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As Maquiagens Gore de Alice Austríaco

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A história da maquiagem gore no Brasil é bem recente, tem seus primórdios no SOV da década de 1990, com artistas como Júlio Freitas, Ricardo Spencer e Carli Bortolanza em seus trabalhos em vídeo pela Canibal Filmes. Só no século XXI que o país começou a ganhar grandes artistas dos efeitos melequentos e corpos dilacerados que levaram os efeitos sangrento para outro patamar. Em 2008 Rodrigo Aragão surgiu como o principal nome com seu “Mangue Negro”, junto de artistas como Kapel Furman que, em São Paulo, já estava realizando muitas maquiagens extremas. No sul surgiu Ricardo Ghiorzi e Caroline Tedy, ambos realizando maquiagens lindas. Em Vila Velha surgiu Alexandre Brunoro, que agora também está se especializando em fazer máscaras e próteses e acabou de lançar seu último trabalho, “Você, Morto”, com direção de Raphael Araújo. No Rio de Janeiro Jorge Allen é outro nome cujos trabalhos merecem ser visto. Em Goiânia Hérick João tem realizado make-ups ótimas e tive o privilégio de dirigi-lo no curta “Beck 137” e o cara é rápido sob pressão.

Um novo nome para ficar atento é Alice Austríaco (pretendo trabalhar com ela e Alexandre Brunoro no meu próximo filme), da cidade de Contagem/MG, pertinho de Belo Horizonte. Alice é assistente social formada pela Universidade Una, área em que atuou por dois anos, até que percebeu que não precisa de um emprego formal e que poderia se dedicar em tempo integral para as artes. Formada também em artes gráficas pela Escola Saga, além de maquiadora gore, também tatua, faz ilustrações e desenha roupas.

No momento Alice está realizando as maquiagens gore de um projeto fotográfico envolvendo crianças zumbis em situações de extrema violência, que também deverá se tornar um curta-metragem. Para falar mais sobre este trabalho, entrevistei Alice Austríaco.

Alice Austríaco

Petter Baiestorf: Como surgiu seu interesse por efeitos e maquiagens gore?

Alice Austríaco: Como qualquer criança a influência dos pais foi agente principal pra construção da personalidade e dos gostos, assim a paixão pelo cinema surgiu de forma natural e praticamente imperceptível. Minha mãe admiradora dos grandes romances clássicos e, meu pai, um grande entusiasta do cinema Western, me ensinaram o valor e a importância do cinema ainda quando eu era bem nova. Era hábito alugar algumas fitas durante o final de semana e foi em um desses dias que tive meu primeiro contato com o gore, aos nove anos de idade.  Me lembro bem do “moço da locadora” (como eu o chamava) me recomendando Evil Dead (1981), não sei se com a intenção de me assustar, mas, se foi, não deu muito certo. Me apaixonei. Desde então filmes carregados de efeitos e maquiagens gore se tornaram prioridade, despertaram em mim curiosidade e o sentimento de um cinema repleto de possibilidades e sentimentos. Já mais velha, em contato com alguns filmes, incluindo O Monstro Legume do Espaço que tenho enorme apresso, desenvolvi o interesse pela parte técnica e busquei estudar e compreender o cinema atrás das câmeras, me encantando pela maquiagem. Programas como o Cinelab também fizeram parte desse processo e me mostraram alternativas baratas para o que, até então, parecia impossível.

Alice realiza seus testes de maquiagem em si própria

Baiestorf: Algo que adoro em suas maquiagens e testes gore é a pegada sujona que você imprime a elas. Quais são suas inspirações, tantos nacionais quanto internacionais?

Alice: Minhas inspirações são variadas, Lua Tiomi que é uma maquiadora sensacional e trabalha com muita delicadeza, Mimi Choi que, apesar de ser especialista em Bodypaint (que não é o meu estilo), me inspira bastante, Dick Smith e Greg Nicotero, que são grandes nomes internacionais, me inspiram e uso de referência pra muitos dos meus trabalhos. Entretanto, acredito que o aspecto “sujo” seja uma identidade própria, quase como uma assinatura que desenvolvi ao longo do tempo e tem muito da estética que eu considero bonita no gore.

Baiestorf: Efeitos e maquiagens práticas ou digitais? Ou uma harmonização entre os dois estilos usando o melhor de cada técnica?

Alice: Ainda que eu tenha me inserido no mundo do cinema tardiamente, em que os efeitos digitais já estavam mais comuns, minha preferência sempre será pelas maquiagens e efeitos práticos. Acredito que, dessa forma, toda a produção fica mais orgânica e impactante. Não abomino o uso dos efeitos digitais e sei da sua importância, mas se possível que seja usado por necessidade e não como principal ferramenta na produção. Acredito também que o efeito prático envolve o set numa atmosfera divertida, gerando um resultado final real e vívido.

Baiestorf: Você testa bastante, inclusive utilizando de materiais baratos e fáceis de encontrar. Como funciona seu processo de criação?

Alice: Testar maquiagens é uma das coisas que mais gosto de fazer no dia a dia. A necessidade de usar materiais baratos veio da intenção de produzir sem dinheiro, através desses testes aprendi que é possível usar qualquer material e conseguir um resultado interessante. Comecei usando papel higiênico de qualidade duvidosa, garrafas de plástico, guache e até tinta aquarela que eu havia guardado de um trabalho de pintura em papel. A partir daí comecei a testar farinha, café, beterraba e qualquer outra coisa que fosse possível extrair cor ou uma textura que fosse necessária no momento. Também uso material específico para maquiagem, mas sei que em qualquer situação de necessidade, após uma feira e uma ida ao mercado, consigo fazer um gore impactante e, o mais importante, gastando pouco. Já o processo de criação sempre vem de formas variadas. Quando é um trabalho que o cliente tem exatamente o que quer em mente, geralmente busco imagens reais (um ferimento, por exemplo) e, apesar de desconfortável, busco enxergar os detalhes e reproduzir de maneira fiel. Já quando tenho liberdade de criação, costumo fazer uns storyboards mal feitos, apenas pra que eu não esqueça o meu objetivo, uma vez que, quando me empolgo, começo a fazer muita coisa e me esqueço da principal intenção e o que era pra ser uma ferida pequena se transforma numa autópsia completa. Além disso, independente do que seja o trabalho eu sempre testo em mim, primeiro porque acho necessário ajustar detalhes e compreender o que pode ou não ser feito no dia da produção e segundo porque gosto de saber como o modelo/ator vai se sentir no dia e até onde posso ir sem que se torne desagradável para quem estiver sendo maquiado.

Baiestorf: Como é o espaço em MG para trabalhar com maquiagens gore e cinema de gênero? Há espaço?

Alice: Em Minas Gerais infelizmente o gore ainda é pouco explorado, existe um carinho pelo cinema documental por aqui, principalmente em Belo Horizonte. Já o gore é pouco considerado, o público além de ser muito específico não busca fomentar o gênero, assim os locais públicos que fazem mostras de cinema raramente trazem a temática e reproduzem esses filmes. Por isso não existe espaço para quem deseja trabalhar na área. O lado bom disso é que onde não tem espaço, é possível criar um, e isso tem sido um fator motivacional para prosseguir – mesmo que exista uma vontade de ir para São Paulo, ainda acredito que seja possível começar a movimentar as coisas por aqui, em MG. Outro aspecto que venho observando é que o impacto que o gore causa torna os profissionais envolvidos temerosos quanto as suas participações. Muitos ficam receosos de se envolverem com o gênero e receberem julgamentos desagradáveis, afinal, o gore pode trazer desconforto e sempre vai ter alguém para apontar e achar tudo isso um absurdo, até mesmo usar de preceitos religiosos para fazer críticas ácidas e desproporcionais, o que já aconteceu e exigiu bastante jogo de cintura para contornar a situação. Optar por trabalhar com isso em Minas Gerais é assumir riscos, passar por julgamentos e ter que buscar outras maneiras de ter uma renda minimamente aceitável, uma vez que o retorno financeiro é pouco, mas confesso que tem sido muito prazeroso esse processo e tenho conhecido pessoas sensacionais, empenhadas e dispostas.

Baiestorf: Você esteve participando do Cinelab Aprendiz. Pode contar como foram as gravações? Como foi trabalhar com o Kapel, Armando e Raphael?

Alice: O Cinelab Aprendiz foi um divisor de águas e me impulsionou a tomar decisões que vêm mudando o meu rumo profissional desde então. As gravações aconteceram em São Paulo, cidade que havia visitado uma única vez e não conhecia absolutamente nada. Foi um risco que resolvi correr e, apesar da timidez, compreendi que seria necessário enfrentar, uma vez que me enriqueceria não somente no âmbito profissional, mas também pessoal. Todos os dias de gravação foram intensos e os programas exigiam, além de conhecimento na maquiagem, uma necessidade de conhecer também um pouco de cada função desempenhada no set . Tudo isso fez com que eu aprendesse e explorasse tudo o que sabia e não sabia, aprendi muito com meus companheiros de equipe e até mesmo das equipes adversárias, existindo ali um clima de companheirismo e uma troca intensa de saberes. Conhecer os mentores, Kapel, Armando e Raphael, foi o real prêmio pra mim, uma vez que são pessoas que já nutria uma admiração absurda, não só por causa do programa, mas também por seus projetos, dos quais acompanhava muito antes de participar do reality show. Os três estavam empenhados em nos ajudar e ensinar o que fosse necessário para que pudéssemos desenvolver e aprender. Aproveito o espaço para agradecer o Raphael Borghi, que foi o meu mentor durante as gravações e me ensinou muito. Todas as dicas que me passou vêm sendo colocadas em prática constantemente, inclusive foi fundamental para que eu reafirmasse meu senso de coletividade e me mostrou a necessidade de ter sempre comigo uma equipe coesa, que acredita minimamente nas mesmas coisas que eu, de forma que qualquer trabalho seja prazeroso e respeitoso com todos os envolvidos. Contudo, saí do programa empenhada a trabalhar com cinema, desenvolver projetos e me dedicar ainda mais à maquiagem, especificamente com o gore.

Baiestorf: Algum história envolvendo os efeitos/maquiagens durante o Cinelab Aprendiz que você possa contar?

Alice: As maquiagens eram sempre feitas na pressa por causa do tempo das provas e eu sempre saía com o sentimento de que poderia ter feito melhor, mas em uma das provas a equipe resolveu se dedicar integralmente na caracterização e todos estavam focados em fazer o melhor possível. Gabriel Niemietz e eu ficamos durante toda a prova dedicando à maquiagem de extraterrestre que foi feita no Gustavo Saulle que, no final, ficou irreconhecível. Essa maquiagem foi feita com papel higiênico e látex que, com ajuda de um soprador térmico, secou a tempo para que pudéssemos pintar de verde. Fazer isso foi extremamente desgastante ao Gustavo que ficou com dificuldades de respirar em alguns momentos devido ao cheiro forte do látex, o que nos levou a improvisar um canudo que colocou na boca, a fim de aliviar e facilitar a respiração dele. Durante essa prova recebemos o desafio surpresa de realizar também um estripamento e, desesperada por causa do tempo, no momento em que fui montar o efeito cortei o microfone de lapela que estava presa ao corpo do Gustavo. Isso apenas me mostrou a importância de não deixar o desespero e a pressa me guiarem. Confesso que hoje dou risadas do episódio, mas no dia fiquei em pânico.

Alien do Cinelab realizado por Alice e companheiros de equipe.

Baiestorf: Como foi sua percepção quanto ao mercado paulista de vídeo?

Alice: Tive um choque com a diferença do mercado e do interesse das pessoas em produzir em relação à Minas Gerais. No pouco tempo que estive em São Paulo conheci pessoas maravilhosas que estavam empenhadas em colocar “a mão na massa” (ou no sangue, nesse caso) e me convidaram para participar de projetos independentes, trabalhar e manter estadia em São Paulo. Ainda acredito que seja um objetivo e sei que terei mais facilidade em me dedicar na área, mas tudo precisa de planejamento e isso requer uma atenção e cuidado, considerando que o mercado da arte (que nunca foi valorizado), tende a oscilar e decisões precisam ser tomadas visando também o futuro. A maior diferença que encontrei é o risco que as pessoas estão dispostas a correr para colocar um projeto em prática, mesmo que seja assustador ou chocante, o mercado paulista não se inibe. Talvez pelo gore ser mais explorado ou por ser uma cidade com um público diverso, de forma que sempre haverá consumidor pra qualquer gênero que seja, ainda que cause estranheza em muitos lugares.

Baiestorf: Você tem feito maquiagens em vídeo clips, pode falar deles?

Alice: Trabalhar com vídeo clips tem sido uma experiência maravilhosa. Como o mercado pro gore no cinema ainda é escasso em Belo Horizonte, os clips são uma forma de apresentar às pessoas essa possibilidade e mostrar também que o gore pode ser usado de diversas maneiras. O trabalho nesse sentido se difere de um curta, por exemplo, por ser muito rápido. Em um dia tudo tem que estar pronto e geralmente no mesmo dia que começa, termina. São trabalhos rápidos, mas que exigem muita colaboração do set e cumplicidade dos envolvidos, inclusive da banda que está focada na sua parte e precisa confiar nos demais e, principalmente, na maquiagem. Só assim o trabalho consegue ser desenvolvido de maneira fluida e resultar em algo que agrade os fãs da banda, os músicos e as demais pessoas que trabalharam na produção.

Baiestorf: Você está realizando um ensaio fotográfico, em parceria com o artista Maxwell Vilela, que envolve crianças interpretando zumbis em situações de extremo gore. Como está sendo a realização deste trabalho? Pode contar situações dos bastidores?

Alice: A ideia surgiu de uma conversa despretensiosa e foi se transformando conforme desenvolvíamos o diálogo. Trabalhar com o Max é sensacional, assim como toda a equipe presente (Cadu Passos e Éric Andrada), que são pessoas dedicadas e empenhadas. Tive muita liberdade pra desenvolver a maquiagem desse projeto, as ideias foram tomadas junto com o Max, mas toda a identidade, o sangue e a construção foram pensadas por mim, onde pude desenvolver uma maquiagem agressiva, mesmo que tenha sido feita em uma criança de 9 anos, a Ayla. A pequena modelo demonstrou muita personalidade ao abraçar a ideia e não se incomodou com o sangue ou até mesmo pelo fato de ter seu coração “arrancado” de seu corpo. A foto abaixo foi feita em um parque público e, como imaginávamos, as pessoas naturalmente se espantaram, até então era compreensível, afinal, não é sempre que você encontra uma garotinha segurando o próprio coração por aí, o incômodo real surgiu dos comentários infelizes de algumas senhoras que usaram a religião de subterfúgio para proferir comentários ácidos sobre o trabalho (como dizer que ela estava horrível, que aquilo não era de Deus e coisas mais absurdas), o que gerou um desconforto não só na equipe, mas também na Ayla, que decidiu encerrar e darmos continuidade em outro momento. Temos como objetivo chocar, causar estranheza, mas acima de tudo questionar a adultização da infância, uma vez que maquiagens pesadas em garotinhas, sexualização, privação da infância dentre outras coisas são naturalizadas e não assustam. Destruir a idealização da princesinha encantada foi um objetivo comum e, com certeza, alcançado.

Baiestorf: Quando e onde sairá este ensaio?

Alice: Todos os envolvidos são artistas multitarefas a fim de manter a subsistência, por isso as datas são incertas, precisamos terminar o que começamos e pra isso temos a necessidade de abrir mão de trabalhos rentáveis, mas temos planos para lançar isso em breve! Inclusive novas ideias surgiram nesse processo e, com certeza, esse projeto se tornará maior do que a proposta inicial. De inicio vamos expor onde nos couber, pensamos em expor uma das fotos no metrô de Belo Horizonte o que causará um impacto em quem passa diariamente por lá e as vezes fica alheio ao meio. Talvez seja o momento de sacudir e chocar um pouco.

Baiestorf: Além do ensaio será editado também um curta? Pode falar sobre isso?

Alice: O curta tem sido um exemplo do cinema de guerrilha. Sem verba, sem uma grande equipe, mas muita motivação e esforço pessoal de cada envolvido. O acordo é que manteríamos suspense, por isso só posso adiantar que vai ter muito sangue. Tem sido um processo divertido, mas sujo!

Baiestorf: Além de maquiadora você também realiza ilustrações, tatua e cria roupas. Como é conciliar tudo no seu dia a dia?

Alice: As pessoas tendem a padronizar comportamentos, profissões e até a rotina se faz necessária. Por causa dessa construção demorei a compreender que é sim possível fazer tudo o que tenho vontade, basta ter organização e paciência, já que às vezes as coisas parecem sair um pouco do controle. Contudo, trabalhar com arte requer jogo de cintura e quase te obriga a explorar novas áreas, de maneira que seja possível ter um retorno financeiro aceitável. O que torna tudo mais prazeroso e possível é que são trabalhos dos quais tenho liberdade de horários, flexibilidade de organização e remanejamento. Acredito sim na possibilidade de trabalhar com aquilo que ama e, mesmo que sejam muitas tarefas, nada é desgastante, mas sempre muito divertido. Me envolver em áreas distintas permite que eu conheça muitas pessoas e aprenda diariamente, cada conhecimento adquirido pode auxiliar em outros projetos e, desta forma, sinto que consigo estabelecer uma conexão entre todas as áreas que resolvi me envolver.

Baiestorf: Algum projeto envolvendo ilustrações?

Alice: Constantemente projeto ideias para as ilustrações, mas ironicamente elas nunca saíram do papel. Imagino mil possibilidades com as ilustrações, mas nunca consegui estruturar algo para elas, senão me auxiliar na tatuagem, encomendas ou alguns storyboards mal feitos, dos quais esboço de forma bem simplista as maquiagens que tenho que fazer. Algumas anotações que faço costumam acompanhar pequenos esboços e rabiscos, que foi uma forma que encontrei de memorizar tarefas e me organizar no dia a dia. Tenho a pretensão de desenvolver algum projeto voltado para as ilustrações, mas ainda preciso pensar a respeito.

Baiestorf: Você ainda não está trabalhando com látex e animatrônicos em seus projetos, certo? Algum plano, ou testes, nessa direção?

Alice: Os trabalhos com látex e animatrônicos tem sido o meu principal objetivo na maquiagem, venho estudando e testando as próteses de látex e glicerina, o que tem gerado bons resultados. Já sobre os animatrônicos ainda não tive oportunidade de começar a desenvolver, mas pretendo até o final do ano ter dado início aos estudos e testes, de maneira que, em 2019, eu consiga me dedicar integralmente às maquiagens.

Baiestorf: Como o pessoal faz para acompanhar seu trabalho?

Alice: Sempre publico as maquiagens nas redes sociais e venho tentado dialogar com quem acompanha. Instagram: www.instagram.com/aliceaustriaco Facebook: www.facebook.com/aliceafm

Baiestorf: Como te contratar para futuros projetos?

Alice: Sempre respondo todos através das redes sociais, mas para trabalhos e afins disponibilizo o e-mail: aliceaustriaco@gmail.com

Baiestorf: Alice, gostaria de te agradecer pela entrevista. O espaço é seu para falar sobre algo que eu não tenha perguntado.

Alice: Petter, gostaria de agradecer o espaço e a consideração por mim e pelo meu trabalho. Suas produções sempre me motivaram, principalmente em trabalhar com o gore, me mostrando que é sim possível valorizar o gênero em solo nacional. Seus trabalhos construíram parte da minha identidade dentro da maquiagem e sigo me espelhando e aprendendo constantemente com o que me oferece. É uma grande honra fazer parte disso e ter essa oportunidade. Muito obrigada!

Dica de Alice:

ingredientes para a massa:

Vaselina sólida

Pó compacto da cor desejada

Amido de Milho

para o sangue:

Glucose de milho

Corante em pó vermelho

Corante em pó marrom (ou achocolatado em pó)

Corante em pó preto

modo de preparo:

Em uma vasilha acrescente duas colheres de vaselina sólida, pó compacto em pequena quantidade (até que alcance a cor desejada) e, aos poucos, o amido de milho. A consistência final é uma massa moldável e firme.

Para o sangue basta misturar na glucose de milho, o corante vermelho e, aos poucos, acrescentar o corante marrom. As quantidades podem variar de acordo com a cor desejada pela pessoa, por isso é necessário acrescentar todos os ingredientes devagar, sempre misturando e conferindo a cor.

Espalhe a massinha e, com ajuda do dedo úmido, molde de acordo com o formato do corpo. Com um lápis ou palito úmido faça pequenos furos na massa.

Com um pincel espalhe o sangue por toda a massa de maneira desuniforme, deixando alguns pedaços sem e outros buraquinhos que foram feitos com o lápis preenchidos de vermelho. Por fim, com o auxilio de uma esponja úmida, dê pequenas batidinhas por toda a maquiagem com o corante em pó preto, até que chegue a um resultado satisfatório.

Arrepios Sangrentos do Cinema (1960-1980)

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O cinema sempre foi terreno fértil para a exploração do corpo. Se nas décadas de 1950 e 1960 o cinema era mais sugestivo do que apelativo (mas com a sci-fi e seus monstros e aliens deformados já apontando os rumos que a nova audiência exigia), foi na ressaca da contracultura, nos anos de 1970, que o cinema foi tratando de ficar mais explícito e cínico, culminando numa explosão de corpos monstruosos/pegajosos nas telas do cinema da década de 1980, onde a crítica social-niilista-pessimista da década anterior cedeu lugar à auto paródia do terrir.

Podemos afirmar que a auto paródia que o cinema dos anos de 1980 viveu, principalmente o americano, tem suas raízes nos filmes da dupla H. G. Lewis e David F. Friedman, principalmente na trinca de goremovies “Banquete de Sangue” (Blood Feast, 1963), “2000 Maníacos” (2000 Maniacs, 1964) e “Color Me Blood Red” (1965), que aproveitaram para extrapolar, para deleite do jovem público de drive-ins, o bom gosto estético, aproveitando até mesmo idéias de mortes exageradas dadas por seus filhos pré-adolescentes. O corpo humano deixava de ser um templo sagrado e, agora, estava disponível para todo o tipo de mutilações que os técnicos de efeitos especiais conseguissem elaborar. E mais, agora o tabu do canibalismo também caia por terra e o corpo humano servia de alimento às sádicas personagens.

No final dos anos de 1950 e início dos anos de 1960, a cinematografia gore ainda foi discreta, com obras como “First Man Into Space (1959), de Robert Day, sobre um astronauta que começa a derreter e que foi a inspiração para a produção do clássico “O Incrível Homem Que Derreteu” (The Incredible Melting Man, 1977, de William Sachs. “Inferno” (Jigoku, 1960), de Nobuo Kakagawa, tomou como inspiração o inferno concebido por Dante e ousou mostrar, em cores, os horrores explícitos de um purgatório onde os pecadores sofriam todo tipo de violência na carne. “Six She’s and A He” (1963), de Richard S. Flink, contava a história de um astronauta feito de prisioneiro por uma tribo de lindas mulheres que costumavam realizar incríveis banquetes com os membros decepados de seus algozes. “Six She’s and A He” é uma espécie de irmão bastardo dos filmes da dupla Lewis-Friedman, já que seu roteirista é o ator William Kerwin, que atuou em “Blood Feast” e “2000 Maniacs” usando o pseudônimo de Thomas Wood. “Está Noite Encarnarei no teu Cadáver” (1967), de José Mojica Marins, à exemplo de “Jigoku”, também mostrava em cores os horrores do inferno com muitos membros decepados, sofrimentos diversos e inventivos demônios feito com parte dos corpos de seus alunos de curso de cinema.

No ano seguinte o horror ficou ainda mais explícito com duas obras seminais: Mojica realizou um banquete canibal em seu longa de episódios “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (1968), no episódio “Ideologia”, e o Cult “A Noite dos Mortos-Vivos” (The Night of the Living Dead, 1968), de George A. Romero, que trazia o canibalismo explícito para as telas com a virulenta modernização dos zumbis, desta vez se deliciando com tripas e toda variedade de carne humana, de crua à carbonizada, dando apontamentos do caminho que o cinema de horror viria a tomar nos anos seguintes.

Jigoku (1960)

Charles Manson e a Família haviam acordado a América de seu “American Way of Life” e os horrores do Vietnã eram televisionados nos jornais do café da manhã, toda uma geração insatisfeita queria voz. Na década de 1970 o cinema de horror ficou mais insano, pessimista e violento para com as instituições oficiais. Jovens cineastas perceberam, ensinados por H.G. Lewis e George A. Romero, que o cinema independente era o caminho natural para adentrar no mundo das produções cinematográficas, e o melhor, o horror niilista tinha público fiel ávido por “quanto pior melhor”.

Tom Savini em Dawn of the Dead (1978)

Inspirados por Charles Manson e “A Noite dos Mortos-Vivos”, no Canadá, a dupla Bob Clark e Alan Ormsby profanaram os defuntos com seu clássico “Children Shouldn’t Play With Dead Things” (1972), podreira sobre um grupo de degenerados comandados por uma espécie de guru fake a la Manson que desenterram alguns corpos num cemitério isolado e realizam um verdadeiro show de barbaridades e imaturidade. Aliás, Ormsby deve ser atraído por personalidades problemáticas, já que na seqüencia realizou o clássico “Confissões de um Necrófilo” (Deranged, 1974), co-dirigido por Jeff Gillen, inspirado na figura do psicopata Ed Gein e que, na minha opinião, é a melhor abordagem cinematográfica já feita sobre Gein, que inspirou, entre outros, também os clássicos “Psicose” (Psycho, 1960), de Alfred Hitchcock, e “O Massacre da Serra-Elétrica” (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), a obra-prima de Tobe Hooper, realizado no mesmo ano de “Deranged” e que contava com efeitos do ex-fotografo de guerra Tom Savini, que se inspirava nos horrores reais que presenciou para criar as maquiagens mais podreiras possíveis. Os corpos dos mortos agora não eram mais sagrados, podiam alimentar psicopatas dementes ou, até, se tornarem grotescas obras de arte ou peça de happenings.

O público clamava por histórias mais adultas, além da violência explícita, o sexo também gerava curiosidade. Andy Warhol e Paul Morrissey foram para a Europa filmar, com ajuda do italiano Antonio Margherity, “Carne para Frankenstein” (Flesh for Frankenstein, 1974), uma releitura sexual-splatter de Frankenstein de Mary Shelley, com litros de sangue, referências à necrofília e abordagem erótica da história do cientista que brincava de Deus, dando especial atenção ao detalhes sórdidos e eróticos. No Canadá David Cronenberg previa as epidemias de doenças sexualmente transmissíveis ao realizar “Calafrios” (Shivers, 1975), com roteiro sério que discutia o sexo, sem deixar de incluir taras, fetiches e doenças como a pedofília em roteiro genial (o final do filme continua poderoso).

De volta à América, o cineasta underground Joel M. Reed lançou em 1976 o perturbador e doentio “Bloodsucking Freaks” (The Incredible Torture Show), com a personagem de Sardu, ajudado por um anão tarado, que raptava jovens mulheres que se tornavam deliciosas iguarias para seus banquetes explícitos onde até mesmo sanduíches de pênis era devorados. Ainda em 1976, os exageros do cinema gore se encontraram com a falta de limites do mundo da pornografia e o jovem Michael Hugo cometeu o, ainda hoje, obscuro “Hardgore”, uma carnificina envolvendo sexo explícito com todo o tipo de perversões na história de uma inocente mocinha internada numa instituição mental. “Hardgore” parecia preparar terreno para “Cannibal Holocaust” (1980), do italiano Ruggero Deodato, produção que extrapolou qualquer limite do bom gosto ao assassinar, em frente às câmeras, todo tipo de animais, incluindo a famosa cena da tartaruga, filmada com verdadeiros requintes de crueldade.

Mas um pequeno curta independente, filmado em super 8 por um grupo de amigos, anunciava que o cinema de horror voltaria a ficar mais artístico (sem assassinatos reais ou pornografia): “Within the Woods” (1978), de Sam Raimi, produzido com os amigos Robert Tapert e Bruce Campbell, era um ensaio para a produção do Cult “A Morte do Demônio” (Evil Dead, 1981), que influenciaria meio mundo nos anos de 1980 e 1990 com sua ensandecida história envolvendo jovens possessados por demônios numa cabana isolada. O cinema de horror começava a sair dos cinemas pulgueiros para tomar de assalto toda uma nova geração que descobriria os filmes malditos com o videocassete.

De certo modo “Evil Dead” preparava o público para a exploração do corpo que o cinema da década de 1980 realizou. Nunca na história da indústria cinematográfica tivemos outra época tão rica na exploração de anomalias, doenças, mutações e toda uma rica gama de deformações genéticas. Era a época da disco, da cocaína acessível e barata, do “viva rápido, morra jovem”, então… Pro inferno com a seriedade, o negócio agora era a auto paródia e o cinema de horror, principalmente o americano, soube não se levar em sério e por toda a década de 1980 cineastas como Lloyd Kaufman, Stuart Gordon, Dan O’Bannon, Fred Deker, Roger Corman, Fred Olen Ray, Jim Wynorski, entre outros, conseguiram passar através de seus filmes o clima de curtição que os anos de 1980 possuíam.

por Petter Baiestorf

Veja os trailers aqui:

Outros Posters:

The Incredible Melting Man

Boca do Lixo Style: Download do Sexo Sangrento

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“Vadias do Sexo Sangrento” (2008, 30 min.) escrito, fotografado, produzido e dirigido por Petter Baiestorf. Maquiagens gore de Carli Bortolanza. Edição de Gurcius Gewdner. Com: Ljana Carrion, Lane ABC, Coffin Souza, PC, Jorge Timm e Petter Baiestorf.

lane-abc-chainsaw-em-vadias-do-sexo-sangrentoAo elaborar o “Arrombada – Vou Mijar na Porra do seu Túmulo!!!” (2007), já pensei numa espécie de trilogia da carne, que se seguiu com este “Vadias do Sexo Sangrento” (2008) e “O Doce Avanço da Faca” (2010). Todos com duração de média-metragens para, num futuro próximo, relançá-los como um longa em episódios intitulado “Gorechanchada – A Delícia Sangrenta dos Trópicos”. Inclusive neste ano de 2016 realizei uma exibição deste projeto “Gorechanchada” no Cinebancários de Porto Alegre com grande participação de público, como todos que ali estavam já conheciam os filmes rolou aquele climão de algazarra que tanto faz com que as sessões Canibal Filmes sejam a diversão que são.

ljana-carrion-coffin-souza-em-vadias-do-sexo-sangrento“Vadias” foi filmado no início do inverno de 2008 em 4 dias de filmagens e um orçamento de R$ 5.000,00. Reuni praticamente a mesma equipe de “Arrombada” (que já estava afinada) acrescida de Lane ABC e Jorge Timm (que não estava no elenco do filme anterior por estar em Tocantins). Com um roteiro melhor em mãos, cheio de metalinguagem (tentando avançar nas ideias que estava desenvolvendo na época em produções como “Palhaço Triste” (2005) e “A Curtição do Avacalho” de 2006) e pouca abertura para improvisações, fomos pro Rancho Baiestorf rodar um filme que deveria parecer improvisado do início ao fim (gosto da leveza que o clima de improvisação dá numa produção).

vadias-do-sexo-sangrentoNão lembro de nenhum contra tempo nas filmagens de “Vadias”. Foi um daqueles raros casos em que tudo deu certo e não tivemos problemas. Filmávamos apenas durante o dia (acho que apenas duas ou três seqüências que foram filmadas à noite) e ao anoitecer rolava um jantar regado à muita bebida, o que deixava a equipe e elenco bem descontraídos. O frio ainda não estava castigando, o que foi essencial para manter o bom humor do elenco que passava 90% do tempo pelado pelo set. Amo filmar com equipe reduzida, 12 pessoas no set (incluindo elenco) é o que considero o ideal, bem diferente de “Zombio 2” onde tivemos 72 pessoas trabalhando sem parar durante 23 dias.

ljana-baiestorf-e-coffin-em-vadias-do-sexo-sangrentoO lançamento do filme rolou num esquema muito parecido com o que já havíamos feito com o “Arrombada” e o relançamento de “Zombio” (1999). Desta vez resgatamos e re-editamos o policial gore “Blerghhh!!!” (1996) para relançar e completar o programa das exibições. Logo nos primeiros meses computamos 5 mil espectadores para o filme (em salas alternativas, cineclubes e mostras independentes) e as vendas do DVD duplo do filme foram de quase mil cópias. Possibilitou a produção de “Ninguém Deve Morrer” (2009) e a parte final da trilogia, “O Doce Avanço da Faca” (2010).

Todas as histórias de filmagens de “Vadias” irei contar no livro de bastidores que estou elaborando. Aguardem!!!

Para ler o roteiro de Vadias do Sexo Sangrento.

Para baixar VADIAS DO SEXO SANGRENTO.

Comprar DVD duplo de “Vadias do Sexo Sangrento” com extras e inúmeros curtas da Canibal Filmes de brinde, entre na loja MONDO CULT.

por Petter Baiestorf.

Fotos de bastidores de Vadias:

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Lane ABC e Ljana Carrion.

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Filmagens tão animadas que todos dançavam o tempo inteiro.

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Sangue cor de rosa.

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Bortolanza preparando o elenco.

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Ljana Carrion.

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Lane ABC, Ljana, Bortolanza e Jorge Timm.

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Lane, Ljana e Bortolanza.

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Jorge Timm.

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Lane e Ljana.

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Tapando as vergonhas.

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Souza e Ljana prontos para filmar.

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PC sendo preparado por Bortolanza para a massagem anal.

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PC tento prazeres incontroláveis com a massagem anal.

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Claudio Baiestorf cuidando das motosserras.

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Lane e Souza in Brazilian Chainsaw Massacre.

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Eu olhando pro pinto de Souza.

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Bortolanza, PC e Jorge Timm: Equipe dos sonhos delirantes.

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“Me dê uma expressão de horror!”

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Carli Bortolanza.

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Souza olhando pro pinto de PC.

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Elio Copini, Souza e Timm fiscalizando o orifício pomposo de PC.

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Jorge Timm pronto para receber Lane ABC em seu interior.

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Lane ABC autografando a barriga de Jorge Timm.

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Eu subindo numa árvore para tomadas aéreas.

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Eu tentando descobrir ângulos.

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Blerghhh!!!

Posted in Cinema, download, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 27, 2016 by canibuk

Em Outubro agora, pra ser mais exato no dia 04, minha produção “Blerghhh!!!” estará fazendo seus 20 anos. Visto hoje em dia este filme até pode parecer uma produção bem simples, mas em plenos anos 90 – quando você não tinha equipamentos para filmar, não tinha maquiadores profissionais e nem dinheiro algum – foi uma das produções mais elaboradas e profissional entre o pessoal que produzia vídeos de horror no Brasil.

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Poster de Blerghhh!!! (1996)

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Jorge Timm com fx sendo aplicado por Coffin Souza

Foram 11 dias de filmagens sem interrupções, com uma equipe de umas 25 pessoas e apenas 2 mil reais no orçamento (imagino que hoje ele custaria entre 12 e 15 mil reais para ser produzido). Na equipe os únicos profissionais eram David Camargo (falecido em 2008), ator de teatro, e o maquiador Júlio Freitas, responsável pela cabeça mecânica que aparece no filme (ambos de Porto Alegre). O resto da equipe foi formada pelo pessoal que já estava me acompanhando desde a produção de “O Monstro Legume do Espaço” (1995) e “Eles Comem Sua Carne” (1996), produções onde tentamos “afinar” o pessoal. Trabalharam comigo todo o grupo que fez a Canibal Filmes ficar conhecida: E.B Toniolli (que já me acompanhava desde “Lixo Cerebral Vindo de outro Espaço“, produção inacabada de 1992), Carli Bortolanza (em seu primeiro trabalho como maquiador), Coffin Souza, Marcos Braun, Loures Jahnke (que interpretou o Monstro Legume original), Airton Bratz (o Chibamar Bronx), Claudio Baiestorf (falecido em 2009), Jorge Timm (falecido em 2012), Doroti Timm (falecida em 2001), Viola (falecido em 2013) e outros talentos da época.

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Coffin Souza

Como de costume num autêntico Canibal Filmes, nada foi calmo durante essa produção: Tempestades da mãe natureza, traficante preso durante as filmagens, muito caos etílico durante os 11 dias, atores quebrando um quarto de hotel nos intervalos das filmagens (nunca consegui pagar essa conta, mas o dono do estabelecimento continua meu amigo) e, quando menos se esperava, alguém correndo pelado pelo set (que é algo que adoro, porque tenho orgulho dos meus sets naturalistas sem lei e sem ordem, apesar de que dou uns chiliques as vezes). Inclusive teve até uma diária que eu, que estava dirigindo o caos todo, acabei perdendo por estar bêbado demais. Os bons tempos do amadorismo selvagem.

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David Carmargo, Madame X e Jorge Timm

“Blerghhh!!!” foi lançado no final de 1996 e, no ano seguinte, causou um transtorno com a Sociedade Brasileira de Artes Fantásticas quando foi retirado da programação da terceira HorrorCon que acontecia na Gibiteca Henfil (São Paulo/SP) porque, na minha falta de maturidade, não topei a censura de 18 anos que queriam colocar no filme. Não achava que os poucos peitinhos que aparecem no filme eram motivo para tal censura, mas na época eu ainda não tinha o jogo de cintura que adquiri com o passar dos anos de produções polêmicas e submundo exploitation.

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Júlio Freitas tirando molde da cabeça de ator para construção da cabeça decepada.

Atualmente “Blerghhh!!!” é um filme pouco lembrado – porque ficou bastante datado – mas acredito que foi um filme importante para o gênero fantástico brasileiro que, naqueles já longínquos anos de 1990, ainda nem sonhava com o florescer que teria após 2013 com o surgimento de toda uma nova geração de cineastas.

Para conhecer o filme clique no nome: “BLERGHHH!!!” (O filme que você vai ver neste arquivo é a re-edição de 2008). Divirta-se!

Escrito por Petter Baiestorf.

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Super Chacrinha e seu amigo Ultra-Shit em crise Vs. Deus e o Diabo na Terra de Glauber Rocha

Posted in Cinema, download, Fan Film, Manifesto Canibal, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 24, 2016 by canibuk

Dando prosseguimento aos filmes que estou colocando para download, segue hoje a produção “Super Chacrinha e seu Amigo Ultra-Shit em Crise Vs. Deus e o Diabo na Terra de Glauber Rocha” (1997, 118 min.).

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“Super Chacrinha…” foi uma pausa nos filmes extremos que eu vinha fazendo naquela época. Não tem ligação nenhuma com os goremovies anteriores que tinha feito – como “O Monstro Legume do Espaço” (1995), “Eles Comem Sua Carne” (1996) ou “Blerghhh!!!” (1996) – , nem com os posteriores que foram ainda mais radicais ao misturar gore com pornografia – como “Deus – O Matador de Sementinhas” (1997), “Boi Bom” (1998), “Gore Gore Gays” (1998) ou “Sacanagens Bestiais dos Arcanjos Fálicos” (1998).

“Super Chacrinha…” tem forte inspiração do filme “Abismu” (1977) do Rogério Sganzerla, entre outras produções experimentais (a citar algumas: “Matou a Família e Foi ao Cinema” (1970) de Júlio Bressane, “Cabeças Cortadas” (1970) de Glauber Rocha, “Meteorango Kid: O Herói Intergalático” (1969) de André Luiz de Oliveira e “Bang Bang” (1971) de Andrea Tonacci). Não ficou tão bacana quanto estes clássicos que o inspiraram, lógico,mas é um filme que gostei muito de realizar. Acredito que os envolvidos na produção se divertiram muito mais do que o público vá se divertir. Impossível saber quem pode gostar deste filme (já tive espectador me confidenciando que adorou cada momento do filme e espectador versando sobre o quanto é medíocre).

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As filmagens aconteceram em 4 meses durante o ano de 1997, com um roteiro que eu ia elaborando a cada dia durante a produção. Funcionava mais ou menos assim: Eu chegava num cenário com a equipe e bolava as cenas na hora. Inicialmente o filme teria 4 horas, mas quando estava editando, com ajuda de Carli Bortolanza, optamos por deixá-lo com a metade da duração originalmente planejada. O filme é uma espécie de road-movie marginal, foi filmado em uns 12 municípios de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, incluindo a cidade de Gramado onde acontecia o vigésimo quinto Festival de Gramado e, em sistema de guerrilha completo, entramos nas comemorações com nossas câmeras e filmamos algumas pontas de globais pro filme (não lembro de cabeça, mas acho que aparecem no filme, além do Ivan Cardoso, Marcos Palmeiras, Hugo Carvana, José Lewgoy e a mãe de Glauber Rocha). Todo o dinheiro arrecadado com bilheterias dos meus filmes anteriores sumiu realizando o “Super Chacrinha…”. Foi divertido para quem integrou a equipe desta produção (se não me falha a memória, Jorge Timm, Claudio Baiestorf, Carli Bortolanza, E.B. Toniolli e José Salles foram as pessoas que me acompanharam durante toda a produção).

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Para baixar o filme e assisti-lo é só clicar no nome dele: SUPER CHACRINHA E SEU AMIGO ULTRA-SHIT EM CRISE VS. DEUS E O DIABO NA TERRA DE GLAUBER ROCHA.

abaixo vídeo com Ivan Cardoso durante o Festival de Gramado de 1997 (essa entrevista foi realizada enquanto estávamos filmando o “Super Chacrinha…”).