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Pink Narcissus

Posted in Arte Erótica, Cinema, erótico with tags , , , , , , , , , , , , , on setembro 18, 2014 by canibuk

Pink Narcissus (1971, 64 min.) de James Bidgood. Com: Don Brooks, Bobby Kendall e Charles Ludlam.

Nesta obra-prima do baixo orçamento um garoto de programa fantasia diversas situações homoeróticas onde ele se torna a personagem principal de um mundo bem particular.
Pink Narcissus1“Pink Narcissus” é o filme obscuro por excelência, vejamos: Filmado em super 8 entre os anos de 1963 e 1970 (incríveis sete anos de produção), em sistema completamente fora da lei dentro de um loft (incluindo as cenas externas do filme) que ficava na cidade de Manhattan, conseguiu burlar a polícia novaiorquina e realizar primorosas cenas com reluzentes closes de nádegas masculinas, genitálias avantajadas e músculos bem definidos que povoam os sonhos mais molhados da comunidade gay mundial (enrustidos, “Pink Narcissus” é o sonho de consumo de vocês, não percam tempo com o medo e se deliciem com este clássico). Depois de finalizada a edição o filme foi liberado sem que seu diretor, James Bidgood, tivesse concordado com seu lançamento, motivo que o fez assinar a produção como “anônimo” (além da direção, Bidgood fez ainda o roteiro, direção de fotografia, direção de arte e produção). Inclusive, durante muitos anos pensou-se que Andy Warhol fosse o responsável pelo filme (embora tanto Warhol quanto outros diretores gays do quilate de Jack Smith, Kanneth Anger ou os irmãos Kuchar nunca tivessem tanto capricho visual em suas obras, coisa que “Pink Narcissus” deixa transbordar em cada frame), até que na década de 1990 o escritor Bruce Benderson (fã confesso do filme) foi atrás de pistas sobre os realizadores de “Pink Narcissus” e revelou, via um livro chamado “James Bidgood” (lançado pela Taschen), a verdadeira história por trás do filme maldito.

Pink Narcissus2
James Bidgood nasceu em 1933 na cidade de Madison, Wisconsin. Ao se mudar para New York se tornou artista multí-midia com interesse maior em música, fotografia e drag performances. Após “Pink Narcissus” apareceu em mais meia dúzia de filmes (a maioria documentários sobre sua arte) com destaque para a produção “Keep The Lights On/Deixe a Luz Acesa” (2012) de Ira Sachs, drama sobre um cineasta gay que se relaciona com um advogado enrustido onde Bidgood representa a si próprio.
Pink Narcissus 3Martin Jay Sadoff, o editor de “Pink Narcissus” (e motivo de Bidgood ter retirado seu nome dos créditos), seguiu carreira no cinema norte-americano. Em 1979 foi editor de efeitos visuais na super-produção “Meteor/Meteoro”, de Ronald Neame, estrelado por atores do primeiro escalão de Hollywood como Sean Connery, Natalie Wood e Henry Fonda. Nos anos 80 montou filmes como “Graduation Day/Dia de Formatura” (1981) de Herb Freed (que trazia Linnea Quigley no elenco) e “Friday the 13th part VII: The New Blood/Sexta-Feira 13 parte 7 – A Matança Continua” (1988) de John Carl Buechler; foi supervisor de 3D em filmes como “Friday the 13th part III/Sexta-Feira 13 parte 3” (1982) de Steve Miner e “Spacehunter: Adventures in the Forbidden Zone/Caçador do Espaço – Aventuras na Zona Proibida” (1983) de Lamont Johnson e ainda dirigiu o documentário “The Last of the Gladiators” (1988), sobre o lendário Evel Knievel.
Pink Narcissus4Gary Goch, o diretor musical responsável pela ótima trilha sonora do filme, veio de produções classe Z. Foi maquiador e ator no sleazy “Shanty Tramp” (1967) de Joseph P. Mawra (o diretor responsável pela série sexploitation “Olga” do produtor George Weiss, o mesmo que produziu o lendário “Glen or Glenda?” de Edward D. Wood Jr.), câmera em “The Female Bunch/Um Punhado de Fêmeas” (1971) de Al Adamson e, após “Pink Narcissus”, virou pau pra toda obra da dupla de hippies malucos Bob Clark e Alan Ormsby. Para o primeiro foi editor/produtor do clássico classe Z “Children Shouldn’t Play With Dead Things” (1973); fez o som em “Deathdream” (1972) e foi produtor associado em “Porky’s” (1982), “Porky’s 2” (1983), “A Christmas Story” (1983), “Turk 182!” (1985) e “It Runs in the Family” (1994). Para o segundo fez o som de “Deranged” (1974) e produziu o divertido “Popcorn/O Pesadelo Está de Volta” (1991), comédia de humor negro dirigida por Mark Herrier (e Ormsby não creditado).
Fato curioso: O assistente financeiro de “Pink Narcissus” (não creditado no filme) foi o ator Bill Graham, falecido em 1991. Grahan é mais conhecido por integrar o elenco de filmes como “Muscle Beach Party/Quanto Mais Músculos Melhor” (1964) de William Asher, da série de filmes de praia estralados pela dupla Frankie Avalon e Annette Funicello; “Apocalypse Now” (1979) de Francis Ford Coppola, clássico de guerra que dispensa apresentações; e “The Doors” (1991) de Oliver Stone.
“Pink Narcissus” foi lançado em DVD pela distribuidora Cult Classic.

escrito por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.

Veja o trailer de “Pink Narcissus” aqui:

Pink Flamingos e a Arte do Cinema Cor de Rosa Transgressivo

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on fevereiro 16, 2012 by canibuk

“Pink Flamingos” (1972, 108 min.) de John Waters. Com: Divine, Edith Massey, David Lochary, Mary Vivian Pearce, Mink Stole, Danny Mills e a sombra de John Waters.

“Scorpio Rising” (Kenneth Anger), “Sins of the Fleshapoids” (Mike Kuchar), “Flaming Creatures” (Jack Smith) e “Blow Job” (Andy Warhol) foram alguns dos filmes que impressionaram o jovem John Waters e o influenciaram a começar a fazer cinema. Aos 17 anos Waters ganhou uma câmera Super 8 de seu avô, seu primeiro filme foi “Hag in a Black Leather Jacket” (1964), onde ele encenou um casamento inter-racial no telhado da casa de seus pais (que foram os grandes incentivadores financeiros de John Waters em início de carreira). Na seqüência realizou os curtas “Roman Candles” (1966), onde Divine (Harris Glen Milstead) aparece pela primeira vez sem ser creditada (este curta já contava com vários colaboradores habituais de Waters, como David Lochary, Pat Moran, Mary Vivian Pearce e Mink Stole, já com seu grupo de degenerados tomando forma) e “Eat Your Makeup” (1968), seu primeiro filme em 16mm, com Divine alçada a estrela do show (Divine era, já há vários anos, vizinho de John Waters). Em seguida o grupo todo embarca no primeiro longa-metragem, “Mondo Trasho” (1969) e no curta “The Diane Linkletter Story” (1970) que contava com Divine, Lochary e Pearce em papéis impagáveis. Após seu segundo longa, “Multiple Maniacs” (1970), título em homenagem ao Cult “2000 Maniacs” de H.G. Lewis, com Waters conseguindo realizar seu primeiro filme com som sincronizado e uma lagosta gigante que estupra Divine, a gang de desajustados estava, finalmente, pronta para filmar sua obra-prima: “Pink Flamingos” (1972).

Neste “Cidadão Kane” do mau gosto (com um senso de humor negro afiadíssimo), John Waters nos conta a história de Divine (que vive sob o pseudônimo de Babs Johnson) que se esconde nos arredores de Baltimore com sua mãe fanática por ovos (Edith Massey), seu filho Crackers (Danny Mills) e sua companheira de viagem Cotton (Mary Vivian Pearce). Connie e Raymond Marble (Mink Stole e David Lochary) são um rico casal de rivais da escatologia (eles seqüestram jovens mulheres para engravidá-las e depois vender seus bebês para casais de lésbicas) que não gostam de ler num tablóide que Divine é “a pessoa mais imunda viva” e farão de tudo para prejudicá-la.

Se você ainda não conhece “Pink Flamingos” se prepare para quase duas horas de senso de humor divinamente magnífico, alto astral, sexo oral, sexo com galinhas, adoração aos ovos galináceos, podolatria, masturbação, estupro com seringa, closes em genitais, travestis feios e bonitos, a maravilhosa e inspirada cena do músculo anal cantor e a cena onde Divine come merda de cachorro quentinha, sem cortes. Fantástico, com tudo que um bom filme precisa ter!

John Waters, em entrevista para J. Hoberman e Jonathan Rosenbaum, autores do excepcional livro “Midnight Movies”, diz: “Pink Flamingos custou 10 mil dólares. Tivemos que puxar cabos de luz por mais de uma milha até o trailer, que compramos num ferro-velho por 100 dólares e Vince Peranio o reformou para as filmagens. Editei o filme no sótão de minha casa com as ferramentas mais lamentáveis que se possa imaginar. Cada vez que eu queria assistir a um corte, eu precisava colocar o filme num projetor. O som extra foi gravado diretamente em um projetor magnético que só funcionava quando queria. Passei muitas horas a sós com essas filmagens e quase perdi minha razão!”.

“Pink Flamingos” estreou no final de 1972 no campus da Universidade de Baltimore, com ingressos esgotados para três sessões sucessivas. Com seu sucesso no underground americano o filme foi distribuído pela então pequena New Line Cinema e acabou chegando até Ben Barenholtz, proprietário do Elgin Theater em New York, responsável pelas sessões da meia-noite que tornaram “El Topo” (de Alexandro Jodorowsky) um sucesso da contracultura.

O filme mais famoso de John Waters traz a hilária seqüência de Divine comendo, sem cortes, fezes de um cachorro. Na época Divine disse a um repórter: “Eu segui aquele cão por mais de três horas com a câmera apontada no seu rabo!”. Alguns anos antes da morte de Divine, sua mãe teria perguntado se ele realmente havia comido fezes, ao que Divine prontamente respondeu: “Mãe, você não acreditaria no que eles podem fazer hoje em dia com truques de fotografia!”. Divino!!!

Após seu clássico, Waters realizou um punhado de filmaços, como “Female Trouble” (1974), “Desperate Living” (1977, meu preferido entre todos os filmes dele), “Polyester” (1981), “Hairspray” (1988), “Serial Mom” (1994) e “Cecil B. Demented” (2000) e os mais fracos, mas igualmente divertidos “Cry-Baby” (1990), “Pecker” (1998) e “A Dirty Shame” (2004).

Nos anos de 1980 John Waters quase filmou “Flamingos Forever” pela Troma Films, que não foi adiante porque Divine achou que o público da época não aceitaria mais este tipo de humor negro escatológico que envolveria até um cocô gigante voador. John Waters também não se sentiu muito confortável com o equipamento técnico da Troma que naquela época era um punhado de tralhas ultrapassadas.

Aqui no Brasil “Pink Flamingos” foi lançado em DVD pela Continental e, recentemente, saiu em DVD double feature com “Female Trouble” pela Cultclassic.

por Petter Baiestorf.