em que você toma contato com a construção de artes que não domina, passa também a respeitá-las ainda mais. “Palcos de Sangue” é item obrigatório para quem faz (ou pensa fazer) teatro.

Ambos os álbuns podem ser adquiridos no site http://www.vigormortis.com.br ou e-mail vigormortis@vigormortis.com.br

por Petter Baiestorf.

Palcos de Sangue

Guaru Fantástico

Posted in Cinema, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 29, 2012 by canibuk

A segunda edição da mostra Guaru Fantástico acontecerá nos dias 30 e 31 de agosto, mas antes, no dia 29 (nesta quarta-feira) vai acontecer uma sessão em homenagem ao Carlos Reichenbach no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, onde serão exibidos vários curtas que, de algum modo, tinha ligação com o Carlão. Abaixo Leopoldo Tauffenbach, curador da sessão, explica o porque de cada um dos filmes selecionados:

Sangue Corsário (Carlos Reichenbach, 1979): um dos curtas mais emblemáticos de Carlão, traduz muito bem seus questionamentos e a ideologia corsária, uma de suas características mais marcantes. Com colaboração de jairo Ferreira no roteiro, o curta é estrelado por duas figuras emblemáticas do universo reichenbachniano: o crítico e poeta Orlando Parolini e o ator Roberto Miranda.

Olhar e Sensação (Carlos Reichenbach, 1994): excelente obra experimental que trata de uma das personagens mais marcantes e constantes nas obras de Reichenbach: a cidade. Produzido por Sara Silveira, sócia, parceira e amiga de Carlão por mais de 30 anos e fotografado pelo também amigo e diretor Conrado Sanchez.

Aventura, Amor e Transporte Público (Bruno de André, 1991): curta de Bruno de André, crítico, diretor, ator, parceiro e amigo de Carlão, além de frequentador das Sessões do Comodoro. A ideia inicial era incluir outro curta, A Origem dos Andamentos, mas por sugestão do próprio Bruno foi escolhido este que traz fotografia de Carlos Reichenbach e montagem de Andrea Tonacci.

O Guru e os Guris (Jairo Ferreira, 1973): primeiro curta do difusor da crítica de invenção e do cinema de invenção, trata de atividades cinéfilas como posição de resistência. Fotografado por Carlos Reichenbach e montado pelo crítico Inácio Araújo, um de seus amigos mais próximos.

Hi-Fi (Ivan Cardoso, 1999): ousada obra experimental sobre o movimento concreto paulistano, inspirado nas obras dos irmãos Campos e de Décio Pignatari, fonte de inspiração a muitos dos cineastas da Boca do Lixo, incluindo Carlão.

Primitivismo Kanibaru na Lama da Tecnologia Catódica (Petter Baiestorf, 2003): obra do cineasta independente e iconoclasta Petter Baiestorf, de Santa Catarina, criador do Manifesto Canibal. Carlão foi um dos principais divulgadores do trabalho de Baiestorf em São Paulo e grande admirador de sua posição transgressora.

Freddy Breck Ballet (Gurcius Gewdner, 2010): Gurcius Gewdner, parceiro de Petter Baiestorf em diversos filmes, dedica esta obra a Carlos Reichenbach, dividindo com ele sua paixão por um dos maiores cantores populares da Alemanha. Poucas pessoas sabem que Carlão também era músico e dedicado arqueólogo de raridades musicais,como este Freddy Breck.

Esta sessão histórica acontece no dia 29 de agosto, às 22 horas, de graça no CineSESC, rua Augusta 2075 (Estação Consolação).

E nos dias 30 e 31 de agosto acontece o segundo Guaru Fantástico de Guarulhos/SP, no Anfiteatro do Prédio F da Universidade de Guarulhos (praça Tereza Cristina 1, centro). Guaru Fantástico, em sua primeira edição, deu três prêmios para meu filme “Ninguém Deve Morrer” (melhor filme, melhor direção e melhor montagem), então já dá prá sacar que eles primam por exibir o máximo possível de obras independentes feitas sem dinheiro público.

Neste ano, no dia 30 rola um bate-papo de abertura com o pessoal do site Boca do Inferno, com o cineasta Alex Sandro Moletta, o dramaturgo Sérgio Pires e a exibição dos filmes “Desalmados”, “Duas Vidas Para Antonio Espinoza“, “Moroi”, “Não Servimos Zumbis”, “Necrochurume”, “O Ogro“, “O Terno do Zé”, “Pandemônio”, “Retratos”, “Tutti Maria” e “Vontade“.

No dia 31 tem bate-papo com a escritora Bernadette Lyra e os fazedores de filmes Fernando Rick e este que vos escreve, seguido dos curtas “A Vida da Morte”, “Abner, o Papa Zumbis”, “De Saco Cheio”, “Desalmados – O Vírus“, “DR”, “Estranha“, “Horário Nobre ou Banquete para Zumbis”, “Inquérito Policial #0521/09”, “Instantâneo”, “Morte e Morte de Johnny Zombie” e “Velho Mundo” (clique nos links para ler resenhas que fiz deles).

Se programe para essas três noitadas de muito cinema independente de todas as épocas!!!

Estado de Sítio

Posted in Cinema, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 27, 2012 by canibuk

“Estado de Sítio” (2011, 91 min.) de André Novais Oliveira, Gabriel Martins, Flávio C. Von Sperling, João Toledo, Leonardo Amaral, Leo Pyrata, Maurílio Martins e Samuel Marotta. Com: Ana Lavigne, Juliana Abreu, Tamira Montavani, Luana Baeta e os diretores.

Em 2010, um OVNI tomou de assalto o circuito dos festivais brasileiros, ganhando uma inesperada recepção: o cearense “Estrada Para Ythaca”. Esse filme apontou para a viabilidade de um novo processo de produção: um filme de ficção realizado de forma coletiva por quatro autores, organizando-se em todas as funções de realização, sem hierarquia previamente definida, feito “na raça”, sem nenhum recurso público. Para além desse modo de produção, “Ythaca” acabou sendo visto sobretudo como uma espécie de um manifesto de uma geração, uma terna odisséia em culto à amizade, em ver o cinema essencialmente como vocação, e não como profissão. Esse espírito parece ter contagiado um grupo de autores curiosos de Belo Horizonte, que já vinham percorrendo os festivais no Brasil primeiro como críticos, escrevendo para o site da Filmes Polvo, e depois como realizadores, fazendo curtas inventivos, com grana própria. De um lado, “Estado de Sítio” dá continuidade a um caminho desse grupo (em torno da crítica da Filmes Polvo, e de duas produtoras informais, a Filmes de Plástico e a Sorvete Filmes). De outro, pode ser entendido como uma espécie de busca por novos rumos do cinema mineiro, contrapondo-se ao cinema de grande rigor visual e de refinamento plástico, sintetizado nos filmes da Teia. Em geral, são filmes radicais, descontínuos, com uma ironia cáustica, um certo escracho. Todos esses elementos estão nesse primeiro longa de oito diretores. É como se enquanto “Ythaca” é um road movie pelo interior do Ceará na busca dos rastros de um amigo morto, “Estado de Sítio” na verdade fosse um road movie dentro de uma colônia de férias em busca de nada mais que um passatempo. A ingenuidade e a superficialidade desse encontro expressam, de forma bastante clara, a beleza e as limitações do processo desse grupo. É como se “Estado de Sítio” avançasse por um flanco que “Ythaca” abriu mas que o filme posterior do coletivo cearense, “Os Monstros”, mostrou que na verdade não era exatamente esse. De qualquer modo, o encanto de “Estado de Sítio” é a possibilidade de estar juntos: um filme sobre a leveza da aventura de con-viver. Além disso, “Estado de Sítio” é um filme de juventude: não só sobre jovens, mas essencialmente uma forma jovem de encenar. Esse tom inconseqüente e debochado é no entanto retratado através de uma mise-en-scène sóbria, com planos longos, vários deles com uma câmera parada que explora a profundidade de campo, mostrando a movimentação dos diversos atores-autores ao longo do quadro como se fosse um imenso tableaux. Refinamento de uma encenação que aponta pouco para si mas que deixa transbordar esse esfuziante sentimento de uma alegria pouco presente no cinema contemporâneo brasileiro. Elegância no meio da fuleragem.

por Marcelo Ikeda.

Veja “Estado de Sítio” aqui:

Entrevista com Leo Pyrata:

Petter Baiestorf: Dê uma geral do cinema mineiro atual:

Leo Pyrata: Acho muito complexo falar do cinema mineiro principalmente por ser o estado que tem mais municípios. De modo que eu me sinto desautorizado a comentar num recorte tão grande porque vira e mexe você descobre filmes surgindo dos mais diferentes lugares. Acho que posso falar um pouco sobre o que eu vejo com mais proximidade. Em Belo Horizonte existe uma certa tradição numa aproximação do cinema com artes plásticas pelo pessoal da videoarte e mais recentemente nos últimos dez anos, um estreitamento com o documentário também. Evidente que existem outras linhas e caminhos  escolhidos, mas o ponto de partida pra entender essa tradição da experimentação de BH passa por esse hidridismo. Não vou citar muitos nomes nessa resposta pois sei que provavelmente esqueceria alguém  e também porque a tendência é que invariavelmente se transformaria a resposta  numa lista gigantesca. Não deixarei de frisar que teve um filme que eu tenho como marco pra mim em todos os aspectos. “Fantasmas” de André Novais Oliveira.

