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Alguns meses atrás o poster da primeira sessão de cinema da história foi leiloado em Londres por 40 mil libras (mais ou menos 200 mil reais). Este primeiro poster (reprodução abaixo) foi desenhado por Henri Brispot para uma exibição especial dos primeiros curtas dos irmãos Lumière, em dezembro de 1895.
Originalmente criados para uso exclusivo dos cinemas, não demorou muito para que os posters logo virassem item de colecionadores, principalmente artes criadas para filmes exploitations, sempre com cartazes muito mais criativos do que os próprios filmes, e, também, as artes produzidas para a divulgação de produções de horror e ficção científica. Inclusive, o preço record já pago por um único cartaz pertence à sci-fi Metropolis (1926), de Fritz Lang, negociado por 690 mil dólares.
Inicialmente os posters eram feitos no tamanho dos cartazes usados para a divulgação dos shows de Vaudeville. Quem definiu o tamanho padrão foi Thomas Edison, com as medidas de 27″x41″, em folha única fixada nas fachadas e paredes dos cinemas.
Para comemorar os posters de cinema, upei um arquivo com 2.592 cartazes de cinema nos gêneros horror e Sci-Fi, a maioria com artes belíssimas e dignas de serem festejadas como pequenas obras-primas da criatividade humana.
Frightmare (Loucura Sangrenta, 1974, 95 min.) de Pete Walker. Com: Rupert Davies, Sheila Keith e Kim Butcher.
“Loucura Sangrenta” é um dos mais notáveis trabalhos do diretor Pete Walker, que aqui narra a história de um casal cuja esposa, Dorothy, é uma canibal que conta com a ajuda do marido para manter sua peculiar dieta de guloseimas humanas. Após um tempo presos num hospício, o casal é solto e Dorothy tem uma recaída em seus desejos culinários, ao mesmo tempo que uma de suas filhas começa a se descobrir atraída pelas deliciosas receitas de sua mamãe.
Veja o Trailer:
O inglês Pete Walker, nascido em 1939, é filho do comediante Syd Walker. Começou cedo sua carreira de stand-Up, possivelmente influenciado pelo pai, em clubes de strip-tease, já revelando muito de sua personalidade anti-autoridades de qualquer tipo (em seus filmes geralmente as autoridades são figuras sádicas e/ou fascistas). Iniciou sua carreira cinematográfica realizando inúmeros curtas em super 8 até conseguir financiamento para “The Big Switch” (1968), seu primeiro longa, que contava uma história de crimes no submundo pornô de Londres. Após algumas comédias sexuais adolescentes para o mercado alemão, Pete emplacou com o filme de horror “The Flesh and Blood Show” (1972), onde um sanguinário maníaco matava atores com requintes de crueldade. Em 1974, ainda colhendo frutos de seu sucesso, Pete comandou dois pequenos clássicos do gênero horror: “House of Whipcord”, uma bem-vinda variação de W.I.P. (women in prison) com horror; e este “Frightmare” que você tem em mãos. Em seguida realizou “Schizo” (1976), produção onde mais uma vez investigava distúrbios mentais sob uma ótica bem demente. Seu último filme, “House of the Long Shadows”, conhecido aqui no Brasil pelo título “A Mansão da Meia-Noite”, é seu filme de maior destaque por conta de reunir no elenco os atores Vincent Price, Christopher Lee, Peter Cushing e John Carradine. Após essa produção Pete Walker abandonou sua carreira de cineasta para se dedicar ao ramo imobiliário, mais lucrativo.
O papel de Dorothy Yates é interpretado por Sheila Keith, uma atriz de confiança de Pete – ela também está em vários outros filmes dele, como “House of Whipcord”, “House of Mortal Sin” e “House of the Long Shadows”. Sheila fez carreira televisiva em séries da TV inglesa.
Rupert Davies, que interpreta Edmund Yates, também era ator de séries de TV. Em 1965 fez parte do elenco do clássico “The Spy Who Came in from the Cold”, de Martin Ritt e estrelado pelo lendário Richard Burton. Alguns anos depois, em 1968, se destacou no gênero horror ao fazer parte do elenco de três clássicos no mesmo ano: “Witchfinder General”, de Michael Reeves, estrelado por Vincent Price; “Dracula Has Risen from the Grave”, de Freddie Francis, estrelado por Christopher Lee; e “Curse of the Crimson Altar”, de Vernon Sewell, novamente estrelado por Lee, só que agora acompanhado pela lenda viva Boris Karloff em final de carreira.
David McGillivray, co-roteirista de “Loucura Sangrenta”, era um especialista no gênero horror de baixo orçamento. São dele também os roteiros de “House of Whipcord” e “House of Mortal Sin”, ambos de Pete Walker; “Satan’s Slave” (1976), que se aproveitava da temática satanista que assolou o cinema mundial no final dos anos 70, e “Terror/O Ente Diabólico” (1978), exploitation envolvendo bruxarias pesadas, ambos os filmes dirigidos pelo picareta Norman J. Warren, numa tentativa de capitalizar com bruxaria e satanismo com o público de drive-ins e pulgueiros de calçadas.
“Frightmate/Loucura Sangrenta” foi lançado em DVD no Brasil pela distribuidora Vinyx Media (London/Dark Side/Brook Films/Empire Filmes/entre outros nomes) na coleção Dark Side Horror Collection, sendo o oitavo volume da coleção e fazendo parceria com o cult “Parents/O Que Há Para o Jantar?”, formando uma ótima dupla de filmes sobre o canibalismo.
“Vadias do Sexo Sangrento” (2008, 30 min.) escrito, fotografado, produzido e dirigido por Petter Baiestorf. Maquiagens gore de Carli Bortolanza. Edição de Gurcius Gewdner. Com: Ljana Carrion, Lane ABC, Coffin Souza, PC, Jorge Timm e Petter Baiestorf.
Ao elaborar o “Arrombada – Vou Mijar na Porra do seu Túmulo!!!” (2007), já pensei numa espécie de trilogia da carne, que se seguiu com este “Vadias do Sexo Sangrento” (2008) e “O Doce Avanço da Faca” (2010). Todos com duração de média-metragens para, num futuro próximo, relançá-los como um longa em episódios intitulado “Gorechanchada – A Delícia Sangrenta dos Trópicos”. Inclusive neste ano de 2016 realizei uma exibição deste projeto “Gorechanchada” no Cinebancários de Porto Alegre com grande participação de público, como todos que ali estavam já conheciam os filmes rolou aquele climão de algazarra que tanto faz com que as sessões Canibal Filmes sejam a diversão que são.
“Vadias” foi filmado no início do inverno de 2008 em 4 dias de filmagens e um orçamento de R$ 5.000,00. Reuni praticamente a mesma equipe de “Arrombada” (que já estava afinada) acrescida de Lane ABC e Jorge Timm (que não estava no elenco do filme anterior por estar em Tocantins). Com um roteiro melhor em mãos, cheio de metalinguagem (tentando avançar nas ideias que estava desenvolvendo na época em produções como “Palhaço Triste” (2005) e “A Curtição do Avacalho” de 2006) e pouca abertura para improvisações, fomos pro Rancho Baiestorf rodar um filme que deveria parecer improvisado do início ao fim (gosto da leveza que o clima de improvisação dá numa produção).
Não lembro de nenhum contra tempo nas filmagens de “Vadias”. Foi um daqueles raros casos em que tudo deu certo e não tivemos problemas. Filmávamos apenas durante o dia (acho que apenas duas ou três seqüências que foram filmadas à noite) e ao anoitecer rolava um jantar regado à muita bebida, o que deixava a equipe e elenco bem descontraídos. O frio ainda não estava castigando, o que foi essencial para manter o bom humor do elenco que passava 90% do tempo pelado pelo set. Amo filmar com equipe reduzida, 12 pessoas no set (incluindo elenco) é o que considero o ideal, bem diferente de “Zombio 2” onde tivemos 72 pessoas trabalhando sem parar durante 23 dias.
O lançamento do filme rolou num esquema muito parecido com o que já havíamos feito com o “Arrombada” e o relançamento de “Zombio” (1999). Desta vez resgatamos e re-editamos o policial gore “Blerghhh!!!” (1996) para relançar e completar o programa das exibições. Logo nos primeiros meses computamos 5 mil espectadores para o filme (em salas alternativas, cineclubes e mostras independentes) e as vendas do DVD duplo do filme foram de quase mil cópias. Possibilitou a produção de “Ninguém Deve Morrer” (2009) e a parte final da trilogia, “O Doce Avanço da Faca” (2010).
Todas as histórias de filmagens de “Vadias” irei contar no livro de bastidores que estou elaborando. Aguardem!!!
“Arrombada – Vou Mijar na Porra do Seu Túmulo!!!” (2007, 42 min.) escrito, fotografado, produzido e dirigido por Petter Baiestorf. Maquiagens gore de Carli Bortolanza. Edição de Gurcius Gewdner. Com: Ljana Carrion, Coffin Souza, PC, Gurcius Gewdner e Vinnie Bressan.
Inspirado pelo caso do Juiz Lalau escrevi o roteiro de “Arrombada” em uns 3 dias e chamei uma equipe extremamente reduzida para filmar tudo em 4 dias. Minha ideia era realizar um sexploitation, com muitas cenas de sexo quase explícito, que fosse uma crítica ao poder, mostrar um senador (que também era juiz de direito) se aproveitando da impunidade no Brasil para cometer os mais terríveis crimes, sempre ajudado por seus cães fiéis (um religioso e um profissional liberal, não incluí um militar no bando porque queria deixar a segurança completamente de fora do filme, sem mostrar absolutamente nenhum cão fardado). O filme está cada vez mais atual diante o cenário político – e social – brasileiro, apesar de minha abordagem com toques de humor nonsense em algumas partes do filme.
As filmagens de “Arrombada” aconteceram no inverno de 2007 e foram extremamente rápidas e sem contratempos. O único problema mais grave que aconteceu durante as filmagens foi que nossa câmera parou de funcionar numa madrugada de externas por causa da umidade, fazendo-nos perder aquela madrugada de trabalhos já que tínhamos apenas uma câmera na produção. Sim, o filme foi feito com orçamento nenhum (acredito que gastamos, ao final de tudo, R$ 1.500,00 na produção). Durante as filmagens algo engraçado era ver a agonia de Coffin Souza com aquele bigodinho Adolf Hitler Stylle, ele estava visivelmente envergonhado de estar usando o bigode daquele jeito, tanto que quando encerramos as gravações a primeira coisa que fez foi ir no banheiro retirar o tal bigodinho da vergonha. Um de nossos passatempos durante as filmagens era convidar ele pra ir até no mercadinho da vila onde estávamos filmando (ele nunca foi junto, lógico).
Vinnie Bressan, Gurcius, Souza (já sem o bigodinho da vergonha) e Ljana na bebedeira de encerramento das filmagens de “Arrombada”.
Por ser frio demais durante as filmagens, a equipe e elenco se aquecia bebendo vinho vagabundo. Acho que a equipe completa foi Carli Bortolanza, Ljana Carrion, Vinnie Bressan, Gurcius Gewdner, Coffin Souza, PC, Elio Copini, Claudio Baiestorf e eu. Como não rodamos making off desta produção posso estar esquecendo alguém.
“Arrombada” foi lançado em alguns cinemas de SC ainda em 2007, fazendo uma espécie de complemento ao longa-metragem “Mamilos em Chamas” do meu grande amigo Gurcius Gewdner, era uma sessão bastante única na história do cinema brasileiro e o público se divertia demais, nenhuma das sessões foi comportada. No lançamento de “Arrombada” botamos a banda de industrial harsh A Besta para animar o público antes e depois da sessão, também promovemos o re-lançamento de “Zombio” (1999) para essa ocasião e depois desmembramos o programa, com “Arrombada” fazendo sua bilheteria e “Zombio” tendo o re-lançamento à parte. Para as sessões na região de Palmitos/SC, mandei confeccionar um grande cartaz onde se lia “Filmado com meninas da região” e “Não ria!!! Sua irmã pode estar neste filme!!!”, claro que lotou as sessões de caras sedentos pelas garotas da região (Ljana era de Florianópolis, mas a magia do cinema exploitation deve ser mantida). Essas sessões de Palmitos realizamos, ainda, em clima de “proibição”, pessoal chegava meio que escondido nas sessões, tendo um gostinho de estar vivendo nos tempos da lei seca ou da censura militar brasileira. O público adora se sentir parte de algo secreto, é importante fazê-los acreditarem que estão participando de algo fora-da-lei. Claro que o que funcionava 10 anos atrás não quer dizer que ainda funcionará nos dias de hoje.
The Beast of Yucca Flats (1961, 54 min.) de Coleman Francis. Com: Tor Johnson, Douglas Mellor, Barbara Francis e Conrad Brooks.
Quando assassinos da KGB vão a Yucca Flats para matar o cientista Joseph Javorsky (Tor Johnson) mal sabiam eles que, tomado pelo desespero, Javorsky fugiria para o deserto e seria contaminado pela radiação de um teste nuclear americano que estava acontecendo no local, tornando-o a besta sanguinária de Yucca Flats num dos filmes considerado pela crítica como uma das piores sci-fi já realizadas na história do cinema (nada mal para Tor Johnson que mantêm um padrão invejável, já que também está no elenco de “Plan 9 From Outer Space”, 1959, de Edward D. Wood Jr.).
Mas “The Beast of Yucca Flats” não é tão ruim assim, principalmente quando comparado a outros filmes analisados neste livro. Parte do seu charme brejeiro está no fato de ter sido filmado sem o som para cortar custos, tendo a narração, diálogos e alguns poucos efeitos sonoros adicionados na pós-produção e, para evitar a sincronia das falas com as bocas das personagens, todos dizem seus diálogos quando estão fora da tela ou a uma distância segura da câmera para que a falta de sincronia não seja percebida pela audiência (essa técnica foi muito utilizada pelos produtores brasileiros da Boca do Lixo anos depois).
Coleman C. Francis (1919-1973), o inútil responsável pela realização de “The Beast of Yucca Flats”, foi ator e, eventualmente, fazia algumas tentativas como roteirista/produtor/diretor. Além deste ainda realizou “The Skydivers” (1963), um drama que, a exemplo de seu filme anterior, também foi filmado na região de Santa Clarita (California) com um orçamento igualmente medíocre; e, “Night Train to Mundo Fine” (1966), um thriller político mais conhecido pelo título alternativo de “Red Zone Cuba”, tão ruim quanto seus outros filmes (e politicamente tão irrelevante quanto “Creature from the Haunted Sea/Criaturas do Fundo do Mar”, 1961, de Roger Corman). Como ator fez papéis não creditados em vagabundagens como “Killer From Space/Mundos Que se Chocam” (1954), uma sci-fi trash de W. Lee Wilder, e “This Island Earth/Guerra Entre Planetas” (1955) de Joseph M. Newman e Jack Arnold (não creditado). Depois de vários papéis em séries de TV, virou o narrador do filme “The Thrill Killers” (1964) de Ray Dennis Steckler, outro lendário diretor ruim, com quem ainda trabalhou em “Lemon Grove Kids Meets the Monster” (1965) e “Body Fever” (1969). Em 1965 Coleman conheceu Russ Meyer e trabalhou em “Motorpsycho!” (1965), um biker movie estrelado pela beldade Haji, e “Beyond the Valley of the Dolls/De Volta ao Vale das Bonecas” (1970), uma comédia musical sexploitation alucinada já lançada em DVD duplo no Brasil pela distribuidora Fox que acabou sendo seu último trabalho no cinema.
No elenco de “The Beast of Yucca Flats” temos o gigante sueco Tor Johnson reprisando o mesmo papel de sempre de sua carreira. Ao contrário do que a cinebiografia “Ed Wood” (1994), de Tim Burton, deixa transparecer, não foi Edward D. Wood Jr. quem levou Johnson para as telas. Sua estreia, de acordo com o site IMDB, foi no drama “Registered Nurse/Abnegação” (1934) de Robert Florey, onde interpretava Sonnevich, o terrível búlgaro. Depois de aparecer em mais de 10 filmes sem receber créditos na tela, estrelou “Alias The Champ/Choque de Gigantes” (1949) de George Blair, onde “interpretava” o lutador The Swedish Angel, ou seja, ele mesmo. Mas seu grande papel na tela foi mesmo a personagem Lobo no hoje Cult “Bride of the Monster/A Noiva do Monstro” (1955) pelas mãos de Edward D. Wood Jr., com quem ainda fez os clássicos “Plan 9 From Outer Space” e “Night of the Ghouls/Noite das Assombrações” (1959), uma inacreditável tranqueira cinematográfica ainda mais divertida do que os filmes anteriores de Ed Wood, onde reprisou o papel de Lobo. Outros filmes imperdíveis que Johnson estrela são “The Black Sleep/A Torre dos Monstros” (1956) de Reginald Le Borg; “The Unearthly” (1957) de Boris Petroff (sob pseudônimo de Brooke L. Peters) e a comédia musical “Head/Os Monkees Estão de Volta” (1968) de Bob Rafelson. Conrad Brooks, outro ator da trupe de Ed Wood, também dá as caras em “The Beast of Yucca Flats” e o diretor/ator Titus Moede (o Boo Boo de “Rat Pfink a Boo Boo”, 1966, de Ray Dennis Steckler) foi o responsável pela mixagem do som deste incrível filme ruim.
Breaking Point (1975, 95 min.) de Bo Arne Vibenius. Com: Andreas Bellis, Irena Billing, Jane McIntosch e Susanne Audrian.
Bob Bellings (Andreas Bellis) é um executivo que acha que toda interação que tem com as mulheres, mesmo que estranhas, possui conotação sexual. Assim o nada pacato cidadão esquizofrênico começa a fantasiar relações sexuais tornando o público seu cúmplice nas bestialidades que pratica e, sem saber distinguir fantasia da realidade, acaba estuprando e matando mulheres, desembocando numa fuga alucinada cheia de sexo explícito, violência e horror.
Assista o trailer:
Não tão pretensioso quanto em “Thriller – Em Grym Film/Thriller: They Call Her One Eye” (1973), seu filme anterior, Bo Arne Vibenius avançou um pouco nas suas teorias do que seria cinema comercial, desta vez com a pornografia integrada na história indo muito além das cenas de sexo explícito enxertadas (para as cenas de sexo explícito de “Thriller” ele contratou um casal que fazia apresentações de sexo explícito ao vivo em boates de terceira categoria da Suécia). Bo Arne Vibenius nasceu em 1943 na Suécia e iniciou carreira no cinema como assistente de direção de Ingmar Bergman em “Persona” (1966) e “Vargtimmen/A Hora do Lobo” (1968). Trabalhar como assistente do renomado diretor lhe permitiu tentar a produção/direção de seu próprio filme e assim o fez com “Hur Marie Träffade Fredrik” (1969), uma fantasia familiar que foi um tremendo fracasso de público. Decidido a fazer “o filme mais comercial de todos os tempos” para recuperar o dinheiro investido na produção anterior, Vibenius (usando o pseudônimo de Alex Fridolinski) concebeu o sádico “Thriller: They Call Her One Eye”, onde misturou extrema violência (boatos dizem que ele utilizou um cadáver real para filmar a cena onde arranca o olho) e sexo explícito. “Thriller” acabou virando um clássico do cinema selvagem e foi proibido até mesmo na Suécia, um dos países mais tolerantes do mundo. Logo em seguida, mostrando que aprendeu a lição em partes, Vibenius (desta vez utilizando o pseudônimo de Ron Silberman Jr.) aumentou as doses de sexo e diminuiu a violência neste “Breaking Point”, numa clara tentativa de lucrar no mercado pornográfico da Suécia e Dinamarca, países que haviam liberado a produção de cinema adulto tirando-o da clandestinidade. Mesmo não tendo mais produzido/dirigido filmes, Bo Arne Vibenius continuou trabalhando na indústria cinematográfica em produções dos mais variados estilos como nos dramas “Hempas Bar” (1977) de Lars G. Thelestam; “Tabu” (1977) de Vilgot Sjöman; “Ga Pa Vattnet Om Du Kan” (1979) de Stig Björkman e a comédia “Raskenstam” (1983) de Gunnar Hellström, onde voltou a ser assistente de direção.
Bo Arne Vibenius
Andreas Bellis
Andreas Bellis, que interpreta o atormentado psicopata de “Breaking Point”, não era ator (sua única experiência atuando havia sido no drama “Jag Heter Stelios”, 1972, de Johan Bergenstrahle), mas sim câmera tendo, inclusive, feito a direção de fotografia de “Thriller”, o tal “filme mais comercial do mundo” idealizado por Vibenius. Outros filmes onde trabalhou como câmera (ou diretor de fotografia) incluem o pornô “Porr I Skandalskolan/The Second Coming of Eva” (1974) de Mac Ahlberg; a comédia “O Gyrologos” (1980) de Panos Glykofrydis e os filmes de horror “Blind Date/Visão fatal” (1984); “The Wind/O Sopro do Diabo” (1986) e “In The Cold of the Night/No Frio da Noite” (1990), todos filmes dirigidos pelo gênio incompreendido Nico Mastorakis. Já as atrizes de “Breaking Point” não seguiram carreira no cinema, tendo todas suas estrelas apagadas no acender das luzes dos pulgueiros onde o filme foi exibido.
Como curiosidade: Ralph Lundsten, o compositor da trilha sonora de “Breaking Point” (e também de “Thriller”), foi diretor de vários curtas-metragens. Também compôs a trilha de filmes como “Som Hon Bäddar Far Han Ligga” (1970) de Gunnar Höglund e “Exponerad” (1971), drama erótico de Gustav Wiklund estrelado pela atriz Christina Lindberg.
O cinema exploitation sueco, infelizmente, continua inédito e pouco conhecido no Brasil.
por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.
Blood Sabbath (1972, 86 min.) de Brianne Murphy. Com: Anthony Geary, Dyanne Thorne, Susan Damante, Sam Gilman, Steve Gravers, Kathy Hilton, Jane Tsentas e Uschi Digard.
Um veterano do Vietnã está viajando a pé pelos USA quando sofre um acidente e é encontrado por uma ninfa d’água por quem se apaixona. Alotta (Dyanne Throne), a rainha das bruxas e inimiga da ninfa d’água quer o jovem soldado para ela e, com seu clã de feiticeiras, seduz não só o soldado como, também, um padre e Lonzo, um andarilho da floresta que abrigou o soldado em sua casinha.
Filmado em apenas 10 dias, “Blood Sabbath” é uma grande diversão que não se leva a sério em momento algum. O roteiro é todo furado, todas as atrizes ficam peladas o tempo todo, o trabalho de câmera é toscão e os diálogos nonsenses foram captados num sistema de som extremamente vagabundo, bem no clima das produções sem grana que produtores exploitations realizavam de qualquer jeito no início dos anos de 1970 para suprir a demanda por lixos cinematográficos em drive-ins e grindhouses.
“Blood Sabbath” foi dirigido pela atriz inglesa Brianne Murphy em clima de curtição (o filme parece uma grande brincadeira de amigos). Em 1960 Brianne atuou em “Teenage Zombies” de Jerry Warren e se apaixonou pela produção vagabunda americana (tendo se casado com o ator/produtor/diretor Ralph Brooke que concebeu asneiras como “Bloodlust!” de 1961). Ainda no início da década de 1960 se tornou diretora de fotografia e trabalhou em filmes de Hollywood como “Fatso” (1980) de Anne Bancroft e inúmeras séries de TV. Curiosidade: Brianne foi a primeira diretora de fotografia a trabalhar num grande estúdio de Hollywood (a função é dominada por homens).
Ainda na equipe técnica de “Blood Sabbath” encontramos Lex Baxter assinando (como Bax) a trilha sonora do filme. Com mais de 100 trilhas nas costas, Baxter já havia trabalhado em filmes como as produções de baixo orçamento “The Bride and the Beast” (1958), de Adrian Weiss, e realizações da A.I.P., muitas dirigidas por Roger Corman, como “House of Usher/O Solar Maldito” (1960); “Tales of Terror/Muralhas do Pavor” (1962) e “The Raven/O Corvo” (1963).
No elenco vemos Dyanne Thorne se divertindo horrores no papel da bruxa Alotta. Nascida em 1943 se tornou atriz e surpreendeu no softcore “Sin in the Suburbs” (1964) de Joe Sarno. Sempre adepta das produções de baixo orçamento esteve no pequeno clássico da ruindade “Wham! Bam! Thank You, Spaceman!” (1975), de William A. Levey, e entrou definitivamente para a história do cinema vagabundo ao encarnar a oficial nazista Ilsa em uma série de nazixploitations de Don Edmonds com “Ilsa: The She Wolf of the SS” (1975); “Ilsa, Harem Keeper of the Oil Sheiks” (1976) e “Ilsa the Tigress of Siberia” (1977), desta vez dirigida por Jean LaFleur (sem contar “Greta Haus Ohne Männer/Ilsa – The Wicked Warden” (1977), uma picaretagem do Jesus Franco). Sem nunca ter se livrado da personagem Ilsa, Dyanne Thorne apareceu em “House of Forbidden Secrets” (2013), produção do videomaker Todd Sheets, onde contracenou com Lloyd Kaufman da Troma. Entre as garotas peladas de “Blood Sabbath” encontramos ainda Jane Tsentas (atriz em mais de 40 sexploitations, incluindo deliciosas bobagens como “The Exotic Dreams of Casanova” (1971) de Dwayne Avery e “Terror at Orgy Castle” (1972) do especialista em satanismo retardado Zoltan G. Spencer), Kathy Hilton (atriz em mais de 60 produções, incluindo “Sex Ritual of the Cult” (1970) de Robert Caramico, um filme satânico tão imbecil quanto “Blood Sabbath”; “The Toy Box” (1971) de Ron Garcia e “Invasion of the Bee Girls/Invasão das Mulheres Abelhas” (1973) de Denis Sanders) e, segundo o site IMDB, Uschi Digard (atriz que dispensa apresentações aos fanáticos por filmes bagaceiros), que não consegui identificar na cópia ruim que tenho do inacreditável “Blood Sabbath”.
Por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.
El Pantano de los Cuervos (“The Swamp of the Ravens”, 1974, 83 min.) de Manuel Caño. Com: Ramiro Oliveros, Marcia Bichette e Fernando Sancho.
Essa co-produção entre os países Espanha/Equador me impressionou de uma maneira bastante positiva. A muitos anos que ouvia sobre essa produção e a imaginava um daqueles filmecos apenas divertidos. Mas não, além de divertido, “El Pantano de los Cuervos” é sujão, pesado e muito eficiente no seu clima de desespero ao contar a história de um médico que dá as costas para a ética profissional da medicina e realiza experiências nada convencionais para provar que a morte é uma evolução do ser humano. Como toda boa produção exploitation o filme tenta agradar várias parcelas do público apresentando pequenas doses de deficientes físicos reais, nudez feminina, uma autopsia real (no Equador, pelo visto, é possível comprar um cadáver real para fins cinematográficos), zumbis no pântano dos corvos (que são urubus e não corvos), médicos loucos, necrofilia (mas não espere nada tão explícito quanto no alemão “Nekromantik”) e uma belíssima canção brega cantada num cabaré que fala sobre o amor a um manequim fazem deste filme um item obrigatório na coleção de qualquer cinéfilo fã de bons delírios psychotrônicos.
Manuel Caño, que assina “El Pantano de los Cuervos” com o pseudônimo Michael Cannon, havia realizado alguns dramas em parceria com Silvio F. Balbuena (“Siempre em mi Recuerdo”, 1962, e “Sonría, Por Favor”, 1964) antes de conhecer Umberto Lenzi e seu roteiro para a aventura “Tarzán em La Gruta Del Oro/Zan, O Novo Rei das Selvas” que contava a história de um prestativo Tarzan ajudando belas amazonas (com destaque à bela Kitty Swan no papel da rainha amazona) em sua luta contra gangsters que queriam roubar o ouro sagrado da tribo de beldades. O pequeno sucesso comercial desta aventura foi o suficiente para que Caño e o roteirista Santiago Moncada repetissem a dose com “Tarzán y El Arco Iris” (1972), outra aventura de Tarzan, desta vez com Peter Lee Lawrence – habitual pistoleiro em westerns – no elenco. Mas os anos de 1970 estavam a pleno vapor e o cinema de horror era barato de se produzir e com distribuição/público garantidos. Com isso em mente a dupla Caño-Moncada realizou a dobradinha “El Pantano de los Cuervos” e “Vodú Sangriento” (1974), este último uma chupação de “The Mummy/A Múmia” (1932) de Karl Freund onde um poderoso sacerdote vodu do Caribe (interpretado pelo ator Aldo Sambrell que, também, esteve no elenco dos clássicos “Per um Pugno di Dollari/Por um Punhado de Dólares” e “Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo/Três Homens em Conflito”, ambos de Sergio Leone) revive num transatlântico de luxo e decapita várias pessoas. Sem muito sucesso no horror, Caño realiza ainda a comédia “A Mí Qué me Importa Que Explote Miami” (1976) e os obscuros “Perro de Alambre” (1980) e “Carta a Nadie” (1984), filmes que ficaram restritos ao mercado espanhol.
Santiago Moncada nasceu em 1928 em Madrid. Foi roteirista, dramaturgo e, durantes anos, presidente da Sociedad General de Autores y Editores da Espanha. Foi autor de mais de 50 obras para o teatro e uma infinidade de roteiros para o cinema espanhol. Entre seus maiores sucessos estão filmes como “Il Rosso Segno Della Follia/O Alerta Vermelho da Loucura” (1970) de Mario Bava; “La Última Señora Anderson/A Quarta Vítima” (1970) de Eugenio Martín; “Tutti i Colori Del Buio” (1972) de Sergio Martino que trazia uma história de Moncada roteirizada por Ernesto Gastaldi; o incrivelmente genial “Condenados a Vivir/Cut-Throats Nine” (1972), western sobre a cobiça humana dirigido por Joaquín Luis Romero Marchent; “Il Bianco Il Giallo Il Nero/O Último Samurai do Oeste” (1975) de Sergio Corbucci, spaghetti western em ritmo de comédia estrelado pelo trio Giuliano Gemma – Tomas Milian – Eli Wallach; sem contar os delirantes trashes “La Esclava Blanca” (1985); “Juego Sucio em Casablanca” (1985) e “Las Últimas de Filipinas” (1986), todos com direção do mestre Jesus Franco e seu estilo “um novo filme a cada semana”.
“El Pantano de los Cuervos” continua inédito em DVD no Brasil. Nos USA saiu em Double feature com “The Thirsty Dead” (1974) de Terry Becker.
Por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.
Orgy of the Dead (1965, 92 min.) de Stephen C. Apostolof. Roteiro de Edward D. Wood Jr. (baseado em sua novela “Orgy of the Dead”). Com: Criswell, Pat Barrington, Fawn Silver, Rene De Beau e Nadejda Klein.
Com uma trama praticamente inexistente “Orgy of the Dead” tenta contar a história de um casal (Pat Barrington, que no ano seguinte estaria no elenco de “Mondo Topless”, e William Bates) que, ao discutir sobre o quanto uma visita noturna a um cemitério pode ser inspiradora, se acidenta e acaba num cemitério (que é o mesmo de “Night of the Ghouls” de Ed Wood) onde encontra o todo poderoso “Imperador” (Criswell, impagável como sempre) que os aprisiona e convoca deliciosas almas penadas do além para números de dança hilários com strippers indígenas, mulheres gatos, múmia, lobisomem fajuto e toda uma fauna de curiosas personagens que dão a ideia de que o inferno é o melhor lugar do mundo.
Fawn Silver e Criswell
Com este ponto de partida infantiloide “Orgy of the Dead” é uma grande brincadeira cinéfila involuntária com Edward D. Wood Jr. (aqui roteirista e faz tudo da produção) exercitando-se (sem querer) na metalinguagem. “Orgy” remete diretamente ao seu filme “Night of the Ghouls” (1958), um inacreditável horror sobrenatural com Criswell “interpretando” o mesmo papel. Para se ter uma ideia da precariedade de “Night of the Ghouls” basta contar que o filme foi filmado em 1958 e só lançado em 1983. Ed Wood, após filmar “Night” não tinha como pagar a conta no laboratório que revelou o filme, então os negativos ficaram apreendidos nos arquivos do laboratório até que em 1983 – depois que Wood e Criswell já estavam mortos, fazendo-me pensar que, talvez, eles nunca tenham nem assistido ao copião do filme -, quando o empresário Wade Williams pagou a conta, montou e lançou o filme que já era considerado obra perdida (à título de curiosidade, Wade foi diretor de “Terror From the Stars” (1969) e produtor associado em pérolas como “Invaders From Mars/Invasores de Marte” (1986) de Tobe Hooper e “Midnight Movie Massacre/Aconteceu à Meia Noite” (1988) da dupla Laurence Jacobs e Mark Stock). Ainda no campo da metalinguagem, o papel da personagem “Black Ghoul” foi escrito para ser interpretado pela Maila Nurmi (a Vampira de “Plan 9 From Outer Space”, que infelizmente se recusou a filmar) e acabou sendo feita pela atriz Fawn Silver, que depois esteve no elenco dos filmes “Unkissed Bride” (1966) de Jack H. Harris (isso mesmo, o produtor do Cult “The Blob/A Bolha Assassina” (1958) dirigido por Irvin S. Yeaworth) e do bagunçado “Terror in the Jungle” (1968), realização que teve três diretores (Andrew Janczak, Tom DeSimone e Alex Graton), cada um deles filmando um pedaço do filme.
Independente de “Orgy of the Dead” ser bom ou ruim (ele está muito além deste irrisório detalhe), é o grande marco na transição do Ed Wood da fase sci-fi/horror para o Ed Wood da pornografia. “Orgy” ainda não é pornô (nem erótico ele consegue ser), mas já não era mais uma tentativa de ser um filme de horror, flertando explicitamente com o subgênero Nudie Cutie em que qualquer mínimo enredo era mera desculpa para explorar as carnes femininas.
Stephen C. Apostolof
O diretor de “Orgy” é Stephen C. Apostolof, que geralmente assinava com o pseudônimo AC Stephen, um especialista em sexploitations que pertenceu aos pioneiros do cinema adulto americano. Apostolof nasceu na Bulgária e durante a segunda guerra mundial fugiu para os USA. Seu primeiro emprego em solo americano foi como arquivista no estúdio 20th Century-Fox. Em 1957 se meteu na produção do filme “Journey to Freedon”, de Robert C. Dertano, onde conheceu o gigante Tor Johnson que trabalhava como ator e o apresentou ao Ed Wood. No início da década de 1960 Apostolof assistiu ao Nudie Cutie “The Immoral Mrs. Teas” (1959) de Russ Meyer e soube o que queria fazer de sua vida. E assim acabou produzindo/dirigindo quase 20 produções cheias da boa e sadia putaria que alegra nossa vida, vários destes filmes com roteiros escritos por seu amigo Ed Wood (além do “Orgy”, Wood também assina os roteiros de “Drop Out Wife” (1972), “The Class Reunion” (1972), “The Snow Bunnies” (1972), “The Cocktail Hostesses” (1973), “Five Loose Women” (1974, este lançado no Brasil com o título “As Fugitivas”) e “The Beach Bunnies” (1976), todos produzidos/dirigidos pelo búlgaro tarado). A parceria com Apostolof foi uma sobrevida na decadente carreira de Ed Wood, se iniciou em 1965 com este “Orgy of the Dead” e durou até 1978, ano de sua morte, com Apostolof garantindo uns poucos dólares para Wood nesta terrível fase e meio que repetindo o que o próprio Ed Wood havia feito por Bela Lugosi uma década antes. Em 2012 foi lançado um divertido documentário, “Dad Made Dirty Movies” de Jordan Todorov, sobre a hilária e muito curiosa carreira de Apostolov.
O elenco de “Orgy” é encabeçado por Jeron Criswell King, o lendário “The Amazing Criswell”, que foi um vidente americano famoso por suas previsões sempre imprecisas. Filho de uma família dona de funerária, Criswell possuía um caixão no lugar da tradicional cama porque achava mais confortável dormir ali (aliás, o caixão de Criswell aparece no pornô “Necromania” (1971) de Ed Wood). Também foi locutor de rádio e amigo de celebridades decadentes como Korla Pandit e Mae West, sendo que a pobre Mae usava Criswell como seu conselheiro espiritual. Em março de 1963 ele previu que John F. Kennedy não concorreria à reeleição em 1964 porque algo iria acontecer com ele em novembro de 1963. Picareta ou não, o fato é que Kennedy foi assassinado em novembro de 1963. Em seu livro “Criswell Predict from Now to the Year 2000!” (à venda na Amazon por cerca de 10 dólares), previu que a cidade de Denver seria atingida por um raio espacial e todo o metal se transformaria em borracha. Neste mesmo livro também previa que seríamos todos canibais no futuro e que o fim do mundo aconteceria em 1999. Criswell apareceu em três filmes, o clássico “Plan 9 from Outer Space”, o cômico “Night of the Ghouls”, ambos de Ed Wood, e “Orgy of the Dead” em que, contam seus colegas de produção, filmou todas as suas cenas em estado de pileque constante acompanhado de seu velho amigo, e companheiro de copo, Ed Wood.
Livro
“Orgy of the Dead” foi realizado por uma turma de técnicos que são uma espécie de “dream Team” do melhor do pior. A trilha sonora (conforme indica o site IMDB) é do compositor Jaime Mendoza-Nava (que não está creditado no filme), responsável por musicar inúmeras produções de “fundo de quintal”. A fotografia é de Robert Caramico, em início de carreira, que depois fotografou lixos imperdíveis como “The Black Klansman” (1966) de Ted V. Mikels, “Psychedelic Sexualis” (1966) de Albert Zugsmith, “Octaman” (1971) de Harry Essex, “The Doberman Gang” (1972) de Byron Chudnow, do clássico cult “Blackenstein” (1973) de William A. Levey, entre tantos outros. Caramico ainda foi diretor do pornô satânico “Sex Ritual of the Occult” (1970) que é um filme inútil que gosto bastante. O assistente de Caramico foi Robert Maxwell (que depois virou diretor de fotografia do clássico “The Astro-Zombies” (1968) de Ted V. Mikels e do fabuloso “Sweet Sweetback’s Baadasssss Song” (1971) de Melvin Van Peebles. O som de “Orgy” foi feito por Dale Knight que tinha em seu currículo trabalhos em vários filmes de Ed Wood (“Jail Bait”, “Bride of the Monster” e “Plan 9” tiveram o som feito por ele) e em produções como “The Astounding She-Monster” (1957) de Ronald V. Ashcroft e “The Cape Canaveral Monsters” (1960), outro delírio do diretor Phil Tucker, o grande responsável pelo genial “Robot Monster” (1953). E a edição ficou a cargo do diretor/produtor Don Davis que comandou o trabalho em filmes como o dramático “For Love and Money” (1967), também com roteiro de Ed Wood, e “Swamp Girl” (1971), sobre uma loirinha que é abandonada num pântano (curiosidade: Don Davis aparece atuando no papel de um Bêbado em “Plan 9”). Ainda sobre a equipe de “Orgy of the Dead”, diz a lenda que os diretores de segunda unidade , não creditados no filme, foram Edward D. Wood Jr. e Ted V. Mikels, mas duvido que tão capenga produção tenha tido uma equipe de segunda unidade.
De certo modo a explosão do mercado de cinema adulto no final dos anos de 1970, aliado a popularização dos aparelhos de VHS que permitiam ao público ver putaria explícita no conforto do lar, foram os responsáveis por sepultar a carreira de toda uma geração de produtores/diretores independentes como Apostolof (e até gênios como Russ Meyer). Depois de “Ice Hot”, filme que lançou em 1978, Apostolof nunca mais conseguiu investidores para seus filmes eróticos (que preferiam a segurança financeira de investir no cinema hardcore). Como Apostolof detinha os direitos autorais de todos os seus filmes se dedicou a lançá-los no, então, crescente mercado de vídeo doméstico se tornando o distribuidor de seus agradáveis e bem humorados lixos cinematográficos (Russ Meyer, Ted V. Mikels, David Friedman, e outros, fizeram a mesma coisa).
Escrito por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.
Em Outubro agora, pra ser mais exato no dia 04, minha produção “Blerghhh!!!” estará fazendo seus 20 anos. Visto hoje em dia este filme até pode parecer uma produção bem simples, mas em plenos anos 90 – quando você não tinha equipamentos para filmar, não tinha maquiadores profissionais e nem dinheiro algum – foi uma das produções mais elaboradas e profissional entre o pessoal que produzia vídeos de horror no Brasil.
Poster de Blerghhh!!! (1996)
Jorge Timm com fx sendo aplicado por Coffin Souza
Foram 11 dias de filmagens sem interrupções, com uma equipe de umas 25 pessoas e apenas 2 mil reais no orçamento (imagino que hoje ele custaria entre 12 e 15 mil reais para ser produzido). Na equipe os únicos profissionais eram David Camargo (falecido em 2008), ator de teatro, e o maquiador Júlio Freitas, responsável pela cabeça mecânica que aparece no filme (ambos de Porto Alegre). O resto da equipe foi formada pelo pessoal que já estava me acompanhando desde a produção de “O Monstro Legume do Espaço” (1995) e “Eles Comem Sua Carne” (1996), produções onde tentamos “afinar” o pessoal. Trabalharam comigo todo o grupo que fez a Canibal Filmes ficar conhecida: E.B Toniolli (que já me acompanhava desde “Lixo Cerebral Vindo de outro Espaço“, produção inacabada de 1992), Carli Bortolanza (em seu primeiro trabalho como maquiador), Coffin Souza, Marcos Braun, Loures Jahnke (que interpretou o Monstro Legume original), Airton Bratz (o Chibamar Bronx), Claudio Baiestorf (falecido em 2009), Jorge Timm (falecido em 2012), Doroti Timm (falecida em 2001), Viola (falecido em 2013) e outros talentos da época.
Coffin Souza
Como de costume num autêntico Canibal Filmes, nada foi calmo durante essa produção: Tempestades da mãe natureza, traficante preso durante as filmagens, muito caos etílico durante os 11 dias, atores quebrando um quarto de hotel nos intervalos das filmagens (nunca consegui pagar essa conta, mas o dono do estabelecimento continua meu amigo) e, quando menos se esperava, alguém correndo pelado pelo set (que é algo que adoro, porque tenho orgulho dos meus sets naturalistas sem lei e sem ordem, apesar de que dou uns chiliques as vezes). Inclusive teve até uma diária que eu, que estava dirigindo o caos todo, acabei perdendo por estar bêbado demais. Os bons tempos do amadorismo selvagem.
David Carmargo, Madame X e Jorge Timm
“Blerghhh!!!” foi lançado no final de 1996 e, no ano seguinte, causou um transtorno com a Sociedade Brasileira de Artes Fantásticas quando foi retirado da programação da terceira HorrorCon que acontecia na Gibiteca Henfil (São Paulo/SP) porque, na minha falta de maturidade, não topei a censura de 18 anos que queriam colocar no filme. Não achava que os poucos peitinhos que aparecem no filme eram motivo para tal censura, mas na época eu ainda não tinha o jogo de cintura que adquiri com o passar dos anos de produções polêmicas e submundo exploitation.
Júlio Freitas tirando molde da cabeça de ator para construção da cabeça decepada.
Atualmente “Blerghhh!!!” é um filme pouco lembrado – porque ficou bastante datado – mas acredito que foi um filme importante para o gênero fantástico brasileiro que, naqueles já longínquos anos de 1990, ainda nem sonhava com o florescer que teria após 2013 com o surgimento de toda uma nova geração de cineastas.
Para conhecer o filme clique no nome: “BLERGHHH!!!” (O filme que você vai ver neste arquivo é a re-edição de 2008). Divirta-se!