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O Shot-on-Video e o Cinema Independente Brasileiro

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Sempre existiu na história do cinema mundial a figura do cineasta miserável que dava um jeito de inventar seus recursos, independente da quantia de dinheiro disponível. A própria história da mais cara arte do planeta está cheia de exemplos. Ainda nos anos de 1920 pequenos produtores exploravam temas tabus para competir com o cinema feito pelos grandes estúdios. Nesta época era corriqueiro que milionários encomendassem pequenos filmes domésticos à cineastas despudorados que sabiam como ninguém a arte de filmar rápido/barato os assuntos mais polêmicos que não encontravam espaço nos cinemas normais. Na década de 1920 já existia cinema pornô, por exemplo. Un Chien Andalou (Um Cão Andaluz, 1929, Luis Buñuel), outro exemplo, só existe porque independentes o realizaram.

No pós-guerra, na década de 1950, houve uma explosão de produtores independentes, que encontraram uma forma de ganhar dinheiro com filmes de monstros e/ou alienígenas feitos sem grandes recursos e que encontravam público. Tanto público que os grandes estúdios se apropriaram do gênero e faturaram muito dinheiro. Considero-os a principal influência do cinema Shot On Video, o SOV, que surgiu no início dos anos de 1980, principalmente nos USA. E essa influência transou com as influências do cinema underground e deixou tudo mais divertido ainda, porque a grande sacada do SOV foi a de misturar todo tipo de influências e recriar tudo à sua maneira.

Talvez Ray Dennis Steckler seja um dos grandes precursores do cinema caseiro mundial, com filmes como Lemon Groove Kids Meet the Monsters (1965) e Rat Pfink A Boo Boo (1966) que, embora produzidos em 35 mm, tinham todos os elementos de fundo de quintal que os SOVs dos anos de 1980 popularizaram. Mesmo um cineasta autoral, e agora respeitado por sua obra, como John Waters, começou fazendo produções caseiras com ajuda de amigos e familiares, caso de Mondo Trasho (1969) ou Multiple Maniacs (1970), inspirados nos filmes caseiros que artistas como George Kuchar e Jack Smith vinham fazendo no underground americano.

Rat Pfink a Boo Boo

Com distribuidores como Harry H. Novak garantindo espaço para escoar a produção independente, o mercado viu uma verdadeira epidemia de produções baratas surgirem, onde muitas vezes o dinheiro gasto era somente na película virgem e revelação do filme. Doris Wishman, H.G. Lewis, Ted V. Mikels, Al Adamson, entre outros, são exemplos.

Com o declínio dos Drive-In Theaters e grindhouses na década de 1970, e o surgimento de formatos domésticos como Super-8, Beta Tapes, Laser Disc e, talvez, o mais importante deles, a Fita VHS – que permitia uma arte chamativa em suas enormes caixas protetoras – o cinema SOV da década de 1980 começava, timidamente, a perceber suas possibilidades concretas.

Shot-on-Video!!!

Não demorou muito para que a jovem geração, ociosa e bêbada, descobrisse que era possível realizar filmes com câmeras VHS. Inicialmente o formato não havia sido recebido com muito entusiasmo. Sua qualidade de som e imagem deixava muito a desejar e era, geralmente, usada para o registro de aniversários, casamentos, viagens e outras festividades familiares. Mas estes artistas amadores improvisados começaram a provar o valor do VHS, agora pessoas comuns estavam conseguindo produzir seus filmes com a paixão e devoção que somente os fãs possuem. Hollywood não realiza o filme dos seus sonhos? Não tem problema, faça-o você mesmo em VHS, com ajuda de seus amigos tão sem noção quanto você! Teus amigos não te ajudam? Possivelmente você está andando com as pessoas erradas!!!

Nos anos de 1980, nos USA, houve uma explosão de produções Shot on Video, mas um dos únicos destes filmes a conseguir lançamento em um Drive-In de Long Island, NY, foi o longa-metragem Boardinghouse (1983, John Wintergate), seguido de Sledgehammer (1983, David A. Prior) e Black Devil Doll from Hell (1984, Chester Novell Turner). Os três filmes eram produções bem limitadas, mas nada pior do que um freqüentador habitual de Drive-In já não tivesse visto antes, só que produzido em 35 mm.

Com as videolocadoras popularizadas nos anos de 1980, quando qualquer cidadezinha minúscula perdida no meio do nada era bem servida dos clássicos e vagabundagens do cinema, os produtores atentaram para o fato de que não era mais necessário um circuito exibidor formado de cinemas. O filme que provou ser possível chegar à um público gigante através das locadoras foi o SOV Blood Cult (1985, Christopher Lewis), que foi um estrondoso sucesso na locação de vídeo e abriu espaço para outras produções no estilo, como Blood Lake (1987, Tim Boggs) e Cannibal Campout (1988, Jon McBride e Tom Fisher). O sucesso de vendas e locações de Blood Cult se deve ao fato de que criaram uma distribuidora exclusivamente para oferecê-lo às locadoras, com material de divulgação e muita lábia – conseguiram vender como se fosse uma produção profissional. Só que o público não só assistiu, como gostou, se influenciou e também quis se divertir fazendo seus próprios filmes.

Em seguida, o agora clássico, Video Violence (1987, Gary Cohen) foi comprado pela distribuidora Camp Video. Com base em Los Angeles, a Camp Video fez uma ampla divulgação da produção de fundo de quintal – que permanece sendo o filme SOB da década de 1980 com maior venda – e conseguiu colocá-lo em locadoras dos USA inteiro. Video Violence chegou a ser indicado para o prêmio de melhor filme independente no American Film Institute daquele ano. Em tempo: Video Violence é um filme que reflete sobre o assunto “violência é boa, mas o sexo não é”, algo que constatei pessoalmente com 30 anos de produções independentes pela Canibal Filmes, onde nunca fui censurado pelas cenas de violência, mas sim, apenas e unicamente, por cenas de sexo.

A distribuidora Camp Video também foi a responsável por colocar o filme Cannibal Hookers (1987, Donald Farmer) no mapa. E seu faturamento com estes filmes foi o responsável direto pelo interesse da Troma Entertainment  por SOVs, que comprou o filme Redneck Zombies (1989, Pericles Lewnes) e constatou que era muito lucrativo lançar aqueles filminhos amadores, não abandonando-os nunca mais. Aliás, muita gente confunde os filmes distribuídos pela Troma com sua produção própria. Os filmes da Troma não são SOVs, mas inúmeros filmes distribuídos por eles são. Alguns exemplos: O inacreditavelmente ruim Space Zombie Bingo! (1993, George Ormrod); Bugged (1997, Ronald K. Armstrong); Decampitated (1998, Matt Cunningham); Parts of the Family (2003, Léon Paul de Bruyn); Pot Zombies (2005, Justin Powers); Crazy Animal (2007, John Birmingham) e Blood Oath (2007, David Buchert). Outra distribuidora que costuma lançar SOVs é a Severin Films. Fundada em 2006 por David Gregory, já disponibilizou em DVD ou Blu-Ray vagabundagens como Blackenstein (1973, William A. Levey), filmado em 35 mm, mas tão amador quanto qualquer SOV feito em VHS, e clássicos como a trinca Sledgehammer (1983), Things (1989, Andrew Jordan) e The Burning Moon (1992, Olaf Ittenbach).

Sim, as produções SOV são essencialmente de fundo de quintal, feitas por entusiastas se autointitulando cineastas, que conseguem meter seus amigos e familiares no sonho de fazer cinema. Geralmente são produções amadoras desleixadas, desfocadas, com efeitos especiais improvisados, atores canastrões, figurinos inexistentes e roteiros absurdos. Mas é essa combinação que faz com que os filmes funcionem e tenham legiões de fãs ao redor do mundo. Outra particularidade do cinema SOV: São produções locais que ultrapassam fronteiras, ou seja, um filme vagabundo produzido entre amigos num sítio em Palmitos, SC, Brasil, é perfeitamente capaz de dialogar com um entusiasta do SOV que morou a vida inteira num pequeno apartamento em Tokyo, por exemplo.

O blog Camera Viscera, na matéria “Video Violence – 13 Days of Shot on Video!”, faz outra importante observação à respeito dos SOVs: “Eles conseguiram congelar o tempo. O que quero dizer é que os sets que você vê nestes filmes não são cenários construídos, são videolocadoras e mercearias reais. As roupas que você vê não são fantasias, são roupas reais que os atores tinham em seus roupeiros. As ruas, os carros, os locais, são todos reais e intocados, e você consegue vê-los como estavam em seu estado natural em 1987. Essas jóias do “no-budget” dos anos de 1980 capturaram a essência do tempo e isso é um bem inestimável. Eles são como se suas famílias tivessem filmes caseiros dos anos 1980, exceto com mais assassinatos (ou menos, dependendo do tipo de família que você veio).”

Não existe uma produção SOV inaugural. A produção mundial é enorme. A produção em um país como a Nigéria, conhecida como Nollywood e que é considerada a terceira maior indústria cinematográfica em volume de produção – atrás apenas de Hollywood e Bollywood -, é formada quase que exclusivamente de produções SOVs. Então é praticamente impossível catalogar a totalidade dessa produção, ainda mais se levarmos em consideração que muitos títulos lançados nem saem do círculo de amizades dos produtores – países da Europa, Ásia e América Latina também tem uma produção enorme. Tentar catalogar apenas os SOVs produzidos no Japão já seria tarefa impossível, por exemplo.

Nos USA alguns diretores que se destacaram são Todd Sheets – com quem geralmente sou comparado nas reviews da imprensa especializada, e, acreditem, isso não é um elogio! -, Donald Farmer, Tim Ritter, Kevin J. Lindenmuth, Hugh Gallagher e J. R. Bookwalter. Este último, inclusive, teve seu filme em super-8 The Dead Next Door (1989) apadrinhado pelo trio de amigos Sam Raimi, Bruce Campbell e Scott Spiegel.

Na Europa alguns produtores de SOVs que tiveram destaque foram o francês Norbert Georges Mount, com Mad Mutilator (Ogrof, 1983), que tem Howard Vernon no elenco; Trepanator (1992) e o impagável Dinosaur from the Deep (1993), com Jean Rollin no elenco. E os alemães Olaf Ittenbach, que causou sensação com seu The Burning Moon (1992), mas nunca chegou a fazer sucesso como um Peter Jackson, por exemplo; Andreas Schnaas, responsável por uma série de filmes gore exagerados que são fantásticos e inventivos: Violent Shit (1989), Zombie’90: Extreme Pestilence (1991), Goblet of Gore (1996) e Anthropophagous 2000 (1999); e Andreas Bethmannn, criador de Der Todesengel (1998), Dämonenbrut (2000) e Rossa Venezia (2003), este com Jesus Franco e Lina Romay no elenco.

Uma das grandes armadilhas na produção SOV é que dificilmente os diretores/produtores conseguem romper as fronteiras do cinema independente, mas não é impossível. Evil Dead (1981), de Sam Raimi, era essencialmente uma produção SOV, mas foi realizada com tanta garra e empenho que conseguiu colocá-los na mira dos grandes estúdios. Peter Jackson quando realizou seu Bad Taste (1987) estava fazendo um autêntico SOV com amigos – embora filmado em película – e acabou que a produção lhe deu o suporte necessário para se destacar na comissão de cinema da Nova Zelândia e o resto é história. Santiago Segura, hoje um dos mais respeitados cineastas da Espanha por conta de sua série de sucesso Torrente, iniciou-se na produção com curtas feitos em vídeo. Relatos de la Medianoche (1989) e Evilio (1992) são feitos em vídeo. Perturbado (1993), curta bem acabado que realizou de maneira mais profissional, fez com que conseguisse o dinheiro para a produção do primeiro Torrente (1998), que na época de seu lançamento, na Espanha, bateu a bilheteria do Titanic (1997, James Cameron) naquele país.

Bruce Campbell & Sam Raimi em Evil Dead

Pessoas que participaram de produções cinematográficas que se tornaram filmes de culto conseguiram manter suas carreiras atrávez de produções SOV. Talvez o exemplo mais famoso seja o de John A. Russo, conhecido roteirista de The Night of the Living Dead (A Noite dos Mortos Vivos, 1968, George A. Romero), que foi diretor de produções em vídeo como Scream Queens Swimsuit Sensations (1992) ou Saloonatics (2002). Aliás, o clássico de George A. Romero legou ainda outro diretor de SOVs: Bill Hinzman (ator que interpretou o primeiro zumbi que aparece no clássico) que realizou The Majorettes (1987) e FleshEaters (1988), este último uma tranqueira imitação de The Night of the Living Dead, onde Bill repete seu papel de zumbi magrelo sedento por carne humana.

Não só isso. Antigos diretores de cinema dos anos de 1960/1970 só conseguiram manter/retormar suas carreiras após os anos 2000, quando ficaram possibilitados de voltar a produzir seus filmes em vídeo, muitos deles autênticos SOVs. Jesus Franco realizou um punhado de SOVs divertidíssimos, como Vampire Blues (1999), Snakewoman (2005) e o hilário Revenge of the Alligator Ladies (2013), finalizado por seu fiel assistente Antonio Mayans. H.G. Lewis voltou a filmar 30 anos depois de seu último filme de cinema, que havia sido The Gore Gore Girls (1972), com o quase amador Blood Feast 2: All U Can Eat (2002). Ted V. Mikels, diretor dos clássicos The Astro-Zombies (1968) e The Corpse Grinders (1971), passou por algo parecido. Impossibilitado de bancar seus filmes em película, produziu em vídeo mesmo, com ajuda de conhecidos e fãs, The Corpse Grinders 2 (2000) e Mark of the Astro-Zombies (2004), re-encontrando seu espaço na produção SOV do novo milênio, que está cada vez mais parindo filmes extremamente bem produzidos com quase nada de dinheiro.

O verdadeiro cinema independente é o SOV. Nos USA o orçamento médio de um filme chamado de independente é de 30 milhões de dólares, valor absurdamente grande quando comparado aos SOVs produzidos com uma média de 10 mil dólares.

No Brasil o orçamento médio de produções bancadas por editais é entre um e dois milhões de reais, enquanto muitos SOVs de longa-metragem foram feitos com orçamento médio de cinco mil reais, geralmente dinheiro bancado pelo bolso do próprio diretor/produtor. Sempre fiquei na dúvida se ficava orgulhoso ou ofendido, quando meus filmes de cinco mil reais eram comparados com produções de mais de 500 mil reais no orçamento. Acho bastante injusto uma produção minha ser colocada no mesmo patamar de cobranças que um filme de 500 mil reais, mas se fazem a comparação é porque meu filme está dizendo algo, não?

Equipe da Canibal Filmes filmando Criaturas Hediondas (1993)

Aqui ainda houve o agravante de que as produções SOVs surgiram exatamente junto com a moda Trash, que assolou a década de 1990. O SOV brasileiro ganhou força com a cara de pau de minha produtora, Canibal Filmes, que, por ser realizada com orçamentos tão irrisórios, também encaixavam na descrição do Trash. Aí a imprensa oficial, que geralmente é preguiçosa e não vai atrás de informações para apurar os fatos, tratou de difundir essa confusão e o SOV ficou desconhecido aqui, sendo tratado como filmes Trash. Quando estava acabando a moda Trash estes filmes passaram a ser objetos de estudo de um grupo de acadêmicos que passaram a chamá-los de Cinema de Bordas, e perdeu-se a oportunidade de categorizar o SOV Brasileiro na história do cinema amador mundial.

O Monstro Legume do Espaço, filme que produzi em 1995, foi o primeiro título SOV brasileiro a ter uma distribuição em nível nacional, provando que era possível fazer cinema amador e ter público com sua produção feita na vontade e amizade. E, após isso, o cinema Shot on Video nacional finalmente deslanchou.

Guia de SOVs Essenciais

SOVs Essenciais (para entender este peculiar estilo de se fazer cinema):

Elaborei uma lista de Shot on Videos bem básica, que servirá para introduzi-lo na arte do cinema amador (optei por destacar nessa lista básica a produção americana e brasileira). São filmes fáceis de achar na internet, então possíveis de serem assistidos.

Within the Wood (1978) de Sam Raimi. Curta SOV, produzido em super 8, que deu origem ao clássico Evil Dead (1981).

The Long Island Cannibal Massacre (1980) de Nathan Schiff. A história é uma bagunça, mas as cenas de mutilação com serras elétricas são lindas. Super 8.

Boardinghouse (1983) de John Wintergate. Pensão é reaberta após uma carnificina ter acontecido lá. Vídeo.

Sledgehammer (1983) de David A. Prior. Um jovem assassina sua mãe e amante com um martelo. Vários anos depois os assassinatos do martelo reiniciam na mesma área. David também foi diretor do terrível filme profissional amador The Lost Platoon (Pelotão Vampiro, 1990). Vídeo.

Black Devil Doll from Hell (1984) de Chester Novell Turner. Uma mulher compra uma boneca possuída e passa a ter inúmeros problemas hilários. Vídeo.

Blood Cult (1985) de Christopher Lewis. Universitárias são assassinadas e partes de seus corpos são usados em estranhos rituais. Vídeo.

The New York Centerfold Massacre (1985) de Louis Ferriol. Aspirantes à modelo são molestadas e assassinadas misteriosamente. Vídeo.

Black River Monster (1986) de John Duncan. Filme de monstro feito para a família, com um adorável Sasquatch (Pé Grande) feito de uma ridícula fantasia felpuda. Duncan dirigiu ainda o psicótico The Hackers (1988). Vídeo.

Dead Things (1986) de Todd Sheets. Caipiras matam quem se aventura pelo seu bosque. Vídeo.

Gore-Met, Zombie Chef from Hell (1986) de Don Swan. Dono de restaurante mata pessoas para servir aos clientes. Super 8.

Truth or Dare?: A Critical Madness (1986) de Tim Ritter. Após encontrar a esposa na cama com outro homem, o corno passa a matar pessoas participando de dementes jogos da “verdade ou desafio”. Vídeo.

Cannibal Hookers (1987) de Donald Farmer. Como parte de um trote de iniciação para uma irmandade, duas garotas precisam fingir serem prostitutas. Acabam se tornando zumbis que matam as pessoas da vizinhança. Vídeo.

Demon Queen (1987) de Donald Farmer. Uma vampira e suas agitadas tentativas de conseguir sangue. Vídeo.

Tales from the Quadead Zone (1987) de Chester Novell Turner. Fantasmas atormentam um casal. Vídeo.

Video Violence (1987) de Gary Cohen. Casal abre uma videolocadora e percebe que os clientes só levam filmes de horror extremamente violentos, então começam a produzir seus próprios snuff movies. Vídeo.

555 (1988) de Wally Koz. Adolescentes são mortos – das mais variadas e divertidas maneiras – por um psicopata de visual hippie. Foi produzido na época com a pretensão de ser um SOV melhor do que todos os outros que estavam sendo feitos. Vídeo.

Cannibal Campout (1988) de Jon McBride e Tom Fisher. Grupo de jovens em passeio pelo bosque se envolve com trio de psicopatas. Vídeo.

The Dead Next Door (A Morte, 1989) de J. R. Bookwalter. Uma equipe anti-zumbis é formada pelo governo. Bastante cenas gore e produção bem feita. Super 8.

Oversexed Rugsuckers from Mars (1989) de Michael Paul Girard. Aliens tarados estupram mulheres usando aspirador de pó. Muitas drogas e depravações nesta produção que está no limite entre um SOV e um filme profissional. 35mm.

Robot Ninja (1989) de J. R. Bookwalter. Desenhista de HQs se torna um super herói para combater uma gangue de estupradores. Vídeo.

Things (1989) de Andrew Jordan. Marido impotente deseja tanto o nascimento de um filho que precisa lidar com uma ninhada de criaturas que se materializam em sua casa. Vídeo.

Zombie Rampage (1989) de Todd Sheets. Um jovem que está indo encontrar seus amigos acaba cruzando com zumbis, serial killers e gangues homicidas neste clássico do SOV sangrento. Vídeo.

Fertilize the Blaspheming Bombshell! (1990) de Jeff Hathcock. Durante uma viagem, mulher é atormentada por adoradores do diabo. Vídeo.

Gorgasm (1990) de Hugh Gallagher. Garota mata os homens com quem transa. Hugh também foi editor da revista Draculina, dedicada ao cinema SOV americano. Vídeo.

Alien Beasts (1991) de Carl J. Sukenick. Alien caça humanos em assassinatos ultra gores feitos sem dinheiro, nem técnicas. É muito ruim, mas é impossível não vê-lo inteiro. Vídeo.

Nudist Colony of the Dead (1991) de Mark Pirro. Musical envolvendo zumbis numa colônia nudista. Super 8.

A Rede Maldita (1991) de Simião Martiniano. As peripécias de um grupo tentando enterrar uma pessoa. Vídeo.

Science Crazed (1991) de Ron Switzer. Cientista injeta droga experimental em uma mulher que morre ao dar a luz a um monstro já adulto. Vídeo.

O Vagabundo Faixa-Preta (1992) de Simião Martiniano. Kung Fu no sertão de Alagoas. Vídeo.

Criaturas Hediondas (1993) de Petter Baiestorf. Cientista marciano vem à Terra fazer os preparativos para a invasão re-animando alguns cadáveres terráqueos. Vídeo.

Goblin (1993) de Todd Sheets. As diabruras gores de um Goblin que chega até a perfurar os globos oculares das pobres vítimas. Vídeo.

Gorotica (1993) de Hugh Gallagher. Um ladrão morre após engolir uma jóia que havia roubado, então seu parceiro conhece uma necrófila. Vídeo.

Zombie Bloodbath (1993) de Todd Sheets. Um colapso numa usina nuclear transforma as pessoas em zumbis. Vídeo.

Acerto Final (1994) de Antonio Marcos Ferreira. Estrelado por Talício Sirino interpretando um herói em sua cruzada contra as drogas. Vídeo.

Gore Whore (1994) de Hugh Gallagher. Assistente de laboratório rouba uma fórmula que cai em mãos erradas. Vídeo.

Shatter Dead (1994) de Scooter McCrea. Drama muito bem encenado e filmado envolvendo uma mulher que quer chegar à casa de seu namorado num mundo pós-holocausto zumbi. Causou sensação quando foi lançado, mas a carreira de McCrea não decolou. Fez ainda Sixteen Tongues (1999) e foi ator em vários filmes de Kevin j. Lindenmuth. Vídeo.

Vampires and other Stereotypes (1994) de Kevin J. Lindenmuth. Dois “homens de preto” (que não estão usando preto) são encarregados de livrar o planeta dos seres sobrenaturais. Vídeo.

Addicted to Murder (1995) de Kevin J. Lindenmuth. Garoto que mantém amizade com uma vampira está disposto a alimentá-la. Vídeo.

Chuva de Lingüiça (1995) de Acir Kochmanski e Andoza Ferreira. Comédia rural ao estilo de Mazzaropi. Essa produção nacional é hilária e as piadas realmente funcionam. Um dos grandes clássicos do SOV brasileiro. Vídeo.

Creep (1995) de Tim Ritter. Psicopata escapa da prisão e vai pedir ajuda para sua irmã stripper. Vídeo.

Fronteiras sem Destino (1995) de Antonio Marcos Ferreira. Filme de ação eletrizante com Talício Sirino. Vídeo.

O Monstro Legume do Espaço (1995) de Petter Baiestorf. Alienígena constituído de tecido vegetal escapa de sua prisão e aniquila os humanos que cruzam seu caminho. Teve uma continuação em 2006, bastante inferior ao original. Vídeo.

Red Lips (1995) de Donal Farmer. Garota que doa sangue para conseguir dinheiro vira cobaia de um médico. Michelle Bauer e Ghetty Chasun estão no elenco. Vídeo.

Space Freaks from Planet Mutoid (1995) de Dionysius Zervos. Alienígenas convivem com terráqueos. Vídeo.

Blerghhh!!! (1996) de Petter Baiestorf. Grupo de terroristas não consegue se livrar de um zumbi. SOV com efeitos mecânicos e muito gore. Vídeo.

Feeders (1996) de Jon McBride, John Polonia e Mark Polonia. Aliens vem ao planeta Terra para um banquete de vísceras, atacando jovens do interior dos USA. Ótimos efeitos especiais, atores canastrões e aliens – feitos ao estilo de fantoches – que funcionam. Teve uma continuação em 1998. Vídeo.

Colony Mutation (1996) de Tom Berna. Casal vai para uma colônia de mutantes. Vídeo.

Eles Comem Sua Carne (They Eat Your Flesh, 1996) de Petter Baiestorf. Comunidade de canibais se alimenta de fiscais da prefeitura que teimam em ir cobrar o IPTU. Por anos foi o filme mais sangrento já produzido no Brasil. Vídeo.

The Bloody Ape (1997) de Keith J. Crocker. Baseado no conto “Assassinatos da Rua Morgue”, de Edgar Allan Poe. Super 8.

Fatman & Robada (1997) de Rogério Baldino. Pastiche sátira com Batman & Robin. No ano de seu lançamento foi o SOV brasileiro de melhor produção. Cult-movie. Vídeo.

The Necro Files (1997) de Matt Jaissle. Estuprador canibal volta do túmulo como um zumbi alucinado. Vídeo.

Shuín – O Grande Dragão Rosa (1997) de Cristiano Zambiasi. Gordinho lutador de kung fu entra num campeonato de artes marciais para descobrir quem está contrabandeando sorvete seco. Vídeo.

Gore Gore Gays (1998) de Petter Baiestorf. Casal de gays tenta deixar de ser gays e realiza brutais atos de violência e depravações sexuais. Vídeo.

Night of the Clown (1998) de Todd Jason Cook (sob pseudônimo de Vladimir Theobold). Milionário que quer vender sua empresa se torna alvo de um assassino. Vídeo.

Road SM (1998) de José Salles. Estranha relação sadomasoquista entre um grupo de pessoas. Vídeo.

They All Must Die! (1998) de Sean Weathers. Três bandidos torturam uma mulher. A capinha de seu lançamento vem com todos aqueles avisos do estilo “Proibido por 13 anos!”, “Cuidado!”, “Agora sem cortes!”, ou seja, pode assistir que é vagabundagem certa. Vídeo.

Dominium (1999) de Cleiner Micceno. Zumbis mongolóides atacam Sorocaba. Vídeo.

Zombio (1999) de Petter Baiestorf. Sacerdotiza Vudú reanima cadáveres. O primeiro filme de zumbis autenticamente nacional. Filmado em 1998, lançado em 1999. Vídeo.

Blood Red Planet (2000) de Jon McBride, Mark Polonia e John Polonia. Impagável sci-fi com maquetes muito bem elaboradas. A história é sobre um planetóide em direção ao planeta Terra. Vídeo.

Boni Coveiro: O Mensageiro das Trevas (2000) de Boni Coveiro. Ser satânico ataca escoteiros numa floresta. Vídeo.

Edmund Kemper – La Mort de Ma Vie (2001) de Laurent Tissier e Fred Quantin. O psicopata Kemper em sua jornada macabra. Petter Baiestorf faz participação especial em Edmund Kemper Part 4 – La Mort Vengeresse (2018, Laurent Tissier). Vídeo.

Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado (2001) de Felipe M. Guerra. Jovens que só estão a fim de festa se deparam com um atrapalhado psicopata. Vídeo.

Raiva (Rage-O-Rama, 2001) de Petter Baiestorf. Trio de ladrões rouba uma coleção das revistas Spektro e acaba numa vila de pessoas raivosas. Com cenas de carro explodindo. Vídeo.

Attack of the Cockface Killer (2002) de Jason Matherne. Serial killer com uma máscara de pinto mata de todas as maneiras possíveis as pessoas que encontra pelo caminho, incluindo com consolos improvisados de armas. Vídeo.

Rubão – O Canibal (2002) de Fernando Rick. As aventuras gore de uma família canibal. Vídeo.

Feto Morto (2003) de Fernando Rick. Por conta de uma relação incestuosa um rapaz tem um feto em sua cabeça. É o primeiro SOV nacional a ser lançado em DVD. Vídeo.

