Se eu tivesse que escolher o pior filme que já produzi , acredito que este “Caquinha Superstar a Go-Go” seria o escolhido (e olha que já produzi muita porcaria nestes meus 25 anos de produtor gorechanchadeiro). Tenho lembranças maravilhosas desta produção, mas simplesmente nada funciona com nada na tela. Não tem ritmo, não tem história, não tem produção. Mas assumo toda a culpa, ou pelo menos metade de toda a culpa, com certo orgulho. Metade porque o filme foi co-produzido pelo Coffin Souza e sei que ele também tem boas lembranças desta produção, já se gosta do filme nunca perguntei.

Caquinha meditando
Em 1996 eu tinha produzido apenas o “Eles Comem Sua Carne” com o Souza dividindo a função (no “O Monstro Legume do Espaço” ele tinha sido apenas ator) e como o filme teve uma boa aceitação no mercado underground, resolvemos produzir o “Caquinha Superstar a Go-Go” que seria continuação simultânea do Monstro Legume e do Eles Comem (temos cenas filmadas com o Caquinha interagindo com as personagens do Eles Comem, mas resolvi não incluir no filme sei lá porque). E mais, na época também queríamos filmar mais rápido do que o Roger Corman, então tivemos a brilhante ideia de jerico de montar um cronograma de apenas duas noite e um dia de filmagens (até porque o orçamento disponível pro filme não teria permitido muitos dias a mais). Como se isso não bastasse, o filme ainda era um musical e eu não tinha experiência nenhuma com o gênero além de ser fã. E, também, havia discordâncias minhas com Souza de como filmar aquele roteiro ruim. Então o desastre já se anunciava muito antes das filmagens terem início.

Caquinha e Tracy
Mas quando você tem um desastre anunciado na mão o que tu faz?… Vai com tudo de cabeça, certo?… E foi o que fizemos. Chamamos o E.B. Toniolli para interpretar o Caquinha, reunimos os outros desajustados que nos acompanhavam na época e filmamos na correria, sem cuidados técnicos, sem estrutura alguma e, o pior, discutindo o tempo inteiro. Foi uma experiência boa porque no filme seguinte que produzimos em parceria, “Blerghhh!!!” (também de 1996), Souza e eu nos acertamos quanto ao que cada um fazia na produção e tudo passou a funcionar melhor… Bem, melhor daquele jeito Canibal Filmes, lógico!

Jorge Timm e Coffin Souza
Não existem muitas histórias divertidas durante os dois dias de filmagens, até porque a gente trabalhou essas 48 horas sem parar (não lembro de ter dormido durante estes dois dias). Talvez o fato mais divertido caótico era o descontentamento do elenco com a produção, agravado pelo fato de que escrevi o filme se passando no verão mas filmei em pleno inverno do sul do Brasil e naqueles dois dias a temperatura estava numa média de zero graus, tendo sido um dos invernos mais rigorosos que o sul já teve notícia. Naquelas cenas em que as meninas de bikini encontram Caquinha, quase no fim do filme, o frio era tão intenso que as meninas tremiam sem parar sob minhas ordens que incluíam a cada minuto a frase: “ânimo meninas, é verão! É Verãoooo!”. Para as cenas internas da casa de Caquinha (filmamos numa casa abandonada que não tinha nem energia elétrica, nosso eletricista – Claudio Baiestorf – realizou um “gato” na rede pública) o frio era tanto nas madrugadas que cortamos um latão e mantivemos carvões queimando o tempo todo para esquentar o ambiente.
Na época o melhor produto relacionado ao filme foi a trilha sonora composta pela banda paulista Trap. Enquanto passávamos frio os paulistas estavam compondo músicas maravilhosas para o filme, até hoje lamento não ter conseguido fazer um filme à altura da fantástica trilha sonora que Johnny e companhia nos entregaram. Essa trilha sonora foi lançada em CD no ano seguinte, 1997, numa prensagem feita no Canadá e contrabandeada para dentro do Brasil para burlar os impostos. Não é fácil a vida de produtor vagabundo, tu acaba virando uma espécie de mafioso da cultura. Como este CD esgotou anos atrás, você pode ouvi-lo baixando no link a seguir: TRILHA SONORA DE CAQUINHA SUPERSTAR A GO-GO.
“Caquinha Superstar a Go-G0” teve seu lançamento feito num bar de Porto Alegre com direito a presença de toda a equipe, elenco e a banda Trap animando o público com a trilha sonora. Enquanto o filme era exibido botamos um ator fantasiado de gorila arrancando as roupas de algumas atrizes contratadas para o lançamento. O público delirava com o que via, era interação completa entre o filme e a plateia. É uma lei obrigatória para produtores de filmes vagabundos: Se você tem um filme ruim trate de animar o público de alguma maneira!
Você pode conhecer este adorável filme extremamente ruim baixando aqui: CAQUINHA SUPERSTAR A GO-GO.
Petter Baiestorf.