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Iara – A Sereia do Pantanal

Posted in Literatura with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on janeiro 24, 2019 by canibuk

Reza a lenda que foi mais ou menos pra lá dos cafundós do Pantanal que você encontrou Iara, a sereia das lendas indígenas que te assombravam quando criança.

No dia em que seu marido lhe falou sobre o plano de assaltar aquele casal de fazendeiros ricaços, seu sexto sentido de mulher grávida, lhe fez coçar as orelhas. Você sabia que devia seguir sua intuição e não ir junto, afinal estava grávida de sete meses de seu primeiro filhinho. Somente isso seria motivo mais do que suficiente para que ficasse naquele grande e caro apartamento, que possuíam graças aos roubos e seqüestros.

Você sabe que seu marido a teria deixado ficar no apartamento, mas sua ganância foi maior do que a coceirinha que você sentia atrás da orelha. Na verdade, você era viciada na adrenalina dos assaltos, na sensação de poder que o empunhar de uma arma lhe proporcionava, e queria estar lá, junto, tocando o terror naquelas pobres vítimas.

E você pensava ainda que aquele casal de ricaços idosos não tinha nada que guardar tanto dinheiro em casa. Que colocassem num banco, porra! Ou que pagassem pela segurança do dinheiro, não é mesmo? Fosse o que fosse, você queria aquele dinheiro todo pra si porque queria continuar bancando sua vida de luxo e de mordomias mil.

Você se sentia especialmente poderosa na noite em que foram assaltar os velhos. Você, seu filho de sete meses se remexendo animado em seu útero, seu marido com um sexy olhar de assassino carrasco e João, o informante paspalhão que cantou tudo sobre o casal de sovinas ricaços. O informante que vocês já haviam decidido matar após estarem com o dinheiro, afinal, agora você trazia mais uma boca para alimentar e dinheiro nunca é demais.

Vocês quatro estacionaram o carro perto da fazenda, se armaram até os dentes e calmamente seguiram sob o luar até a casa grande onde os velhos viviam sós. Sozinhos e abarrotados de dinheiro e joias, muito dinheiro e muitas joias, coisa de velhos que não confiam nos outros para guardar suas riquezas.

Era muito fácil, não?

Era só entrar na casa, atirar nos velhos e procurar com toda a calma do mundo o local onde guardavam o dinheiro e as joias. Tinha tudo para ser moleza demais, não?

Como adivinhariam que, no momento de render o casal, já dentro da casa, aqueles velhos filhos da puta estariam limpando suas armas? Como adivinhariam que o velho estaria com uma doze nas mãos e a velha, com uma espingarda de caça, como se estivessem esperando os assaltantes?

Você mal assimilou qual era o objeto que o velho carregava nas mãos quando ouviu o estampido do tiro que arrancou a cabeça de seu marido, fazendo com que toda a parede atrás dele se salpicasse de carne moída triturada e esmigalhada.

Você ficou ali, parada, surpresa, vendo seu marido sem cabeça em espasmos, tombando ao chão. E, antes que pensasse em reagir, ouviu o tiro da espingarda de caça que lhe atorou o braço esquerdo fora a fora, deixando-o meio pendurado em seu corpo.

A dor que você sentia era intensa, mas quando você viu João se mandar correndo escuridão adentro, você sacou que, mesmo com seu braço dependurado junto ao corpo, mesmo com seu filho agitado dentro de sua barriga lhe chutando nervoso como quem pede para que faça a coisa certa, você também precisava se mandar dali.

E você se mandou.

Com forças sabe-se lá d’onde conseguidas, você ignorou a dor e correu em direção ao carro, mas já era tarde, agora você o via se afastar já longe, pois João era só “rodas pra que te quero” para salvar apenas seu próprio rabo.

Confusa, sem saber muito bem o que fazer, você correu o máximo que pôde para dentro dos banhados do Pantanal que circundavam a fazenda dos velhos.

E você correu por um bom tempo pântano adentro. Correu e correu muito, até não aguentar mais e desmaiar sobre seu braço dependurado por um mix retorcido de carne e ossos.

Você já não sentia mais seu filho chutando sua barriga, alucinadamente, como se pedisse sua atenção. Você simplesmente não tinha mais forças para aguentar aquela dor toda e só queria desmaiar em paz e que, de agora em diante, fosse o que o diabo tivesse lhe reservado.

Assim, você não percebeu quando aquela velha senhora centenária, completamente enrugada e de lento andar, encontrou seu corpo todo fodido e o arrastou até o casebre construído sobre palafitas num rio qualquer do pantanal.

Você não despertou de seu desmaio enquanto a velha limpou seus ferimentos com um paninho úmido. Também não acordou quando a idosa retirou toda sua roupa e ficou, por um longo tempo, contemplando sua barriga de grávida. Barriga essa que fazia a senhora do pântano abrir um tenro sorriso em seu rosto carcomido pelo tempo.

Você não acordou quando a velha imobilizou com cipós suas pernas e seu braço ainda inteiro. O outro braço, inútil, não foi necessário imobilizar.

Você só acordou quando sentiu o facão empunhado pela velha senhora lhe rasgar a barriga. Aí sim, de um único suspiro, você recobrou a consciência sentindo as mãos da velha entrando em seu útero e arrancando de seu interior quentinho seu inocente filho.

Você tentou se livrar dos cipós, mas a dor lhe impossibilitava de ter as forças necessárias para se desvencilhar das amarras bem apertadas, no estilo indígena do Pantanal.

Urrando de dor, você viu quando a velha se afastou vagarosamente carregando seu filho banhado de seus líquidos gotejantes. Você sentiu o cordão umbilical se esticar até se romper por completo.

Sem forças nem para morrer, você viu quando a velha largou seu filho prematuramente nascido sobre a mesa da simplória cozinha do casebre. Seu filho que se remexia desesperado tentando chorar ou, simplesmente, gritar, sabendo que você o meteu naquela furada.

Você ainda viu a velha começar a preparar o que parecia ser uma refeição. Viu quando ela picou uma cebola inteira, acompanhada de três dentes de alho, salsinha a gosto mais cebolinha verde, para dar o gostinho da felicidade. Você a viu pegar quatro batatas e cortar em rodelas, logo antes de triturar cinco tomates num moedor de carne manual. Pelo jeito, a velha senhora adorava um molho bem grossinho. Manjericão, folhas de louro e um punhado de coentro também foram reservados para o delicioso prato que você via tomar forma diante de seus últimos minutos de vida.

Você ainda pensou, naquele instante, que, se tivesse ficado no conforto de seu grande e caro apartamento, poderia ter proporcionado segurança ao seu pequenino rebento ainda não assado. Mas, “e se” é algo que não existe. O que foi feito é o que foi feito. E ali estavam vocês, tu e teu filho, a mercê de uma cozinheira de tão rebuscado paladar. Você nos últimos suspiros e ele pronto para entrar na panela.

Seus pensamentos voltaram-se ao momento presente, quando você viu a velha senhora colocar banha de porco numa bandeja. Não muito, lógico, somente o suficiente para não deixar as carnes de seu filho grudarem no utensílio doméstico.

Você ficou completamente aterrorizada quando viu seu filho ser colocado na bandeja junto das batatas picadas. Você gritava de pavor enquanto a velha acrescentava os temperos e seu filho chorava indefeso, tomando o cheiro e o gosto de tão deliciosas especiarias.

Você ainda viu quando a senhora abriu a pequena portinha de seu forno de barro já pré-aquecido e enfiou seu filho lá dentro, fazendo com que a choradeira da criança logo se acabasse após alguns gritinhos mais agudos de dor. Ser assado vivo em tão tenra idade não é mole não, mamãe!

Você viu! Você viu! Você viu tudo, querida mamãe!

O silêncio desolador que você sentiu naquele momento lhe amorteceu os sentidos. Embora você soubesse que deveria sentir toda a dor do mundo – e ainda ser merecedora dessa dor – você nada sentiu quando a velha serrou seu crânio com um velho serrote sem fio.

Você apenas morreu em silêncio, aterrorizada, olhando cegamente para o forno de barro onde seu filho agora assava para compor o mais fantástico dos pratos macabros.

