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Bad Erna é um projeto de electro-horror cujos membros anônimos são seguidores de Erna, a guerreira feminista, que após a batalha de Rìgspula organizou uma festa rave com tambores feitos com a pele humana de seus inimigos. Essa festa durou 11 dias e 11 noites, regadas à paganismo, chás de cogumelos e sons estridentes que quebravam o silêncio das florestas nórdicas de 1033 d.C.
Ups! trás 11 composições, uma para cada noite/dia da rave original, com liberdades para misturar a guerreira Erna com Legs, John Carpenter e a melodia do Hula Hula nas praias cariocas cheias de docinhos sintéticos eletrizantes.
“The Tingler” (“Força Diabólica”, 1959, 82 min.) de William Castle. Com: Vincent Price, Judith Evelyn, Phillip Coolidge, Darryl Hickman e Patricia Cutts.
Um patologista (Vincent Price, hilário) descobre que, quando o ser humano sente medo extremo e não pode gritar, um parasita chamado Tingler se desenvolve na coluna vertebral. Este parasita se alimenta do medo humano, cresce e se enrola na sua coluna vertebral, podendo matar o hospedeiro. Tingler desaparece/morre se o hospedeiro gritar alto e com vontade, dando vazão ao seu medo. O dono de um cinema (Phillip Coolidge) chama o patologista depois que sua esposa surda-muda (Judith Evelyn) morre em circunstâncias misteriosas e durante a autópsia ele consegue isolar o parasita (porque um mudo não pode gritar) que se parece com uma grande centopéia alienígena de borracha. Depois de algumas revelações divertidas (que não convêm contar aqui), Tingler – o parasita sapeca – escapa e ataca dentro do cinema de Coolidge, dando abertura à uma genial seqüência de metalinguagem do cinema: O parasita entra no feixe de luz que leva as imagens para a tela de cinema e a película queima ficando tudo escuro, com a potente voz de Price pedindo aos espectadores do cinema que gritem com vontade para que o Tingler seja morto. Quando as luzes se acendem o monstrengo já era!
Após o estrondoso sucesso de “House on Haunted Hill/A Casa dos Maus Espíritos” (também de 1959), a dupla Castle-Price ganhou sinal verdeda Columbia Pictures para a produção de “The Tingler”, que além de sua história completamente nonsense, trazia uma das primeiras viagens de LSD mostrada num filme (o roteirista Robb White havia experimentado LSD na UCLA quando ainda era uma droga legalizada, lógico que a interpretação que Vincent Price dá quando chapado é de uma canastrice exemplar, nem de longe lembrando alguém que esteja “viajando”) e o uso do “Percepto!”, um gimmick de William Castle que dava choques em algumas poltronas dos cinemas onde o filme era exibido. Estes choques no público eram ativados justamente na cena onde o parasita havia escapado para o cinema (nesta cenas todas as luzes do cinema exibidor ficavam desligadas, aumentando a tensão) e o público ficava levando choques e gritando feitos loucos para “matar” tingler. Para ter uma idéias melhor da diversão que era essas exibições, veja o filme “Matinee” (1993) de Joe Dante, onde John Goodman faz o papel de um cineasta inspirado em William Castle.
William Schloss (que significa “Castle/Castelo” em alemão), nascido em 1914 e falecido em 1977, começou a dirigir filmes no início dos anos 40, foi assistente de Orson Welles em “The Lady from Shanghai” (1947). Chamou atenção do público depois que começou a utilizar gimmicks para atrair espectadores no filme “Macabre” (1958), onde um seguro de mil dólares era oferecido a cada pessoa do público em caso de mrote por medo durante o filme, além disso, enfermeiros e um carro funerário ficava estacionado na frente do cinema. Em “13 Ghosts” (1960), filmado em “Illusion-o”, em determinados momentos o público deveria usar um apetrecho feito de celofane azul/vermelho para ver os fantasmas no filme, lógico que quem optava por não usar o apetrecho continuava vendo os fantasmas do mesmo jeito. Em “Homicidal” (1961) seu gimmick promocional era tão complicado que muitos donos de cinema se recusaram a reservar espaço para o filme. Em 1968 William Castle produziu um clássico do cinema de horror mundial, “Rosemary’s Baby/O Bebê de Rosemary”, dirigido por Roman Polanski.
Segundo o texto de John Waters que vem no encarte do DVD de “The Tingler” lançado no Brasil pela Columbia Pictures, “Percepto era um equipamento bastante caro (seu custo foi de mais de 250 mil dólares). Em cada dez poltronas, um era instalado, impulsionado por um pequeno motor, que ligados à cabine de projeção, o projecionista se guiava por pequenas marcas impressas no filme. Seguindo as instruções, um interruptor acionava uma vibração e uma pequena descarga de eletricidade nas poltronas. Decidido a testar Percepto antes da estréia de “The Tingler, Castle fez um acordo com o proprietário do cinema Van Nuys, da Califórnia, para permitir a instalação numa exibição no início da noite. A mão de algum gaiato, contudo, acionou o interruptor em um dos momentos mais trágicos de “Uma Cruz à Beira do Abismo”, filme em exibição naquele momento. As inesperadas ondas de vibração causaram pânico”.
Hipócrates olhou para o rosto comprido de Bug e lhe disse: “Mantendo os pés quentes, a cabeça fresca e os intestinos livres viverás muito!”. Bug levou as mãos a boca e regurgitou litros de cerveja que havia bebido sem saber o significado da palavra moderação. Seus jorros de vomito acabaram por encharcar Hipócrates que ali parado, surpreso, estava a ver pingar os líquidos de outro ser vivo. Bug não queria ouvir ouvir Hipócrates que, irritado, começou a cantarolar algo que dizia mais ou menos isso que transcrevo aqui: “Em um ferimento o aparecimento de convulsão é perigoso; nos convalescentes, se uma parte permanece dolorosa, é nela que se forma os depósitos; as expectorações escuras, sanguinolentas ou purulentas, nas febres não intermitentes são más; os que nas febres tem urina turvas sofrem de cefaléia; uma convulsão sobrevinda após grande hemorragia é má; uma grávida cujos seios murcham rapidamente vai abortar; as úlceras que aparecem no corpo dos hidrópicosdificilmente curam…”, até ser impedido de continuar sua canção ao levar uma marretada no crânio. Kei Ishii Chow, também bêbado, lhe diz algo como “Minha vida foi prejudicada pela proibição de dissecar cadáveres femininos!”. Bug limpa o vomito grudado em sua boca e fica assistindo Hipócrates recolher seu próprio cérebro com uma pequena colher de chá. Hipócrates, sem deixar de recolher seus neurônios espatifados, olha para Kei Ishii Chow e com o maxilar trincado lhe diz: “A vida é curta, a arte é longa, a ocasião fugidia, a experiência enganadora, o julgamento difícil…”, parando de falar quando avista, perplexo, Uzi Uschi e Voltaire, vestidos de menininhas, vindo em sua direção com um pequenao banquinho de gelatina nas mãos, o qual Voltaire coloca no chão, sobre em cima, e faz um discurso que dizia: “Que arte poderosa poderia produzir uma matéria que, tendo sido preparada pelas glândulas salivares, em seguida pelo suco gástrico, depois pela bílis hepática e pelo suco pancreático, tendo fornecido no seu caminho um quilo que se transformou em sangue, tornou-se finalmente esse composto fétido e pútrido que sai dos intestinos pela surpreendente força dos músculos?”. Uzi Uschi bebe num único gole uma garrafa de cerveja e aplaudindo grita palavras furiosas em latim mal pronunciado onde se fez ouvir as palavras “Homo doctus sede verus atheus!”. Kei Ishii Chow brinda a si mesmo e diz a todos: “A alma espera seis semanas até que o feto se forme e só então ocupa a glândula pineal; mas, se depara com um germe falso, volta atrás, aguardando então uma ocasição mais propícia para dominar o corpo mole do embrião recém formado!”. Voltaire, tão Bêbado quanto todos, grita para Kei Ishii Chow: “Ei, seu viado alcoólatra, essa teoria é minha!!!”. Hipócrates gargalha e diz para Voltaire: “Foda-se, seu filósofo de bosta!!!” e recoloca sua massa cinzenta de volta ao crânio destruido. Borboletas corcundas materializam caixas de cervejas e todos exclamam um “Hóóóóó!!!” conjunto de felicidade, esquecendo então a inútil discussão e se atiram sobre as magníficas garrafas que brilham como raios de sol…
Petter Baiestorf (“Acontecimentos Coruscantes do Ex-Escanifrado Uzi Uschi e seus Amigos Inuptos”, 2001).
O autor criando o “Mundo Encantado de Uzi Uschi e seus amigos” (1997).