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O Monstro Nuclear de Yucca Flats

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 12, 2016 by canibuk

The Beast of Yucca Flats (1961, 54 min.) de Coleman Francis. Com: Tor Johnson, Douglas Mellor, Barbara Francis e Conrad Brooks.

the-beast-of-yucca-flats1Quando assassinos da KGB vão a Yucca Flats para matar o cientista Joseph Javorsky (Tor Johnson) mal sabiam eles que, tomado pelo desespero, Javorsky fugiria para o deserto e seria contaminado pela radiação de um teste nuclear americano que estava acontecendo no local, tornando-o a besta sanguinária de Yucca Flats num dos filmes considerado pela crítica como uma das piores sci-fi já realizadas na história do cinema (nada mal para Tor Johnson que mantêm um padrão invejável, já que também está no elenco de “Plan 9 From Outer Space”, 1959, de Edward D. Wood Jr.).

the-beast-of-yucca-flatsMas “The Beast of Yucca Flats” não é tão ruim assim, principalmente quando comparado a outros filmes analisados neste livro. Parte do seu charme brejeiro está no fato de ter sido filmado sem o som para cortar custos, tendo a narração, diálogos e alguns poucos efeitos sonoros adicionados na pós-produção e, para evitar a sincronia das falas com as bocas das personagens, todos dizem seus diálogos quando estão fora da tela ou a uma distância segura da câmera para que a falta de sincronia não seja percebida pela audiência (essa técnica foi muito utilizada pelos produtores brasileiros da Boca do Lixo anos depois).

the-beast-of-yucca-flats2Coleman C. Francis (1919-1973), o inútil responsável pela realização de “The Beast of Yucca Flats”, foi ator e, eventualmente, fazia algumas tentativas como roteirista/produtor/diretor. Além deste ainda realizou “The Skydivers” (1963), um drama que, a exemplo de seu filme anterior, também foi filmado na região de Santa Clarita (California) com um orçamento igualmente medíocre; e, “Night Train to Mundo Fine” (1966), um thriller político mais conhecido pelo título alternativo de “Red Zone Cuba”, tão ruim quanto seus outros filmes (e politicamente tão irrelevante quanto “Creature from the Haunted Sea/Criaturas do Fundo do Mar”, 1961, de Roger Corman). Como ator fez papéis não creditados em vagabundagens como “Killer From Space/Mundos Que se Chocam” (1954), uma sci-fi trash de W. Lee Wilder, e “This Island Earth/Guerra Entre Planetas” (1955) de Joseph M. Newman e Jack Arnold (não creditado). Depois de vários papéis em séries de TV, virou o narrador do filme “The Thrill Killers” (1964) de Ray Dennis Steckler, outro lendário diretor ruim, com quem ainda trabalhou em “Lemon Grove Kids Meets the Monster” (1965) e “Body Fever” (1969). Em 1965 Coleman conheceu Russ Meyer e trabalhou em “Motorpsycho!” (1965), um biker movie estrelado pela beldade Haji, e “Beyond the Valley of the Dolls/De Volta ao Vale das Bonecas” (1970), uma comédia musical sexploitation alucinada já lançada em DVD duplo no Brasil pela distribuidora Fox que acabou sendo seu último trabalho no cinema.