The Low Budget Time Machine (2003) de Kathe Duba-Barnett. Viajantes do tempo vão para o futuro e encontram mutantes. Vídeo.

Quadrantes (2004) de Cesar Souza. Um viajante dimensional experimenta os prazeres de vários quadrantes. Vídeo.

Eyes of the Chameleon (2005) de Ron Atkins. Serial killer ataca em Las Vegas. Vídeo.

The Stink of Flesh (2005) de Scott Phillips. Zumbis fedorentos tentando comer algumas pessoas. Boa produção. Vídeo.

Canibais & Solidão (2006) de Felipe M. Guerra. Jovens tentando perder a virgindade se metem em confusões envolvendo canibalismo. Ou não. A modelo Edna Costa está no elenco. Vídeo.

O Homem sem Lei (2006) de Seu Manoelzinho. Western capixaba remake da produção homônima de 2003. Vídeo.

Minha Esposa é um Zumbi (2006) de Joel Caetano. Ótima comédia sobre um funcionário dos laboratórios Z que transforma sua esposa em zumbi. Vídeo.

Sandman (2006) de A. Normale Jef. Uma aventura com o Mal. Vídeo.

Telecinesia (2006) de Danilo Morales. Garota que tem poder mental ajuda a policia na investigação de um desaparecimento. Vídeo.

Arrombada – Vou Mijar na Porra do seu Túmulo!!! (2007) de Petter Baiestorf. Ricaços se aproveitam de suas posições de poder para comprar pessoas e barbarizar em orgias sexuais. Ljana Carrion no elenco. Vídeo.

Mamilos em Chamas (2007) de Gurcius Gewdner. Uma história de amor encenada com fantoches feitas de coelhos mortos. Vídeo.

Rambú III – O Rapto do Jaraqui Dourado (2007) de Manoel Freitas, Júnior Castro e Adilamar Halley. Aldenir Coti, o Rambo brasileiro, é a estrela nessa produção de ação ambientada na Amazônia. Vídeo.

Satan’s Cannibal Holocaust (2007) de Jim Wayer. Jovem jornalista se envolve num culto canibal para satã. Vídeo.

Mangue Negro (2008) de Rodrigo Aragão. Zumbis atacam no mangue. Produção que se encontra no tênue limite entre SOV e filme profissional, tendo representado um ganho em qualidade ao cinema independente brasileiro. Os filmes seguintes de Aragão não são SOVs. Vídeo.

Synchronicity (2008) de Brian Hirschbine. Homem acorda coberto de sangue e não se lembra do que fez. Vídeo.

Vadias do Sexo Sangrento (2008) de Petter Baiestorf. Casal de lésbicas cruza os domínios de Esquisito, um psicopata que foi estuprado por 48 Padres quando criança. Ljana Carrion e Lane ABC no elenco. Vídeo.

Black Ice (2009) de Brian Hirschbine. Um conto de fantasia, sexo e assassinatos. Vídeo.

No Rastro da Gangue (2009) de José Sawlo. Mestre do Kung Fu baiano luta contra um bando de traficantes. Pancadarias ao estilo Jackie Chan. Vídeo.

Atomic Brain Invasion (2010) de Richard Griffin. Estranhas criaturas alienígenas atacam pequena cidadezinha do interior americano. Um exemplo perfeito de como os SOVs de hoje evoluíram e estão com uma qualidade fantástica. Griffin está construindo uma carreira de respeito, com ótimos filmes. Também é dele Splatter Disco (2007). Vídeo.

Birdemic: Shock and Terror (2010) de James Nguyen. Pássaros se rebelam contra a humanidade. A produção virou cult por ser tão ruim. Vídeo.

El Monstro del Mar! (2010) de Stuart Simpson. Três assassinas enfrentam um monstro marinho. Outro exemplo de SOV muito bem produzido. Vídeo.

Nasty Nancy (2010) de Sandi Mance. Numa escola onde os professores resolvem tudo com sexo, uma estudiosa aluna se vinga, violentamente, de uma nota baixa. Produção fantástica. Recomendo! Vídeo.

O Tormento de Mathias (2011) de Sandro Debiazzi. As confusões num hospício muito louco. Joel Caetano e Felipe M. Guerra estão no elenco. Vídeo.

Confinópolis (2012) de Raphael Araújo. Sci-fi com ótimo aproveitamento de cenários. Um ditador oprime o povo. Vídeo.

Rat Scratch Fever (2012) de Jeff Leroy. Ratos gigantes do espaço atacam Los Angeles. Com efeitos especiais fuleiros é diversão garantida. Vídeo.

Breeding Farm (2013) de Cody Knotts. Após uma noitada de festa quatro amigos acordam presos num porão, onde estranho homem tem uma fazenda humana. Vídeo.

Hi-8 (Horror Independent 8) (2013) de Ron Bonk, Donald Farmer, Marcus Koch, Tony Masiello, Tim Ritter, Chris Seaver, Todd Sheets e Brad Sykes. Longa em episódios que reúne alguns dos nomes de maior destaque na história das produções americanas de Shot on Video.

Sinister Visions (2013) de Henric Brandt, Doug Gehl, Andreas Rylander e Kim Sonderholm. Longa em episódios com trabalhos dos USA, Inglaterra, Suécia e Dinamarca. Vídeo.

Gore Short Films Anthology Part 2 (2015) de Jeff Grienier, Rob Ceus, Sam Bickle, Jim Roberts, Colin Case, Alexander Sharglaznov, Fuchi Fuchsberger, Petter Baiestorf e Esa Jussila. Coletânea de curtas com representantes do SOV mundial atual organizada por Yan Kaos para lançamento em DVD no Canadá. São curtas do Canadá, Bélgica, USA, Russia, Alemanha, Brasil e Finlândia. 2000 Anos Para Isso? (1996) é o curta representante do Brasil.

Zombio 2: Chimarrão Zombies (2013) de Petter Baiestorf. Em um holocausto zumbi os humanos são o maior problema de todos. Miyuki Tachibana e Raíssa Vitral no elenco. Vídeo.

13 Histórias Estranhas (2015) de Fernando Mantelli, Ricardo Ghiorzi, Claudia Borba, Petter Baiestorf, Marcio Toson, Cesar Souza, Taísa Ennes Marques, Rafael Duarte, Gustavo Fogaça, Renato Souza, Léo Dias, Paulo Biscaia Filho, Felipe M. Guerra, Filipe Ferreira e Cristian Verardi. Longa em episódios que reúne alguns dos principais nomes do SOV brasileiro. Vídeo.

Pazúcus – A Ilha do Desarrego (2017) de Gurcius Gewdner. Casal de lunáticos enfrenta a mãe natureza com seus cocôs mafiosos. Vídeo.

Termitator (2017) de Roxane De Koninck, Camille Monette e Keenan Poloncsak. Um mutante extermina jovens que vão passar alguns dias em cabana na floresta. Vídeo.

Astaroth (2017) de Larissa Anzoategui. A demônia Astaroth se envolve com tatuadores e rockistas para cooptar almas humanas. Vídeo.

O Mito do Silva (2018) de Fabiano Soares. Ótima produção política lançada às vésperas da eleição presidencial de 2018. Aqui Soares alerta para o crescimento do fascismo no Brasil. Vídeo.

Contos da Morte 2 (2018) de Vinicius Santos, Ana Rosenrot, Cíntia Dutra, Danilo Morales, Diego Camelo, Janderson Rodrigues, Larissa Anzoategui e Lula Magalhães. Antologia com vários episódios de horror, reunindo alguns dos principais diretores do novo SOV brasileiro. Vídeo.

Escrito por Petter Baiestorf.

Arrepios Sangrentos do Cinema (1960-1980)

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 8, 2018 by canibuk

O cinema sempre foi terreno fértil para a exploração do corpo. Se nas décadas de 1950 e 1960 o cinema era mais sugestivo do que apelativo (mas com a sci-fi e seus monstros e aliens deformados já apontando os rumos que a nova audiência exigia), foi na ressaca da contracultura, nos anos de 1970, que o cinema foi tratando de ficar mais explícito e cínico, culminando numa explosão de corpos monstruosos/pegajosos nas telas do cinema da década de 1980, onde a crítica social-niilista-pessimista da década anterior cedeu lugar à auto paródia do terrir.

Podemos afirmar que a auto paródia que o cinema dos anos de 1980 viveu, principalmente o americano, tem suas raízes nos filmes da dupla H. G. Lewis e David F. Friedman, principalmente na trinca de goremovies “Banquete de Sangue” (Blood Feast, 1963), “2000 Maníacos” (2000 Maniacs, 1964) e “Color Me Blood Red” (1965), que aproveitaram para extrapolar, para deleite do jovem público de drive-ins, o bom gosto estético, aproveitando até mesmo idéias de mortes exageradas dadas por seus filhos pré-adolescentes. O corpo humano deixava de ser um templo sagrado e, agora, estava disponível para todo o tipo de mutilações que os técnicos de efeitos especiais conseguissem elaborar. E mais, agora o tabu do canibalismo também caia por terra e o corpo humano servia de alimento às sádicas personagens.

No final dos anos de 1950 e início dos anos de 1960, a cinematografia gore ainda foi discreta, com obras como “First Man Into Space (1959), de Robert Day, sobre um astronauta que começa a derreter e que foi a inspiração para a produção do clássico “O Incrível Homem Que Derreteu” (The Incredible Melting Man, 1977, de William Sachs. “Inferno” (Jigoku, 1960), de Nobuo Kakagawa, tomou como inspiração o inferno concebido por Dante e ousou mostrar, em cores, os horrores explícitos de um purgatório onde os pecadores sofriam todo tipo de violência na carne. “Six She’s and A He” (1963), de Richard S. Flink, contava a história de um astronauta feito de prisioneiro por uma tribo de lindas mulheres que costumavam realizar incríveis banquetes com os membros decepados de seus algozes. “Six She’s and A He” é uma espécie de irmão bastardo dos filmes da dupla Lewis-Friedman, já que seu roteirista é o ator William Kerwin, que atuou em “Blood Feast” e “2000 Maniacs” usando o pseudônimo de Thomas Wood. “Está Noite Encarnarei no teu Cadáver” (1967), de José Mojica Marins, à exemplo de “Jigoku”, também mostrava em cores os horrores do inferno com muitos membros decepados, sofrimentos diversos e inventivos demônios feito com parte dos corpos de seus alunos de curso de cinema.

No ano seguinte o horror ficou ainda mais explícito com duas obras seminais: Mojica realizou um banquete canibal em seu longa de episódios “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (1968), no episódio “Ideologia”, e o Cult “A Noite dos Mortos-Vivos” (The Night of the Living Dead, 1968), de George A. Romero, que trazia o canibalismo explícito para as telas com a virulenta modernização dos zumbis, desta vez se deliciando com tripas e toda variedade de carne humana, de crua à carbonizada, dando apontamentos do caminho que o cinema de horror viria a tomar nos anos seguintes.

Jigoku (1960)

Charles Manson e a Família haviam acordado a América de seu “American Way of Life” e os horrores do Vietnã eram televisionados nos jornais do café da manhã, toda uma geração insatisfeita queria voz. Na década de 1970 o cinema de horror ficou mais insano, pessimista e violento para com as instituições oficiais. Jovens cineastas perceberam, ensinados por H.G. Lewis e George A. Romero, que o cinema independente era o caminho natural para adentrar no mundo das produções cinematográficas, e o melhor, o horror niilista tinha público fiel ávido por “quanto pior melhor”.

Tom Savini em Dawn of the Dead (1978)

Inspirados por Charles Manson e “A Noite dos Mortos-Vivos”, no Canadá, a dupla Bob Clark e Alan Ormsby profanaram os defuntos com seu clássico “Children Shouldn’t Play With Dead Things” (1972), podreira sobre um grupo de degenerados comandados por uma espécie de guru fake a la Manson que desenterram alguns corpos num cemitério isolado e realizam um verdadeiro show de barbaridades e imaturidade. Aliás, Ormsby deve ser atraído por personalidades problemáticas, já que na seqüencia realizou o clássico “Confissões de um Necrófilo” (Deranged, 1974), co-dirigido por Jeff Gillen, inspirado na figura do psicopata Ed Gein e que, na minha opinião, é a melhor abordagem cinematográfica já feita sobre Gein, que inspirou, entre outros, também os clássicos “Psicose” (Psycho, 1960), de Alfred Hitchcock, e “O Massacre da Serra-Elétrica” (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), a obra-prima de Tobe Hooper, realizado no mesmo ano de “Deranged” e que contava com efeitos do ex-fotografo de guerra Tom Savini, que se inspirava nos horrores reais que presenciou para criar as maquiagens mais podreiras possíveis. Os corpos dos mortos agora não eram mais sagrados, podiam alimentar psicopatas dementes ou, até, se tornarem grotescas obras de arte ou peça de happenings.

O público clamava por histórias mais adultas, além da violência explícita, o sexo também gerava curiosidade. Andy Warhol e Paul Morrissey foram para a Europa filmar, com ajuda do italiano Antonio Margherity, “Carne para Frankenstein” (Flesh for Frankenstein, 1974), uma releitura sexual-splatter de Frankenstein de Mary Shelley, com litros de sangue, referências à necrofília e abordagem erótica da história do cientista que brincava de Deus, dando especial atenção ao detalhes sórdidos e eróticos. No Canadá David Cronenberg previa as epidemias de doenças sexualmente transmissíveis ao realizar “Calafrios” (Shivers, 1975), com roteiro sério que discutia o sexo, sem deixar de incluir taras, fetiches e doenças como a pedofília em roteiro genial (o final do filme continua poderoso).

De volta à América, o cineasta underground Joel M. Reed lançou em 1976 o perturbador e doentio “Bloodsucking Freaks” (The Incredible Torture Show), com a personagem de Sardu, ajudado por um anão tarado, que raptava jovens mulheres que se tornavam deliciosas iguarias para seus banquetes explícitos onde até mesmo sanduíches de pênis era devorados. Ainda em 1976, os exageros do cinema gore se encontraram com a falta de limites do mundo da pornografia e o jovem Michael Hugo cometeu o, ainda hoje, obscuro “Hardgore”, uma carnificina envolvendo sexo explícito com todo o tipo de perversões na história de uma inocente mocinha internada numa instituição mental. “Hardgore” parecia preparar terreno para “Cannibal Holocaust” (1980), do italiano Ruggero Deodato, produção que extrapolou qualquer limite do bom gosto ao assassinar, em frente às câmeras, todo tipo de animais, incluindo a famosa cena da tartaruga, filmada com verdadeiros requintes de crueldade.

Mas um pequeno curta independente, filmado em super 8 por um grupo de amigos, anunciava que o cinema de horror voltaria a ficar mais artístico (sem assassinatos reais ou pornografia): “Within the Woods” (1978), de Sam Raimi, produzido com os amigos Robert Tapert e Bruce Campbell, era um ensaio para a produção do Cult “A Morte do Demônio” (Evil Dead, 1981), que influenciaria meio mundo nos anos de 1980 e 1990 com sua ensandecida história envolvendo jovens possessados por demônios numa cabana isolada. O cinema de horror começava a sair dos cinemas pulgueiros para tomar de assalto toda uma nova geração que descobriria os filmes malditos com o videocassete.

De certo modo “Evil Dead” preparava o público para a exploração do corpo que o cinema da década de 1980 realizou. Nunca na história da indústria cinematográfica tivemos outra época tão rica na exploração de anomalias, doenças, mutações e toda uma rica gama de deformações genéticas. Era a época da disco, da cocaína acessível e barata, do “viva rápido, morra jovem”, então… Pro inferno com a seriedade, o negócio agora era a auto paródia e o cinema de horror, principalmente o americano, soube não se levar em sério e por toda a década de 1980 cineastas como Lloyd Kaufman, Stuart Gordon, Dan O’Bannon, Fred Deker, Roger Corman, Fred Olen Ray, Jim Wynorski, entre outros, conseguiram passar através de seus filmes o clima de curtição que os anos de 1980 possuíam.

por Petter Baiestorf

Veja os trailers aqui:

Outros Posters:

The Incredible Melting Man

Six She’s And A He em Agonia na Ilha Sangrenta da Deusa do Amor

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 19, 2014 by canibuk

Six She’s and A He (“Love Goddesses of Blood Island”/”Kiss Me Bloody”, 1963, 46 minutos) de Richard S. Flink. Com: Laura Hodges, Bill Rogers, Liz Burton, Carol Wintress, Dawn Meredith, Laura Wood e Ingrid Albert.

Six She's and A HeUm astronauta cai numa ilha habitada por seis amazonas e é mantido como escravo, tanto para trabalhos manuais como arar a terra, quanto para satisfazer as taras sexuais das seis estranhas garotas. Entre alguns números de dança temos o flashback da tortura de um soldado nazista, o escravo sexual anterior, que é explicitamente eviscerado e decepado em efeitos ultra-sangrentos mais bem elaborados do que no clássico “Blood Feast” (1963) de H.G. Lewis, com inúmeros closes valorizando as tripas ensanguentadas que são arrancadas do estômago do pobre soldado. Exausto de tanto sexo e trabalhos forçados na lavoura das garotas, o astronauta Rogers e uma das meninas se apaixonam e resolvem fugir juntos, iniciando uma luta sangrenta que envolve cabeças esmagadas à pedradas e corpos trespassados por lanças pontiagudas.

0213
six shes and a he pressbook“Six She’s and A He”, originalmente filmado sob o título de “Love Goddesses of Blood Island”, é uma espécie de mistura entre os filmes de H.G. Lewis e os Nudies dançantes que surgiram no final da década de 1950. Trazendo maquiagens extremamente violentas para a época em que foi produzido, o filme tem um tom de farsa como nas produções de H. G. Lewis (talvez o filme gore mais violento e perturbador do início do subgênero gore no cinema seja mesmo o japonês “Jigoku” (1960), de Nobuo Nakagawa, que era uma realização séria, plasticamente bem executada e trazia torturas sangrentas em um inferno colorido meia década antes do nosso José Mojica Marins). Na época do lançamento de “Six She’s and A He” uma meia dúzia de cópias do filme circularam apenas pela região de Miami para logo sumir do mercado e permanecer por mais de 30 anos como um filme perdido, até que a distribuidora Something Weird conseguiu achar uma cópia de 46 minutos do clássico e o relançou no mercado de home vídeo (o IMDB aponta que a duração do filme é de 72 minutos, mas até o momento a versão que circula pelo mundo é essa da Something Weird). De qualquer modo, é um filme que precisa ser resgatado/descoberto pelas novas gerações de fãs do cinema gore e, se possível, uma cópia completa precisa ser descoberta para um futuro (e digno) lançamento deste trabalho tão importante.
Six She's and A He2O filme foi a primeira produção/direção do empreiteiro de Miami Richard S. Flink, que assinou o filme com o pseudônimo de Gordon H. Heaver. Construindo casas durante o dia e administrando um drive-in de sucesso durante a noite, o Sr. Flink se sentiu seguro para entrar na produção de cinema independente. Embora “Six She’s and A He” tenha sido visto por poucas pessoas e tenha passado desapercebido, foi o suficiente para que ele produzisse ainda, pela sua recém formada produtora Thunderbird International, o trashão “Sting of Death” (1965) com direção de William Grefe, uma deliciosa mistura de sci-fi e horror realizada pelo homem que anos mais tarde faria o imperdível “Mako: The Jaws of Death/Mako, O Tubarão Assassino” (1976). Depois destes filmes Richard S. Flink desapareceu do mercado cinematográfico e seu paradeiro (e história) permanecem desconhecidos até hoje.
Six She's and A He3Tido como a primeira imitação do cinema gore da dupla Lewis-Friedman, “Six She’s and A He” não deixa de ter relação direta com os filmes do mestre do gore já que seu roteirista é o ator William Kerwin e seu irmão, Harry Kerwin, o responsável pelos repulsivos efeitos especiais do filme. William nasceu em 1927 (tendo falecido em 1989) e atuou em mais de 130 filmes, se tornando conhecido principalmente por estar no elenco de inúmeros filmes dirigidos por H.G. Lewis, incluindo os clássicos “Blood Feast”, onde conheceu e se casou com a atriz Connie Mason, “Two Thousand Maniacs!/Maníacos” (1964) e “A Taste of Blood” (1967) onde atuava, geralmente, sob o pseudônimo de Thomas Wood. Outros filmes da dupla Lewis-Friedman onde trabalhou foram “Living Venus” (1961); “The Adventures of Lucky Pierre” (1961); “Boin-n-g” (1963); “Goldilocks and the Three Bares” (1963); “Bell, Bare and Beautiful” (1963); “Scum of the Earth” (1963); “Jimmy, The Boy Wonder” (1966) e “Suburban Roulette” (1968). Como curiosidade, em 1983 ele interpretou a personagem Boa Man no “Porky’s 2” de Bob Clark, creditado no filme com o pseudônimo de Rooney Kerwin. Já seu irmão Harry Kerwin, a mente doentia por trás das ótimas maquiagens gore de “Six She’s and A He”, era diretor de séries para a TV. Harry nasceu em 1930 e faleceu precocemente de câncer em 1979, com apenas 48 anos de idade. Seu filme mais famoso é justamente o último de sua carreira, “Barracuda” (1978) com co-direção de Wayne Crawford, uma produção de horror que tentava lucrar com o sucesso de “Jaws” de Steven Spielberg. Harry amava o cinema e se aventurou como ator em alguns filmes como o horror “Flesh Feast” (1970) de Brad F. Grinter, sobre um grupo de nazistas que quer reanimar o corpo de Adolf Hitler para dominar o mundo. Também produziu, escreveu, montou e trabalhou no departamento elétrico de outras produções de baixo orçamento como “Campus Heat” (1969) de Tom Rich e “Scream Baby Scream” (1969) de Joseph Adler (que contava com roteiro de Larry Cohen).
Six She's and A He1Do grupo de atores presentes neste curioso filme obscuro, vale apontar que Bill Rogers, o astronauta, fez poucos filmes mas aparece em curiosidades como “Santo Vs. Las Mujeres Vampiro” (1962), de Alfonso Corona Blake, no papel do professor Orloff (não creditado); “Adam Lost His Apple” (1965), uma comédia assinada por Earl Wainwright; “Shanty Tramp” (1967) de Joseph P. Mawra e “A Taste of Blood” (1967) de H.G. Lewis. E das garotas no elenco apenas Laura Wood tentou seguir carreira tendo aparecido em alguns outros filmes, em sua maioria participações em episódios de séries de TV como “Star Trek”.
Six She's and A He_CoverÉ interessante observar que o assistente de direção de Richard S. Flink foi o também diretor Joseph P. Mawra (creditado no filme como José Prieto). Mawra é mais conhecido por ter sido o diretor da série de filmes com a personagem Olga do produtor George Weiss, para quem realizou “Olga’s House of Shame” (1964); “White Slaves of Chinatown” (1964); “Olga’s Girls” (1964); “Chained Girls” (1965) e “Mme. Olga’s Massage Parlor” (1965).
“Six She’s and A He” é uma produção barata, tecnicamente capenga e com atuações amadoras, mas tem um lugar garantido na história do cinema por ter sido realizado no momento em que os produtores de cinema estavam explorando e testando todos os limites do bom gosto e a audiência clamava por obras que fugissem do lugar comum. Pode ser um filme vagabundo sem a importância de um “Blood Feast”, mas ver aquele bando de sorridentes atores desconhecidos, dançando e sangrando alegremente numa história cheia de momentos absurdos, faz o dia bem melhor.

escrito por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.

Veja aqui um dos efeitos ultra gore de “Six She’s And A He” (1963):

Cemitério Perdido dos Filmes B: Exploitation

Posted in Cinema, Literatura, Livro with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 21, 2013 by canibuk

“Cemitério Perdido dos Filmes B: Exploitation” (2013, 220 páginas). Organizado por César Almeida. Editora Estronho.

Exploitation 1Concebido como uma continuação ao soberbo “Cemitério Perdido dos Filmes B” (2010) de César Almeida, este “Exploitation” se aprofunda ainda mais no cinema obscuro mundial (senti falta de tranqueiras da filmografia Indiana, Turca, Nigeriana, Filipina, mas isso deve ficar para um terceiro volume do “Cemitério Perdido dos Filmes B”). Neste volume César Almeida contou com a ajuda de outros aficionados ao escrever as resenhas, gente boa como: Carlos Thomaz Albornoz (jornalista), Laura Cánepa (jornalista), Leandro Caraça (crítico de cinema), Marco Freitas (publicitário), Ana Galvan (estudante), Osvaldo Neto (pesquisador e divulgador de cinema), Otávio Pereira (administração e sistema de informação), Ismael Schonhorst (humorista fracassado), Leopoldo Tauffenbach (doutor em artes visuais), Cristian Verardi (crítico de cinema) e Ronald Perrone (pesquisador de cinema), que se revezam nas resenhas de filmes divididos em capítulo sobre cinema splatter, artes marciais/chambara, giallo, policial exploitation, blaxploitation, nazisploitation/w.i.p./nunsploitation, sexploitation e exploitation regional (em dois capítulos, um sobre produções vagabundas da América Latina e outro sobre o apelativo cinema da Austrália e Canadá), tornando este livro uma bela introdução aos leigos que queiram conhecer o universo sem vergonha do cinema de exploração.

Exploitation 2Mas atenção, fanáticos por exploitation: Vocês sentirão falta de filmes mais obscuros. Entre os filmes resenhados (são 140 filmes analisados) estão pérolas como os divertidos “Ta Paidia Tou Diavolou/A Ilha da Morte” (1977, Nico Mastorakis); “Dawn of the Mummy” (1981, Frank Agrama); “L’Iguana dalla Lingua di Fuoco” (1971, Riccardo Freda); “Joë Caligula” (1966, José Bénazéraf); “Anita – Ur en Tonarsflickas” (1973, Torgny Wickman); “Emmanuelle Tropical” (1977, J. Marreco) e muitos outros filmes clássicos do gênero como “Cani Arrabbiati” (1974, Mario Bava); “Rabid” (1977, David Cronenberg); “Blood Feast” (1963, H.G. Lewis); “The Last House on the Left” (1972, Wes Craven); “Bloodsucking Freaks” (1976, Joel M. Reed); “La Montagna Del Dio Cannibale” (1978, Sergio Martino) e vários outros do ciclo de canibalismo italiano, bem como resenha de vários filmes de Lucio Fulci, Mario Bava, Dario Argento, Jack Hill, Bruce Lee, Pam Grier, etc (fez falta resenhas de produções de David F. Friedman – um dos reis do exploitation americano -, bem como produções distribuídas pelo lendário Harry Novak, Doris Wishman, Ted V. Mikels, Tsui Hark, Frank Henenlotter (o responsável por eu ter virado um fanático pelo gênero exploitation), entre outras lendas do cinema alucinado de exploração, mas 200 páginas realmente é pouco espaço para um apanhado mais profundo englobando também, por exemplo, westerns como “Viva Cangaceiro” (1971, Giovanni Fago) ou “Condenados a Vivir/Cut-Throats Nine” (1972, Joaquín Luis Romero Marchent), entre outros subgêneros).

Assim como o primeiro volume do “Cemitério Perdido dos Filmes B”, este é item obrigatório na estante dos fãs de um cinema mais selvagem e cru de uma época fantástica da sétima arte que sobrevive graças ao vídeo (hoje downloads) e a inúmeros cineastas independentes do mundo inteiro que continuam investindo dinheiro do próprio bolso para que essa tradição do alucinado cinema Exploitation continue infectando incautos telespectadores.

De ponto negativo no livro (e única coisa que achei desnecessária) são as infinitas citações à Tarantino, dando a falsa ideia de que os autores só conheceram o cinema exploitation a partir do cineasta americano (o que não é verdade, creio).  Meus sinceros parabéns ao César Almeida pela organização deste segundo volume de “Cemitério Perdido dos Filmes B”, a editora Estronho pelo lançamento e aos co-autores desta pequena maravilha. E que venham os próximos volumes o quanto antes.

Petter Baiestorf.

Basket Case

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on novembro 16, 2012 by canibuk

“Basket Case” (1982, 91 min.) de Frank Henenlotter. Com: Kevin Van Hentenryck, Terri Susan Smith e Beverly Bonner.

Este cult movie, que marca a estréia de Frank Henenlotter como diretor de longas, conta a história de Duane Bradley (Kevin Van Hentenryck) que se hospeda em hotel fuleiro de New York cheio da grana e com um misterioso cesto sempre nas mãos. Logo ficamos sabendo que dentro do cesto está Belial, gêmeo siamês de Duane que nada mais é do que um monstruoso torso. Duane e Belial foram separados quando tinham uns 12 anos de idade via uma sangrenta e traumatizante operação realizada a pedido do pai deles que não aceitava o monstrengo Belial grudado em Duane. Matando um a um os médicos veterinários que realizaram a operação, Duane encontra tempo para tecer amizade com uma puta acabadaça que reside no hotel e se apaixonar por uma jovem secretária, loirinha e tontinha, cuja relação desperta os ciúmes de Belial que mutila e estupra a jovem numa bela e rápida cena de necrofilia gore, desencadeando uma luta mortal com seu irmão.

Com efeitos especiais de stop motion Henenlotter deu vida à Belial, o mais divertido psicopata deformado da história do cinema. Belial era um mix de fantoche com outro boneco em tamanho grande onde um ator era metido dentro para os closes de seus olhos vermelhos (e todas as vezes que aparece a mão de Belial, é o braço do próprio Henenlotter dentro da prótese). Para dar vida ao Belial o diretor chamou os técnicos John Caglione Jr. (que havia sido assistente de maquiagens em “Friday The 13th Part 2/Sexta-feira 13 – Parte 2” (1981) de Steve Miner), Kevin Haney e Ugis Nigals, que estreiaram profissionalmente em “Basket Case” (Haney viria a fazer os animatrônicos do clássico “C.H.U.D.” (1984) de Douglas Cheek). Mesmo com uma produção de orçamento extremamente baixo, Henenlotter era um profundo conhecedor do cinema vagabundo e soube contornar todos os problemas ao conceber um divertido filme que foi lançado nos cinemas de New York em sessões da meia-noite, passando meio desapercebido, até ser descoberto e cultuado quando lançado em VHS.

Frank Henenlotter (1950) é um diretor independente que começou a fazer cinema inspirado pelos exploitations que eram exibidos nos cinemas da 42nd Street (que eram as verdadeiras grindhouses, termo popularizado e banalizado após Tarantino/Rodrigues terem feito seu “Grindhouse“). Começou fazendo filmes em super 8 quando adolescente e seu primeiro curta em 16mm, “Slash of the Knife”, foi exibido em sessão com o cult “Pink Flamingos” de John Waters. Ainda fez outros curtas, como “Son of Psycho” e “Lurid Women”, antes de estrear profissionalmente com “Basket Case” em 1982. Em 1988 realizou outro clássico do cinema sleaze, o também cult “Brain Damage”, uma interessante alegoria sobre a dependência das drogas. Na seqüência filmou três novos filmes, “Basket Case 2” (1990), continuação ainda mais debochada de seu grande clássico, filmado simultaneamente com “Frankenhooker” (1990), versão podreira da história de Frankenstein que mostrava como um nerd reanima o corpo de sua noiva, despedaçada por um cortador de grama, utilizando-se de pedaços de corpos de prostitutas, e “Basket Case 3” (1992), encerrando assim a saga do simpático monstrengo Belial. Depois de anos sem filmar, em 2008 Henenlotter lançou “Bad Biology”, sobre um homem e uma mulher que procuram a satisfação sexual e quando se encontram sua ligação sexual se revelará uma explosiva experiência. Em 2010 co-dirigiu, com Jimmy Maslon, o documentário “Herschell Gordon Lewis: The Godfather of Gore” que, além de H.G. Lewis, trazia ainda depoimentos de gênios como David F. Friedman e John Waters. Aliás, como curiosidade, “Basket Case” é dedicado ao avacalhado Lewis.

Frank Henenlotter renega que faz filmes de horror, em suas palavras, “Faço exploitation movies que tem uma atitude que você não vai encontrar nas produções de Hollywood. Meus filmes são rudes, provocadores, eles falam sobre assuntos que as pessoas costumam ignorar!”. Henenlotter até pode filmar pouco, mas é louvável sua postura de se manter a margem da indústria cinematográfica americana. “Basket Case” foi lançado em VHS em Portugal com o título de “O Mistério do Cesto” e via essa fita VHS que pude assistí-lo pela primeira vez no início dos anos de 1990. Aqui no Brasil continua inédito.

por Petter Baiestorf.

Assista “Basket Case” aqui:

Capa do VHS lançado em Portugal.

Banquete de Sangue no Mundo dos Nudie Movies

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 17, 2012 by canibuk

“Blood Feast” (“Banquete de Sangue”, 1963, 67 mim.) de H.G. Lewis. Com: William Kerwin, Mal Arnold e Connie Mason.

No início dos anos de 1960 o mercado de nudie movies estava lotado de produtores picaretas que davam ao público produções ultra-baratas com aquilo que o público queria ver: Nudez! Eram filmes com orçamento extremamente baixo que eram escoados em salas de cinema destinadas aos adultos (as chamadas Grindhouse Theatres que, ao contrário do que a imprensa brasileira quer fazer acreditar, eram locais exibidores e não um gênero de filme), muitas destas produções distribuida por Harry Novak. David F. Friedman e H.G. Lewis faziam nudies e, querendo um diferencial às suas produções, resolveram fazer filmes de horror onde o sangue jorrasse colorido, as mutilações fossem explícitas e a diversão macabra em tom de farsa, assim relegaram ao mundo o clássico “Blood Feast” (seguido do espetacular “Two Thousand Maniacs!” e “Color Me Blood Red”).

Para seu primeiro horror gore a dupla Friedman-Lewis rabiscou um argumento e chamou a roteirista Allison Louise Downe para fazer a ligação entre uma e outra cena. A história é mais ou menos essa aqui: Em Miami Fuad Ramses (Mal Arnold) tem um restaurante que fornece comida em festas. Pancada da cabeça, Ramses está preparando um ritual para trazer de volta a deusa Ishtar, a mãe das trevas, com uma solução contendo partes de cadáveres de mulheres mortas. Mero pretexto para mostrar a mais divertida série de assassinatos grotescos que o cinema teve até aquele ano. É uma orgia de sangue com inúmeras mutilações de vermelho denso e as investigações de um grupo de policiais palermas encabeçados pelo detetive Pete (William Kerwin usando o nome Thomas Wood), que passa a namorar Suzette (Connie Mason), objeto de desejo do ensandecido Ramses que terá uma morte esmagadoramente hilária.

Com efeitos gore elaborados pelo próprio diretor do filme, coisas simples como vísceras de animais, sangue de um vermelho vibrante falso, pedaços de manequins, “Blood Feast” surpreendeu o público ao estreiar em drive-ins de New York com o produtor Friedman distribuindo sacos de vômito ao público pagante. Na Flórida, com o filme prestes a estreiar, a dupla picareta tirou, intencionalmente, uma medida cautelar contra seu próprio filme a fim de gerar publicidade e o tiro foi certeiro: O público lotou as salas onde era exibido. “Blood Feast” rendeu muito dinheiro, mas é uma produção quase amadora onde nada foi levado a sério, tanto que paralelo ao lançamento do filme, Lewis lançou também o livro “Blood Feast” que é ainda mais humoristico e insano.

Herschell Gordon Lewis nasceu em 1929 em Pittsburgh, se mudando para Chicago quando adolescente e só fez filmes divertidos. Seu primeiro emprego foi numa agência de publicidade (o que explica suas bem boladas campanhas promocionais para os filmes) e, em seguida, dirigiu comerciais para a televisão. Seu primeiro filme, o drama “The Prime Time” (1959), foi também o primeiro longa produzido em Chicago desde 1910. Em seguida conheceu David F. Friedman e juntos realizaram “Living Venus” (1961), sobre um fotografo que tem uma revista de mulher pelada, tudo inspirado em Hugh Hefner, dono da “Playboy”. O filme rendeu uma boa grana e a dupla se dedicou a produção de inúmeros outros nudies, coisas como “The Adventures of Lucky Pierre” (1961), uma imitação sem talento do clássico “The Immoral Mr. Teas” (1959) do genial Russ Meyer; “Daughter of the Sun” (1962), sobre uma mulher que descobre ser nudista; “Nature’s Playmates” (1962), onde um detetive particular investiga um caso de desaparecimento num campo de nudismo e o divertido “Boin-n-g” (1963), onde, em exercício de metalinguagem, um produtor e um diretor de cinema inexperientes realizam testes com mulheres para a produção de um nudie movie. Nesta época a produção de filmes explorando nudez era tanta que a dupla resolveu apostar no então desconhecido território dos filmes gore exageradamente violentos com “Blood Feast”. Entre “Blood Feats” (1963) e “Two Thousand Maniacs!” (1964), a dupla ainda realizou mais três filmes: “Goldilocks and the Three Bares” (1963), um musical sobre cantores folclóricos num campo de nudismo; “Bell, Bare and Beautiful” (1963), sobre um jovem milionário que persegue uma stripper num campo de nudismo; e “Scum of the Earth” (1963), dramalhão sobre um fotografo e uma inocente jovem.

Com “Two Thousand Maniacs!” a dupla foi além no seu gosto pelo exagero, colocando um grupo de jovens numa cidade onde absolutamente todos os moradores são assassinos. “2000 Maniacs!” foi o segundo filme da chamada, posteriormente, “The Blood Trilogy” que fechou com “Color me Blood Red” (1965). Filmado em apenas 15 dias na cidade de St. Cloud, Flórida, com toda a cidade participando do filme (percebemos incontáveis figurantes do filme sorrindo de alegria por estarem trabalhando num filme) e algumas mortes, como a do barril com pregos colina abaixo, sendo boladas pelo filho de Lewis, então com 11 anos, a produção foi um enorme sucesso nos drive-ins americanos. Entre “2000 Maniacs!” e “Color me Blood Red”, outros três filmes foram feitos: “Moonshine Mountain” (1964), sobre um cantor country; o desconhecido “Sin, Suffer and Repent” (1965), que não consegui assistir; e o clássico “Monster a Go-Go” (1965), que conta a história de uma capsula espacial que volta para a Terra e o astronauta desaparece ao mesmo tempo que um monstro misterioso começa a atacar (na verdade era um filme incompleto que foi comprado e remontado por Lewis, lançando-o como seu). Depois do sucesso de “Color me Blood Red”, Lewis e Friedman se separaram e o diretor continuou se exercitando com sangueiras espetaculares como “A Taste of Blood” (1967), épico de quase duas horas de duração com um vampiro caçando os descendentes dos assassinos de Drácula; “The Gruesome Twosome” (1967), com um assassino tirando o escampo de suas vítimas; “Something Weird” (1967), que foi a inspiração para o nome da distribuidora Something Weird Video; “The Wizard of Gore” (1970), clássico do gore sobre o mágico que hipnotiza e mutila suas vítimas num palco diante uma platéia sedenta por violência e “The Gore Gore Girls” (1972), onde um jornalista investiga as mortes de strippers.

Entre uma e outra filmagem de seus filmes gores, Lewis fazia todo tipo de produções onde pudesse ganhar alguns trocados, assim realizou “She-Devils on Wheels” (1968), violento biker movie que rende ótimas gargalhadas involuntárias por conta de seu elenco canastrão; “Just for the Hell of It” (1968), drama envolvendo gangues de delinquentes junenis; “How to Make a Doll” (1968), onde um professor nerd cria maravilhosas fêmeas rôbos; e “The Year of the Yahoo” (1972), drama cômico sobre um cantor country que ajuda na campanha política de um senador. H.G. Lewis sempre financiou ele próprio seus filmes com dinheiro de sua bem sucedida agência de publicidade que mantinha em Chicago. Lewis também escreveu mais de 20 livros, entre eles “The Businessman’s Guide to Advertising and Sales Promotion”, onde ensinava como ganhar dinheiro. Em 2002 Lewis voltou a dirigir filmes justamente com a continuação de “Blood Feast” que se chamou “Blood Feast 2: All U Can Eat”, uma divertida comédia sangrenta sobre uma nova tentativa de realizar outro banquete para Ishtar.

David F. Friedman (1923-2011) quando adolescente se tornou projecionista de um cinema em Buffalo. Durante o tempo em que serviu no exército conheceu Kroger Babb (um dos pioneiros na arte de produzir exploitation movies, a maioria dos filmes dele são aqueles hilários filmes de educação sexual destinados ao público adulto) e acabou se interessando pela produção de filmes. Nos anos de 1950 fundou uma produtora de filmes exploitation lançando “Cannibal Island” (1956), sobre a vida e costumes dos povos primitivos (na verdade Friedman comprou o documentário “Gow the Killer” (1931) e o remontou para parecer um novo filme). No início dos anos 60 conheceu Herschell Gordon Lewis e mantiveram uma parceria de sucesso realizando, principalmente, nudie movies e gores de humor negro. Quando a parceria entre os dois chegou ao fim, Friedman se voltou ao mercado de sexploitations com filmes como “The Defilers” (1965) de Lee Frost, drama sobre uma mulher mantida como escrava sexual; “The Notorious Daughter of Fanny Hill” (1966) de Peter Perry Jr., sobre um puteiro; “She Freaks” (1967) de Byron Mabe, refilmagem disfarçada do clássico “Freaks” (1932) de Tod Browning, só que com tudo mal feito; “The Acid Eaters” (1968) de Byron Mabe, filme jovem sobre tomadores de LSD; “Space Thing” (1968) de Byron Mabe, sci-fi altamente erótica sobre gostosas alienígenas taradas onde algumas cenas explícitas já apareciam; “The Ribald Tales of Robin Hood” (1969) de Richard Kanter e Erwin C. Dietrich, que colocava o herói Robin Hood em contato com deliciosas mulheres; “Love Camp 7” (1969) de Lee Frost, onde duas agentes aprontava altas confusões eróticas numa prisão nazista; “The Adult Version of Jekyll and Hyde” (1972) de Lee Raymond, onde a história do “Médico e o Monstro” ficava mais apimentada; “The Erotic Adventures of Zorro” (1972) de Robert Freeman, onde Zorro tirava tudo menos sua máscara e cavalgava lindas mocinhas; “Ilsa – She Wolf of the SS” (1975) de Don Edmonds, nazixploitation violento que ele assinou com o pseudônimo de Herman Traeger; entre vários outros filmes que faziam a alegria dos marmanjos dos anos 60 e 70. Friedman foi um dos precursores da pornográfica explícita que tomou de assalto os cinemas américanos após o sucesso comercial de “Deep Throat/Garganta Profunda” (1972) de Gerard Damiano, chegando a ser presidente da Adult Film Association of America. Em 1990 ele publicou sua auto-biografia “A Youth in Babylon: Confessions of a Trash-Film King”, onde afirmava: “Eu realizei alguns filmes terríveis, mas não invento nenhuma desculpa para qualquer coisa que fiz. Ninguém nunca pediu seu dinheiro de volta!”. Em 2002, para fechar sua lenda com chave de sangue, foi o produtor de “Blood Feast 2: All U Can Eat” e, em 2005, do remake “2001 Maniacs” de Tim Sullivan (e também da continuação do remake, “2001 Maniacs: Field of Screams” (2010), também de Sullivan).

A roteirista de “Blood Feast”, Allison Louise Downe é mais conhecida como atriz de nudie movies, geralmente usando os pseudônimos Bunny Downe ou Vickie Miles. Apareceu em alguns filmes da lendária Doris Wishman, como “Diary of a Nudist” (1961) e “Blaze Starr Goes Nudist” (1962). Apareceu também nos filmes do período nudista de Lewis, como “Nature’s Playmates” (1962) e “Boin-n-g” (1963) e no drama “Suburban Roulette” (1968). Com o diretor Barry Mahon, outro lendário picareta do mundo dos nudie movies, deu as tetas e bunda em filmes como “Pagan Island” (1961), “Bunny Yeager’s Nude Camera” (1963) e apareceu, não-creditada, como a primeira vítima no clássico bagaceiro de Mahon, o ultra-trash cult “The Beast That Killed Women” (1965), sobre um gorila que ataca mulheres nuas num campo nudista. O casal de mocinhos de “Blood Feast”, William Kerwin e Connie Mason, eram casados na vidade real. Kerwin é conhecido por sua longa parceria com o diretor Lewis, ambos eram amigos e trabalharam juntos em “Living Venus” (1961) não parando mais. Outros filmes de destaque onde ele tem papéis são trasheiras como “Sex and the College Girl” (1964) de Joseph Adler; “House of Terror” (1973) de Sergei Goncharoff; “Barracuda” (1978) de Harry Kerwin e Wayne Crawford e “Porky’s 2” (1983) de Bob Clark, onde usou o pseudônimo de Rooney Kerwin. Apareceu em mais de 150 filmes, a grande maioria produções para a televisão. Sua esposa, Connie Mason, também fez inúmeros papéis em filmes e séries de TV. Recebendo crédito na tela só em “Blood Feast” e “2000 Maniacs”, ela foi figurante em filmes de Hollywood como “Diamonds are Forever/007 – Os Diamantes são Eternos” (1971) e “The Godfather 2/O Poderoso Chefão 2” (1974) de Francis Ford Coppola, renomado diretor de Hollywood descoberto por Roger Corman. Connie foi coelhinha da revista Playboy em junho de 1963. Para saber mais sobre Connie, leia “Connie Mason: Da Nudez ao Gore!

Em 1986 foi lançado “Blood Diner” de Jackie Kong, uma divertida refilmagem de “Blood Feast” que possuia um estilo de humor avacalhado que lembrava as produções da Troma. John Waters, fã confesso da obra de H.G.Lewis, lhe rendeu várias homenagens em seus filmes, como o título “Multiple Maniacs” (1970) que é inspirado em “2000 Maniacs!” e referências aos filmes de Lewis em produções como “Serial Mom/Mamãe é de Morte” (1994) e “Cecil B. Demented” (2000), homenagens que Lewis retribuiu em 2002 quando ofereceu à Waters o papel do reverendo que aparece em “Blood Feast 2”. A título de curiosidade: H.G. Lewis já esteve em Porto Alegre/RS dando uma série de palestras para empresários sobre como ser bem sucedido no mundo dos negócios, ninguém destes empresários tinha a menor idéia que estavam diante de uma lenda do cinema exploitation mundial.

por Petter Baiestorf.

Assista “Blood Feast” aqui: