Arquivo para dracula

Arrepios Sangrentos do Cinema (1960-1980)

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 8, 2018 by canibuk

O cinema sempre foi terreno fértil para a exploração do corpo. Se nas décadas de 1950 e 1960 o cinema era mais sugestivo do que apelativo (mas com a sci-fi e seus monstros e aliens deformados já apontando os rumos que a nova audiência exigia), foi na ressaca da contracultura, nos anos de 1970, que o cinema foi tratando de ficar mais explícito e cínico, culminando numa explosão de corpos monstruosos/pegajosos nas telas do cinema da década de 1980, onde a crítica social-niilista-pessimista da década anterior cedeu lugar à auto paródia do terrir.

Podemos afirmar que a auto paródia que o cinema dos anos de 1980 viveu, principalmente o americano, tem suas raízes nos filmes da dupla H. G. Lewis e David F. Friedman, principalmente na trinca de goremovies “Banquete de Sangue” (Blood Feast, 1963), “2000 Maníacos” (2000 Maniacs, 1964) e “Color Me Blood Red” (1965), que aproveitaram para extrapolar, para deleite do jovem público de drive-ins, o bom gosto estético, aproveitando até mesmo idéias de mortes exageradas dadas por seus filhos pré-adolescentes. O corpo humano deixava de ser um templo sagrado e, agora, estava disponível para todo o tipo de mutilações que os técnicos de efeitos especiais conseguissem elaborar. E mais, agora o tabu do canibalismo também caia por terra e o corpo humano servia de alimento às sádicas personagens.

No final dos anos de 1950 e início dos anos de 1960, a cinematografia gore ainda foi discreta, com obras como “First Man Into Space (1959), de Robert Day, sobre um astronauta que começa a derreter e que foi a inspiração para a produção do clássico “O Incrível Homem Que Derreteu” (The Incredible Melting Man, 1977, de William Sachs. “Inferno” (Jigoku, 1960), de Nobuo Kakagawa, tomou como inspiração o inferno concebido por Dante e ousou mostrar, em cores, os horrores explícitos de um purgatório onde os pecadores sofriam todo tipo de violência na carne. “Six She’s and A He” (1963), de Richard S. Flink, contava a história de um astronauta feito de prisioneiro por uma tribo de lindas mulheres que costumavam realizar incríveis banquetes com os membros decepados de seus algozes. “Six She’s and A He” é uma espécie de irmão bastardo dos filmes da dupla Lewis-Friedman, já que seu roteirista é o ator William Kerwin, que atuou em “Blood Feast” e “2000 Maniacs” usando o pseudônimo de Thomas Wood. “Está Noite Encarnarei no teu Cadáver” (1967), de José Mojica Marins, à exemplo de “Jigoku”, também mostrava em cores os horrores do inferno com muitos membros decepados, sofrimentos diversos e inventivos demônios feito com parte dos corpos de seus alunos de curso de cinema.

No ano seguinte o horror ficou ainda mais explícito com duas obras seminais: Mojica realizou um banquete canibal em seu longa de episódios “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (1968), no episódio “Ideologia”, e o Cult “A Noite dos Mortos-Vivos” (The Night of the Living Dead, 1968), de George A. Romero, que trazia o canibalismo explícito para as telas com a virulenta modernização dos zumbis, desta vez se deliciando com tripas e toda variedade de carne humana, de crua à carbonizada, dando apontamentos do caminho que o cinema de horror viria a tomar nos anos seguintes.

Jigoku (1960)

Charles Manson e a Família haviam acordado a América de seu “American Way of Life” e os horrores do Vietnã eram televisionados nos jornais do café da manhã, toda uma geração insatisfeita queria voz. Na década de 1970 o cinema de horror ficou mais insano, pessimista e violento para com as instituições oficiais. Jovens cineastas perceberam, ensinados por H.G. Lewis e George A. Romero, que o cinema independente era o caminho natural para adentrar no mundo das produções cinematográficas, e o melhor, o horror niilista tinha público fiel ávido por “quanto pior melhor”.

Tom Savini em Dawn of the Dead (1978)

Inspirados por Charles Manson e “A Noite dos Mortos-Vivos”, no Canadá, a dupla Bob Clark e Alan Ormsby profanaram os defuntos com seu clássico “Children Shouldn’t Play With Dead Things” (1972), podreira sobre um grupo de degenerados comandados por uma espécie de guru fake a la Manson que desenterram alguns corpos num cemitério isolado e realizam um verdadeiro show de barbaridades e imaturidade. Aliás, Ormsby deve ser atraído por personalidades problemáticas, já que na seqüencia realizou o clássico “Confissões de um Necrófilo” (Deranged, 1974), co-dirigido por Jeff Gillen, inspirado na figura do psicopata Ed Gein e que, na minha opinião, é a melhor abordagem cinematográfica já feita sobre Gein, que inspirou, entre outros, também os clássicos “Psicose” (Psycho, 1960), de Alfred Hitchcock, e “O Massacre da Serra-Elétrica” (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), a obra-prima de Tobe Hooper, realizado no mesmo ano de “Deranged” e que contava com efeitos do ex-fotografo de guerra Tom Savini, que se inspirava nos horrores reais que presenciou para criar as maquiagens mais podreiras possíveis. Os corpos dos mortos agora não eram mais sagrados, podiam alimentar psicopatas dementes ou, até, se tornarem grotescas obras de arte ou peça de happenings.

O público clamava por histórias mais adultas, além da violência explícita, o sexo também gerava curiosidade. Andy Warhol e Paul Morrissey foram para a Europa filmar, com ajuda do italiano Antonio Margherity, “Carne para Frankenstein” (Flesh for Frankenstein, 1974), uma releitura sexual-splatter de Frankenstein de Mary Shelley, com litros de sangue, referências à necrofília e abordagem erótica da história do cientista que brincava de Deus, dando especial atenção ao detalhes sórdidos e eróticos. No Canadá David Cronenberg previa as epidemias de doenças sexualmente transmissíveis ao realizar “Calafrios” (Shivers, 1975), com roteiro sério que discutia o sexo, sem deixar de incluir taras, fetiches e doenças como a pedofília em roteiro genial (o final do filme continua poderoso).

De volta à América, o cineasta underground Joel M. Reed lançou em 1976 o perturbador e doentio “Bloodsucking Freaks” (The Incredible Torture Show), com a personagem de Sardu, ajudado por um anão tarado, que raptava jovens mulheres que se tornavam deliciosas iguarias para seus banquetes explícitos onde até mesmo sanduíches de pênis era devorados. Ainda em 1976, os exageros do cinema gore se encontraram com a falta de limites do mundo da pornografia e o jovem Michael Hugo cometeu o, ainda hoje, obscuro “Hardgore”, uma carnificina envolvendo sexo explícito com todo o tipo de perversões na história de uma inocente mocinha internada numa instituição mental. “Hardgore” parecia preparar terreno para “Cannibal Holocaust” (1980), do italiano Ruggero Deodato, produção que extrapolou qualquer limite do bom gosto ao assassinar, em frente às câmeras, todo tipo de animais, incluindo a famosa cena da tartaruga, filmada com verdadeiros requintes de crueldade.

Mas um pequeno curta independente, filmado em super 8 por um grupo de amigos, anunciava que o cinema de horror voltaria a ficar mais artístico (sem assassinatos reais ou pornografia): “Within the Woods” (1978), de Sam Raimi, produzido com os amigos Robert Tapert e Bruce Campbell, era um ensaio para a produção do Cult “A Morte do Demônio” (Evil Dead, 1981), que influenciaria meio mundo nos anos de 1980 e 1990 com sua ensandecida história envolvendo jovens possessados por demônios numa cabana isolada. O cinema de horror começava a sair dos cinemas pulgueiros para tomar de assalto toda uma nova geração que descobriria os filmes malditos com o videocassete.

De certo modo “Evil Dead” preparava o público para a exploração do corpo que o cinema da década de 1980 realizou. Nunca na história da indústria cinematográfica tivemos outra época tão rica na exploração de anomalias, doenças, mutações e toda uma rica gama de deformações genéticas. Era a época da disco, da cocaína acessível e barata, do “viva rápido, morra jovem”, então… Pro inferno com a seriedade, o negócio agora era a auto paródia e o cinema de horror, principalmente o americano, soube não se levar em sério e por toda a década de 1980 cineastas como Lloyd Kaufman, Stuart Gordon, Dan O’Bannon, Fred Deker, Roger Corman, Fred Olen Ray, Jim Wynorski, entre outros, conseguiram passar através de seus filmes o clima de curtição que os anos de 1980 possuíam.

por Petter Baiestorf

Veja os trailers aqui:

Outros Posters:

The Incredible Melting Man

Pelados para Satanás

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on novembro 2, 2016 by canibuk

Nuda Per Satana (“Nude For Satan”, 1974, 82 min.) de Luigi Batzella (sob pseudônimo de Paolo Solvay). Com: Rita Calderoni, Stelio Candelli e James Harris.

nuda-per-satanaUm médico (Candelli) em viagem pelo campo encontra uma mulher (Rita Calderoni) inconsciente em seu carro acidentado e, em sua busca por ajuda, chegam até um castelo isolado onde um espelho lhes mostra o lado negro de suas almas numa eletrizante aventura macabra-sexual que pede que você, espectador, desligue a lógica e se divirta. “Nuda Per Satana” é uma produção de baixo orçamento que conseguiu criar uma atmosfera bem pesada para seu horror experimental, quase surreal, funcionar dentro de suas limitações. Os créditos iniciais sobre o capô de um fusca são ridículos, o acidente de carro, logo em seguida, é sem noção (ouve-se o barulho do carro batendo e um pneu rola pela estradinha de terra, depois o carro é revelado sem nada estragado, nem o pneu que rolou está faltando), mas a ambientação no castelo com sua narrativa cheia de inserções de sexo explícito, seus incontáveis zoons sem razão de existirem, câmera desfocada, cortes secos e ritmo de pesadelo satânico fazem do filme uma diversão de primeira grandeza (em vários momentos lembra as produções do espanhol Jesus Franco).

nude_for_satan_titlesLuigi Batzella, um cineasta italiano medíocre geralmente comparado ao americano Edward D. Wood Jr., nasceu em 1924 (e faleceu em 2008) e fez a maioria de seus filmes usando o pseudônimo de Paolo Solvay. Como todo bom cineasta classe Z produziu filmes nos mais variados gêneros na vã tentativa de capitalizar uns trocados com gêneros que estavam na moda. Estreou como diretor com o drama “Tre Franchi di Pietà” (1966) usando o pseudônimo de Paul Hamus e estrelado pelo ator Gino Turini (dos clássicos “L’Amante Del Vampiro/The Vampire and the Ballerina” (1960) de Renato Polselli e “Il Boia Scarlatto/Bloody Pit of Horror” (1965) de Massimo Pupillo). Começou os anos de 1970 tentando ganhar dinheiro com westerns e realizou “Anche Per Django le Carogne Hanno um Prezzo” (1971); “Quelle Sporche Anime Dannate” (1971) e “La Colt Era il Suo Dio/O Colt era o Seu Deus” (1972), os três estrelados por Jeff Cameron e que passaram desapercebidos da audiência dos bangüê bangüês. Com Rosalba Neri (a Lisa do Cult “The Castle of Fu Manchu” (1969) do gênio Jesus Franco) e Mark Damon (de inúmeros spaghetti westerns) realizou a comédia ligeira “Confessioni Segrete di um Convento di Clausura” (1972) e entrou de cabeça no horror com “Il Plenilunio Delle Vergini/O Castelo de Drácula” (1973), um lixo cinematográfico que fez com que Rosalba usasse o pseudônimo de Sara Bay. Depois de “Nude Per Satana” Batzella despirocou de vez e passou a fazer filmes ainda mais selvagens como “Kaput Lager – Gli Ultimi Gioni Delle SS/Achtung! The Desert Tigers” (1977), um delicioso nazixploitation onde o nazista chefe de um campo de concentração sente prazer chicoteando as prisioneiras e “La Bestia in Calore/SS Hell Camp” (1977), outro nazixploitation repleto de garotas nuas e atrocidades (tanto sexuais, quanto cinematográficas), produções essas onde assinou a direção com o pseudônimo de Ivan Kathansky. Com seu filme de ação “Strategia Per uma Missione di Morte” (1979), estrelado por Richard Harrison e Gordon Mitchell, a distribuidora francesa usou o pseudônimo de A. M. Frank nas cópias, mesmo pseudônimo usado nas cópias francesas de alguns filmes de Jesus Franco, a exemplo do maravilhoso “La Tumba de los Muertos Vivos/Oasis of the Zombies” (1982, lançado em DVD no Brasil pela distribuidora Vinny Filmes com o título de “Oásis dos Zumbis”), provando que quando você produz uma série de lixo cinematográficos é melhor plantar o caos e a confusão na mente do espectador para fazê-lo continuar a consumir suas obras. Seu último filme como diretor foi o inacreditavelmente hilário bruceploitation “Challenge of the Tiger” (1980) estrelado por Bruce Le (um clone do lendário Bruce Lee, nascido como Kin Lung Huang, responsável por pérolas do quilate de “Zui She Xiao Zi/Bruce Lee – King of Kung Fu” (1982), co-dirigido por Darve Lau, e “Bruce the Super Hero” (1984), que também trás Bolo Yeung no elenco) e que conta a história de dois agentes da CIA lutando contra um grupo neonazista. Nos USA a Mondo Macabro lançou “Challenge of the Tiger” num DVD Double Feature com “For Your Eight Only” (1981), clássico estrelado pelo anão Weng Weng e dirigido por Eddie Nicart. Melhor dupla de filmes num DVD, impossível.

nudeforsatan_frame1

nuda-per-satana_export“Nuda Per Satana” é estrelado pela bela Rita Calderoni que se especializou em papéis em filmes de suspense e horror de produção duvidosa. Em 1969 esteve no elenco de “La Monaca di Monza/A Monja de Monza” de Eriprando Visconti. Depois de fazer pequenas participações em filmes de diretores conceituados como Ettore Scola, Rita trabalhou no horror “La Verità Secondo Satana” (1972) de Renato Polselli e tomou gosto pelo sangue de groselha. Ainda com Polselli fez o thriller “Delirio Caldo/Delirium” (1972) já em papel principal na trágica história de um médico que se torna o suspeito de uma série de assassinatos e o delirante clássico satânico “Riti, Magie Nere e Segrete Orge Nel Trecento…/The Reincarnation of Isabel” (1973) onde um grupo de vampiros busca o sangue de uma virgem para ressuscitar uma poderosa bruxa. Como europeu aceita de boa a participação de atores e atrizes em filmes adultos, depois de “Nuda Per Satana” Rita esteve no elenco do classudo “Anno Uno” (1974), drama sério e com boa produção sobre a reconstrução da Itália pós o regime fascista dirigido por Roberto Rossellini.

nude-for-satanJá Stelio Candelli, o canastrão herói mal dirigido de “Nuda Per Satana, é outra figura muito conhecida dos fãs de horror europeu. Em 1965 esteve no elenco do sci-fi gótico “Terrore Nello Spazio/O Planeta dos Vampiros” de Mario Bava, que também trazia em seu elenco a brasileira Norma Bengell. Em 1972 estrelou o suspense “La Morte Scende Leggera” do diretor Leopoldo Savona. Versátil como todo ator europeu, esteve no elenco de “From Hell to Victory” (1979), filme de guerra dirigido pelo especialista em filmes baratos Umberto Lenzi; “La Cage Aux Folles II/A Gaiola das Loucas 2” (1980), comédia homossexual de Édouard Molinaro que marcou época; e voltou ao gênero horror pelas mãos de Lamberto Bava em “Dèmoni/Demons – Filhos das Trevas” (1985).

Infelizmente “Nuda Per Satana” continua inédito em vídeo no Brasil (mas claro que ele é relativamente fácil de ser encontrado para download nestes tempos de mundo virtual).

escrito por Petter Baiestorf para o livro “Arrepios Divertidos”.

Assista “Nuda per Satana” aqui:

Necrohorror Magazine

Posted in Fanzines, revistas independentes brasileiras with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 24, 2012 by canibuk

Alguns dias atrás publiquei dica sobre o fanzine sueco “Horrophobic” e, praticamente na seqüência, tomei conhecimento do fanzine brasileito  “Necrohorror”, que também é confeccionado em gráfica no formato de revista. Jonathan Alves da Silva, editor e faz tudo do fanzine, explica: “A estética da revista Necrohorror tem como objetivo resgatar as antigas em quadrinhos brasileiras da década de 60, 70 ou 80, que marcaram época para muitas pessoas, com conteúdo fabricado em papel jornal e capa em papel envernizado de ótima qualidade”. “Necrohorror” é imperdível, seja para os colecionadores de revistas independentes brasileiras, seja para os fanáticos pelo estúdio britânico da Hammer Films. “Inicialmente nosso conteúdo é de fácil leitura, visando despertar o interesse das novas gerações nos filmes que fizeram história”, nos conta o editor para em seguida dar pistas sobre a segunda edição, “Na próxima edição, que sairá em janeiro, teremos conteúdo tanto para os iniciantes no terror, quanto para os já iniciados no assunto”.

Neste primeiro número de “Necrohorror”, com 48 páginas, traz em suas páginas um ótimo apanhado sobre as produções do estúdio Hammer, com resenhas sobre filmes clássicos do estúdio como “The Curse of Frankenstein”, “Revenge of Frankenstein”, “The Evil of Frankenstein”, “Frankenstein Created Woman”, “Frankenstein Must Be Destroyed”, “Frankenstein and the Monster from Hell”, “Horror of Dracula”, “The Devil Rides Out”, “The Plague of the Zombies”, “The Reptile”, “The Curse of the Werewolf”, “The Gorgon”, The Phantom of the Opera”, “Dr. Jekyll and Sister Hyde” e pequenos artigos sobre as séries de filmes com Drácula, de múmias e de vampiras carnudas e gostosas (Karnstein). A revista fecha com uma pequena matéria sobre o maquiador Roy Ashton, outro intitulado “O Fim daEra de Ouro da Hammer Films” e uma deliciosa série de fotos das irmãs Collinson bem a vontade. E de brinde vem um poster de “Twins of Evil”, digno de se pendurar na parede da sala de casa.

“Necrohorror” já nasce imperdível por ser editada no Brasil, país sem tradição alguma na edição de revistas que falem de cinema de horror (dá prá contar nos dedos as revistas que tiveram, como “Set Terror & Ficção”, “Psicovídeo”, “Horrorshow”, “Cine Monstro” e talvez alguma que eu tenha esquecido). Aliás, no Brasil o gênero horror nunca teve o devido respeito porque brasileiro tem aquele pensamento medíocre de que cultura é algo para ser consumido de graça. Brasileiro é capaz de achar que ver uma partida de futebol seja algo cultural! Lamentável!

Se você ficou interessado em adquirir um exemplar, entre em contato via facebook com o Jonathan e encomende a sua, a revista sai por uns R$ 18.00 com correio incluído.

* Peço desculpas aos leitores do Canibuk por estar postando apenas dicas nesta semana, mas estou escrevendo o roteiro do longa-metragem “Zombio 2: Chimarrão Zombies”, meu novo filme a ser lançado em 2013, e simplesmente não estou tendo tempo para escrever artigos maiores aqui no blog. Provavelmente a próxima semana será neste ritmo também, mas saibam que é por uma boa causa!

Petter Baiestorf.

Bilhetes Infernais para o Horror Express

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 6, 2012 by canibuk

“Horror Express” (1972, 90 min.) de Eugenio Martín. Com: Christopher Lee, Peter Cushing, Telly Savalas, Alberto de Mendonza, Silvia Tortosa, Helga Liné e Julio Peña.

Este pequeno clássico do horror, livremente inspirado no conto “Who Goes There?” de John W. Campbell (que também serviu de inspiração aos filmes “The Thing from Another World/O Monstro do Ártico” (1951) ce Christian Nyby e “The Thing/O Enigma de Outro Mundo” de John Carpenter), também conhecido pelo título “Pánico en el Transiberiano”, chama atenção por seu elenco internacional que incluí Christopher Lee, Peter Cushing e Telly Savalas.

No ano de 1906 o professor Alexander Saxton (Lee) encontra na Manchúria os restos congelados de uma criatura meio-macaco, meio-homem, que ele acredita ser o elo perdido na evolução humana. Para levar sua descoberta para a Europa o professor precisa tomar o expresso transiberiano da China à Russia, onde encontra seu rival Dr. Wells (Cushing). Ainda na plataforma da estação a criatura suga a mente de um ladrão e um monge (Alberto de Mendonza), conselheiro espiritual da condessa Irina Petrovski (a bela Silvia Tortosa), como todo bom charlatão fanático religioso, dá a culpa para o Tinhoso. Mesmo com o incidente a viagem começa e, uma vez dentro do trem, a criatura escapa e mata algumas pesssoas. Em autópsia realizada pelos cientistas descobrem, abrindo os crânios das vítimas, que as lembranças de seus cérebros foram drenadas (porque os cérebros estavam lisos, ora bolas). Logo em seguida a criatura é morta a tiros e, analizando o líquido encontrando no globo ocular do cadáver, a dupla de cientistas descobre imagens da terra vista do espaço, imagens pré-históricas de nosso planeta e chegam a conclussão de que a criatura é um alien e que pode ter infectado outros passageiros. O governo Russo manda o capitão Kazan (Telly Savalas, em papel impagável), um violento cossaco, entrar no trem para resolver tudo, nem que seja necessário um pouco de violência gratuita. Depois que ficamos sabendo que a criatura alienígena sobreviveu por milhões de anos no planeta Terra no corpo de protozoários, peixes e outros animais, o alien se transfere para o corpo do monge e ressucita todas suas vítimas na forma de zumbis carniceiros que nunca podem faltar num autêntico filme de baixo orçamento.

Com roteiro da dupla Arnaud D’Usseau e Julian Zimet (que juntos também escreveram o clássico “Psychomania” (1973) de Don Sharp), nos deparamos com deliciosos absurdos pseudo-científicos e um punhado de cenas maravilhosas, como quando o monge clama ao alien para que lhe sugue a mente e o alien se nega dizendo que “não há nada que se aproveite na sua mente!”, desprezando o fanático religioso. Aliás, no filme todo há sempre um clima de ciência/razão contra religião/misticismo. As maquiagens vagabundas de Fernando Florido (que também trabalhou em filmaços como “El Retorno de Walpurgis/Curse of the Devil” (1973) de Carlos Aured, “Quién Puede Matar a un Niño/Island of the Damned” (1976) de Narciso Ibáñez Serrador, “Inquisición” (1976) de Paul Naschy e “Serpiente de Mar” (1984) de Amando de Ossorio) tem ótimas sacadas, como o olho vermelho-brilhante da criatura e a própria criatura, meio-fóssil de macaco. Os olhos brancos que os cadáveres-humanos cujos cérebros foram sugados tem, dão um visual extremamente macabro, assim como as cenas gore onde seus crânios abertos revelam os cérebros lisos.

“Horror Express” foi produzido pelo produtor americano Bernard Gordon com orçamento de 300 mil dólares. Gordon re-utilizou o trem que havia sido construido para o filme “Pancho Villa” (1972), também dirigido por Eugenio Martín, conseguindo um cenário bem barato para sua produção de horror. A grande sacada do produtor americano foi conseguir para o elenco artistas já consagrados no mercado internacional, como Savalas, Lee e Cushing. Este último ainda abalado pela morte da esposa, pediu para ser afastado da produção, mas para nossa sorte seu amigo pessoal Christopher Lee o apoiou nos momentos difíceis e Cushing permaneceu no cast. Bernard Gordon (1918-2007) trabalhou durante anos na obscuridade impedido de ganhar créditos pela lista negra anti-comunistas de Hollywood. Com ajuda do produtor Charles Schneer escreveu o roteiro de “Earth Vs. The Flying Saucers” (1956), dirigido por Fred F. Sears. Trabalhou durante anos sob o pseudônimo Raymond T. Marcus. Ao se mudar para a Europa fez amizade com o roteirista/empresário Philip Yordan e conseguiu trabalho em Madrid na Samuel Bronston Company. Com Yordan escreveu o roteiro do clássico “The Day of the Triffids/O Terror Veio do Espaço” (1962) de Steve Sekely, uma história envolvendo plantas carnívoras espaciais que andavam. Outro clássico escrito por ele foi “Krakatoa: East of Java/Krakatoa – O Inferno de Java” (1969), aventura dirigida por Bernard L. Kowalski. Como produtor realizou “El Hombre de Río Malo/A Quadrilha da Fronteira” (1971), divertido western estrelado por Lee Van Cleef e Gina Lollobrigida, além dos já citados “Pancho Villa” e “Horror Express”, todos os três com direção de Eugenio Martín.

O diretor espanhol Eugenio Martín (1925) estudou direito na Universidade de Granada. Graças aos seus curta-metragens, como “Viaje Romántico a Granada” (1955), “Adiós, Rosita (Vieja Farsa Andaluza)” (1956), “Romance de una Batalla” (1956), entre outros, se tornou assistente de diretores como Guy Hamilton, Michael Anderson, Nathan Juran e Nicholas Ray. Sua primeira direção de um longa foi com a comédia “Despedida de Soltero” (1961), seguido de seu primeiro filme de horror, “Ipnosi” (1962), estrelado por Jean Sorel que alguns anos depois trabalhou nos clássicos “Belle de Jour/A Bela da Tarde” (1967) de Luiz Buñuel e “Paranoia” (1970) de Umberto Lenzi. No final dos anos de 1960 dirigiu alguns westerns, como “El Precio de um Hombre” (1967), estrelado por Tomas Millian; e “Réquiem para el Gringo” (1968), co-dirigido por José Luis Merino. Depois de alguns musicais (“Las Leandras” e “La Vida Sigue Igual”, ambos de 1969, e o último estrelado por Julio Iglesias), realizou o horror “La Última Senhora Anderson” (1971), estrelado por Carroll Baker. Neste momento conheceu o produtor Bernard Gordon e fizeram juntos três filmes. Em seguida fez “Una Vela Para el Diablo/It Happened at Nightmare Inn” (1973), suspense de horror sobre duas irmãs loucas e seu hotel sinistro. Depois de passar o resto dos anos 70 realizando comédias obscuras, entrou nos anos 80 com as produções de horror “Aquella Casa em las Afueras” (1980) e “Sobrenatural” (1983). Por essa época sua carreira no cinema ficou meio estagnada e Martín migrou para a televisão.

Christopher Lee (1922) é inglês e se tornou mundialmente famoso quando interpretou monstros clássicos para a produtora Hammer. Primeiro foi o monstro de Frankenstein em “The Curse of Frankenstein/A Maldição de Frankenstein” (1957) e depois foi o Conde Drácula em “Dracula/Horror of Dracula” (1958), ambos com direção de Terence Fisher. Ainda em 1958 apareceu ao lado de Boris Karloff na fantástica produção “Corridors of Blood”, de Robert Day, sobre um médico tentando descobrir um anestésico para operações mais complicadas. Voltou ao papel de sugador de sangue louco por decotes femininos nos filmes “Dracula – Prince of Darkness” (1966) de Terence Fisher; “Dracula Has Risen from the Grave” (1968) de Freddie Francis; “Taste the Blood of Dracula” (1969) de Peter Sasdy; “Scars of Dracula” (1970) de Roy Ward Baker, entre outros, que ajudaram a torná-lo a principal cara do Conde Drácula no cinema. Em 1966 Lee interpretou o místico russo Rasputin em “Rasputin, The Mad Monk” de Don Sharp, contando na época que quando era criança encontrou com Felix Yussupov, assassino de Rasputin. Nos anos 70 estrelou alguns ótimos filmes, como “I, Monster” (1971) de Stephen Weeks, uma adaptação de “The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde” do escritor Robert Louis Stevenson, “The Wicker Man/O Homem de Palha” (1973) de Robin Hardy, clássico cult do cinema de horror; e “To The Devil a Daughter/Uma Filha Para o Diabo” (1976) de Peter Sykes e com a curiosidade de trazer uma Natassja Kinski ainda ninfetinha e pelada nos bons tempos em que o cinema era um antro politicamente incorreto. Depois dos anos 70 Lee apareceu em inúmeros filmes bobocas de Hollywood. Este fantástico ator já fez tanta coisa que é necessário um artigo somente sobre ele. Para ler sobre Peter Cushing, clique em “Island of Terror“.

Telly Savalas (1922-1994) aparece pouco tempo em cena no “Horror Express”, mas o suficiente para roubar o filme para si com sua personagem ensandecida do brutal capitão cossaco. Nascido com o nome de Aristotelis Savalas em Garden City, NY, começou trabalhando na televisão. Foi descoberto pelo ator Burt Lancaster que o ajudou a decolar na carreira de ator. Em 1965 raspou a cabeça para o filme “The Greatest Story Ever Told/A Maior História de Todos os Tempos”, onde interpretou Pontius Pilate, e gostou tanto do novo visual que o adotou por toda vida. Na televisão se imortalizou no papel de Kojak na série de mesmo nome, que foi ao ar em outubro de 1973. Com Mario Bava fez “Lisa e Il Diavolo” (1974). Outros filmaços com Savalas incluem produções como “Una Ragione Per Vivere e Una Per Morire/Uma Razão para Viver… Uma Razão para Morrer” (1972) de Tonino Valerii. co-estrelado por Bud Spencer; uma participação hilária em “Capricorn One/Capricórnio Um” (1977) de Peter Hyams; “Beyond the Poseidon Adventure/Dramático Reencontro no Poseidon” (1979) de Irwin Allen, entre vários outros. Mas Savalas é um ator tão cult que qualquer filme dele é uma verdadeira diversão. Veja todos!

Na época de seu lançamento, “Horror Express” foi um fracasso comercial na espanha, país que abrigou sua produção. Foi lançado em DVD pela distribuidora London Filmes, mas sem nenhum material extra.

por Petter Baiestorf.

Veja “Horror Express” aqui:

Island of Terror

Posted in Cinema, Entrevista with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , on julho 4, 2012 by canibuk

“Island of Terror” (1966, 89 min.) de Terence Fisher. Com: Peter Cushing, Edward Judd e Carole Gray.

Numa ilha isolada desaparece um fazendeiro, sua esposa chama a polícia e as buscas revelam que ele foi morto numa caverna e está sem um único osso em seu corpo. Diante de tal mistério, o médico da ilha vai atrás de um especialista em doenças ósseas para lhe ajudar a elucidar o problema. Os médicos sabem que nesta mesma ilha um grupo de oncologia está pesquisando a cura do câncer e vão até o castelo onde o grupo faz experimentos para ter a opinião dos cientistas. No castelo descobrem todos os pesquisadores mortos, sem um único osso em seus corpos, e uma nova forma de vida é encontrada ali (um monstrengo que parece uma estranha cruza entre arraia e tartaruga). Logo nossos heróis chegam a conclusão de que os pesquisadores criaram as criaturas por acidente apartir do átomo silício e que estas desajeitadas criaturas se alimentam de ossos. As criaturas são apelidadas de “Silicatos” (por causa do silício, nada mais lógico!) e os médicos preparam a resistência armada contra a nova e faminta espécie, envolvendo todos os moradores da ilha numa batalha pela sobrevivência.

Com um clima bem sério característico do cinema de horror britânico, “Island of Terror” é uma deliciosa bobagem envolvente onde Peter Cushing parece se divertir o tempo todo em seu papel. Lançado em 1966 pela Planet Film Productions (e no ano seguinte distribuido nos USA pela Universal Studios em programa duplo com “The Projected Man” (1967) de Ian Curteis), é uma produção de baixo orçamento e grande aproveitamento, nunca ficando chato ou parado em sua sucessão de acontecimentos macabros e efeitos especiais simples, mas bem elaborados e executados. Inspirado em “The Night the Silicates Came”, de Gerry Fernback, a ameaça do desconhecido é eliminada bem nos moldes dos anos 1960: “Se não compreendo, mato e destruo!”.

O diretor, Terence Fisher, se tornou um grande artesão do cinema de horror britânico graças às suas produções para a Hammer. Nascido em 1904 (e morto em 1980), estreiou como diretor em 1948 com o drama “A Song for Tomorrow”. Com o sci-fi romantico “Four Sided Triangle” (1953), estrelado por Barbara Payton (recém saída do cult “Bride of the Gorilla”), se tornou conhecido como um ótimo diretor de filmes de baixo orçamento. No mesmo ano fez ainda a sci-fi “Spaceways” e o thriller “Blood Orange”. Se alternando entre produções de todos os gêneros para o cinema e TV, Fisher foi escalado para dirigir “The Curse of Frankenstein/A Maldição de Frankenstein” (1957, warner home video), horror à cores bancado pela Hammer com Peter Cushing, Christopher Lee e Hazel Court no elenco. Daí em diante se tornou especialista em construir filmes sombrios e realizou filmaços como “Dracula/Horror of Dracula” (1958, warner home video), também com Cushing e Lee no elenco; “The Revenge of Frankenstein” (1958); “The Hound of the Baskervilles/O Cão dos Baskervilles” (1959), horror e mistério com Cushing no papel de Sherlock Holmes; “The Mummy” (1959), versão da Hammer para a história de maldições de múmias; “The Brides of Dracula/As Noivas de Drácula” (1960), sempre com Cushing no papel de Van Helsing; “The Two Faces of Dr. Jekyll/O Monstro de Duas Caras” (1960), sua contribuição para o romance “O Médico e o Monstro”; “The Curse of the Werewolf” (1961), sobre lobisomens na Espanha; “The Phantom of the Opera” (1962), com Herbert Lom no papel do atormentado professor de música; “The Gorgon” (1964), grande clássico da Hammer, também estrelado pela dupla Cushing-Lee; “The Earth Dies Screaming” (1964), pequeno clássico de sci-fi sobre o planeta Terra sendo invadido por aliens; “Dracula: Prince of Darkness” (1964) com Christopher Lee repetindo o papel de Drácula e mais três filmes lindos com Frankenstein: “Frankenstein Created Woman/Frankenstein Criou a Mulher” (1967, London Films); “Frankenstein Must Be Destroyed/Frankenstein Tem Que Ser Destruído” (1969, Warner Home Video) e “Frankenstein and the Monster From Hell” (1974), todos estrelados por Peter Cushing. Os filmes de Terence Fischer são imperdíveis.

Peter Cushing é a cara definitiva do Barão Frankenstein, de Van Helsing, de Sherlock Holmes, do Dr. Who. Nascido em 1913 (morto em 1994), logo começou a trabalhar no teatro e em 1939 se mandou para Hollywood onde trabalhou em “The Man in the Iron Mask” de James Whale. De volta à Inglaterra sobreviveu trabalhando como figurante em filmes até fazer TV ao vivo, onde ficou conhecido e foi chamado para viver o Barão Victor Frankenstein em “The Curse of Frankenstein” (1957), iniciando uma longa parceria com o diretor Terence Fisher e o ator Christopher Lee, de quem logo virou um de seus melhores amigos. Devia ser uma diversão ver essa dupla bebendo cervejas em algum pub londrino. Em 1971 tentou o suicídio na noite em que sua esposa morreu, para sorte de todos os fãs de filmes de horror ele sobreviveu. Poucos anos depois apareceu no “Star Wars” (1977) de George Lucas, onde interpretou sua personagem usando sempre chinelos, pois as botas que sua personagem era para usar apertavam seus pés. Com uma filmografia que ultrapassa mais de 130 filmes, Cushing se tornou uma grande lenda do cinema de horror mundial.

“Island of Terror” é um grande momento do cinema de horror britânico, com aquele clima nostálgico das velhas produções onde atores com rosto de pessoas comuns (e adultos, sem a presença dos insuportáveis adolescentes dos filmes de horror de hoje) tinham que combater uma força desconhecida. Continua inédito em DVD no Brasil.

por Petter Baiestorf.

Veja “Island of Terror” aqui:

Segue abaixo alguns momentos da entrevista que o fanzine “Quatermass” publicou com Peter Cushing, quem quiser ler a entrevista na íntegra deve procurar o “Quatermass” número 2 (de outubro de 1995), extraordinário fanzine espanhol.

Quatermass: Como você compôs o Barão Frankenstein quando o representou pela primeira vez em “The Curse of Frankenstein”?

Peter Cushing: Todos os papéis se abordam da mesma maneira, buscando-se todos os dados criados pelo autor em sua criação e, quando necessário, trazendo novos elementos para a personagem, enriquecendo-a! Para o Barão Frankenstein me inspirei muito na vida real do anatomista Dr. Robert Knox. Não concordo que Frankenstein seja um homem malvado, mas como muitos gênios da vida real é mal compreendido.

Quatermass: Os filmes da Hammer foram bastante criticados por suas altas doses de sangue e violência. O que pensas sobre isso?

Cushing: A maioria dos filmes refletem a época em que foram feitos. Para mim filmes como “The Goodfather/O Poderoso Chefão” são filmes de horror, por mais charmosos que sejam. Um homem numa mesa de massagem que recebe um tiro e lhe saltam os olhos é muito mais violento do que Drácula sendo empalado por uma estaca de madeira.

Quatermass: No livro de Bram Stoker, Van Helsing é um velho professor alemão. Você teve, em algum momento, intenção de interpretá-lo nesta linha?

Cushing: Tivemos uma reunião sobre este assunto porque me preocupava muito. Eu disse: “Olhem, aqui está a descrição: um pequeno velho que fala de maneira absurda. Porque estão me dando este papel?”. Mas naquela época eu era bastante popular neste estilo de filmes e me responderam: “Cremos, do ponto de vista comercial, que deve interpretá-lo como tu és, ficará grotesco te maquiar como um velho!”. Foi isso que aconteceu e concordei com a decisão. Eles poderiam ter contratado algum ator mais velho, mas não o fizeram.

Quatermass: Interpretando um Van Helsing mais jovem você pode deixar a personagem com mais energia e vigor.

Cushing: A cena final de “Drácula” tem bons efeitos e muita ação, teria sido lamentável não fazê-lo assim, porque sempre penso que um filme precisa de emoção e impacto. Me lembro dos filmes de Errol Flynn, onde sempre acontece algo excitante, e creio que isso tem grande importância para o público.

Quatermass: Como foi aparecer em programas de Tv na década de 1950?

Cushing: Naquele tempo era tudo ao vivo. Ensaiávamos durante três semanas, que era mais ou menos o mesmo tempo que no teatro. Foi Horrível! Fiz aquilo durante dez anos. Essa é a razão por meus nervos estarem destroçados hoje. Mas, com certeza, foi a época que o público britânico ficou conhecendo meu nome.

Quatermass: E o declínio da Hammer?

Cushing: Quando James Carreras se retirou da Hammer, seu filho Michael ficou encarregado da produtora e ele acreditava que o tempo dos filmes de horror já haviam passado. Tentou fazer coisas diferentes, mas não se saiu bem. Hammer tinha uma reputação e seu público não queria ver outros tipos de filmes.

Dois Velhos Inimigos Mortais, Vampiros Dourados do Kung Fu Porreta e o Fim da Hammer

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Fundada nos anos 30 por Enrique Carreras e William Hinds, a produtora inglesa Hammer Films transformou-se a partir do final dos anos 50 na maior provedora de filmes de horror e suspense do mundo. Renovando os monstros clássicos (Drácula, Frankenstein, a múmia, etc) imortalizados pela Universal Pictures nas décadas de 30/40, os espertos empresários e seus contratados, acrescentaram cores, sangue e sensualidade no gênero, sem descuidar do clima gótico necessário. Foram revelados grandes diretores como Terence Fisher, Freddie Francis (posteriormente um premiado diretor de fotografia), Roy Ward Baker e uma dupla icônica de astros de terror de grande classe: Peter Cushing e Christopher Lee.

No começo dos anos 70, a produtora já havia experimentado quase todas as variações e novidades para manter o interesse do público em suas criações, e acrescentar mais violência e mais garotas peladas já não fazia diferença nas bilheterias. Procurando desesperadamente se adequar aos gostos e interesses de novos tempos, jovens executivos do estúdio tentaram então trazer um dos seus personagens de maior sucesso, o rei dos vampiros, Conde Drácula, para os dias atuais. “Dracula A.D. 1972” (“Drácula no Mundo da Minissaia”, 1972) de Alan Gibson, com roteiro de Don Hougton, trazia o vampiro de volta, em plena efervescência hippie londrina, ressuscitado por um descendente chamado Johnny Alucard e encontrando um neto de seu eterno inimigo Van Helsing (Peter Cushing). Divertido e estilizado, mesmo assim não fez sucesso e ainda foi uma afronta aos fãs mais radicais de Drácula (e ao próprio ator Christopher Lee) com suas gírias, rock psicodélico (da banda Stoneground) e roupas coloridas. A publicidade também é uma pérola: “O Conde Drácula é o Maior Sarro da Paróquia!”; “Essas quatro menininhas incrementadas fundem ainda mais a cuca do pobre conde.”

Sua continuação “The Satanic Rites of Dracula” (“Os Ritos Satânicos de Drácula”, 1973, lançado em DVD no Brasil pela London Films) da mesma dupla Gibson-Houghton, misturava horror, ação, espionagem e um plano de Drácula para destruir o mundo com uma bactéria mortal. O conde se esconde por trás da identidade de um poderoso industrial, é protegido por uma gang de motociclistas, e a Scotland Yard chama o especialista em cultos satânicos Lorrimer Van Helsing (Cushig) para dar uma mãozinha. Uma “salada de frutas” que foi divulgado primeiro com o incrível título de “Dracula is Dead and Well and Living in London” e demorou cinco nos para ser lançado na América do Norte (aonde é conhecido como “Dracula and his Vampire brides”). Algumas frases sugeridas para a publicidade nos cinemas: “Drácula está de volta com uma guarda de mulheres-vampiro!”, “O príncipe das trevas numa hedionda trama de horror!” e “Rituais de magia negra como nunca o cinema mostrou!”. O mal gera o mal no Sabá dos mortos-vivos!

Encontraram, então, no emergente gênero de filmes de artes marciais (sucesso mundial graças ao ídolo Bruce Lee) a “fórmula perfeita”: terror com Kung-Fu! (ou como diz a publicidade nacional da época “O Primeiro Filme de Caratê e Vampiro!”). A associação natural foi feita com os estúdios dos lendários Shaw Brothers, maiores produtores do gênero pancadaria de Hong Kong. “The Legend of the 7 Golden Vampires” (“ A Lenda dos Sete Vampiros”, 1974) de Roy Ward Baker, com roteiro do agora também co-produtor Don Houghton, colocava o Professor Van Helsing original (novamente e pela última vez vivido por Peter Cushing) combatendo seu nêmesis Drácula em solo oriental nos primeiros anos do século XX. Um dos problemas é que Christopher Lee, depois de ter vivido o vampiro sete vezes para a Hammer (e também em filmes espanhóis e italianos), estava muito descontente com a forma que sua criação clássica estava sendo utilizada e não queria mais vestir a capa preta e os caninos pontiagudos novamente. Foi então escalado o ator John Forbes-Robertson, ligeiramente parecido com Lee e com larga experiência teatral para assumir o posto. Na história, o monge chinês Kah (Chan Chen) faz uma longa viagem até uma parte remota da Europa para pedir ajuda ao poderoso Conde Drácula para restabelecer a força mística de seu templo maligno. Tempos depois, o velho professor Van Helsing é convidado por uma universidade chinesa para uma conferência sobre sua especialidade: o vampirismo. Um monge do bem (um dos veteranos astros do estúdio, David Chiang) convence o professor e seu filho Leyland a viajar para o interior do país, onde uma vila estaria sendo ameaçada por horrendas e putrefatas criaturas que ressurgem das tumbas. Estes mortos-vivos são escravos dos lendários Sete Vampiros Dourados, que andam a cavalo, e usam máscaras e espadas de ouro. Logo começam os embates entre os desmortos e o grupo de sete irmãos guerreiros escalados para proteger os Helsing e a linda Vanessa (Julie Ege) que os acompanha na aventura. Os heróis lutam Kung-Fu, é claro, e destroem as criaturas arrancando o coração de seus corpos apodrecidos. O que Van Helsing descobre é que seu velho inimigo Drácula está por trás de tudo, e incorporado no corpo do monge maligno, está associado com os vampiros chineses. Certamente uma das razões do conde passar grande parte do tempo sendo vivido por um ator chinês é que o Drácula de Forbes-Robertson, com sua maquiagem esverdeada e maneiras afetadas, é uma das piores encarnações do personagem na década. Os vampiros chineses e seus ajudantes zumbis são assustadores e as cenas de lutas (coreografadas por Liu Chia-Liang) bastante efetivas. Mas a direção de Roy Ward Baker perde a mão ao não conseguir misturar o estilo gótico da Hammer com a agitada ação coreografada típica dos irmãos Shaw. Além do roteiro preguiçoso de Houghton, soma-se o fato que grande parte do elenco e equipe técnica não entendia inglês (a maioria das cenas apenas com o elenco oriental foram dirigidas por Chia-Liang, que depois se revelaria um ótimo diretor de filmes de Kung-Fu legítimos), e o filme foi rodado sem som e dublado e re-dublado posteriormente. A Hammer chegou a lançar um disco de vinil com a narração da história por Peter Cushing com a trilha sonora de James Bernard, lançado como “The first Kung Fu horror sound track álbum”. Tudo em vão, pois apesar de ser um sucesso no oriente, a mistura original não foi bem recebida pela distribuidora Warner Brothers que só lançou o filme nos Estados Unidos seis anos depois, com vinte minutos a menos e com o título de “The Seven Brothers Meet Dracula”.

O produtor Michael Carreras pretendia rodar também no oriente um thriller policial moderno e uma nova aventura do Van Helsing de Cushing que se chamaria “Kali: Devil Bride of Dracula” (projeto bastante divulgado na época), mas o fracasso da produção cancelou a associação. David Chiang voltou a trabalhar com sua própria produtora de artes marciais; os Shaw Brothers continuaram com suas aventuras e, em busca de um sucessor de Bruce Lee, acertaram com seu primeiro terror genuinamente oriental , o gore e clássico “Black Magic” (“Magia Negra Oriental”, 1974) de Ho Meng-Hua . A Hammer tentaria uma nova abordagem e mirando no sucesso internacional de “O Exorcista” (1974) cometeriam “To the Devil a Daughter” (“Uma Filha para o Diabo”, 1976, lançado em DVD no Brasil pela Cult Classic) de Peter Sykes com Chistopher Lee e a linda e jovem Nastassja Kinski. Sendo que a única cena que é lembrada deste filme até hoje é um rápido strip tease da ninfeta vestida de freira, não é de estranhar que seria o último filme para o cinema da famosa “Casa do Horror” inglesa.

Escrito por Coffin Souza.

Material de divulgação que as distribuidoras enviavam para os cinemas:

Dracula AD 1972 (página 2).

Dracula AD 1972 (página 3).

Dracula AD 1972 (página 4).

Black Magic (página 2).

The Satanic Rites of Dracula (página 2).

The Satanic Rites of Dracula (página 3).

The Satanic Rites of Dracula (página 4).

Luchadores & Monstruos!!!

Posted in Cinema, Museu Coffin Souza with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 1, 2011 by canibuk

Se os americanos têm os super-heróis como Batman, Superman, Spiderman ou os X-Man; a Itália tem os forçudos Hércules, Maciste ou Golias (gênero chamado Peplum, aguardem); os Britânicos o super-espião James Bond, o Japão seus invencíveis samurais e super-heróis alienígenas como Ultraman, Spectreman, Jaspion e uma centena de outros, o que teria o México? Um país latino, fronteira turbulenta com uma das maiores economias do mundo, com uma herança perdida dos avançados Maias, catolicismo forçado, folclore riquíssimo e uma obsessão pela morte que beira a necrofilia; o México tem uma indústria cinematográfica que remonta ao ano de 1895, e que tomou força nos anos de 1960. O cinema de Gênero mexicano tem influência dos filmes de terror e aventura dos EUA, Itália e Inglaterra com um colorido típico, ingenuidade quase infantil e um molho caliente.

Um gênero altamente popular no México – e talvez o mais conhecido fora do país – é a “Lucha Libre”, ou filmes com heróis lutadores de ringue. As lutas profissionais foram introduzidas no país nos anos 30 pelo empresário Salvador Lutteroth, que importou da América do Norte o conceito de lutadores mascarados. A Lucha Libre se tornou um esporte bastante popular e os campeões profissionais verdadeiros ídolos da cultura em geral, tanto que até os partidos políticos mexicanos possuem seus luchadores com máscaras e cores específicas nos uniformes. A popularidade dos astros do ringue os levaram as histórias em quadrinhos e depois ao cinema, com uma diferença em relação aos super-heróis anglo saxônicos ou japoneses, o conceito de identidade secreta é levada ao extremo! Como escreveu David Wilt no seminal livro “MONDO MACABRO – Weird & Wonderful Cinema Around the World” (Pete Tombs, 1997): “Em sua forma pura, estes filmes apresentam um protagonista que é ao mesmo tempo lutador mascarado e super-herói combatente do crime… Se o playboy Bruce Wayne se transforma no Batman para combater o crime, El Santo, por exemplo, é sempre El Santo. Em seus filmes, histórias em quadrinhos e em sua carreira profissional, sua verdadeira identidade e aparência permanece um segredo fortemente guardado.”

O primeiro filme de Lucha Libre foi “Huracán Ramírez” (ou “La Bestia Magnifica”, Prodduciones Hidalgo, 1952), sobre dois irmãos que treinam para serem campeões nos ringue e um deles se volta para o mal. Com o sucesso de público, o muchacho Huracán vendeu seu nome e imagem (sua enfeitada máscara azul e branca) para os produtores e em filmes posteriores seria interpretado pelo também lutador David Silva. Do mesmo ano é o seriado “El Enmascarado de Plata” de René Cardona, com o lutador Medico Asesino enfrentando um cientista louco (também mascarado), baseado nos quadrinhos de El Santo. Existem muitas publicações que creditam este como o primeiro filme de Santo, o Mascarado de Prata, por causa da semelhança da máscara, mas depois do filme, o Medico Asesino teve que mudar a sua para uma totalmente branca. Mas afinal quem era El Santo ? Atenção! O que será contado a seguir permaneceu em segredo durante muitos anos… Santo nasceu 13 de setembro de 1915, em Turlancingo, uma pequena vila no estado de Hidalgo, México. Seu nome verdadeiro era Rodolfo Guzmán Huerta, descendente de indígenas mexicanos (como quase todos os luchadores) e começou sua carreira com o nome de Constantino, depois foi El Hombre Rojo e ainda El Murciélago Enmascarado II. Quando o verdadeiro Murciélago protestou pelo uso de seu nome, Rodolfo teve que procurar um novo nome e baseado na forte religiosidade mexicana virou o Santo. Depois que venceu seu primeiro campeonato nacional em 1942, Huerta defenderia o título até se retirar dos ringues no final da década seguinte pra se dedicar ao cinema, tornado-se uma lenda! Seus primeiros filmes foram rodados por razões econômicas em Cuba . ”Santo Contra Los Hombres Infernales” (ou “Cargamento Blanco”, 1958) e “Santo Contra El Cerebro Del Mal” (1958), ambos de Joselito Rodriguez, continham pouco dos elementos que mais tarde seriam seu sucesso; nenhuma cena de luta no ringue, nenhum elemento fantástico e mesmo El Santo aparecia muito brevemente.

Outro popular super-herói mexicano da época foi Neutron, vivido pelo ex-lutador Wolf Ruvinsksis e exibido internacionalmente (inclusive no Brasil, pela distribuidora especializada PelMex). Calcado fortemente nos modelos de heróis em quadrinhos mais tradicionais, Neutron é a identidade secreta do empresário Carlos Marquez, que para ajudar seu amigo, o jovem chefe de policia Alberto, se transforma no audaz mascarado para combater as ameaças do gênio criminoso Dr. Caronte (feito pelo também lutador Roberto Rodriguez, conhecido com sua máscara branca como Beto El Boticário!)l). Em “Neutron Contra El criminal Sádico” (“Neutron, O Mascarado Negro”, 1960); “Neutron Contra El Dr.Caronte”(1960) e “”Las Automatas de La Muerte” (1960), todos dirigidos por Federico Curiel (1917-1985), as aventuras envolvem o desenvolvimento de uma perigosa bomba de nêutrons e os autômatos criados pelo cientista para protegê-lo.

Então em 1961 foi rodado “Santo Contra Los Zombies” de Benito Alazraki, onde um vilão encapuzado trás criminosos de volta a vida e os domina por controle remoto. Santo é chamado pelas autoridades para ajudar e interrompe suas lutas para resolver o problema do seu jeito, ou seja, no soco! Estava criada uma mitologia, o lutador, que nos ringues nem sempre foi o “bonzinho”, fazendo mais o tipo que é conhecido lá por “rudo” (ou seja, um lutador vilão), agora era um esperto combatente do crime, com direito a laboratório, carros velozes e mocinhas apaixonadas. Nem todos os filmes do Santo e de outros lutadores mexicanos continham elementos de terror e ficção científica, mas foram estes os mais vistos, cultuados e de nosso interesse. Santo começou esta época uma carreira internacional e em muitos países ganhou um novo nome: nos EUA foi chamado “Samson”, na Alemanha Superheld (Super-herói), na Itália “Argos” e na França “Superman”! Em “Santo em El Hotel de La Muerte” (1961) de Federico Curiel (1917-1985), onde um assassino mascarado chamado Professor Corbera, assassina mulheres no antigo Hotel Vasco, Santo é apenas coadjuvante para a dupla Casanova & Boticario e só aparece na segunda metade do filme. Já em “Santo Contra El Cerebro Diabolico” (1962) de Federico Curiel, ele enfrenta o criminoso La sombra Negra, que para se apossar de uma mina de ouro, contrata um cientista que constrói oponentes para Santo à lá Frankenstein, com pedaços de corpos humanos. Um grande sucesso foi “Santo Contra Las Mujeres Vampiro” (“Santo Enfrenta as Mulheres Vampiro”, 1962) de Alfonso Corona Blake (1919-1999), com as deliciosas mexicanas Lorena Velazquez (Maria de La Concepción Lorena Villar Dondé, 1937) e Maria Duvall (Maria Dussange Ortiz, 1939), entre outras vampiresas que procuram uma nova rainha e descobrem que El Santo é o descendente do homem mascarado que derrotara seu culto sangrento a 200 anos.

O sucesso da fórmula levou a uma crescente multiplicação de similares que tiveram vida curta. O heróico Tormenta apareceu em “Señor Tormenta” (1962) e em “Tormenta Em El Ring” (1962); “La Sombra Blanca” (1963) foi a única aparição deste herói, assim como Gold Mask, El Enmascarado de Oro que sumiu após “El Asesino invisible” de 1963. Esperto foi o diretor René Cardona, que junto com o roteirista Alfredo Salazar decidiram dar uma “apimentada” no gênero e colocar “unas chicas” em uniformes apertados para enfrentarem monstros e cientistas malévolos. A bela Lorena Velazquez e a muito gostosa Elizabeth Campbell estrelaram “Las Luchadoras Vs. El Medico Asesino” (no Brasil “Gomar, O Monstro Assassino”, 1962) de René Cardona (1906-1988), onde um médico doido tenta transplantar um cérebro humano para o corpo de um gorila, auxiliado por Gomar, meio homem-meio macaco, fruto de uma experiência anterior. Gloria Vênus (a ex-miss México Velazquez) e sua parceira nos ringues Golden Ruby (Campbell) fizeram sucesso e retornaram em “Las Luchadoras Contra La Momia” (1964) de René Cardona, agora para combaterem a múmia rediviva da princesa asteca Xochitl que possuía o poder de se transformar em cobra ou em morcego, além de uma dupla de perigosas lutadoras de artes marciais japonesas. O filme foi um enorme sucesso na TV americana, exibido dezenas de vezes em sessões noturnas e as Luchadoras voltariam para mais aventuras anos depois.

Enquanto isto, Santo continuava suas atividades, agora envolvido com uma versão mexicana do Fantasma da Ópera. Em “Santo Contra El Estrangulador” (“Santo enfrenta o Estrangulador de Mulheres”, 1963) e “Santo Contra El Espectro Del Estrangulador” (“Santo enfrenta o Fantasma Assassino”, 1963) ambos de Alfonso Corona Blake, um ilusionista maníaco, estrangula várias beldades do Teatro de Variedades para se vingar de uma vedete que lhe deformara o rosto (Conheci o personagem Santo, quando assisti estes dois filmes em seqüencia numa reprise de um cinema pulgueira do bairro em que morava em Porto Alegre quando criança, imaginem o impacto para um “piá” de 12 anos ver esta combinação de terror, luta livre e mulheres gostosas em perigo!). Já em “Santo Em El Museo De Cera” (“Santo contra os Monstros do Museu de Cera”, 1963) do mesmo Corona Blake, nosso herói enfrenta vários monstros clássicos (Frankenstein, Quasímodo, Yeti, o Fantasma da Ópera, Barbazul) que na verdade são pessoas comuns transformadas e manipuladas pelo maligno Dr. Karol através de injeções de uma droga experimental. Santo foi chamado para dar uma força no lançamento de outro lutador popular (e oponente seu nos ringues) chamado Blue Demon. Alejandro Muñoz Moreno (22/04/1922), já havia estrelado seu primeiro filme “Blue Demon El Demonio Azul” (1963) de Chano Urueta (1904-1979) onde enfrentava um lutador transformado em lobisomem por um cientista, mas apesar da direção do criativo Urueta (“El Barón Del Terror”), a produção não chamara a atenção. Assim, em “Blue demon Vs. El Poder Satanico” (1964) de Chano Urueta, Blue, além de enfrentar um misterioso inimigo com poderes sobrenaturais, é envolvido na morte de um oponente durante uma luta. Numa participação relâmpago, El Santo entra no camarim de Blue Demon para elogiá-lo e prometer ajuda no combate ao crime. O público adorou ver o santo e o demônio juntos e foi estabelecida uma duradoura parceria. O mesmo ano marca o aparecimento da figura gigante de Mil Máscaras (Aaron Rodriguez Arellano, São Luis Potosí – 15/07/1942), fisiculturista, Mister México 1961 e participante da Olimpíada de Tóquio de 64. Mais jovem que seus colegas, Rodriguez queria ser toreador, até que assistiu uma luta com El Santo e criou sua persona para os ringues. Diferente dos outros enmascarados, ele não tinha uma máscara fixa, e sim dezenas de modelos e cores, mantendo apenas uma letra M estilizada gravada na testa. Ele também não costumava utilizar suas máscaras em público, como contou em uma entrevista para David J.Schow na revista Fangoria #148: “Quando eu vestia minha máscara, eu era o Mil Máscaras, mas quando eu a tirava, eu me transformava no empresário do Mil Máscaras!”. As primeiras aventuras do novo herói foram contra inimigos normais, em “Mil Mascaras” (1964) ele combate um bando criminoso liderado por um lutador, e em “Los Canallas” (“Anjos Infernais”, 1965) de Federico Curiel, uma gang de jovens motoqueiros delinqüentes. Aaron nunca foi fã dos diretores de cinema, que reclama gostavam de abusar e explorar os atores: “Eu acho muito mais fácil enfrentar uma platéia de 20.000 pessoas em uma arena de luta que um diretor de filmes.” (Fangoria Magazine).

Mas a busca por novos personagens (e bilheteria) continuava. O malandro Alfredo B.Crevenna (1914-1996), aproveitando a anunciada associação de Santo & Blue Demon, criou sua dupla de lutadores “místicos”, Karloff Lagarde (!?) com sua máscara vermelha com chamas saindo de uma letra S, virou Satã, seu companheiro René “Copetes” Guajardo com um A com asas (cópia do símbolo do Capitão América) e máscara azul… o Anjo! Os dois apareceram em “Los Endemoniados Del Ring” (“Os Demônios do Ringue”, l964) e em “Mano Que Aprieta” (1964). Outra tentativa foi feita pela dupla René Cardona /Abel Salazar em “Las Mujeres Pantera” (“O Anjo enfrenta as Mulheres Pantera” (1965), agora as Luchadoras encaram uma seita Druida com muchachas que são metade panteras (ecos de Cat People, de Val lewton) e são auxiliadas pelo misterioso lutador El Angel, que não é o mesmo da dupla anterior, nem o homônimo que fez uma participação no antigo terror “La Maldición de La Momia azteca” (1957), escrito por Salazar!

O sempre muito ocupado Mascarado de Prata nem tinha tempo para se preocupar com imitadores, já que enfrentava feiticeiras em “Santo em Atacan Las Brujas” (1964); ladrões de cadáveres em “Profanadores de Tumbas” (1965) e um clone do conde Drácula em “Santo Contra El Barón Brakola” (1965), todos de José Dias Morales. Então, de repente, os inimigos começaram a chegar do espaço! “Santo Contra La Invasión de Los Marcianos” (“Santo Combate os Marcianos”, 1966) de Alfredo B. Crevenna, um dos filmes mais populares (e Trash) do herói, o coloca enfrentando alienígenas altos, sarados, loiros, que praticam luta-livre e estão armados com um raio mortal que disparam de seus “olhos Astrais” (dispositivo na ridícula touca que usam ao invés de capacetes espaciais). Descontando que metade do tempo do filme são cenas de arquivo de lutas nos ringues, o que sobra da bagaceirada mexicana é realmente muito divertido. O Demônio Azul também se enfrentou com alienígenas no surpreendente “Arañas Infernales” (1966) de Federico Curiel. Quando os habitantes de um planeta habitado por avançada espécime de aracnídeos vê sua rainha definhar por falta de seu alimento principal, ou seja, cérebros, eles assumem a forma humana e passam a caçar na terra, em busca de um exemplar avançado para saciá-la. Não é que o lutador Blue Demon possui exatamente o cardápio da aranha gigante? Depois de ver seus primeiros emissários serem despachados a porradas, a gostosa líder da expedição manda chamar do distante planeta seu príncipe, que além de muito forte, tem a habilidade de transformar sua mão direita em uma aranha venenosa para enfrentar Blue no ringue. No final, graças a seu cérebro privilegiado, o lutador consegue manipular os intrincados instrumentos da nave extraterrestre, mandando os monstros literalmente para o espaço.

Em 1967 o produtor Luis Enrique Vergara (1939-2011) contratou o veterano astro de filmes de terror americano John Carradine (1906-1988) para estrelar uma série de produções chicanas, duas delas veículos para o lutador Mil Máscaras. A primeira, “Enigma de La Muerte” (na TV: ”Enigma da Morte”, 1967) de Federico Curiel é um drama de suspense que se passa em um circo e envolve um grupo de neo-nazistas liderados por um palhaço (Carradine), já “Las Vampiras” (1967) de Curiel, coloca Mil Máscaras tentando destruir um covil de mulheres sanguessugas, tão cruéis que mantêm seu líder original o Conde Drácula (Carradine), velho e enfraquecido, preso a uma jaula. O famoso conde, no entanto estava em plena forma ao ser vivido pelo galã de telenovelas vindo da Itália, Aldo Monti (1929) em “Santo Y El Tesoro de Dracula” (“Santo contra o Drácula”, 1967) de René Cardona. Quando o físico Dr. Sepúlveda inventa uma máquina do tempo e viaja nela com sua filha, acabam se encontrando com o famigerado rei dos vampiros. Salvos por Santo, eles precisam então encontrar o tesouro de Drácula nos dias de hoje para acabar com seu poder maligno. Uma versão do filme com mais cenas de sexo e nudez foi lançada para o mercado europeu como “El Vampiro Y El Sexo”. Finalmente a parceria tão esperada tem início, “Santo Contra Blue Demon em La Atlantida” (“Santo Desafia os Demônios da Atlântida”, 1968) de Julian Sóler é uma ventura de ficção científica, onde o vilão Aquiles, líder do reino perdido de Atlântida, pretende destruir o mundo e tem que enfrentar o super agente secreto X21, nada mais nada menos que El Santo, em novos tempos posando de James Bond latino. Através de poderes hipnóticos, o vilão imortal, domina Blue Demon e o lança contra seu amigo (situação repetida em outros filmes da dupla, para poderem trocar uns sopapos como na época dos ringues), mas claro que no final a justiça prevalece. Para resolver a questão dos complicados cenários futuristas da cidade perdida, o produtor Jesus Sotomayor roubou uma grande quantidade de cenas do filme japonês “Kaiju Daisenso” (1965) de Ishiro Honda, que era mais uma das aventuras do monstro Gojira e seus amigos, mas teve a honradez de incluir o nome de Eiji Tsuburaya nos créditos como responsável pelos efeitos especiais. “Santo y Blue demon en el Mundo de los Muertos” (“Santo no Mundo dos Mortos”, 1968) de Gilberto Martinez Solares (1906-1997), começa na idade média, onde a serviço da inquisição, o Cavaleiro Mascarado de Prata destrói a poderosa bruxa Dona Damiana. No séc. XX, Santo, é claro, é o descendente direto do tal cavaleiro, e a feiticeira reencarna na deliciosa Alisia (Pilar Pellicer) que conclama um exército de zumbis chamados Insepultos. Blue Demon dá uma mãozinha para resolver o imbróglio macabro.

René Cardona trás de volta Las Luchadoras para mais dois épicos, agora com um elenco diferente de chicas calientes. Em Las Luchadoras Contra El Robot Asesino” (“O Louco Criador de Monstros”, 1968), Regina Thorne (Gaby) e Malu Reyes (Gema) enfrentam a ameaça do Dr.Orlak, que além de construir um andróde perigoso, também domina um zumbi deformado chamado Karfax. “La Horripilante Bestia Humana” (“Gomar, o Homem Gorila”, 1968) também conhecido como “Horror Y Sexo”, fez fama internacional por juntar exatamente estes dois elementos: muitas garotas nuas e cenas gore de transplantes. O eminente cirurgião Dr. Krauman tenta salvar a vida de seu filho que sofre de leucemia lhe transplantando o coração de uma lutadora e lhe fazendo uma transfusão do sangue de um gorila. O rapaz recupera a saúde, mas se transforma em um monstro meio símio (que a tradução nacional faz pensar ser o mesmo Gomar, criado em 1962) e comete vários assassinatos, sendo despachado por uma saraivada de balas da polícia. Ah, sim! Também existe uma luchadora mascarada (Norma Nazareno), mas ela pouco faz além de lutar no ringue e ajudar seu noivo, o policial encarregado do caso.

A reunião de vários monstros clássicos em um mesmo filme como fez a Universal no final do seu ciclo de Terror nos anos 40, foi sempre uma grande inspiração para o cinema fantástico mexicano. Várias comédias, filmes infantis (existe até um “Chapéuzinho Vermelho e Pequeno Polegar contra os Monstros”!!?) e é claro “Santo Y Blue Demon Contra Los Monstruos” (“Santo Contra os Monstros de Frankenstein”, 1969) de Gilberto Martinez Solares. Um cientista louco (mais um…) é revivido por seu assistente anão e trás de volta um monstro de Franquestein (escrito assim mesmo…) bigodudo, um lobisomem negro, Drácula (e duas vampiras), uma múmia, um alienígena cabeçudo (que originalmente apareceu no clássico mexicano “La Nave de los Monstruos“), um ciclope e um quarteto de zumbis. Como mesmo assim ele não consegue enfrentar o intrépido mascarado de prata, ele cria ainda um clone de Blue Demon sob seu comando! Nesta época os filmes de lucha libra em geral passaram a conter mais elementos “adultos” em sua iconografia, apesar dos argumentos ingênuos e em grande parte das vezes reciclado. “Santo Em La Venganza de las Mujeres Vampiro” (“Santo Desafia a Maldição das Mulheres Vampiro”, 1969) de Federico Curiel, aposta no sex appeal das vampiras lideradas pela bela Gina Romand, mas é basicamente uma versão revisada de “Santo em Atacan Las Brujas” de 1964. O cientista louco Dr.Brancor revive a condessa vampiro Mayra (Romand), que pretende destruir Santo, por ele ser o descendente do guerreiro que empalou seus ancestrais na Transilvânia em 1630. Além dela recrutar um exército de vampiras e vampiros, o Dr. ainda dá uma forcinha criando um monstro à lá Frankenstein chamado Razos. Troca-se vampiras por bruxas e o monstro por um demônio, e o roteiro é o mesmo! Mas mesmo assim Curiel caprichou na ambientação e em detalhes, tentando reviver o clima mais gótico das primeiras aventuras em preto & branco do herói. Como a expressão “correção política” ainda não existia nesta época, a próxima aventura acabou sendo uma das mais absurdamente incorretas do mascarado. Em “Santo Contra Los Jinetes Del Terror” (1969) de René Cardona, com roteiro e idéias do também lutador Jesus Velásquez (El Murciélago), a história se passa no sec. XIX, onde um grupo de leprosos foge de um sanatório e se tornam criminosos, roubando e estuprando a população local. Santo, posando de cowboy, mete socos e balas nos leprosos! Para piorar ainda foi rodada uma versão mais Hard, aumentando as cenas dos doentes com garotas nuas chamada “Los Leprosos y El Saxo”.

As múmias sempre estiveram presentes no fantástico mexicano desde os anos 50. “Santo em La venganza de La Momia” (1970) de René Cardona foi uma das minhas maiores decepções quando o assisti em uma das várias reprises no extinto Cinema Rosário (meu grande templo de tranqueiras quando jovem) em Porto Alegre. Uma aventura nas selvas, com intermináveis caminhadas, uma múmia com uma máscara de papier maché e vestida em farrapos e que no final se revela uma farsa. Já “Las Momias de Guanajuato” (1970) de Federico Curiel é pura diversão e foi um sucesso em uma época em que o gênero já estava decaindo. Guanajuato é uma pequena cidade na parte central do México, fundada durante a época colonial. Devido a certas particularidades do solo e do ar local, muitos corpos enterrados lá sofreram um processo natural de mumificação e são expostas até hoje em um visitado museu. Isto é um fato real, já na ficção, os corpos desidratados e rígidos voltam misteriosamente à vida e passam a atacar os locais e turistas. Blue Demon e Mil Máscaras juntos, tentam de todo o jeito conter a invasão dos cadáveres, até que quando tudo parece perdido, surge El Santo nos últimos minutos e armado de uma pequena e moderna pistola de raios incendeia os monstros.

A reunião de vários heróis em uma mesma aventura inspirou o produtor Rogélio Agrasánchez a criar o grupo “Los Campeones Justicieros” (1970) de Federico Curiel, onde para enfrentar o super-vilão Mano Negra, se reúnem: Mil Máscaras, Blue Demon, El Medico Asesino, Sombra Vengadora e Tinieblas – EL Gigante (Manuel Leal, 1939, que não era lutador de verdade, apenas ator). Na seqüencia, “Vulven Los Campeones Justicieros” (1972) de Curiel, rodado na Guatemala, Blue & Mil Máscaras são auxiliados por Rayo de Jalisco, Fantasma Blanco e El Avispón, ao enfrentarem mais um cientista demente (deveria haver um em cada esquina do México!) que cria uma raça de homens-ratos poderosos (anões fantasiados).

René Cardona inventou uma versão chicana de “A Noite dos Mortos Vivos” que começou a rodar com o famoso mágico escapista e especialista em artes marciais Zovék (Francisco Javier Chapa Del Bosque). No meio das filmagens o mágico morreu em um acidente automobilístico e a solução foi editar cenas não aproveitadas com Blue Demon e fazer “Blue Demon y Zovék en La Invasión de los Muertos” (1971). O resultado não podia ser uma bagunça maior, enquanto as criaturas revividas por um meteoro radioativo enfrentadas pelo afetado mágico parecem mesmo zumbis, os monstros que Blue combate são nitidamente vampiros e homens-lobo! Nitidamente melhor é “Santo Contra La Hija de Frankenstein” (“Santo Contra a Filha de Frankenstein”, 1971) de Miguel M. Delgado, onde Gina Romand vive a cientista que se mantêm jovem graças ao sangue de mulheres. Ela cria um homem-gorila chamado Truxon (o brutamontes Gerardo Zepeda) para conseguir o sangue “poderoso” de Santo. O mascarado, que no começo havia vencido o monstro original chamado Ursus (Zepeda também), consegue a ajuda da criatura para destruir a nova criação e sua mestre. Blue Demon voltou a fazer parceria com Santo para enfrentar seus inimigos mais tradicionais e perigosos em “Santo y Blue demon Contra Dracula y El Hombre Lobo” (1972) de Miguel M. Delgado, onde um corcunda revive o conde (Aldo Monti) e o lobisomem Rufus (que usa uma camisa de seda amarelo-ouro!).

O sucesso de “Las Momias de Guanajuato” gerou uma série dos Studios Agrasanchez, que começou com “El Robo de las Momias de Guanajuato” (1972) de Tito Navarro, seguiu com “El Castillo de las Momias de Guanajuato” (1973) de Julian Sóler; “Las Momias de San Angel” (1973) de Arturo Matinez; “Leyendas Macabras de La Colonia” (1973) de Arturo Martinez e “La Mansion de las Siete Momias” (1975) de Rafael Lanuza, sempre com um mix pouco variável de heróis mascarados de segunda linha, liderados por Mil Máscaras, com exceção do último estrelado por Blue Demon e Superzán (Alfonso Mora Veyta (?-2006). Um detalhe curioso nas produções made in Agrasanchez é a presença constante de vários anões em papéis de vilões. Aparentemente, no México, os baixinhos sempre foram considerados “sinistros” e em toda a longa filmografia do gênero fantástico sempre estiveram ativos provocando sustos e risos. Mas neste caso específico estas participações tomaram rumos totalmente Trash, como em “Los Vampiros de Coyacán” (1973) de Arturo Martinez, onde Mil Máscaras e Superzán (este herói foi criado para o cinema e diferia de seus amigos luchadores por ter uma “origem alienígena”) enfrentavam um Barão vampiro, seus dois filhos vampiros afeminados e seus assistentes vampiros-anões!

Esta época começou o rápido colapso dos filmes de heróis-lutadores, com o público cansado das convenções e clichês do gênero, mesmo assim, muitos ainda seriam produzidos no México ou na Turquia! (!?!). “Üç Dev Adam” (“Three Mighty Men”, 1973) de T.Fikret Uçak, mostra como El Santo (Yavuz Selekman) e o Capitão América (Deniz Erkanat) são chamados em Istanbul para combater o terrível vilão… o Homem-Aranha! O cinema turco, possivelmente o mais trash do mundo, sempre foi pródigo em produzir suas versões não autorizadas de filmes e personagens de sucesso estrangeiros. Tarzan, Zorro, James Bond, Bat-Girl, E.T., “Star Wars”, “Star Trek”, entre muitos, foram canibalizados pelos turcos, graças a suas leis que não respeitam direitos autorais. Assim o Mascarado de Prata acabou na Turquia em uma aventura que mistura muita pancadaria com cenas de legítimo Splatter.

Em casa os heróis legítimos continuam com seus problemas com uma certa família de fazedores de monstros. Em “Santo y Blue Demon Contra El Dr. Frankenstein” (1973) de Miguel M. Delgado, a dupla de mascarados enfrenta um casal de monstros criados por um descendente do seminal médico louco. É mais do mesmo, mas uma participação no elenco tem destaque: o assistente bigodudo do cientista, vivido por Rúben Aguirre (1934-2011). Quem? Ora, apreciadores da cultura popular mexicana, o célebre “Professor Girafales” da trupe imortal da Turma do Chaves! E ele se sai bem no papel vilanesco, tanto que fez mais uma participação em “Santo Contra El Dr. Muerte” (1974) de Rafael Romero Marchen, onde um dos mais exóticos cientistas loucos de todos os tempos utiliza um soro extraído a partir de tumores induzidos em jovens mulheres para fazer falsificações perfeitas de pinturas famosas. Seguiram-se várias aventuras com El Santo contra mafiosos, lutadores de Karatê e até figuras macabro-mitológicas mexicanas como “La Llorona”, mas além da decadência do gênero, Rodolfo Huerta já tinha esta época, quase 60 anos. Portanto, existe fundamento nas teorias que afirmam, que sem o público perceber, Huerta se retirou das telas, mas foi substituído atrás da máscara primeiro por Eric Del Castillo e depois por seu próprio filho Jorge Guzmán. Em 1981, os filmes com mascarados forçudos já não eram mais mania, mas nunca eram esquecidos. Uma tentativa de renovação de gerações começou com o lançamento de “Chanoc y El Hijo Del Santo Contra los Vampiros Asesinos” de Rafael Perez Grovas. Chanoc era outro personagem popular em aventuras fantásticas do país, era uma espécie de Jim das Selvas chicano, criado pelo diretor Rogélio Gonzales em 1966, sem máscara e interpretado por atores variados, o mais duradouro Nelson Velásquez atuando aqui ao lado de Jorge Guzmán, oficialmente o filho do Santo (em uma trivia obrigatória, consta informar que em cinco filmes com Chanoc, ouve a participação em papéis variados de outro conhecido do público brasileiro, Ramón Valdéz- 1923-1988, o “Seu Madruga”). El Hijo chegou a contracenar com Mil Máscaras em “El Hijo Del Santo en La Frontera Sin Ley” (1983) de Rafael Péres Grovas, mas em fevereiro de 1984, após uma apresentação ao vivo, Rodolfo Guzmán Huerta sentiu-se mal e teve um ataque cardíaco. O herói que sobreviveu a todo o tipo de monstros e vilões por décadas, foi vítima de seu coração e faleceu. Assim como Bela Lugosi exigiu em testamento ser enterrado com a capa que usara em “Drácula”, El Santo foi velado e enterrado com sua máscara prateada como queria, e um cortejo de milhares de fãs tomaram as ruas da cidade do México para suas últimas homenagens ao atlético herói nacional.

Além de seu filho, outros lutadores tentaram preencher o vácuo da morte de El santo: Octágon, Atlantis, Máscara Sagrada, Canek e mesmo Blue Demon Jr., sem sucesso. No drama policial passado no mundo das lutas chamado “La Llave Mortal” (1990) de Francisco Guerrero, Mil Máscaras contracena com seu irmão, o Dos Caras e também com Blue Demon Jr e Black Shadow Jr enfrentando um mestre em artes marciais criminoso, numa verdadeira empreitada familiar. “Santo La Leyenda Del Enmascarado de Plata” (1993) do diretor/roteirista Gilberto de Anda não é como o título sugere uma biografia do lutador, mas um melodrama sobre o problema dos sem- terra mexicanos, que sem o PT, contam com ajuda de El Hijo Del Santo, Blue Panther Jr., Espanto Jr e o ator Daniel Garcia fazendo uma participação especial como o próprio El Santo. Tentando se adaptar aos novos tempos e aos efeitos digitais no lugar dos monstros e cenários de papier maché, “Infraterrestrial” (2000), de Hector Molinar, começa com El Santo passando sua máscara para seu filho. Logo, o novo Santo descobre uma conspiração de uma raça de répteis alienígenas que planejam invadir a terra. Eles criam uma réplica robot do lutador Blue Panther e, auxiliado por alta tecnologia (incluindo um ridículo carro voador em precário CGI), o herói faz juz ao seu legado e despacha os monstruosos invasores. Em 16 de Dezembro de 2000 morre Blue Demon. Em 2007 morre Alejandro Cruz, o Black Shadow. Em 1948, os dois Alejandros (Cruz e Munõz Moreno) criaram para os ringues a dupla Los Hermanos Shadow. Em 1956, Black Shadow apareceu como ele mesmo no clássico terror “Ladrón de Cadáveres” de Fernando Mendez, uma das mais antigas participações de luchadores enmascarados em filmes de horror. Mesmo tendo criado seu personagem próprio e fazendo sucesso, Blue Demon nunca esqueceu seu hermano dos ringues, e Alejandro Cruz fez várias participações em seus filmes. Assim como El santo, que nunca expunha seu nome verdadeiro, Blue Demon também o fazia. Como em muitos de seus filmes aparecia o nome de Alejandro Cruz, muitos pesquisadores e publicações divulgaram por anos a fio, seu nome como sendo o do homem atrás da máscara azul (Fangoria, Aurum Film Encyclopedia, The Illustrated Werewolf, Vampire, Frankenstein Movie Guide e outros), e eu mesmo tenho uma grande parte de minha pesquisa mais antiga com este erro. Agora reparado, graças às preciosas informações do site oficial em memória do lutador, mantido por Blue Demon Jr.

Mil Máscaras continua vivo e ativo. Cultuado dentro e fora do México, principalmente no Japão, onde possui uma legião de fãs desde os anos 60. No ano de 2001 o diretor independente Lee Demarbre realizou o divertido “Jesus Christ Vampire Hunter” onde uma referência ao Santo (creditado no IMDB como “Santo – El Enmascarado de Plata) ajuda Jesus Cristo em pessoa à derrotar hordas de vampiros. Em 2005, o diretor americano Jeff Burr rodou “Mil Mascaras Vs. The Aztec Mummy”, uma tentativa de reviver o gênero com o próprio lutador veterano em ação contra uma das lendas do horror mexicano. Melhor se saiu Jared Hess com a comédia “Nacho Libre” (2008), onde um cozinheiro de um monastério no interior do México (o balofo Jack Black) sonha em ser um lutador mascarado de sucesso, ajudar os órfãos que alimenta e conquistar o coração de uma linda freirinha. Rodado em locações verdadeiras e com grande participação de diversos luchadores atuais, é uma homenagem e sátira ao mesmo tempo, e de grande sucesso internacional. Já o terror americano “Wrestlemaniac” (“O Homem Mascarado”, 2008) utilizou o campeão de lutas Rey Mistério para fazer uma espécie de “Jason com máscara de pano”, decepcionante. Uma breve homenagem aos heróis mexicanos aparece em “Vadias do Sexo Sangrento” (2008) de Petter Baiestorf, a personagem Mirza (Lane ABC), utiliza em duas cenas uma réplica de uma das centenas de máscaras de Mil Máscaras, adquirida no México e emprestada pelo fã do gênero Carlos de Anda.

Em tempos de super-heróis digitais e vampiros e lobisomens delicados, todos os músculos e pancadarias coreografadas nos filmes de Lucha Libre parecem anacrônicos. Assim como seus monstros falsos, vampiras gostosas e cientistas bigodudos. Por isso mesmo é um refresco para a cabeça voltar ao tempo em que heróis eram de carne e ossos… e máscaras (E olha que eu nem falei sobre El Zorro Escarlata, El Látigo Negro, Rocambole, El Charro de Las Calaveras, La Mujer Murciélago, Los Jaguares, Leones Del Ring, Fantasma Negro…).

Pesquisa e texto de Coffin Souza.

Batman Dracula

Posted in Fan Film with tags , , , , , on julho 30, 2011 by canibuk

“Batman Dracula” (1964, 3 min.) de Andy Warhol. Com: Jack Smith, Taylor Mead e grande elenco de adoráveis chapados.

Assista uma parte do filme no link abaixo:

“Batman Dracula” é um Fan Film, filme de fã, produzido nos anos de 1960 pelo artista Andy Warhol sem autorização da DC Comics e conta, no seu elenco, com a colaboração do lendário cineasta underground Jack Smith, o homem que influenciou John Waters à se tornar cineasta, o artista que realizou os clássicos do cinema obscuro “Flaming Creatures” e “Normal Love”.

“Batman Dracula” era considerado um filme perdido, até que alguns anos atrás o documentário “Jack Smith and the Destruction of Atlantis” (2006) provou o contrário. Já seu diretor/produtor, Andy Warhol, é um grande nome da POP ART mundial e cineasta underground responsável por todo tipo de experiência cinematográfica que, creio, dispensa maiores apresentações. Warhol legou ao mundo maravilhas como “Lonesome Cowboys” (com os cowboys mais gays da história do cinema), “Flesh for Frankenstein”, “Andy Warhol’s Dracula”, “Mario Banana”, “Bitch”, e muito outros, a maioria feitos em parceria com o, também genial, cineasta Paul Morrissey.

Para ver mais, siga este link abaixo: