Arquivo para cinema vagabundo

Cemitério Perdido dos Filmes B: Exploitation

Posted in Cinema, Literatura, Livro with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 21, 2013 by canibuk

“Cemitério Perdido dos Filmes B: Exploitation” (2013, 220 páginas). Organizado por César Almeida. Editora Estronho.

Exploitation 1Concebido como uma continuação ao soberbo “Cemitério Perdido dos Filmes B” (2010) de César Almeida, este “Exploitation” se aprofunda ainda mais no cinema obscuro mundial (senti falta de tranqueiras da filmografia Indiana, Turca, Nigeriana, Filipina, mas isso deve ficar para um terceiro volume do “Cemitério Perdido dos Filmes B”). Neste volume César Almeida contou com a ajuda de outros aficionados ao escrever as resenhas, gente boa como: Carlos Thomaz Albornoz (jornalista), Laura Cánepa (jornalista), Leandro Caraça (crítico de cinema), Marco Freitas (publicitário), Ana Galvan (estudante), Osvaldo Neto (pesquisador e divulgador de cinema), Otávio Pereira (administração e sistema de informação), Ismael Schonhorst (humorista fracassado), Leopoldo Tauffenbach (doutor em artes visuais), Cristian Verardi (crítico de cinema) e Ronald Perrone (pesquisador de cinema), que se revezam nas resenhas de filmes divididos em capítulo sobre cinema splatter, artes marciais/chambara, giallo, policial exploitation, blaxploitation, nazisploitation/w.i.p./nunsploitation, sexploitation e exploitation regional (em dois capítulos, um sobre produções vagabundas da América Latina e outro sobre o apelativo cinema da Austrália e Canadá), tornando este livro uma bela introdução aos leigos que queiram conhecer o universo sem vergonha do cinema de exploração.

Exploitation 2Mas atenção, fanáticos por exploitation: Vocês sentirão falta de filmes mais obscuros. Entre os filmes resenhados (são 140 filmes analisados) estão pérolas como os divertidos “Ta Paidia Tou Diavolou/A Ilha da Morte” (1977, Nico Mastorakis); “Dawn of the Mummy” (1981, Frank Agrama); “L’Iguana dalla Lingua di Fuoco” (1971, Riccardo Freda); “Joë Caligula” (1966, José Bénazéraf); “Anita – Ur en Tonarsflickas” (1973, Torgny Wickman); “Emmanuelle Tropical” (1977, J. Marreco) e muitos outros filmes clássicos do gênero como “Cani Arrabbiati” (1974, Mario Bava); “Rabid” (1977, David Cronenberg); “Blood Feast” (1963, H.G. Lewis); “The Last House on the Left” (1972, Wes Craven); “Bloodsucking Freaks” (1976, Joel M. Reed); “La Montagna Del Dio Cannibale” (1978, Sergio Martino) e vários outros do ciclo de canibalismo italiano, bem como resenha de vários filmes de Lucio Fulci, Mario Bava, Dario Argento, Jack Hill, Bruce Lee, Pam Grier, etc (fez falta resenhas de produções de David F. Friedman – um dos reis do exploitation americano -, bem como produções distribuídas pelo lendário Harry Novak, Doris Wishman, Ted V. Mikels, Tsui Hark, Frank Henenlotter (o responsável por eu ter virado um fanático pelo gênero exploitation), entre outras lendas do cinema alucinado de exploração, mas 200 páginas realmente é pouco espaço para um apanhado mais profundo englobando também, por exemplo, westerns como “Viva Cangaceiro” (1971, Giovanni Fago) ou “Condenados a Vivir/Cut-Throats Nine” (1972, Joaquín Luis Romero Marchent), entre outros subgêneros).

Assim como o primeiro volume do “Cemitério Perdido dos Filmes B”, este é item obrigatório na estante dos fãs de um cinema mais selvagem e cru de uma época fantástica da sétima arte que sobrevive graças ao vídeo (hoje downloads) e a inúmeros cineastas independentes do mundo inteiro que continuam investindo dinheiro do próprio bolso para que essa tradição do alucinado cinema Exploitation continue infectando incautos telespectadores.

De ponto negativo no livro (e única coisa que achei desnecessária) são as infinitas citações à Tarantino, dando a falsa ideia de que os autores só conheceram o cinema exploitation a partir do cineasta americano (o que não é verdade, creio).  Meus sinceros parabéns ao César Almeida pela organização deste segundo volume de “Cemitério Perdido dos Filmes B”, a editora Estronho pelo lançamento e aos co-autores desta pequena maravilha. E que venham os próximos volumes o quanto antes.

Petter Baiestorf.

The Giant Gila Monster

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on maio 16, 2012 by canibuk

“The Giant Gila Monster” (“O Gigante Monstro Gila”, 1959, 69 min.) de Ray Kellogg. Com: Don Sullivan, Lisa Simone, Fred Graham e Bob Thompson.

Uma pequena cidade do Texas começa a ficar desconfiada que algo está errado quando um jovem casal de namorados desaparece (mas sabemos que eles foram devorados por um descolado monstro gila gigante). O xerife local (Fred Graham) começa a investigar o sumiço e pede ajuda ao mecânico (Don Sullivan), que também é chefe da gang adolescente da cidade, para encontrar alguma pista. Quando o faminto réptil ataca um trem, as autoridades finalmente percebem com o que estão lidando. Lógico que como é um trashão maravilhoso, o climax acontece num salão onde a juventude está reunida para mostrar suas habilidades nas modernas dancinhas dos anos 50, afinal, estamos assistindo um filme cujo público alvo eram as crianças da época. Após o “violento” ataque do monstro gila gigante, nossos heróis acreditam que poderão acabar com a aberração da natureza com uns poucos litros de nitroglicerina. Nada mais prático!

O que mais salta aos olhos são os pavorosos efeitos especiais que o diretor Ray Kellogg preparou para seu próprio filme. A escala das maquetes (são todas tão mal feitas que ficam sempre perceptíveis) nunca funcionam quando o lagarto, um bicho real e de tamanho normal, está em cena. Há duas cenas hilárias que preciso destacar: O terrível ataque ao trem, que é um destes modelos em miniatura que as crianças usavam para brincar, é tão mal filmado que o público rola de rir. E, no ataque de gila ao salão, vemos o monstro gigante arrebentando uma parede e entrando na festinha dos jovens, só que claramente dá para notar que algum técnico do filme está empurrando o lagarto parede de isopor a dentro. O olhar de assustado do lagarto deixa tudo ainda melhor, dá prá ver claramente que o lagarto pensa: “Que porra estão fazendo comigo???” (espero que a produção não tenha comido o simpático bicho após as filmagens).

Com um orçamento de 175 mil dólares (bem alto para os padrões de diretores bagaceiros, Ed Wood, por exemplo, costumava filmar seus longas com orçamento médio de 70 mil dólares), foi produzido por Gordon McLendon, dono de uma cadeia de drive-ins. Gordon acabou se tornando um dos maiores acionistas da Columbia Pictures anos depois. Em 1981 produziu “Escape to Victory/Fuga para a Vitória” de John Huston e estrelado por Michael Caine, Sylvestre Stallone e Pelé.

Edgar Ray Kellogg, antes de “The Giant Gila Monster”, era técnico de efeitos especiais para a 20th Century Fox, tendo trabalhado em mais de 50 filmes, entre eles, “The Desert Fox: The Story of Rommel/A Raposa do Deserto” (1951) de Henry Hathaway, “Titanic” (1953) de Jean Negulesco, “The Desert Rats/Ratos do Deserto” (1953) de Robert Wise e “D-Day the Sixth of June/O Dia D” (1956) de Henry Koster, todos já lançados em DVD no Brasil. Ray ainda dirigiu “My Dog, Buddy” (1960) e “The Green Berets” (1968).

Simultaneamente à “The Giant Gila Monster”, a dupla Kellogg-McLendon também realizou outro clássico trash chamado “The Killer Shrews” (“O Ataque dos Roedores”, 1959, 68 min.), uma deliciosa bobagem fantástica sobre um capitão de navio (James Best) fazendo uma entrega de suprimentos para um grupo de cientistas (entre eles o produtor Gordon McLendon, completamente canastrão) numa ilha deserta, onde descobre que as experiências deram errado e acabaram por criar uma raça de roedores carnívoros gigantes (que, inacreditavelmente, são “interpretados” por cachorros vestindo umas ridículas peles para se parecerem com roedores mutantes, seja lá qual for a aparência de um roedor mutante). Boa parte da trama se passa na sala de uma casa na tal ilha deserta e são diálogos ditos com o péssimo sotaque dos atores, dizem que ninguém conseguia entender nada nos cinemas quando foi lançado.

“The Giant Gila Monster” e “The Killer Shrews” foram festejados como os primeiros longa-metragens produzidos inteiramente em Dallas, Texas. A Legend Films os coloriu por computador, deixando estes clássicos da ruindade artística com um clima ainda mais nostálgico. Ambos foram lançados em DVD aqui no Brasil pela Flashstar. “Gila!” (2012) de Jim Wynorski, produzido para a TV americana, é uma refilmagem do clássico “The Giant Gila Monster” que tenta manter o climão dos anos 50. E “Return of the Killer Shrews” (2012) de Steve Latshaw é uma espécie de volta à ilha onde o terrível ataque dos roedores começou. Tudo imperdível!

por Petter Baiestorf

Assista “The Giant Gila Monster” aqui:

Assista “The Killer Shrews” aqui:

Como Viajar de Graça Fazendo Filmes Baratos

Posted in Anarquismo, Arte e Cultura, Nossa Arte, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , on janeiro 17, 2012 by canibuk

Comecei a fazer filmes no ano de 1992, primeiro como uma forma de me divertir com amigos e, logo em seguida, descobri que fazer filmes independentes, mesmo sem grana nenhuma, é uma ótima maneira de convencer as pessoas a te pagarem por viagens. Foi assim que conheci, praticamente de graça, o Brasil inteiro (para minha frustração, ainda não conheço a região norte de nosso país).

Você gostaria de viajar de graça, mas não possuí nem câmera para realizar seu pequeno filme?

Bem, não vejo isso como um empecilho, pois sabemos que hoje bons filmes podem ser feitos sem câmeras. Minha sugestão é você utilizar uma câmera fotográfica digital (pode ser de celular ou aquelas máquinas fotográficas bem baratinhas, tanto faz a definição das imagens) ou um scanner. Tanto com a máquina fotográfica quanto com o scanner, você poderá capturar as imagens e transformá-las em filme usando qualquer programa de edição em computadores (e, hoje em dia, qualquer pessoa possuí um computador a disposição). Mas, se por ventura, você não tiver nada dessas coisas das quais falo aqui, é bom exercitar sua lábia de produtor e convencer as pessoas sobre a necessidade nobre delas te ajudarem a produzir seu filme.

Apesar de que, hoje em dia, se você olhar ao seu redor, vai encontrar com muita facilidade câmeras dos mais variados estilos e qualidade a sua disposição: Câmeras de celular, WEB CAM, câmeras de máquinas fotográficas, câmeras de segurança, etc. Por exemplo, para ilustrar minha linha de raciocínio, você pode construir seu filme combinando todos esses instrumentos que citei aqui, são notas esperando pelo arranjo harmônico. Você pode ter a disposição o computador de seu melhor amigo (que vai ter um scanner acoplado, se não tiver, use o scanner de uma lan house, porra!), com um programa de edição pirata que você baixou da NET. Você pode combinar animação de imagens (capturadas via máquina fotográfica ou scanner) com cenas filmadas através de câmeras de celular, com takes retirados das câmeras de segurança da padaria de seu bairro (o padeiro, além de emprestar as câmeras de segurança para as filmagens necessárias, se bem conversado, ainda poderá patrocinar a alimentação de sua equipe, voltamos ao quesito “fazer filmes sem grana pede que você exercite sua lábia”) e alguma seqüência envolvendo imagens de web cam ou pequenos takes com câmeras fotográficas na função filmar. Seu papel como realizador é ser criativo o suficiente para transformar essa bagunça toda proposta aqui em estética (como parte da lábia de produtor, depois que seu filme estiver finalizado, você precisa ainda criar alguma teoria que justifique a importância de sua obra e crie uma expectativa nos produtores de mostras e festivais de que sua presença palestrando vai engrandecer o evento, isso garante a sua viagem de graça, com passagens aéreas, estadia em hotel bonitão, alimentação e pessoas te pagando bebidas, é uma delícia!).

Agora, sou contra fazer um filme que não diga nada. A falta de dinheiro, equipamentos, condições para realizar seu filme não impede que você tenha idéias, seu cérebro, sua criatividade, sua capacidade de criação, são seus instrumentos mais importantes. Na hora de criar você tudo pode, não há limites. E você pode discutir qualquer assunto, qualquer temática, pois qualquer assunto por você abordado terá seus defensores e seus detratores também. A delícia do mundo está nas diferenças. Você precisa se assegurar que seu projeto pareça único e que sua presença na cidade que você escolheu conhecer de graça seja estritamente necessária.

Em 2005, por exemplo, fiz um filme chamado “Palhaço Triste”, que chamei de autobiografia para dar uma polpa no troço todo, fazer com que um filme vazio ficasse parecendo algo importante. Filmei ele com três amigos me ajudando nas filmagens (dei alguma bebida em troca da ajuda), usei uma filmadora super-VHS velha que tinha em casa e editei as imagens com outro amigo me ajudando. O resultado foi um arthouse sobre as frustrações de um cineasta impossibilitado de realizar seus projetos, tudo isso embalado com um efeito digital (que nem sei o nome) que deixou as imagens com um clima de pesadelo surrealista lisérgico. Não me custou nenhum centavo (editei o “Palhaço Triste” em Florianópolis, a 650 km da minha casa, com minhas passagens bancadas pelo governo de Santa Catarina que, naquela semana, havia me contratado para participar de um debate sobre a produção de filmes independentes) e logo que ficou pronto este filme me proporcionou alguns dias de descanso em Belo Horizonte/MG, onde ele foi exibido em clima de festa num festival de cinema, ganhei bebidas, fiquei num hotel maravilhoso, revi amigos mineiros de longa data e ainda participei como ator no longa-metragem “O Sonho Segue sua Boca” do genial cineasta underground Dellani Lima.

Produza seu filme, as possibilidades de tudo dar certo e ser uma experiência positiva são grandes. Estou torcendo por seu filme e, espero, te encontrar viajando de graça na minha próxima viagem gratuita. Longa vida aos filmes sem grana!

escrito por Petter Baiestorf.

O Incrível Homem que Derreteu

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , on outubro 22, 2011 by canibuk

“The Incredible Melting Man” (O Incrível Homem que Derreteu, 1977, 85 minutos) de William Sachs. Efeitos Especiais de Rick Baker. Com: Alex Rebar, Michael Alldredge e Burr DeBenning.

Um dos primeiros filmes que vi quando criança (tinha uns 8 anos de idade) e que ficou queimado na retina (junto de “O Último Cão de Guerra” de Tony Vieira, constatar isso explica muita coisa sobre minha paixão por cinema). “O Incrível Homem que Derreteu” conta a história do astronauta americano que foi exposto à radiação dos anéis de Saturno e que começou a derreter quando voltou ao Planeta Terra. Contaminado, o astronauta escapa do hospital (numa hilária cena envolvendo uma enfermeira gordinha) ao perceber que está derretendo e começa a cometer assassinatos para consumir carne humana (porque, como em todo bom filme vagabundo, a carne humana tem propriedades únicas que retardam o derretimento do astronauta).

Originalmente concebido como uma paródia aos filmes de horror, os produtores de “O Incrível Homem que Derreteu” pediram ao diretor William Sachs que deixasse o filme mais sério e violento (mais violento até pode ter ficado, mas prá nossa sorte, a parte de deixá-lo mais sério não funcionou). “O Incrível Homem que Derreteu” é uma espécie de remake gore do clássico “First Man Into Space” (1959, de Robert Day), com inspiração no também clássico “The Quatermass Xperiment” (1955, de Val Guest), sem se levar à sério em nenhum momento (perceba como os atores interpretam as personagens com um ar de incredulidade). Atente, também, às participações especiais de Jonathan Demme (no papel de uma vítima) e da atriz Rainbeaux Smith (especialista em aparecer em exploitation movies) no papel de uma modelo fotográfica atazanada por um fotografo tarado.

As maquiagens são de Rick Baker (antes de ganhar vários Oscars por suas maquiagens em super-produções de Hollywood), que criou quatro fases distintas no make-up do homem que derrete (que o ator Alex Rebar se recusava a colaborar nas sessões de maquiagens porque odiava ser maquiado), mas somente duas fases estão na edição final do filme. Uma cena onde as maquiagens de Baker se destacam até nos dias atuais, é quando uma cabeça decepada explode após cair numa cachoeira. Para conseguir o efeito desejado, Baker moldou uma cabeça falsa de cera e gelatina com sangue falso no interior. O resultado, filmado em câmera lenta, é lindo.

Na distribuição do filme a produtora/distribuidora American Internacional Pictures vendia o filme dizendo que os efeitos especiais eram do “mestre dos efeitos especiais do Exorcista” (que não foram feitos por Rick Baker, mas sim por Dick Smith), fato este que irritou tanto William Friedkin (diretor de “O Exorcista”) que ele vivia rasgando posters de divulgação do “O Incrível Homem que Derreteu”. Quando lançado nos cinemas o filme de William Sachs recebeu diversas críticas negativas, só encontrando seu público anos depois, quando o filme foi exibido na TV e distribuido em VHS.

Tenho adoração por este filme, tanto que em 2006 fiz um filme-homenagem à ele chamado “A Curtição do Avacalho” (73 minutos), onde desconstruí a idéia do filme original e coloquei um homem derretido lutando contra as dificuldades de se fazer cinema independente no Brasil.

capinha do VHS lançado no Brasil pela Globo Filmes.