Arquivo para Maila nurmi

Harry Thomas: Monstros Bananas à Preços Idem

Posted in Cinema, Museu Coffin Souza with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on novembro 18, 2011 by canibuk

O norte americano Harry Thomas, nascido na Pensylvania em 22 de setembro de 1909, se envolveu com a indústria do cinema primeiro como figurante em filmes como “Pardon Us” (1931), com a dupla humorística Laurel & Hardy (O Gordo & O Magro) e depois se interessou por maquiagem, sendo treinado por William Tutle e Jack Dawn, chefes do departamento da MGM. Durante a fase clássica de filmes de terror da Universal, trabalhou sob ordens de Jack Pierce, que ele considerava seu verdadeiro mestre. Sua vocação para trabalhos rápidos e de baixo custo o levou a televisão, onde foi responsável pela maquiagem em 52 episódios da série “Adventures of Superman” (1951-1954) e pelo filme de cinema realizado para divulgar o programa “Superman and The Mole Man” (1951) de Lee Sholem. Nesta aventura tipicamente “B”, o super-herói vindo do planeta Krypton (vivido pela primeira vez por seu mais famoso intérprete George Reeves) enfrenta a ameaça dos terríveis homens toupeiras, que surgem do fundo da terra para ameaçar os humanos com suas armas de raios. As criaturas, que no final estavam apenas protegendo seu habitat, foram vividas por anões com falsas cabeças pontudas e grossas sobrancelhas. Harry Thomas estava criando seu estilo. Em “Cat Women of the Moon” (“As Mulheres-Gato da Lua”, 1953 em 3D) de Arthur Hilton,Thomas precisou construir duas aranhas gigantes com chifres, já que as telepáticas mulheres-gato da lua que tentavam dominar astronautas terrenos, eram garotas com uniformes colantes pretos com quase nada que lembrasse gatos ou felinos na maquiagem, a não ser longas unhas feitas de pedaços de celulóide cortados e pintados. Sua primeira criação mais complexa surgiu no terror “The Neanderthal Man” (“O Homem Fera”, 1953) de E.A. DuPont, sobre um cientista maluco que desenvolve um soro que o faz regredir a um estágio pré-histórico. A cena de transformação, realizada quadro a quadro, enquanto Thomas ia maquiando o ator Robert Shayne, ao estilo das maquiagens de Jack Pierce para a série de lobisomens dos anos 40, é bastante eficiente, mas destoa totalmente em visual com a pesada (e sem movimentos) máscara feita com algodão, cola, pelos e cascas de laranja secas (fazendo os dentes disformes), além de uma peruca ridícula, construída para o dublê e treinador de animais que precisava no final enfrentar um também muito falso tigre-de-dentes-de-sabre.

Harry Thomas conta no livro “Nightmare of Ecstasy – The Life and Art of Edward D. Wood, Jr.” (Feral House Books, 1992) de Rudolph Grey, que foi convidado pelo jovem cineasta para ir até sua casa para receber o roteiro de seu novo filme. “Eu peguei o endereço e bati na porta. Uma mulher alta, bem vestida me atendeu , mandou sentar e me serviu uma xícara de chá. Eu perguntei se Eddie estava em casa e ela me disse: ”Eu sou Ed Wood”. E eu estava chocado e perguntei “Oh! Você não é a irmã de Ed?“ -“Não, eu sou realmente Ed. É desta forma que quero aparecer em “Glen or Glenda””. Assim, o maquiador acostumado apenas com filmes de ficção científica e monstros teve que trabalhar com cosméticos femininos e embelezar Wood Jr. em seu épico sobre travestismo “Gen or Glenda?” (1953). Além disto, Thomas faz uma ponta na cena em que o personagem Glen tem um pesadelo onde várias pessoas e o demônio (Captain De Zita) o atormentam (ele é o personagem de bigodes, creditado como: “Man in nightmare”). “Glen or Genda estava divorciado completamente do que eu fazia, mas foi divertido.”

Então Harry foi contratado para criar os alienígenas do planeta Astron Delta, que dominam um cientista (Peter Gaves) para ser seu espião no ultra-barato “Killers From Space” (“Mundos Que Se Chocam”, 1954) de W.Lee Wilder. Completamente sem orçamento, ele colocou o que se convencionou chamar de “olhos-de-ping-pong” em senhores de meia idade com macacões pretos e cintos coloridos. Na verdade Thomas utilizou as cavidades de caixas de ovos de plástico pintadas e com pequenos orifícios para os pobres extras poderem enxergar e disfarçou-as com espessas sobrancelhas, sua marca pessoal.

Acostumado com as extravagâncias de Ed Wood, Harry Thomas recebeu um roteiro promissor, afinal “The Bride of the Monster” (1955) prometia Bela Lugosi como um cientista louco com um assistente deformado chamado Lobo (o lutador Tor Johnson), um polvo gigante e etc. Mas novamente as imposições de orçamento foram mais fortes, e as pressas nas filmagens ficam visíveis na maquiagem de Tor, que muda de cena para cena e o polvo na verdade foi roubado do depósito de um estúdio, numa história hoje já clássica. Thomas acabou ficando amigo da trupe mambembe de Wood, e além de confidente das lamúrias do pobre Lugosi, passou a freqüentar a casa de Tor Johnson, onde conta ele teve que certa vez fugir para não passar mal ao acompanhar a família do gigante suíço em uma refeição: “… eles tinham cadeiras especiais para sentar, já que cadeiras comuns quebrariam. O tempo todo Tor dizia – “Comam, comam, comam para ficarem grandes e fortes”. Eu já não agüentava tanta comida e ele queria que eu comesse a metade de uma melancia, quando recusei ele me informou que depois de uma breve soneca teríamos mais um lanche! Eles se pareciam com uma família de grandes ursos!” (R. Grey.). Num dos últimos filmes da produtora classe “Z” Republic, “The Unearthly” (na TV: “O Extraordinário”, 1957) de Brooke L.Peters, John Carradine vivia pela enésima vez um cientista louco, agora fazendo experimentos com transplantes glandulares auxiliado por seu assistente gigante-retardado chamado… Lobo (Tor Johnson, é claro!). Se Johnson atuou ao natural, apenas com seu físico avantajado, no final seu personagem redimido, ajuda a linda mocinha (Allison Hayes) a escapar de um grupo de mutantes deformados que o médico escondia no porão. O principal deles, com uma maquiagem grotesca (no “bom” sentido) feita por Harry Thomas com pedaços de látex e adesivos cirúrgicos era um jovem gigante chamado Carl Johnson, o “little Karl”, filhinho comilão de Tor.

Nesta época, Harry Thomas trabalhou brevemente junto com outra lenda das maquiagens e efeitos vagabundos: Paul Blaisdell (o maquiador preferido de Roger Corman). Em “Voodoo Woman” (1957) de Edward L. Cahn, eles tiveram que reciclar uma fantasia criada por Blaisdell um ano antes para “She Creature” do mesmo Ed Cahn. O antes monstro marinho feminino, ganhou uma nova cabeça, semelhante a uma caveira deformada, uma peruca loira (!) e um vestido feito de sacos de linhagem. No bizarro “From Hell It Came” (“Veio do Inferno”, 1957) de Dan Milner, um príncipe de uma ilha do Pacífico sul reencarna em uma árvore que caminha e ataca pessoas e é chamada de Tabonga. O monstro vegetal parece o pesadelo de uma criança de 5 anos, ou poderia ter saído de algum conto de fadas mais sinistro. Durante muitos anos, lendas sobre a construção/concepção da criatura apareceram em diversas publicações e entrevistas, mas J.J. Johnson no espetacular livro “Cheap Tricks and Class Acts” (McFarland Books, 1996) esclarece o mistério: Paul Baisdell desenhou , a fábrica de máscaras de Halloween e objetos de cena para filmes Don Post Studios, fabricou e Harry Thomas pintou e fez acabamentos no monstro, além de ter feito todas as maquiagens dos nativos da história.

“The Bride and the Beast” (1958) de Adrian Weiss parece uma história escrita por Ed Wood… e é! Precisando de dinheiro, ele vendeu seu roteiro sobre uma mulher (Charlotte Austin) que durante um safári na África, descobre aos poucos que é a reencarnação de uma gorila, para no final reverter ao seu estado primitivo e ir viver feliz no meio das selvas com seus parentes! Como o dublê e performance de gorilas Steve Calvert, já possuía sua fantasia pronta, coube a Harry adicionar mais pêlos, fazer alguns ajustes nos olhos e repintar o primata para ele não parecer exatamente igual a por exemplo “Bride of the Gorilla”(1951), onde já havia sido utilizado.

Finalmente um Clássico! Em 1956, Ed Wood Jr., teve uma idéia brilhante: utilizar umas poucas cenas que havia rodado com seu recém falecido amigo Bela Lugosi para um filme que seria chamado “The Vampire’s Tomb” em uma produção totalmente diferente sobre alienígenas que conseguiam ressuscitar cadáveres humanos para dominar a terra. “Grave Robbers from Outer Space” teria além da participação póstuma de Lugosi, vários outros colaboradores da trupe habitual de Ed, além da presença de uma apresentadora de um programa de filmes de terror da TV chamada Maila Nurmi, mais conhecida como Vampira. Depois de ser financiado por um pastor de uma igreja evangélica, o filme seria renomeado “Plan 9 From Outer Space”(1956/1959) e muito já foi dito e escrito sobre suas filmagens, lançamento e trajetória, que o levaram a fama de ser um dos piores filmes da história do cinema. Fama injusta, já que é muito divertido e extremamente criativo, mas a parte que nos cabe retomar aqui foi contada por Harry Thomas em “Nightmare of Ecstasy” e também no ótimo documentário “Flying Saucers Over Hollywood: Plan 9 Companion” (1992) de Mark P. Carducci. Munido do roteiro, Thomas foi até Ed Wood cheio de idéias sobre a aparência dos alienígenas e argumentou que com adesivo cirúrgico e alguns cosméticos poderia mudar sua cor, olhos e faces, além de saber como alterar suas vozes para não parecerem tão humanos. A resposta de Ed foi clara e precisa e ofendeu o econômico fazedor de monstros: “Harry, nós não temos tempo, nem dinheiro” (ponto final.)

O trabalho de Harry Thomas não era ruim por incompetência sua, mas por tempos reduzidos e orçamentos apertados. Ele se dedicava a desenvolver maquiagens de qualidade, mas a parte financeira e a pressa de diretores e produtores dos filmes vagabundos para que era contratado comprometiam seu trabalho. Quando foi chamado para fazer “Frankenstein’s Daughter” (“A Filha de Frankenstein”, 1958) de Richard E. Cunha, Thomas trabalhou sem um roteiro, criando uma make up bastante expressiva cheia de deformações e cicatrizes para o corpulento ator Harry Wilson. O que o produtor se esquecera de informar era que a criatura seria uma fêmea, vivida antes da transformação pela atriz Sally Todd. Como já havia maquiado para o mesmo filme a jovem Sandra Knight (com sua combinação clássica: dentes enormes deformados mais sobrancelhas peludas), acreditou que ela seria a tal “monstra”! Assim, a solução foi colocar uma enorme quantidade de batom nos lábios deformados do monstro, que para piorar usava uma roupa que parecia a de um Papai-Noel espacial! Para providenciar uma sessão dupla para o lançamento de “A Filha de Frankenstein”, Richard Cunha reescreveu sua história básica terráqueos-enfrentam-uma-raça-de-mulheres-alienígenas gostosas (vista antes em “Cat Women of the Moon”) e Thomas foi encarregado de ajudar a criar uma dupla de homens-rocha e a disfarçar uma aranha gigante fabricada pela Universal para promover seu clássico “Tarântula” (1955), fazendo-a agora a principal ameaça para as garotas da Lua. Uma nova cara e um acréscimo de pêlos só fizeram piorar os já limitados movimentos do bicho movido a fios de nylon. E assim nasceu, então, “Missile to the Moon” (1958), disponível em DVD no Brasil.

Harry Thomas voltou a trabalhar para Ed Wood e criou uma maquiagem deformada para a volta do personagem Lobo (Tor Johnson) do mundo dos mortos em “Night of the Ghouls”, filmado em 1958 e nunca lançado nos cinemas. Um médium picareta chamado Dr.Acula promete fazer contato com entes queridos falecidos de seus clientes, mas acaba provocando a vingança dos mortos (seu título original “Revenge of the Dead”). A confusa seqüencia de acontecimentos sobrenaturais vividas entre cenários de papelão teve “ajuda” na edição de Phil Tucker (de “Robot Monster”, outro épico Trash clássico) e foi o penúltimo filme de Ed Wood Jr.

Harry Thomas esteve na equipe que fez “The Little Shop of Horrors” (1960) de Roger Corman, mas apenas fazendo maquiagens faciais. Teve sua oportunidade de fazer suas próprias recriações dos monstros clássicos (Drácula, o lobisomem e a criatura de Frankenstein) no filme adulto “House on Bare Mountain” (1962) de R.Lee Frost, mas o orçamento para o mais caro filme “Nudie” feito naquela época (72.000 dólares) tinha pouco disponível para maquiagens decentes, principalmente porque o que mais interessava era os corpos nus das belas garotas de uma escola para moças assombrada.

Talvez por já se envolver uma vez com uma árvore que caminhava (em “Veio do Inferno”), o esforçado Thomas foi convocado para ajudar “The Navy Vs. the Night Monsters” (“A Marinha Contra os Monstros”, 1966) dirigido pelo roteirista Michael Hoey. No meio da Antártida, a marinha americana descobre uma zona de calor, e nela estranhas plantas que caminham e devoram seres humanos. Além de ser responsável pelo acabamento nos monstros vegetais, nosso amigo criou uma série de cicatrizes e ferimentos de queimaduras bastante realistas, utilizando materiais baratos. Thomas foi um dos pioneiros na substituição de produtos caros utilizados em maquiagens especiais por materiais caseiros, encontrados principalmente em cozinhas: farinha de trigo com água, calda de chocolate, gelatina e Karo. Ele nunca admitiu a utilização destes produtos por razões financeiras, dizia que muitos atores e atrizes eram alérgicos a certos químicos presentes em certas fórmulas de maquiagens, assim os materiais naturais e comestíveis seriam a melhor opção.

O produtor/diretor Arch Oboler, um entusiasta da 3D (Terceira Dimensão) desde os anos 50 (“Bwana Devil”, 1952) desenvolveu um sistema próprio revolucionário, chamado Space Vision, e escreveu para demonstrá-lo uma ficção científica chamada “The Bubble” (“A Bolha”, 1966), sobre uma pequena cidade em que os habitantes são escravizados por uma estranha bolha de energia que flutua sobre o local (e dentro das salas de cinemas, claro). Harry Thomas foi responsável por desenvolver a bolha plástica alienígena e a aparência zumbificada de suas vítimas. (Assisti a uma reprise deste filme no cinema durante a moda do 3D dos anos 80 e sim, a bolha parecia flutuar na sala de projeção, mas de resto era uma enorme chatice, sem graça e sustos…)

Harry Thomas ainda voltaria a sua criação clássica ao transformar a bela Claire Brennan numa aberração com meio rosto deformado, dentes monstruosos, orelha pontuda e um olho de “ping-pong” em “She Freak” (1966) de Byron Mabe, uma refilmagem picareta de “Freaks” (1932) pelo produtor/roteirista David Friedman, um dos reis do “sexploitaition”. Pena que sua criação apenas apareça poucos minutos no final do filme. Voltou então para a televisão e trabalhou em inúmeras séries e programas, mas nunca foi esquecido pelos diretores e produtores de filmes de horror de baixo orçamento, tanto é que Oliver Stone em sua segunda realização “The Hand” (em vídeo “A Mão”, 1981) o chamou para dar vida à personagem título: a mão decepada de um cartunista que ganha vida própria e comete vários crimes. Algum gore, e com pouco dinheiro… uma mão que parece uma luva de borracha caseira.

Harry Thomas faleceu em 21 de outubro de 1996.

Filmografia Parcial:

Superman and the Mole Man (1951); Invasion U.S.A. (1952); Cat-Women of the Moon (1953); The Neanderthal Man (1953); Port Sinister (1953); Project Moonbase (1953); Glen or Glenda? (1953); Monster from the Ocean Floor (1954); Jail Bait (1954); Killers from Space (1954); Bride of the Monster (1955); Plan 9 from Outer Space” (1956/1959); The Unearthly (1957); Voodoo Woman (1957); The Bride and the Beast (1958); Night of the Ghouls (1958); Terror in the Haunted House (1958); Frankenstein’s Daughter (1958); Missile to the Moon (1958); The Little Shop of Horrors (1960); Raiders from Beneath the Sea (1961); House on Bare Mountain (1962); Space Probe Taurus (1965); The Navy Vs. The Night Monsters (1966); She Freak (1966), The Bubble (1966); Logan’s Run (1976); The Hand (1981).

Texto e pesquisa de Coffin Souza.

Com uma pálida face de felina e sobrancelhas inclinadas para lá!

Posted in Arte e Cultura, Cinema, Fetiche, Televisão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 25, 2011 by canibuk

Nós do Canibuk adoramos as divas macabras e sexys que marcaram o cinema entre as décadas de 30 e 60, Carolyn Jones (Morticia Adams), Yvonne De Carlo (Lily Munster), Elsa Lanchester (Noiva do Frankenstein) e a mais recente, Cassandra Peterson (Elvira). Mas nesse post vamos falar daquela que certamente inspirou a maioria delas:  Vampira, personagem inesquecível da Maila Nurmi que ficou popular nos anos 50.

Maila Nurmi nasceu na Finlândia em 1922, mas foi ainda bebê pros EUA. Foi  atriz da Broadway,  onde trabalhou com a Mae West na Peça “Catherine Was Great” , sendo demitida pela mesma em 1944, porque, segundo consta, a West temia estar tendo seu brilho ofuscado. Também foi dançarina e modelo, chegando a modelar pro Alberto Vargas (o famoso pintor das Pin Ups) e Man Ray e fez pequenas participações em filmes de baixo orçamento.

A personagem  surgiu em 1953 num anual baile de máscaras que existia em Hollywood naquela época, inspirada no cartoon  “The New Yorker” de Charles Addams,  ela achatou os seios, usou uma enorme peruca preta e pintou o corpo com pó de lavanda pra ficar com aparência de morta. Derrotou, neste baile, vários concorrentes, ganhando o prêmio de melhor figurino. Chamou também a atenção do produtor de TV Hunt Stromberg Jr., que a perseguiu por uns 5 meses, conseguindo enfim seu número de telefone. Tudo isso lhe rendeu o convite para apresentar o programa de horror que se chamaria “The Vampira Show” e seria exibido tardes da noite numa espécie de chamadas que podemos comparar por aqui com o Cine Trash, apresentado pelo Zé do Caixão nos anos 90, e que era do caralho, diga-se de passagem. Pra não plagiar a criação de Addams, ela fez algumas modificações na personagem, tornando-a mais sexy e acrescentando elementos de outras influências culturais. Misturando o penteado e a cigarrilha da “Lady Dragon” dos quadrinhos “Terry and the Pirates“, a maquiagem e sobrancelhas da “Rainha Malvada” de “Branca de Neve“, a cintura fina e as longas unhas de dominatrixes tiradas de revistas especializadas em fetiche e pin ups.

Lady Dragon, os cabelos e cigarrilha - elementos que Maila incorporou na personagem Vampira.

O nome Vampira foi sugestão do seu marido Dien Riesner, que era um roteirista. A mulher alta e macabra de pele pálida, sobrancelhas exageradamente arqueadas, longos cabelos pretos, unhas vermelhas enormes, cintura finíssima, usando um vestido preto com uma fenda que revelava suas pernas vestidas numa meia arrastão, arrebatou de primeira uma legião de fãs, muitos do sexo masculino, com fã-clubes surgindo em todo o mundo. Conhecida como sendo mal-humorada e sem “papas na língua” confessou usar o sexo como sua arma, e que se utilizava, conscientemente, de  seus longos dedos e da cigarrilha pra passar idéia  de símbolos fálicos, –gostei demais dessa parte, ahahaha. Seguiu-se uma sucessão de aparições e shows que só aumentavam sua popularidade, foi indicada ao Emmy em 1954,  apareceu em diversos artigos de revistas e em shows especiais por volta de Las Vegas. O Vampira Show durou apenas um ano. Em 1955, Maila teve seu programa cancelado e foi demitida da TV por suspeita de inclinações comunistas, segundo anunciou um jornal da época.

Tendo chamado a atenção de Bela Lugosi, que quando a viu na TV se declarou fã e confessou a Ed Wood sua vontade de trabalhar com a vampira exótica, foi convidada, então,  para fazer a mulher de Lugosi no filme  “Plan 9 from Outer Space“.  Pouco depois do início das filmagens, Bela Lugosi faleceu, mas o filme foi concluído, pois Ed Wood já tinha filmado um bom material com ele.

Logo após as filmagens  de “Plan 9 from Outer Space“, Maila declarou estar consciente de ter cometido “suicídio profissional”, desacreditava tanto no roteiro do filme que pediu pra não ter falas. Revelou ter pena de Ed Wood e o chamava de “pouco inteligente”.  Ironicamente, hoje ela é mais conhecida  pelo papel nesse filme do que pelos shows e aparições que fez por onde quer que fosse.

No final dos anos 50, sua carreira entrava em declínio. Começou a fazer participações em filmes considerados “péssimos”, numa tentativa de estender a fama.

Em 1981, Maila foi sondada por uma TV de Los Angeles que surgiu com a idéia de reviver a Vampira na televisão. Colaborou com a produção do show onde teria os créditos de produtora executiva, mas, devido a incompatibilidade de idéias, largou o projeto. Em 2005, confessou a Bizarre Magazine que tudo aconteceu porque a emissora tinha contratado a atriz Cassandra Peterson sem a consultar. Como ela detinha os direitos sobre a personagem, não foi possível usarem o nome Vampira, então logo renomearam o show para “Elvira’s Movie Macabre“, com a Peterson como apresentadora. Maila processou Cassandra Peterson alegando que a personagem Elvira juntamente com todos os elementos do show não passavam de plágio.  Peterson se defendeu dizendo que Elvira nada tinha de Vampira, exceto o vestido e cabelos pretos. Maila perdeu o processo. Mas não restam dúvidas que a personagem  Elvira é fortemente influenciada pela Vampira, o que só aumenta a força  e importância dessa personagem que virou um ícone do horror.

The Vampira Show

Do dia 30 de abril de 1954 até 02 de abril de 1955, a rede ABC Television, de Los Angeles, através de sua afilhada KABC-TV, levou ao ar o show de variedades “The Vampira Show”, apresentado por Vampira e criado/produzido por Hunt Stromberg Jr., programa feito ao vivo (por este motivo, cenas com a Vampira apresentando este programa são verdadeiras raridades). Com um salário semanal de 75 dólares, Vampira apresentava para o público da TV vários clássicos do cinema de horror do passado. A música tema do programa foi criada a partir do movimento adagio do “Music for Strings, Percussion and Celesta” do compositor Bela Bartok, misturado com trechos de “The Planets” de Gustav Holst. A série foi cancelada em 1955, quando Maila Nurmi se recusou a vender os direitos da personagem para a rede de TV ABC (e foi acusada de ser comunista).

No youtube há umas poucas imagens do programa original, como é possível conferir no vídeo abaixo:

Após se aposentar, Maila virou pintora e começou a pintar retratos da Vampira.  Os quadros são muito procurados por colecionadores. Morreu dormindo, aos 85 anos, em janeiro de 2008.

Na música ela foi homenageada por bandas como Misftis, com a música “Vampira”:

E no Brasil, pela banda Zumbi do Espaço, com a música “Nos Braços da Vampira”:

Além da própria vampira, em carne e ossos, cantar duas músicas no EP “I’m Damned” com a banda Satan’s Cheerleaders em 1987.

Caça às Bruxas

A carreira de Maila Nurmi foi prejudicada quando ela foi acusada de ser comunista pelos macartistas comandados por Joseph Raymond McCarthy, um político de extrema direita que foi eleito senador pelo partido Republicano em 1946 (após ter sido rejeitado pelo partido Democrata) e, durante os próximos 10 anos de sua vida política, ele e sua equipe tornaram-se célebres pelas agressivas e infâmes investigações nos USA contra os simpatizantes do Comunismo. McCarthy propôs acabar com greves usando a força do exército e queria ainda levar quem se recusasse a trabalhar ao tribunal marcial. O período entre 1950 e 1956, quando as perseguições se tornaram mais fortes, é conhecido pelo nome Macartismo, “terror vermelho” ou, ainda, como “caça às bruxas”, numa alusão ao período da idade-média onde os católicos perseguiam seus inimigos acusando-os de bruxaria. Muitas pessoas tiveram suas carreiras destruídas pelos macartistas, várias chegando a se suicidarem. Por sorte, o senador McCarthy morreu em 02 de maio de 1957, vítima de hepatite aguda.

Filmes com Maila Nurmi/Vampira

Em 1947 Maila Nurmi, antes da fama, estreiou no longa dramático “If Winter Comes” de Victor Saville no papel não-creditado de uma convidada. No ano seguinte, 1948, fez outra figuração na comédia musical “Romance on the High Seas” de Michael Curtiz como uma passageira num navio, também não-creditada. Depois de seu programa na TV (além do “The Vampire Show”, ela ainda trabalhou nos programas “The Red Skelton Show”, “Vampira” (1956) e “Playhouse 90” (1957), este dois últimos, tentativas de retornar à personagem Vampira em outros canais de TV). Segue uma listinha de produções onde a Vampira interpreta personagens que merecem uma conferida:

“The Beat Generation” (1959, 95 min.) de Charles F. Haas, sobre um detetive em busca de um estuprador. Maila Nurmi interpreta uma poetisa.

“Plan 9 From Outer Space” (1959, 79 min.) de Edward D. Wood Jr., uma louca invasão de gays espaciais que pretendem dominar o mundo ressuscitando os mortos. Nurmi aparece creditada como Vampira e faz o papel dela mesma.

“The Big Operator” (1959, 91 min.) de Charles F. Haas, drama de investigação criminal estrelado pela Mamie Van Doren e Mickey Rooney. Nurmi aparece no papel de “Gina”.

“Sex Kittens go to College” (1960, 94 min.) de Albert Zugsmith, comédia adolescente estrelada por Mamie Van Doren onde Nurmi faz o papel de “Etta Toodie”.

“The Magic Sword” (1962, 80 min.) de Bert I. Gordon, fantasiadramática estrelada pelo astro Basil Rathbone onde Nurmi faz um pequeno papel.

“Dry” (1996, 10 min.) de Mika Ripatti, depois de ter ficado por vários anos afastada do cinema (depois de “The Magic Sword” ela só fez uma pequena participação não-creditada no longa “Population: 1” de Rene Daalder, no papel de uma mãe), Maila Nurmi reaparece neste curta “Dry” no papel principal.

“I Woke Up Early the Day I Died” (1998, 90 min.) de Aris Iliopulos, uma comédia com roteiro escrito nos anos de 1960 por Edward D. Wood Jr. e estrelado por Billy Zane, Tippi Hedren, Ron Perlman e Christina Ricci. Nurmi faz uma participação como uma mulher no lobby de um hotel.

“No Way In” (2000, 20 min.) de Sam Mussari, curta-metragem que marca a última aparição de Maila Nurmi no cinema, aqui no papel de uma mulher num bar.

Em 1994 Tim Burton realizou sua obra-prima “Ed Wood”, a cinebiografia do diretor/produtor/roteirista Edward D. Wood Jr., interpretado por Johnny Depp, onde a modelo Lisa Marie encarna, com perfeição, a Vampira e a apresenta para uma nova geração de fãs. Nesta produção de Burton temos um gostinho de como teria sido o programa “The Vampira Show” e sua popularidade em Hollywood durante a curta temporada da série. “Ed Wood” foi lançado em VHS/DVD no Brasil. Item obrigatório na coleção de qualquer cinéfilo que se preze.

Documentários Imperdíveis com Depoimentos de Maila Nurmi/Vampira

“James Dean: The First American Teenager” (1976) de Ray Connolly.

“The Incredibly Strange Film Show: Ed Wood Jr.” (1989) – Uma série de documentários sobre cineastas bagaceiros geniais, sempre apresentados por Jonathan Ross.

“Flying Saucers Over Hollywood: The Plan 9 Companion” (1992) de Mark Patrick Carducci.

“Vampira” (1995) de Mika Ripatti, sobre a carreira de Maila Nurmi, produzido na Finlândia.

“The Haunted World of Edward D. Wood Jr.” (1995) de Brett Thompson.

“Schlock! – The Secret History of American Movies” (2001) de Ray Greene.

“Monsterama: A Tribute to Horror Hosts” (2004) de Ed Polgardy.

“American Scary” (2006) de John E. Hudgens.

“Vampira: The Movie” (2006) de Kevin Sean Michaels, sobre a vida e obra de Maila Nurmi.