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tor-johnsonNo elenco de “The Beast of Yucca Flats” temos o gigante sueco Tor Johnson reprisando o mesmo papel de sempre de sua carreira. Ao contrário do que a cinebiografia “Ed Wood” (1994), de Tim Burton, deixa transparecer, não foi Edward D. Wood Jr. quem levou Johnson para as telas. Sua estreia, de acordo com o site IMDB, foi no drama “Registered Nurse/Abnegação” (1934) de Robert Florey, onde interpretava Sonnevich, o terrível búlgaro. Depois de aparecer em mais de 10 filmes sem receber créditos na tela, estrelou “Alias The Champ/Choque de Gigantes” (1949) de George Blair, onde “interpretava” o lutador The Swedish Angel, ou seja, ele mesmo. Mas seu grande papel na tela foi mesmo a personagem Lobo no hoje Cult “Bride of the Monster/A Noiva do Monstro” (1955) pelas mãos de Edward D. Wood Jr., com quem ainda fez os clássicos “Plan 9 From Outer Space” e “Night of the Ghouls/Noite das Assombrações” (1959), uma inacreditável tranqueira cinematográfica ainda mais divertida do que os filmes anteriores de Ed Wood, onde reprisou o papel de Lobo. Outros filmes imperdíveis que Johnson estrela são “The Black Sleep/A Torre dos Monstros” (1956) de Reginald Le Borg; “The Unearthly” (1957) de Boris Petroff (sob pseudônimo de Brooke L. Peters) e a comédia musical “Head/Os Monkees Estão de Volta” (1968) de Bob Rafelson. Conrad Brooks, outro ator da trupe de Ed Wood, também dá as caras em “The Beast of Yucca Flats” e o diretor/ator Titus Moede (o Boo Boo de “Rat Pfink a Boo Boo”, 1966, de Ray Dennis Steckler) foi o responsável pela mixagem do som deste incrível filme ruim.

Por Petter Baiestorf.

Assista The Beast of Yucca Flats aqui:

Jail Bait

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 30, 2016 by canibuk

Jail Bait (“A Face do Crime”, 1954, 71 min.) de Edward D. Wood Jr. Com: Lyle Talbot, Dolores Fuller, Steve Reeves, Herbert Rawlinson e Conrad Brooks.

jailbaitEm “Glen or Glenda?” (1953) Ed Wood explorou o tema do travestismo na sociedade americana, contou a tocante história de pessoas que não se sentiam bem em relação ao sexo em que nasceram e resolveram enfrentar os valores sociais da época de então para serem felizes (e o assunto de troca de sexos continua gerando muita polêmica até nos dias de hoje, mais de 60 anos depois do filme de Ed Wood). Neste “Jail Bait” Wood dá seqüência a sua obsessão por mudanças estéticas contando a história do delinqüente Don Gregor (Clancy Malone) que, após um crime, obriga seu pai (Herbert Rawlinson), um famoso cirurgião plástico, a fazer uma operação caseira com a ajuda de sua irmã (Dolores Fuller) que tinha treinamento básico em enfermagem. Paralelo a todo o drama fantasioso (somente da cabeça de Ed Wood poderia sair uma operação plástica caseira) Don está sendo procurado por uma dupla de homens da lei (Lyle Talbot e Steve Reeves).

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Como todo bom filme Noir, “Jail Bait” tenta ter um clima soturno (é todo filmado a noite dando a ideia de uma noite eterna de várias semanas) e reviravoltas, muitas reviravoltas na estrambólica trama. Don é uma das típicas personagens de Wood, um sujeito marginalizado que diante das circunstâncias acaba fazendo as escolhas erradas e, como Wood nunca condenava as personagens marginalizadas, é impossível ver Don como um típico bandido. Don é apenas um típico filhinho de papai em busca de aventuras para preencher sua existência vazia.

ed-woodEm termos de produção, se compararmos “Jail Bait” com os outros filmes de Wood, é uma produção bem cuidada, com mais acertos do que equívocos. Talvez pela mão da HOWCO, já que o filme foi pago por eles. A HOWCO foi uma produtora/distribuidora dos sócios Joy Newton Houck Sr. (pai do diretor de filmes vagabundos Joy N. Houck Jr. e proprietário de 29 salas de cinema), Ron Ormond (diretor de westerns e exploitations movies) e J. Francis White (proprietário de 31 salas de cinema) que fez com que filmes como “The Brain From Planet Arous” (1957) e “Attack of the Fifty-Foot Woman” (1958), ambos do diretor Nathan Juran, rendessem muito dinheiro. George Weiss (produtor de “Glen or Glenda?”) conta que em troca de um orçamento melhor para o filme, Ed Wood desistiu de sua participação nos lucros (o que mostra a esperteza dos produtores, que se livraram do Ed Wood na partilha de lucros e, ainda, melhoraram seu próprio filme).

jail-bait2Ed Wood talvez seja uma das personalidades mais conhecidas e queridas do cinema exploitation por causa de sua milionária e oscarizada cinebiografia “Ed Wood” (1994), único filme realmente excepcional e memorável do quase sempre morno Tim Burton, baseado no livro “Nightmare of Ecstasy: The Life and Art of Edward D. Wood Jr.” (1992) escrito por Rudolph Grey e responsável pelo fabuloso resgate à memória e arte deste artista único do cinema americano. Ed Wood foi para Hollywood em 1947 onde tentou a sorte na TV e teatro (sua peça teatral “Casual Company” é retratada no início da cinebiografia). Ao contrário do que está no filme de Tim Burton, Ed Wood foi apresentado ao Bela Lugosi por seu então colega de quarto Alex Gordon (roteirista de “Jail Bait”, produtor dos primeiros filmes de Roger Corman para a A.I.P. e irmão de Richard Gordon da Amalgamated Productions)  e deste encontro resultou uma amizade que rendeu 3 parcerias memoráveis: “Glen or Glenda?”, “Bride of the Monster” e “Plan 9 from Outer Space”. Também teríamos tido Bela Lugosi em “Jail Bait” (o papel do cirurgião plástico havia sido planejado para ele), mas por estar ocupado não pode aceitar o papel (que acabou sendo interpretado pelo também ator veterano Herbert Rawlinson, que veio a falecer uma noite após as filmagens terem sido concluídas). Alguns dos filmes não tão famosos de Ed Wood que indico são “Night of the Ghouls” (1959), uma tentativa de realizar um filme de horror sobrenatural onde absolutamente tudo dá errado em, talvez, a comédia mais involuntária da história do cinema (que só foi lançado em 1983); The Sinister Urge” (1960), seu último filme “comercial”, um suspense filmado em apenas cinco dias e que acho bem feito (diante das circunstâncias de uma filmagem de cinco dias); e “Necromania: A Tale of Weird Love!” (1971), uma tentativa de pornô (onde os atores não conseguem nem mesmo uma ereção satisfatória) que tem o mérito de apresentar ao mundo o caixão-cama de Criswell. Ed Wood também assinou mais de 50 roteiros, incluindo o Cult “The Violent Years” (1956), de William Morgan, sobre uma gangue de garotos delinqüentes, e vários para o diretor/produtor Stephen Apostolof.

dolores-fuller

steve-reevesAssim como em seus outros filmes, Wood sempre se cercou de técnicos baratos, mas que tinham muita experiência. No elenco de “Jail Bait” vemos Lyle Talbot (que começou sua carreira na década de 1930 e esteve no elenco de mais de 300 produções); Steve Reeves (que anos depois de trabalhar com Wood ficaria marcado pela interpretação da personagem Hércules em uma série de filmes italianos); Dolores Fuller (sua então esposa na época, mas que já era uma veterana na arte da interpretação, tendo integrado o elenco (não creditada) do clássico “It Happened One Night/Aconteceu Naquela Noite” (1934) do genial Frank Capra) e Conrad Brooks (amigo de Wood que sempre esteve nas suas produções, tendo aparecido inclusive no “Ed Wood” de Tim Burton e na refilmagem “Plan 9” (2015) de John Johnson). A trilha sonora é de Hoyt Curtin (que são as músicas da trilha sonora de “Mesa of the Lost Women” (1953), de Ron Ormond e Herbert Tevos, re-aproveitadas em novo contexto). O diretor de fotografia é o veterano William C. Thompson que também fotografou todos os outros filmes de Wood até “The Sinister Urge” (seu último filme). Thompson, que começou no drama mudo “Absinthe” (1914) de Herbert Brenon e George Edwardes-Hall, sempre esteve envolvido no mercado de exploitations. As maquiagens são de Harry Thomas que sempre soube trabalhar bem com orçamentos apertados e assinou as maquiagens em clássicos do trash como “Cat-Women of the Moon” (1953) de Arthur Hilton; “Killers From Space” (1954) de W. Lee Wilder; “The Unearthly” (1957) de Boris Petroff e “The Little Shop of Horrors” (1960) de Roger Corman.

“Jail Bait” foi lançado no Brasil em VHS e DVD pela Continental Home Vídeo e merece ser conferido justamente por ser o filme menos vagabundo do lendário pior diretor de todos os tempos.

Escrito por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.

Assista Jail Bait aqui: