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Mais um protesto na avenida Paulista marcado para essa semana: Cineastas independentes ganham vitrine para seus filmes na mostra Cinema de Bordas que vai acontecer entre os dias de 20 a 23 de junho no Itaú Cultural (Av. Paulista 149), com a exibição de 28 produções que não contam com dinheiro público em seus orçamentos.
No Brasil existem inúmeros cineastas independentes que não se utilizam do dinheiro público para produzirem seus filmes. Estes cineastas criaram seus próprios mecanismos de produção e distribuição e tentam evoluir de filme para filme. A produção do cinema independente é um ato político onde cineastas amadores e profissionais se negam a usar dinheiro público para empregar na realização de filmes populares. Os cineastas independentes tem o privilégio de dizer um grande não às possibilidades de trabalhar com as esmolas do governo e criar, dentro de suas próprias condições, obras que o povão entende e aplaude.
Entre os 28 filmes que serão exibidos está meu novo longa-metragem, “Zombio 2: Chimarrão Zombies”, produzido nun sistema de cooperativa que reuniu as produtoras Canibal Filmes, El Reno Fitas, Camarão Filmes e Idéias Caóticas, Bulhorgia Filmes, Sui Generis Filmes, Projeto Zumbilly, Necrófilos Produções, Fábulas Negras, Gosma e mais uns 50 colaboradores, cada um ajudando a fazer o muito com o pouco que podia ajudar.
A mostra Cinema de Bordas vai exibir o primeiro corte de “Zombio 2” (ainda falta mexer no som, efeitos sonoros, trilha sonora e cores do filme) no dia 23 de junho às 18 horas, no encerramento da mostra que prima por exibir o cinema mais autoral (e livre) produzido atualmente no Brasil.
“Zontar – The Thing From Venus” (“O Monstro de Vênus”, 1966, 80 min.) de Larry Buchanan. Com: John Agar, Susan Bjurman e Tony Huston.
Em 1956 o diretor Roger Corman, com um roteiro de Lou Rusoff, chamou Peter Graves, Lee Van Cleef e Beverly Garland e legou ao mundo o clássico da sci-fi mundial “It Conquered the World”, que contava a história de um venusiano que queria eliminar as emoções dos humanos para assim ter a paz mundial, mas lógico que o alien queria mesmo era dominar o mundo. O filme de Roger Corman era uma produção da American International Pictures, que em 1964 foi um dos últimos estúdios de cinema a criar sua própria produtora de filmes para TV, que se chamou American International Television e que nunca fez muito sucesso, com vários dos filmes dirigidos por Larry Buchanan. “Zontar – The Thing From Venus” é o remake televisivo do clássico “It Conquered the World”.
O roteiro de ambos os filmes é muito próximo. Re-escrito por Hillman Taylor e Larry Buchanan, “Zontar” conta a história do cientista Dr. Keith (Tony Huston) que está em contato com uma criatura de Vênus com seu impagável sistema de som gigantesco. John Agar, aqui no papel do Dr. Curt Taylor, faz piadas com o colega porque a “voz” de Zontar são sinais sonoros estáticos ininteligíveis. Paralelo a isso, Zontar toma um satélite terrestre e o faz ter problemas para que seja trazido ao planeta Terra (um alien tão poderoso que não tinha nem espaçonave própria?). Uma vez no planeta Terra Zontar se instala numa confortável caverna (segundo ele, com clima próximo do planeta Vênus) e dali, sabe-se lá como, faz com que todas as máquinas humanas parem de funcionar (incluindo torneiras) e, com ajuda de seus morcegos venusianos, implanta algo na cabeça dos terrestres (principalmente funcionários do governo e policiais) que permite a ele controlar as ações das pessoas para seus propósitos malignos.
Diz a lenda que Larry Buchanan foi o único diretor da história do cinema que editou seus filmes colando-os com fita adesiva, dado seu pão-durismo. A se julgar pelos efeitos especiais amadores de “Zontar”, isso pode ser verdade. Tudo na produção é vagabundo e de terceira, o próprio monstro é extremamente mal feito, os morcegos venusianos são de borracha dura e manejados por varas de pesca (e quando atacam os humanos entra o talento dos atores em fazê-los tremer para que pareçam vivos), com cenários e figurinos simplistas que fazem a festa de quem curte um bom filme ruim. Os atores estão todos no piloto automático, na linha “filma logo que tenho que pagar meu aluguel!”.
Larry Buchanan (1923-2004) tem vários filmes nas listas de “piores filmes já feitos” por aí. Texano, foi criado num orfanato onde ficou fascinado com os filmes que eram exibidos nos finais de semana e logo soube o que iria ser quando crescesse. Assim como Russ Meyer (só que desprovido de talento), Buchanan aprendeu a lidar com as câmeras cinematográficas no exército, filmando batalhas durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1951 escreveu, produziu, dirigiu e estrelou o curta-metragem “The Cowboy”, um western sem som que posteriormente ele incluiu uma narração de Bill Free para ter mais sentido. No ano seguinte dirigiu o longa “Grubstake”, outro western. Ficou alguns anos sem dirigir até que em 1961 se encontrou ao realizar “The Naked Witch”, um horror exploitation onde começou a explorar a nudez feminina. Depois de mais alguns exploitations obscuros, em 1965, foi contratado pela American International Television para produzir e dirigir vários remakes, assim fez a comédia de horror “The Eye Creatures” (1965), sobre um alien invadindo uma pequena cidade; “Zontar – The Thing From Venus” (1966), também sobre um alien invadindo uma pequena cidade; “Curse of the Swamp Creature” (1966), horror rural ambientado nos pântanos do Texas; “Mars Needs Women” (1967), impagável comédia de sci-fi sobre marcianos e mulheres terrestres peladas que é um dos meus preferidos dos filmes realizados por ele; “In The Year 2889” (1967), sobre um grupo de sobreviventes da guerra nuclear que lutam contra mutantes canibais; “Creature of Destruction” (1967), onde um cara prevê os assassinatos de um monstro marinho; “Hell Raiders” (1968), drama de guerra e o hilário “It’s Alive!” (1969, não confundir com o filmaço de Larry Cohen de 1974), onde um monstro pré-histórico ridículo ataca fazendeiros. Como o pessoal da AIP-TV era mais sem noção do que o próprio Buchanan, parece que a ordem para a produção dos remakes veio acompanhado da seguinte nota: “Queremos os filmes baratos mas coloridos, precisam ter 80 minutos de duração, ter nomes chamativos e queremos para agora!”. Em 1981 Buchanan filmou a aventura de horror “The Loch Ness Horror”, explorando o mito do monstro marinho escocês que estava em alta. Mesmo seus filmes tendo sido produções ultra-vagabundas, Buchanan sempre teve lucro com suas produções, provando que no cinema tanto faz se seu filme é bom ou ruim, o importante é como chegar a platéia e cobrar ingressos.
O ator John Agar (1921-2002) nasceu em Chicago, foi casado com Shirley Temple e se especializou em papéis em filmes de baixo orçamento. Alcoólatra em tempo integral, Agar estrelou maravilhas da sétima arte, como “Revenge of the Creature” (1955) de Jack Arnold, continuação do clássico “Creature from the Black Lagoon” (1954); “Tarantula” (1955), também de Jack Arnold, sobre uma aranha gigante papando pessoas em seus passeios pelo deserto americano; “The Mole People” (1956) de Virgil W. Vogel, sobre um arqueólogo que descobre o terrível povo toupeira; “Daughter of Dr. Jekyll” (1957) de Edgar G. Ulmer, uma variação do livro “O Médico e o Monstro”, “The Brain from Planet Arous” (1957) de Nathan Juran, sobre o cérebro de um criminoso do planeta Arous que assume o corpo de um cientista terráqueo; “Attack of the Muppet People” (1958) de Bert I. Gordon, deliciosa sci-fi de horror do mestre BIG, como era chamado o diretor Gordon; “Invisible Invaders” (1959) de Edward L. Cahn, tranqueira trash sobre aliens invisíveis tornando os humanos em zumbis; “Curse of the Swamp Creature” (1966), outra desgraça dirigida por Buchanan; “Women of the Prehistoric Planet” (1966) de Arthur C. Pierce, sobre um foguete que cai num planeta desconhecido; e o remake de “King Kong” feito em 1976 por John Guillermin, onde Agar faz um pequeno papel. Mas qualquer filme com John Agar no elenco já merece uma conferida. No final de sua vida Agar abandonou as produções e passou a vender apólices de seguro de vida.
Tony Huston merece citação por ter aparecido como ator em vários filmes do amigo Buchanan, coisas como “The Eye Creatures”, “Curse of the Swamp Creature”, “Zontar” e “Mars Need Women”. Se aventurou também como roteirista, tendo escrito uma meia dúzia de filmes pavorosos como “Curse of the Swamp Creature” (1966), “Creature of Destruction” (1967), “Comanche Crossing” (1968), “Strawberries Need Rain” (1970) e “A Bullet for Pretty Boy” (1970), todos dirigidos pelo amigão Larry Buchanan e “The Hellcats/Gatas no Inferno” (1968), desta vez dirigido por Robert F. Slatzer. Em 1971 se aventurou na direção do drama de ação “Outlaw Riders”, que trazia no elenco o ator William Bonner (de filmaços como “Orgy of the Dead” (1965) de Stephen C. Apostolof; “Satan’s Sadists” (1969), “Hell’s Bloody Devils” (1970) e “Dracula Vs. Frankenstein” (1971), os três do mega picareta Al Adamson e “Angels Die Hard” (1970) de Richard Compton).
“Zontar – The Thing From Venus” foi lançado em DVD no Brasil pela London Films em sessão dupla com o clássico “First Spaceship on Venus/A Primeira Espaçonave em Vênus” (1960) de Kurt Maetzig, filme obrigatório aos fãs de sci-fi.
por Petter Baiestorf.
Veja “Zontar – The Thing From Venus” aqui:
Veja “It Conquered the World” aqui:
Capa do double feature com “First Spaceship on Venus” e “Zontar – The Thing From Venus” lançado no Brasil pela London Films.
Michael Wotruba, John Shadow, Peter Newton, O.J. Clarke, David Hills, Kevin Mancuso, Dario Donati, Robert Vip, Chana Lee Sun, Pierre Bernard, Jeiro Alvarez, Steve Benson, James Burke e Joe D’Amato… Você sabe o que todos estes nomes tem em comum? São todos pseudônimos da mesma pessoa: Aristide Massaccesi (1936-1999), diretor, produtor, eletricista, montador, diretor de fotografia, roteirista e câmera (ufa!) italiano. Mais conhecido como Joe D’Amato, principalmente pelos filmes pornôs-históricos de alto nível (de produção e sacanagem) que dirigiu nos últimos anos. No começo o jovem Aristide seguiu os passos de seu pai e foi “pau-prá-toda-obra” em centenas de produções italianas. Ao começar a dirigir aventurou-se por todos os gêneros comerciais possíveis, sendo figura cult no cinema de horror-gore-trash, além do pornô. “Buio Omega”, “Antropophagous 1 e 2”, “Emanuelle e Gli Ultimi Cannibali”, “Ator”, “Calígula 2”, “Anno 2020”, “Chinese Kamasutra”, “The Untold Story of Marco Polo”, etc e etc… D’Amato foi um dos primeiro (e poucos) a se aventurar num gênero até hoje tabu: o Pornô-Terror. O público alvo dos filmes gore parece não curtir a presença de paus-bucetas-cus em ação no meio das podreiras e os pornófilos parecem broxar ao verem umas tripas expostas em meio às trepadas. D’Amato poderia ter mudado este pensamento se não fosse tão relaxado na maior parte de seu trabalho.
Em 1979 ele e uma pequena equipe viajaram para a pequena ilha de San Domingo (no Caribe) para rodar um filme de terror e um erótico. Quando conheceu as paradisíacas locações e seu elenco fixo se mostrou disposto, o esperto Joe resolveu misturar tudo e fez “Porno Holocaust” e “La Notte Erotichi dei Morti Viventi”. O primeiro, escrito por seu ator e colaborador habitual George Eastman (Luigi Montefiori, 1942), mostra um grupo de cientistas (?!) chamado ao Caribe para investigar as mortes sangrentas de mulheres próximas a uma ilha que servira para testes atômicos secretos. Apesar de mais interessados em transar entre eles e com nativos, o grupo não tem dificuldades para seguir a pista do zumbi-mutante-bem-dotado que estupra e mata com seu esperma radioativo (interpretado por um nativo do Caribe usando roupas em farrapos e pedaços de látex retorcidos colados em seu rosto). Vários personagens são mortos, alguns fodidos até padecer, menos Eastman (o roteirista) que é estrangulado. No final o herói (Mark Shannon ou Manlio Cerosino) mata o monstro e salva a mocinha (a bela mulata Ann Goren). “Porn Holocaust” foi definido exageradamente por Todd Tjersland, autor do livro “Sex, Shocks and Sadism!”, como “… a mais pútrida peça de pornografia jamais cometida em celulóide…”
Já “La Notte Erotiche dei Morti Viventi” começa com o mesmo George Eastman internado muito doidão em um hospício. Entre seus acessos de fúria e trepadas furiosas e selvagens com uma enfermeira, ficamos sabendo de sua aventura com um grupo de turistas (entre eles Shanon e Goren novamente) em uma ilha tropical onde uma linda nativa (Laura Gemser) através de um pequeno ídolo d epedras parece comandar uma horda de zumbis putrefactos e canibais. Entre várias transas e cenas como a da dançarina negra que se masturba com uma garrafa de champanhe, conseguindo abri-lá com seus lábios (vaginais, é claro!) e outras seqüências imprescindíveis à trama, vemos vários mortos-vivos atacando com fúria.Um deles, por exemplo, totalmente coberto de vermes dilacera o pescoço de um legista apavorado. No final tudo pode ser loucura ou trauma da cabeça de Eastman como no clássico “O Gabinete do Dr. Caligari” (1919). Em ambos filmes de D’Amato, as cenas de sexo ainda não mostravam a técnica que fariam Joe famoso (ele ainda estava treinando) e o horror, principalmente pela total falta de dinheiro para bons efeitos e maquiagens, não assusta. Mas afinal, os filmes são bons? Que diferença isto faz? Com estes elementos pioneiramente reunidos e o clima bagaceiro generalizado, divertem muito como trash. Ainda estou esperando uma produção fodona com sexo, tripas, bundas, muco, peitos, dilacerações e porra! Nestes dias de correções políticas em que vivemos, não sei não…
LAURA GEMSER É UMA BELEZA MORENA DE LONGAS E BEM TORNEADAS PERNAS, ROSTO LINDO E EXÓTICO E BUNDA E SEIOS PERFEITOS. Nascida em 1951 na ilha de Java (Indonésia) seu nome é Laurette Marcia Gemser ou, ainda, Moira Chen. Foi a musa (e dizem, amante) de Joe D’Amato com quem rodou a longa e conhecida série com a personagem erótica Black Emanuelle (“Black Emanuelle 2”, “Emanuelle and the Last Cannibals”, “Emanuelle in America”, “Emanuelle in Egypt”, “Emanuelle Around the World”, “Emanuelle and the White Slave Trade”, “Confessions of Emanuelle”, “Emanuelle in Africa”, “Emanuelle in Bangkok” e “Emanuelle’s Daughter”), além de enfeitar com suas formas “Eva Nera” (1978), “Ator” (1983), “Calígula 2” (1983), “Endgame” (1984) e o já citado “La Notte Erotiche dei Morti Viventi”. Casada desde o final dos anos de 1970 com o veterano ator italiano Gabrielle Tinti, depois da morte de seu marido e de seu diretor favorito ter se dedicado exclusivamente ao Hardcore (Gemser só fazia cenas de sexo simulado), retirou-se da indústria, deixando saudades nos punheteiros de todo o mundo que, assim como os últimos canibais do filme de 1977, queriam come-la a todo custo!
Começou no dia primeiro de março a décima primeira edição da Mostra do Filme Livre (sem medo de afirmar, atualmente é a mostra de cinema mais divertida do Brasil). A mostra conta com patrocínio do Banco do Brasil e nesta edição bateu recorde de inscrições com 801 filmes, dos quais 180 filmes foram selecionados para exibição junto de outros 50 títulos convidados, mostrando um panorama do que de mais ousado é produzido pelos cineastas independentes brasileiros (meu filme “O Doce Avanço da Faca” está entre estes filmes convidados). As exibições dos filmes já estão acontecendo no CCBB carioca (Rua Primeiro de Março, 66, centro – fone: 21-3808-2020).
Criada e organizada pelo produtor Guilherme Whitaker, a MFL existe desde 2002 e sempre destaca a exibição de longas, médias e curtas que fujam do lugar comum. Whitaker diz: “A mostra tem por característica exibir filmes atuais, de baixo custo e que em sua grande maioria não tiveram qualquer tipo de apoio estatal”.
Neste ano o grande homenageado da MFL é o cineasta baiano Edgar Navarro, que exibrá toda sua obra e, também, o ainda inédito “O Homem que Não Dormia”. O evento carioca (MFL deste ano acontece também em São Paulo e Brasília) traz também a sessão “Curta Rio” (só com filmes da cidade), “Oficinando” (filmes produzidos nas oficinas da MFL) e a famosa e imperdível sessão “Invisível” (já fui nesta sessão, em outra edição da mostra, e é diversão pura), que é composta de filmes rejeitados pela curadoria da mostra e que passarão pelo julgamento popular (cada pessoa do público recebe um apito e se realmente acha o filme exibido pavoroso pode apitar e gritar a vontade). A maior novidade deste ano será a “Cabine Livre”, onde diversos filmes em looping serão projetados. Outro destaque é que, entre os filmes selecionados, está o fantástico “Leonora” (2011) de minha amiga Eliane Lima que é o último trabalho do genial George Kuchar, que faz parte do elenco do curta e merece ser conferido. “Ivan” (2011) de Fernando Rick, que é um dos melhores curtas nacionais que vi nos últimos anos, também está entre os selecionados.
"Leonora".
Nesta edição da MFL a oficina de vídeo será ministrada por Petter Baiestorf (este seu escriba aqui do Canibuk) e Christian Caselli e tem um sugestivo nome: “Oficina do Fim do Mundo”.
SERVIÇO
11ª Mostra do Filme Livre – MFL 2012
Cinema I – 102 lugares (espaço especial para cadeirantes)
Cinema II – 50 lugares (espaço especial para cadeirantes)
Data – 1º a 22 de março
Entrada franca – Com distribuição de senhas 1h antes de cada sessão
Local – CCBB RJ – Rua Primeiro de Março, 66 – Centro (21) 3808.2020
Não possuir condições de contratar atores profissionais, aqueles chatos-egocêntricos-cheirando-a-sabonete-de-rosas, não é desculpa para conseguir um bom nível de interpretação em suas obras kanibarusinematizadas. Utilize-se do Kanibaru Sinema Systema, que formou amadores-famosos e talentosos como Jorge Timm, Viola, Elio Copini, Ivan Pohl, Ljana Carrion, Lane ABC, Gisele Ferran, Minuano, Marcírio Albuquerque, Kika, Airton Bratz, Gurcius Gewdner, entre dezenas de outros.
A) Não existe ator ou atriz ruim. Existe sim, pessoas escaladas em papéis errados. Vá testando seus amigos, parentes ou vizinhos (freaks) nos mais diversos tipos de papéis (mas faça isso já rodando algum vídeo, para não desperdiçar tempo e fita virgem), os que se destacarem nos quesitos:
– Conseguir fazer diálogos;
– Conseguir fazer mais de uma expressão facial diferente;
– Ter algum talento físico (saber lutar, correr, cair, etc);
– Ter algum atributo físico (peitões moles, bunda disforme, órgão sexual avantajado, etc);
– Disposição para cenas de aberrações (sem efeitos especiais), como comer ratos, contracenar com animais perigosos ou escrotos, banhar-se em excrementos, etc.
Serão escalados para os papéis principais, os outros serão figurantes até aprenderem, por si mesmos, como aparecer.
B) Escale seu elenco já aproveitando os tipos determinados que estão ao seu redor: O gordo brincalhão, o baixinho invocado, a menina sexy, o amigo trapalhão, a amiga alucinada, etc.
C) Bebida à vontade pode ser um bom método de se conseguir atuações mais espontâneas. Evite drogas, a não ser que seja estritamente necessário ou esta seja a temática de sua obra.
D) Procure fazer seus atores sentirem um pouco o que seus personagens devem expressar. Se necessitar de uma pessoa irritada, incomode bastante a sua atriz; água suja com sabão na boca é bom para induzir ao vômito e conseguir uma expressão mais intensa de alguém com uma tendência mais dispersa. Sono, frio e desconforto físico também são ótimos aliados. Programe uma festa no dia das gravações, faça seu elenco beber e se divertir um pouco e depois atravesse a noite trabalhando, aqueles que sobreviverem até a manhã seguinte estarão dentro do método kanibaru.
E) Nunca despreze as sugestões e desejos bizarros de seu elenco freak. Se um dos atores, apesar de sua aparência máscula, diz que quer um personagem feminino, aproveite para colocá-lo no lugar daquela atrizinha que fica irritante quando com TPM. Se aquele outro, notadamente sem destreza física, bolar alguma cena tipo “vou pular por dentro de um círculo de fogo totalmente nu”, arme-se de alguns cuidados para evitar uma tragédia (e um processo) maior e… Filme!!!
F) Se um dos seus atores-amadores mais veteranos começar a se destacar muito e tiver problema com o ego e começar a imitar os nojentinhos profissionais, não o poupe, despreze-o! Coloque-o em papéis menores, sem uma linha de diálogo, ou apenas chame-o para segurar alguma iluminação secundária. No meio anarco-etílico-artístico-ateísta não existe lugar para egos inflamados (fora o seu, diretor/realizador, é claro!).
G) E mais… Se mesmo assim você estiver a milhares de quilômetros de algum ser vivo interessante (leia-se filmável) ou por alguma outra insana razão não houver atores e/ou atrizes à disposição… Isto não é desculpa para não realizar sua obra-prima vagaba. Ora! Faça vídeo-poesia, ou documentários… Faça! Faça! Faça!
escrito por Coffin Souza para o livro “Manifesto Canibal” (editora Achiamé, 2004).
Ilustrado com fotos da produção do filme “A Curtição do Avacalho” (Petter Baiestorf, 2006).
“Undertaker” (2008, 6 min.) animação de Claudio Ellovitch.
Com autorização de José Mojica Marins, o animador Claudio Ellovitch realizou o curta “Undertaker”, de forte inspiração no visual expressionista (assim como a antiga série animada de Luiz Nazário, feita em 2001, e que vi os episódios “A Flor do Caos” e “Selenita Acusa!”, não fiquei sabendo de mais episódios foram produzidos depois), Claudio realizou uma ótima mistura entre o estilo de José Mojica marins filmar com o clássico alemão “Das Cabinet des Dr. Caligari” (“O Gabinete do Dr. Caligari”, 1919, de Robert Wiene) para contar a história do coveiro Zé do Caixão que revela horripilantes segredos (não deixe de assistir ao curta que pode ser visto no link abaixo).
Claudio Ellovitch se formou em comunicação social tendo a oportunidade de, em 2007, ter participado da pré-produção do longa “Encarnação do Demônio” de José Mojica Marins, onde ele pôde apresentar o projeto de “Undertaker” e receber a benção de Mojica. Este curta de Ellovitch chamou atenção e foi exibido em vários festivais de horror como RioFan, FantasPoa e Buenos Aires Rojo Sangre. Em 2008 Claudio também conheceu o quadrinista Eugênio Colonnese e, juntos, estavam trabalhando juntos num projeto live-action da personagem “O Morto do Pântano”, clássica criação de Colonnese nos anos de 1980, quando recebeu a notícia da morte do mestre dos quadrinhos. Mesmo sem Colonnese, Claudio continua trabalhando para trazer para o público este curta-metragem. Após o sucesso de “Undertaker” ele realizou alguns poucos trabalhos (a maioria são experimentações para testar técnicas que ele quer aplicar no filme do “O Morto do Pântano”) e abriu, em 2011, a loja de HQ “O Cara dos Quadrinhos” na galeria do rock em São Paulo. Atualmente ele se dedica à criação de sua primeira graphic novel, “Estranhos Palácios”.
“Robot Monster” (1953, 66 min.) de Phil Tucker. Com: George Nader, Claudia Barrett, Selena Royle, John Mylong e George Barrows como Ro-Man.
Ro-Man destruiu o planeta Terra com seu raio da morte e apenas um cientista e sua família sobrevivem, igual ratos, morando nos escombros de sua casa. Para o planeta Terra ser dominado, Ro-Man recebe a missão de matar esses sobreviventes com suas próprias mãos (já que, por algum motivo desconhecido, seu raio da morte não funciona com elas) e sai a caça dos humanos com sua maligna, hedionda e incrivelmente tétrica máquina de fazer… Bolhas de sabão!!!
O roteiro do filme, de autoria de Wyott Ordung (que no ano seguinte dirigiu “Monster from the Ocean Floor”), é um samba do criolo doido, com dinossauros pré-históricos caminhando sobre a terra em escombros, dramas paralelos, sonhos, muitos diálogos bestas-engraçados-absurdos e a total falta de cenários. Phil Tucker filmou “Robot Monster” em cerca de 4 dias com um orçamento de 16 mil dólares e o filme acabou arrecadando quase hum milhão de dólares. Quando Tucker foi filmar “Robot Monster” a miséria era tanta que, sem a menor possibilidade de criar a fantasia do alienígena, chamou seu amigo George Barrows que tinha uma roupa de gorila, acrescentou um capacete com anteninhas cósmicas retiradas de uma TV velha e… Pronto, criou um ícone da sci-fi, simples como viver.
Um fato tragicômico que envolveu “Robot Monster” foi a tentativa de suicídio de Phil Tucker após o lançamento da produção. De acordo com o livro “Keep Watching the Skies!” de Bill Warren, Tucker ficou deprimido após uma disputa com a distribuidora do filme para receber sua parte dos lucros e nunca chegou a ganhar nada. Tucker, então, teria pego uma arma e disparado contra si, errando o tiro! Hollywood é drama acima de tudo!
Phil Tucker foi uma pequena lenda da indústria cinematográfica dos filmes sem orçamento algum. Nascido em 1927 alcançou notoriedade em 1953, pouco antes de realizar “Robot Monster”, quando dirigiu o amalucado “Dance Hall Racket”, filme estrelado e financiado pelo maluco Lenny Bruce (um comediante que caprichava nas piadas com críticas sociais que foi condenado em 1964 por obscenidade). Em 1960 Tucker escreveu e dirigiu o curioso “The Cape Canaveral Monsters”, se aposentando então da terrível tarefa de dirigir filmes. Nos anos de 1970 se tornou um respeitado editor de filmes e fez também a supervisão de pós-produção de sucessos de público como “King Kong” (1976) de John Guillermin e “Orca – The Killer Whale!” (1977) de Michael Anderson. Em paralelo às suas atividades cinematográficas, foi mecânico e inventou um motor de ar quente conhecido como “Surge Turbine”, patenteado pelo governo americano. Tucker faleceu em 1985.
Curiosidade: A trilha sonora do hoje clássico “Robot Monster” foi composta por Elmer Bernstein, compositor, entre outras, das trilhas de filmes como “Cat-Women of the Moon”, “The Great Escape”, “The Magnificent Seven” e “The Ten Commandments”.
“Robot Monster” é um filme ruim, isso não resta dúvidas, mas é tão ruim que te deixa com um sorriso nos lábios durante toda sua projeção.
Se você ficou curioso em ver “Robot Monster”, saiba que ele tá disponível no youtube em várias partes (ou clique aqui). Resolvi linkar aqui outros dois filmes de Phil Tucker que são menos conhecidos, boa diversão!
Filha de pai italiano e mãe portuguesa, Aldine Rodrigues Raspini nasceu em Portugal em 1953. Veio para o Brasil aos dois anos passando a morar com a família no Rio Grande do Sul, foi rainha da Festa da Uva de Caxias do Sul e trabalhou em Porto Alegre. Com 18 anos foi para São Paulo e se consagrou como modelo. Começou no cinema em 1974 pelas mãos do esperto Cláudio Cunha (que também estreava na direção). Graças ao seu rosto lindo, corpo perfeito e jeito expontâneo logo se transformou em um das rainhas da pornochanchada. Mesmo trabalhando na Boca do Lixo, sempre soube escolher seus trabalhos e foi requisitada por bons diretores, como Carlos Reichenbach, Walter Hugo Khoury, John Doo, Ody Fraga ou Jean Garrett (José Antônio Nunes Gomes e Silva, 1947-1996), também nascido em Portugal e com quem ela foi casada no começo dos anos de 1980. Seu talento dramático, aliado a sua facilidade em tirar a roupa, a levou a aparecer em diversos filmes de cunho fantástico, o que lhe concederia o título de Scream Queen ou Femme Fatale nacional, se aqui se valorizasse o gênero. Seu filme “Boneca Cobiçada” (1981) entrou para a história pela primeira (embora rápida e enxertada) cena de sexo explícito liberada pela censura. Foi exatamente o advento dos filmes pornôs que a levaram a diminuir o ritmo de trabalho no cinema e a se dedicar a TV onde trabalhou em inúmeras novelas (argh!) e programas de humor (aarghhh!), principalmente na Globo (AARRGHHH!!!). A bela Aldine continua ativa no teatro, ministra cursos de interpretação e, no ano 2000 (com quase 50 anos e já sendo avó), apareceu peladinha na revista Sexy número 245, mostrando que continua ousada, dona de si e um dos grandes tesões nacionais!
por Coffin Souza.
Filmografia Básica:
1974- “O Clube das Infiéis” de Cláudio Cunha; 1976- “A Ilha das Cangaceiras Virgens” de Roberto Mauro, “Pesadelo Sexual de uma Virgem” de Roberto Mauro; 1977- “Paixão e Sombras” de Walter Hugo Khoury, “19 Mulheres e Um Homem” de David Cardoso, “Bem Dotado – O Homem de Itú” de José Miziara; 1978- “Ninfas Diabólicas” de John Doo, “O Estripador de Mulheres” de Juan Bajon, “Os Galhos do Casamento” de Sergio Segall, “A Força dos Sentidos” de Jean Garrett, “Império dos Sentidos” de Carlos Reichenbach; 1979- “Os Imorais” de Geraldo Vietri, “Nos Tempos da Vaselina” de José Miziara, “O Prisioneiro do Sexo” de Walter Hugo Khoury, “Colegiais e Lições de Sexo” de Juan Bajon, “A Mulher que Inventou o Amor” de Jean Garrett; 1980- “A Fêmea do Mar” de Ody Fraga, “Convite ao Prazer” de Walter Hugo Khoury, “O Fotográfo” de Jean Garrett, “Bacanal” de Antonio Meliande; 1981- “Boneca Cobiçada” de Raffaele Rossi; 1983- “Excitação Diabólica” de John Doo, “Shock” de Jair Correa, “Força Estranha” de Pedro Mawashe.
O norte americano Harry Thomas, nascido na Pensylvania em 22 de setembro de 1909, se envolveu com a indústria do cinema primeiro como figurante em filmes como “Pardon Us” (1931), com a dupla humorística Laurel & Hardy (O Gordo & O Magro) e depois se interessou por maquiagem, sendo treinado por William Tutle e Jack Dawn, chefes do departamento da MGM. Durante a fase clássica de filmes de terror da Universal, trabalhou sob ordens de Jack Pierce, que ele considerava seu verdadeiro mestre. Sua vocação para trabalhos rápidos e de baixo custo o levou a televisão, onde foi responsável pela maquiagem em 52 episódios da série “Adventures of Superman” (1951-1954) e pelo filme de cinema realizado para divulgar o programa “Superman and The Mole Man” (1951) de Lee Sholem. Nesta aventura tipicamente “B”, o super-herói vindo do planeta Krypton (vivido pela primeira vez por seu mais famoso intérprete George Reeves) enfrenta a ameaça dos terríveis homens toupeiras, que surgem do fundo da terra para ameaçar os humanos com suas armas de raios. As criaturas, que no final estavam apenas protegendo seu habitat, foram vividas por anões com falsas cabeças pontudas e grossas sobrancelhas. Harry Thomas estava criando seu estilo. Em “Cat Women of the Moon” (“As Mulheres-Gato da Lua”, 1953 em 3D) de Arthur Hilton,Thomas precisou construir duas aranhas gigantes com chifres, já que as telepáticas mulheres-gato da lua que tentavam dominar astronautas terrenos, eram garotas com uniformes colantes pretos com quase nada que lembrasse gatos ou felinos na maquiagem, a não ser longas unhas feitas de pedaços de celulóide cortados e pintados. Sua primeira criação mais complexa surgiu no terror “The Neanderthal Man” (“O Homem Fera”, 1953) de E.A. DuPont, sobre um cientista maluco que desenvolve um soro que o faz regredir a um estágio pré-histórico. A cena de transformação, realizada quadro a quadro, enquanto Thomas ia maquiando o ator Robert Shayne, ao estilo das maquiagens de Jack Pierce para a série de lobisomens dos anos 40, é bastante eficiente, mas destoa totalmente em visual com a pesada (e sem movimentos) máscara feita com algodão, cola, pelos e cascas de laranja secas (fazendo os dentes disformes), além de uma peruca ridícula, construída para o dublê e treinador de animais que precisava no final enfrentar um também muito falso tigre-de-dentes-de-sabre.
Harry Thomas conta no livro “Nightmare of Ecstasy – The Life and Art of Edward D. Wood, Jr.” (Feral House Books, 1992) de Rudolph Grey, que foi convidado pelo jovem cineasta para ir até sua casa para receber o roteiro de seu novo filme. “Eu peguei o endereço e bati na porta. Uma mulher alta, bem vestida me atendeu , mandou sentar e me serviu uma xícara de chá. Eu perguntei se Eddie estava em casa e ela me disse: ”Eu sou Ed Wood”. E eu estava chocado e perguntei “Oh! Você não é a irmã de Ed?“ -“Não, eu sou realmente Ed. É desta forma que quero aparecer em “Glen or Glenda””. Assim, o maquiador acostumado apenas com filmes de ficção científica e monstros teve que trabalhar com cosméticos femininos e embelezar Wood Jr. em seu épico sobre travestismo “Gen or Glenda?” (1953). Além disto, Thomas faz uma ponta na cena em que o personagem Glen tem um pesadelo onde várias pessoas e o demônio (Captain De Zita) o atormentam (ele é o personagem de bigodes, creditado como: “Man in nightmare”). “Glen or Genda estava divorciado completamente do que eu fazia, mas foi divertido.”
Então Harry foi contratado para criar os alienígenas do planeta Astron Delta, que dominam um cientista (Peter Gaves) para ser seu espião no ultra-barato “Killers From Space” (“Mundos Que Se Chocam”, 1954) de W.Lee Wilder. Completamente sem orçamento, ele colocou o que se convencionou chamar de “olhos-de-ping-pong” em senhores de meia idade com macacões pretos e cintos coloridos. Na verdade Thomas utilizou as cavidades de caixas de ovos de plástico pintadas e com pequenos orifícios para os pobres extras poderem enxergar e disfarçou-as com espessas sobrancelhas, sua marca pessoal.
Acostumado com as extravagâncias de Ed Wood, Harry Thomas recebeu um roteiro promissor, afinal “The Bride of the Monster” (1955) prometia Bela Lugosi como um cientista louco com um assistente deformado chamado Lobo (o lutador Tor Johnson), um polvo gigante e etc. Mas novamente as imposições de orçamento foram mais fortes, e as pressas nas filmagens ficam visíveis na maquiagem de Tor, que muda de cena para cena e o polvo na verdade foi roubado do depósito de um estúdio, numa história hoje já clássica. Thomas acabou ficando amigo da trupe mambembe de Wood, e além de confidente das lamúrias do pobre Lugosi, passou a freqüentar a casa de Tor Johnson, onde conta ele teve que certa vez fugir para não passar mal ao acompanhar a família do gigante suíço em uma refeição: “… eles tinham cadeiras especiais para sentar, já que cadeiras comuns quebrariam. O tempo todo Tor dizia – “Comam, comam, comam para ficarem grandes e fortes”. Eu já não agüentava tanta comida e ele queria que eu comesse a metade de uma melancia, quando recusei ele me informou que depois de uma breve soneca teríamos mais um lanche! Eles se pareciam com uma família de grandes ursos!” (R. Grey.). Num dos últimos filmes da produtora classe “Z” Republic, “The Unearthly” (na TV: “O Extraordinário”, 1957) de Brooke L.Peters, John Carradine vivia pela enésima vez um cientista louco, agora fazendo experimentos com transplantes glandulares auxiliado por seu assistente gigante-retardado chamado… Lobo (Tor Johnson, é claro!). Se Johnson atuou ao natural, apenas com seu físico avantajado, no final seu personagem redimido, ajuda a linda mocinha (Allison Hayes) a escapar de um grupo de mutantes deformados que o médico escondia no porão. O principal deles, com uma maquiagem grotesca (no “bom” sentido) feita por Harry Thomas com pedaços de látex e adesivos cirúrgicos era um jovem gigante chamado Carl Johnson, o “little Karl”, filhinho comilão de Tor.
Nesta época, Harry Thomas trabalhou brevemente junto com outra lenda das maquiagens e efeitos vagabundos: Paul Blaisdell (o maquiador preferido de Roger Corman). Em “Voodoo Woman” (1957) de Edward L. Cahn, eles tiveram que reciclar uma fantasia criada por Blaisdell um ano antes para “She Creature” do mesmo Ed Cahn. O antes monstro marinho feminino, ganhou uma nova cabeça, semelhante a uma caveira deformada, uma peruca loira (!) e um vestido feito de sacos de linhagem. No bizarro “From Hell It Came” (“Veio do Inferno”, 1957) de Dan Milner, um príncipe de uma ilha do Pacífico sul reencarna em uma árvore que caminha e ataca pessoas e é chamada de Tabonga. O monstro vegetal parece o pesadelo de uma criança de 5 anos, ou poderia ter saído de algum conto de fadas mais sinistro. Durante muitos anos, lendas sobre a construção/concepção da criatura apareceram em diversas publicações e entrevistas, mas J.J. Johnson no espetacular livro “Cheap Tricks and Class Acts” (McFarland Books, 1996) esclarece o mistério: Paul Baisdell desenhou , a fábrica de máscaras de Halloween e objetos de cena para filmes Don Post Studios, fabricou e Harry Thomas pintou e fez acabamentos no monstro, além de ter feito todas as maquiagens dos nativos da história.
“The Bride and the Beast” (1958) de Adrian Weiss parece uma história escrita por Ed Wood… e é! Precisando de dinheiro, ele vendeu seu roteiro sobre uma mulher (Charlotte Austin) que durante um safári na África, descobre aos poucos que é a reencarnação de uma gorila, para no final reverter ao seu estado primitivo e ir viver feliz no meio das selvas com seus parentes! Como o dublê e performance de gorilas Steve Calvert, já possuía sua fantasia pronta, coube a Harry adicionar mais pêlos, fazer alguns ajustes nos olhos e repintar o primata para ele não parecer exatamente igual a por exemplo “Bride of the Gorilla”(1951), onde já havia sido utilizado.
Finalmente um Clássico! Em 1956, Ed Wood Jr., teve uma idéia brilhante: utilizar umas poucas cenas que havia rodado com seu recém falecido amigo Bela Lugosi para um filme que seria chamado “The Vampire’s Tomb” em uma produção totalmente diferente sobre alienígenas que conseguiam ressuscitar cadáveres humanos para dominar a terra. “Grave Robbers from Outer Space” teria além da participação póstuma de Lugosi, vários outros colaboradores da trupe habitual de Ed, além da presença de uma apresentadora de um programa de filmes de terror da TV chamada Maila Nurmi, mais conhecida como Vampira. Depois de ser financiado por um pastor de uma igreja evangélica, o filme seria renomeado “Plan 9 From Outer Space”(1956/1959) e muito já foi dito e escrito sobre suas filmagens, lançamento e trajetória, que o levaram a fama de ser um dos piores filmes da história do cinema. Fama injusta, já que é muito divertido e extremamente criativo, mas a parte que nos cabe retomar aqui foi contada por Harry Thomas em “Nightmare of Ecstasy” e também no ótimo documentário “Flying Saucers Over Hollywood: Plan 9 Companion” (1992) de Mark P. Carducci. Munido do roteiro, Thomas foi até Ed Wood cheio de idéias sobre a aparência dos alienígenas e argumentou que com adesivo cirúrgico e alguns cosméticos poderia mudar sua cor, olhos e faces, além de saber como alterar suas vozes para não parecerem tão humanos. A resposta de Ed foi clara e precisa e ofendeu o econômico fazedor de monstros: “Harry, nós não temos tempo, nem dinheiro” (ponto final.)
O trabalho de Harry Thomas não era ruim por incompetência sua, mas por tempos reduzidos e orçamentos apertados. Ele se dedicava a desenvolver maquiagens de qualidade, mas a parte financeira e a pressa de diretores e produtores dos filmes vagabundos para que era contratado comprometiam seu trabalho. Quando foi chamado para fazer “Frankenstein’s Daughter” (“A Filha de Frankenstein”, 1958) de Richard E. Cunha, Thomas trabalhou sem um roteiro, criando uma make up bastante expressiva cheia de deformações e cicatrizes para o corpulento ator Harry Wilson. O que o produtor se esquecera de informar era que a criatura seria uma fêmea, vivida antes da transformação pela atriz Sally Todd. Como já havia maquiado para o mesmo filme a jovem Sandra Knight (com sua combinação clássica: dentes enormes deformados mais sobrancelhas peludas), acreditou que ela seria a tal “monstra”! Assim, a solução foi colocar uma enorme quantidade de batom nos lábios deformados do monstro, que para piorar usava uma roupa que parecia a de um Papai-Noel espacial! Para providenciar uma sessão dupla para o lançamento de “A Filha de Frankenstein”, Richard Cunha reescreveu sua história básica terráqueos-enfrentam-uma-raça-de-mulheres-alienígenas gostosas (vista antes em “Cat Women of the Moon”) e Thomas foi encarregado de ajudar a criar uma dupla de homens-rocha e a disfarçar uma aranha gigante fabricada pela Universal para promover seu clássico “Tarântula” (1955), fazendo-a agora a principal ameaça para as garotas da Lua. Uma nova cara e um acréscimo de pêlos só fizeram piorar os já limitados movimentos do bicho movido a fios de nylon. E assim nasceu, então, “Missile to the Moon” (1958), disponível em DVD no Brasil.
Harry Thomas voltou a trabalhar para Ed Wood e criou uma maquiagem deformada para a volta do personagem Lobo (Tor Johnson) do mundo dos mortos em “Night of the Ghouls”, filmado em 1958 e nunca lançado nos cinemas. Um médium picareta chamado Dr.Acula promete fazer contato com entes queridos falecidos de seus clientes, mas acaba provocando a vingança dos mortos (seu título original “Revenge of the Dead”). A confusa seqüencia de acontecimentos sobrenaturais vividas entre cenários de papelão teve “ajuda” na edição de Phil Tucker (de “Robot Monster”, outro épico Trash clássico) e foi o penúltimo filme de Ed Wood Jr.
Harry Thomas esteve na equipe que fez “The Little Shop of Horrors” (1960) de Roger Corman, mas apenas fazendo maquiagens faciais. Teve sua oportunidade de fazer suas próprias recriações dos monstros clássicos (Drácula, o lobisomem e a criatura de Frankenstein) no filme adulto “House on Bare Mountain” (1962) de R.Lee Frost, mas o orçamento para o mais caro filme “Nudie” feito naquela época (72.000 dólares) tinha pouco disponível para maquiagens decentes, principalmente porque o que mais interessava era os corpos nus das belas garotas de uma escola para moças assombrada.
Talvez por já se envolver uma vez com uma árvore que caminhava (em “Veio do Inferno”), o esforçado Thomas foi convocado para ajudar “The Navy Vs. the Night Monsters” (“A Marinha Contra os Monstros”, 1966) dirigido pelo roteirista Michael Hoey. No meio da Antártida, a marinha americana descobre uma zona de calor, e nela estranhas plantas que caminham e devoram seres humanos. Além de ser responsável pelo acabamento nos monstros vegetais, nosso amigo criou uma série de cicatrizes e ferimentos de queimaduras bastante realistas, utilizando materiais baratos. Thomas foi um dos pioneiros na substituição de produtos caros utilizados em maquiagens especiais por materiais caseiros, encontrados principalmente em cozinhas: farinha de trigo com água, calda de chocolate, gelatina e Karo. Ele nunca admitiu a utilização destes produtos por razões financeiras, dizia que muitos atores e atrizes eram alérgicos a certos químicos presentes em certas fórmulas de maquiagens, assim os materiais naturais e comestíveis seriam a melhor opção.
O produtor/diretor Arch Oboler, um entusiasta da 3D (Terceira Dimensão) desde os anos 50 (“Bwana Devil”, 1952) desenvolveu um sistema próprio revolucionário, chamado Space Vision, e escreveu para demonstrá-lo uma ficção científica chamada “The Bubble” (“A Bolha”, 1966), sobre uma pequena cidade em que os habitantes são escravizados por uma estranha bolha de energia que flutua sobre o local (e dentro das salas de cinemas, claro). Harry Thomas foi responsável por desenvolver a bolha plástica alienígena e a aparência zumbificada de suas vítimas. (Assisti a uma reprise deste filme no cinema durante a moda do 3D dos anos 80 e sim, a bolha parecia flutuar na sala de projeção, mas de resto era uma enorme chatice, sem graça e sustos…)
Harry Thomas ainda voltaria a sua criação clássica ao transformar a bela Claire Brennan numa aberração com meio rosto deformado, dentes monstruosos, orelha pontuda e um olho de “ping-pong” em “She Freak” (1966) de Byron Mabe, uma refilmagem picareta de “Freaks” (1932) pelo produtor/roteirista David Friedman, um dos reis do “sexploitaition”. Pena que sua criação apenas apareça poucos minutos no final do filme. Voltou então para a televisão e trabalhou em inúmeras séries e programas, mas nunca foi esquecido pelos diretores e produtores de filmes de horror de baixo orçamento, tanto é que Oliver Stone em sua segunda realização “The Hand” (em vídeo “A Mão”, 1981) o chamou para dar vida à personagem título: a mão decepada de um cartunista que ganha vida própria e comete vários crimes. Algum gore, e com pouco dinheiro… uma mão que parece uma luva de borracha caseira.
Harry Thomas faleceu em 21 de outubro de 1996.
Filmografia Parcial:
Superman and the Mole Man (1951); Invasion U.S.A. (1952); Cat-Women of the Moon (1953); The Neanderthal Man (1953); Port Sinister (1953); Project Moonbase (1953); Glen or Glenda? (1953); Monster from the Ocean Floor (1954); Jail Bait (1954); Killers from Space (1954); Bride of the Monster (1955); Plan 9 from Outer Space” (1956/1959); The Unearthly (1957); Voodoo Woman (1957); The Bride and the Beast (1958); Night of the Ghouls (1958); Terror in the Haunted House (1958); Frankenstein’s Daughter (1958); Missile to the Moon (1958); The Little Shop of Horrors (1960); Raiders from Beneath the Sea (1961); House on Bare Mountain (1962); Space Probe Taurus (1965); The Navy Vs. The Night Monsters (1966); She Freak (1966), The Bubble (1966); Logan’s Run (1976); The Hand (1981).
Já que postamos artigo sobre Roger Corman, resolvemos postar também o seu clássico “The Little Shop of Horrors” (1960), uma comédia trash de baixo orçamento que mostra um tímido ajudante de floricultura criando uma planta carnívora que se alimenta de carne humana. O roteiro, escrito por Charles B. Griffith, é inspirado numa história de John Collier chamada “Green Thoughts” de 1932. Produzido com o título de “The Passionate People Eater”, foi filmado em dois dias e uma noite re-utilizando os cenários do filme anterior de Roger Corman com o ridículo orçamento de 30 mil dólares e os atores que Corman usava em quase todos seus filmes desta época como Jonathan Haze, Jackie Joseph, Mel Welles, Dick Miller (que depois sempre fez participações especiais nos filmes de Joe Dante) e o então jovem Jack Nicholson, que dão vida aos estranhos personagens alucinados do filme que tem um senso de humor negro genial. O filme virou cult movie após ser distribuido numa sessão dupla com o “Black Sunday” de Mario Bava. Em 1986 foi refilmado por Frank Oz no formato de um divertido e inventivo musical e depois ganhou até versão em quadrinhos. “The Little Shop Of Horrors” foi lançado aqui no Brasil em várias versões de DVD, a mais curiosa delas talvez seja o double feature que a distribuidora Spectra Nova fez dele com “Serial Moon” (filme de John Waters).