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Alguns meses atrás o poster da primeira sessão de cinema da história foi leiloado em Londres por 40 mil libras (mais ou menos 200 mil reais). Este primeiro poster (reprodução abaixo) foi desenhado por Henri Brispot para uma exibição especial dos primeiros curtas dos irmãos Lumière, em dezembro de 1895.
Originalmente criados para uso exclusivo dos cinemas, não demorou muito para que os posters logo virassem item de colecionadores, principalmente artes criadas para filmes exploitations, sempre com cartazes muito mais criativos do que os próprios filmes, e, também, as artes produzidas para a divulgação de produções de horror e ficção científica. Inclusive, o preço record já pago por um único cartaz pertence à sci-fi Metropolis (1926), de Fritz Lang, negociado por 690 mil dólares.
Inicialmente os posters eram feitos no tamanho dos cartazes usados para a divulgação dos shows de Vaudeville. Quem definiu o tamanho padrão foi Thomas Edison, com as medidas de 27″x41″, em folha única fixada nas fachadas e paredes dos cinemas.
Para comemorar os posters de cinema, upei um arquivo com 2.592 cartazes de cinema nos gêneros horror e Sci-Fi, a maioria com artes belíssimas e dignas de serem festejadas como pequenas obras-primas da criatividade humana.
“Piranha 2 – The Spawning” (“Piranhas 2 – Assassinas Voadoras”, 1981, 84 min.) de James Cameron. Produção de Ovidio G. Assonitis. Com: Tricia O’Neil, Lance Henriksen e Steve Marachuk.
No calor da noite jamaicana um casal de turistas mergulha no local onde há os destroços de um navio afundado para ter um pouquinho de sexo nas profundezas do mar azul. Peitinhos a mostra, sunga rasgada e os corpos do casal de amantes assanhados são devorados por piranhas famintas!… Hum, espere aí, piranhas em água salgada?… Sim, este é o brilhante ponto de partida do genial (e muito tosco) roteiro do produtor Ovidio Assonitis (com alguns pitacos do diretor James Cameron em seu único trabalho que admiro). Aqui somos apresentados ao Clube Elysium, uma espécie de hotel cheio dos mais variados tipos humanos que somente o cinema italiano tem a capacidade de criar. Entre uma e outra cena idiota, somos apresentados à Anne Kimbrough (Tricia O’Neil), instrutora de mergulho que trabalha ali com seu filho tapado, caçadoras de homens ricos, velhas ninfomaníacas, pescadores que usam dinamite, ricaços egocentricos, o xerife boa pinta, dentistas otários e, lógico, como não poderia faltar, o dono de hotel ganancioso que, a todo custo, quer fazer um festival do peixe frito na praia.
Em uma de suas aulas de mergulho Anne leva seus alunos até os destroços do navio onde as piranhas vivem. Um dos alunos entra no navio e é comido pelas piranhas. Assim o xerife, que se revela marido de Anne, começa as investigações. Anne, auxiliado por um aluno que quer comer ela, invade o necrotério para analizar o corpo podre do aluno morto. Enquanto estão fotografando o cadáver uma enfermeira descobre a farra e os expulsa. Ao arrumar o corpo do morto a enfermeira tem a surpresa que todos estão esperando, ou seja, uma piranha voadora sai de dentro do corpo e voa até sua jugular estraçalhando-a (as piranhas são de borracha, quando atacam os próprios atores precisam segurá-las e simular que estão vivas e violentas, rendendo momentos impagáveis de humor involuntário). Já em sua casa, Anne e seu aluno estão vendo as fotos do cadáver quando, como seria normal num caso assim, pinta um clima de tesão e eles se beijam e vão prá cama para uma foda revigorante. Deste ponto em diante o filme fica cada vez mais divertido, com as piranhas voadoras saindo da água como um cardume/bando sedento por carne humana. Logo Anne está implorando para o dono do Clube Elysium cancelar todas as atividades na água, mas ele não aceita isso (Assonitis e Cameron perdem aqui uma ótima oportunidade de esculhambar este clichê, já que como as piranhas voam e respiram fora da água, se todas todas as atividades da água fossem canceladas, ainda teríamos os deliciosos ataques).
