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Pink Flamingos e a Arte do Cinema Cor de Rosa Transgressivo

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on fevereiro 16, 2012 by canibuk

“Pink Flamingos” (1972, 108 min.) de John Waters. Com: Divine, Edith Massey, David Lochary, Mary Vivian Pearce, Mink Stole, Danny Mills e a sombra de John Waters.

“Scorpio Rising” (Kenneth Anger), “Sins of the Fleshapoids” (Mike Kuchar), “Flaming Creatures” (Jack Smith) e “Blow Job” (Andy Warhol) foram alguns dos filmes que impressionaram o jovem John Waters e o influenciaram a começar a fazer cinema. Aos 17 anos Waters ganhou uma câmera Super 8 de seu avô, seu primeiro filme foi “Hag in a Black Leather Jacket” (1964), onde ele encenou um casamento inter-racial no telhado da casa de seus pais (que foram os grandes incentivadores financeiros de John Waters em início de carreira). Na seqüência realizou os curtas “Roman Candles” (1966), onde Divine (Harris Glen Milstead) aparece pela primeira vez sem ser creditada (este curta já contava com vários colaboradores habituais de Waters, como David Lochary, Pat Moran, Mary Vivian Pearce e Mink Stole, já com seu grupo de degenerados tomando forma) e “Eat Your Makeup” (1968), seu primeiro filme em 16mm, com Divine alçada a estrela do show (Divine era, já há vários anos, vizinho de John Waters). Em seguida o grupo todo embarca no primeiro longa-metragem, “Mondo Trasho” (1969) e no curta “The Diane Linkletter Story” (1970) que contava com Divine, Lochary e Pearce em papéis impagáveis. Após seu segundo longa, “Multiple Maniacs” (1970), título em homenagem ao Cult “2000 Maniacs” de H.G. Lewis, com Waters conseguindo realizar seu primeiro filme com som sincronizado e uma lagosta gigante que estupra Divine, a gang de desajustados estava, finalmente, pronta para filmar sua obra-prima: “Pink Flamingos” (1972).

Neste “Cidadão Kane” do mau gosto (com um senso de humor negro afiadíssimo), John Waters nos conta a história de Divine (que vive sob o pseudônimo de Babs Johnson) que se esconde nos arredores de Baltimore com sua mãe fanática por ovos (Edith Massey), seu filho Crackers (Danny Mills) e sua companheira de viagem Cotton (Mary Vivian Pearce). Connie e Raymond Marble (Mink Stole e David Lochary) são um rico casal de rivais da escatologia (eles seqüestram jovens mulheres para engravidá-las e depois vender seus bebês para casais de lésbicas) que não gostam de ler num tablóide que Divine é “a pessoa mais imunda viva” e farão de tudo para prejudicá-la.

Se você ainda não conhece “Pink Flamingos” se prepare para quase duas horas de senso de humor divinamente magnífico, alto astral, sexo oral, sexo com galinhas, adoração aos ovos galináceos, podolatria, masturbação, estupro com seringa, closes em genitais, travestis feios e bonitos, a maravilhosa e inspirada cena do músculo anal cantor e a cena onde Divine come merda de cachorro quentinha, sem cortes. Fantástico, com tudo que um bom filme precisa ter!

John Waters, em entrevista para J. Hoberman e Jonathan Rosenbaum, autores do excepcional livro “Midnight Movies”, diz: “Pink Flamingos custou 10 mil dólares. Tivemos que puxar cabos de luz por mais de uma milha até o trailer, que compramos num ferro-velho por 100 dólares e Vince Peranio o reformou para as filmagens. Editei o filme no sótão de minha casa com as ferramentas mais lamentáveis que se possa imaginar. Cada vez que eu queria assistir a um corte, eu precisava colocar o filme num projetor. O som extra foi gravado diretamente em um projetor magnético que só funcionava quando queria. Passei muitas horas a sós com essas filmagens e quase perdi minha razão!”.

“Pink Flamingos” estreou no final de 1972 no campus da Universidade de Baltimore, com ingressos esgotados para três sessões sucessivas. Com seu sucesso no underground americano o filme foi distribuído pela então pequena New Line Cinema e acabou chegando até Ben Barenholtz, proprietário do Elgin Theater em New York, responsável pelas sessões da meia-noite que tornaram “El Topo” (de Alexandro Jodorowsky) um sucesso da contracultura.

O filme mais famoso de John Waters traz a hilária seqüência de Divine comendo, sem cortes, fezes de um cachorro. Na época Divine disse a um repórter: “Eu segui aquele cão por mais de três horas com a câmera apontada no seu rabo!”. Alguns anos antes da morte de Divine, sua mãe teria perguntado se ele realmente havia comido fezes, ao que Divine prontamente respondeu: “Mãe, você não acreditaria no que eles podem fazer hoje em dia com truques de fotografia!”. Divino!!!

Após seu clássico, Waters realizou um punhado de filmaços, como “Female Trouble” (1974), “Desperate Living” (1977, meu preferido entre todos os filmes dele), “Polyester” (1981), “Hairspray” (1988), “Serial Mom” (1994) e “Cecil B. Demented” (2000) e os mais fracos, mas igualmente divertidos “Cry-Baby” (1990), “Pecker” (1998) e “A Dirty Shame” (2004).

Nos anos de 1980 John Waters quase filmou “Flamingos Forever” pela Troma Films, que não foi adiante porque Divine achou que o público da época não aceitaria mais este tipo de humor negro escatológico que envolveria até um cocô gigante voador. John Waters também não se sentiu muito confortável com o equipamento técnico da Troma que naquela época era um punhado de tralhas ultrapassadas.

Aqui no Brasil “Pink Flamingos” foi lançado em DVD pela Continental e, recentemente, saiu em DVD double feature com “Female Trouble” pela Cultclassic.

por Petter Baiestorf.

Batman Dracula

Posted in Fan Film with tags , , , , , on julho 30, 2011 by canibuk

“Batman Dracula” (1964, 3 min.) de Andy Warhol. Com: Jack Smith, Taylor Mead e grande elenco de adoráveis chapados.

Assista uma parte do filme no link abaixo:

“Batman Dracula” é um Fan Film, filme de fã, produzido nos anos de 1960 pelo artista Andy Warhol sem autorização da DC Comics e conta, no seu elenco, com a colaboração do lendário cineasta underground Jack Smith, o homem que influenciou John Waters à se tornar cineasta, o artista que realizou os clássicos do cinema obscuro “Flaming Creatures” e “Normal Love”.

“Batman Dracula” era considerado um filme perdido, até que alguns anos atrás o documentário “Jack Smith and the Destruction of Atlantis” (2006) provou o contrário. Já seu diretor/produtor, Andy Warhol, é um grande nome da POP ART mundial e cineasta underground responsável por todo tipo de experiência cinematográfica que, creio, dispensa maiores apresentações. Warhol legou ao mundo maravilhas como “Lonesome Cowboys” (com os cowboys mais gays da história do cinema), “Flesh for Frankenstein”, “Andy Warhol’s Dracula”, “Mario Banana”, “Bitch”, e muito outros, a maioria feitos em parceria com o, também genial, cineasta Paul Morrissey.

Para ver mais, siga este link abaixo:

The Flicker de Tony Conrad

Posted in Cinema with tags , , , on março 3, 2011 by canibuk

Tony Conrad nasceu em 1940 em Concord, New Hampshire, é o homem que fez o média-metragem “The Flicker” (1965), que é um filme feito de quadros de branco puro e de preto puro alternados em padrões ou freqüências diferentes. Quando projetado, “The Flicker” produz um efeito estroboscópico ou “bruxuleante” que pode causar imagens inexistentes e padrões de cor também inexistentes no ato de ver do olho. Ver “The Flicker” provoca em cada 50 mil pessoas um ataque epiléptico. Conrad descobriu os efeitos mais estéticos da luz estroboscópica quando brincava com um projetor cinematográfico que possuía velocidade variável. Descobriu assim que o bruxuleio começa à velocidade de quatro flashes luminosos (fotogramas) por segundo e que qualquer coisa acima de 40 flashes luminosos (fotogramas) por segundo é imperceptível ao olho exceto luz contínua. “The Flicker” constitui-se de 47 padrões diferentes de combinações de fotogramas pretos e brancos. Foram necessários dois dias para filmar as amostras e sete meses para revelá-las. O filme daí resultante começa com um bruxuleio muito intenso de 24 flashes por segundo, causando um efeito pequeno, mas gradativamente reduz a velocidade para uma intensidade vigorosamente “massageante” do olho, de 18 para 4 flashes por segundo. A intensidade de bruxuleio galga até o fim do filme, retornando o olho a um ambiente mais pacífico.

Tony Conrad realizou um segundo filme bruxuleante, em 1966, chamado “The Eye of Count Flickerstein”.

Conrad se deu conta de alguns efeitos da luz estroboscópicanuma aula sobre fisiologia do sistema nervoso em Harvard. Tendo se graduado como Bachelor of Arts em matemática em 1962, na Harvard, foi para New York tocar o “violino que zumbe” no grupo musical de vanguarda de La Monte Young (Conrad foi membro no início do Theatre of Eternal Music, apelidado de The Dream Syndicate, do qual faziam parte, além de Conrad e Young, os músicos John Cale, Angus Maclise e Marian Zazeela). Nesta época também começou a fazer trabalhos de som para cineastas undergrounds, realizou a trilha sonora para o clássico “Flaming Creatures” do genial Jack Smith (que influenciou, ao lado dos curtas de George Kuchar, o jovem John Waters a querer fazer filmes), apresentou Angus Maclise ao cineasta underground Ron Rice (que resultou na trilha sonora do filme “Chumlum” de Rice) e realizou a trilha sonora do inacabado “Normal Love” de Jack Smith.

Conrad & Beverly Grant.

Curiosidade inútil: Tony Conrad é conhecido como sendo indiretamente responsável pelo nome “The Velvet Underground”. Conta a lenda que Lou Reed e John Cale encontraram um livro intitulado “The Velvet Underground”, que havia pertencido ao Conrad, depois que ele se mudou para outro apartamento.

Encontrei uma versão do “The Flicker” com apenas 16 minutos, resolvi postar ela aqui como amostra do filme. O original tem 27 minutos (apesar do IMDB indica-lo com 30 minutos).

Usei o livro “Undergound – Uma Introdução ao Cinema Underground” de Sheldon Renan para consultas técnicas sobre a realização do média “The Flicker”.