Arquivo para horror brasileiro

Discutir a Relação: A Sogra Metendo o Dedo na Ferida do Casal

Posted in Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 7, 2012 by canibuk

“DR” (2012, 10 min.) de Joel Caetano e Felipe Guerra. Com: Dona Oldina, Mariana Zani e Joel Caetano.

Não há nada pior num relacionamento em crise do que gente de fora dando pitaco. “DR”, curta-metragem que marca a primeira parceria entre Joel Caetano e Felipe Guerra, fala justamente sobre isso: Um casal em crise (Joel e Mariana, casados na vida real) vai discutir sua relação com a sogra (Dona Oldina) não só presente, como no papel de mediadora. A sogra e a esposa despejam acusações contra o marido que escuta tudo pacientemente calado (logo depois descobrimos que ele não se defende porque está amarrado e amordaçado), logo o que era violência verbal se torna violência física e sexual com a sogra abusando do genro imobilizado, assim que a tortura física tem início dentes e dedos quebrados vão surgindo num crescendo de violência que culmina num ataque de fúria do marido contra a sogra. Nada mais atual nos dias de hoje, quando a violência tomou lugar do diálogo. Não sei se foi intencional, mas o modo como o roteiro do filme trata do ciúme possessivo é de longe uma das melhores abordagens do tema que já vi no cinema independente brasileiro. Lógico que o filme se revela meio machista, colocando a culpa de tudo nas mulheres, como se o homem fosse uma vítima do casamento e da tirania da sogra, excluindo-o do fato de, no filme, ficar claro que ele traia a esposa. Fácil de entender quando pensamos que o roteirista é Felipe Guerra, gaúcho tradicional dos pampas. Como o filme não é sério em momento algum, este “machismo” de brincadeira não atrapalha. Não posso falar muito mais sobre a história, mas é um grande acerto da dupla de diretores.

Dividindo a direção, a dupla desenvolveu um argumento que Felipe Guerra havia escrito para filmar em apenas um dia aproveitando que Dona Oldina, sua vó, estaria em São Paulo. “Já tinha colocado minha vó como fantasma, tarada e assassina serial nos meus outros filmes e queria que ela novamente fizesse um papel onde pudesse surpreender o público. Foi quando tive a idéia de “DR”. Porque todo mundo faz filme com vampiro, assassino mascarado, zumbi, mas duas das coisas mais assustadoras da “vida real”, e creio que para ambos os sexos, são sogras e discussões de relação. Imagine que se discutir a relação já é foda, com a sogra junto é duas vezes pior. Então pensei nesse negócio de uma DR em que a sogra passasse um pouco dos limites e o curta tornou-se uma experiência meio “torture porn”, aqueles filmes em que uma personagem passa o tempo todo sendo torturado.”, nos conta Guerra, enquanto Joel explica como foram as filmagens: “Ano passado Dona Oldina veio para São Paulo para acompanhar o Cinefantasy e o Felipe me mandou uma mensagem dizendo que tinha uma idéia que dava para filmar em um dia, num apartamento e com três atores, no caso Dona Oldina, eu e Mariana Zani. Nem precisei ler o roteiro para aceitar a proposta e, depois que li, fiquei muito feliz pois era uma ótima idéia. Assim surgiu o “DR”. O filme foi feito todo de forma colaborativa. O sangue foi cedido de uma oficina que o Rodrigo Aragão estava ministrando na época (um sangue, como ficamos sabendo mais tarde, que seria descartado por não ter funcionado direito). Além de nós quatro também estavam a Daniela Monteiro e a mãe do Felipe, dona Neusa Guerra. Eu e Felipe ficamos na direção, eu mais preocupado com a direção de atores e ele com a direção de cena. O Felipe fez a câmera e fizemos juntos a iluminação. Daniela e Neusa cuidaram da captação direta do som e eu fiquei com os efeitos especiais também”. Aliás, os efeitos especiais estão extremamente convincentes, o que imprime uma força narrativa de maior intensidade ao filme. Joel Continua, “Me orgulho do efeito do dedo se quebrando, simplesmente comprei uma mão falsa, cortei o dedo dela, escondi o meu e quando a mariana dobra é o dedo falso que se move para trás, a sonorização e o corte rápido fizeram o resto, ficou bem convincente, vi algumas pessoas pulando da cadeira no cinema, o que acontece também na cena dos dentes que se quebram, eu mesmo fiquei agoniado com aquilo vendo na tela”.

“DR” é um filme onde tudo está bem realizado e aproveitado, provando que não é necessário grandes orçamentos para se produzir um bom filme. Mas Dona Oldina é quem rouba o filme para si, de longe é sua melhor interpretação e ela está fantástica como a sogra perturbada e violenta. Felipe nos conta como foi trabalhar com ela: “Com 82 anos de idade minha vó topou todas as cenas numa boa e em nenhum momento ficou escandalizada com a violência, porque ela entendia que era algo exagerado e absurdo para divertir e não para chocar. Ela não tem dificuldades com as cenas físicas, seu maior problema é lembrar as falas. Fizemos uns 20 takes só dela tentando falar a frase “discutir a relação”, porque na hora ela se embananava e falava “a questão da relação”. Dona Oldina só ficou preocupada com a possibilidade do filme ser exibido em Carlos Barbosa/RS, que é uma cidadezinha de 25 mil habitantes, e ela tem medo de ser expulsa do grupo da igreja. Minha vó também fez um improvisso hilário em que dá um rápido beijo na boca do Joel, felizmente quando ele está amordaçado”. E Joel completa rindo, “Até hoje o Felipe me chama de vô!”.

A edição do curta foi decidida também em conjunto pela dupla de diretores. “Foi uma edição em conjunto, eu estava operando o software e o Felipe do meu lado, todas as decisões de cortes foram tomadas por nós dois. A montagem só demorou mais porque em determinados momentos, principalmente na cena em que eu chuto a personagem da Dona Oldina, eu tinha crises de riso. O Felipe tinha que me sacudir para eu parar de rir!”, conta Joel. O resultado final deste trabalho em conjunto, além de impressionar o espectador, deixou ambos os diretores satisfeitos, como define Felipe ao dizer “Foi interessante fazer esse projeto em conjunto com o Joel, um cara cujo trabalho eu respeito muito com o qual tenho bastante afinidade. É difícil você encontrar alguém que tope fazer uma parada assim, sem dinheiro e filmada na raça, num único dia”, enquanto Joel dá pistas para o futuro da parceria, “Espero poder repetir a dose em breve!”.

Por enquanto “DR” pode ser visto apenas em mostras e festivais, mas espero que em breve ambos os diretores tomem vergonha na cara e lancem um box com toda sua filmografia, tanto Caetano quanto Guerra estão devendo o lançamento de seus filmes para que o público de outras regiões do Brasil possa tomar contato com suas obras.

Por Petter Baiestorf.

Clique em “Joel Caetano e seu Cinema de Recurso Zero” para ler a entrevista que fiz com ele.

Clique em “Necrófilos em Ação: O Cinema de Felipe Guerra na Terra da Polenta” para ler a entrevista que fiz com ele.

A Noite do Chupacabras

Posted in Cinema, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , on março 22, 2012 by canibuk

“A Noite do Chupacabras” (2011, 104 min.) de Rodrigo Aragão. Com: Walderrama dos Santos, Joel Caetano, Petter Baiestorf, Cristian Verardi e Mayra Alarcón.

“CHUPACABRAS”: Um caso raro de uma lenda sobre um monstro moderno. Foi a partir de 1995 que estranhas histórias sobre uma criatura monstruosa que atacava e devorava animais começaram a aparecer em Porto Rico e a imprensa faminta por bizarrices divulgou com avidez. Logo histórias populares similares começaram a aparecer no México, depois Estados Unidos e em vários países da América do Sul, incluindo o Brasil.

Porto Alegre, sul do Brasil. Uma noite muito fria de uma sexta-feira de junho de 2011. Sessão de abertura do festival Fantaspoa. Première internacional do segundo longa metragem de Rodrigo “Mangue Negro” Aragão: “A Noite do Chupacabras”. Sessão lotada aberta ao público. Todos atentos a história de Douglas Silva (Joel Caetano), que retorna ao seu berço familiar no interior do Espírito santo, acompanhado de sua namorada grávida (Mayra Alarcón). Mas as coisas não estão bem para sua família, a morte de vários animais, reacende um antigo conflito com seus vizinhos agressivos e rivais, os Carvalho. Um rotineiro conflito de bar, quebra a trégua na guerra familiar e entre agressões, tiros e facadas, todos vão descobrir que um mal muito maior está entre eles: uma monstruosa e faminta criatura escondida na mata. Os Silva e os Carvalho, vão se matar e serem mortos pelo monstro, e ainda encontrar no caminho a figura mítica e também perigosa do “Velho-do-Saco” (Cristian Verardi). Douglas vai ter que provar a força que não se transformou em típico rapaz covarde da cidade grande e enfrentar a fúria do Chupacabras (Walderrama dos Santos) e do perigoso e demente Ivan Carvalho (Petter Baiestorf). Novamente como em “Mangue Negro” (2008), Rodrigo Aragão assume a direção, roteiro e efeitos especiais de maquiagem com extrema competência e grande parte do elenco também se divide em múltiplas funções técnicas, típico do cinema independente e de guerrilha. Um elenco afinado (e principalmente, escolhido “a dedo”), cenários naturais e muito bem fotografados e uma trilha sonora composta por grupos regionais como Vida seca, Pé do Lixo, Manguerê e Panela de Barro, que acompanha a trama de vingança, suspense e ação, sem cair no lugar comum de músicas eletrônicas, Rock pesado ou música Clássica de arquivo . A trama se desenvolve de forma natural, e para os impacientes com a demora da entrada do personagem-título em cena, a magnífica e original maquiagem “full-body” e a performance de Walderrama dos Santos enche os olhos e mostra que apesar da trama central ser focada na guerra interiorana entre famílias, este é sim , um filme de Monstro! Um monstro nacional (ou nacionalizado) e com todas as chances de ter uma carreira internacional, como aliás já está acontecendo: devagar, sorrateiro como um ataque de um Chupacabras!

Fim da sessão no inverno Gaúcho. O público aplaude em pé o filme e o elenco presente. A produção ainda não estava acabada, faltando ajustes na montagem e som, mas o impacto foi bastante positivo. Depois de conhecer pessoalmente o Aragão, Mayra, Walderrama, Joel e outros comparsas e de conversarmos e “bebemorármos” juntos, fica difícil escrever com isenção, até porque eu já era” fã-de-carteirinha” do longa anterior da produtora Fábulas Negras e a muito ansiava por um verdadeiro e bem feito filme-de-monstro brasileiro. Conhecida minha longa associação com Petter Baiestorf, fica parecendo puxação-de-saco dizer que ele rouba a cena no filme… o público reconheceu isto no final da sessão… méritos para o Aragão pela escalação e direção dos atores (destaque também para o sempre bom Marcos Koncá, para Cristian Verardi como o Velho-do-saco comedor de fígado e o Agnaldo de Foca Magalhães). Para quem cresceu somente conhecendo Monstros gringos e japoneses, e para toda uma nova geração só acostumada com insípidos monstros digitais, uma noite com o Chupacabras é como uma revelação, uma… fábula negra!

escrito por Coffin Souza.

Undertaker

Posted in Animações, Cinema, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , on fevereiro 17, 2012 by canibuk

“Undertaker” (2008, 6 min.) animação de Claudio Ellovitch.

Com autorização de José Mojica Marins, o animador Claudio Ellovitch realizou o curta “Undertaker”, de forte inspiração no visual expressionista (assim como a antiga série animada de Luiz Nazário, feita em 2001, e que vi os episódios “A Flor do Caos” e “Selenita Acusa!”, não fiquei sabendo de mais episódios foram produzidos depois), Claudio realizou uma ótima mistura entre o estilo de José Mojica marins filmar com o clássico alemão “Das Cabinet des Dr. Caligari” (“O Gabinete do Dr. Caligari”, 1919, de Robert Wiene) para contar a história do coveiro Zé do Caixão que revela horripilantes segredos (não deixe de assistir ao curta que pode ser visto no link abaixo).

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Claudio Ellovitch se formou em comunicação social tendo a oportunidade de, em 2007, ter participado da pré-produção do longa “Encarnação do Demônio” de José Mojica Marins, onde ele pôde apresentar o projeto de “Undertaker” e receber a benção de Mojica. Este curta de Ellovitch chamou atenção e foi exibido em vários festivais de horror como RioFan, FantasPoa e Buenos Aires Rojo Sangre. Em 2008 Claudio também conheceu o quadrinista Eugênio Colonnese e, juntos, estavam trabalhando juntos num projeto live-action da personagem “O Morto do Pântano”, clássica criação de Colonnese nos anos de 1980, quando recebeu a notícia da morte do mestre dos quadrinhos. Mesmo sem Colonnese, Claudio continua trabalhando para trazer para o público este curta-metragem. Após o sucesso de “Undertaker” ele realizou alguns poucos trabalhos (a maioria são experimentações para testar técnicas que ele quer aplicar no filme do “O Morto do Pântano”) e abriu, em 2011, a loja de HQ “O Cara dos Quadrinhos” na galeria do rock em São Paulo. Atualmente ele se dedica à criação de sua primeira graphic novel, “Estranhos Palácios”.

Morte e Morte de Johnny Zombie

Posted in Cinema, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 12, 2011 by canibuk

“Morte e Morte de Johnny Zombie” (2011, 14 minutos) de Gabriel Carneiro. Maquiagens de Fritz Martiliano. Com: Joel Caetano, Charlene Chagas, Ana Luiza Garcia, Felipe Guerra e Mariana Zani.

Johnny trabalha num galpão onde é produzido o pesticida Romero e, durante um vazamento, é contaminado pelo produto, se tornando aos poucos um zumbi.

“Morte e Morte de Johnny Zombie” é o curta-metragem de estréia do jornalista e crítico de cinema Gabriel Carneiro na direção. Optando por um ritmo mais intimista, Gabriel conta uma história de zumbis sob a ótica do próprio zumbi, mostrando essa transformação aos poucos. Seus elaborados takes subjetivos ajudam a construir a morte do Johnny humano (interpretado pelo sempre ótimo Joel Caetano, herói no longa-metragem “A Noite do Chupacabras” (2011) de Rodrigo Aragão), até se tornar o clássico zumbi comedor de carne humana e enfrentar sua eventual nova morte como zumbi, filmada de maneira espetacular por Gabriel carneiro, que dá uma uma importante contribuição ao subgênero “zombie movies”. Não vou contar aqui como foi feita essa cena, ela precisa ser assistida no curta, mas posso dizer que fazia anos que eu não me surpreendia tanto com um final de filme independente brasileiro.

É importante dizer que o filme conta com atuações de ícones do cinema independente brasileiro, além de Joel Caetano, sua esposa e sócia na produtora Recurso Zero, Mariana Zani, faz uma participação especial e o diretor Felipe Guerra interpreta o incrível falastrão fã de cinema, ou seja, interpreta a si mesmo de maneira soberba.

Gabriel Carneiro, além de jornalista e crítico de cinema, é membro fundador da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), escreveu o guia de cinema “Quem Apertou o Botão de Pânico? – Como a Ficção Científica Cinematográfica Norte-Americana, de 1950 a 1964, Abusou da Guerra Fria e de seu Contexto para Ganhar Dinheiro”, ainda não publicado; também escreveu o capítulo “O Anjo Embriagado” do livro “Os Filmes que Sonhamos”, organizado por Frederico Machado, colabora com a Revista de Cinema, nos sites Cinequanon e Zingu! e, atualmente, faz a pesquisa para o longa documental “O Cinema de Ozualdo Candeias”.

Achei o curta de estréia de Gabriel Carneiro imperdível. Acho que merecia um lançamento em DVD coletânea contendo trabalhos de vários diretores independentes, sinto falta dessa união de produtores independentes na hora de distribuir seus trabalhos. E já poderia aproveitar o gancho colocando num mesmo DVD o “Morte e Morte de Johnnie Zombie”, “Estranha” (última direção de Joel Caetano), “Extrema Unção” (última direção de Felipe Guerra) e mais alguns curtas de outros diretores. Único pecado desta nova geração de realizadores está na distribuição de seus filmes que, quase sempre, ficam restritas à mostras, festivais ou net, privando o colecionador de filmes de ter uma cópia apresentável em sua casa. Só queria deixar aqui a opinião de um colecionador fanático por cinema undergournd de baixíssimo orçamento.

Segue uma entrevista que realizei com Gabriel Carneiro sobre a produção de “Johnnie Zombie”:

Petter Baiestorf: Como surgiu a idéia para filmar “Morte e Morte de Johnny Zombie”?

Carneiro: Tenho uma amiga que adora zumbis, a Marília Passos. Um dia ela veio me dizer que teve uma idéia para um filme de zumbi. Sabe esses filmes em que os zumbis são meros coadjuvantes da história para um bando de paspalhos? Pois bem, seria o contrário, uma história de um zumbi protagonista e de sua transformação. Eu já queria fazer um filme de gênero. Quando ela me contou essa idéia, logo me veio na cabeça: tem que ser mais que um zumbi protagonista, tem que ser a visão do zumbi sobre os acontecimentos, ele percebendo sua transformação. Pedi pra ela fazer um argumento, discutimos a história, mudamos algumas coisas e aí escrevi o roteiro, em três dias. Várias coisinhas foram mudadas nele, depois, mas a estrutura, a priori, sempre foi a mesma.

Baiestorf: Dá prá perceber que é uma produção modesta com um ótimo aproveitamento do material humano, como você conseguiu juntar todo este pessoal talentoso?

Carneiro: A idéia sempre foi fazer um filme o mais profissional possível, dentro das restrições orçamentárias. Para a produção em si, foram gastos pouco menos de R$ 700. Ninguém, obviamente, recebeu. Todo o equipamento foi emprestado, com exceção do shoulder pra câmera, que aluguei, e do gravador de áudio, que é meu. Não sou formado em cinema ou em rádio e TV, conheço minhas limitações. Queria pessoas que realmente entendessem o que estavam fazendo tecnicamente. Já era uma meta quando comecei o projeto, e fui caçando interessados. Fiz um anúncio no facebook e fui juntando gente, amigos que se interessaram pelo projeto e toparam fazer sem pagamento. Claro, veio também muito estudante e/ou recém-formados, mas vários deles já trabalham na área. O Fábio Yamaji, que fez a montagem, é amigo, colega de Cinequanon, já o entrevistei para a Revista de Cinema e tal. Ele é um animador super ocupado, que monta alguns filmes, e fez um curta que rodou o mundo todo chamado O Divino, de Repente. A Adriana Câmara, que foi assistente de direção, já dirigiu várias coisas para TV, como a série Sensacionalista, e foi assistente de direção de longa já, Desenrola. O Rafael Alves Ribeiro, que fez o som direto em duas das três diárias que teve captação de som direto, desempenhou o mesmo cargo nessa série do Canal Brasil sobre a Boca do Lixo. E por aí vai. Esse negócio de contato realmente funciona. Já tinha chamado o Pedro Ribaneto (fotografia), o Dênis Arrepol (produção) e a Adriana, que são mais próximos. O facebook me permitiu uma outra triagem, e muita gente angariei assim. E aí vieram os contatos dos contatos, ou seja, gente que estava na produção foi indicando pessoas para os cargos que faltavam. O Rafael Alves veio assim, é amigo do Dênis de faculdade de cinema. E, claro, não preciso nem falar que sem essa equipe sensacional, esse filme não chegaria perto do resultado que tem.

Baiestorf: E os cenários?

Carneiro: Quanto aos cenários, foram três locações. Em teoria, precisaria de dois, a fábrica, e a casa. Porém não consegui uma casa pra filmar que fosse espaçosa o suficiente para ter toda a movimentação que queria. Acabei optando então por fazer no apartamento da Adriana o cenário principal, que é o interior da casa. A Adriana se mudou pra São Paulo pouco antes do início da gravação e até hoje é meio assim, vazia de móveis e objetos, o que é excelente para usar o baita espaço a favor da movimentação do elenco, em especial na cena do ataque do Johnny. Isso também favoreceu muito nas subjetivas com outros atores, porque ficava o diretor de fotografia e o Johnny Zombie colados, fazendo os movimentos e interagindo com as demais pessoas. Filmei também numa fábrica em Atibaia, que era do irmão de uma das atrizes – e amiga minha de longa data, a pessoa que conheço há mais tempo de todos, ex-colega de colégio e de teatro, que é a Ana Luiza Garcia. Precisava de uma locação crível pra dar a impressão de que Johnny de fato poderia ter se contaminado lá. Ela me apresentou essa opção e foi ótimo. Já estava até meio desesperado. Cogitei várias alternativas e nenhuma se concretizava. Salvou o filme. E o local é ótimo, em termos de cor e espaço. Fica muito bonito no quadro e muito realista. Já o terceiro cenário foi a fachada da casa da tia da diretora de arte e figurinista Fernanda Fernandes. Queria que o último plano desse pra rua mesmo, de preferência pouco movimentada. Ficou ótimo.

Baiestorf: Rolou alguma história engraçada durante as filmagens?

Carneiro: Tem uma história ótima. Quando fomos gravar o plano final, obviamente, não tínhamos autorização alguma, nem nada. Simplesmente chegamos na locação, preparamos a cena e fomos filmar. Então tava lá um monte de gente ensangüentada, em especial uma menina deitada no chão, aparentemente inconsciente, com um monte de sangue na barrida, e tripas improvisadas com jornal saindo pra fora, e outra menina cheia de sangue na cara, subindo e descendo em direção à barriga. Aí teve um carro que passou desacelerando. De repente, ele dá uma ré, abaixa o vidro e fica perguntando: “Tá tudo bem, ai meu deus, precisam de carona, querem que ligue pra alguém?” Até alguém explicar que era um filme e que ele estava no meio da cena (risos).

Baiestorf: Como foi trabalhar com o casal Recurso Zero, Joel Caetano e Mariana Zani? Sou grande fã dos filmes deles e gostei muito de vê-los em outra produção.

Carneiro: Joel e Mariana são ótimos. Os conheci quando fui entrevistá-los para a Zingu!, em 2009, numa série de entrevistas feitas sobre o chamado Cinema de Bordas. Sempre foram super solícitos. E desde aquela época acompanho o trabalho deles. São sensacionais. Gosto demais de alguns de seus filmes. Na Mostra Cinema de Bordas, no Itaú Cultural, em 2011, fiz o convite oficial: não havia encontrado ninguém a altura deles para o papel. Eles são ótimos, mesmo. Não se importam de fazer tudo o que é solicitado, ficaram horas e horas gravando. Pobre Joel: fiz ele vestir uma calça de pijama super justa da qual ele morre de vergonha; ficou horas maquiando; besuntamos ele com óleo de cozinha para a água do suor não escorrer; ele caiu e bateu as costas; apanhou, etc. Não é à toa: Johnny Zombie não existiria sem Joel, ele é a alma do negócio. A Mariana tinha um papel menor, mas nem por isso menos dedicação. Acompanhou o Joel em todos os momentos – só não foi à fábrica por falta de verba da produção. Dei a ela um prêmio por conta disso: a oportunidade de se vingar de anos de abusos, mortes e espancamentos nos filmes dirigidos por Joel, dando uma cadeirada nele!

Baiestorf: E o Felipe Guerra? No pequeno papel que ele faz percebemos ele “interpretando” o Felipe Guerra. Tu quem pediu isso?

Carneiro: Sim. O Guerra foi uma das primeiras pessoas que se interessou em participar da produção. Nem tinha roteiro ainda e ele disse que queria fazer o filme. Então escrevi o personagem pensando nele. Foi o único personagem feito para alguém específico. E ele tá ótimo como ele mesmo.

Baiestorf: Gostei muito dos efeitos de maquiagens gore feitos pelo Fritz Martiliano. Ele foi aluno em uma das oficinas do Rodrigo Aragão e começou a fazer filmes, certo? Como foi trabalhar com ele? Tem uma cena dos efeitos que me incomodou, a cena onde o Joel aparece bem pálido, achei ele branco demais, isso foi problema na maquiagem ou iluminação errada?

Carneiro: Sim, é isso mesmo, Petter. O Fritz é ótimo. Conheci através do Guerra, precisava de alguém pra fazer a maquiagem de efeitos. Acho sensacional a maquiagem, especialmente quando Johnny vira morto-vivo. E conseguiu extrair o melhor da minha solicitação. Como Johnny era um zumbi recente, queria que as feridas e mutações ainda fossem recentes. Não queria próteses, porque dão a impressão de que o cara secou há muito. Queria manter uma certa vitalidade – e humanidade – no personagem, e Fritz conseguiu isso de maneira muito boa. Só com tinta. Foi ótimo. Quanto à questão do branco demais, assumo toda a responsabilidade. Foi falta de coordenação de minha parte. Começamos o filme gravando as cenas com todos reunidos na sala. Ou seja, a primeira vez que vemos Johnny, durante a filmagem, ele tá branco daquele jeito. Queria ele branco, mais branco do que é normalmente. Quando o Fritz me mostrou a maquiagem, pareceu boa. E na câmera também, apesar de a iluminação não ter agradado nem a mim e nem ao fotógrafo – foi a que mais demorou pra ser feita. Só que eu estava com muita pressa. Precisava filmar todas as cenas com elenco completo naquele mesmo dia, e ainda faltava todo o ataque, que tinha mais planos, mais ação, e era mais complexo. Fora as observações de Johnny no espelho. Então falei pra deixar como estava mesmo e gravei. Quando fomos gravar as outras cenas, Johnny não ficou branco gradualmente como eu queria por falta de continuidade. Parece que estava ok, mas quando foi montar, ficou esquisito. Ainda mais por que ele está branco, com camiseta branca e parede branca ao fundo, ou seja, a impressão do branco fica ainda maior. E não vi isso. Até pedi para o Rodrigo Mesquisa, que fez a correção de cor, dar uma escurecida ali, mas nada que salvasse o plano.

Baiestorf: “Morte e Morte de Johnny Zombie” é seu primeiro curta, a experiência foi satisfatória? Como foi o lançamento dele? Vai sair em DVD ou festivais?

Carneiro: Foi uma experiência muito enriquecedora e muito estressante. Durante as filmagens, quase cogitei largar tudo, abandonar no meio. Era muita pressão, tentar fazer o melhor tecnicamente, quase sem tempo ou sem dinheiro. Pessoas do elenco/equipe pedindo pra ir embora e eu tendo que terminar as gravações. E entendo que quisessem ir embora, estavam há quase 18 horas lá, mas eu tinha que terminar. E foi muito enriquecedora por isso também. Não tinha nenhuma experiência prática, então aprendi muito a planejar melhor, buscar soluções menos trabalhosas, deixar os planos rolarem, em outros ângulos, para não ter problema de edição – não deu nenhum, mas não deixei muitas opções… Acho que sem o Johnny, não estaria nem um pouco preparado para projetos mais ambiciosos. O filme existe em autoração caseira de DVD, com capinha e tal, mas sem prensagem. E nem pretendo fazer. Ninguém vai querer comprar um curta-metragem. E se começar a vender, logo aparece para download na internet e fode tudo. Tenho exibido apenas em festivais por enquanto. Até agora, passou em 7: Curta Cinema, Zinema Zombie Fest (na Colômbia), Mostra de Cinema Independente da CODE, Cinefantasy, Mostra Outros Cinemas, FIM e Autorock.

Baiestorf: Gostei dos takes com câmera subjetiva, isso tornou o curta mais intimista. Fale sobre a construção do filme e da personagem, percebi uma vontade muito grande sua de fazer cinema autoral, mas com um pé no filme de gênero:

Carneiro: Nem sei se a palavra é autoral. Tenho problemas com esse termo, especialmente pela maneira como foi apropriado pela intelectualidade. Nunca quis fazer um filme de zumbi igual a todos os filmes de zumbi. Queria que tivesse algo diferente. Para mim, MMJZ só existe por conta da subjetiva. É a graça dele, mostrar o processo de transformação através dos olhos do transformado. Mas é um filme de gênero, com uma história super convencional. E por isso ser super convencional, quis brincar com a direção, com a fotografia, com a trilha musical, para quebrar, criar anticlímax. Gosto de falar que MMJZ é um exercício com o gênero filme de zumbi, em que pude experimentar em diversos campos. Não queria que fosse convencional e não queria fazer uma paródia, não é uma comédia, mesmo que haja momentos de alívio cômico. Johnny Zombie para mim é uma vítima. É um pouco da lógica do cinema noir: em algum momento, o destino lhe resolve dar um tapa na cara, e você tem que lidar com isso. Só que no caso, por mais que julgue banal, ele está se zumbificando, e não há nada que pode fazer. Ele não morde os amigos porque é mau, mas porque um instinto é acionado. Tudo que ele quer é sair de casa, todos os seus movimentos são em direção à porta, mas sempre tem alguém que o para. É quando ele vai pra cima, morde. As referências para a personagem foram monstros clássicos do cinema: King Kong, Monstro da Lagoa Negra e Ymir (A Vinte Milhões de Milha da Terra), todos referenciados no filme fisicamente.

Baiestorf: O final de “Morte e Morte de Johnny Zombie” (que não vou revelar) eu achei muito inventivo, nunca tinha visto algo assim em um filme de zumbi e achei que foi uma colaboração bem interessante ao subgênero “zombie movies”. Como surgiu essa idéia?

Carneiro: Pô, Petter, fico lisonjeado com tuas palavras. Mesmo. O final foi muito discutido com a Marília na época que finalizávamos o argumento. Como terminar a história. Sabíamos que Johnny morreria de novo. Foi rejeitando idéias que pensei em fazer um final esperançoso (risos), em que a morte de Johnny não finalizasse com os zumbis, que mostrasse a continuidade da espécie (risos). A questão da subjetiva era a idéia principal do filme, então a última cena não poderia deixar de tê-la. É isso que conduz o término: como é um filme que mostra a percepção do Johnny, mostra sua percepção da própria morte, ele vislumbrado, caído, o horizonte. Para dar esse clima, quis que o único som audível fosse o das pancadas. O tempo também é o de sua morte.

Baiestorf: Seus Projetos?

Carneiro: Como jornalista, devo continuar na Zingu!, no Cinequanon e na Revista de Cinema, fazendo sempre que possível alguns freelas. Na produção audiovisual, devo filmar no próximo ano um clipe para a banda Drakula, de Campinas, e devo filmar outro projeto de ficção, do qual ainda não posso falar muito, que não tem nada a ver com terror e deve ser feito com grana. Tenho outros projetos que precisaria de dinheiro pra fazer, como alguns documentários, que envolveriam viagem e uma produção mais arrojada. Paralelamente a isso, continuo gravando quase todas entrevistas da Zingu! em vídeo. A Marília também está desenvolvendo uma idéia ótima para um próximo curta de horror – e dessa vez, ela diz, quer fazer o roteiro -, que se passa na Folia de Reis, e eu devo dirigir.

Jarbas – O Novo Livro de André Bozzetto Jr.

Posted in Literatura with tags , , , , , , , on setembro 12, 2011 by canibuk

André Bozzetto Jr. é professor universitário, mas nas horas vagas é fanático por licantropia e um dos principais, senão o principal, divulgador da cultura envolvendo lobisomens. A carreira de Bozzetto Jr. começou em 1998 com a publicação do romance “Odisséia nas Sombras”, que escreveu ainda bem jovem. Depois de alguns anos parado, voltou com seu segundo romance, “Na Próxima Lua Cheia” (2010), onde abordou a figura mítica do lobisomem. O trabalho de Bozzetto Jr. ainda pode ser apreciado em diversas antologias de literatura fantástica, como “Metamorfose – A Fúria dos Lobisomens” (2009), “Draculea II – O Retorno dos Vampiros” (2010), “Extraneus II – Quase Inocentes” (2011) e “Cursed City” (2011).

“Jarbas” (2011, 240 páginas), é seu terceiro romance e conta a história de Jarbas, que “em 1984 era apenas o nome de um garoto interiorano fã de livros e filmes de terror. Porém, em 2009, esse mesmo nome já havia se convertido em uma expressão capaz de despertar o mais genuíno pavor entre todos aqueles que sabiam de sua existência. Transformado em um lobisomem brutal e perverso, Jarbas passou a ser temido pelos humanos, odiado pelos licantropos e perseguido por ambos.”

Minha pequena colaboração ao terceiro romance do André Bozzetto Jr., “Jarbas”, foi de elaborar com um pequeno texto sobre o autor para a orelha do livro. O prefácio do livro foi escrito por Giulia Moon, com fantásticas ilustrações internas de Christiano Carstensen Neto, capa de Andrei Bressan e lançado pela Estronho editora podendo ser adquirido pelo site http://www.editora.estronho.com.br/

Eu e André Bozzetto Jr. em 2009 antes das filmagens de "Lua Perversa".

André Bozzetto Jr. também dirigiu, em 2009, “Lua Perversa”, um pequeno curta-metragem sobre um lobisomem sanguinário que ataca o Sul do Brasil. O curta conta com uma estética de cinema mudo e é bem divertido (dentro das limitações do cinema com nenhum orçamento).

Além de escrever livros e dirigir filmes, André Bozzetto Jr. também mantém o blog Escrituras da Lua Cheia: http://escriturasdaluacheia.blogspot.com/

Segue o trailer de “Lua Perversa”:

Divulgando Cultura Underground

Posted in Literatura, Música with tags , , , , , , , , , , , , , on setembro 9, 2011 by canibuk

Gosto de usar o espaço aqui do Canibuk pensando nele como um grande fanzine eletrônico com a função informativa de divulgar assuntos interessantes e ajudar a espalhar por aí os lançamentos de outros batalhadores do underground brasileiro. Por isso alguns posts-dicas (como Leyla e eu chamamos), bem curtinhos, com intuíto de dar um toque sobre produções que são lançadas e não contam com o aparato da mídia oficial na divulgação, pipocam aqui pelo blog entre-meio a entrevistas e artigos mais compridos.

Essa semana recebi um inusitado lançamento, nadando contra a corrente, a banda punk/metal M-16 lançou uma demo-tape, em fitinha k7 mesmo, intitulada “Pesadelo Macabro”, contendo 10 músicas dedicadas aos cineastas José Mojica Marins, Lucio Fulci, Mario Bava e George Romero. Se você curte cinema de horror, quadrinhos (dedicam a demo-tape ao Nico Rosso também) e som pesado, pode dar uma especial atenção à este lançamento. São apenas 130 fitinhas (a minha aqui é a número 05, mas não bobeia não que 130 é pouquíssimo). Para maiores informações entre em contato com a banda:

http://br.myspace.com/666necromancerm16

Como a Canibuk é um espaço para todas as épocas, também aproveito este post para divulgar o lançamento do e-book “Prisioneiros da Eternidade 05 Anos”, livro editado pelo Oscar Mendes Filho (e-mail para contatos: oscar.mendes01@gmail.com) para comemorar os 5 anos de seu blog: www.prisioneirodaeternidade.blogspot.com

O e-book “Prisioneiro da Eternidade” tem 168 páginas de contos de horror com inúmeros escritores undergrounds, como A Wild Garden, Adriano Siqueira, Alfer Medeiros, Amanda Reznor, André Bozzetto jr., Evandro Guerra, Iam Godoy, Ravenna Raven, Susy Ramone, Tânia Souza e muitos outros.

Para baixar o livro “Prisioneiros da Eternidade 05 Anos” clique no link:

http://www.4shared.com/document/jT_OVs-G/Aniversrio_Prisioneiro_da_Eter.html?

Luís Renato Brescia: Como Fazer Cinema com o Ministro do Diabo

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , on junho 23, 2011 by canibuk

Luís Renato Brescia é outro produtor/diretor brasileiro completamente ignorado entre os cinéfilos brasileiros, dono de uma filmografia pequena (porém extremamente curiosa e fora dos padrões do cinema nacional), ao lado de seu filho Ettore, merece lugar de destaque no Canibuk (desde já peço desculpas pelas poucas imagens ilustrativas deste post, são raríssimas as imagens dos filmes e até mesmo dos Brescias).

raríssimo frame de "Nos Tempos de Tibério César".

Em 1921, com a intenção de montar uma fábrica de filmes virgens, Luís Renato Brescia vai a Milão (Itália) estudar cinema e química fotográfica. De volta ao Brasil realiza pequenos experimentos cinematográficos com paisagens. Na década de 1940 monta o estúdio cinematográfico Brescia onde realiza curtas que compõem a série “Mostrando Minas ao Brasil”, composto por títulos como “Lambari”, “Cambuquira”, “Cultura do Marmelo”, “Centenário de Pouso Alegre”, “Varginha”, entre outros.

Filmando apenas nos finais de semana (sua profissão na realidade era Medicina Veterinária, trabalhando como inspetor sanitário federal), inicia em 1945 a produção do faroeste “Sambruk”, nunca finalizado porque a atriz principal abandonou as filmagens. Em 1955 tentou sem sucesso filmar “O Tronco do Ipê”, baseado em José de Alencar, mas teve que abandonar o projeto devido aos altos custos da produção.

Neste meio tempo, entre os inacabados “Sambruk” e “O Tronco do Ipê”, produziu o épico romano (o único feito no Brasil até hoje, excluíndo trasheiras como “A Filha de Calígula” de Ody Fraga e “O Sobrinho do Gladiador” de Jerri Dias e Rodrigo Dubal, por exemplo) chamado “Nos Tempos de Tibério César”, dirigido e escrito por seu filho Ettore Brescia não lançado na época porque a produção vagabunda inviabilizou sua distribuição (por exemplo, as escadarias do Palácio Romano são, na realidade, as escadarias da Igreja Católica da cidade de Lambari/MG). Anos mais tarde os Brescia remontaram o filme com novo título, desta vez “Cinturiões Rivais”, mas mesmo assim não conseguiram comercializá-lo.

No “Dicionário de Filmes Brasileiros”, de Antonio Leão da Silva Neto, explica que o filme foi lançado no interior de Minas Gerais com 5 cópias, o filme foi transformado de plano para condensado (uma espécie de cinemascope chamado “Bresciacosno”). Em entrevista extraída do livro “Pioneiros do Cinema de Minas Gerais”, de Paulo Augusto Gomes, em 1978, Luís Renato Brescia diz: “Foi o patriotismo que me levou a escolher o tema. Em conversa com amigos, foi comentado que era praticamente impossível fazer um filme sobre os tempos do Império Romano fora dos USA ou a Itália, devido a problemas de locações e altos custos para a reconstituição de época. Com meu filme o Brasil passou a ser o terceiro país a fazer um filme sobre os primeiros cristãos. Tive essa glória. A produção não foi cara porque para mim o preço sempre foi menor, pois meus filmes são revelados, copiados e sonorizados em meu laboratório. Assim as despesas que tive foram com filme virgem, a condução para os atores, figurinos especiais, etc. O filme foi feito em Três Corações. Lá tive a colaboração da E.S.A., a escola de sargentos que existe na cidade. Muitos deles fizeram papéis de centuriões, ajudando na figuração do meu filme. Terminando o filme, tivemos um problema com a censura. Ela achava que nós deveríamos ter feito uma obra por motivos brasileiros, ao invés de abordar uma história de romanos. Queria que nós filmássemos casebres pobres com gente humilde, tocando viola na porta, mas não acho isso bom. Por outro lado, a cópia era muito longa: havíamos filmado material suficiente para duas fitas diferentes. Decidimos então relançar o filme com uma versão reduzida, mas objetiva, com o nome alterado para “Os Centuriões Rivais”. O prejuízo foi suavizado pela exibição pelas exibições que conseguimos pelo interior.”

Em 1961 funda as Organizações Cinematográficas Cineminas Ltda. e dirige o longa de horror “Phobus – O Ministro do Diabo”, novamente com roteiro de seu filho Ettore, uma história delirante sobre um ser maligno que pretendia dominar o mundo com inúmeros efeitos especiais bagaceiros. Sobre “Phobus – O Ministro do Diabo”, Luís Brescia diz: “Parecia uma boa maneira de ser bem sucedido na bilheteria. Enfrentei, então, o desafio, sempre filmando com meu dinheiro, sem ajuda de ninguém. O filme ficou pronto somente em 1970 por dois motivos: houve falta de dinheiro e, além do mais, só podíamos nos dedicar ao filme nos sábados e domingos. Quando finalizado o filme, procurei um distribuidor de Belo Horizonte, que ficou quatro meses com meu filme na prateleira, sem conseguir lançamento na cidade para ele. Tentei, a seguir, a Embrafilme, onde depositei a cópia censurada, na crença de que finalmente ela seria exibida em todo território nacional. O tempo foi passando e nada. Passei a procurar pessoas influentes dentro da Embrafilme, pedindo que tivessem um pouco de boa vontade para com o “Phobus”. Acabaram formando uma comissão para examinar minha fita; não sei o que pretendiam examinar, pois a censura já o fizera antes e disseram que estava tudo bem. O fato é que o certificado de censura acabou expirando e “Phobus” permaneceu inédito até mesmo para alguns atores que nele trabalharam. Estou empenhado para que, tanto “Phobus” quanto “Os Centuriões Rivais”, sejam exibidos em Belo Horizonte, só voltarei a fazer longas-metragens depois que pelo menos um deles for lançado dignamente em Minas”. Brescia nunca mais fez nenhum filme!!!

Na década de 1970, Luís Renato Brescia resolve parar de filmar. Em 1986 lança o livro auto-biográfico “Como fiz Cinema em Minas Gerais”, dois anos antes de falecer, sem ao menos ter sido descoberto pelos trashmaníacos dos anos de 1990.

Temo que não existam mais cópias em bom estado destes dois longa-metragens, mas deixo aqui meu pedido aos historiadores de cinema (como o Eugênio Puppo que, junto da Lume Filmes, é o responsável pelo resgate de vários longas do Cinema Marginal Brasileiro) que tentem resgatar essas curiosidades.

Filmografia:

1952- Nos Tempos de Tibério César/Os Centuriões Rivais (dirigido por Ettore Brescia com produção de Luíz Renato Brescia).

1965/1970- Phobus, O Ministro do Diabo (direção e produção de Luíz Renato Brescia com roteiro de Ettore Brescia).

Imagem meramente ilustrativa.

Encontrei no Blog Horror Brasileiro (www.horrorbrasileiro.blogspot.com), da historiadora Laura Cánepa, uma raríssima entrevista realizada com o Luís Renato Brescia (Entrevista feita por Paulo Augusto Gomes para o livro “Pioneiros do Cinema em Minas Gerais”, Editora Crisálida, que infelizmente não tenho cópia).

Onde e quando nasceu?
Nasci em Juiz de Fora, no dia 20 de junho de 1903.

O senhor começou filmando ainda à época do cinema mudo mas, antes disso, passou por um período de estudos em Milão. Quando foi isso e que cursos acompanhou?
Em 1921/22, matriculei-me na escola do professor Rodolfo Namias, onde me especializei em cinema e química fotográfica.

De volta a Juiz de Fora, o senhor pensou imediatamente em fazer cinema?
Não; minha intenção era montar uma fábrica de material sensível, o que não consegui. Dediquei-me, então, a filmagens experimentais; eram estudos com paisagens. Continuei por minha própria conta, mas também lendo todo livro ou revista de cinema que me caía nas mãos.

Sua primeira filmagem data de 1927. Quem a encomendou e em que consistiu essa filmagem?
Eu era jornalista e fui convidado por João Carriço, dono do cine Popular, para fazer um filme para ele. Era sobre um jogo de futebol, até muito importante, entre o Palestra Itália, de São Paulo e a Industrial Mineira, de Juiz de Fora. Ficou, modestamente, um trabalho muito bonito.

Depois dessa filmagem, o senhor continuou trabalhando para Carriço ou resolveu prosseguir por conta própria?
Nunca trabalhei para o Carriço, apenas fiz um favor a ele, um único filme pelo qual nem cobrei. Ele ficou tão animado que organizou a firma dele de jornais cinematográficos, a Carriço Film.

Em 1945, o senhor tentou fazer um longa-metragem pela primeira vez. Como foi a sua atividade em cinema até esse acontecimento?
Sempre tive o cinema como hobby; prosseguia fazendo meus pequenos filmes de estudo e lendo muito. Comecei, aos poucos, a tentar os cine-jornais e curtas-metragens culturais, sempre com o intuito de divulgar as coisas de Minas. Já mais tarde, um dos meus jornais da tela chamava-se Mostrando Minas ao Brasil. O outro era o Atividades Cineminas. Os meus filmes experimentais, eu os fazia e revelava em Juiz de Fora mesmo. Mas nenhum deles era exibido comercialmente.

Mesmo gostando tanto de cinema, o senhor acabou se formando em outra especialidade: medicina veterinária. Por que?
Ninguém vivia de cinema naquele tempo; a exibição de filmes brasileiros era problemática, difícil mesmo.

SAMBRUCK. Quero abordar sua carreira cinematográfica a partir do momento em que ela realmente sofre um impulso. Estamos em 1945 e o senhor, com uma firma recém-montada, fazendo jornais da tela, decide filmar SAMBRUK. O que o levou a abordar uma obra de ficção?
Parti para a grande metragem com o objetivo de criar uma indústria cinematográfica, uma fábrica de filmes em Minas. SAMBRUK foi, assim, uma primeira tentativa. Começamos a filmar em São Gonçalo do Sapucaí. Era uma espécie de western, uma franca imitação dos modelos americanos. SAMBRUK, no caso, era o nome da cidade na qual se desenrolava a história.

Por que o filme permaneceu inacabado?
Já havíamos chegado praticamente à metade da fita. A atriz principal, que era noiva, resolveu ir a São Paulo com o futuro marido, para um passeio. Nunca mais voltou. Procurei muito, mas não consegui encontrar quem se parecesse com ela e pudesse substituí-la. Assim, os trabalhos foram interrompidos.

O senhor não teve falta de dinheiro?
Quem é que não tem? É verdade que eu poderia ter recomeçado tudo outra vez, com outra artista no papel da moça que foi embora. Mas preferi não arriscar.

Terminado esse episódio infeliz, o senhor voltou aos cine-jornais?
Exato. Consegui distribuição para eles em todo o Brasil através da Uirapuru Filmes. Dediquei-me também, por aqueles anos, à realização de curtas-metragens sobre regiões do interior mineiro, feitos através da minha firma, o Estúdio Cinematográfico Brescia, sediada em São Gonçalo do Sapucaí.

Pode citar alguns títulos desses documentários?
Lambari, Cambuquira, Cultura do Marmelo (em Delfim Moreira), Centenário de Pouso Alegre, Congado (em São Gonçalo do Sapucaí), Camanducaia, Varginha, Três Corações, Coqueiral e seu Progresso, Paraguaçu. Foram vários, lembro-me apenas de alguns deles.

O TRONCO DO IPÊ. Sua segunda tentativa na área do longa-metragem foi em 1955: filmar O TRONCO DO IPÊ. Por que o interesse em José de Alencar?
Eu já havia saído de São Gonçalo do Sapucaí e fui morar em Três Corações. Fiquei animado, porque consegui um sócio co-produtor, que era um padre. Ele havia me dito para comprar filme virgem e tocar a produção com meu dinheiro, que ele entraria com a parte dele mais para a frente. Assim, comecei o TRONCO DO IPÊ, que é um belo romance. Só que o padre nunca chegou a colocar dinheiro algum: falhou completamente. Quando me dei conta, a produção já estava muito cara e decidi parar antes que fosse tarde.

Nesses dois filmes inacabados, SAMBRUK e O TRONCO DO IPÊ, o senhor contou somente com seus recursos? Não recebeu ajuda?
Sempre filmei às minhas custas, por amor e gosto. Nunca tive ajuda de governos, de ninguém. Ser idealista, no Brasil, significa viver constantemente numa batalha. A gente enfrenta todo tipo de coisas. Achei que, fazendo O TRONCO DO IPÊ, iria agradar a muita gente. Não tive nem essa chance.

O senhor havia fundado outra firma em Três Corações?
Eu era funcionário público; para onde era transferido, carregava o meu estúdio.

Roma em Minas: Sua terceira incursão no longa-metragem foi bem sucedida e NOS TEMPOS DE TIBÉRIO CESAR foi terminado.
Foi o patriotismo que me levou a escolher o tema. Em conversa com amigos, foi comentado que era praticamente impossível fazer um filme sobre os tempos do Império Romano fora dos Estados Unidos ou da Itália, devido a problemas de locações e altos custos para a reconstituição de época. Com meu filme, o Brasil passou a ser o terceiro país a fazer um filme sobre os primeiros cristãos. Tive essa glória.

A produção ficou cara?
Para mim, o preço sempre foi menor, pois meus filmes são revelados, copiados e sonorizados em meu laboratório. Assim, as despesas que tive foram com o filme virgem, condução para os atores, figurinos especiais, etc. Para alguém que fosse fazer um filme como esse e não dispusesse dessas facilidades, o preço certamente seria muito superior.

Onde foi feito NOS TEMPOS DE TIBÉRIO CESAR?
Em Três Corações. Lá, tive a colaboração da E.S.A., a escola de sargentos que existe na cidade. Muitos deles fizeram papéis de centuriões, ajudando na figuração do meu filme.

Como era vista sua atividade em uma cidade do interior mineiro, ainda mais querendo fazer um filme de romanos? As pessoas achavam isso natural?
Não, eu era muito criticado. O pessoal de chamava de louco. E não era apenas a mim que xingavam. Quando passava um ator com os cabelos mais compridos, surgia o comentário: – Lá vai o artista do Dr. Brescia! Durante todo o tempo, acreditava-se que eu não conseguiria terminar o filme.

Em SAMBRUK e O TRONCO DO IPÊ, a direção foi sua. Por que, em NOS TEMPOS DE TIBÉRIO CESAR, o diretor foi seu filho Ettore Brescia?
Ele foi o autor do argumento e também gostava muito de cinema. Achei que poderia encaminhá-lo na feitura de filmes. Fiquei encarregado da supervisão.

Uma vez terminado o filme, quais as providências tomadas no sentido de exibi-lo?
De início, tivemos um problema com a censura. Ela achava que nós deveríamos ter feito uma obra com motivos brasileiros, ao invés de abordar uma história de romanos. Queria que nós filmássemos casebres pobres com gente humilde, tocando viola na porta, mas não acho isso bom. O Brasil deve fazer filmes opulentos e não ficar preso a roteiros nos quais a pobreza predomina. Superado esse entrave, o filme foi exibido vez ou outra pelo interior mineiro. Não entrou nos grandes circuitos porque me recusei a assinar recibo de 50% das rendas, recebendo apenas 5%. Não preciso de dinheiro a esse ponto. Mas os distribuidores só trabalhavam assim.

O filme chegou a ser exibido em Belo Horizonte?
Não. Na capital, nem os meus jornais eram exibidos, a não ser esporadicamente no cine Paissandu, que não mais existe. Mas NOS TEMPOS DE TIBÉRIO CESAR permanece inédito na cidade, apesar da excelente repercussão obtida por ocasião de sua feitura, em jornais do Rio e São Paulo.

Por que o nome do filme foi trocado posteriormente para OS CENTURIÕES RIVAIS?
Havia expirado o prazo do certificado de censura. Por outro lado, a cópia era muito longa: havíamos filmado material suficiente para duas fitas diferentes. Decidimos, então, relançar o filme em uma versão reduzida, mais objetiva, com nome alterado. Era mais uma tentativa de lançar o filme, que também falhou. Voltei aos cine-jornais. Isso foi em 1958.

O prejuízo foi muito grande?
Ele foi suavizado pelas exibições que conseguimos pelo interior. Como disse, as minhas produções sempre saíram baratas e foi possível superar mais esse revés. Existem países na Europa que são menores em tamanho que Minas; mas lá só é exibido o cinema deles, não entra o produto de fora. Se os cinemas mineiros passassem os nossos filmes, não seria necessário buscar outras praças, seria possível conseguir lucro aqui mesmo.

Terror em Belo Horizonte. Mesmo com todos esses problemas, o senhor decidiu fazer mais um longa-metragem: PHOBUS – MINISTRO DO DIABO, já em Belo Horizonte. Quando foi isso?
Em 1961/62, mudei-me com minha família para Belo Horizonte, onde fundei a Organização Cinematográfica Cineminas Ltda., continuando na feitura de jornais da tela. Foi em 1965 que comecei a planejar PHOBUS. Acreditava que o filme pudesse se transformar em possante veículo de propaganda da capital mineira.

Por que foi escolhido o gênero terror?
Parecia uma boa maneira de ser bem sucedido na bilheteria. Enfrentei, então, o desafio, sempre filmando apenas com o meu dinheiro, sem ajuda de ninguém. Um detalhe interessante é que, em PHOBUS, trabalhou Zélia Marinho num dos principais papéis. Ela era muito famosa na tevê mineira e, quando morreu em um desastre de ônibus, os jornais comentaram que ela não havia conseguido realizar um desejo – ser artista de cinema. É que eles não sabiam que Zélia tinha sido uma das atrizes do meu filme.

PHOBUS ficou pronto por volta de 1970 e recebeu o certificado de censura em 1971. Por que tanto tempo nas filmagens?
Foram dois os motivos: houve falta de dinheiro e, além do mais, só podíamos dedicar ao filme os sábados e domingos. Todos trabalhávamos – eu era funcionário do Ministério da Agricultura e cada um dos atores também tinha seus afazeres. Cada um deles, aliás, trabalhou mais por amor à arte, pois todos receberam pagamento apenas simbólico por sua participação em PHOBUS. Alguns até nem quiseram apanhar seu dinheiro.

O filme tem algumas trucagens, o que é raro em fitas brasileiras. Numa delas, vê-se Zélia Marinho a se incendiar. Isso foi feito no Rio ou em São Paulo?
Não, as trucagens foram feitas em Belo Horizonte mesmo, no meu laboratório. Aprendi a técnica ainda na Itália, quando lá estive participando do curso de cinema de que já falei.

Uma vez obtido o certificado da censura, quais as medidas tomadas para distribuir PHOBUS?
Sempre achei que um filme mineiro deveria, em primeiro lugar, ser exibido em sua terra. Procurei, portanto, um distribuidor de Belo Horizonte, que ficou quatro meses com meu filme na prateleira, sem conseguir lançamento na cidade para ele. Tentei, a seguir, a Embrafilme, onde depositei a cópia censurada, na crença de que finalmente ela seria exibida em todo o território nacional. O tempo foi passando e nada. Passei a procurar pessoas influentes dentro da Embrafilme, pedindo que tivessem um pouco de boa vontade para com o Phobus. Acabaram formando uma comissão para examinar minha fita; não sei o que pretendiam examinar, pois a censura já o fizera antes e dissera que estava tudo bem. Entrei em contato com amigos meus, gente de influência, solicitando apoio ao meu caso. O fato é que o certificado de censura acabou expirando e Phobus permaneceu inédito, até mesmo para alguns dos atores que nele trabalharam.

O fato do filme ter sido feito em preto-e-branco não contribuiu para o seu ineditismo?
Não creio. Acho que o gênero terror só funciona em preto-e-branco: em cores, perde o sentido. Estou empenhado em que tanto PHOBUS como OS CENTURIÕES RIVAIS sejam exibidos em Belo Horizonte e no interior de Minas, pelo menos. Para isso, vou providenciar novos certificados de censura para ambos e insistir mais uma vez. Só voltarei a fazer longas-metragens depois que pelo menos um deles for lançado dignamente em Minas.

Projetos. O que o senhor está fazendo atualmente?
Já há algum tempo, encerrei minha atividade no cine-jornalismo. No momento, estou interessado em reduzir meus filmes sobre cidades mineiras para a bitola de 16 milímetros, tentando uma opção fora da exibição comercial, buscando as escolas. Gostaria de, para esse mercado paralelo, filmar as vidas de grandes brasileiros do presente e do passado. Tenho, também, um livro que me foi dado por seu autor, o Dr. Wilson Veado, de Sete Lagoas. Intitula-se Viagem ao Reino da Química e foi escrito para crianças. Gostaria de transformar cada capítulo em um pequeno filme.

Existe um outro projeto que lhe é caro: uma escola de cinema. Como anda?
Quando fiz PHOBUS, trabalhei com técnicos e atores formados na própria prática, dentro da minha firma. Se eu pudesse refazer meus estúdios em galpões, como foram construídos no tempo que passei no Sul de Minas, gostaria de franqueá-los aos interessados, para que tomassem conhecimento em detalhes das várias etapas da feitura de filmes. Tenho um fichário com 2.300 nomes relacionados. São pessoas de todos os tipos, cada uma com um interesse específico dentro do cinema. Uns querem ser atores, outros técnicos. Todos estão à espera de uma oportunidade.

Existe algum roteiro que gostaria de filmar, em especial?
Sim, O TRONCO DO IPÊ. Eu o faria em Belo Horizonte, a cores, mas só depois de ver um dos longas-metragens que já fiz lançado comercialmente na cidade.

O que significam seus 50 anos na prática do cinema mineiro?
Como cineasta, eu me sinto feliz por estar sempre fazendo cinema. Busco novas atividades e, agora, estou entusiasmado com a idéia das escolas. Mas, comercialmente, esses 50 anos foram todos perdidos.