Quando o aluno de Anne se revela um bioquímico, ficamos sabendo que ele sabia que no navio afundado havia ovos de piranhas modificadas geneticamente para serem utilizadas como armas pelos militares americanos. Como o festival do peixe frito não foi cancelado, todos os hóspedes que esperavam comer um peixinho frito de graça viram a refeição principal das piranhas que promovem uma carnificina gore repleta de feridas pustulentas, sangue grosso e membros amputados. A última esperança de todos é Anne mergulhar até o navio, ninho das piranhas, e explodir tudo com bananas de dinamite, promovendo assim um dos finais mais toscos que o cinema trash já filmou.
Com uma equipe-técnica completamente italiana (onde ninguém falava inglês), James Cameron deve ter se sentido um peixe fora d’água nesta produção do picareta Assonitis. “Piranha 2” era para ter sido dirigido por Miller Drake (assistente de direção no clássico “Alligator” de Lewis Teague, filmado um ano antes) que havia trabalhado com Roger Corman e Joe Dante no primeiro “Piranha” (1978) que traria de volta as personagens de Kevin McCarthy (que reapareceria todo cheio de cicatrizes porque foi vítima das piranhas no primeiro filme) e de Barbara Steele. James Cameron havia sido contratado para fazer os efeitos especiais do filme e, quando Drake foi despedido da produção, Cameron pode realizar seu sonho de dirigir um filme, mas, para azar do americano, Assonitis resolveu acompanhar as filmagens de perto e discutia quase sobre tudo com Cameron (nada pior para um produtor do que ter um diretor que não faz o que lhe é ordenado) e assim proibiu Cameron de ver as filmagens do dia e, depois, não o deixou acompanhar a edição do filme. Aliás, James Cameron se refere ao “The Terminator/O Exterminador do Futuro” (1984) como seu primeiro filme (há um curta-metragem de Cameron de 1978, intitulado “Xenogenesis” que merece ser redescoberto).
Ovidio G. Assonitis (1943) nasceu no Egito e é produtor de cinema independente. Nos anos de 1960 se tornou distribuidor de filmes no sudoeste da Ásia (em apenas 10 anos como distribuidor colocou no mercado mais de 900 filmes). Entre 1970 e 2000 produziu cerca de 50 filmes, muitos deles coproduções com produtoras como American International Pictures, Nippon Herald Films Inc. e Toho-Towa, geralmente com lucros absurdos como “Chi Sei?/Beyond the Door/Espírito Maligno” (1974), filme de baixo orçamento dirigido por ele mesmo, que teve arrecadação mundial de mais de 40 milhões de dólares. Com o pseudônimo de Oliver Hellman, além de “Chi Sei?”, dirigiu ainda “Tentacoli” (1977), trasheira estrelada por John Huston, sobre polvos assassinos; “There Was a Little Girl/Madhouse” (1981), sobre uma professora de surdos atormentada por sua irmã gêmea e a comédia “Desperate Moves” (1981). Como produtor trabalhou com os mais variados tipos de diretores italianos possíveis, realizando belíssimos filmes de baixo orçamento como “Nel Labirinto del Sesso” (1969) de Alfonso Brescia; “Il Paese del Sesso Selvaggio/The Man from the Deep River” (1972) de Umberto lenzi, um dos primeiros filmes do ciclo de filmes de canibais italianos; “Dedicato a una Stella” (1976) de Luigi Cozzi, um drama romantico; “Stridulum/Herdeiros da Morte” (1979) de Giulio Paradisi, sci-fi de horror sobre o bem e o mal em luta secular; “Iron Warrior/O Guerreiro de Aço” (1987) também de Alfonso Brescia; “Curse 2 – The Bite” (1989) de Frederico Prosperi, sobre um mané que é mordido por uma cobra radioativa e o resto pode ser imaginado; “Lambada” (1991) de Fábio Barreto, trasheira musical que tentava lucrar com a moda da lambada; “American Ninja 5” (1993) de Bobby Gene Leonard, com Pat Morita no elenco; entre vários outros exemplos de como ser um exploitation man do cinema.
Giannetto De Rossi (1942), responsável pelos ótimos momentos gores de “Piranha 2”, começou como maquiador em filmes como “Le Ore Dell”Amore” (1963) de Luciano Salce, comédia romântica estrelada por Ugo Tognazzi e Barbara Steele, “C’era una Volta il West/Era uma vez no Oeste” (1969) de Sergio Leone e “Quando le Donne Avevano la Coda/Quando as Mulheres Tinham Rabo” (1971) de Pasquale Festa Companile, comédia incorreta com Senta Berger. Em 1972 trabalhou na comédia “All’Onorevole Piacciono le Donne…/O Deputado Erótico”, dirigido por Lucio Fulci, trampo que colocou os dois em contato. Logo em seguida De Rossi trabalhou com Jorge Grau no clássico “Non si Deve Profanare il Sono dei Morti/Let Sleeping Corpse Lie/Zumbi 3”, onde criou efeitos de maquiagens gores convincentes. Mas foi com Lucio Fulci que extrapolou todos os limites do bom gosto ao elaborar os efeitos ultra gores de filmes como “Zumbi 2” (1979); “… E Tu Vivrai nel Terrore! L’Aldilà/Terror nas Trevas” (1981) e “Quella Villa Accanto al Cimitero/The House by the Cemetery/A Casa dos Mortos-Vivos” (1981). Sempre metido nas produções mais divertidas, De Rossi trabalhou em inúmeros filmes que marcaram época, como “L’Umanoide/O Humanóide” (1979), sci-fi cara de pau de Aldo lado; “Conan The Destroyer/Conan, O Destruidor” (1984) de Richard Fleischer, fantasia com Schwarzenegger; “Rambo III” (1988) de Peter McDonald, ação com Stallone; “Killer Crocodille” (1989), horror sobre um crocodilo gigante de Fabrizio de Angelis; entre vários outros. Giannetto De Rossi também foi responsável pela criação dos efeitos realistas do “snuff movie” que é projetado em “Emanuelle in America” (1977) de Joe D’Amato, estrelado por Laura Gemser. Giannetto ainda dirigiu três longas: “Cyborg, il Guerriero D’Acciaio” (1989), sci-fi de ação; “Killer Crocodille II” (1990), continuação sangrenta das aventuras do crocodilo gigante; e o filme em vídeo “Tummy” (1995), sobre um garoto que foge do orfanato com duas criaturas mágicas.
“Piranha 2 – Assassinas Voadoras” foi lançado em DVD no Brasil pela Columbia Tri Star Home Video e é ótimo para ver que todos os gigantes da indústria cinematográfica mundial começam pequenos.
“Mesa of the Lost Women” (1953, 70 min.) de Ron Ormond e Herbert Tevos. Com: Jackie Coogan, Allan Nixon, Lyle Talbot e Dolores Fuller.
Com uma trama prá lá de confusa e mal conduzida, “Mesa of the Lost Women” é outra destas deliciosas sci-fi trasheiras que somente os anos 50 conseguiam proporcionar. Aqui um cientista maluco (e existe, no cinema, algum cientista que não seja maluco?), que já criou aranhas gigantes em seu laboratório secreto de Zarpa Mesa, México, tenta criar uma nova raça de supermulheres com poderes regenerativos. Essas mesmas experiências quando aplicadas nos homens os torna anões desfigurados. Tudo isso embalado por efeitos especiais vagabundos, narrativa caótica e cenários capengas.
Com um roteiro que tenta ser sofisticado em seus flashbacks, tudo falha com a pobreza da produção e amadorismo dos atores. Tenta ser um roteiro desconcertante com suas várias reviravoltas, mas nada funciona como deveria. Melhor para nós que ganhamos mais um maravilhoso lixo cinematográfico. Quando ficamos sabendo a história da produção, entendemos melhor porque o filme é tão bagunçado: Parece que Herbert Tevos começou dirigindo o filme para a Howco International (produtora de New Orleans especializada em filmes de baixo orçamento, responsável por lançar filmes como “Jail Bait” (1954) de Edward Wood Jr., “Carnival Rock” (1957) de Roger Corman, entre vários outros), provissoriamente intitulado “Tarantula” (não confundir com o filme de Jack Arnold de 1955), e que foi interrompido após os produtores perceberem o quanto era díficil trabalhar com Tevos. Depois de algum tempo com a produção parada, o projeto teria sido finalizado por Ron Ormond que filmou cenas adicionais para que o filme fosse um longa-metragem.
Ron Ormond foi um dos donos da Howco (ao lado de Joy Newton Houck Jr. e J. Francis White). Produziu cerca de 40 filmes e dirigiu mais de 20 títulos, a maioria westerns e exploitations. “Mesa of the Lost Women” é um de seus clássicos tendo recebido, anos depois, o Golden Turkey Awards de “Most Primitive Male Chauvinist Fantasy”. Outros filmes de Ormond que merecem uma conferida são “Girls from Tobacco Row” (1966), uma comédia musical hilária; “The Exotic Ones” (1968), comédia de humor negro onde três caçadores capturam um monstro do pântano; “The Grim Reaper” (1976), trasheira que não deve ser confundida com o clássico “Antropophagus” (1980) de Joe D’Amato, cuja versão censurada nos USA se chama “The Grim Reaper”; e “39 Stripes” (1979), drama evangélico de riso involuntário sobre o marginal Ed Martin que se converteu ao cristianismo na prisão. Ormond realizou vários filmes religiosos que são ótimas comédias involuntárias. Herbert Tevos era hungaro e, até onde sei, “Mesa of the Lost Women” foi sua única experiência cinematográfica.
No elenco deste clássico da ruindade encontramos a atriz Dolores Fuller (1923-2011) em uma pequena participação. Ela se tornou conhecida (nos anos 90) como a esposa de Ed Wood Jr., com quem fez “Glen Or Glenda?” (1953), registrado por Tim Burton em seu melhor filme até hoje, “Ed Wood”, de 1994. Dolores ficou famosa como compositora, suas canções foram gravadas por famosos como Elvis Presley, Nat King Cole e Peggy Lee. Aliás, por falar em música, a trilha sonora de “Mesa of the Lost Women” foi reaproveitada em “Jail Bait” de Edward D. Wood Jr., que conta em seu elenco com Dolores e o veterano Lyle Talbot (1902-1996) que já havia se destacado em inúmeros westerns quando começou a trabalhar com Wood (Talbot também fez um papel em “Plan 9 From Outer Space” (1959) e no fim da vida apareceu em “Amazon Women on the Moon/As Amazonas na Lua” (1987) de Joe Dante, Carl Gottlieb, Peter Horton, John Landis e Robert K. Weiss).
“Mesa of the Lost Women” tem alguns cartazes que vendem a idéia de erotismo, mas não se iluda, não há putaria no filme e as meninas aparecem sempre vestidas. Este filme é um ótimo exemplar de uma época em que pequenas produtoras e/ou distribuidoras de filmes de baixo orçamento conseguiam sobreviver produzindo os mais fantásticos argumentos descerebrados que tanto adoramos. Mesmo quando nada funcionava como era para funcionar, os filmes entregues por estes produtores picaretas divertiam e empolgavam de tal modo que são ainda hoje relembrados e festejados. “Mesa” é um destes clássicos trash que merece ser (re)descoberto.
“The Tingler” (“Força Diabólica”, 1959, 82 min.) de William Castle. Com: Vincent Price, Judith Evelyn, Phillip Coolidge, Darryl Hickman e Patricia Cutts.
Um patologista (Vincent Price, hilário) descobre que, quando o ser humano sente medo extremo e não pode gritar, um parasita chamado Tingler se desenvolve na coluna vertebral. Este parasita se alimenta do medo humano, cresce e se enrola na sua coluna vertebral, podendo matar o hospedeiro. Tingler desaparece/morre se o hospedeiro gritar alto e com vontade, dando vazão ao seu medo. O dono de um cinema (Phillip Coolidge) chama o patologista depois que sua esposa surda-muda (Judith Evelyn) morre em circunstâncias misteriosas e durante a autópsia ele consegue isolar o parasita (porque um mudo não pode gritar) que se parece com uma grande centopéia alienígena de borracha. Depois de algumas revelações divertidas (que não convêm contar aqui), Tingler – o parasita sapeca – escapa e ataca dentro do cinema de Coolidge, dando abertura à uma genial seqüência de metalinguagem do cinema: O parasita entra no feixe de luz que leva as imagens para a tela de cinema e a película queima ficando tudo escuro, com a potente voz de Price pedindo aos espectadores do cinema que gritem com vontade para que o Tingler seja morto. Quando as luzes se acendem o monstrengo já era!
Após o estrondoso sucesso de “House on Haunted Hill/A Casa dos Maus Espíritos” (também de 1959), a dupla Castle-Price ganhou sinal verdeda Columbia Pictures para a produção de “The Tingler”, que além de sua história completamente nonsense, trazia uma das primeiras viagens de LSD mostrada num filme (o roteirista Robb White havia experimentado LSD na UCLA quando ainda era uma droga legalizada, lógico que a interpretação que Vincent Price dá quando chapado é de uma canastrice exemplar, nem de longe lembrando alguém que esteja “viajando”) e o uso do “Percepto!”, um gimmick de William Castle que dava choques em algumas poltronas dos cinemas onde o filme era exibido. Estes choques no público eram ativados justamente na cena onde o parasita havia escapado para o cinema (nesta cenas todas as luzes do cinema exibidor ficavam desligadas, aumentando a tensão) e o público ficava levando choques e gritando feitos loucos para “matar” tingler. Para ter uma idéias melhor da diversão que era essas exibições, veja o filme “Matinee” (1993) de Joe Dante, onde John Goodman faz o papel de um cineasta inspirado em William Castle.
William Schloss (que significa “Castle/Castelo” em alemão), nascido em 1914 e falecido em 1977, começou a dirigir filmes no início dos anos 40, foi assistente de Orson Welles em “The Lady from Shanghai” (1947). Chamou atenção do público depois que começou a utilizar gimmicks para atrair espectadores no filme “Macabre” (1958), onde um seguro de mil dólares era oferecido a cada pessoa do público em caso de mrote por medo durante o filme, além disso, enfermeiros e um carro funerário ficava estacionado na frente do cinema. Em “13 Ghosts” (1960), filmado em “Illusion-o”, em determinados momentos o público deveria usar um apetrecho feito de celofane azul/vermelho para ver os fantasmas no filme, lógico que quem optava por não usar o apetrecho continuava vendo os fantasmas do mesmo jeito. Em “Homicidal” (1961) seu gimmick promocional era tão complicado que muitos donos de cinema se recusaram a reservar espaço para o filme. Em 1968 William Castle produziu um clássico do cinema de horror mundial, “Rosemary’s Baby/O Bebê de Rosemary”, dirigido por Roman Polanski.
Segundo o texto de John Waters que vem no encarte do DVD de “The Tingler” lançado no Brasil pela Columbia Pictures, “Percepto era um equipamento bastante caro (seu custo foi de mais de 250 mil dólares). Em cada dez poltronas, um era instalado, impulsionado por um pequeno motor, que ligados à cabine de projeção, o projecionista se guiava por pequenas marcas impressas no filme. Seguindo as instruções, um interruptor acionava uma vibração e uma pequena descarga de eletricidade nas poltronas. Decidido a testar Percepto antes da estréia de “The Tingler, Castle fez um acordo com o proprietário do cinema Van Nuys, da Califórnia, para permitir a instalação numa exibição no início da noite. A mão de algum gaiato, contudo, acionou o interruptor em um dos momentos mais trágicos de “Uma Cruz à Beira do Abismo”, filme em exibição naquele momento. As inesperadas ondas de vibração causaram pânico”.
No “Arghhh” número 29, lançado em Agosto de 2000, editei uma série de entrevistas que o cineasta e artista plástico Ivan Cardoso realizou com artistas do cinema que eu adorava. Roger Corman e Christopher Lee já tiveram suas entrevistas resgatadas aqui. Hoje posto as duas últimas desta série que publiquei no fanzine, ambas são bem pequenas, mais bate-papo que o Ivan cardoso realizou com o Yuzna e o Dante quando os encontrou num festival de cinema, mas que acho legal disponibilizar na net.
Ivampiro Cardoso bate-papo com Brian Yuzna, produtor de clássicos como “Re-Animator” e diretor do “Return of the Living Dead 3”.
Ivan Cardoso: E o “Dentista 3” sai ou não sai, Brian?
Brian Yuzna: Por enquanto ainda não recebi nenhum recado dos nossos produtores, mas se eles quiserem: Estou pronto! Sou um diretor de cinema e fazer filmes é o meu negócio!
Cardoso: Agora você está morando em Barcelona, Espanha?
Yuzna: Exatamente. Fui contratado por uma das maiores distribuidoras daEspanha para produzir sete filmes nos próximos dois anos. (Nota do Canibuk: Yuzna foi, na época, contratado pela Filmax International, de Julio Fernández, com quem produziu coisas rápidas, em sua maioria filmes ruins, como: “Faust”, “Arachnid”, “Re-Animator: Fase Terminal” e outros mais decepcionantes).
Cardoso: Genial Brian, será que não sobra um para mim…
Yuzna: Eu adoraria Ivan, principalmente agora que assisti “O Escorpião Escarlate” e entendo porque todo mundo aqui só fala em você! Mas você não pode imaginar como os espanhois são burocráticos, atrasados e nacionalistas, tamanho são os problemas que entravam, até hoje, o cinema espanhol. Filmes que na America poderiam ser feitos em um mês, lá, demoram dois e, os custos, o triplo do preço americano. Todo mundo só fala em milhões, até os curtas-metragistas. Depois, eles ainda tem aquele ranso sindicalista de esquerda, como deve existir no seu país!!!
Cardoso: O cinema espanhol atravessa um bom momento?
Yuzna: Não vejo desta forma. Eles conseguiram criar uma série de leis e incentivos fiscais para cultura que possibilitam a co-produção entre países da união europeia e isso é muito bom porque atualmente, se você não esta na America, se você esta fora da industria cinematográfica, o jeito é dividir sua produção por dois ou três países e, principalmente, fazer um bom filme que seja de interesse universal. Embora eu discorde radicalmente disso. Veja bem, nos anos de 1960, Godard, Buñuel, Pasolini, Bergman, Visconti, Antonionni e Fellini dominaram totalmente a cena, sem qualquer tipo de incentivo, conseguindo deixar Hollywood num segundo plano. Naquela época ninguém falava em cinema americano. Eu não acredito num cinema que precise ser protegido para existir. Você pode fazer qualquer tipo de filme, em qualquer tipo de língua, que se o filme for uma novidade todo mundo vai querer ver. É isso que todo mundo está esperando, inclusive Hollywood, que para sobreviver precisa mais do que ninguém das descobertas e invenções feitas fora da indústria cinematográfica americana!
Cardoso: Obrigado pelo seu tempo Brian.
Yuzna: Certo Ivan.
E, para finalizar, um rapidíssimo bate-papo entre Ivan Cardoso e o Joe Dante, pai dos “Gremlins”.
Ivan Cardoso: Porque um diretor consagrado como você, demorou 5 anos para fazer um novo filme?
Joe Dante: Porque os estúdios querem ganhar fortunas com os filmes que fazem, transformando Hollywood num lugar pouco interessante para os diretores. Só me ofereciam produções que, na America, chamamos de “Popcorn Movies”, ou seja, filmes para adolescentes!
Cardoso: Fale-me um pouco de “Pequenos Soldados”, seu último filme.
Dante: “Pequenos Soldados” já havia passado pela mão de uns 12 roteiristas, mas coube a mim realiza-lo. O resultado fala por si só, é a segunda maior bilheteria de minha carreira, perdendo apenas para os “Gremlins”.
Cardoso: Seus filmes sempre possuem citações de outras obras cinematográficas?