Arquivo para marcelo appezzato

Hutt: Monstruário

Posted in Música with tags , , , , , , , , , , on fevereiro 19, 2012 by canibuk

Hutt foi formado em 2002 por Liandro (guitarra), Marcelo Chouki (bateria) e Marcelo Appezzato (vocal) com influências do HC mais violento, quadrinhos e cinema (a relação da banda com cinema é tanta que Marcelo Appezzato é co-diretor, ao lado de Fernando Rick, do hilário “Guidable – A Verdadeira História do Ratos de Porão” e roteirista do curta “Ivan”, também de Fernando Rick, onde criou a divertida figura de Darlene Star, magnificamente interpretada pelo ótimo ator/diretor Rubens Mello).

Ainda em 2002 a banda lançou a demo “Miserável”, com 10 sons bem crus e diretos. Em 2003 lançou via 2+2+5 Records o disco “Sessão Descarrego”, com 28 sons e que teve uma excelente repercussão entre o público sempre sedento por barulho de qualidade, coisa que a Hutt faz com um talento único. Em 2007 saiu o split “Crushing the Grindcore Trademark”. Hutt já dividiu o palco com bandas gringas como Brujeria, CAD, Rompeprop e Total Fucking Destruction.

Em 2010, com Appezzato no vocal, Liandro na guitarra, André no baixo e D. Klink na bateria, Hutt lançou o ótimo CD “Monstruário”, são 23 faixas do mais puro grindcore fodido que não tem como descrever (mesmo porque música precisa ser ouvida), com encarte lindo composto da arte de Win Mortimer (que eles roubaram da revista Capitão Mistério – Série Sexta-feira 13, ano 1, número 5) e uma arte inédita onde vemos a banda caricaturada por Fernando Rick. Uma curiosidade: Na introdução da faixa “Três Ratos” ouvimos a voz de pato Taquara de Gurcius Gewdner gritando “Você quebrou meu Rádio!”. “Monstruário” é grindcore de primeira, não vou ficar escrevendo aqui sobre as músicas porque músicas são prá ouvir, não prá comentar.

Entre em contato com o Marcelo Appezzato clicando neste link e se informe com ele como conseguir o CD (perguntei pro Appezzato qual o preço do CD e como pessoal faz prá pegar o disco, mas ele foi pular carnaval e não me respondeu).

Fernando Rick: Jesus Mendigo, Michael Jackson e o Cinema Biriteiro

Posted in Cinema, Entrevista, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , on maio 18, 2011 by canibuk

Faz 10 anos que o Fernando Rick está em franca evolução com sua obra cinematográfica e resolvi entrevista-lo. Fernando diz que foi influênciado (para começar a fazer filmes) principalmente pela Troma e pelos meus filmes, não é o melhor modo de começar a fazer filmes mas ele provou com seu trabalho que até mesmo os bêbados malditos evoluem na sua arte. E como evoluí, seu “Guidable – A Verdadeira História do Ratos de Porão” e, principalmente, seu novo curta-metragem “Ivan”, estão profissionais e continuam peças divertidíssimas do cinema underground brasileiro. Fernando fala na entrevista que gostaria de conhecer outra pessoa que tenha gostado do seu novo curta, bem, já encontrou, fiquei de quatro diante do filmaço, mostra um artista amadurecido em sua arte. Conheço o cinema de Fernando Rick desde quando ele lançou o tosco “Rubão – O Canibal” e virei fã na hora, na época fiquei extremamente feliz porque finalmente surgia alguém no Brasil fazendo filmes na linha dos meus (tanto ele quanto eu fomos/somos influênciados pela Troma) e, na minha cabeça de produtor independente alucinado, já começava a ver um mercado alternativo de cultura gore se esboçando na minha frente. Delírios de uma mente que alucina!!!

eu e Fernando Rick em 2007

Sem mais delongas, segue uma ultra entrevista com o Fernando Rick:

Baiestorf: Como você acabou dirigindo filmes? O que tu fazia antes? Conte como foi isso!

Fernando Rick: Como a maioria dos que se envolvem nisso, eu colecionava filmes, era aficcionado por filmes de terror e filmes violentos. Tinha uma coleção enorme, na época era VHS, vivia comprando e trocando fitas, filme alemão de necrofilia sem legenda em português, filme japonês simulando Snuff sem legenda nem em inglês e por ai vai… Era fanático por Lucio Fulci, Dario Argento, Takashi Miike, Jorg Buttgereit, mas os meus favoritos sempre foram a trilogia Evil Dead (devo ter umas 3 ou 4 tatuagens desse filme espalhadas pelo corpo) e os primeiros filmes do Petter Jackson. Minha vontade de fazer algo começou ai mas foi vendo os filmes da Troma (trilogia Toxic Avenger, Terror Firmer, Tromeu e Julieta, Sgt Kabukiman NYPD, Surfistas Nazistas Devem Morrer, e por ai vai) que comecei a me dar conta do tipo de filme que eu poderia e gostaria de fazer, e quando conheci os filmes da Canibal Produções e seu mentor Petter Baiestorf, comecei a ver que ja existia alguém fazendo este tipo de coisa no Brasil, ai foi o estopim de tudo. Quando era moleque eu fazia uns videos em VHS, com aquelas cameras grandonas de ombro, coisa que todo moleque que se interessa pelo assunto também ja fez algum dia. O primeiro um pouco mais significativo veio mais tarde, certa época eu tinha um site sobre filmes de terror que era bem famosinho, chamava Schizophrenia Horror Website, era antes de existir Boca do Inferno e esses portais de horror que existem hoje em dia. Eu passava meu tempo basicamente enchendo a cara com meus amigos e curtindo som pesado, resolvi juntar o pessoal e gravar algo, depois de algumas tentativas frustradas, conseguimos fazer nosso primeiro video, totalmente influenciado pelas tralhas da Troma, se chama Rubão – O Canibal, e claro, eu não tinha noção nenhuma do que eu estava tentando fazer.

Baiestorf: “Rubão – O Canibal” vai ser lançado em DVD pelo Gurcius Gewdner, como foram as filmagens dele?

Fernando Rick: Isso foi em 2001, eu tive essa idéia de fazer um filme sobre dois irmãos caipiras canibais necrófilos nazistas, queria misturar o máximo de absurdos possíveis e por umas bandas de metal nacional que eu gostava na trilha. Na época estava barateando o custo dessas hand cams MINI-DV e equipamento de edição, placa de captura, etc. Mas eu não tinha nada disso, e nem sabia como funcionava, pedi uma câmera emprestada pra um amigo, falei com um outro se ele poderia editar pra mim, juntei o bando de amigos bêbados que viviam chapados comigo pra cima e pra baixo e começamos a gravar a bagaça. Ficou um vídeo bem tosco, é demorado pra caralho, lento, sei lá como isso funcionou, mas rolou que por causa da trilha sonora, acabou tendo uma divulgação e saiu uns reviews falando bem na revista Rock Brigade, que pouco tempo antes havia feito uma puta matéria de 2 páginas sobre o Baiestorf, ou seja, começou abrir as portas pra esse tipo de filme para um público que ainda não conhecia e não sabia da existência de alguém fazendo esse tipo de coisa no Brasil. Nós fazíamos uns flyers toscos em xerox  e distribuíamos em shows de metal, lembro bem da gente entregando isso num show do Kreator e Destruction, todo mundo ficava curioso pra saber que porra era aquela. Isso já era 2002, quando saiu o filme, e caiu no gosto dos roqueiros bebuns de plantão, começaram a exibir isso em botecos, festinhas de amigos e der repente, todo mundo tinha uma cópia do VHS.

Baiestorf: “Feto Morto” é numa linha completamente Troma e foi o primeiro lançamento independente brasileiro em DVD, como foi realiza-lo?

Fernando Rick: Nessa época eu era extremamente bitolado em Troma, e queria muito fazer algo do tipo, queria mulher pelada, putaria, escatologia. Como eu não tinha noção de filmagem nem porra nenhuma, já sabendo que seria tosco, o negócio era assumir a tosquice, não tentar fazer algo sério, ou seja, era tudo ultra escrachado propositalmente. Essa época eu lembro q tava assistindo muito Toxic Avenger 4, Terror Firmer e seus making offs (que são melhores que os filmes), e claro, queria fazer igual! Inventei essa história sobre um cara que tem um feto morto grudado na cabeça pois seu pai trepou com a irmã. O resto é basicamente um monte de desculpa pra mostrar mulher pelada, escatologia e violência, tudo cheio de humor negro. O cara que faz o papel do Feto Morto é o Rui Villani, ele é o segredo do sucesso desse filme, o cara é meu herói até hoje. Ele tem um irmão gêmeo, que é quem faz o EXU do Feto Morto no filme, o Exu ensina o cara a lutar karatê pra se vingar de um grupinho que vivia azucrinando o protagonista (ta vendo só, nós tratávamos de bullying muito antes disso virar moda no Brasil [risos]). Esse filme conta com a ilustríssima presença da Denise V., que era famosa por seu trabalho nos filmes do Baiestorf, a idéia era ela ficar pelada andando de tetas de fora pra cima e pra baixo durante o filme. Contratamos mais uma putas horrendas pra aparecerem peladas fazendo nojeiras, todas pelo justíssimo preço de 50 reais cada, juntei novamente a cambada de bêbados que andavam comigo na época e começamos a gravar. Por causa do Rubão, muita banda queria ter trilha sonora no meu próximo vídeo, o então Feto Morto. Além da trilha original feita pelo Fabio Ribeiro,  é cheio de bandas de metal de cabo a rabo, o que novamente ajudou muito na divulgação. As gravações foram uma bagunça sem fim, em todas nós estávamos ultra bêbados, nada era sério, era tudo pura diversão, principalmente as gravações com as meninas peladas. O negócio do VHS era foda, era caro pra cacete enviar VHS por correio, dava um trabalho maldito gravar um por um, nessa época os gravadores de DVD para computador estavam barateando  e resolvi investir. Acabei sendo o primeiro cara a lançar essas tralhas em DVD no Brasil. Era mais rápido para gravar e mais barato pra enviar, só que tinha um problemão, muitos dos aparelhos de DVD naquela época ainda não liam DVD-R e sempre tinha problemas com caras reclamando que o DVD não funcionava. De qualquer forma, o Feto Morto também foi lançado em VHS, fizemos uma parceria com a Mutilation Records, eles pagaram as impressões das capas e vendiam os filmes na loja, mas tiveram que parar de vender os DVDs, pois muita gente reclamava que os DVDs não funcionavam. Fizemos uma festa de lançamento do Feto Morto, com bandas tocando, exibição de filmes extremos, cerveja barata (era Lecker, ruim e quente, mas era barata) e foi um sucesso! A Denise V. estava na festa pra alegria dos cuecas de plantão, e logo que saiu Feto Morto já se tornou um Cult absoluto! É incrível pensar a repercussão que este vídeo teve, até hoje é difícil achar alguém que não viu ou não conhece alguém que tenha uma cópia entre fãs de filmes extremos ou fãs de musica pesada. Começou a sair uma caralhada de matérias em revistas, fanzines, TV, internet e, como no Rubão, o boca a boca foi essencial, exibições públicas em botecos e festinhas, gente que sabia várias frases do filme de cor e salteado, lembro que me pagaram muita cerveja por causa desse filme, foi demais! E é um filme ultra tosco, feito sem recurso nenhum por um monte de moleques bêbados e sem noção alguma do que estávamos fazendo. Nessa época de Rubão/Feto Morto, eu era bem novo, devia ter entre 17, 18 anos. Um fato legal é que nós curtíamos muito os programas do Alborghetti e colocamos um trecho de um dos programas dele no filme, tínhamos uma fita com umas 6 horas de Alborghetti gravadas e vivíamos assistindo aquela porra, era tipo uma coletânea dos casos mais escabrosos que rolou nos programas dele. Depois, com o advento do You Tube, ele voltou a ser moda (risos).

Baiestorf: Como foi trabalhar com a Denise V.? Posso estar enganado, mas acho que “Feto Morto” foi o último filme de destaque que ela fez antes de abandonar as produções independentes e seu trabalho de atriz!

Fernando Rick: Foi muito divertido, pois eu era fã dela por causa dos filmes do Petter, já tinha assistido vários e me correspondia com ele por carta (isso ai, carta mesmo, não e-mail). Eu tinha mandado o Rubão pro Petter e ele escreveu uma resenha muito legal no fanzine que ele editava na época chamado ARGHHH. A Denise V. estava vindo pra São Paulo, acho que quem nos colocou em contato foi um amigo em comum o José Salles, que era outro realizador da época, fazia zines, vídeos, etc. As gravações foram uma zona total, bebedeiras e muito barulho, a Denise era doidona e nos demos muito bem, como não era um lance sério e profissional, passávamos a maior parte do tempo falando merda e rindo do que trabalhando de fato. Era uma época divertida. Ela costumava andar com os Abutres (os motoqueiros) e vivia contando histórias de putaria e esbórnia com esses caras, e por ai vai. Se me lembro bem, as lindas garotas que aparecem nuas no filme nos foram apresentadas pela Denise.

Baiestorf: “Coleção de Humanos Mortos” tem um puta clima e de certo modo representa seu amadurecimento como realizador, foi um passo natural?

Fernando Rick: Nessa época eu já havia começado a trabalhar de verdade com TV e cinema, eu era ajudante do Kapel, um dos maiores efeitistas do Brasil e já estava trabalhando na TV Cultura. Então resolvi fazer um curta de verdade, mesmo por que, nunca tive interesse em ficar fazendo a mesma coisa, até hoje cada um dos meus trabalhos é bem diferente do anterior, não gosto de me repetir muito. Queria fazer um filme de terror, com atores de verdade, efeitos legais, fotografia ajeitada, então fiz o roteiro do Coleção, baseado nas coisas que eu andava vendo na época. Em 2004 o Killjoy, vocalista da banda Necrophagia, veio pro Brasil para gravar um clipe com o Mojica e ficamos a semana toda indo pra esbórnia, ele tinha trazido com ele o DVD que eles tinham gravado com o Jim VanBebber e lá eu vi o curta The Last Days of John Martin. Eu pirei naquilo. Eu já conhecia o trabalho do cara nos filmes Deadbeat By Dawn e My Sweet Satan, mas esse ai foi foda, e todo o DVD do Necrophagia era do caralho, então resolvi fazer algo naquela pegada, misturado com alguns fatos de Serial Killers reais, nesta época também eu era meio viciado em coisas relacionadas a isso, lia um monte de livros do Harold Schechter, Helter Skelter do Manson, documentários, ouvia muito a banda Macabre, tudo que tinha a ver com Charles Manson, Ed Gein, Jeffrey Dahmer, Albert Fish e afins, me interessava.

Baiestorf: As filmagens do “Coleção de Humanos Mortos” duraram quanto tempo e qual foi o orçamento dele?

Fernando Rick: As gravações duraram 2 fins de semana e foram ultra conturbadas. Eu não tinha experiência de SET, não tinha equipe, não tinha porra nenhuma. Minha equipe era o André ZP (diretor do curta “Sozinho”) fazendo câmera, o Kapel nos efeitos, Rodrigo Terra e Renato Tado, dois caras que na época eram estagiários comigo na TV Cultura, fazendo luz e alguns outros amigos ajudando com todo o resto, áudio, produção, etc, entre eles o Rui Villani, que fez o Feto Morto. Eu tinha que fazer de tudo, sem ter tempo e experiência e a situação ia ficando tensa, tudo atrasava, dava problema, a luz não ficava como eu queria, tínhamos que remontar tudo, não tinha comida pros atores e equipe, só tinha bebida (herança das épocas de Feto Morto) e o povo todo ia ficando bêbado e ia rolando discórdia. E pra ajudar, o único cara que não era ator de verdade ali, era justamente quem eu tinha escolhido como ator principal, o Ulisses Granados do Putrescine. E ele gostava de encher a cara até cair, ai você já pode imaginar o desastre que foi o primeiro fim de semana de gravação. Foi difícil fazer tudo funcionar e as pessoas colaborarem, primeiro porque estava todo mundo trabalhando de graça, inclusive as atrizes que ficam peladas, segundo que estava todo mundo ultra cansado e com fome, terceiro que estava todo mundo meio chapado e foi bem neste primeiro fim de semana que gravamos aquela cena do estupro. Primeiro fim de semana foi um desastre, então tive que me preparar mais para o segundo fim de semana, ensaiei bastante com o Ulisses, comprei um mínimo de comida pro povo, menos bebidas dessas vez, e lá fomos nós. Gravamos a cena da Luciana tomando banho, tudo calmo e tranqüilo, sem efeitos, sem nada, só ela sem roupa e o banheiro, tudo rolou bem e a Luciana estava achando o máximo ter que ficar só ali, tomando banho quente enquanto ficávamos movimentando a câmera num travelling pelo trilho improvisado com madeira e um carrinho com rodinhas de skate. De lá fomos para uma casa em construção, onde gravamos as cenas que no filme são a casa do Serial Killer, onde tem aquela zona toda de corpos, cabeças, etc. Cena esta onde pela primeira vez tive o prazer de ter em um filme meu a participação do Gurcius Gewdner, fazendo figuração como um dos cadáveres da sala ao lado da Didi Babinski, outra amiga que me ajuda nos meus trabalhos dês da época do Rubão. De lá pra cá, tanto o Gurcius quanto a Didi me ajudaram ou participam de alguma forma de todos os meus trabalhos. Bom, lá estávamos nós no terceiro andar de uma casa em construção, sem janelas, num frio do caralho, altas horas da madrugada, a maior parte do tempo tudo ocorreu bem nesse dia, no máximo demorava para arrumar a luz do jeito que eu queria, mas cedo ou tarde o pessoal fazia, só que as meninas, tanto a Luciana quanto a Tiara, que faz a primeira vítima, estavam apenas de calcinha, num frio do cão, cobertas com aquele sangue fake do Kapel que é uma mistura de Glicose de milho com corante, um negócio grudento que incomoda e a Luciana que passa por vários tipos de tortura nas mãos do Ulisses no filme, coberta com aquele sangue, gritando a madrugada toda, tendo que chorar, atuar e o caralho a quatro, começa a surtar de verdade e de repente resolve abandonar as gravações, gritando que não agüenta mais essa tortura, que quer ir embora, que aquilo é um absurdo, etc. Então após conversar um pouco e acalmar a garota, tivemos que fazer o resto todo do filme as pressas o que prejudicou muito as cenas, alguns efeitos que ficaram bem toscos no filme são por causa disso, como quando o cara bate com a espingarda na cara dela, etc. Tudo que é feito na correria fica uma merda, não tem jeito. O resultado final não é uma obra prima mas também não é de se jogar fora. Foi lançado em DVD pela Mutilation Records, junto com os curtas de horror (“Sozinho” de André ZP e “6 Tiros, 60 Ml” do André Kapel), e foi a primeira vez que curtas de horror brasileiros foram lançados em DVD numa coletânea apenas de curtas. Com o passar dos anos parece que o pessoal começou a dar mais atenção pra esse filme, várias vezes foi convidado a ser exibido em Mostras de cinema no Brasil e exterior e basta você dar uma procurada no Google que vai ver o tanto de lugares que tem pra baixar o filme, sendo a maioria em sites gringos. La fora parece que dão mais valor aos filmes do DVD 3 Cortes, tem um monte de reviews legais espalhados pela Internet de tudo quanto é país, menos do Brasil. Aqui ninguém da muito valor e a maioria do pessoal deve achar uma merda.

Baiestorf: Como surgiu o convite para fazer o vídeo clip do Ratos de Porão?

Fernando Rick: Quando o Ratos estava gravando o disco Homem Inimigo do Homem, quem mixou a bagaça foi o Bernardo (Elma, ex Are You God?), ai entreguei um 3 Cortes para ele mostrar pro Gordo e ver se ele não queria fazer um clipe. O Gordo gostou dos filmes e disse que já tinha visto o Feto Morto e também gostava, ai fez o convite pra fazer um clipe pra música Covardia de Plantão que fala sobre a violência de grupos tipo Skinheads, Punks, etc. A idéia já era fazer algo pesado e que seria censurado, mas o que rolou foi fazer um clipe baratíssimo, porque a Deck Disc tinha dado só 1.500 reais pra fazer o vídeo e apesar de ser um pouco violento, usar uma violência caricata e meio engraçada. Ai foi aquela historia de sempre, junta um monte de gente pra trabalhar de graça, correria do caralho pra fazer tudo sem dinheiro, equipamento emprestado.Gravamos duas diárias, uma que foi a banda tocando no Cerveja Azul, um bar La na Mooca, e outra que é a parte das brigas. Sem grandes acontecimentos nestas gravações, só o usual. No fim das contas corremos pra tentar fechar o clipe a tempo de entrar no VMB, ai que vem o recado da gravadora – A Deck Disc não irá compactuar com a violência. Censuraram o clipe, ele não foi exibido em lugar nenhum, só na internet. Hoje tem ele no disco de Extras do Guidable também. E é isso ai.

Baiestorf: Este clip pro Ratos de Porão serviu prá ti tomar contato com o Gordo, certo? Como surgiu a idéia pro documentário “Guidable – A Verdadeira História do Ratos de Porão”?

Fernando Rick: No processo de realização do clipe do Ratos, acabei me tornando amigo do Gordo e me veio essa idéia de fazer um documentário sobre a trajetória do Ratos. O Gordo disse que vários caras tentaram fazer, mas nenhum conseguia, pois era MUITO material, era trabalho que não acabava mais. Resolvi assumir a bronca e de forma totalmente independente, produzindo tudo eu e o Gordo, comecei a fazer o filme.

Baiestorf: Como foi o processo de seleção de imagens e edição que tu e o Marcelo Appezzato realizaram pro “Guidable”? Deve ter sido uma loucura, porque olhando o filme dá prá perceber que foi um trabalho monstro!

Fernando Rick: A maioria do material usado no filme é do arquivo pessoal do Gordo, ele tem caixas e caixas de arquivos da banda, vídeos de todo formato que você pode imaginar, VHS em NTSC, VHS em PAL, VHS em PAL-M, DVD, Beta, Mini DV, DVD, fotos que não acabavam mais e, mesmo assim, ainda fomos caçar mais material por fora e conseguimos reunir muita coisa inédita e importante, não foi fácil, mas isso enriqueceu muito o filme e o resultado final é muito bom. Comecei recrutando algumas pessoas pra me ajudar a gravar as entrevistas, um cara pro áudio, dois caras pra fazer câmera e luz, e logo no início das gravações convidei o Marcelo Appezzato, vocalista do HUTT, para tirar fotos das gravações e acabou que ele sempre ajudava nas pautas e dava boas idéias, ai começou ajudar na produção, ligava pras pessoas, agendava entrevistas, dava idéias, etc. As gravações foram o máximo pois tivemos a chance de conhecer muitos caras que somos fãs e muita gente importante pra música, mas a melhor de todas foi a da Vila Piauí, bairro de onde surgiu o Ratos de Porão, lá gravamos as entrevistas com o Jabá e o Betinho, dois membros da primeira formação do Ratos. A gravação foi dentro de um boteco na beira da favela e tinha um monte de gente da vila assistindo, sem contar o pessoal do tráfico, os bebuns de plantão, etc. Foi legal ver a reação do pessoal que mora ali, que são vizinhos dos caras e nem sabiam quem eles eram, como quando o Jabá estava contando que uma das maiores conquistas dele foi quando eles tocaram com o Ramones, e você ouve um monte de moleques atrás de você comentando – “Caralho, o cara é meu vizinho e tocou com o Ramones!”. Quando terminamos as gravações, chamei ele pra editar o filme comigo e passamos 1 ano inteiro pra decupar e editar o filme, no fim das contas o cara virou Co-Diretor e ele foi essencial pra obtermos esse resultado final. Decupar essas fitas foi um inferno, foi um trabalho de pesquisa gigantesco, a idéia era ter uma edição dinâmica, e tudo muito ilustrado, quando um cara comentava sobre algum assunto, queríamos ter a imagem exata na hora certa e ficar achando 3,4 segundos de uma imagem X no meio de 500 vhs´s bolorentos, cansa!

Baiestorf: E como foi a carreira do “Guidable” nos festivais e mostras de filmes?

Fernando Rick: Fizemos umas sessões de lançamento do filme no Cine Olido graças ao nosso amigo Alex Andrade que armou tudo, e todas sessões de lançamento foram esgotadas, tinha gente sentado no chão, etc. Foi lindo. Depois o filme começou a rodar alguns festivais legais tipo a primeira edição brasileira do IN-EDIT, o Indie Festival em BH e em um monte de mostras ao redor do Brasil, conseguimos vender um monte de sessões de exibição do filme em diversos estados também, com diversas sessões esgotadas no Brasil todo e o filme entrou em cartaz no Cine Olido. Tivemos uma mídia espontânea fantástica, saímos em uma sexta feira, no mesmo dia, em todos grandes jornais– Folha, Estadão, Jornal da Tarde, Correio Brasiliense. Uma página inteira no mínimo, em cada jornal. Também rolou matéria em vários programas de TV, rádio, zines, internet, foi foda! Alias, várias dessas matérias estão disponíveis no nosso site http://www.blackvomit.com.br.

Baiestorf:  A distribuição do “Guidable” foi feita pela independente Läjä Rekords do incansável Mozine em edição dupla luxuosa, tu pode contar como foram as negociações? Lembro que a Monstro Discos e a Universal Music também estavam interessadas em lançá-lo!

Fernando Rick: No começo, antes do BOOM da mídia, ninguém queria saber do documentário. Oferecemos pra Deck Disc e um monte de gente, ninguém quis. Ai depois das matérias um monte de gente começou a se interessar.  Fizemos umas reuniões mas nenhuma era muito interessante, pois nossa idéia era o DVD ser DUPLO, com encarte e BARATO, custando no máximo 25 reais. Tínhamos até fechado com a Monstro mas acabei desistindo, pois os caras queriam lançar o DVD a 40 reais, encheram o saco pra eu mudar a capa (que foi feita pelo Gabriel Renner especialmente para o documentário), queriam por um desenho do Marcatti e o caralho, não adiantava eu falar que não, eles continuavam insistindo, puta falta de respeito e puta idéia burra. Aí na mesma semana apareceu o Mozine que, junto com o Felipe da Ideal Records, resolveram aceitar todas nossas condições, fizemos uma reunião com o João Gordo e voltei atrás e fiz com eles ao invés da Monstro, ai o tal do Márcio veio todo cheio de pompa me falar um monte de merda, que isso não se faz,  várias insinuações idiotas tipo – achava que você mandava em alguma coisa ai, etc. Depois falou um monte de merda sobre o Mozine, e começou cantar de galo como eles são foda, como eles fazem isso e aquilo, totalmente idiota, como se alguém dependesse dele pra alguma coisa. Tentei até falar na boa com o cara, mas parecia que eu estava lidando com o dono da Sony ou da EMI, ridículo. Depois, mais pra frente, eles lançaram o DVD ao vivo do Ratos e, cara, acho que é o lançamento mais ridículo que já vi na vida, lançaram o show com TIMECODE na tela, um menu cheio de pau, uma capa ridícula, dá até dó. Difícil lidar com os donos do mundo. Bom, lançamos pela Ideal Records + Laja Records, tudo saiu bem, o DVD ficou ótimo e vendeu pra caralho, vendeu uns 3.000 em pouco mais de 2 meses. Na época em que saiu, mesmo o preço de atacado sendo ultra baixo pra poder ser vendido a 25 reais, haviam várias lojas vendendo por 40, 50 e até 60 reais! E mesmo assim vendia muito e rápido. Depois começaram a piratear, colocar na internet, ai nos camelôs tinha o DVD Duplo por 10conto, ai começa a cair, não tem jeito. Teve umas pisadas na bola do Felipe da Ideal Records também com alguns lojistas e com divulgação, não imprimiram 1 poster pra colar em lugar algum, nem flyer, mas estou satisfeito com o resultado.

Baiestorf: Algum plano para o “Guidable” ser exibido em alguma rede de TV brasileira?

Fernando Rick: Ainda não, mas também nem tentamos negociar ainda. Com certeza faremos isso mais pra frente.

Baiestorf: “Guidable” foi lançado em outros países?

Fernando Rick: Mesma coisa que a resposta anterior.

Baiestorf: Confesso que não sou um grande admirador da banda Ratos de Porão (tinha parado de acompanhar eles depois do “Brasil”), mas teu documentário me fez voltar à ouvi-los. Como foi a recepção do público?

Fernando Rick: Foi demais! A repercussão que este documentário teve e continua tendo é inimaginável, muitas vezes estou na rua, em algum bar ou na fila de alguma coisa e ouço alguém comentando sobre o filme. E quando alguém fica sabendo que fui eu quem fez e as pessoas dizem o quanto gostam do filme, que viram no cinema sei lá de onde e depois compraram o DVD, que já emprestou pra 30 amigos e blá bla blá, isso não tem preço!

Baiestorf: E o piloto para programa de TV “Gurcius Gewdner Show”? Como surgiu essa idéia de usar o Gurcius como apresentador? No que consiste este projeto?

Fernando Rick: Eu tive essa idéia de tentar fazer um programa de TV pra web, a idéia original era fazer um programa apresentado pelo João Gordo. Cheguei a falar com ele sobre isso, tivemos algumas idéias, mas no fim acabou não rolando. Conheço o Gurcius a algum tempo, e sou UM, entre seus diversos fãs espalhados mundo a fora. Todo mundo que conhece o cara sabe que ele é uma figura única, e não sei de onde tive essa idéia de ao invés do João Gordo, colocar o Gurcius para apresentar o programa, aliás, era mais que isso, era um programa DO Gurcius, ele faria TUDO no programa. Então eu e o Marcelo Appezzato começamos a bolar as idéias de quadros e toda identidade visual do negócio, queríamos fazer algo simples, barato e divertido. Um dos primeiros quadros que criamos era um chamado Na Banheira do GUGUrcius, onde o Gurcius entrevistaria celebridades lado B em uma banheira e o primeiro que tentamos foi o Kid Bengala. Só que começamos a ter vários empecilhos, o cara queria cobrar cachê para dar a entrevista, não estávamos achando uma banheira legal, etc. Ai desencanamos desse quadro e começamos a pensar em algumas coisas pra fazer em Chroma, pensamos nesse quadro onde o Gurcius explicaria do seu ponto de vista, obras literárias, música e grandes mistérios do universo. O assunto escolhido para o piloto foi a Cultura Racional, aquela do disco do Tim Maia. Então eu vim com essa idéia de fazer uma mesa redonda de bebuns na praça da Sé, colocaríamos uma mesinha lá no meio e daríamos pinga pros caras ficar discutindo assuntos corriqueiros com o Gurcius. Fizemos uma pauta falando desde Michael Jackson até muro de Berlin e entregamos pro nosso herói de bigode. Foi tudo muito divertido com exceção da parte que, enquanto gravávamos naquele antro de pinguços e nóias, sem que percebêssemos, roubaram um case de câmera com uma lente e um microfone dentro. Foi isso o que acabou deixando o programa meio caro, porque todo o resto não gastamos praticamente nada. Gravamos o programa inteiro em um fim de semana e ficamos sabendo que o Sérgio Mallandro estaria fazendo um show de Stand Up bem no fim de semana em que marcamos a gravação. Claro que não poderíamos perder isso, então nossa produtora conseguiu por a gente pra assistir ao show e entrevistar o cara. Quando avisamos o Gurcius que ele iria entrevistar o Sérgio Mallandro, quase que ele teve um treco, ele é ultra fã do cara. Lembro que estávamos assistindo ao Stand Up e o Marcelo estava achando uma merda e começou a ficar azucrinando os caras do palco, ai eu fiquei irritado e discutimos lá no meio, ele saiu andando e largou a gente, antes de gravar, só que ele tinha levado um vinil do Mallandro pro cara autografar e deixou lá, ai o Gurcius pegou e depois da entrevista – “tem como o senhor assinar meu disco? Põe ai – pra Gurcius , um abraço!”, no disco do Marcelo.

Baiestorf: E como é dirigir o Gurcius? Tu já dirigiu ele em vários filmes, se não me falha a memória ele faz pontas no “Coleção de Humanos Mortos”, clip do Ratos de Porão e agora no ainda não lançado “Ivan”!

Fernando Rick: Ah, dirigir o Gurcius é fácil, nada que uns xingos e uns tapas não resolvam. Brincadeira, é bem fácil trabalhar com o cara, ele é ultra dedicado e esforçado, eu uso ele nos meus trampos a bastante tempo, desde o Coleção pra cá, o único que não tem ele acho que é o Guidable. Mas ele tava na sessão reservada que teve do filme antes da estréia, que foi só para imprensa e convidados. Gosto de ter ele fazendo pontas nos meus filmes, é tipo um amuleto da sorte, mas não posso dar muito destaque pra ele se não o cara rouba a cena do protagonista ou qualquer que seja o foco. Mas agora eu inventei um programa só pra ele, então tá tudo certo.

Baiestorf: Alguma TV se interessou em comprar o “Gurcius Gewdner Show”? Pode falar sobre isso?

Fernando Rick: Oferecemos e fizemos umas reuniões em canais de TV tipo a FOX, onde os caras até se interessavam, mas o departamento de marketing sempre barrava, dizia que era difícil vender, etc. Todo mundo pergunta se mostramos pra MTV, nós tentamos mas ninguém lá nem se deu ao trabalho de ver.  Sei lá, talvez só eu tenha gostado dessa merda… (risos).

Baiestorf: Faz alguns dias que vi teu novo curta “Ivan” e ele não sai da minha cabeça, achei o roteiro maravilhoso e me identifiquei com os artistas fodidos que tu retratou. Como surgiu a idéia para fazê-lo?

Fernando Rick: A idéia era tentar fazer um curta barato, que envolvesse um ator de teatro e se passasse dentro de um cortiço, só que o roteiro foi crescendo e tomando proporções muito maiores do que a idéia original. Ai coloquei o curta na Lei Rouanet, fomos aprovados pra captar 90 mil reais, mas eu não quis esperar, ai resolvi fazer com meu próprio dinheiro enquanto tentávamos captar pela lei. Pedi pra um monte de gente trabalhar de graça, apenas os atores foram pagos e mesmo assim foi cachê simbólico.  Tínhamos por dia cerca de 60 pessoas trabalhando no SET, isso só de parte técnica, pois teve dias em que tínhamos um monte de figurantes, atores, etc. Conseguimos diversos apoios para realizar o filme, a TV Cultura apoiou emprestando toda parte de figurino e cenografia, tivemos diversos apoios pra aluguel de equipamento, etc. Toda equipe foi formada por profissionais da área e todo mundo trabalhou de graça com a maior vontade do mundo, nunca na minha vida tinha trabalhado com uma equipe tão esforçada e olha que eu já havia trabalhado com todo esse pessoal antes. Tudo isso foi essencial para o resultado final do filme. Bom, voltando ao roteiro, resolvemos fugir novamente do que estávamos acostumados a fazer. Não queríamos fazer outro filme de terror, nem outro documentário, fizemos um drama misturado com humor negro, onde colocamos a situação do artista no Brasil num curta totalmente situado no centro velho de São Paulo, com personagens marginais. Todo o filme faz uma analogia com a bíblia e seus personagens, colocamos Jesus como um ator de teatro velho e decadente que vive em um cortiço imundo, Maria Madalena é um travesti de meia idade, os apóstolos são os amigos de Ivan, o ator decadente, entre eles um Michael Jackson cover fuleiro e um negro caolho de cadeira de rodas, e ai mostramos a trajetória deste ator que tem que entregar panfletos vestido de Mickey embaixo da luz do sol pra pagar seu sustento, até o momento em que tem uma iluminação e resolve mudar sua vida e de seus amigos.

Baiestorf: Essa versão que vi na tua casa (em companhia do Rodrigo Aragão) ainda não esta finalizada, certo? Quando o curta ficará pronto? Alguma previsão de lançamento?

Fernando Rick: Sim, a versão que você viu era a final, o curta já esta pronto, em 35mm e Dolby SR-D, neste exato momento esta a caminho de sua estréia num festival no Sul! Agora deve percorrer o circuito de festivais e é ai que vou descobrir se alguém além de mim gostou dessa bagaça, por que tem muita gente que mostrei o curta e não fizeram cara de quem gostou muito não (risos).

Baiestorf: A parte técnica do “Ivan” está fantástica, o trabalho dos atores (em especial do cara que faz o Ivan – não lembro nome dele – e do Rubens Mello) está genial!!! Qual foi o orçamento do curta? Como tu levantou essa grana?

Fernando Rick: Sim, a parte técnica foi exaustivamente estudada para conseguirmos esse resultado. Figurino, cenografia, fotografia. O trabalho dos atores também foi incrível, o primeiro cara que eu ofereci o papel do Ivan foi o Ivan Cabral, ator e dono do grupo de teatro Satyros, o cara fechou comigo, me deu certeza… e adivinha? Faltando um mês para começarmos as filmagens, o cara simplesmente sumiu, parou de atender minhas ligações, etc. Beleza, bola pra frente, tentei então o Carlos Mossy, que se interessou, mas como ele mora no Rio, ia ficar muito caro e então me deparei com o André Ceccato! Esse cara caiu do céu, ele ficou perfeito no papel e quero trabalhar muitas outras vezes com ele. Puta ator, com A maiúsculo. Quem ver o filme, verá. O Rubens Mello foi o primeiro que escolhi para o papel do travesti Darlene Starr e nem precisei procurar mais ninguém, ele ficou com o papel de cara. O cara que faz o Ronaldo, o Judas da história, é o Beto Bellini, que também foi o cara que criamos o papel pensando nele e rolou dele fazer e ficou ótimo também.  O curta esta orçado em 90 mil, mas gastamos cerca de 18, 19 mil reais contando com o Transfer para 35mm, etc. Só conseguimos fazer por este preço com esse esquema de todo mundo trabalhando de graça, se não, não ia ter jeito, é 90 mil pra cima. De qualquer forma, estamos conseguindo captar a grana graças a WHEATON do Brasil, que esta patrocinando o projeto através da Lei Rouanet. No site da Black Vomit tem um making of bem legal feito pelo nosso amigo Armando, que mostra um pouco de como foram as filmagens, vale a pena conferir.

Baiestorf: É bom ver cineastas independentes, como Rodrigo Aragão com seu longa “A Noite do Chupa Cabras” e você com o curta “Ivan”, fazendo filmaços. Tu acha que se rolasse mais grana nas produções independentes a gente teria mais grandes diretores realizando bons filmes?

Fernando Rick: Não sei não cara, com alguns até funcionaria, com outros não. O dinheiro funciona quando o cara sabe fazer e tem o que mostrar, tem muito moleque hoje que se prendeu a isso de “eu faço cinema de Bordas…” e o cara acha que porque faz uns videozinhos de 50 reais, não precisa se importar com parte técnica, etc. E os filmes desses caras geralmente não tem nada pra acrescentar, são historinhas de terror bobinhas, sem protesto, sem crítica, sem mensagem, sem finalidade, sem porra nenhuma. Hoje em dia tá cheio de caras assim.  Não sou contra filme tosco, sem recursos, sem equipamentos, sou contra filme bobo, pau mole. Eles deviam aprender mais com você e com o Gurcius. (risos).

Baiestorf: Aliás, tu acredita em cinema de gênero? Há público prá esse tipo de cinema no Brasil?

Fernando Rick: Sim, cada dia cresce mais o número de adeptos do cinema de gênero. A prova disso é o crescente número de festivais de gênero que nascem no Brasil a cada ano, Fantaspoa, Cinefantasy, RioFan, SP Terror, Mostra de Cinema de Bordas, etc. Até pouco tempo atrás não tinha nada disso. Graças à internet, o público tem mais acesso a esse material e vai rolando esse tipo de evento.  E todos eles são muito legais, é uma via de mão dupla, é bom pra quem produz, que divulga o trabalho e sempre tem mais lugares onde exibir os filmes e para os fãs é ótimo poder conferir uma produção crescente não só no Brasil, como no mundo, de um tipo de cinema específico que o cara gosta. Este ano, por exemplo, o FantasPoa esta trazendo o Lamberto Bava! Quando na vida a gente ia imaginar ver esse cara exibindo e comentando seus filmes e os clássicos do pai dele no Brasil? E claro, como não posso deixar de vender meu peixe, estou trazendo pela minha produtora o Lloyd Kaufman da TROMA, numa retrospectiva com os maiores clássicos dos caras e uma MASTER CLASS de 5 horas GRATUITA! Sem contar que ouvi fortes boatos de que até o fim do ano também tem uma mostra do Takashi Miike em SP. Tudo isso no mesmo ano! Ou seja, só temos a ganhar com o fácil acesso a esse material.

Baiestorf: “Ivan” vai ser exibido em festivais e mostras, certo? Há planos de lançar ele em DVD (talvez na linha do DVD “3 Cortes” que reunia 3 curtas de 3 diretores diferentes)?

Fernando Rick: O foco principal são os festivais ao redor do mundo, que é onde a gente consegue divulgar o trabalho, etc. Depois que rodar todo lugar que eu conseguir enfiar o filme, ai com certeza eu coloco ele na íntegra na internet. O que acho mais fácil acontecer é algum doido querer lançar uma coletânea de trabalhos da Black Vomit, reunindo trampos novos, antigos, etc, e o Ivan entrar no meio, com making of e tal.

Baiestorf: Vocês da Black Vomit estão trazendo o Llloyd Kaufman pro Brasil, tu pode falar sobre isso? Passar detalhes?

Fernando Rick: Bom, como já disse, a Troma sempre foi grande influência pra mim, foi em partes por causa deles que comecei a fazer filmes. O Lloyd Kaufman é uma das poucas pessoas que considero um herói de verdade. O que rolou foi que íamos tentar trazer o cara pra Virada Cultural em SP, mas abortamos o projeto e resolvemos fazer em parceria com a prefeitura esta mostra retrospectiva da TROMA, exibindo durante uma semana inteira os maiores clássicos da produtora e de quebra, uma MASTER CLASS de 5 horas com nosso mestre, e o negócio vai ter tradução simultânea, coffe brake e tudo mais. O melhor é que é totalmente de graça! É um sonho pra mim poder trazer um cara que sou fã desde criança e ainda por cima dar essa chance única de ter uma aula de cinema com ele, para um monte de fãs do cara pelo Brasil que virão pro evento. Isso tudo só foi possível graças a ajuda do nosso ultra brother Alex Andrade e o Cine Olido. E preparem-se que isso é só o começo, pretendemos trazer mais gente legal!

Baiestorf: Próximos projetos? O que tu planeja fazer depois do filmaço “Ivan”???

Fernando Rick: Temos um curta, chamado Estopim, que Foi aprovado antes do IVAN na Lei Rouanet e trata desse assunto de massacre em colégio, na época fizemos baseado no Massacre de Columbine, e eis que agora surge esse moleque xarope no Rio e fez o mesmo aqui. É um curta de humor negro, mais adolescente e pra variar, totalmente diferente do Ivan. É um monte de cabeças explodindo, corpos pegando fogo, etc. Vamos tentar captar grana pra fazer esse filme, essa é a única coisa certa até agora. Projetos temos de kilo, mas não adianta ficar contando com o ovo no cu da galinha, quando algo tiver certo, eu solto as novidades!

Lloyd Kaufman da Troma