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Na Páscoa

Posted in Literatura with tags , , , , , , , , , , , , , , , on março 21, 2013 by canibuk

Decidi não viajar, esperando até a última hora que alguém cancelasse a páscoa, pra eu ter alguma coisa pra fazer.

Eu sei que parece extremamente estúpido da minha parte, mas no meu coração, eu tinha esperança.

Tive esperança até dormir.

Acordei na sexta-feira e antes mesmo da urina matinal, fui ver na internet se alguém tinha cancelado a páscoa, mas nada.

Esperança burra. Esse sentimento de derrota no meu coração. Mas que coração burro! Ninguém cancela a páscoa!

Sabe por que o mundo não tem mais ateus? Por que religião é uma mentira tão grande, uma merda tão grande, que quando você se dá conta disso, não quer adimitir que era burro. Pra não ter que adimitir, continua insistindo no erro até acreditar de coração que aquele absurdo todo é verdade. Pura covardia.

Tive uma ideia duplamente foda: queria punir meu coração e insultar a páscoa.

Saí de casa sem tomar banho. Peguei a roupa mais no fundo do cesto de roupa suja e vesti. Peguei uma nota grande na carteira e segurei na mão com força. Saí de casa determinado.

Ah, como eu queria punir meu coração e insultar a páscoa! Ah, e eu tive uma ideia!

Com a mão que eu não estava segurando o dinheiro, peguei o primeiro pedaço de bacon que achei.

Paguei com a nota grande, e o caixa, emburrado por trabalhar na sexta-feira de feriado, me olhou de cara feia.

Pra facilitar o troco e completar a ironia, peguei um ovo de páscoa médio. Diminuiu o troco, pelo menos.

Em casa, decidi tirar a roupa. A roupa toda. De volta pro cesto de roupa suja, sua roupa suja! Seu lugar é lá. O meu é na cozinha com meu bacon de páscoa…

Bacon de páscoa! Rá!

Toma essa, coração! Vou obstruir seus caminhos! Toma essa, páscoa! Eu vou comer BACON na páscoa!

E tô eu na cozinha. Pelado e com um bacon na mão. Fatiei o bacon todo e botei na frigideira.

Acendi o fogo com um palito. Meu fogão tem acendedor, mas eu queria acender com o palito, porra! Nada de energia elétrica. Nada de barulhinho do acendedor. Palito de fósforo.

E lá tô eu, nu, na cozinha, e o bacon começa a fritar. E começa a espirrar gordura quente em mim. Eu começo a dançar com aquelas gotículas de gordura quente me queimando.

Mas eu não tô dançando metaforicamente, não! Eu tô dançando de fato.

Saio de perto pra não queimar nada importante.

Decidi abrir o ovo de chocolate. Tirei aquele monte de plástico barulhento, amassei até virar uma bolinha e mirei na lata de lixo.

Joguei a bolinha com TODA minha força. A lata tava fechada, e eu sabia. Eu só queria arremessar alguma coisa. Pronto, arremessei. A bola de plástico amassado ricocheteou no fogão e foi parar atrás da geladeira.

Maravilha.

Eu decidi esmagar o ovo de páscoa com o punho. Fechei o punho e mandei ver. Quebrou o ovo todo. Eu não queria o ovo, só queria facilitar a merda do troco.

O bacon já tava douradinho, desliguei a panela e botei uma fatia, quente, mas quente MESMO, na boca. No que fui mastigando, fui puxando o bacon pra dentro da boca.

Botei as outras fatias num prato. Deixei a gordura na frigideira.

Botei o ovo de páscoa num prato e derramei a gordura do bacon nos ovos de páscoa.

A gordura quente começou a derreter o chocolate. Decidi amassar tudo junto. Fiz isso até tudo virar uma só bolota de chocolate com traços de bacon.

Enfiei tudo na boca, de uma vez só. Muito gostoso, fiquei chupando chocolate com bacon. Decidi sentar pra focar toda minha atenção no paladar.

Provavelmente, nunca mais na minha vida eu faria isso de novo. Tinha que sentir bem o momento.

Nunca mais eu vou sentir esse gosto de novo. Talvez no natal eu faça alguma coisa mais bizarra. Mas não esse gosto.

Então lá estava eu, pelado, sentado com a bunda num banco gelado, com gordura espirrada no meu corpo, chupando uma bolota de chocolate ao leite com bacon.

Toma essa, coração! Toma essa, páscoa!

Depois de uns 2 minutos, aquela sensação de novidade passou. Mordi a bolota de chocolate ao leite com bacon pra acabar mais rápido.

Engoli uns nacos grandes, já tava sem paciência.

Ainda tinham 5 fatias de bacon sobrando. Peguei todas e levei pro quarto.

Num impulso ou num surto de aleatoriedade totalmente sem sentido, botei 2 fatias de bacon dentro da fronha do meu travesseiro.

Comi as outras 3.

Deitei no travesseiro com cheiro de bacon enquanto mastigava meus 3 bacons restantes.

Deitei pelado, mas logo me enrolei num lençol fino que tinha em cima da cama. Todo enrolado. Só a cabeça de fora.

Deitei de bruços, de um jeito que meu nariz ficasse bem em cima do travesseiro.

Um cheiro mágico de bacon. Travesseiro de bacon.

Decidi morder o travesseiro. Decidi rasgar o travesseiro com os dentes. Sem usar as mãos pra dar apoio.

Eu enrolado no lençol parecia uma lesma nervosa mordendo o travesseiro. Demorou uns 10 minutos pra eu conseguir cortar a fronha e chegar no bacon.

Comi uma das fatias de bacon, a outra tava despedaçada demais.

Pra acabar com os pedacinhos despedaçados de bacon, decidi grudar com saliva na língua e comer.

Demorei mais uns 2 ou 3 minutos pra catar tudo.

Acabado o bacon, me desenrolei do lençol, levantei, pelado, e botei minha cabeça na parede.

Chorei uns 3 ou 4 minutos. Decidi lavar roupa. E a roupa de cama. Botei tudo na máquina e botei na lavagem mais demorada que tinha. Entupi de sabão em pó e amaciante.

Decidi limpar toda a cozinha também. Quando eu terminei, tava impecável.

Tomei um banho. vesti uma roupa confortável, troquei a roupa de cama e liguei pra minha família pra desejar feliz páscoa.

Deitei na cama e dormi. Toda hora que eu acordava e ainda era sexta-feira, eu fechava os olhos outra vez. Nem todas as vezes eu conseguia dormir. Mas não abri os olhos pra nada.

Passei o sábado fazendo palavras cruzadas e o domingo ouvindo música.

Eu nunca imaginei que ía dizer isso na minha vida, mas PUTA QUE PARIU, como eu AMO segunda-feira!

escrito por Douglas Domingues.

(Douglas também é ator no longa-metragem “Zombio 2: Chimarrão Zombies” que será lançado em maio de 2013).

Douglas Domingues

Kamikaze

Posted in Literatura with tags , , , , , , , , on março 13, 2013 by canibuk

Como explicar que

enquanto observava sua cicatriz

pensava no quanto a deixava ainda mais bela

assim como seu jeito oriental

contido

o jeito que abaixava a cabeça quando passava na minha frente

o corpo arcado

o ar submisso

encenando uma dor

um incômodo

(a maneira com que fazia

com que me confundisse com ela mesma

sempre a maior das armadilhas femininas – eu caio só de lembrar)

artifícios

que destilavam o veneno

e o menosprezo

que ornariam sua ausência

distante de mim

agora muito mais do que

quando éramos estranhos

viro um peixe

branco lixo do ocidente

fisgado

e deixado pra morrer

no seu aquário.

poesia de Rodrigo P. Martins.

ilustração de Maxon Crumb.

Maxon Crumb sininho girl

Um Poema para o Engraxate

Posted in Literatura with tags , , , , , , , , , on maio 20, 2012 by canibuk

o equilíbrio é preservado pelas lesmas que escalam os

rochedos de Santa Mônica;

a sorte está em descer a Western Avenue

enquanto as garotas numa casa de

massagem gritam para você, “Alô, Doçura!”

o milagre é ter 5 mulheres apaixonadas

por você aos 55 anos,

e o melhor de tudo isso é que você só é capaz

de amar uma delas.

a bênção é ter uma filha mais delicada

do que você, cuja risada é mais leve

que a sua.

a paz vem de dirigir um

Fusca 67 azul pelas ruas como um

adolescente, o rádio sintonizado em O Seu Apresentador

Preferido, sentindo o sol, sentindo o sólido roncar

do motor retificado

enquanto você costura o tráfego.

a graça está na capacidade de gostar de rock,

música clássica, jazz…

tudo o que contenha a energia original do

gozo.

.

e a probabilidade que retorna

é a tristeza profunda

debaixo de você estendida sobre você

entre as paredes de guilhotina

furioso com o som do telefone

ou com os passos de alguém que passa;

mas outra probabilidade –

a cadência animada que sempre se segue –

faz com que a garota do caixa no

supermercado se pareça com a

Marilyn

com a Jackie antes que levasse seu amante de Harvard

com a garota do ensino médio que sempre

seguíamos até em casa.

.

lá está a criatura que nos ajuda a acreditar

em alguma coisa além da morte:

alguém num carro que se aproxima

numa rua muito estreita,

e ele ou ela se afasta para que possamos

passar, ou se trate do velho lutador Beau Jack

engraxando sapatos

após ter queimado todo seu dinheiro

em festas

mulheres

parasitas

fufando, respirando junto ao couro,

dando um trato com a flanela

os olhos erguidos para dizer:

“mas que diabos, por um momento

tive tudo. isso compensa todo o

resto.”

.

às vezes sou amargo

mas no geral o sabor tem sido

doce. é apenas que tenho

medo de dizê-lo. é como

quando sua mulher diz,

“fala que me ama”, e

você não consegue.

.

se você me ver sorridente

em meu Fusca azul

aproveitando o sinal amarelo

dirigindo firme em direção ao sol

estarei mergulhado nos

braços de uma

vida insana

pensando em trapezistas de circo

em anões com enormes charutos

num inverno na Rússia no início dos anos 40

em Chopin com seu saco de terra polaca

numa velha garçonete que me traz uma xícara

extra de café com um sorriso

nos lábios.

.

o melhor de você

me agrada mais do que pode imaginar.

os outros não importam

excetuando o fato de que eles têm dedos e cabeças

e alguns deles olhos

e a maioria deles pernas

e todos eles

sonhos e pesadelos

e uma estrada a seguir.

.

a justiça está em toda parte e não descansa

e as metralhadoras e os coldres e

as cercas vão lhe dar prova

disso.

poesia de Charles Bukowski.

Screwjack

Posted in Literatura with tags , , , , , , , on abril 27, 2012 by canibuk

Acabo de ganhar a companhia do rico e famoso sr. Screwjack, que acabou com o que restava do atum, me fez uma daquelas carícias no queixo e depois tentou me persuadir a sair com ele, mas me recusei… então deu de ombros e saiu sozinho, rumo à aurora gélida e nublada.

Seria melhor se tivesse ficado comigo aqui dentro – nós dois enroscados no sofá, assistindo à Oprah Winfrey na TV… Eu percebia aquilo em seus olhos frios e amarelados. Era uma espécie melancólica de anseio por um amor que precisava esperar sua hora ou que talvez nunca viesse a se concretizar…

Suas lamúrias me enlouqueciam enquanto eu o carregava no colo até a porta da frente. Pouco antes de arremessar sua carcaça negra e desprezível sobre a fina camada de neve que se acumulava na varanda desde a meia-noite, ergui-o até que ficasse de frente para meu rosto e dei-lhe um profundo beijo na boca. Forcei minha língua entre seus caninos pontiagudos e rolei-a pelos sulcos do céu da boca. Agarrei seus ombros fortes e jovens e o trouxe mais perto de mim. Ele ronronava tão alto e tão forte que nós dois começamos a tremer.

“Ha, doce Screwjack”, sussurei. “Estamos perdidos. Mama se mandou para a escola de Corretores Imobiliários. De lá vai para o El Centro e depois talvez acabe indo parar na Daculdade de Direito. Nunca mais a veremos.”

Ele me encarou sem dizer nada. Então, se contorceu até escapar de minhas mãos e caiu no chão… Sumiu de repente, sem ruído algum, como se fosse uma espécie de fantasma de meu outro mundo… enquanto seu vulto negro e imundo saltava para longe em meio à pilha de lenha e através do túnel obscuro entre o abeto azulado e a grade fria e prateada do radiador do Volvo, tive a certeza de que nunca mais o veria.

Não o veria por pelo menos seis anos, e provavelmente nem depois. Quando nos encontrássemos novamente ele pesaria 90 kg, me viraria de bruços e me foderia por trás como se fosse uma pantera.

Seria meu animal e meu comedor, meu perfeito amante onírico, como aquele fantasma que devo esquecer… e a bela e delicada tatuagem que custará US$ 1.500 para ser retirada a laser do meu ombro.

Senhor, perdoa-me por amar este animal de tal forma, e por desejá-lo dentro de mim com tamanha intensidade, a ponto de ansiar pela ocasião em que o sentirei roçar a delicada pele vermelha de meu coração… e por desejar deitar ao seu lado e dormir como um bebê, nossos corpos enroscados compartilhando o mesmo sonho selvagem.

Sou culpado, Senhor, mas também sou um amante – e sou um de seus melhores filhos, como sabes. E, sim, embora eu tenha caminhado em meio a diversas sombras estranhas e agido como louco de vez em quando, e até mesmo babado sobre muitos Sumos-Sacerdotes, nunca o constrangi… sendo assim, deixe-me em paz, seu desgraçado, e faça o sr. Screwjack voltar para mim. Se os outros tiverem alguma dúvida ou quiserem fazer algum comentário depreciativo, mande-os comer merda até morrer.

Quem dentre eles é puro o bastante para atirar a primeira pedra? Ou para me encarar com olhos remelentos e acusadores, afirmando que errei ao me apaixonar por um enorme gato preto?

Esquece, Senhor. Deixa comigo. Só peço que mantenha os advogados a uma boa distância de mim, e faça o mesmo com os puritanos… e deixe-nos a sós para que possamos fazer bebês.

escrito por Hunter S. Thompson (do livro “Screwjack”, editora Conrad, 2005).

Alguma Coisa

Posted in Literatura with tags , , , on janeiro 20, 2012 by canibuk

estou sem fósforos.

as molas de meu sofá

estouraram.

roubaram minha maleta.

roubaram minha tela a óleo de

dois olhos rosados.

meu carro quebrou.

lesmas escalam as paredes de meu banheiro.

meu coração está partido.

mas as ações tiveram um dia de alta

no mercado.

de Charles Bukowski.

 

Posted in Literatura with tags , , , , , , , on dezembro 18, 2011 by canibuk

Não fui, na infância, como os outros

e nunca vi como os outros viam.

Minhas paixões eu não podia

tirar de fonte igual à deles;

e era outra a origem da tristeza,

e era outro o canto, que acordava

o coração para a alegria.

Tudo o que amei, amei sozinho.

Assim, na minha infância, na alba

da tormentosa vida, ergueu-se,

no bem, no mal, de cada abismo,

a encadear-me, o meu mistério.

Veio dos rios, veio da fonte,

da rubra escarpa da montanha,

do sol, que todo me envolvia

em outonais clarões dourados;

e dos relampagos vermelhos

que o céu inteiro incendiavam;

e do trovão, da tempestade,

daquela nuvem que se alteava,

só, no amplo azul do céu puríssimo,

como um demônio, ante meus olhos.

poesia de Edgar Allan Poe.

(do livro “Poesia & Prosa: Obras Escolhidas de Edgar Allan Poe”, clássicos de bolso da Editora Águia de Ouro, tradução de Oscar Mendes e Milton Amado, com biográfia de Poe por Hervey Allen e um estudo crítico da obra de Poe por Charles Baudelaire. Foi com este livro, lá por 1984 – não faço idéia do ano de publicação desta coleção de bolso porque no próprio livro não diz – que tomei contato com praticamente toda a obra de Edgar Allan Poe, eram 665 páginas de novelas, contos, colóquios, poemas, ensaios e “Eureka” na íntegra, tudo neste único livro. Sou sincero quando afirmo que as crianças do passado eram mais felizes).

Grandes Problemas não representam Grandes Problemas

Posted in Buk & Baiestorf, Literatura, Nossa Arte with tags , , , , , , , , , , on dezembro 13, 2011 by canibuk

O ser sem inspiração sentou-se diante do espelho e olhou longamente seus próprios olhos. Deixou que o vento desarranjasse seus cabelos e se perdeu em devaneios nostálgicos, onde pensou:

“Sou prisioneiro de mim mesmo. Vivo vinte e quatro horas por dia preso a minha existência medíocre. E minha mediocridade existencial é meu purgatório. E vegeto com a certeza de não ter como fugir de mim mesmo. E vou viver por infinitas eternidades. E serei torturado por mim mesmo até o fim dos tempos. E tentarei, a todo custo, esquecer como pensar. E talvez então, com a mente vazia, me tornarei a felicidade pura e simples…”

Os quatro manguaceiros do apocalipse olhavam o ser sem inspiração e cada qual, a sua maneira única, tinha sua opinião sobre a tristeza quase contagiante que rondava os humanos ainda pensantes.

E o sensato pensou:

“Os prazeres intelectuais não me são suficientes!”

E o ateu resmungou:

“O Vazio é a lei que domina o homem movido pela fé!”

E o puro de coração falou:

“Eu nasci para rir da humanidade!”

E o niilista otimista gritou:

“Por favor, alguém destrua a humanidade, não servimos para nada!”

E o ser sem inspiração ficou ali, em silêncio, para todo o sempre até criar raízes e se tornar uma frondosa árvore solitária em uma planície também solitária.

E eu pensei no quanto achava triste as pessoas que desistem de lutar, que se entregam ao comodismo, que deixam de experimentar novas sensações por medo, vergonha, timidez; que deixam de tentar a expansão da mente e se entregam de corpo e alma aos casulos que prometem uma vida pacata cheia de uma felicidade que pode ser comprada com seu trabalho escravo e sua cabeça baixa. E eu me lembrei de uma frase, não sei de quem, escrita no livro “Sociobiologia ou Ecologia Social ?” do Murray Bookchin que dizia “Ficar alheio, mesmo conscientemente, ao mundo, ou não ficar e intervir, é uma opção de cada um.”. E tinha certeza de que continuar a luta pela igualdade dos seres, para qualquer homem ainda pensante, era uma questão de honra, uma virtude pela qual vale a pena lutar.

escrito por Petter Baiestorf.

O autor em momento de brinde supremo.

Um Balde de Felicidade

Posted in Literatura, Nossa Arte with tags , , , , , , , , on novembro 13, 2011 by canibuk

Um capro hirsuto de longas barbas brancas parou a minha frente encarando-me nos olhos. Deixava que o pus escorresse de sua boca e a cada gargalhada de deboche respingava suas impurezas sobre minha face suja de hoatchi. Mas acho que estava tudo bem, já que fui eu quem o convidou para vir até minha casa. Bêbado sempre faço coisas estúpidas como convidar um capro hirsuto teratóide teomaníaco de longas barbas brancas para beber a saidera em minha casa. Libélulas brilhantes abandonavam as longas barbas de meu companheiro de copo. Cenouras esverdeadas flutuantes, com leves bolores de mofo, entoavam cantigas da antigüidade. Equinodermos de tegumento coriáceo e corpos cilíndricos conversavam sobre a linfagioma que conquistou uma bela fada de cor azul. Os marinheiros do Caos Caótico – um navio chinês, é preciso que se diga – estavam no meu banheiro vomitando uns sobre os outros. Não saberia dizer se também estavam bêbados ou se seria algum tipo de enjôo de terra firme. Após pegar mais um balde de cerveja não encontro mais o capro hirsuto. Um dos marinheiros me diz que estou tendo alucinações alcoólicas, delírios de bêbado e afirmou rindo:

“Não existem capros falantes de longas barbas brancas !”.

Bebo cerveja do balde.

“Que diabos !!!”, pensei mais grogue do que o habitual, “Cada um imagina o que quer ou, pelo menos, o que consegue !!!”, e então vou prá cama dormir com um porco à paraguaia sionista já assado, e meu balde de cerveja , lógico !!!

escrito por Petter Baiestorf (1998).

ilustração de Reginaldo (1999).

Formigamento Bucal

Posted in Conto, Literatura, Nossa Arte with tags , , , , on agosto 27, 2011 by canibuk

Minhas gengivas sangram toda vez que beijo a velha esposa do Bispo. A megera se diverte com meu espanto diante do inexplicável fato. Diz que o sangramento é uma punição de Deus, eterno amigo do Bispo traído. Velha gorda inútil de crenças malditas, mal sabe ela em que acredita. Eu mesmo acabarei por descobrir, num futuro não tão distante, que os sangramentos em minhas gengivas são uma doença. Doença sexualmente transmissível. Doença que já se desenvolve em seu DNA de gordinha sexy e que, se o Bispo ainda não foi infectado, é porque deve estar trepando fora de casa, em algum puteiro celestial. Não ouço nada do que ela fala gargalhando, cuspindo, babando, e pelado mesmo, vou me sentar na sala de gelo cristalino. O frio absurdo faz o sangue parar de circular em minhas veias e ao mesmo tempo estanca a sangueira que jorra de minha boca, que por essas horas bem pode já estar sendo confundida com uma adorável boceta menstruada. Após o auto-congelamento os pingüins-mirins levam-me embora, largando-me num bar com mesas em forma de cogumelos alucinógenos onde as garçonetes possuem cheiro de peyote e forma de longos cactos da Groelândia. O dono do bar, um índio-chinês, possui duas filhas lindas. Uma delas, Anita Lin, nasceu sem pernas, anda amarrada as costas de um jovem cego argentino cujo passado na Bósnia desconheço. Ergo a mão direita e peço um balde de cerveja quente. Preciso me recompor. Com tanta desgraça no mundo preciso me embebedar, não para esquecer os problemas mundiais, mas sim para mostrar à todos os mendigos amigos da rua que posso me sentar num bar e beber a vontade com as graças da velha esposa gorda do Bispo e sua grana.

Escrito por Petter Baiestorf (fragmento do “Amor, Sexo & Outras Bebidas Delirantes”). Ilustração de Rosemário HS.

A Mulher Mais Linda da Cidade

Posted in Conto, Literatura with tags , , , , , , , , on agosto 26, 2011 by canibuk

Das 5 irmãs, Cass era a mais moça e a mais bela. E a mais linda mulher da cidade. Mestiça de índia, de corpo flexível, estranho, sinuoso que nem cobra e fogoso como os olhos: um fogaréu vivo ambulante. Espírito impaciente para romper o molde incapaz de retê-lo. Os cabelos pretos, longos e sedosos, ondulavam e balançavam ao andar. Sempre muito animada ou então deprimida, com Cass não havia esse negócio de meio termo. Segundo alguns, era louca. Opinião de apáticos. Que jamais poderiam compreendê-la. Para os homens, parecia apenas uma máquina de fazer sexo e pouco estavam ligando para a possibilidade de que fosse maluca. E passava a vida a dançar, a namorar e beijar. Mas, salvo raras exceções, na hora agá sempre encontrava forma de sumir e deixar todo mundo na mão.

As irmãs a acusavam de desperdiçar sua beleza, de falta de tino; só que Cass não era boba e sabia muito bem o que queria: pintava, dançava, cantava, dedicava-se a trabalhos de argila e, quando alguém se feria, na carne ou no espírito, a pena que sentia era uma coisa vinda do fundo da alma. A mentalidade é que simplesmente destoava das demais: nada tinha de prática. Quando seus namorados ficavam atraídos por ela, as irmãs se enciumavam e se enfureciam, achando que não sabia aproveitá-los como mereciam. Costumava mostrar-se boazinha com os feios e revoltava-se contra os considerados bonitos — “uns frouxos”, dizia, “sem graça nenhuma. Pensam que basta ter orelhinhas perfeitas e nariz bem modelado… Tudo por fora e nada por dentro…” Quando perdia a paciência, chegava às raias da loucura; tinha um gênio que alguns qualificavam de insanidade mental.

O pai havia morrido alcoólatra e a mãe fugira de casa, abandonando as filhas. As meninas procuraram um parente, que resolveu interná-las num convento. Experiência nada interessante, sobretudo para Cass. As colegas eram muito ciumentas e teve que brigar com a maioria. Trazia marcas de lâmina de gilete por todo o braço esquerdo, de tanto se defender durante suas brigas. Guardava, inclusive, uma cicatriz indelével na face esquerda, que em vez de empanar-lhe a beleza, só servia para realçá-la.

Conheci Cass uma noite no West End Bar, Fazia vários dias que tinha saído do convento. Por ser a caçula entre as irmãs, fora a última a sair. Simplesmente entrou e sentou do meu lado. Eu era provavelmente o homem mais feio da cidade — o que bem pode ter contribuído.

— Quer um drinque? — perguntei.

— Claro, por que não?

Não creio que houvesse nada de especial na conversa que tivemos essa noite. Foi mais a impressão que causava. Tinha me escolhido e ponto final. Sem a menor coação. Gostou da bebida e tomou varias doses. Não parecia ser de maior idade, mas, não sei como, ninguém se recusava a servi-la. Talvez tivesse carteira de identidade falsa, sei lá. O certo é que toda vez que voltava do toalete para sentar do meu lado, me dava uma pontada de orgulho. Não só era a mais linda mulher da cidade como também das mais belas que vi em toda minha vida. Passei-lhe o braço pela cintura e dei-lhe um beijo.

— Me acha bonita? — perguntou.

— Lógico que acho, mas não é só isso… é mais que uma simples questão de beleza…

— As pessoas sempre me acusam de ser bonita. Acha mesmo que eu sou?

— Bonita não é bem o termo, e nem te faz justiça.

Cass meteu a mão na bolsa. Julguei que estivesse procurando um lenço. Mas tirou um longo grampo de chapéu. Antes que pudesse impedir, já tinha espetado o tal grampo, de lado, na ponta do nariz. Senti asco e horror.

Ela me olhou e riu.

— E agora, ainda me acha bonita? O que é que você acha agora, cara?

Puxei o grampo, estancando o sangue com o lenço que trazia no bolso. Diversas pessoas, inclusive o sujeito que atendia no balcão, tinham assistido a cena. Ele veio até a mesa:

— Olha — disse para Cass, — se fizer isso de novo, vai ter que dar o fora. Aqui ninguém gosta de drama.

— Ah, vai te foder, cara!

— É melhor não dar mais bebida pra ela — aconselhou o sujeito.

— Não tem perigo — prometi.

— O nariz é meu — protestou Cass, — faço dele o que bem entendo.

— Não faz, não — retruquei, — porque isso me dói.

— Quer dizer que eu cravo o grampo no nariz e você é que sente dor?

— Sinto, sim. Palavra.

— Está bem, pode deixar que eu não cravo mais. Fica sossegado.

Me beijou, ainda sorrindo e com o lenço encostado no nariz. Na hora de fechar o bar, fomos para onde eu morava. Tinha um pouco de cerveja na geladeira e ficamos lá sentados, conversando. E só então percebi que estava diante de uma criatura cheia de delicadeza e carinho. Que se traia sem se dar conta. Ao mesmo tempo que se encolhia numa mistura de insensatez e incoerência. Uma verdadeira preciosidade. Uma jóia, linda e espiritual. Talvez algum homem, uma coisa qualquer, um dia a destruísse para sempre. Fiquei torcendo para que não fosse eu.

Deitamos na cama e, depois que apaguei a luz, Cass perguntou:

— Quando é que você quer transar? Agora ou amanhã de manhã?

— Amanhã de manhã — respondi, — virando de costas pra ela.

No dia seguinte me levantei e fiz dois cafés. Levei o dela na cama.

Deu uma risada.

— Você é o primeiro homem que conheço que não quis transar de noite.

— Deixa pra lá — retruquei, — a gente nem precisa disso.

— Não, pára aí, agora me deu vontade. Espera um pouco que não demoro.

Foi até o banheiro e voltou em seguida, com uma aparência simplesmente sensacional — os longos cabelos pretos brilhando, os olhos e a boca brilhando, aquilo brilhando… Mostrava o corpo com calma, como a coisa boa que era. Meteu-se em baixo do lençol.

— Vem de uma vez, gostosão.

Deitei na cama.

Beijava com entrega, mas sem se afobar. Passei-lhe as mãos pelo corpo todo, por entre os cabelos. Fui por cima. Era quente e apertada. Comecei a meter devagar, compassadamente, não querendo acabar logo. Os olhos dela encaravam, fixos, os meus.

— Qual é o teu nome? — perguntei.

— Porra, que diferença faz? — replicou.

Ri e continuei metendo. Mais tarde se vestiu e levei-a de carro de novo para o bar. Mas não foi nada fácil esquecê-la. Eu não andava trabalhando e dormi até às 2 da tarde. Depois levantei e li o jornal. Estava na banheira quando ela entrou com uma folhagem grande na mão — uma folha de inhame.

— Sabia que ia te encontrar no banho — disse, — por isso trouxe isto aqui pra cobrir esse teu troço aí, seu nudista.

E atirou a folha de inhame dentro da banheira.

— Como adivinhou que eu estava aqui?

— Adivinhando, ora.

Chegava quase sempre quando eu estava tomando banho. O horário podia variar, mas Cass raramente se enganava. E tinha todos os dias a folha de inhame. Depois a gente trepava.

Houve uma ou duas noites em que telefonou e tive que ir pagar a fiança para livrá-la da detenção por embriaguez ou desordem.

— Esses filhos da puta — disse ela, — só porque pagam umas biritas pensam que são donos da gente.

— Quem topa o convite já está comprando barulho.

— Imaginei que estivessem interessados em mim e não apenas no meu corpo.

— Eu estou interessado em você e também no seu corpo. Mas duvido muito que a maioria não se contente com o corpo.

Me ausentei seis meses da cidade, vagabundeei um pouco e acabei voltando. Não esqueci Cass, mas a gente havia discutido por algum motivo qualquer e me deu vontade de zanzar por aí. Quando cheguei, supus que tivesse sumido, mas nem fazia meia hora que estava sentado no West End Bar quando entrou e veio sentar do meu lado.

— Como é, seu sacana, pelo que vejo já voltou.

Pedi bebida para ela. Depois olhei. Estava com um vestido de gola fechada. Cass jamais tinha andado com um traje desses. E logo abaixo de cada olheira, espetados, havia dois grampos com ponta de vidro. Só dava para ver as pontas, mas os grampos, virados para baixo, estavam enterrados na carne do rosto.

— Porra, ainda não desistiu de estragar sua beleza?

— Que nada, seu bobo, agora é moda.

— Pirou de vez.

— Sabe que sinto saudade — comentou.

— Não tem mais ninguém no pedaço?

— Não, só você. Mas agora resolvi dar uma de puta. Cobro dez pratas. Pra você, porém, é de graça.

— Tira esses grampos daí.

— Negativo. É moda.

— Estão me deixando chateado.

— Tem certeza?

— Claro que tenho, pô.

Cass tirou os grampos devagar e guardou na bolsa.

— Por que é que faz tanta questão de esculhambar o teu rosto? — perguntei. — Quando vai se conformar com a idéia de ser bonita?

— Quando as pessoas pararem de pensar que é a única coisa que eu sou. Beleza não vale nada e depois não dura. Você nem sabe a sorte que tem de ser feio. Assim, quando alguém simpatiza contigo, já sabe que é por outra razão.

— Então tá. Sorte minha, né?

— Não que você seja feio. Os outros é que acham. Até que a tua cara é bacana.

— Muito obrigado.

Tomamos outro drinque.

— O que anda fazendo? — perguntou.

— Nada. Não há jeito de me interessar por coisa alguma. Falta de ânimo.

— Eu também. Se fosse mulher, podia ser puta.

— Acho que não ia gostar de um contato tão íntimo com tantos caras desconhecidos. Acaba enchendo.

— Puro fato, acaba enchendo mesmo. Tudo acaba enchendo.

Saímos juntos do bar. Na rua as pessoas ainda se espantavam com Cass. Continuava linda, talvez mais do que antes.

Fomos para o meu endereço. Abri uma garrafa de vinho e ficamos batendo papo. Entre nós dois a conversa sempre fluía espontânea. Ela falava um pouco, eu prestava atenção, e depois chegava a minha vez. Nosso diálogo era sempre assim, simples, sem esforço nenhum. Parecia que tínhamos segredos em comum. Quando se descobria um que valesse a pena, Cass dava aquela risada — da maneira que só ela sabia dar. Era como a alegria provocada por uma fogueira. Enquanto conversávamos, fomos nos beijando e aproximando cada vez mais. Ficamos com tesão e resolvemos ir para a cama, Foi então que Cass tirou o vestido de gola fechada e vi a horrenda cicatriz irregular no pescoço — grande e saliente.

— Puta que pariu, criatura — exclamei, já deitado. — Puta que pariu. Como é que você foi me fazer uma coisa dessas?

— Experimentei uma noite, com um caco de garrafa. Não gosta mais de mim? Deixei de ser bonita?

Puxei-a para a cama e dei-lhe um beijo na boca. Me empurrou para trás e riu.

— Tem homens que me pagam as dez pratas, aí tiro a roupa e desistem de transar. E eu guardo o dinheiro pra mim. É engraçadíssimo.

— Se é — retruquei, — estou quase morrendo de tanto rir… Cass, sua cretina, eu amo você… mas pára com esse negócio de querer se destruir. Você é a mulher mais cheia de vida que já encontrei.

Beijamos de novo. Começou a chorar baixinho. Sentia-lhe as lágrimas no rosto. Aqueles longos cabelos pretos me cobriam as costas feito mortalha. Colamos os corpos e começamos a trepar, lenta, sombria e maravilhosamente bem.

Na manhã seguinte acordei com Cass já em pé, preparando o café. Dava a impressão de estar perfeitamente calma e feliz. Até cantarolava. Fiquei ali deitado, contente com a felicidade dela. Por fim veio até a cama e me sacudiu.

— Levanta, cafajeste! Joga um pouco de água fria nessa cara e nessa pica e vem participar da festa!

Naquele dia convidei-a para ir à praia de carro. Como estávamos na metade da semana e o verão ainda não tinha chegado, encontramos tudo maravilhosamente deserto. Ratos de praia, com a roupa em farrapos, dormiam espalhados pelo gramado longe da areia. Outros, sentados em bancos de pedra, dividiam uma garrafa de bebida tristonha. Gaivotas esvoaçavam no ar, descuidadas e no entanto aturdidas. Velhinhas de seus 70 ou 80 anos, lado a lado nos bancos, comentavam a venda de imóveis herdados de maridos mortos há muito tempo, vitimados pelo ritmo e estupidez da sobrevivência. Por causa de tudo isso, respirava-se uma atmosfera de paz e ficamos andando, para cima e para baixo, deitando e espreguiçando-nos na relva, sem falar quase nada. Com aquela sensação simplesmente gostosa de estar juntos. Comprei sanduíches, batata frita e uns copos de bebida e nos deixamos ficar sentados, comendo na areia. Depois me abracei a Cass e dormimos encostados um no outro durante quase uma hora. Não sei por quê, mas foi melhor do que se tivessemos transado. Quando acordamos, voltamos de carro para onde eu morava e fiz o jantar. Jantamos e sugeri que fossemos para a cama. Cass hesitou um bocado de tempo, me olhando, e ao respondeu, pensativa:

— Não.

Levei-a outra vez até o bar, paguei-lhe um drinque e vim-me embora. No dia seguinte encontrei serviço como empacotador numa fábrica e passei o resto da semana trabalhando. Andava cansado demais para cogitar de sair à noite, mas naquela sexta-feira acabei indo ao West End Bar. Sentei e esperei por Cass. Passaram-se horas. Depois que já estava bastante bêbado, o sujeito que atendia no balcão me disse:

— Uma pena o que houve com sua amiga.

— Pena por quê? — estranhei.

— Desculpe. Pensei que soubesse.

— Não.

— Se suicidou. Foi enterrada ontem.

— Enterrada? — repeti.

Estava com a sensação de que ela ia entrar a qualquer momento pela porta da rua. Como poderia estar morta?

— Sim, pelas irmãs.

— Se suicidou? Pode-se saber de que modo?

— Cortou a garganta.

— Ah. Me dá outra dose.

Bebi até a hora de fechar. Cass, a mais bela das 5 irmãs, a mais linda mulher da cidade. Consegui ir dirigindo até onde morava. Não parava de pensar. Deveria ter insistido para que ficasse comigo em vez de aceitar aquele “não”. Todo o seu jeito era de quem gostava de mim. Eu é que simplesmente tinha bancado o durão, decerto por preguiça, por ser desligado demais. Merecia a minha morte e a dela. Era um cão. Não, para que pôr a culpa nos cães? Levantei, encontrei uma garrafa de vinho e bebi quase inteira. Cass, a garota mais linda da cidade, morta aos vinte anos.

Lá fora, na rua, alguém buzinou dentro de um carro. Uma buzina fortíssima, insistente. Bati a garrafa com força e gritei:

— MERDA! PÁRA COM ISSO, SEU FILHO DA PUTA!

A noite foi ficando cada vez mais escura e eu não podia fazer mais nada.

A mulher mais linda da cidade e o velho safado.