Baiestorf: Como surgiu a idéia de produzir um longa com direção coletiva?

Pyrata: Eu já tinha passado por experiência parecida com os curtas da 30conto filmes. Tive a idéia de fazer isso numa duração maior depois de assistir o “Estrada para Ythaca”.

Baiestorf: As filmagens de “Estado de Sítio” foram tranqüilas? Conte como foi construir um filme livre onde as idéias iam surgindo de maneira coletiva. Ouve muitas discussões ou brigas para a defesa de pontos de vista diferentes?

Pyrata: Antes de chegar no filme propriamente dito  eu preciso dizer que a idéia era antes de mais nada uma vivência de passar 5, 6 dias respirando e fazendo cinema  sem muitas amarras e abolindo qualquer sinal de hierarquia. Eu cheguei com o argumento e ficamos trabalhando sobre as situações que aconteceriam  e escrevendo anotações sobre os personagens ao longo de dois meses nos botecos de BH. Teve uma briga sim, mas acho que veio mais do estresse e da frustração de não conseguir iluminar um ambiente como queríamos e na busca de soluções possíveis para isso rolou um embate mais enérgico. A real é que quando esta todo mundo  pensando plano, captando som e atuando não existe muito espaço pra egos gigantes. E essa turma foi pensada por afinidade, amizade e muitos já tinham trabalhado juntos em outros filmes. Fora a cinefilia compartilhada nas cervejas pós sessões do cine Humberto Mauro.

Baiestorf: “Estado de Sítio” está sendo considerado como um exemplar do “Cinema de Garagem”. Você não acha que estes rótulos todos (como cinema de garagem, cinema de bordas, cinema alternativo, cinema marginal, etc…) não limitam o interesse do público em conhecer as obras? Tenho bastante medo de que estes rótulos estéticos limitem a criatividade/liberdade dos jovens cineastas brasileiros.

Pyrata: Creio que os rótulos fazem parte da necessidade do jornalismo cultural pra dar conta de informar o público quando existe alguma movimentação anormal e dissonante  com aquilo que as pessoas estão acostumadas, tanto em questão de forma, conteúdo quanto no que diz respeito as formas de produção e distribuição também. Eu acho que um rótulo, assim como um premio, só consegue limitar um artista se ele se sente satisfeito com aquilo. Mas ai a culpa não está no rótulo ou no premio, mas no artista que acha que está num porto seguro, numa torre de marfim. Eu acho que a sua filmografia mesmo prova que quando o artista quer ninguém consegue rotular ele. Filmes lindamente dispares entre si: “Que Buceta do Caralho, Pobre só se Fode!!!”, “Palhaço Triste”, “Ninguem Deve Morrer”, “A Curtição do Avacalho”, “Arrombada”, “Super Chacrinha…”, “Zombio”, mostram que quando o artista não se acomoda numa zona de conforto e se propõe a enfrentar novos desafios e novas questões não existe rotulo que o amordace.

Baiestorf: Qual é o público de “Estado de Sítio”? Existe um cinema anarquista brasileiro?

Pyrata: Cara, sinceramente eu não sei. Num primeiro momento posso dizer que era quem ia nos festivais ver filmes. Mas a primeira exibição dele em BH no Indie tinha um publico muito maior de amigos que propriamente pessoas que freqüentam festivais e estamos chegando a incrível marca de 1000 exibições em uma semana do filme inteiro no youtube. Não chegamos ainda pois  falta que mais 145 caboclos vejam o filme até amanhã e claro que a gente não tem certeza que todo mundo que viu até agora viu inteiro  mas o mesmo vale pra exibição no cinema. Ninguém que faz filme tem controle se o público viu tudo, se não cochilou na sessão etc, etc. Mas pra forçar as pessoas a verem no youtube a gente tem postado no facebook que se rolarem 1000 views na primeira semana a gente sobe o final alternativo do filme e assim vamos divulgando. Claro que não vamos acabar com todo o material de extras nessa brincadeira porque senão ficamos sem ter o que vender depois no DVD.

Baiestorf: Como está sendo a distribuição do filme? Algo no sentido de ser lançado em DVD ou em algum canal de TV? Como o público pode fazer para ter o filme em casa?

Pyrata:Existia a idéia de fazer um DVD autorado cheio de extras pra vender mas isso por enquanto está em modo de espera por conta dos outros projetos que estão rolando. Por hora as pessoas podem ver no youtube e baixar usando os softwares apropriados. Em breve pinta um torrent com isso e algum dos extras, mas o DVD completão, Canibal style, com faixa de comentários e tal só sai depois de finalizarmos outros projetos que já estão no processo.

Baiestorf: O cinema Marginal brasileiro foi uma das inspirações para a composição de “Estado de Sítio”? Qual foi o orçamento do filme e as filmagens foram em quantos dias?

Pyrata: O cinema marginal é uma referencia muito forte e gostamos que ele tenha surgido de uma forma orgânica no filme sem parecer que fomos na botique cinema marginal e inserimos meia dúzia de acessórios. O próprio lance de poucas locações vem daquele lance dos primeiros filmes do Bressane. O filme foi produzido em 7 dias, montado em seis meses e teve um custo final de cinco mil reais com a cópia em hdcam e o trabalho de tratamento e correção dos nossos vacilos no som  feitos lindamente pelo Bernardo Uzeda. O custo principal do filme foi com comida, bebidas e gasolina. Usamos a minha câmera e outra igual da faculdade que também forneceu todo material de iluminação pro filme.

Baiestorf: “Estado de Sítio” chegou a ser exibido em alguma mostra que visa um público não intelectualizado? Se foi, qual a reação deste público?

Pyrata: Uma vez o Samuel exibiu o filme num desses ônibus de viagens que tem aparelho de DVD numa viagem dele pra Juiz de Fora. Parece que o povo gostou bastante.

Baiestorf: Há planos para novos longas com direção/roteiros coletivos?

Pyrata: Estamos finalizando o “Os anjicos e a Semana Santa” do Leo Amaral e do Samuel Marotta, que é o primeiro longa da produtora EL Reno Fitas que formamos depois do “Estado de Sítio”. Mês que vem começa a filmagem de outro longa chamado “Jubileu” dirigido pelos dois também e lá pra abril eu e o Flavio C Von Sperling devemos dirigir um Terrir inspirado em Russ Meyer pra zoar com aquele filme bundão de rave do sócio daquele cara que faz filme enaltecendo policia fascista.

Baiestorf: Como fazer para que o cinema volte a ser uma arma política que influencie o cidadão comum a pensar por si próprio? Aliás, como chegar até a mente de um povo imbecilizado pelo cinema comercial de Hollywood, um povo que não tem a mínima idéia de que o cinema brasileiro está produzindo grandes obras subterrâneas?

Pyrata: Eu acho que a arma está antes de tudo no caráter subversivo do humor porque ele aproxima e desarma as pessoas do preconceito. E com ele a gente consegue chegar em questões importantes usando um viés não tão amargo. E principalmente porque o nosso cinemão mesmo anda fazendo um humor tão merda tipo cilada.com/e ai comeu? que nossas piadas e gags acabam soando ainda melhores. É isso e usar a internet pra divulgar os filmes pra não ficar preso apenas no espaço dos festivais de cinema.

Bad Bitch

Posted in Cinema, Entrevista, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on abril 10, 2012 by canibuk

“Bad Bitch” (2012, curta) de Felipe Tapia. Com: Amanda Coutinho, Ana Laura Paiva e Hirina Renner. Produção de Thaís Dias Medeiros. Fotografia de Eduardo Bonatelli e Gabriel Bender. Som de Railane Moreira Mourão. Trilha Sonora de Gabriel Cozza, Júnior Vieira, Eduardo Machado e Vade Retrô.

Com inspiração em “Reservoir Dogs/Cães de Aluguel” (1992) de Quentin Tarantino e “Faster, Pussycat! Kill! Kill!” (1965) de Russ Meyer, “Bad Bitch” faz uma homenagem ao cinema exploitation ao contar a história de Savanna (Amanda Coutinho), Diana (Ana Laura Paiva) e Cristina (Hirina Renner), três amigas que decidem assaltar uma joalheria e tudo acaba dando errado.

“Bad Bitch” é uma produção independente de Pelotas/RS e foi realizado por Felipe Tapia (que já havia dirigido o filme “Do It”), Thaís Medeiros (diretora do documentário “O Caminho” e roteirista de “A Louça” de Gabriel Bender, que também trabalha neste), Eduardo Bonatelli e Railane Mourão. Algo que chama atenção é que a produção de “Bad Bitch” conseguiu ajuda da empresa de biscoitos Zezé, iniciativa louvável da indústria privada e que espero ver mais empressários jogando seus lucros em produções independentes.

Por enquanto o filme ainda não foi lançado, mas voltarei a falar dele assim que estiver disponível para o público. Por enquanto assistam o teaser de “Bad Bitch”:

E saiba mais sobre o curta nesta rápida entrevista que realizei com o diretor Felipe Tapia.

Petter Baiestorf: Conte como surgiu o projeto “Bad Bitch”:
Felipe Tapia:
O que eu mais gosto sobre o cinema é que podemos fazer coisas que na vida real não seriam legais  e transformar em algo divertido, como um assalto por exemplo. Depois que eu fiz o curta “Do It”, eu queria fazer uma trilogia de filmes no estilo grindhouse, que no fim acabariam por ser uma história só, “Do It” seria o primeiro e “Bad Bitch” o terceiro capítulo. Eu acabei desistindo da idéia e resolvi que o “Bad Bitch” seria um curta sem nenhuma ligação com o “Do It”, além da estética que é a mesma. Eu sempre quis fazer um filme sobre um trio de gurias fazendo alguma barbaridade, então eu comecei a escrever o roteiro tendo em mente que seria sobre 3 amigas e que seria sobre um assalto.Então comecei a ver as referências que eu queria dos meus filmes favoritos. Escrevi e reescrevi o roteiro umas 10 vezes, quando achei que estava pronto para ser gravado, juntamos a equipe e começamos a pré-produção.
Baiestorf: Vocês encontraram apoio financeiro para a produção! O orçamento ficou em quanto? Fale como foi isso:
Tapia: Sim, a empresa Biscoitos Zezé, patrocinou o curta, eles deram acho que uns 250 reais, não tenho certeza, nós também fizemos uma rifa de uma tequila e nossos pais contribuíram também. Eu não esperava nenhum patrocínio para o curta por causa da história, que tem consumo de drogas, violência e até blasfêmia, mas no fim deu pra fazer tudo, não precisamos cortar nada por causa de orçamento como acontece geralmente. Eu não tenho certeza, mas acho que contando com tudo isso, patrocínios, rifa, pais, coisas que compramos do nosso bolso, alimentação e transporte das atrizes, acho que ficou perto de uns mil reais ao todo. O que pra gente é muito, por que geralmente na faculdade os curtas não chegam nem perto disso.
Baiestorf: Rio Grande do Sul tem um histórico de ótimas produções independentes, como é trabalhar neste estado?
Tapia:
Bom, eu nunca sai do Rio Grande do Sul então eu não sei muito como funcionam as produções nos outros estados, mas aqui, por exemplo, em Pelotas, eu tenho a impressão, como a cidade tem um passado histórico muito cultural e aqui tem muita coisa ligada a cultura, as pessoas não estranham muito quem faz filmes, é bem tranqüilo de conseguir locações, de graça inclusive, as pessoas são bem dispostas para participar e ajudar nas produções. Temos a sorte também de ter disposição de equipamentos pela faculdade, como câmeras e tripés. Ainda não temos gruas, nem travellings, mas o essencial nós conseguimos com o curso. Claro que como em todo lugar, apresenta várias dificuldades, principalmente para nós estudantes que geralmente fazemos os curtas quase ou sem dinheiro. Também poderia contar com mais apoio da prefeitura, mas isso não é novidade nem exclusividade daqui e nem vale a pena falar dessa gente.
Baiestorf: Como foram as filmagens? Conte alguns fatos curiosos que aconteceram:
Tapia: As filmagens foram bem tranqüilas apesar de corridas, não lembro quantos dias foram, mas acho que somando foram 5 dias em mais ou menos 7 locações, nada na ordem do roteiro, inclusive. Não posso contar muito para não dar spoiler do filme, mas num dos dias, as atrizes estavam todas sujas de sangue, além de estarem com as roupas de colegial, terminamos as gravações e fomos almoçar no Subway, e elas não puderam trocas as roupas porque fomos direto pra lá, todo mundo que passava ficava olhando pra elas.
OBs: Como durante as gravações não tiveram muitos fatos curiosos, então vou compensar falando algumas curiosidades sobre o filme:
-O curta teve vários nomes antes de se chamar “Bad Bitch”, entre eles “Girls & Guns”,”Do It 2 – Bad Bitches”,”Sexy Robbery” foram alguns deles.
– Os nomes das personagens tem significados: Savanna é em homenagem à atriz pornô Savanna Samson, Diana é por causa da Mulher Maravilha, e Cristina é em homenagem à atriz Christina Lindberg.
– O roteiro gravado é o 15° tratamento.
– Quando estávamos começando a pré-produção um membro da equipe saiu por achar o roteiro pesado demais.

– Inicialmente Savanna e Diana seriam namoradas, mas achei que seria mais difícil de arranjar as atrizes, então cortei as cenas de beijo e uma paixão platônica ficou apenas sugerida.
– Muitos personagens acabaram sendo cortados da versão final do roteiro, por que o curta iria ficar muito grande, o mais divertido seria uma travesti barraqueira chamada Sarah Sheeva, amiga de Cristina e o primo de Savanna, Andrej, um traficante de drogas que fabricava bombas.
– Uma das cenas cortadas mostrava as 3 pedindo carona na estrada, onde roubavam um carro e espancavam o motorista, cortei porque não queria criar antipatia por parte das pessoas mostrando as protagonistas espancando um homem gratuitamente e também porque não condizia com a personalidade delas.
– Outra cena que foi cortada do filme mostrava quando as personagens se conheceram na escola, quando eram crianças,  onde uma menina provocava Diana e então Savanna batia na menina e ameaçava que ia furar o olho dela com um lápis.
– Eu escrevi o roteiro escutando as músicas da banda Vade Retrô, o que me ajudou muito a entrar no clima do filme enquanto escrevia, mas eu nem imaginava que eles iam liberar as músicas pro filme.
Baiestorf: Pelas fotos de produção que você me mandou notei uma grande influência de tarantino. Você não acha que isso pode tirar a originalidade de “Bad Bitch”?
Tapia: Acho que não, acho que uma das propostas do Bad Bitch é justamente ser uma homenagem a esses filmes que eu gosto tanto e ao meu diretor favorito e maior influência que é Quentin Tarantino. Acho que a originalidade se deve ao fato de não ser mais um filme Brasil-Favela ou Brasil-Pobreza, nem por mostrar uma história bonita de perseverança nem de amor, é um filme sujo, debochado e politicamente incorreto que não tem outra intenção a não ser divertir os espectadores.
Baiestorf: Quando “Bad Bitch” será lançado? E como o público terá acesso à obra?
Tapia: Estamos acertando a data e temos 3 possíveis locais de lançamento, mas ainda não definimos certo. Depois mandaremos para festivais brasileiros e de fora. Como eu nunca imaginei que teríamos divulgação fora de Pelotas, estou pensando em um jeito de todo mundo ver o filme, uma exibição online, alguma coisa, porque não poderemos postar em sites como Youtube porque alguns festivais não aceitam, então não sei ainda, mas estou pensando nas possibilidades.
Baiestorf: Você acredita que os produtores independente estão conseguindo, finalmente, criar uma mercado com público para seus filmes?
Tapia: Não é novidade que um dos maiores problemas do cinema brasileiro é a distribuição, é tudo centralizado em panelinhas, então filmes independentes acabam passando despercebidos do grande público, eu sei por experiência própria, que quase todo o (já pouco) orçamento é utilizado na produção do filme e não sobra quase nada para divulgação e tal, eu vejo aqui em Pelotas muitos curtas são feitos na faculdade e não tem lançamento, às vezes passam nos auditórios da própria faculdade, mas nunca um lançamento mesmo, isso é ruim porque poucas pessoas acabam sabendo dos filmes, mas acho que público de filmes underground é fiel e acho que com a internet tudo ficou mais fácil, divulgação, exibição, etc. Eu, por exemplo, estou conhecendo várias pessoas e vários filmes graças ao “Bad Bitch”, acho que com essas parcerias ajudam e muito as produções independentes para que nossos filmes cheguem a um público maior.
Baiestorf: Fale sobre suas influências cinemtográficas:
Tapia: Eu desde pequeno sempre gostei de filmes com personagens mulheres fortes, desde os filmes da Disney como “Pocahontas”, até o clássico da sessão da tarde “Elvira – a Rainha das Trevas”, que sempre que passava na TV eu olhava, chegava a pedir pra minha mãe pra faltar a aula pra ver. Lara Croft, Xena, Fênix e Tempestade dos “X-men”, Mulher Gato, eu sempre gostei dessas personagens. Isso sempre foi muito forte nas histórias que eu criava, sempre tinha uma “femme fatale” armada dominando tudo. Eu lembro que comecei a gostar de filmes violentos quando assisti Assassinos por Natureza, foi um dos primeiros filmes que eu vi quando comecei a assistir filmes mais adultos, eu vi quando tinha uns 12 anos e já virou um dos meus filmes favoritos. Daí conheci “Kill Bill” quando tinha uns 14, 15 anos, meu filme favorito até hoje, aí virei fã de Quentin Tarantino e comecei a acompanhar o trabalho dele, então comecei a conhecer os clássicos, “Thriller – A Cruel Picture”, “Faster, Pussycat! Kill! Kill!”, “Foxy Brown”, “Pink Flamingos”, entre outros. Então quando entrei na faculdade de cinema eu já tinha em mente a linha que eu iria seguir. Acho que mais do que diretores em particular, são esses filmes os que mais me influenciaram e me influenciam quando eu escrevo um roteiro.
Baiestorf: Novos projetos?
Tapia:
Bom, a principio, temos o curta final da faculdade pra fazer, então primeiramente será ele, não sabemos muito sobre ele ainda, mas será um filme de terror. E provavelmente no semestre que vem, a continuação de “Bad Bitch” encerrando a história.

fotos da matéria são de Thaís Medeiros.

Retrospectiva Canibal Filmes 20 Anos

Posted in Arte e Cultura, Nossa Arte, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 5, 2011 by canibuk

1992 – 2012 e AVANTE!!!

Canibal Filmes agora em 2012 estará completando 20 anos de produções, então aproveitando isso estou lançando a idéia para uma série de Retrospectivas da obra vídeo-cinematográfica da produtora catarinense Canibal Filmes. Essa série de Retrospectivas tem como objetivo angariar fundos para a produção de novos filmes da Canibal Filmes para continuar sendo a mais antiga produtora independente nacional a produzir filmes com seu próprio dinheiro.

A idéia para a Retrospectiva Canibal Filmes está lançada. Se você é produtor e ficou interessado em levar as produções da Canibal Filmes para as pessoas de bom gosto de sua cidade ou região, entre em contato com Petter Baietorf pelo e-mail baiestorf@yahoo.com.br (se você é apenas um fã de cinema extremo, plante essa idéia da Retrospectiva Canibal Filmes 20 Anos na cabeça de algum produtor de sua cidade e ajude a espalhar essa idéia para todos os cantos do Brasil).

"Arrombada - Vou Mijar na Porra do Seu Túmulo!!!" (2007).

Histórico da Canibal Filmes

No ano de 1988, Petter Baiestorf começou a colaborar em fanzines (imprensa independente) com contos, roteiros de HQs e poesias. Em 1992 fundou a Canibal Filmes (que na época se chamava Canibal Produções) com a idéia de editar seus próprios fanzines e fazer filmes de longa-metragem usando qualquer suporte para o registro das imagens (isso uma década antes do suporte digital existir e se popularizar).

Seu primeiro longa-metragem, “Lixo Cerebral Vindo de Outro Espaço” (produzido e filmado ainda no ano de 1992), permaneceu incompleto, mas que serviu de base para a realização do longa “Criaturas Hediondas”, lançado comercialmente no ano seguinte, 1993. Já em 1995 a Canibal Filmes chamou atenção no cenário underground nacional com o longa-metragem “O Monstro Legume do Espaço” e, nas palavras do crítico Carlos Thomaz Albornoz, “Mais importante que o próprio filme é a influência dele, e sua atitude. A bitola que ele foi rodado, VHS, não era levada a sério pelos fãs. Até então o mínimo aceito para distribuição era 16mm, ou pelo menos Betacam (para pornô). Não nos esqueçamos, 1995 era quase meia década antes de A Bruxa de Blair, e a ‘turma’ ainda levaria algum tempo para ouvir falar do Dogma 95, que, por sinal, era num suporte mais amigável, vídeo digital. Com Baiestorf, essa bitola teve que ser levada a sério, e a partir daí quem quis falar de cinema independente brasileiro teve que ‘sujar as mãos’ com os VHSs vindos de Santa Catarina” (revista eletrônica Zingu, número 31). No decorrer dos anos de 1990 a Canibal Filmes foi responsável pela criação de vários clássicos undergrounds, como “Eles Comem Sua Carne” (1996, longa), “Blerghhh!!!” (1996, média, primeiro registro de um zumbi no cinema brasileiro), “Deus – O Matador de Sementinhas” (1997, curta), “Boi Bom” (1998, curta), “Gore Gore Gays” (1998, longa) e “Zombio” (1999, média, o Cult Movie mais lucrativo do cinema brasileiro).

Já no novo milênio, em 2001, Petter Baiestorf escreveu, produziu e dirigiu o longa “Raiva”, uma mistura de ação gore que apresentou uma incrível explosão de um carro, a primeira neste tipo de produções independentes. Em 2002, voltou sua atenção às teorias cinematográfica e, em parceria com Coffin Souza, escreveu o livro “Manifesto Canibal” (lançado comercialmente pela editora Achiamé, Rio de Janeiro, em 2004) que hoje se encontra fora de catálogo. Em 2004 o diretor carioca Christian Caselli realizou o documentário “Baiestorf: Filmes de Sangueira & Mulher Pelada”, onde passava a limpo a história da Canibal Filmes, ao mesmo tempo que a Canibal Filmes começava a ganhar espaço dentro de várias mostras de cinema, como a Mostra do Filme Livre (Rio de Janeiro/RJ, que realizou importante retrospectiva da obra da Canibal Filmes em 2009), Festival Cine Esquema Novo (Porto Alegre/RS), Trash de Goiânia (Goiânia/GO), Cinema de Garagem (Belo Horizonte/MG), Mostra Áudio Visual (Campinas/SP), Indie (Belo Horizonte/MG), RioFan (Rio de Janeiro/RJ), Cinema de Bordas (São Paulo/SP), FantasPoa (Porto Alegre/RS), Mostra Internacional de Curtas de Toledo (Toledo/PR), entre várias outras. No ano de 2005 a Canibal Filmes começou a filmar com equipamentos digitais, lançou o média “Palhaço Triste” e desde então colocou no mercado independente brasileiro obras que se destacaram por seu olhar transgressivo, produções como “A Curtição do Avacalho” (2006, longa), “Arrombada – Vou Mijar na Porra do Seu Túmulo!!!” (2007, média), “Que Buceta do Caralho, Pobre Só Se Fode!!!” (2007, curta), “Manifesto Canibal – O Filme” (2007, curta, baseado no livro “Manifesto Canibal” de Baiestorf & Souza de 2002), “Vadias do Sexo Sangrento” (2008, média), “Ninguém Deve Morrer” (2009, média, premiado como melhor produção, melhor direção e melhor montagem no festival Guarú Fantástico, em Guarulhos/SP) e “O Doce Avanço da Faca” (2010, média). No ano de 2008 o livro “Cinema de Bordas” (organizado por Gelson Santana) trás um capítulo escrito pelo historiador Lúcio Reis, “Eles Comem Sua Carne: O Filme Escatológico-Canibal de Petter Baiestorf”, onde teoriza sobre a Canibal Filmes e sua influência entre os jovens realizadores do cinema independente brasileiro. E, em 2011, foi lançado o livro “Cinema de Garagem”, de Dellani Lima e Marcelo Ikeda, onde eles apontam a Canibal Filmes como a mais antiga produtora independente de filmes brasileiros em atividade no Brasil.

"A Curtição do Avacalho" (2006).

A Importância da Canibal Filmes

A Canibal Filmes é uma das produtoras brasileiras que mais influência jovens cineastas a começar suas próprias produções em qualquer suporte inventado. Com seu livro “Manifesto Canibal”, foi a responsável por abrir as mentes de diversas pessoas para a possibilidade de se realizar filmes baratos e lucrativos, misturando cinema autoral com cinema de gênero, recriando estéticas, explorando todo tipo de linha narrativa e sempre tentando criar um mercado alternativo auto-sustentável com vendas de seus filmes pelo correio e/ou exibições de seus filmes em mostras, festivais, cinemas undergrounds, shows de bandas alternativas ou até em botecos sujos que tenham uma televisão na parede e cerveja barata gelada.

Canibal Filmes sempre abre espaço para jovens técnicos, atores iniciantes e qualquer pessoa interessada em mostrar seus talentos cinematográficos, criando oportunidades de trabalho em filmes que serão vistos e discutidos por um público, já que o principal objetivo da produtora é fazer com que suas produções sejam assistidas pelo maior número possível de pessoas, se tornando uma vitrine de jovens talentos.

"Eles Comem Sua Carne" (1996).

Finalidade da Retrospectiva Canibal Filmes 20 Anos

Homenagear a produtora independente com maior tempo de atividade no Brasil com a exibição de seus filmes. Proporcionar ao público a oportunidade de ter contato com palestras/debates sobre como realizar produções independentes.

Ajudar a produtora Canibal Filmes a levantar, com cachês para a exibição da retrospectiva e vendas de seus filmes, o dinheiro necessário para a produção de “O Monstro Legume do Espaço – remake”, seu novo longa-metragem que será um grande presente aos fãs que acompanham as produções. Ajudar a Canibal Filmes a se manter independente, produzindo seus novos filmes com dinheiro fruto de seu próprio trabalho.

livro "Manifesto Canibal" (2004).

Como contratar a Retrospectiva Canibal Filmes 20 Anos?

Entre em contato com Petter Baiestorf pelo e-mail baiestorf@yahoo.com.br para levar a Retrospectiva Canibal Filmes 20 Anos para a sua cidade.

Ainda há tempo para você elaborar um projeto e tentar a captação de recursos em editais culturais ou via patrocinadores, já prevendo todos os gastos do projeto com equipamentos, material de divulgação, valores com direitos de exibição dos filmes, cachê para palestras/debates com presença de Petter Baiestorf, transporte aéreo, estadia e alimentação.

Não esqueça que o produtor da Retrospectiva pode prever seu próprio cachê nesses editais de captação de recursos financeiros para a viabilização da Retrospectiva.

"O Monstro Legume do Espaço" (1995).

Valores da Retrospectiva Canibal Filmes 20 Anos

A Retrospectiva Canibal Filmes 20 Anos pode ter até a duração de até 15 dias (com várias sessões diárias de uma hora cada, mais debates com presença de Petter Baiestorf durante alguns dias à combinar) pelo valor sugerido de R$ 3.000,00 (três mil reais).

A Retrospectiva Canibal Filmes 20 Anos também pode ser exibida sem a presença de Petter Baiestorf, em várias sessões diárias de uma hora cada, pelo valor sugerido de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais).

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Se você se interessou em levar a Retrospectiva Canibal Filmes prá sua cidade e região, entre em contato (sempre lembrando que como essa retrospectiva é prá levantar dinheiro para uma produção maior que vamos fazer em 2012/2013, ele não será realizada de graça porque perde o sentido de existência dela).

"Ninguém Deve Morrer" (2009).