Morta, você nada mais sentiu quando a velha retirou de sua casca sem vida seus miolos ainda fresquinhos. Você nada sentiu quando ela passou sua massa cinzenta no moedor de carne e nada viu quando ela misturou aos tomates moídos que seriam cozidos com muito alho, cebola e uma pitadinha de manjericão com coentro.

Seu corpo morto não viu quando a velha senhora retirou seu filho assado do forno de barro e acrescentou o molho de miolos à gordura de porco que borbulhava na bandeja, deixando as carnes de seu filho crocantes, mas, ainda assim, macias.

Você não viu quando o tétrico prato ficou pronto e a velha o salpicou com muita salsinha e cebolinha verde.

Não viu quando ela cheirou o prato alegrando-se com o aroma indescritível de tão rara iguaria.

Você ali, morta, não viu o prazer magnânimo que a velha sentiu em suas papilas gustativas a cada grande naco da carne bem temperada de seu filho assado, que ela devorava com apetite voraz. A velha parecia estar a vida toda sem comer. E talvez até estivesse.

Você não viu a velha comer todo o seu filho, limpando até o último pequeno ossinho nem bem formado e lambendo os dedos engordurados para então, somente então, dar-se por saciada.

Ali, morta, você nem sequer imaginou que seu filho, e seus miolos, fossem ingredientes de um satânico ritual de uma milenar lenda do Pantanal, parte de um banquete de rejuvenescimento da sereia Iara, a bruxa canibal dos rios brasileiros.

Se você tivesse agüentado viva mais alguns minutinhos, teria visto que após o banquete a velha senhora sofreria uma sanguinolenta metamorfose, em que suas flácidas carnes de idosa centenária amoleceriam fazendo que, de seu interior gosmento, uma nova Iara belíssima, com rabo de sereia e tudo, saísse lá de dentro tal como uma borboleta deixa seu casulo, voltando a ser uma encantadora mulher-peixe, que voltaria a nadar nos rios, hipnotizando ribeirinhos e devorando solitários pescadores que se aventuram pelas alucinantes noites do Pantanal.

Escrito por Petter Baiestorf.

ilustração de Marcel Bartholo.

Fevereiro de 2018.

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O Cu: Moleza com Sacanagem Total

Posted in Bizarro, Fanzines, Literatura, Quadrinhos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on novembro 8, 2018 by canibuk

Moleza com Sacanagem Total

I.

O deserto tentou me engolir. Pulei fora e rolei em direção de uma grande e úmida circunferência. Tal circunferência possuía um odor característico fácil de ser identificado. Sim, possuía odor de cu. Era um cu gigante logo abaixo de um imenso deserto de pele e não areia como os bobos imaginaram. Tudo estava claro agora, claro como uma trepada gostosa sobre a relva e eu sempre tive razão: O cu era uma circunferência, portanto, redondo. Beijo o cu gigante feliz porque sempre estive certo e os professores é que estavam errados. O belo cu é redondo !!! Re-don-do !!! Olhando diretamente para o buraco que havia no centro de tão enorme e poderoso cu, vejo uma luz no fim do reto. Fiquei deverás curioso, pensando cá com meus ovos, louco para saber o que poderia haver no fundo do cu, se é que cu tem fundo. Será que no fundo do cu haveriam criaturas monstruosas ? Vermezinhos falantes ? Lombriguinhas dançantes ? Bactérias fecais intelectualizadas pela Globo ? Realmente estou muito curioso…

II.

O amor caiu junto da sujeira e ficou sujo. Com um pequeno esforço consegui entrar no cu ciente que se não conseguir ver as criaturinhas do cu – Culenses ? – finalmente ei de saber o que é aquela luz que brilha no interior do cu.

III.

Caminhei sempre seguindo em direção a luz que brilhava no horizonte pomposo. Meus pés afundavam na merda amolecida a cada passo. Cansado sentei num caroço sangrento que havia na tripa grossa. Parecia ser o início de uma úlcera maligna. O sangue meio coagulado, meio líquido, molhou minha bunda. Ironia ou não do destino, mas o fato é que agora havia um cu dentro de um cu, ou seja, meu cu dentro daquele enorme cu solitário no deserto de pele. Melhor um cu dentro de um cu do que um cu com cu. Porém, para minha surpresa, o tal cu gigante possuía vários cuzinhos em seu interior. Suas paredes cheias de remelas e cascas fecais secas possuíam uma imensa galeria de cus de todos os tipos e variados cheiros. E para espanto geral, aqueles cuzinhos pequeninos falavam. Porra do caralho caralhudo, um cu gigante que tem vários cuzinhos e um cuzão dentro dele. Aliás, tem dentro dele um cuzão com seu próprio cu, perplexo, olhando descaradamente para a parede de cuzinhos falantes. Bem, aproveitarei a oportunidade e farei perguntas, como todo bom curioso deve se portar.

IV.

Sentado na úlcera pergunto aos cuzinhos do cu sobre a misteriosa luz que havia a nossa frente. Eles, sempre em coro – depois descobri que todos os cuzinhos faziam parte de um único cérebro pensante e todo poderoso – me respondem que aquela luz é o centro do Universo e que dali surgiu tudo já expurgado para dentro da humanidade. E completam ainda que todos são iguais perante a luz e aqueles que são diferentes são expurgados de volta a humanidade. Pensei: “Porra, eu sou diferente !!! Sou um cuzão humano com um cu e não um cu soberano com vários cuzinhos !”. Os cuzinhos gargalham debochando de mim. A luz, o centro de todo o Universo, faz um estrondo ensurdecedor e gases me carregam para fora do enorme cu que havia no deserto de pele. Enquanto vôo para fora do todo poderoso cu que rejeita os diferentes, fico pensando: “Bem que isso tudo poderia se chamar ‘O Centro Da Humanidade É Uma Luz Sem Forma Com Pequeninos Guardiões Que Falam Toda E Qualquer Língua’ !!!” e no chão caio, batendo minha cabeça no deserto, esfolando meu queixo. Finalmente sei de toda a verdade, mas acho que não irá adiantar nada pois certamente passarei por um profeta do caos enlouquecido e a esmo deverei vagar pela eternidade.

Texto de Petter Baiestorf.

Em 2000 o desenhista Reginaldo criou a HQ “O Cu“, inspirado no texto “Moleza com Sacanagem Total“, que editei no fanzine ARGHHH #29, e versava sobre o cidadão classe média brasileiro. Segue o resgate da HQ aqui:

A Noiva do Turvo

Posted in Cinema, Entrevista, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 9, 2018 by canibuk

A Noiva do Turvo é um curta-metragem produzido no início de 2018 utilizando-se de um celular enquanto festejávamos a passagem de ano. Orçamento zero para contar uma lenda do rio Turvo que, meses antes, Loures Jahnke e sua filha Isabela haviam resgatado para um trabalho escolar que virou um fanzine de contos. Você pode ler o conto A Noiva do Turvo clicando no coletivo literário Maldohorror.

Segue relato dos envolvidos nas gravações:

Petter Baiestorf: O curta A Noiva do Turvo, escrito e dirigido por Loures Jahnke e filmado com seus filhos: Lorenzo de cinco, Isabela de dez, Vinicius de doze e Morgana de vinte anos. Loures, Elisiane Rodrigues, Carli Bortolanza e eu nos divertimos muito durante essa experiência fantasmagórica sessão livre onde respeitamos o ritmo de trabalho das crianças. Não quer dizer que eu vá produzir filmes em celulares, mas abrem-se algumas possibilidades com este formato, principalmente com suas câmeras de alta definição.

Lorenzo, 5 anos, assistente de direção

Loures Jahnke: Exatamente um ano depois da filmagem de Ándale!, na virada de 2017 para 2018, Baiestorf e Bortolanza voltaram para o Baixo Azul, trazendo na bagagem mais de 300 latas de cerveja – sim, eles sempre são exagerados. Não tinham o Toniolli, nem o Élio e nem a filmadora, mas Baiestorf estava com um celular com câmera bacana. Alguns meses antes dessa visita, ajudei minha filha Isabela em um trabalho escolar sobre mitos e lendas locais, o que resultou em um pequeno conto que publiquei no Maldohorror. Eu tinha o argumento e 4 filhos; Peter tinha um celular e o Bortolanza. O produto? A Noiva do Turvo.

Morgana, A Noiva do Turvo

Carli Bortolanza: Loures nos apresentou um texto que ele havia ajudado uma das filhas a escrever para um trabalho escolar que virou um livro coletivo dos alunos que estudavam na mesma sala de aula da filha dele. Sugerindo “Nós podíamos filmar este texto da Isabela, não?”. E “de balde”, por que não? E o primeiro impacto após termos lido o texto foi, “Como não tem câmera, vamos filmar pelo celular!”, única opção e sem nenhuma objeção. A iluminação foi outro empecilho, mas Loures comentou que um vizinho tinha uma bateria com uma lâmpada que fora improvisado para ser usado como uma mochila nas costas, com direito a alças e tudo. A escolha de quem faria o pescador também foi engraçada: Pedi para ser escolhido, pois estava com um pouco de frio e ai ficaria com a roupa manga longa e não precisaria ficar carregando o peso da bateria.

Teste de iluminação durante as gravações com Carli sendo abduzido

E. B. Toniolli: A história é linda, pulsante e real. O Loures mostrou-se um bom diretor, mas que não chega aos pés do Loures escritor, que é formidável.

Loures Jahnke: Filmar A Noiva foi uma das coisas mais divertidas que já fiz. Meus filhos foram batizados na Canibal Filmes – não com groselha, mas com o “espírito da coisa” -, todos riram muito, sofreram – principalmente Morgana e Isabela – e se encantaram. Até a Elisiane, minha companheira, diz que se divertiu muito sendo a produtora do filme – ela pagou um pote de minâncora e um lápis de olho, total de custos.

Carli Bortolanza: Uma coisa que ficou bem marcante foi a empolgação das crianças em participar!

Petter Baiestorf: Para A Noiva não tínhamos uma câmera, somente meu celular. Como eu havia acabado de filmar Beck 137 em Goiânia, GO, com ele, sabia que dava pra fazer algo minimamente bacana. Também deu pra testar o uso de iluminação mínima em espaços abertos – boa parte do curta foi filmado numa plantação de soja que invadimos. De certo modo o uso da iluminação foi uma continuidade do que havia pensado para A Cor que Caiu do Espaço.

Loures Jahnke: Já tinha visto alguns trabalhos feitos com celular, mas A Noiva do Turvo foi para muito além das expectativas, considerando que a maioria das cenas foram noturnas, que a iluminação foi feita com um troço adaptado para caçar lebres tomado emprestado de um vizinho, que os áudios da narração e da trilha sonora  – brilhantemente composta pelo Vinicius, de 12 anos – foram todos gravados em celular e que o Bortolanza passou uma tarde toda catando lenha pra assar carne.

A Noiva se preparando para entrar em cena

Elio Copini: Quanto A Noiva, não participei das filmagens, assisti e gostei muito dele. Despertou uma inveja por não estar lá também.

Loures Jahnke: Toniolli acho que também se divertiu muito, um tempo depois, comigo e com o Baiestorf na casa dele num final de semana inteiro durante a edição do Noiva.

E. B. Toniolli: A Noiva do Turvo já chegou em minhas mãos filmado e só faltando a edição. Dessa vez tínhamos o Loures Jahnke como diretor e ele é uma pessoa muito inteligente, que sabe o que quer e sabe valorizar o trabalho em equipe, deixando todos participarem do processo de maneira ativa. Assim considero esse curta mais coletivo do que as obras naturais da Canibal Filmes, que são a visão do Baiestorf, basicamente.

Morgana e Carli em A Noiva do Turvo

Loures Jahnke: A Noiva do Turvo é quase um filme infantil, inocente, mas que explora um universo cultural muito vasto que são os causos, os mitos e lendas que preenchem o imaginário – e a vida! – das populações camponesas sertões afora.

E. B. Toniolli: Fiquei muito contente em editar o material filmado com celular. Considero que o cinema feito de celular é a evolução natural do processo: Não estamos reféns dos grandes estúdios, das câmeras caras e dos “profissionais” da arte. Cinema é para todos, não para uma elite intelectual que trata a todos como gado intelectual, onde quem não comunga de sua maneira bitolada de ver o mundo, é excluído.

fotos e entrevistas para o post por Petter Baiestorf.

Assista ao curta-metragem aqui: