Arquivo para euro horror

Torremolinos 73

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 22, 2012 by canibuk

“Torremolinos 73” (“Da Cama Para a Fama”, 2003, 91 min.) de Pablo Berger. Com: Javier Cámara, Candela Peña e Juan Diego.

Este filme é uma bela surpresa para qualquer cinéfilo. Tinha visto ele na época de seu lançamento em DVD aqui no Brasil, com o equivocado título nacional de “Da Cama para a Fama” (coisas da distribuidora Imagem Filmes, que nunca teve grande criatividade para títulos, nem capinhas, e nunca soube muito bem como vender seus produtos para o público certo), e alguns dias atrás revi este pequeno grande filme e continuei achando empolgante e digno de indicação.

“Torremolinos 73” conta a história de Alfredo López (Javier Cámara), vendedor de enciclopédias de porta em porta, que está com problemas em casa: Não entra dinheiro e sua esposa Carmen (Candela Peña) está querendo um filho. Ao ser chamado por seu patrão para uma reunião, Alfredo teme pelo pior. Mas não, eis que surge a oportunidade dele ingressar no maravilhoso mundo do cinema com produções eróticas em Super 8 para serem encartadas numa enciclopédia audiovisual sobre a reprodução humana. Com sua esposa sendo sua atriz-musa inspiradora, nosso aspirante a cineasta começa a fazer vários curtas pornográficos e finalmente o dinheiro começa a entrar em sua vida. Estuda técnicas e iluminações possíveis para o Super 8 e de filme em filme vai evoluindo e caindo nas graças de seu patrão mercenário. Ao mesmo tempo que Alfredo se encanta com as possibilidades do cinema, Carmen fica mais frustrada por não conseguir engravidar (numa linda comparação entre cinema-filhos). É significativo a cena em que Alfredo vai se masturbar no banheiro de um hospital para colher seu esperma para exames – onde a contagem de seu esperma é zero – e ali, se masturbando solitário com uma foto da esposa, ele concebe a idéia para o roteiro de seu primeiro longa, intitulado “Torremolinos 73”.

Alfredo López é fanático pela obra de Ingmar Bergman, mas filma como se fosse Jesus Franco. Essa relação entre Bergman-Franco fica ainda mais óbvia quando a produção de “Torremolinos 73” tem início. Filmado no inverno na cidade de Torremolinos (município turístico banhado pelas água do Mediterrâneo), portanto quase uma cidade fantasma. Alfredo e sua pequena e dedicada equipe-técnica (composta de dinamarqueses que não falam espanhol) vão criando uma homenagem à “Det Sjunde Inseglet/O Sétimo Selo”, com cara de “Macumba Sexual”, que fala sobre sexo, desejo e morte, com momentos do mais puro horror acidentalmente surrealista de Franco. Arte e lixo andam de mãos dadas! Não posso revelar o final, mas basta dizer que numa seqüência chave Alfredo consegue finalizar seu filme e Carmen consegue realizar seu sonho de engravidar. Aliás, Alfredo e Carmen são Jesus e Lina!!!

Ernst Ingmar Bergman (1918-2007) nasceu na Suécia e começou a trabalhar no cinema em 1941 como roteirista. Em 1957 surpreendeu o mundo ao lançar, com apenas 10 meses de intervalo, dois clássicos do cinema mundial, “Det Sjunde Inseglet/O Sétimo Selo” e “Smultronstället/Morangos Silvestres”, filmes eternamente copiados por cineastas acadêmicos sem imaginação ou inventividade. Com uma sucessão incrível de filmes excepcionais, muitos deles explorando a fé e a existência de Deus (o pai de Bergman era um luterano fanático, simpatizante do nazismo, que foi ministro do rei da Suécia), em 1966 escreveu e dirigiu “Persona”, filme que ele considerava sua obra-prima. Em 1976 foi preso por sonegação de impostos e jurou que nunca mais faria um filme na Suécia, promessa quebrada em 1982 quando voltou ao seu país de origem para dirigir “Fanny Och Alexandre”. Bergman é adorado tanto por acadêmicos chatos quanto por trashmaníacos descolados.

Jesús Franco Manera (1930) é o principal cineasta ativo na Espanha (gente como Almodóvar, Iglesia ou Segura, me desculpem, vem depois), um gênio dos filmes de baixo-orçamento nunca reconhecido em seu próprio país. Fez filmes de tudo quanto é gênero e ganhou destaque internacional com seus filmes de horror entrelados por suas deliciosas mulheres, primeiro Soledad Miranda, depois a deusa Lina Romay. Dirigiu mais de 200 longa-metragens (neste ano de 2012, por exemplo, já lançou “La Cripta de las Condenadas” parte 1 e 2 e agora trabalha na pós-produção de “Al Pereira Vs. The Alligator Ladies” e 2012 ainda tem mais quatro meses). Você até pode odiar o cinema de Jesus Franco, mas nunca poderá fugir de suas produções. Aqui no Brasil inúmeros clássicos do mestre espanhol estão sendo laçandos em DVD pela distribuidora Vinny com o abusivo preço de R$ 40.00, em média, cada! Jesus Franco nunca foi preso por sonegação de impostos e seu pai não foi ministro do ditador generalíssimo Francisco Franco.

Pablo Berger (1963) nasceu em Bilbao, Espanha, e se tornou jornalista e, logo depois, publicitário. Em 1988 lançou o genial curta-metragem “Mamá” (que trazia como diretor artístico o cineasta Álex de la Iglesia), uma comédia de humor negro alucinada sobre um moleque fanático por cultura pop vivendo num porão com sua família histérica após os marcianos terem destruido a central Nuclear de Erandio. “Torremolinos 73” foi seu primeiro longa-metragem, onde o jovem diretor exercitou sua paixão pelo cinema com muito bom humor e uma trilha sonora carregada de fantásticos sucessos dançantes da música popular espanhola. Em setembro de 2012 deverá estreiar (na Espanha) seu novo longa, “Blancanieves”, sua versão dramática (seja lá o que isso signifique) do chatinho conto de fadas “Branca de Neves”. Pode ser uma merda, mas se tratando de um filme de Pablo Berger é bom dar uma espiadinha na produção.

Por Petter Baiestorf.

Bilhetes Infernais para o Horror Express

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 6, 2012 by canibuk

“Horror Express” (1972, 90 min.) de Eugenio Martín. Com: Christopher Lee, Peter Cushing, Telly Savalas, Alberto de Mendonza, Silvia Tortosa, Helga Liné e Julio Peña.

Este pequeno clássico do horror, livremente inspirado no conto “Who Goes There?” de John W. Campbell (que também serviu de inspiração aos filmes “The Thing from Another World/O Monstro do Ártico” (1951) ce Christian Nyby e “The Thing/O Enigma de Outro Mundo” de John Carpenter), também conhecido pelo título “Pánico en el Transiberiano”, chama atenção por seu elenco internacional que incluí Christopher Lee, Peter Cushing e Telly Savalas.

No ano de 1906 o professor Alexander Saxton (Lee) encontra na Manchúria os restos congelados de uma criatura meio-macaco, meio-homem, que ele acredita ser o elo perdido na evolução humana. Para levar sua descoberta para a Europa o professor precisa tomar o expresso transiberiano da China à Russia, onde encontra seu rival Dr. Wells (Cushing). Ainda na plataforma da estação a criatura suga a mente de um ladrão e um monge (Alberto de Mendonza), conselheiro espiritual da condessa Irina Petrovski (a bela Silvia Tortosa), como todo bom charlatão fanático religioso, dá a culpa para o Tinhoso. Mesmo com o incidente a viagem começa e, uma vez dentro do trem, a criatura escapa e mata algumas pesssoas. Em autópsia realizada pelos cientistas descobrem, abrindo os crânios das vítimas, que as lembranças de seus cérebros foram drenadas (porque os cérebros estavam lisos, ora bolas). Logo em seguida a criatura é morta a tiros e, analizando o líquido encontrando no globo ocular do cadáver, a dupla de cientistas descobre imagens da terra vista do espaço, imagens pré-históricas de nosso planeta e chegam a conclussão de que a criatura é um alien e que pode ter infectado outros passageiros. O governo Russo manda o capitão Kazan (Telly Savalas, em papel impagável), um violento cossaco, entrar no trem para resolver tudo, nem que seja necessário um pouco de violência gratuita. Depois que ficamos sabendo que a criatura alienígena sobreviveu por milhões de anos no planeta Terra no corpo de protozoários, peixes e outros animais, o alien se transfere para o corpo do monge e ressucita todas suas vítimas na forma de zumbis carniceiros que nunca podem faltar num autêntico filme de baixo orçamento.

Com roteiro da dupla Arnaud D’Usseau e Julian Zimet (que juntos também escreveram o clássico “Psychomania” (1973) de Don Sharp), nos deparamos com deliciosos absurdos pseudo-científicos e um punhado de cenas maravilhosas, como quando o monge clama ao alien para que lhe sugue a mente e o alien se nega dizendo que “não há nada que se aproveite na sua mente!”, desprezando o fanático religioso. Aliás, no filme todo há sempre um clima de ciência/razão contra religião/misticismo. As maquiagens vagabundas de Fernando Florido (que também trabalhou em filmaços como “El Retorno de Walpurgis/Curse of the Devil” (1973) de Carlos Aured, “Quién Puede Matar a un Niño/Island of the Damned” (1976) de Narciso Ibáñez Serrador, “Inquisición” (1976) de Paul Naschy e “Serpiente de Mar” (1984) de Amando de Ossorio) tem ótimas sacadas, como o olho vermelho-brilhante da criatura e a própria criatura, meio-fóssil de macaco. Os olhos brancos que os cadáveres-humanos cujos cérebros foram sugados tem, dão um visual extremamente macabro, assim como as cenas gore onde seus crânios abertos revelam os cérebros lisos.

“Horror Express” foi produzido pelo produtor americano Bernard Gordon com orçamento de 300 mil dólares. Gordon re-utilizou o trem que havia sido construido para o filme “Pancho Villa” (1972), também dirigido por Eugenio Martín, conseguindo um cenário bem barato para sua produção de horror. A grande sacada do produtor americano foi conseguir para o elenco artistas já consagrados no mercado internacional, como Savalas, Lee e Cushing. Este último ainda abalado pela morte da esposa, pediu para ser afastado da produção, mas para nossa sorte seu amigo pessoal Christopher Lee o apoiou nos momentos difíceis e Cushing permaneceu no cast. Bernard Gordon (1918-2007) trabalhou durante anos na obscuridade impedido de ganhar créditos pela lista negra anti-comunistas de Hollywood. Com ajuda do produtor Charles Schneer escreveu o roteiro de “Earth Vs. The Flying Saucers” (1956), dirigido por Fred F. Sears. Trabalhou durante anos sob o pseudônimo Raymond T. Marcus. Ao se mudar para a Europa fez amizade com o roteirista/empresário Philip Yordan e conseguiu trabalho em Madrid na Samuel Bronston Company. Com Yordan escreveu o roteiro do clássico “The Day of the Triffids/O Terror Veio do Espaço” (1962) de Steve Sekely, uma história envolvendo plantas carnívoras espaciais que andavam. Outro clássico escrito por ele foi “Krakatoa: East of Java/Krakatoa – O Inferno de Java” (1969), aventura dirigida por Bernard L. Kowalski. Como produtor realizou “El Hombre de Río Malo/A Quadrilha da Fronteira” (1971), divertido western estrelado por Lee Van Cleef e Gina Lollobrigida, além dos já citados “Pancho Villa” e “Horror Express”, todos os três com direção de Eugenio Martín.

O diretor espanhol Eugenio Martín (1925) estudou direito na Universidade de Granada. Graças aos seus curta-metragens, como “Viaje Romántico a Granada” (1955), “Adiós, Rosita (Vieja Farsa Andaluza)” (1956), “Romance de una Batalla” (1956), entre outros, se tornou assistente de diretores como Guy Hamilton, Michael Anderson, Nathan Juran e Nicholas Ray. Sua primeira direção de um longa foi com a comédia “Despedida de Soltero” (1961), seguido de seu primeiro filme de horror, “Ipnosi” (1962), estrelado por Jean Sorel que alguns anos depois trabalhou nos clássicos “Belle de Jour/A Bela da Tarde” (1967) de Luiz Buñuel e “Paranoia” (1970) de Umberto Lenzi. No final dos anos de 1960 dirigiu alguns westerns, como “El Precio de um Hombre” (1967), estrelado por Tomas Millian; e “Réquiem para el Gringo” (1968), co-dirigido por José Luis Merino. Depois de alguns musicais (“Las Leandras” e “La Vida Sigue Igual”, ambos de 1969, e o último estrelado por Julio Iglesias), realizou o horror “La Última Senhora Anderson” (1971), estrelado por Carroll Baker. Neste momento conheceu o produtor Bernard Gordon e fizeram juntos três filmes. Em seguida fez “Una Vela Para el Diablo/It Happened at Nightmare Inn” (1973), suspense de horror sobre duas irmãs loucas e seu hotel sinistro. Depois de passar o resto dos anos 70 realizando comédias obscuras, entrou nos anos 80 com as produções de horror “Aquella Casa em las Afueras” (1980) e “Sobrenatural” (1983). Por essa época sua carreira no cinema ficou meio estagnada e Martín migrou para a televisão.

Christopher Lee (1922) é inglês e se tornou mundialmente famoso quando interpretou monstros clássicos para a produtora Hammer. Primeiro foi o monstro de Frankenstein em “The Curse of Frankenstein/A Maldição de Frankenstein” (1957) e depois foi o Conde Drácula em “Dracula/Horror of Dracula” (1958), ambos com direção de Terence Fisher. Ainda em 1958 apareceu ao lado de Boris Karloff na fantástica produção “Corridors of Blood”, de Robert Day, sobre um médico tentando descobrir um anestésico para operações mais complicadas. Voltou ao papel de sugador de sangue louco por decotes femininos nos filmes “Dracula – Prince of Darkness” (1966) de Terence Fisher; “Dracula Has Risen from the Grave” (1968) de Freddie Francis; “Taste the Blood of Dracula” (1969) de Peter Sasdy; “Scars of Dracula” (1970) de Roy Ward Baker, entre outros, que ajudaram a torná-lo a principal cara do Conde Drácula no cinema. Em 1966 Lee interpretou o místico russo Rasputin em “Rasputin, The Mad Monk” de Don Sharp, contando na época que quando era criança encontrou com Felix Yussupov, assassino de Rasputin. Nos anos 70 estrelou alguns ótimos filmes, como “I, Monster” (1971) de Stephen Weeks, uma adaptação de “The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde” do escritor Robert Louis Stevenson, “The Wicker Man/O Homem de Palha” (1973) de Robin Hardy, clássico cult do cinema de horror; e “To The Devil a Daughter/Uma Filha Para o Diabo” (1976) de Peter Sykes e com a curiosidade de trazer uma Natassja Kinski ainda ninfetinha e pelada nos bons tempos em que o cinema era um antro politicamente incorreto. Depois dos anos 70 Lee apareceu em inúmeros filmes bobocas de Hollywood. Este fantástico ator já fez tanta coisa que é necessário um artigo somente sobre ele. Para ler sobre Peter Cushing, clique em “Island of Terror“.

Telly Savalas (1922-1994) aparece pouco tempo em cena no “Horror Express”, mas o suficiente para roubar o filme para si com sua personagem ensandecida do brutal capitão cossaco. Nascido com o nome de Aristotelis Savalas em Garden City, NY, começou trabalhando na televisão. Foi descoberto pelo ator Burt Lancaster que o ajudou a decolar na carreira de ator. Em 1965 raspou a cabeça para o filme “The Greatest Story Ever Told/A Maior História de Todos os Tempos”, onde interpretou Pontius Pilate, e gostou tanto do novo visual que o adotou por toda vida. Na televisão se imortalizou no papel de Kojak na série de mesmo nome, que foi ao ar em outubro de 1973. Com Mario Bava fez “Lisa e Il Diavolo” (1974). Outros filmaços com Savalas incluem produções como “Una Ragione Per Vivere e Una Per Morire/Uma Razão para Viver… Uma Razão para Morrer” (1972) de Tonino Valerii. co-estrelado por Bud Spencer; uma participação hilária em “Capricorn One/Capricórnio Um” (1977) de Peter Hyams; “Beyond the Poseidon Adventure/Dramático Reencontro no Poseidon” (1979) de Irwin Allen, entre vários outros. Mas Savalas é um ator tão cult que qualquer filme dele é uma verdadeira diversão. Veja todos!

Na época de seu lançamento, “Horror Express” foi um fracasso comercial na espanha, país que abrigou sua produção. Foi lançado em DVD pela distribuidora London Filmes, mas sem nenhum material extra.

por Petter Baiestorf.

Veja “Horror Express” aqui: