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Banquete de Sangue no Mundo dos Nudie Movies

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 17, 2012 by canibuk

“Blood Feast” (“Banquete de Sangue”, 1963, 67 mim.) de H.G. Lewis. Com: William Kerwin, Mal Arnold e Connie Mason.

No início dos anos de 1960 o mercado de nudie movies estava lotado de produtores picaretas que davam ao público produções ultra-baratas com aquilo que o público queria ver: Nudez! Eram filmes com orçamento extremamente baixo que eram escoados em salas de cinema destinadas aos adultos (as chamadas Grindhouse Theatres que, ao contrário do que a imprensa brasileira quer fazer acreditar, eram locais exibidores e não um gênero de filme), muitas destas produções distribuida por Harry Novak. David F. Friedman e H.G. Lewis faziam nudies e, querendo um diferencial às suas produções, resolveram fazer filmes de horror onde o sangue jorrasse colorido, as mutilações fossem explícitas e a diversão macabra em tom de farsa, assim relegaram ao mundo o clássico “Blood Feast” (seguido do espetacular “Two Thousand Maniacs!” e “Color Me Blood Red”).

Para seu primeiro horror gore a dupla Friedman-Lewis rabiscou um argumento e chamou a roteirista Allison Louise Downe para fazer a ligação entre uma e outra cena. A história é mais ou menos essa aqui: Em Miami Fuad Ramses (Mal Arnold) tem um restaurante que fornece comida em festas. Pancada da cabeça, Ramses está preparando um ritual para trazer de volta a deusa Ishtar, a mãe das trevas, com uma solução contendo partes de cadáveres de mulheres mortas. Mero pretexto para mostrar a mais divertida série de assassinatos grotescos que o cinema teve até aquele ano. É uma orgia de sangue com inúmeras mutilações de vermelho denso e as investigações de um grupo de policiais palermas encabeçados pelo detetive Pete (William Kerwin usando o nome Thomas Wood), que passa a namorar Suzette (Connie Mason), objeto de desejo do ensandecido Ramses que terá uma morte esmagadoramente hilária.

Com efeitos gore elaborados pelo próprio diretor do filme, coisas simples como vísceras de animais, sangue de um vermelho vibrante falso, pedaços de manequins, “Blood Feast” surpreendeu o público ao estreiar em drive-ins de New York com o produtor Friedman distribuindo sacos de vômito ao público pagante. Na Flórida, com o filme prestes a estreiar, a dupla picareta tirou, intencionalmente, uma medida cautelar contra seu próprio filme a fim de gerar publicidade e o tiro foi certeiro: O público lotou as salas onde era exibido. “Blood Feast” rendeu muito dinheiro, mas é uma produção quase amadora onde nada foi levado a sério, tanto que paralelo ao lançamento do filme, Lewis lançou também o livro “Blood Feast” que é ainda mais humoristico e insano.

Herschell Gordon Lewis nasceu em 1929 em Pittsburgh, se mudando para Chicago quando adolescente e só fez filmes divertidos. Seu primeiro emprego foi numa agência de publicidade (o que explica suas bem boladas campanhas promocionais para os filmes) e, em seguida, dirigiu comerciais para a televisão. Seu primeiro filme, o drama “The Prime Time” (1959), foi também o primeiro longa produzido em Chicago desde 1910. Em seguida conheceu David F. Friedman e juntos realizaram “Living Venus” (1961), sobre um fotografo que tem uma revista de mulher pelada, tudo inspirado em Hugh Hefner, dono da “Playboy”. O filme rendeu uma boa grana e a dupla se dedicou a produção de inúmeros outros nudies, coisas como “The Adventures of Lucky Pierre” (1961), uma imitação sem talento do clássico “The Immoral Mr. Teas” (1959) do genial Russ Meyer; “Daughter of the Sun” (1962), sobre uma mulher que descobre ser nudista; “Nature’s Playmates” (1962), onde um detetive particular investiga um caso de desaparecimento num campo de nudismo e o divertido “Boin-n-g” (1963), onde, em exercício de metalinguagem, um produtor e um diretor de cinema inexperientes realizam testes com mulheres para a produção de um nudie movie. Nesta época a produção de filmes explorando nudez era tanta que a dupla resolveu apostar no então desconhecido território dos filmes gore exageradamente violentos com “Blood Feast”. Entre “Blood Feats” (1963) e “Two Thousand Maniacs!” (1964), a dupla ainda realizou mais três filmes: “Goldilocks and the Three Bares” (1963), um musical sobre cantores folclóricos num campo de nudismo; “Bell, Bare and Beautiful” (1963), sobre um jovem milionário que persegue uma stripper num campo de nudismo; e “Scum of the Earth” (1963), dramalhão sobre um fotografo e uma inocente jovem.

Com “Two Thousand Maniacs!” a dupla foi além no seu gosto pelo exagero, colocando um grupo de jovens numa cidade onde absolutamente todos os moradores são assassinos. “2000 Maniacs!” foi o segundo filme da chamada, posteriormente, “The Blood Trilogy” que fechou com “Color me Blood Red” (1965). Filmado em apenas 15 dias na cidade de St. Cloud, Flórida, com toda a cidade participando do filme (percebemos incontáveis figurantes do filme sorrindo de alegria por estarem trabalhando num filme) e algumas mortes, como a do barril com pregos colina abaixo, sendo boladas pelo filho de Lewis, então com 11 anos, a produção foi um enorme sucesso nos drive-ins americanos. Entre “2000 Maniacs!” e “Color me Blood Red”, outros três filmes foram feitos: “Moonshine Mountain” (1964), sobre um cantor country; o desconhecido “Sin, Suffer and Repent” (1965), que não consegui assistir; e o clássico “Monster a Go-Go” (1965), que conta a história de uma capsula espacial que volta para a Terra e o astronauta desaparece ao mesmo tempo que um monstro misterioso começa a atacar (na verdade era um filme incompleto que foi comprado e remontado por Lewis, lançando-o como seu). Depois do sucesso de “Color me Blood Red”, Lewis e Friedman se separaram e o diretor continuou se exercitando com sangueiras espetaculares como “A Taste of Blood” (1967), épico de quase duas horas de duração com um vampiro caçando os descendentes dos assassinos de Drácula; “The Gruesome Twosome” (1967), com um assassino tirando o escampo de suas vítimas; “Something Weird” (1967), que foi a inspiração para o nome da distribuidora Something Weird Video; “The Wizard of Gore” (1970), clássico do gore sobre o mágico que hipnotiza e mutila suas vítimas num palco diante uma platéia sedenta por violência e “The Gore Gore Girls” (1972), onde um jornalista investiga as mortes de strippers.

Entre uma e outra filmagem de seus filmes gores, Lewis fazia todo tipo de produções onde pudesse ganhar alguns trocados, assim realizou “She-Devils on Wheels” (1968), violento biker movie que rende ótimas gargalhadas involuntárias por conta de seu elenco canastrão; “Just for the Hell of It” (1968), drama envolvendo gangues de delinquentes junenis; “How to Make a Doll” (1968), onde um professor nerd cria maravilhosas fêmeas rôbos; e “The Year of the Yahoo” (1972), drama cômico sobre um cantor country que ajuda na campanha política de um senador. H.G. Lewis sempre financiou ele próprio seus filmes com dinheiro de sua bem sucedida agência de publicidade que mantinha em Chicago. Lewis também escreveu mais de 20 livros, entre eles “The Businessman’s Guide to Advertising and Sales Promotion”, onde ensinava como ganhar dinheiro. Em 2002 Lewis voltou a dirigir filmes justamente com a continuação de “Blood Feast” que se chamou “Blood Feast 2: All U Can Eat”, uma divertida comédia sangrenta sobre uma nova tentativa de realizar outro banquete para Ishtar.

David F. Friedman (1923-2011) quando adolescente se tornou projecionista de um cinema em Buffalo. Durante o tempo em que serviu no exército conheceu Kroger Babb (um dos pioneiros na arte de produzir exploitation movies, a maioria dos filmes dele são aqueles hilários filmes de educação sexual destinados ao público adulto) e acabou se interessando pela produção de filmes. Nos anos de 1950 fundou uma produtora de filmes exploitation lançando “Cannibal Island” (1956), sobre a vida e costumes dos povos primitivos (na verdade Friedman comprou o documentário “Gow the Killer” (1931) e o remontou para parecer um novo filme). No início dos anos 60 conheceu Herschell Gordon Lewis e mantiveram uma parceria de sucesso realizando, principalmente, nudie movies e gores de humor negro. Quando a parceria entre os dois chegou ao fim, Friedman se voltou ao mercado de sexploitations com filmes como “The Defilers” (1965) de Lee Frost, drama sobre uma mulher mantida como escrava sexual; “The Notorious Daughter of Fanny Hill” (1966) de Peter Perry Jr., sobre um puteiro; “She Freaks” (1967) de Byron Mabe, refilmagem disfarçada do clássico “Freaks” (1932) de Tod Browning, só que com tudo mal feito; “The Acid Eaters” (1968) de Byron Mabe, filme jovem sobre tomadores de LSD; “Space Thing” (1968) de Byron Mabe, sci-fi altamente erótica sobre gostosas alienígenas taradas onde algumas cenas explícitas já apareciam; “The Ribald Tales of Robin Hood” (1969) de Richard Kanter e Erwin C. Dietrich, que colocava o herói Robin Hood em contato com deliciosas mulheres; “Love Camp 7” (1969) de Lee Frost, onde duas agentes aprontava altas confusões eróticas numa prisão nazista; “The Adult Version of Jekyll and Hyde” (1972) de Lee Raymond, onde a história do “Médico e o Monstro” ficava mais apimentada; “The Erotic Adventures of Zorro” (1972) de Robert Freeman, onde Zorro tirava tudo menos sua máscara e cavalgava lindas mocinhas; “Ilsa – She Wolf of the SS” (1975) de Don Edmonds, nazixploitation violento que ele assinou com o pseudônimo de Herman Traeger; entre vários outros filmes que faziam a alegria dos marmanjos dos anos 60 e 70. Friedman foi um dos precursores da pornográfica explícita que tomou de assalto os cinemas américanos após o sucesso comercial de “Deep Throat/Garganta Profunda” (1972) de Gerard Damiano, chegando a ser presidente da Adult Film Association of America. Em 1990 ele publicou sua auto-biografia “A Youth in Babylon: Confessions of a Trash-Film King”, onde afirmava: “Eu realizei alguns filmes terríveis, mas não invento nenhuma desculpa para qualquer coisa que fiz. Ninguém nunca pediu seu dinheiro de volta!”. Em 2002, para fechar sua lenda com chave de sangue, foi o produtor de “Blood Feast 2: All U Can Eat” e, em 2005, do remake “2001 Maniacs” de Tim Sullivan (e também da continuação do remake, “2001 Maniacs: Field of Screams” (2010), também de Sullivan).

A roteirista de “Blood Feast”, Allison Louise Downe é mais conhecida como atriz de nudie movies, geralmente usando os pseudônimos Bunny Downe ou Vickie Miles. Apareceu em alguns filmes da lendária Doris Wishman, como “Diary of a Nudist” (1961) e “Blaze Starr Goes Nudist” (1962). Apareceu também nos filmes do período nudista de Lewis, como “Nature’s Playmates” (1962) e “Boin-n-g” (1963) e no drama “Suburban Roulette” (1968). Com o diretor Barry Mahon, outro lendário picareta do mundo dos nudie movies, deu as tetas e bunda em filmes como “Pagan Island” (1961), “Bunny Yeager’s Nude Camera” (1963) e apareceu, não-creditada, como a primeira vítima no clássico bagaceiro de Mahon, o ultra-trash cult “The Beast That Killed Women” (1965), sobre um gorila que ataca mulheres nuas num campo nudista. O casal de mocinhos de “Blood Feast”, William Kerwin e Connie Mason, eram casados na vidade real. Kerwin é conhecido por sua longa parceria com o diretor Lewis, ambos eram amigos e trabalharam juntos em “Living Venus” (1961) não parando mais. Outros filmes de destaque onde ele tem papéis são trasheiras como “Sex and the College Girl” (1964) de Joseph Adler; “House of Terror” (1973) de Sergei Goncharoff; “Barracuda” (1978) de Harry Kerwin e Wayne Crawford e “Porky’s 2” (1983) de Bob Clark, onde usou o pseudônimo de Rooney Kerwin. Apareceu em mais de 150 filmes, a grande maioria produções para a televisão. Sua esposa, Connie Mason, também fez inúmeros papéis em filmes e séries de TV. Recebendo crédito na tela só em “Blood Feast” e “2000 Maniacs”, ela foi figurante em filmes de Hollywood como “Diamonds are Forever/007 – Os Diamantes são Eternos” (1971) e “The Godfather 2/O Poderoso Chefão 2” (1974) de Francis Ford Coppola, renomado diretor de Hollywood descoberto por Roger Corman. Connie foi coelhinha da revista Playboy em junho de 1963. Para saber mais sobre Connie, leia “Connie Mason: Da Nudez ao Gore!

Em 1986 foi lançado “Blood Diner” de Jackie Kong, uma divertida refilmagem de “Blood Feast” que possuia um estilo de humor avacalhado que lembrava as produções da Troma. John Waters, fã confesso da obra de H.G.Lewis, lhe rendeu várias homenagens em seus filmes, como o título “Multiple Maniacs” (1970) que é inspirado em “2000 Maniacs!” e referências aos filmes de Lewis em produções como “Serial Mom/Mamãe é de Morte” (1994) e “Cecil B. Demented” (2000), homenagens que Lewis retribuiu em 2002 quando ofereceu à Waters o papel do reverendo que aparece em “Blood Feast 2”. A título de curiosidade: H.G. Lewis já esteve em Porto Alegre/RS dando uma série de palestras para empresários sobre como ser bem sucedido no mundo dos negócios, ninguém destes empresários tinha a menor idéia que estavam diante de uma lenda do cinema exploitation mundial.

por Petter Baiestorf.

Assista “Blood Feast” aqui:

Torrente – A Série

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on julho 25, 2012 by canibuk

“Torrente – El Brazo Tonto de la Ley” (1998, 97 min.) de Santiago Segura. Com: Santiago Segura, Tony Leblanc, Javier Cámara e Neus Asenti.

“No es Sylvestre Stallone! No es Steven Seagal! Es Santiago Segura!”, assim começava aquele instigante trailer. O ano era 1998 e vivia o impacto do ultra sucesso “Titanic” (1997) de James “Piranha 2” Cameron. Na Espanha o quase desconhecido Santiago Segura lança uma produção de baixo orçamento chamada “Torrente” que causa sensação por seu senso de humor cafajeste descompromissado e lota os cinemas espanhóis desbancando “Titanic” do posto de maior bilheteria na Espanha. Nada mal para um filme que ri dos defeitos do povo espanhol: Torrente é um porco machista de extrema direita, racista, homofóbico, fascista fã do general Franco e anti-comunista, um cidadão comum da nova Europa miserável assolada pela crise financeira. Na época, assim que “Torrente” foi lançado, fiz contato com amigos fanzineiros espanhóis e consegui uma cópia em VHS Pal Europeu, transcodificamos a fita prá VHS NTSC e pude me deleitar com as palhaçadas de Santiago Segura (eu já era fã dele por sua atuação no clássico “El Día de la Bestia” e seu “Perturbado”, um curta imperdível). “Torrente” já teve três seqüências, todas dirigidas, escritas e estreladas por Segura e tão divertidas quanto o filme de estréia.

Em “Torrente – El Brazo Tonto de la Ley”, somos introduzidos no mundo dos maus hábitos de José Luis Torrente, um gordo feio e careca que sonha em ser policial nas periferias de Madrid para combater traficantes e imigrantes ilegais. Sem escrúpulos, Torrente usa seu pai – que está numa cadeira de rodas – para conseguir dinheiro de esmolas, até o dia que Amparito (Neus Asenti) vem morar na vizinhança de Torrente, que fará de tudo para impressioná-la e garantir uma boa foda. Paralelo às suas grossas tentativas de conquistar a garota, Torrente reune um grupo de nerds fracassados – de quem ele tira dinheiro com a desculpa de que os está ensinando – e tenta prender/roubar os traficantes de droga que operam no restaurante chinês do bairro. Com uma produção de poucos recursos Santiago Segura se armou de um roteiro cheio de boas piadas, doses cavalares de humor negro incorreto e tiradas geniais que não se via mais no cinema mundial. Como curiosidade, o título deste primeiro filme é uma paródia com o título espanhol de “Cobra”, estrelado por Sylvestre Stallone, que lá tinha o subtítulo “El Brazo Fuerte de la Ley”.

“Torrente 2 – Missión en Marbella” (2001, 99 min.) é novamente escrito, dirigido e interpretado por Santiago Segura, agora munido de uma produção mais bem cuidada (ter dinheiro para fazer um filme não é tudo, mas que ajuda, isso ajuda!) e com muito mais ação. Como Torrente ficou rico (com dinheiro roubado dos traficantes) na primeira parte, agora ele mora em Marbella onde gasta rapidamente tudo em putas e casas de jogos. Sem dinheiro e sem mulheres, Torrente abre uma agência de investigação particular e se diverte fotografando e chantageando seus clientes. Sem perceber ele se envolve numa trama onde um terrorista planeja destruir a cidade se não for pago pela prefeitura de Marbella e numa de suas andanças por puteiros arranja confusão no estabelecimento de um criminoso que se revela seu tio (que depois descobrimos ser o verdadeiro pai de Torrente, novamente interpretado pelo lendário Tony Leblanc) e a conclusão da trama é uma das mais cretinas possíveis, com cada um por si e Torrente por ninguém mais que si. Um dos encantos desta segunda parte é seu humor grosso envolvendo muitas piadas familiares, Segura sabe como poucos como avacalhar o cidadão comum espanhol, a tradição familiar e seu respeito ao estado e a fé católica. O filme contabilizou mais de 5 milhões de espectadores.

Como Torrente virou herói nacional na segunda parte dos filmes, em “Torrente 3 – El Protector” (2005, 91 min.) ele é chamado pelo governo espanhol para ser o guarda-costas pessoal da gostosa deputada italiana Giannina Ricci (Yvonne Scio) que já havia sido vítima de vários atentados. Lógico que Torrente acredita cegamente que a deputada está apaixonada por ele e quer noitadas de sexo selvagem com nosso gordinho fascista. Nesta terceira parte da série, Segura escreveu um roteiro redondinho com o humor negro em sua plenitude, os testes que Torrente realiza com um grupo de vagabundos improvissados como policiais rendem ótimos momentos e sua obsessão pelo cantor El Fary atinge o âpice. Há, ainda, ótimas cenas de ação que Santiago Segura soube dosar muito bem com o humor do filme, tudo aqui é feito para resultar em gargalhadas. O filme fecha como uma ótima piada envolvendo Bush, o então presidente dos USA na época. E para nossa surpresa diretores como John Landis e Oliver Stone fazem participações especiais nesta terceira parte que arrecadou mais de 18 milhões de euros.

Já em “Torrente 4 – Lethal Crisis” (2011, 93 min.) o imbecil policial eternamente corruptível tenta enfrentar a crise européia comendo comida dos lixos das ruas e explorando imigrantes ilegais (ele subloca seu apartamento para mais de 30 latinos que estão ilegalmente em Madrid sob ameaças de deportação). A chance de ganhar uma boa grana surge quando Torrente é contratado para assassinar um homem. Depois de tentar terceirizar o serviço, o preguiçoso agente da lei precisa executar o serviço com as próprias mãos. Quando entra na casa de seu alvo, percebe que foi vítima de uma armação e é preso, indo para uma penitenciária onde comandará uma atrapalhada fuga de prisioneiros durante um jogo de futebol. Uma vez fora da cadeia, Torrente vai à um puteiro para comer putas e pensar num modo de limpar seu nome. Essa quarta, e por enquanto última, parte traz um Torrente muito parecido com os policiais da Polícia Federal Brasileira, ou seja, agentes da lei sempre querendo tirar vantagem em tudo, custe o que custar.

Sem nunca perder o pique, a série “Torrente” é fruto da imaginação do diretor, produtor, roteirista e ator Santiago Segura. Nascido em Madrid em julho de 1965, resolveu que queria ser cineasta quando dirigiu a produção amadora em vídeo “Relatos de la Medianoche” (1989) que já trazia várias características de sua obra, como o senso de humor negro. Este filme custou o equivalente à 50 dólares e abriu as portas para seu primeiro curta-metragem profissional, “Evilio” (1992), onde interpretou um psicopata imbecil com algumas boas cenas gore. Em seguida dirigiu seu primeiro grande clássico, o curta “Perturbado” (1993) onde interpreta o perturbado do título, revelando-se como o grande humorista que é. “Perturbado” merecia virar um longa-metragem. Antes de acertar em cheio com “Torrente” ainda fez o fraco “Evilio Vuelve (O Purificador)” (1994). Santiago Segura também fundou a produtora Amiguetes Entertainment que já produziu pequenos bons filmes, como “Asesino en Serio/Assassinato em Série” (2002, Europa Filmes) de Antonio Urrutia, uma debochada história do psicopata que matava mulheres através do orgasmo onde Santiago interpreta um padre filho da puta; “Una de Zombis” (2003) de Miguel Ángel Lamata, onde a trama se passa nas dependências da própria produtora Amiguetes, com Segura no papel de um produtor assediado pelas mulheres que sonham em fazer sucesso no cinema; “Promedio Rojo” (2004) de Nicolás López sobre um nerd fã de Robert Rodrigues; a comédia maluca “El Asombroso Mundo de Borjamari y Pocholo” (2004) de Juan Cavestany e Enrique López Lavigne, onde Segura interpreta Borjamari; “La Máquina de Bailar” (2006) de Óscar Aibar e “Tensión Sexual no Resuelta” (2010) de Miguel Ángel Lamata, onde o amor se torna uma arma de destruição em massa.

Como ator já participou de mais de 70 filmes, com destaque para suas parcerias com o genial diretor Álex de la Iglesia, para quem emprestou seus talentos cômicos em filmes como “Acción Mutante” (1993); “El Día de la Bestia” (1995), onde se imortalizou no papel do metaleiro retardado José Maria; “Perdita Durango” (1997); “Muertos de Risa” (1999), onde interpretou um comediante psicopata e no “Balada Triste de Trompeta” (2010), uma espécie de reciclagem chapada de ácido da idéia apresentada em “Muertos de Risa”. Também teve papel de destaque em “Killer Barbys” (1996) de Jesus Franco; “Chica de Río/A Garota do Rio” (2001) de Christopher Monger, que foi filmado no Rio de Janeiro e a única coisa que presta é Santiago Segura no papel de um taxista brasileiro; “Beyond Re-Animator” (2003) de Brian Yuzna, onde deu as caras na pele de uma personagem chamada “Speedball” ao lado do ator cult Jeffrey Combs. Eventualmente Santiago Segura aparece em pequeno papéis em filmes de Hollywood, como nas mega bombas “Blade 2”, “Hellboy 1 e 2”, “Agent Cody Banks 2”, entre outras tralhas. Não percam de vista este genial realizador espanhol.

A idéia para o primeiro filme veio enquanto Santiago trabalhava em “El Día de la Bestia”. Um dia, ao almoçar num restaurante chinês, o diretor/ator presenciou um homem sendo extremamente estúpido e grosso com uma garçonete e seu cérebro fervilhou de idéias e possibilidades para seu primeiro longa. Revivendo a comédia popular (sim, a comédia de gente genial como Bud Spencer/Terence Hill ou Os Trapalhões faz falta), Segura acertou em cheio – mesmo que sem querer – no que o público espanhol queria ver. Devido ao sucesso de público, ainda em 1998, foi lançada uma versão em quadrinhos do filme com desenhos de José Antonio Calvo publicada na revista “El Víbora”. Em 2001 a Virtual Toys lançou o jogo para PC “Torrente: El Juego”. Em 2005 a Virgin Play lançou outro jogo, desta vez para PlayStation 2, baseado na terceira parte da série intitulado, justamente, “Torrente 3: The Protector”. Correm boatos de que a New Line Cinema pode adaptar “Torrente” para o mercado americano em refilmagem que seria estrelada por Sacha Baron Cohen, mas espero que essa palhaçada fique somente nos boatos. O crítico Luis Garcia Berlanga afirmou, certa vez, sobre a primeira parte de Torrente: “O filme contém uma gag genial que define com perfeição o caráter espanhol: apoiando-se no bar, Torrente palita os dentes!”.

Neste ano de 2012 a distribuidora Paris Filmes lançou as três seqüências de “Torrente” em DVD, mas lógico que tudo sem material extra e com o pecado mortal de não ter disponibilizado o primeiro filme da série. Que venha “Torrente 5”, como fã fanático de Santiago Segura e sua estúpida maravilhosa série, fico no aguardo ansioso por mais uma desventura do gordo policial de extrema direita sem noção de nada.

por Petter Baiestorf.

Assista aqui “Torrente – El Brazo Tonto de la Ley”:

Assista aqui “Torrente 2”:

Assista aqui “Torrente 3”:

Assista aqui algumas cenas de “Torrente 4”: