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Reza a lenda que foi mais ou menos pra lá dos cafundós do Pantanal que você encontrou Iara, a sereia das lendas indígenas que te assombravam quando criança.
No dia em que seu marido lhe falou sobre o plano de assaltar aquele casal de fazendeiros ricaços, seu sexto sentido de mulher grávida, lhe fez coçar as orelhas. Você sabia que devia seguir sua intuição e não ir junto, afinal estava grávida de sete meses de seu primeiro filhinho. Somente isso seria motivo mais do que suficiente para que ficasse naquele grande e caro apartamento, que possuíam graças aos roubos e seqüestros.
Você sabe que seu marido a teria deixado ficar no apartamento, mas sua ganância foi maior do que a coceirinha que você sentia atrás da orelha. Na verdade, você era viciada na adrenalina dos assaltos, na sensação de poder que o empunhar de uma arma lhe proporcionava, e queria estar lá, junto, tocando o terror naquelas pobres vítimas.
E você pensava ainda que aquele casal de ricaços idosos não tinha nada que guardar tanto dinheiro em casa. Que colocassem num banco, porra! Ou que pagassem pela segurança do dinheiro, não é mesmo? Fosse o que fosse, você queria aquele dinheiro todo pra si porque queria continuar bancando sua vida de luxo e de mordomias mil.
Você se sentia especialmente poderosa na noite em que foram assaltar os velhos. Você, seu filho de sete meses se remexendo animado em seu útero, seu marido com um sexy olhar de assassino carrasco e João, o informante paspalhão que cantou tudo sobre o casal de sovinas ricaços. O informante que vocês já haviam decidido matar após estarem com o dinheiro, afinal, agora você trazia mais uma boca para alimentar e dinheiro nunca é demais.
Vocês quatro estacionaram o carro perto da fazenda, se armaram até os dentes e calmamente seguiram sob o luar até a casa grande onde os velhos viviam sós. Sozinhos e abarrotados de dinheiro e joias, muito dinheiro e muitas joias, coisa de velhos que não confiam nos outros para guardar suas riquezas.
Era muito fácil, não?
Era só entrar na casa, atirar nos velhos e procurar com toda a calma do mundo o local onde guardavam o dinheiro e as joias. Tinha tudo para ser moleza demais, não?
Como adivinhariam que, no momento de render o casal, já dentro da casa, aqueles velhos filhos da puta estariam limpando suas armas? Como adivinhariam que o velho estaria com uma doze nas mãos e a velha, com uma espingarda de caça, como se estivessem esperando os assaltantes?
Você mal assimilou qual era o objeto que o velho carregava nas mãos quando ouviu o estampido do tiro que arrancou a cabeça de seu marido, fazendo com que toda a parede atrás dele se salpicasse de carne moída triturada e esmigalhada.
Você ficou ali, parada, surpresa, vendo seu marido sem cabeça em espasmos, tombando ao chão. E, antes que pensasse em reagir, ouviu o tiro da espingarda de caça que lhe atorou o braço esquerdo fora a fora, deixando-o meio pendurado em seu corpo.
A dor que você sentia era intensa, mas quando você viu João se mandar correndo escuridão adentro, você sacou que, mesmo com seu braço dependurado junto ao corpo, mesmo com seu filho agitado dentro de sua barriga lhe chutando nervoso como quem pede para que faça a coisa certa, você também precisava se mandar dali.
E você se mandou.
Com forças sabe-se lá d’onde conseguidas, você ignorou a dor e correu em direção ao carro, mas já era tarde, agora você o via se afastar já longe, pois João era só “rodas pra que te quero” para salvar apenas seu próprio rabo.
Confusa, sem saber muito bem o que fazer, você correu o máximo que pôde para dentro dos banhados do Pantanal que circundavam a fazenda dos velhos.
E você correu por um bom tempo pântano adentro. Correu e correu muito, até não aguentar mais e desmaiar sobre seu braço dependurado por um mix retorcido de carne e ossos.
Você já não sentia mais seu filho chutando sua barriga, alucinadamente, como se pedisse sua atenção. Você simplesmente não tinha mais forças para aguentar aquela dor toda e só queria desmaiar em paz e que, de agora em diante, fosse o que o diabo tivesse lhe reservado.
Assim, você não percebeu quando aquela velha senhora centenária, completamente enrugada e de lento andar, encontrou seu corpo todo fodido e o arrastou até o casebre construído sobre palafitas num rio qualquer do pantanal.
Você não despertou de seu desmaio enquanto a velha limpou seus ferimentos com um paninho úmido. Também não acordou quando a idosa retirou toda sua roupa e ficou, por um longo tempo, contemplando sua barriga de grávida. Barriga essa que fazia a senhora do pântano abrir um tenro sorriso em seu rosto carcomido pelo tempo.
Você não acordou quando a velha imobilizou com cipós suas pernas e seu braço ainda inteiro. O outro braço, inútil, não foi necessário imobilizar.
Você só acordou quando sentiu o facão empunhado pela velha senhora lhe rasgar a barriga. Aí sim, de um único suspiro, você recobrou a consciência sentindo as mãos da velha entrando em seu útero e arrancando de seu interior quentinho seu inocente filho.
Você tentou se livrar dos cipós, mas a dor lhe impossibilitava de ter as forças necessárias para se desvencilhar das amarras bem apertadas, no estilo indígena do Pantanal.
Urrando de dor, você viu quando a velha se afastou vagarosamente carregando seu filho banhado de seus líquidos gotejantes. Você sentiu o cordão umbilical se esticar até se romper por completo.
Sem forças nem para morrer, você viu quando a velha largou seu filho prematuramente nascido sobre a mesa da simplória cozinha do casebre. Seu filho que se remexia desesperado tentando chorar ou, simplesmente, gritar, sabendo que você o meteu naquela furada.
Você ainda viu a velha começar a preparar o que parecia ser uma refeição. Viu quando ela picou uma cebola inteira, acompanhada de três dentes de alho, salsinha a gosto mais cebolinha verde, para dar o gostinho da felicidade. Você a viu pegar quatro batatas e cortar em rodelas, logo antes de triturar cinco tomates num moedor de carne manual. Pelo jeito, a velha senhora adorava um molho bem grossinho. Manjericão, folhas de louro e um punhado de coentro também foram reservados para o delicioso prato que você via tomar forma diante de seus últimos minutos de vida.
Você ainda pensou, naquele instante, que, se tivesse ficado no conforto de seu grande e caro apartamento, poderia ter proporcionado segurança ao seu pequenino rebento ainda não assado. Mas, “e se” é algo que não existe. O que foi feito é o que foi feito. E ali estavam vocês, tu e teu filho, a mercê de uma cozinheira de tão rebuscado paladar. Você nos últimos suspiros e ele pronto para entrar na panela.
Seus pensamentos voltaram-se ao momento presente, quando você viu a velha senhora colocar banha de porco numa bandeja. Não muito, lógico, somente o suficiente para não deixar as carnes de seu filho grudarem no utensílio doméstico.
Você ficou completamente aterrorizada quando viu seu filho ser colocado na bandeja junto das batatas picadas. Você gritava de pavor enquanto a velha acrescentava os temperos e seu filho chorava indefeso, tomando o cheiro e o gosto de tão deliciosas especiarias.
Você ainda viu quando a senhora abriu a pequena portinha de seu forno de barro já pré-aquecido e enfiou seu filho lá dentro, fazendo com que a choradeira da criança logo se acabasse após alguns gritinhos mais agudos de dor. Ser assado vivo em tão tenra idade não é mole não, mamãe!
Você viu! Você viu! Você viu tudo, querida mamãe!
O silêncio desolador que você sentiu naquele momento lhe amorteceu os sentidos. Embora você soubesse que deveria sentir toda a dor do mundo – e ainda ser merecedora dessa dor – você nada sentiu quando a velha serrou seu crânio com um velho serrote sem fio.
Você apenas morreu em silêncio, aterrorizada, olhando cegamente para o forno de barro onde seu filho agora assava para compor o mais fantástico dos pratos macabros.
Morta, você nada mais sentiu quando a velha retirou de sua casca sem vida seus miolos ainda fresquinhos. Você nada sentiu quando ela passou sua massa cinzenta no moedor de carne e nada viu quando ela misturou aos tomates moídos que seriam cozidos com muito alho, cebola e uma pitadinha de manjericão com coentro.
Seu corpo morto não viu quando a velha senhora retirou seu filho assado do forno de barro e acrescentou o molho de miolos à gordura de porco que borbulhava na bandeja, deixando as carnes de seu filho crocantes, mas, ainda assim, macias.
Você não viu quando o tétrico prato ficou pronto e a velha o salpicou com muita salsinha e cebolinha verde.
Não viu quando ela cheirou o prato alegrando-se com o aroma indescritível de tão rara iguaria.
Você ali, morta, não viu o prazer magnânimo que a velha sentiu em suas papilas gustativas a cada grande naco da carne bem temperada de seu filho assado, que ela devorava com apetite voraz. A velha parecia estar a vida toda sem comer. E talvez até estivesse.
Você não viu a velha comer todo o seu filho, limpando até o último pequeno ossinho nem bem formado e lambendo os dedos engordurados para então, somente então, dar-se por saciada.
Ali, morta, você nem sequer imaginou que seu filho, e seus miolos, fossem ingredientes de um satânico ritual de uma milenar lenda do Pantanal, parte de um banquete de rejuvenescimento da sereia Iara, a bruxa canibal dos rios brasileiros.
Se você tivesse agüentado viva mais alguns minutinhos, teria visto que após o banquete a velha senhora sofreria uma sanguinolenta metamorfose, em que suas flácidas carnes de idosa centenária amoleceriam fazendo que, de seu interior gosmento, uma nova Iara belíssima, com rabo de sereia e tudo, saísse lá de dentro tal como uma borboleta deixa seu casulo, voltando a ser uma encantadora mulher-peixe, que voltaria a nadar nos rios, hipnotizando ribeirinhos e devorando solitários pescadores que se aventuram pelas alucinantes noites do Pantanal.
Conheci o Fabiano Soares quando ministrei uma oficina de vídeo no Rio de Janeiro em 2012, parte da programação da Mostra do Filme Livre. Juntos bolamos o curta Perdigotos da Discórdia, que envolvia necrofilia e outras peripécias cremosas, como sexo pervertido com membros de plástico realistas que acabaram dando problemas com o Banco do Brasil, patrocinador da Mostra naquele ano. Tivemos que explicar um boquete que Gurcius fazia explicitamente no tal pinto de plástico que fazia as vezes do membro pulsante de Pablo Pablo. Logo em seguida ele dirigiu o ótimo curta O Terno do Zé, com integrantes da banda Gangrena Gasosa e o Carlo Mossy no elenco, e, também, foi diretor de segunda unidade do longa Desagradável, do diretor Fernando Rick. Depois dirigiu A Revolta do Boêmio, vídeo clip para a banda Uzômi, com Angelo Arede e Gurcius Gewdner nas personagens principais. Agora em 2018, ano literalmente tenebroso na vida política do Brasil, Fabiano retorna com O Mito do Silva, curta que sintetiza de maneira quase didática – e brutal – o que está rolando no país do Pau Brasil.
Segue uma entrevista com ele sobre O Mito do Silva e suas observações sobre este conturbado momento em que o povo brasileiro se entocou. E, também, link para assistir o primeiro corte de O Mito do Silva e sua filmografia completa:
Petter Baiestorf:O Mito do Silva é um retrato do Brasil atual, como foram as filmagens do curta, da concepção do roteiro até as filmagens? Alguma história curiosa das gravações?
Fabiano Soares: Eu tinha escrito em 2016 um texto sobre o assunto, o “Mito”, utilizando como base um político que tava se destacando pelas merdas que falava, mas que, naquele ano, parecia bastante exagerada a ideia de o cara se candidatar a presidente. Então, partindo desse prenúncio de distopia, eu convidei o cineasta Marcos Lamoreux, daqui do Rio, para me ajudar a transformar em roteiro, acrescentando ou retirando trechos que ele achasse necessários. O Marcos é um amigo, ativista, negro, artista em diversas áreas, e topou. Nessa transformação do texto em roteiro, além das transformações estruturais, recebi algumas aulas dele, desde pequenas mudanças lingüísticas para não ofender sem querer, a origens de palavras como “linchar”, que acabaram dando um conceito mais forte ao filme. Então um cara, o Marcelo Paes, que me deu aula, decidiu entrar como produtor cedendo a câmera e alguns acessórios, além de dar uma ajuda na parte de produção.
Nossa bandeira jamais será vermelha.
Como eu faço um cinema com amigos, alguns velhos amigos se juntaram em suas áreas, e foi assim que o Thor Weglinski veio ajudar na produção e na assistência de direção; o Caio Cesar Loures topou fazer o som direto; o Gabriel P. Almeida fez a arte; e o Ricardo Schmidt, a fotografia. Tudo gente que quem já viu algum filme meu, já conhece de créditos. Chamei a Fany Coelho, uma maquiadora de gore fodona daqui, que abraçou a ideia; e o Marcos Lamoreux foi essencial também para conseguir os figurantes. E teve o Juan, que deu uma ajuda no set quando pôde. Sem essa galera aí, eu estaria fodido, porque fiz mais um filme sem dinheiro, só convidando as pessoas e tentando mostrar o roteiro, pra ver se topavam; e porque a Luciana estava trabalhando na época, o Edgar com 5 meses quando eu comecei esse processo de roteirização, e achei que conseguiria facilmente cuidar dele, decupar o roteiro, ensaiar com atores, ter reuniões de equipe, e finalizar um livro que estou escrevendo, só porque eu estava de férias. Eu mal conseguia cagar sem ficar pensando nas minhas responsabilidades de pai, e tinha só a partir das dez da noite para resolver tudo em relação ao curta. A Luciana, a namorada com quem casei e tive um filho (porque acho brega escrever “esposa” ou “minha mulher”), aliás, não pôde participar tanto desse curta diretamente, mas o fez cuidando do Edgar quando chegava em casa, permitindo que me dedicasse ao curta nesses momentos, e fazendo a comida pra batalhão na diária que teria, segundo minhas contas, 40 pessoas. Ah, e sempre, mesmo torcendo o nariz para algumas ideias minhas, meus pais dão uma força: figuração, transporte, comida. Uma observação: sempre rola uma opção vegana de comida, geralmente uma caponata de berinjela feita pela minha mãe, já que tem uma galera vegana / vegetariana entre esse pessoal que topa participar dessas coisas que eu invento.
O Mito em sala de aula
Para escolher o ator, procurei um ator amador, amigo meu, o Moisés, cuja primeira pergunta que fiz foi: “O que você acha do “político X” (o Brandão do filme)?” Quando ele respondeu, dizendo que não estava entendendo morador de favela apoiando esse cara, decidi que seria ele. O Marcelo foi arrumar o cara pra fazer o político, e a primeira opção dele, um ator com visual meio milico, declinou por um motivo óbvio: ele era eleitor do cara. Segundo o Marcelo, foi a primeira vez que ele achava alguém do círculo de contatos dele demonstrando apoio ao cara, foi quando ele viu que aquela piada ruim poderia ser mais assustadora do que era. Estávamos em junho de 2018. E contei mais uma vez com a participação do ex-galã da Globo, agora doutor em filosofia e ator de produções menos ostentatórias, Marc Franken, um cara gente boníssima!
Cara, filme independente sempre tem perrengue, e esse não foi diferente. O drone, que tinha uma utilização estética para simular celular gravando de um prédio, zicou e ficamos sem. Os 30 figurantes que confirmaram para a cena de agressão ao Silva, só apareceram uns 10, 12; pessoal no Rio é daqueles “Vamos marcar, borá!”, e furam. Aí entraram meus pais, o namorado da Fany, quem estava de bobeira no set virou figurante. E muita gente parava para perguntar o que estava acontecendo, achando ser real o Moisés ensanguentado. Além dos contratempos de chuva, intervenção federal, que atrapalharam bastante o cronograma, teve também as desistências de equipe e figurantes no último segundo, que rolou bastante, mas nada que abalasse o andar da carruagem, só desesperava um pouquinho, até conseguir dar um jeito.
Figurantes
Ah, e de última hora, o Leo Miguel, que fez assistência de direção no dia mais complicado, a externa da agressão, ficou enrolado pra fazer a edição do filme, e aí outro Leo, o Miranda, que editou já muita coisa minha, assumiu o posto. E nisso, uma coincidência que achei doida demais: no primeiro corte, o Leo botou uma música clássica. Eu estava lendo “O Selvagem da Ópera”, do Rubem Fonseca, que fala sobre a vida do Carlos Gomes, e é uma base de roteiro para um filme sobre o maestro e compositor brasileiro, que enfrentou uns casos de racismo na Itália por ser negro e brasileiro. Quando ouvi a música – eu não conheço muito de música clássica, embora ouça muito no trabalho, não é algo que eu grave ou escute em casa –, perguntei “É Carlos Gomes?”, e o Leo me disse que não. Fiquei pensando “Que idiotice, só porque eu tô lendo um livro sobre o cara, tudo o que é música clássica vou achar que é ele…”; aí quando terminamos de ver o corte, a música, que ele tinha pego aleatoriamente no catálogo do Domínio Público, ele viu “Ah, é sim, Antônio Carlos Gomes!”. Achei bizarra a coincidência, e disse ao meu ceticismo: “É um sinal!” Melhor ouvir o universo e ficar com a trilha de Carlos Gomes! Lógico que o fato de não ter ninguém para compor uma trilha sonora em dois dias, de graça, ajuda bastante…
Baiestorf: Achei ele bem ilustrativo para aqueles que se negam em enxergar o que está acontecendo no país. Foi opcional essa narrativa tão didática? Porque?
Fabiano Soares: Pô, eu acho que eu faço sempre um cinema por diversão, é bem quadrado na estética, eu gasto minha piração com o texto. Eu não sou cineasta, né? Eu faço uns filmes, é diferente; é como se eu fosse um cara que faz paródias subversivas de uma novela mexicana, mas não falando de paixões desencontradas, mas de filhadaputice humana. Acho que meus filmes são tudo sobre o pior lado do ser humano, mostrar que deu tudo errado. Mas a didática não tem nada a ver com isso, é só de talvez eu ser um roteirista que quer ver aquela merda numa tela, e como ninguém em sã consciência vai querer fazer isso, acabo fazendo. Aí não tenho aquela intimidade com a linguagem cinematográfica a ponto de saber subverter e dar certo. Aí eu faço o meu feijãozinho com arroz, batata frita e bife, e taco um pouquinho de sangue pra dar um gosto. O foda é que eu gosto muito de uns filmes mais doidos, que brincam mais com a linguagem, mas não consigo fazer. Deve ser medo de entropia, do público comum não pescar sobre o que eu estou falando. Acho que me preocupo muito em explicar didaticamente pro público. Vou tentar pensar mais nesse assunto.
Fabiano e Moisés em O Mito do Silva
Baiestorf: Alguma observação sobre os eleitores do “mito” Brandão? Sobre essa “cegueira” coletiva (ou mau caratismo mesmo)?
Fabiano Soares: Cara, andando na Uruguaiana, um mercado popular no centro do Rio, vi muito camelô vendendo camisas do cara que inspirou o personagem, vendido como o salvador da pátria, e só fiquei pensando: esse cara não entendeu que ele vai se foder com o discurso de ódio. Que ele é visto pela elite como um vagabundo, trambiqueiro, e no que puderem usar de força bruta contra eles, usarão. Será que vale esse lucro? É como se, na atual conjuntura, eu topasse fazer um vídeo para um político evangélico, que eu sei que vai foder com qualquer possibilidade de uso correto da máquina pública, que já é uma merda. Poderia ganhar um dinheiro, adiantar o meu lado, da maneira mais egoísta possível.
E cara, eu tô realmente ficando mal com esse assunto. Você precisa explicar o óbvio, e após toda uma didática infantil, bem explicadinha, na falta de argumentos, os cegos só mandam memes e “fora PT”. Mas eu nem tô falando do PT, ô caralha! E tem muita gente cega mesmo, que não foi criada para pensar, mas para reproduzir discursos, que acaba indo na onda. Mas óbvio que sempre existe aquele mau-caráter, que esperou na moita o momento em que poderia falar abertamente sobre seus preconceitos e incentivá-los, porque agora naturalizou-se isso, passou a ser apenas um ponto de vista, que deve ser respeitado. Porra, intolerância não é aceitável, e não podemos ser tolerantes com intolerantes, sem medo de parecer incoerentes. Essa naturalização do machismo, da homofobia, do racismo, vindo de gente que deveria representar o povo, é assustadora. Fazendo uma analogia idiota, é como a música de um churrasco com gente dos mais diferentes gostos musicais: o cidadão pode chegar e colocar, sem medo ou vergonha, Maiara e Maraísa (e realmente pode, um espaço democrático em geral), outro coloca Molejo, outro entra no Melhor do Axé, e depois de você ouvir isso tudo, você decide colocar um som que você gosta, um Black Sabbath (para citar um exemplo até mainstream): será repreendido, porque naturalizou-se a ideia de que só pode tocar música “que todos vão gostar” – só esquecem que nem todos gostam das outras músicas. A mesma lógica vale para os assuntos cotidianos. A pessoa acha que pode puxar um papo com você falando sobre não gostar de “ver viado andando junto”, sem nem saber seu pensamento sobre isso, porque naturalizou-se o “ninguém gosta de homossexual, até tolera, mas não gosta”. Esquecem que os gays que gostam de andar juntos fazem parte da sociedade. E assim vão tentando excluir cada vez mais o que os incomoda, chamando de minorias, através da supressão da fala, impondo a opinião preconceituosa como se fosse o pensamento comum. E esse discurso vai sendo naturalizado pelo cidadão comum, que nem é mau-caráter, mas reproduz isso. É a favor de morte para bandido, mas esquece do filho que vende droga, do irmão que instala gato de luz, da vez em que subornou um guarda, etc.
Cidadão de Bens
Baiestorf: Você produziu o curta no RJ, que já é uma cidade que vive sob uma ditadura evangélica radical. Você pode falar sobre as transformações da vida cultural carioca nos últimos anos.
Fabiano Soares: Cara, a vida cultural sobrevive em pontos de resistência, centros culturais independentes de verbas do município. Aqui tem muita gente, muito grupo agitando suas correrias, então não tem do que reclamar. Mas do ponto de vista político… Bom, eu estou realmente preocupado com essas eleições presidenciais. Você vem lembrar do pastor que é prefeito do Rio. Bom, eu sou a favor de acabar com essa merda de misturar política e religião. Não dá certo. Você acredita em Deus, foda-se, vai pra porra da igreja e converse com seus amiguinhos, todo mundo com o mesmo amigo imaginário, e sejam felizes! Eu não me importo com a religião das pessoas, desde que não queiram fazer leis que têm como base crenças religiosas. Vou voltar a falar da merda da naturalização: pessoal acha normal falar “vai com Deus”, mas fica abismado se receber de volta um “Satã te ilumine”, “fica com Exu”. Então vai pra puta que o pariu com a sua crença se você não aceita a do outro. E essa contaminação evangélica que tem acontecido não só no Rio, como no Brasil, busca cada vez mais reger a vida de todos tomando como natural os ensinamentos cristãos, “porque a maioria pensa assim”. Eu já estou me preparando para comprar muita briga com professor acéfalo que for passar doutrina religiosa pro meu filho em escola. Uma coisa é ensino religioso, onde você vai falar da diversidade religiosa no mundo; outra é falar que uma religião é a certa, que deve-se seguir isso ou aquilo. E falei porra nenhuma da vida cultural no Rio. Cara, tem vida cultural, deve estar escoando muito dinheiro da prefeitura para igrejas, pecinha de igreja deve estar recebendo milhões, patrocinada pelo pastor do Rio, o prefeito da Universal, Crivella. Mantendo-se longe disso, tem uma galera boa movimentando arte de verdade. Tá, julgamento de valor meu, mas foda-se. Arte que questiona algo.
Fany maquiando em O Mito do Silva
Baiestorf: A personagem principal é um negro seduzido pelo discurso de “bandido bom é bandido morto”, quais suas observações sobre isso?
Fabiano Soares: Algumas pessoas não estão entendendo o que está acontecendo, esqueceram chacinas, apagaram da memória casos recentes de racismo. E é apenas para exemplificar: poderia ser misoginia, homofobia. Pessoas que são naturalmente privilegiadas apoiarem um cara como esse, eu não acho certo, mas é compreensível: não quer largar de ser mimado; o garotinho branco, rico, quer que continuem governando para ele, protegendo-o de qualquer risco que possa correr. Mas uma pessoa que encontra-se em um dos grupos atacados, concordar com ele, é masoquismo. Mas o ódio é apaixonante, né? Eu lembro que eu com 13, 14 anos, achava lindo tudo o que eu estava estudando e pregava violência: Hitler, Mussolini, Robespierre, Mao Tsé-Tung… Eu era um idiota e achava que ser revoltado era fazer apologia à violência, tinha que matar todo mundo. Felizmente me dei conta rápido que não era bem assim, mas possivelmente, em 99, 2000, eu seria um passador de vergonha na internet, compartilhando meme de “mimimi”, cheio das confusões identitárias de raça.
O Mito do Silva
Se você pega um lugar movimentado, pega dois atores, um loiro e um negro, e bota os dois para correr ao mesmo tempo, separados por alguns metros lateralmente, e um terceiro gritando “pega ladrão!”, eu não tenho dúvidas que a maior parte ia olhar e escolher o negro como o ladrão. E isso é uma construção social perversa, que fez, ao longo dos anos, vítimas da escravidão serem vistas como marginais da sociedade após libertadas. Construção social, mais uma vez, desculpa, sou chato mesmo, naturalizada. Então a pessoa vê um menino negro em um sinal (semáforo, farol, faroleiro, chame como quiser aquela merda de três luzes), e fecha a janela do carro, porque tem medo. Tem medo de um menino magro que tenta conseguir um trocado para comer, provavelmente. A mesma irracionalidade leva uma pessoa negra a concordar em dar mais poder à polícia militar, por exemplo, que no Rio de Janeiro metralhou com mais de cem tiros um carro com cinco meninos que tinham saído para dar uma volta. Meninos que não estavam armados, nem atropelaram alguém. Mas eram negros. O filho do Eike Batista atropelou e matou uma pessoa. A polícia não deu tiros no carro dele. Por que? Enfim, ter uma opinião isenta sobre racismo é estar do lado do opressor. O dia em que você perceber que você não é branco, ou que sua sobrinha, seu filho, ou quem quer que seja na sua família ou círculo de amizade, dançou exclusivamente por conta de um julgamento pela cor dele(a), acho que será tarde demais para entender.
Baiestorf: Acho a personagem do professor um tanto apática aos comentários de seus alunos em sala de aula, sem tomar uma posição mais firme, talvez um retrato fiel de como se comportaram os professores nos últimos anos. Como competir com as fakes news? Como os professores podem fazer a diferença numa época em que os alunos “fabricam” suas verdades?
Fabiano Soares: Eu sou um cara do “copo vazio”, sou derrotista mesmo. Desisto fácil, e não culpo a apatia de professores: como lutar quando o mundo está contra você? Como explicar o óbvio e não ficar puto quando for chamado de doutrinador? Se eu fosse professor já teria desistido. Mas façam o que eu digo, não façam o que eu faço. Professores fazem diferença ao sugerir leituras, ao mostrar ao aluno que as ideias dele podem e devem evoluir. Eu lembro de um professor de artes que eu tive, e em um passeio a um museu, tinha um quadro com dois homens se beijando, e ele foi falar do quadro, e eu falei “Que viadagem!” (nessa época aí, de 13 anos, eu quase um nazipardo desses… Por isso digo que adolescentes podem mudar muito, independente das merdas que falem. Mas burro velho eu não tenho paciência). Ele mandou na mesma hora “Viadagem por quê?”, e eu falei provavelmente um “Porque sim!”, esse argumento valiosíssimo nos dias de hoje. E ele mandou eu ver o quadro, meio que me desafiou, e eu me neguei, e ele falando pra eu olhar, e a turma vendo isso… Resolvi olhar. Era um quadro no qual o artista tinha duplicado a fotografia dele e simulava um beijo entre ele e ele mesmo. Aquilo me deu um baque, foi o primeiro, quando eu vi que eu era burro. E que eu não podia falar das coisas sem saber, sem ver do que eu tô falando. Esse professor nem sabe, mas ele provavelmente me ajudou a mudar o pensamento de certeza sobre tudo sem nem precisar ver o outro lado; e é nisso que os professores são essenciais, não em explicar a verdade absoluta, mas a ensinar os alunos a questionarem-se, a botar dúvidas no lugar de certezas. Isso muda vidas. É desanimador, por conta das fake news multiplicadas sem filtro, só com um botãozinho; mas é uma luta essencial pela humanidade. Que botem a pulga atrás da orelha sobre essas notícias de whatsapp nos alunos. Muitos poderão rir, mas vai ter um que vai duvidar de fake news, que vai duvidar de isenção jornalística nos grandes meios de comunicação. E só por esse, já vai ter valido a pena.
Reunião de equipe
Baiestorf: O papel da arte é ser resistência? O que tu acha dos artistas “isentões”, que não estão tomando posição neste momento tão crítico de nossa história?
Fabiano Soares: Porra, pergunta pra textão. Não, o papel da arte não é ser resistência. Mas o papel da arte que eu gosto, sim. Eu acho que a arte eleva seu potencial de ser relevante ao ser resistência, porque junta ao estético o conceito e a ideia de mudança social. Mas não sei se seria o papel da arte, se eu estaria usando muito o meu juízo de valores. No entanto, se não bota o dedo na ferida, se não cutuca, eu deixo para ser fruída por outros, tenho mais o que fazer. Artistas isentões não existem. Não se posiciona, está do lado do mais forte. Ouve falar que tem que bater em homossexual e não diz nada? Está apoiando. Tá vendo, se é artista, faz arte, mas se é isentão, provavelmente eu não me interesso pela arte que ele faz. Ou se me interesso, diminuo o apreço agora…
Fabiano Soares: As pessoas estão cegas, surdas e loucas. Tá aí, né? Depois desse “acordão”, muito facilitado pelo posicionamento dos deputados e senadores, para passar o impeachment, fico realmente espantado com o número de deputados que o partideco do “Brandão” conseguiu eleger. Vários militares. O golpe virá, e o pior é que será pelas vias legais… Espero que seja apenas uma distopia, culpa do meu pessimismo constante. Assim como em 2016 o “Mito” era…
Fabiano Soares dirige O Mito do Silva
Baiestorf: Brasil, país de racistas enrustidos de antes a país de racistas assumidos (violentos) de agora? Para onde vamos?
Fabiano Soares: Ladeira abaixo. Todo o tipo de preconceito e discurso de ódio vindo à tona, e o pessoal achando que é zoação, é só mais um HUEHUEBR. Acho que tem uma galera descrente de eleição que tá votando pensando que é voto de protesto. Mas esse Macaco Tião é perigoso…
Baiestorf: O espaço é seu Fabiano.
Fabiano Soares: O espaço é nosso, e não deve ser cerceado. Independente de sofrer ou não racismo, homofobia, misoginia, tenhamos um pouco de empatia. Ninguém deve ter medo de andar nas ruas por achar que sua cor, seu credo, sua orientação sexual ou seu gênero o coloquem em um estado de risco. O mundo já está uma merda, o ser humano já é escroto por natureza, não precisa ser incitado a isso. Pensem, não tenham certezas, leiam, leiam, leiam. E ouçam. Não dá pra você viver tranqüilo em uma sociedade que elege religioso pra representar o povo. Principalmente esse câncer que é a bancada evangélica, um sintoma de uma sociedade doente que quer ser ovelha a todo momento. Por isso, defendo ser radical contra a mistura de política e religião (principalmente se for uma religião hegemônica, no nosso caso, cristã) assim como contra esse novo fascismo, que não por acaso vem ganhando forças sendo carregado em uma cama de “Deus acima de todos”. Eu tenho um filho para experimentar muita coisa na vida, e não pode ser calado por um governo que flerta abertamente com a ditadura, apoia torturador. Pensem nas crianças que vocês dizem gostar tanto. Tá ficando meio Zé do Caixão, né?
E se tudo der certo, “O Mito do Silva” será um episódio de um longa-metragem. Isso se eu não desanimar e desistir, porque vou te falar, tá foda… E sem isenção, dia 28 agora é 13 contra o fascismo! E ser humano deveria vir antes de ser anti-PT, portanto, não há desculpa.
Fany trabalhando
Filmografia Completa de Fabiano Soares:
2008 – O Dia do Folclore; 2009 – Acertos Errados; 2009 – Boneco de Pano; 2011 – SolidariedAIDS (co-direção); 2012 – O Terno do Zé; 2012 – Thrash Star; 2012 – Perdigotos da Discórdia (Co-direção); 2013 – Desagradável (diretor de 2ª Unidade); 2014 – Churrasco Misto (animação, co-direção); 2014 – Eu Aceito; 2015 – Primeiro Ato (co-direção); 2015 – Eleven Years (Videoclipe); 2015 – Olho Maldito (animação); 2015 – Par ou Ímpar (co-direção); 2015 – Vegetal (co-direção); 2016 – A Revolta do Boêmio (Videoclipe); 2016 – Paterno; 2016 – Sacrifício; 2018 – O Mito do Silva.
Assista aqui, também, estes outros trabalhos do diretor:
O cinema fantástico nacional está na moda e está ganhando visibilidade em inúmeras mostras de cinema que não tem tradição na exibição de produções neste gênero. Em 2014 já havia ganho a “Mostra Bendita” na Mostra de Cinema de Tiradentes com a exibição do longa “As Fábulas Negras” de José Mojica Marins, Rodrigo Aragão, Joel Caetano e Petter Baiestorf e a produção “Noite” de Paula Gaitán. Leia a história do Cinema Fantástico Brasileiro aqui no Canibuk.
Agora é a vez do Festival de Cinema de Vitória incluir em sua programação uma pequena mostra, intitulada “Viradão Novo Cinema de Horror“, na sua programação, atestando que finalmente os grandes festivais de cinema estão percebendo que o Cinema Fantástico brasileiro tem um grande apelo junto ao público.
No dia 19 de novembro, um sábado, com início à 01 hora da madrugada no Teatro Carlos Gomes, com previsão de acabar somente às 07 da manhã do mesmo sábado, o viradão promete uma divertida noitada aos cinéfilos que se aventurarem pelos domínios do gênero fantástico brasileiro. Acompanhe as novidades do Festival pelo site oficial: http://festivaldevitoria.com.br/23fv/
Os seguintes filmes estão programados no Viradão:
“13 Histórias Estranhas” (Ficção, 90′, SC, 2015), de Fernando Mantelli, Ricardo Ghiorzi, Cláudia Borba, Petter Baiestorf, Marcio Toson, Cesar Coffin Souza, Rafael Duarte, Taísa Ennes Marques, Gustavo Fogaça, Renato Souza, Leo Dias de los Muertos, Paulo Biscaia Filho, Felipe M. Guerra, Filipe Ferreira, Cristian Verardi. Filme coletânea. São 13 histórias curtas, onde o numeral é a base do roteiro.
“A Casa de Cecília” (Ficção, 102′, RJ, 2015), de Clarissa Alpett. Cecília tem 14 anos e está sozinha em casa há duas semanas. Após dias intercalados de solidão e euforia, Lorena, uma adolescente misteriosa, surge em sua casa. Apesar da nova companhia, a casa parece ficar cada vez mais vazia e os eventos, cada vez mais peculiares.
“Encontro Às Cegas” (Ficção, 10′, RJ, 2016), de Isabela Costa. Quando um vampiro cego, em pleno 2016, atrai suas vítimas por meio de aplicativos de celular, uma surpreendente chegada muda o rumo da noite.
“O Diabo Mora Aqui” (Ficção, 80′, SP, 2015), de Dante Vescio e Rodrigo Gasparini. Jovens numa casa assombrada.
“O Duplo” (Ficção, 25′, SP, 2012), de Juliana Rojas. Silvia é uma jovem professora em uma escola de ensino fundamental. Certo dia, sua aula é interrompida quando um dos alunos vê um duplo da professora andando no outro lado da rua. Silvia tenta ignorar a aparição, mas este evento perturbador passa a impregnar seu cotidiano e alterar sua personalidade.
“O Segredo da Família Urso” (Ficção, 20′ SC, 2014), de Cíntia Domitt Bittar. 1970, ditadura militar brasileira. Geórgia, uma menina de 8 anos, é proibida de entrar no porão de sua casa, onde costumava brincar. Longe dos olhos dos pais e da velha babá, Geórgia encontra a porta destrancada: há alguém lá dentro.
Quem estiver em Vitória/ES nesta data, fica aqui a dica para aproveitar o viradão. O fantástico brasileiro é o gênero cinematográfico nacional que mais tem conseguido, por conta própria, espaço em importantes festivais pelo mundo. “Zombio 2” (Petter Baiestorf), “Mar Negro” (Rodrigo Aragão), “Cabrito” (Luciano de Azevedo), “Encosto” (Joel Caetano), “Bom Dia, Carlos!” (Gurcius Gewdner), “FantastiCozzi” (Felipe M. Guerra), “Nervo Craniano Zero” (Paulo Biscaia) são apenas alguns dos filmes brasileiros que tem sido exibidos em vários festivais importantes do gênero fantástico por todas as partes do mundo. E é muito bom ver o gênero sendo reconhecido, também, em festivais de cinema brasileiro.
Bom Viradão à todos e obrigado por prestigiarem o cinema fantástico nacional!
Assista o documentário que o Canal Brasil produziu sobre o cinema fantástico brasileiro:
Mirindas Asesinas (1991, 11 min.) de Alex de la Iglesia.
Em seu curta de estreia Alex de la Iglesia já exercita seu peculiar senso de humor doentio. Aqui um psicótico (Álex Angulo, sempre genial) não consegue entender porque estão cobrando por uma Mirinda (um refrigerante de laranja que também era produzido no Brasil até o início dos anos 90) e mata o bodegueiro, obrigando um cliente do bar a substituí-lo.
É interessante perceber vários elementos que depois acompanharam a carreira de Alex de la Iglesia, como a construção do absurdo das situações que geralmente tem conclusões hilárias. Já neste seu curta de estreia vemos atores e técnicos que lhe acompanharam nos filmes seguintes, como Álex Angulo (1953-2014) que esteve presente nos longas “Accion Mutante” (1993), “El Dia de la Bestia” (1995) e “Muertos de Risa” (1999); Ramón Barea presente em “Accion Mutante” e “800 Balas” (2002) e o c0-roteirista Jorge Guerricaechevarría que também escreveu para Iglesia praticamente todos seus, sempre ótimos, roteiros. A Parceria Iglesia-Guerricaechevarría é uma das mais felizes e criativas do cinema atual. Aliás, já está em pós-produção “El Bar”, com lançamento previsto para 2017, a nova comédia doente da dupla.
Em “Mirindas Asesinas”, a título de curiosidade, Alex de la Iglesia também é o diretor de arte, repetindo a função que ele havia desempenhado de modo brilhante no curta “Mama” (1988) de Pablo Berger, diretor do excepcional longa “Torremolinos 73” (2003), lançado no Brasil com o ridículo título de “Da Cama para a Fama”.
“Aftermath” (1994, 30 min.) de Nacho Cerdà. Com: Pep Tosar.
Apesar dos poucos trabalhos realizados por Nacho Cerdà, “Aftermath” não é fruto da casualidade, muito pelo contrário, está intimamente ligada ao primeiro curta-metragem filmado por este catalão de 25 anos, “The Awakening” (que participou da vigéssima quarta edição do Festival de Sitges, em 1991), filmado durante um curso de cinema organizado pela universidade do Sul da Califórnia, em 1990. Após finalizar “Aftermath”, Nacho Cerdà declarou: “Minha intenção era filmar a morte da alma com um tratamento aséptico, distanciado; “Aftermath” é como a segunda parte, mostrando a morte do ponto de vista do corpo, da carne!”.
Depois de rodar outro curta-metragem em parceria com Walt Morton (“Casebreakers”, comédia de humor negro que foi lançada durante o Festival de Valencia), a idéia de morte seguia presente em todos os projetos. Um de seus roteiros, “Inmolación”, começou a tomar forma e Cerdà iniciou a pré-produção para filmá-lo em co-produção com a universidade da Califórnia. Após sucessivas mexidas no roteiro, “Inmolación” acabou se tornando um média-metragem de 40 minutos, mas como o orçamento inicial não era suficiente para produzi-lo, acabaram abortando o projeto. Frustrado, Nacho Cerdà começou a trabalhar num novo curta sobre a morte, com orçamento mais modesto, porém intenções igualmente ambiciosas. Assim, em fevereiro de 1994, nasce “Aftermath”, onde predominava sua fixação por morte, médicos e autópsias.
Antes de escrever o roteiro, Nacho Cerdà realizou uma entrevista com um médico legista sobre o tenebroso mundo dos tórax abertos e se ofereceu para assistir uma dissecação no Instituto Anatômico Forense do Hospital Clínico. Acabou presenciando três autópsias consecutivas, encontrando o que seria a linha de seu roteiro, feito de detalhes sórdidos e reais como as toalhas introduzidas nos crânios dos cadáveres para absorver o sangue ou os orgãos metidos de forma desordenada nas bacias. Cerdà reciclou toda essa informação e pôs-se a escrever o roteiro definitivo. O material estava pronto para ser filmado.
Nacho Cerdà fala:
Sobre o título:“Aftermath é uma expressão que significa algo como “o que há depois de…”, e creio que era o título perfeito para o que me interessava contar: O estado do corpo depois da morte, sua desolação e o nada!”.
Sobre a cor:“É um filme que fala da morte física e, portanto, da degradação da carne. Por isso sua cor precisava ter uma textura física, que se aproxima-se da cor do sangue, da pele morta.”.
Sobre o formato:“Rodei “The Awakening” em 16mm, porém isso não quer dizer que todos meus curtas precisam ter esse formato. Apesar de ser uma produção independente, eu queria ir além do que já havia feito. E 35mm parecia ser mais adequado às necessidades da história!”.
Sobre o silêncio:“Creio que um filme deve ter o poder de explicar-se com a presença da imagem e dos efeitos sonoros. As palavras não são necessárias, ainda mais quando se trata de uma história narrada do ponto de vista dos mortos. E eles vivem num mundo morbidamente silencioso!”.
Sobre a iluminação:“Idealizamos a iluminação levando-se em conta a enfermidade dos protagonistas. A medida que avança a história, fomos deixando a luz mais tenebrosa, mais metálica, mais triste. É como uma volta ao estado primitivo do ser humano: A escuridão!”.
Sobre a montagem:“Era importante que a montagem do filme desse as informações aos poucos, gota à gota, para provocar a sensação de que tudo passa sem pressa. Por isso há longos planos e na segunda parte da históriaadquire um ritmo de cerimônia. A montagem também ajuda à deixar o espectador perturbado!”.
Sobre a interpretação: “Pep Tosar, o ator, queria uma interpretação puramente mecânica. De algum modo desejava converter os mortos em personagens vivos e os vivos em personagens mortos!”.
Sobre o espectador:“Com os movimentos de câmera eu quis introduzir o espectador na história, como se fosse um terceiro personagem. Transformar o espectador num voyeur necrófilo!”.
Pré-Produção
Devido ao baixo orçamento de “Aftermath”, houve o máximo de aproveitamento dos elementos disponíveis. Por vezes os elementos mais próximos (e mais baratos) são os ideais para a realização de um filme, como foi o caso desta produção. Estava claro que para uma maior credibilidade à história, era necessário um cenário real. Um cenário com as sombras da morte real, como o instituto Anatômico de Barcelona, que possue a sala de autópsias mais completa da Espanha. Depois de conseguir a sala de autópsia, Cerdà realizou os story-boards onde 125 páginas ilustram plano à plano como seria filmado a película. Por sua temática os detalhes deveriam ser extremamente realistas, e para isso os efeitos especiais deveriam ser perfeitos. A empresa DDT, dirigida por David Alcalde e David Marti, contava com um currículo extenso e brilhante no mundo da publicidade e curta-metragens. Atraídos pelas possibilidades do roteiro no que se referia aos efeitos, acreditaram no trabalho, descartando já de cara a possibilidade de aplicar próteses em atores vivos, pois a iluminação e os ângulos de câmera idealizados pelo diretor revelariam o truque. Os técnicos da DDT resolveram construir cadáveres humanos inteiros, usando skin-flex, que com sua textura e cor parecida com a carne humana, já superou o velho látex.
A equipe da DDT tinha pela frente um interessante desafio: construir um cadáver inteiro com um material que só haviam trabalhado em pequenas doses. O skin-flex é um produto fabricado nos USA pela indústria Burman, que já trabalhou em filmes como “Body Snatchers” de Abel Ferrara. Primeiro os técnicos utilizaram modelos reais, que se apresentaram como voluntários à passar umas cinco horas deitados, até ter-se pronto os moldes dos cadáveres, um homem e uma mulher, co-protagonistas do filme. O processo durou aproximadamente um mês.
A busca pelo ator ideal para o papel do legista também foi díficil, até que David Alcalde, da DDT, sugeriu a Cerdà o nome de Pep Tosar, que estava trabalhando num pequeno teatro de Barcelona e meses atrás tinha atuado num curta com efeitos da DDT. Cerdà gostou da força da interpretação de Pep Tosar e o contactou para ser o legista.
Pela falta de diálogos era preciso de uma música densa para o filme. Quase que por acaso Cerdà escolheu “Requiem de Mozart”, ao ouvi-la na casa de Javier Sánchez, um dos produtores executivos do curta.
Apesar de ter sido rodado integralmente em Barcelona, há técnicos de vários países, como por exemplo Christopher Baffa (diretor de fotografia) e Raul Almazan (montador), que eram norte americanos. Baffa constantemente trabalha em produções independentes e já foi diretor de fotografia de segunda unidade de “God’s Army” e “Carnossauro 2” e Almanzan já havia montado “Casebreakers”, curta anterior de Cerdà.
A Filmagem
As filmagens iniciaram no dia 28 de maio (de 1994) e se estenderam até 04 de junho. No primeiro dia foi filmado o epílogo do filme, que acontece na casa do protagonista. No dia 29 de maio iniciou-se as filmagens no Instituto Anatômico. O horário de trabalho da equipe devia adaptar-se as exigências do centro e seus horários. Somente após a última autopsia do dia que a equipe estava autorizada a iniciar seus trabalhos madrugada a dentro, com umas dez horas diárias de muito trabalho.
Curiosidades das Filmagens
– O ambiente das filmagens foi sempre muito cordial, contando-se o cenário mórbido que se fazia presente à todo instante. Logo os membros da equpe estavam acostumados com o cotidiano funesto do local de trabalho.
– Num dos dias de filmagem chegou um cadáver já morto a meses, totalmente decomposto. O fedor era tão intenso que parte da equipe teve que deixar de trabalhar.
– As filmagens aconteceram em tri-língüe: Cerdà dirigia-se aos seus colaboradores em catalão, castelhano e inglês. A salada de idiomas não causou problemas de maior importância.
– O Cachorro que aparece no epílogo do filme esteve o dia todo sem comer para devorar a carne como um animal esfomeado. Na quarta tomada seu apetite já estava saciado e essa foi a tomada que saiu melhor.
– No primeiro dia a equipe trabalhou 18 horas seguidas.
– Na pós-produção, Cerdà utilizou-se de efeitos digitais. Em alguma seqüências que teriam problemas de continuidade, uma máquina chamada “Harry” fez milagres: entre vazios e tomadas com muito sangue, os técnicos conseguiram um balanço onde a continuidade lógica prevalecia.
A Montagem
Dia 15 de junho Raul Almazan, com a constante supervisão de Cerdà, começou a montar “Aftermath”. Antes de mais nada, montaram um trailer promocional de 3 minutos para deixar o filme conhecido pelos mais diferentes festivais de cinema. Logo depois dedicaram-se ao curta. Das duas horas e pouco de material, começaram a selecionar o que faria parte do curta, que deveria ter meia hora de duração. Em quatro semanas tinham nas mãos um filme de 38 minutos, mas segundo as próprias palavras do diretor: “Naquela primeira versão a montagem estava péssima, com algumas coisas que ocorriam depressa demais e outras demasiadamente lentas!”. Voltaram à trabalhar na montagem até chegar na versão definitiva de 30 minutos.
por Ricardo Spencer, originalmente publicado no fanzine “Arghhh” número 21 (editado por Petter Baiestorf em junho de 1997).
Resolvi resgatar hoje a HQ “Samurai”, roteirizada e desenhada pelo mestre Júlio Y. Shimamoto (leia entrevista que fiz com ele clicando em “Shimamoto“), que foi publicada em 1999 através de um álbum chamado “Sombras” (da editora Opera Graphics). Se você estiver em algum sebo e achar essa revista, pegue-a na mesma hora porque é ótima! Vale a pena lembrar aos fãs de Shimamoto que o Márcio Júnior realizou o ótimo curta-metragem “O Ogro” que transforma em desenho animado os traços macabros de Shimamoto. Além de digitalizar a HQ “Samurai”, resolvi scannear também o prefácio escrito pelo desenhista Laudo Ferreira Jr. e o texto “A Arte de Júlio Shimamoto” de autoria do desenhista Mozart Couto. Para ler a HQ e os textos digitalizados é só clicar em cima de cada página e elas se abrirão em tamanho grande.
“Talvez Amanhã” (2012, 10 min.) de Robson Clério. Com: Dul Victor, Isabela Pàáschoa e Miguel Lieira. Fotografia: Robson Clério e Carlos Tavares. Música: Alberto Cohon. Edição: Robson Clério. Produção: Carlos Tavares e Robson Clério.
Dois irmãos pegam carona com estranho numa estrada deserta e vão atrás de seu padrasto em sua última morada. Este é o ponto de partida de “Talvez Amanhã” de Robson Clério, curta de baixo orçamento com vários momentos carregados de clima mórbido que fazem o espectador sempre esperar pelo momento de maldade que pode, ou não, surgir na seqüência. Filmado com quase nenhuma grana, o curta tem um roteiro bem simples (jovens cineastas, este é o segredo para conseguir realizar seus primeiros filmes) que explora situações cotidianas com um trabalho de câmera/edição contemplativo. Em um mundo como o de hoje, onde todos sofrem de ansiedade, este ritmo contemplativo causa desconforto e agônia. Você fica querendo que algo maldoso aconteça e aconteça já.
O diretor Robson Clério nasceu em Valinhos/SP, com 15 anos foi trabalhar num escritório de contabilidade e viu que não levava jeito prá essa vida de empregado. Por um bom tempo trabalhou como designer gráfico, até que em 2006 realizou o curta “Estradas Brancas” com câmeras e microfones emprestados. No início de 2010 abriu a Arttería Filmes para a produção de seus próprios roteiros e organizou também a primeira edição do Ciclo de Cinema Fantástico de Campinas no MIS Capinas.
Produtores independentes que queiram seus filmes exibidos no Ciclo de Cinema fantástico de Campinas, escrevam para Robson: artteriafilmes@artteriafilmes.com.br
Veja o curta “Talvez Amanhã” e leia uma rápida entrevista que realizei com Robson Clério.
Petter Baiestorf: Conte-nos o que te levou a abrir a Artteria Filmes e qual a
proposta da produtora? Robson Clério: A Arttería Filmes faz parte do projeto de ter autonomia para fazer meus filmes, depois da experiência de ficar dependendo de outro para gravar e editar quando pode logo no primeiro curta, decidi não passar mais pela mesma experiência, comprei uma câmera, aprendi editar e abri uma produtora. A Arttería Filmes é uma produtora muito nova, abri em janeiro de 2010. De 2001 a 2004 era um estúdio de designer gráfico, ficou inativa por um tempo, não soube administrar então fui trabalhar para os outros até onde consegui agüentar. Precisava fazer meus filmes então reabri como Arttería Filmes para acessar Editais. “Arttería” vem do conceito de local de fazer arte, “Confeitaría” faz confeitos, “Sapataría”, sapatos e Arttería para arte. A proposta é fazer um cinema autoral de ficção e documentário com a mesma intensidade. Produzir filmes de outros diretores não esta fora do projeto, mas a prioridade são os meus filmes. Baiestorf: Você também organiza o Ciclo de Cinema Fantástico de Campinas, conte como funciona, que filmes já foram exibidos e como os diretores brasileiros podem ter seus filmes exibidos na mostra: Clério: O Ciclo de Cinema Fantástico teve duração de 4 dias, no primeiro fim de semana dos meses de março e abril de 2012. Foram exibidos 1 longa metragem e 19 curtas, teve participação de diversos estados brasileiros, incluindo de um brasileiro que vive no Canadá, o Dimitri Kozma. Este foi o primeiro Ciclo de Exibição que organizei no MIS CAMPINAS – MUSEU DA IMAGEM E DO SOM, foi uma experiência intensa, esperar o publico para assistir os filmes e ficar olhando a reação é como esperar reações sobre um filme meu, senti insegurança, ansiedade como numa estréia. A idéia veio depois de participar de uma oficina sobre Cinema Independente com a organizadora do Cine Fantasy, fiquei impressionado com a qualidade e a quantidade de filmes de boa qualidade e baixo orçamento. A seleção para montar o Ciclo teve inicio enviando e-mails para a organizadora do “Cine Fantasy”, que passou e-mails de alguns Cineastas que faziam Cinema Fantástico, entre eles estavam Joel Caetano e Liz Vamp Marins que foram indicando outros diretores, alguns encontrei no Youtube como o Rodrigo Brandão, encontrei “A MALETA” , os filmes foram chegando, queria fazer um evento de maior proporção, exibir os filmes num paredão externo (num jardim de inverno gigante que tem no interior do MIS CAMPINAS), o Rodrigo Brandão chegou a sugerir de colocar monstros gigantes no jardim, achei ótimo, falei com a Secretaria de Cultura de Campinas e sugeriram que eu entrasse no Ficc – Edital “Fundo de Investimento a Cultura de Campinas”. Como tive que parar o projeto para tocar produções da Arttería Filmes que gerariam receita para continuar em pé, o “Ciclo de Cinema Fantástico” ficou parado, alguns diretores já estavam me perguntando se aconteceria mesmo e decidi fazer um ciclo de exibições mesmo. Qualquer cineasta brasileiro de Cinema Fantástico, que tem uma característica muito bem definida que “ironicamente é a não definição entre o real e o fantástico” acontecendo no roteiro. Exibimos filmes do diretor Rubens Melo, Joel Caetano, Petter Baiestorf (este que me entrevista agora), Joel Caetano, Rodrigo Aragão, Rodrigo Brandão, Geisla Fernandes, Dimitri Kozma, Liz Marins que são apenas alguns dos cineastas fazendo cinema independente no Brasil. Procurei selecionar filmes que estão bem dentro do contexto do Cinema Fantástico. É um ciclo e exibição, não uma Mostra ou Festival, as sessões são gratuitas. A situação de poder mostrar cineastas que a maioria do publico não conhecia e ver que ficaram impressionados com o trabalho deles não tem preço, sou deste grupo estou no mesmo barco e a necessidade de exibir é e mesma, é um Cinema Fantástico! Para exibir um filme no MIS CAMPINAS, fora do Ciclo de Cinema Fantástico só é preciso entrar em contato com o Sr. Orestes Augusto que uma data será agendada para a exibição. Baiestorf: Fale um pouco sobre teus curtas anteriores. Clério: Houve um momento que precisava fazer um filme de curta metragem, dar um “start” no processo de fazer cinema, de qualquer jeito então escrevi um roteiro e mostrei para um cara que tinha uma produtora com pouco tempo de mercado, ele estava querendo ganhar experiência como cinegrafista e topou gravar e editar e então fiz o “ESTRADAS BRANCAS” – http://www.youtube.com/watch?v=XOnQdUehFuA – foi a primeira experiência dirigindo atores, cinegrafista, edição e então senti toda a ansiedade de ficar dependendo dos outros para gravar e editar quando pode o seu filme. Depois juntei grana para comprar uma câmera e aprendi a editar para ter mais autonomia, gravei e editei alguns curtas para o festival do minuto e o curta “TRANSITÓRIOS” – http://www.youtube.com/watch?v=a2lQCMj6EPA&feature=relmfu – para um concurso com prêmio em dinheiro realizado por uma empresa de transporte coletivo aqui de Campinas, perdi o prazo de inscrição e inscrevi na MOSTRA CURTA AUDIOVISUAL CAMPINAS organizada no Mis Campinas e fui selecionado para exibição, este curta já gravei com uma câmera Sony/Mini DV editei na versão Premiere 6.5. Então passei a gravar e editar o tempo todo para movimentar o audiovisual e ganhar experiência, com esta mesma câmera gravei um documentário sobre uma artista plástica que expõe na Feira de Artesanato mais tradicional de Campinas, o “VERA COR” –http://www.youtube.com/watch?v=4uV-o63UX9s&feature=relmfu – que foi gravado com 3 câmeras Hand Cam diferentes, não ao mesmo tempo, acontece que uma quebrou, outra foi roubada, então fui trocando de câmera mas continuei gravando, editei umas três vezes e ainda não exibi em nenhuma mostra ou festival. Escrevi outro roteiro de curta metragem “TUNEL” que inscrevi no edital de Paulínia e ainda não gravei e o roteiro de um longa que ainda esta em andamento. Baiestorf: Como surgiu a idéia para rodar o curta “Talvez Amanhã”? Clério: “Talvez Amanhã” é um curta feito para participar do Ciclo de Cinema Fantástico, depois de alguma insistência do próprio Orestes de que seria muito interessante que eu colocasse um filme na programação, passei alguns dias pensando num roteiro e quando consegui montar uma história na cabeça coloquei o nome do curta no cartaz com tempo de 5:00 minutos (acabou ficando com 10:47 minutos.) de duração já que não havia tempo para fazer um filme muito longo, tinha cerca de 40 dias até a data da exibição. Não é um filme que fui elaborando durante meses, que eu realmente planejei fazer, é um filme de exercício de produção e resolvemos tratá-lo com carinho apesar de ser um “filme de encomenda” como comentou o Orestes durante o debate. Então falei como Carlos Tavares, que estava a fim de se envolver em algum projeto, e contei a idéia do filme a ele que imediatamente começou a fazer anotações e disse: – Mas preciso do roteiro e respondi: Esta bem vou escrever amanhã. Com a idéia já formada na minha cabeça, em dois dias escrevi o roteiro do curta. Decidimos fazer um “casting” apesar do prazo curto, O padrasto seria um ator que já havia gravado comigo em um comercial de conclusão de curso de uma turma do IPEP, mas quando falei do “casting” ele amarelou, então lembrei de um ator de teatro que tinha as características do personagem, não avisamos que seria o único a fazer o teste, ele veio e arrebentou na apresentação do personagem. Ficamos muito satisfeitos e seguros que teríamos uma boa atuação dele. Os jovens também vieram para o teste e percebi que teria que dirigir muito para chegar no resultado das cenas, nas gravações do cemitério passamos o texto por duas horas até gravar e chegamos a um resultado razoável para o tempo que tivemos para acertar as cenas. “Talvez Amanhã” é um filme feito em muito pouco tempo, detalhes que poderiam ser melhorados serão feitos agora antes de inscrevê-lo nas mostras e festivais. A trilha ficou pronta 3 dias antes da exibição , fomos para a casa do musico Alberto Cohon na quinta feira a noite para ouvir as musicas e fazer ajustes. Sábado a tarde o filme estava sendo exibido. Conseguimos o clima do cinema fantástico no curta “Talvez Amanhã”, um filme feito para entrar no Ciclo de Cinema Fantástico do MIS-Campinas. Baiestorf: Qual foi o custo da produção? Conte-nos curiosidades sobre as filmagens. Clério: O custo da produção não sei dizer exatamente, as anotações ficaram com o Carlos Tavares, mas foram gastos com gasolina, um óculos espelhado para o motorista que da carona, algumas garrafas de água mineral, um maço de cigarros e os ingredientes para fazer o macarrão que o padrasto come enquanto fuma e bebe em frente da TV. O Dul Victor que fez o padrasto não fuma a mais de 20 anos e teve que acender e fumar vários cigarros, no debate disse que passou alguns dias com o gosto do cigarro na boca e não foi esse o único pepino para o ator descascar, teve que comer muito macarrão ( feito por mim) até que eu conseguisse gravar as três tomadas diferentes da mesma cena. Logo na primeira cena ele parou e disse: – Tem como colar um salzinho? Muita coisa pra pensar e esqueci o sal! Um ator sério, já teve uma companhia de teatro em Campinas e é capaz de fazer papéis mais complexos. Dificuldades não faltaram para um curta com o prazo final apertado. O motorista do utilitário que faz o cara que dá carona aos adolescentes, foi com um boné que não estava nos meus planos e foi recusando-se a tira-lo de Campinas a Joaquim Egídio, onde gravaríamos a cena da estrada, chegando lá o garoto levou uma touca para caracteriza um visual Emo, preferi ele sem touca, entreguei a touca para o produtor Carlos Tavares e disse para levar a touca para o Alfeu (motorista) e disse: Se ele usar a touca eu topo, senão quem vai fazer o motorista é você. O Alfeu colocou a touca e fico ótimo. Toda a sala onde o padrasto fica comendo e bebendo é a sala da casa onde moro e foi totalmente montada com aqueles objetos, com aquelas caixas cheias de garrafas de cachaça vazias que fomos buscar no Mercadinho ali do bairro. O Carlos Tavares queria colocar um ventilador bem debilitado na cena mas estava com uma cor azul muito aguçada nas hélices e ficaria fora do tom marrom da cena e acabei tirando. O telefone preto, uma peça de arte que esta sobre o sofá e os cinzeiros foram emprestados pelo Luiz Humberto, ator de teatro e produtor que mora em uma casa tomada por objetos antigos e peças que ele mesmo faz. A poltrona e o sofá vermelho foram encontrados na rua em dias e locais diferentes. Gravamos a cena do padrasto com duas câmeras CANNON EOS REBEL T2I, na cena do cemitério não conseguimos a segunda câmera e gravamos com uma repetindo a cena e gravando de ângulo diferente. Baiestorf: Como será a distribuição do curta? Você acha que seria interessante vários produtores independentes realizarem coletâneas de curtas com seus filmes num mesmo DVD? Clério: Não consigo ver uma saída para distribuição de curta metragem sem essa proposta de vários diretores num mesmo DVD proporcionando assim uma divulgação do trabalho de cada um. A mostras e festivais vão “distribuir” o filme, de certo modo o mesmo acontece com as visualizações na internet. Tive a idéia montar um DVD com os filmes e os debates do Ciclo de cinema Fantástico do MIS CAMPINAS para registrar o evento e disponibilizá-lo no acervo do MIS, talvez na loja virtual do site da Arttería Filmes mas isso já envolve uma serie de cuidados e ainda não como farei. O que farei com certeza será um DVD contendo todos os debates e disponibilizar no acervo do MIS CAMPINAS. Baiestorf: Como formar um público consumidor de curtas? Clério: Já vi um site que dizia fazer distribuição de curtas mas não acompanhei para saber se funcionou. Os festivais que disponibilizam os curtas nos sites para serem revistos estão distribuído, mas a melhor forma que vejo é a idéia do DVD com vários curtas do mesmo segmento e estive pensando em fazer isso com o Cinema Fantástico. O curta está caracterizado como exposição do trabalho de um cineasta, mas é muito mais que isto. Como dissee o Orestes num debate, num curta você não tem tempo para ganhar o publico por pontos como num longa, tem que ser por nocaute. Não é simples fazer um curta! Este ciclo tem material para um DVD de curtas de ótima qualidade e vou pensar nessa possibilidade. Um DVD com curtas de vários diretores reunidos é muito bom pela diversidade cinematográfica e deve ser mais explorado. Baiestorf: “Talvez Amanhã” é um bom filme, com atores esforçados e produção bem aproveitada. A Artteria Filmes tem essa preocupação de formar um núcleo de colaboradores em Campinas? Clério: Campinas é uma cidade com grupos de teatro antigos e tradicionais de onde o cinema se abastece de atores, precisamos de mais que isto. No MIS-CAMPINAS existe um grupo que freqüenta, assiste e debate os filmes, no “Talvez Amanhã” temos o Luiz Humberto que cedeu peças de cena, Carlos Tavares que agarrou a produção, Alfeu que fez o motorista, Alberto Cohon que fez a trilha, os meninos são do Teatro de Sumaré e eu que freqüentam o MIS-CAMPINAS e que formou um grupo espontâneo de colaboradores. Desde o inicio eu e o Carlos Tavares falamos de montar uma cooperativa de produção onde haveria participantes se ajudando em produções com pessoas e equipamentos, acreditamos que isso ocorra quase que espontaneamente. Sem duvida a idéia de um Núcleo de Colaboradores é genial e quero trabalhar nisso. Baiestorf: Quais suas influências básicas na hora de produzir um filme? Clério: Quando meus pais separaram-se fui morar na casa da minha avó materna. Ela tinha uma TV preto e branco. Via sessão da tarde deitado quase dabaixo da TV no chão de taco e levava bronca da Vó Dozolina, a noite assistia “Sessão Bang Bang”. Se sofro alguma influência na hora de produzir os filmes isso ocorre inconscientemente. Minha inspiração vem da criatividade e da ousadia de diretores autorais que foram fazer cinema apesar de todas as dificuldades. Quando estou produzindo um filme as dificuldades são apenas mais um desafio, é empolgante pensar em uma solução criativa para resolver o posicionamento de uma câmera ou como vamos gravar em determinada locação. Detesto trabalhar com pessoas que ficam fazendo uma lista dos problemas que poderia dar se fizéssemos isso ou aquilo. Glauber Rocha não mediu esforços para gravar e exibir em uma época difícil de fazer cinema e no entanto fazia. Isso me inspira muito! Cinematográfico sou influenciado por vários cineastas, sou eclético para filmes, gosto desde a câmera do Antonioni que passeia por uma cena, quanto a câmera nervosa do Fernando Meireles, gosto da seqüência atemporal do Tarantino e de uma linearidade as vezes no roteiro. Devo admitir que estou num processo de formação cinematográfica quanto ao modo de produzir meus filmes, o primeiro curta “Estradas Brancas” e o “TRANSITORIOS” tem um ritmo muito diferente do “Talvez Amanhã”, onde fiz cenas mais longas com a câmera fixa, sem pressa de sair da tela, sem cortar a cena toda. Comecei ir ao Cinema no inicio dos anos 80 e vi todas aquelas superproduções “hollywoodanas”, fiquei na fila que dava voltas no quarteirão para ver o lançamento dos filmes do Stallone e Arnold Swarzzeneger e isso contaminou um pouco o jeito de gravar e cortar demais. Não acho ruim, penso que cinema é edição e se cortar mais, chego mais onde quero. Freqüentando um circuito de filmes independentes e o MIS-CAMPINAS e tendo acesso a diretores europeus e passei a ver outro cinema que me fez gravar planos fixos e longos no inicio e no final do “Talvez Amanhã “. No entanto quando produzo um filme não sinto uma influência básica, mas uma apropriação de várias formas de filmar e montar. Gosto muito do “plongee” e de enquadramentos de onde não seria comum olhar, essa mistura de influências ou de nenhuma influência especifica pode ser bem positiva e produzir filmes interessantes. Baiestorf: Porque fazer filmes, uma arte complicada e cara? Clério: Já foi muito mais caro, e quase utópico fazer filmes! Veja o Glauber e outros cineastas da época o que passaram para fazer cinema? Depois que vi cidade de Deus senti que o cinema brasileiro seria mais possível e acessível, sobretudo por conta da tecnologia digital que possibilitou um custo beneficio bem mais interessante que chegar na película, as pessoas passaram a aceitar outra textura de imagem por conta da internet e fazer filmes em digital não causou tanto impacto, cobrar a qualidade da película é coisa de uma minoria e de quem faz. É comum as pessoas ao saber que estou fazendo filmes perguntarem, mas isso da dinheiro e vejo logo que não entenderam que minha alma esta nisso e que o dinheiro é a conseqüência dessa entrega. Gasta-se muito dinheiro para fazer cinema e ganha-se muito dinheiro para fazer cinema, sabemos que á difícil e complicado chegar lá, difícil e complicado quase toda atividade é, com perseverança e criatividade as coisas vão acontecer. No mínimo o prazer de passar a vida fazendo aquilo esta no coração haverá de retorno, mas acredito em mais que isso, o que se faz co a alma reflete forte e o retorno é grande em todos os sentidos. Não há mais como conter de contar historias que possam entreter e influenciar as pessoas para de alguma forma mostrar algumas saídas para uma vida melhor mesmo que as vezes seja a alegria de rir se envolver na historia de um filme. Vejo o cinema com esta função que tem a arte de melhorar a vida das pessoas. Faço filmes porque não posso evitar este impulso, a vida faz mais sentido. Baiestorf: Nos últimos anos o Brasil vê o surgimento de toda uma nova geração de cineastas independentes, na sua opinião de produtor e divulgador de filmes, a que se deve isso? E essa produção tente à aumentar? Clério: Petter, quero esclarecer que é a primeira vez que faço um Ciclo de Exibição e que estou pensando muito sobre fazer novamente. O retorno é positivo, entrei em contato com diversos cineastas, diretores e pude ver que filmes de baixo orçamento podem ter qualidade e ser impressionantes. Fui inserido nesta comunidade cinematográfica e sem duvida este é o maior do retorno que tive. O prazer de divulgar esses diretores não tem preço e as pessoas precisam saber deles. Ouvi muito as pessoas dizerem na sala de exibição: – Nossa que qualidade, que domínio da linguagem e a gente nem sabe desses diretores! Esta produção vai aumentar, em quantidade e qualidade e avançar para o circuito convencional, o brasileiro tem criatividade para isto. Como disse antes, hoje existe um cinema possível, digital, a internet contribui muito. O mercado esta de olho em novas idéias e linguagens. Vejo um futuro prospero no cinema nacional e devemos juntar forças para seguir caminho e fazer acontecer.
Baiestorf: Fale sobre seus novos projetos: Clério: Dois longas e um curta estão na fila de espera. O Curta foi inscrito no Edital de Paulínia que esta enrolado e provavelmente não sai. Quando não sai via edital, produzo assim mesmo. Os longas estão no roteiro, no tempo certo vou começar produzir. Sinto uma motivação para continuar com o Ciclo de Cinema Fantástico anualmente. No universo cinematográfico as cosas acontecem quase que involuntariamente, quando vi estava gravando o ”Talvez Amanhã” – http://www.youtube.com/watch?v=fWWoAaM9wmQ – e percebi que é preciso analisar melhor o que filmar, principalmente porque filmar determinado roteiro. Quase todos envolvidos no curta tinham um texto e queria ver se a gente não queria produzir, não é simples, da um trabalho enorme e precisa ser um tempo gasto com algo que realmente tenha tocado o coração. Estou muito interessado nas parcerias, quando for possível, para produzir com maior qualidade e apresentar filmes empolgantes. Uma regra básica é estar sempre produzindo. Muito agradecido ao Petter Biestorf e ao Canibuk. Avante Cinema Independente!
No final do mês de novembro aconteceu o lançamento do livro “Dicionário de Filmes Brasileiros – Curta e Média Metragem – Segunda Edição Revista e Atualizada” (2011, 1.275 páginas, editora do IBAC – Instituto Brasileiro de Arte e Cultura), escrito, pesquisado e organizado por Antônio Leão da Silva Neto, que é uma inesgotável fonte de pesquisa para qualquer históriador, pesquisador ou cinéfilo com interesse pelo cinema brasileiro. São 21.686 curtas e médias catalogados por Leão, com informações como ficha-técnica das produções, elenco, bitola, ano de produção, sinópse, festivais e mostras onde foram exibidos e comentários com curiosidades sobre as produções. No final do livro Leão incrementou com algumas estatísticas interessantes: de 2005 em diante, por conta das facilidades em se conseguir equipamentos digitais de alta qualidade por um baixo preço, a produção de filmes brasileiros praticamente dobrou. Em 2005 foram produzidos 1.014 curtas/média (os longas não estão incluídos nesta conta), e nos anos seguintes essa produção se manteve numa média de mais de 900 filmes (curtas/médias) por ano, número comparável aos anos de 1979 (com 927 curtas/médias) e 1980 (com 608 produções), quando produtores usavam uma lei que obrigava os exibidores de filmes a colocar um curta antes dos longas estrangeiros exibidos no Brasil. Outro fato interessante é que entre os anos de 2000 e 2010, foram produzidos 6.597 curtas/médias, tornando este início do século XXI o mais produtivo da história do cinema brasileiro.
E o melhor de tudo é que essa maravilhosa fonte de pesquisa não é vendida, para adquirí-la você deve enviar e-mail para o IBAC solicitando o livro (será cobrado apenas as despesas postais). Já peguei minha cópia dele e recebi rapidamente na minha casa pelo simbólico valor de R$ 17.50, quem perder este livro é um mané!!!
Dia 23 de novembro (quarta-feira), a partir das 20 horas, na escola da Cidade, rua General Jardim 65, Vila Buarque, São Paulo (capital) – atrás da Praça da República, quase em frente a sede da Aliança Francesa – vai rolar o lançamento do novo livro de Antônio Leão da Silva Neto, “Dicionário de Filmes Brasileiros – Curta e Média Metragem – Segunda Edição, revista, Corrigida e Ampliada”, editado pelo Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, com patrocínio do Fundo Nacional de Cultura.
Essa nova edição do dicionário de curtas e médias de Leão registra 22 mil filmes em 1.270 páginas, em todos os formatos, inclusive digital. Apresentação do livro é de Raquel Hallaq, prefácio de Francisco César Filho e orelha de Alfredo Sternheim.
Conheço o trabalho de Antônio Leão já há vários anos e posso atestar que é mais um lançamento imperdível, o “Dicionário de Longas Brasileiros” é fantástico e tenho a plena certeza que este novo livro segue o padrão de qualidade de Leão. Qualquer cinéfilo que se preze precisa ter esses dicionários de Leão na coleção!