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Orgy of the Dead (1965, 92 min.) de Stephen C. Apostolof. Roteiro de Edward D. Wood Jr. (baseado em sua novela “Orgy of the Dead”). Com: Criswell, Pat Barrington, Fawn Silver, Rene De Beau e Nadejda Klein.
Com uma trama praticamente inexistente “Orgy of the Dead” tenta contar a história de um casal (Pat Barrington, que no ano seguinte estaria no elenco de “Mondo Topless”, e William Bates) que, ao discutir sobre o quanto uma visita noturna a um cemitério pode ser inspiradora, se acidenta e acaba num cemitério (que é o mesmo de “Night of the Ghouls” de Ed Wood) onde encontra o todo poderoso “Imperador” (Criswell, impagável como sempre) que os aprisiona e convoca deliciosas almas penadas do além para números de dança hilários com strippers indígenas, mulheres gatos, múmia, lobisomem fajuto e toda uma fauna de curiosas personagens que dão a ideia de que o inferno é o melhor lugar do mundo.
Fawn Silver e Criswell
Com este ponto de partida infantiloide “Orgy of the Dead” é uma grande brincadeira cinéfila involuntária com Edward D. Wood Jr. (aqui roteirista e faz tudo da produção) exercitando-se (sem querer) na metalinguagem. “Orgy” remete diretamente ao seu filme “Night of the Ghouls” (1958), um inacreditável horror sobrenatural com Criswell “interpretando” o mesmo papel. Para se ter uma ideia da precariedade de “Night of the Ghouls” basta contar que o filme foi filmado em 1958 e só lançado em 1983. Ed Wood, após filmar “Night” não tinha como pagar a conta no laboratório que revelou o filme, então os negativos ficaram apreendidos nos arquivos do laboratório até que em 1983 – depois que Wood e Criswell já estavam mortos, fazendo-me pensar que, talvez, eles nunca tenham nem assistido ao copião do filme -, quando o empresário Wade Williams pagou a conta, montou e lançou o filme que já era considerado obra perdida (à título de curiosidade, Wade foi diretor de “Terror From the Stars” (1969) e produtor associado em pérolas como “Invaders From Mars/Invasores de Marte” (1986) de Tobe Hooper e “Midnight Movie Massacre/Aconteceu à Meia Noite” (1988) da dupla Laurence Jacobs e Mark Stock). Ainda no campo da metalinguagem, o papel da personagem “Black Ghoul” foi escrito para ser interpretado pela Maila Nurmi (a Vampira de “Plan 9 From Outer Space”, que infelizmente se recusou a filmar) e acabou sendo feita pela atriz Fawn Silver, que depois esteve no elenco dos filmes “Unkissed Bride” (1966) de Jack H. Harris (isso mesmo, o produtor do Cult “The Blob/A Bolha Assassina” (1958) dirigido por Irvin S. Yeaworth) e do bagunçado “Terror in the Jungle” (1968), realização que teve três diretores (Andrew Janczak, Tom DeSimone e Alex Graton), cada um deles filmando um pedaço do filme.
Independente de “Orgy of the Dead” ser bom ou ruim (ele está muito além deste irrisório detalhe), é o grande marco na transição do Ed Wood da fase sci-fi/horror para o Ed Wood da pornografia. “Orgy” ainda não é pornô (nem erótico ele consegue ser), mas já não era mais uma tentativa de ser um filme de horror, flertando explicitamente com o subgênero Nudie Cutie em que qualquer mínimo enredo era mera desculpa para explorar as carnes femininas.
Stephen C. Apostolof
O diretor de “Orgy” é Stephen C. Apostolof, que geralmente assinava com o pseudônimo AC Stephen, um especialista em sexploitations que pertenceu aos pioneiros do cinema adulto americano. Apostolof nasceu na Bulgária e durante a segunda guerra mundial fugiu para os USA. Seu primeiro emprego em solo americano foi como arquivista no estúdio 20th Century-Fox. Em 1957 se meteu na produção do filme “Journey to Freedon”, de Robert C. Dertano, onde conheceu o gigante Tor Johnson que trabalhava como ator e o apresentou ao Ed Wood. No início da década de 1960 Apostolof assistiu ao Nudie Cutie “The Immoral Mrs. Teas” (1959) de Russ Meyer e soube o que queria fazer de sua vida. E assim acabou produzindo/dirigindo quase 20 produções cheias da boa e sadia putaria que alegra nossa vida, vários destes filmes com roteiros escritos por seu amigo Ed Wood (além do “Orgy”, Wood também assina os roteiros de “Drop Out Wife” (1972), “The Class Reunion” (1972), “The Snow Bunnies” (1972), “The Cocktail Hostesses” (1973), “Five Loose Women” (1974, este lançado no Brasil com o título “As Fugitivas”) e “The Beach Bunnies” (1976), todos produzidos/dirigidos pelo búlgaro tarado). A parceria com Apostolof foi uma sobrevida na decadente carreira de Ed Wood, se iniciou em 1965 com este “Orgy of the Dead” e durou até 1978, ano de sua morte, com Apostolof garantindo uns poucos dólares para Wood nesta terrível fase e meio que repetindo o que o próprio Ed Wood havia feito por Bela Lugosi uma década antes. Em 2012 foi lançado um divertido documentário, “Dad Made Dirty Movies” de Jordan Todorov, sobre a hilária e muito curiosa carreira de Apostolov.
O elenco de “Orgy” é encabeçado por Jeron Criswell King, o lendário “The Amazing Criswell”, que foi um vidente americano famoso por suas previsões sempre imprecisas. Filho de uma família dona de funerária, Criswell possuía um caixão no lugar da tradicional cama porque achava mais confortável dormir ali (aliás, o caixão de Criswell aparece no pornô “Necromania” (1971) de Ed Wood). Também foi locutor de rádio e amigo de celebridades decadentes como Korla Pandit e Mae West, sendo que a pobre Mae usava Criswell como seu conselheiro espiritual. Em março de 1963 ele previu que John F. Kennedy não concorreria à reeleição em 1964 porque algo iria acontecer com ele em novembro de 1963. Picareta ou não, o fato é que Kennedy foi assassinado em novembro de 1963. Em seu livro “Criswell Predict from Now to the Year 2000!” (à venda na Amazon por cerca de 10 dólares), previu que a cidade de Denver seria atingida por um raio espacial e todo o metal se transformaria em borracha. Neste mesmo livro também previa que seríamos todos canibais no futuro e que o fim do mundo aconteceria em 1999. Criswell apareceu em três filmes, o clássico “Plan 9 from Outer Space”, o cômico “Night of the Ghouls”, ambos de Ed Wood, e “Orgy of the Dead” em que, contam seus colegas de produção, filmou todas as suas cenas em estado de pileque constante acompanhado de seu velho amigo, e companheiro de copo, Ed Wood.
Livro
“Orgy of the Dead” foi realizado por uma turma de técnicos que são uma espécie de “dream Team” do melhor do pior. A trilha sonora (conforme indica o site IMDB) é do compositor Jaime Mendoza-Nava (que não está creditado no filme), responsável por musicar inúmeras produções de “fundo de quintal”. A fotografia é de Robert Caramico, em início de carreira, que depois fotografou lixos imperdíveis como “The Black Klansman” (1966) de Ted V. Mikels, “Psychedelic Sexualis” (1966) de Albert Zugsmith, “Octaman” (1971) de Harry Essex, “The Doberman Gang” (1972) de Byron Chudnow, do clássico cult “Blackenstein” (1973) de William A. Levey, entre tantos outros. Caramico ainda foi diretor do pornô satânico “Sex Ritual of the Occult” (1970) que é um filme inútil que gosto bastante. O assistente de Caramico foi Robert Maxwell (que depois virou diretor de fotografia do clássico “The Astro-Zombies” (1968) de Ted V. Mikels e do fabuloso “Sweet Sweetback’s Baadasssss Song” (1971) de Melvin Van Peebles. O som de “Orgy” foi feito por Dale Knight que tinha em seu currículo trabalhos em vários filmes de Ed Wood (“Jail Bait”, “Bride of the Monster” e “Plan 9” tiveram o som feito por ele) e em produções como “The Astounding She-Monster” (1957) de Ronald V. Ashcroft e “The Cape Canaveral Monsters” (1960), outro delírio do diretor Phil Tucker, o grande responsável pelo genial “Robot Monster” (1953). E a edição ficou a cargo do diretor/produtor Don Davis que comandou o trabalho em filmes como o dramático “For Love and Money” (1967), também com roteiro de Ed Wood, e “Swamp Girl” (1971), sobre uma loirinha que é abandonada num pântano (curiosidade: Don Davis aparece atuando no papel de um Bêbado em “Plan 9”). Ainda sobre a equipe de “Orgy of the Dead”, diz a lenda que os diretores de segunda unidade , não creditados no filme, foram Edward D. Wood Jr. e Ted V. Mikels, mas duvido que tão capenga produção tenha tido uma equipe de segunda unidade.
De certo modo a explosão do mercado de cinema adulto no final dos anos de 1970, aliado a popularização dos aparelhos de VHS que permitiam ao público ver putaria explícita no conforto do lar, foram os responsáveis por sepultar a carreira de toda uma geração de produtores/diretores independentes como Apostolof (e até gênios como Russ Meyer). Depois de “Ice Hot”, filme que lançou em 1978, Apostolof nunca mais conseguiu investidores para seus filmes eróticos (que preferiam a segurança financeira de investir no cinema hardcore). Como Apostolof detinha os direitos autorais de todos os seus filmes se dedicou a lançá-los no, então, crescente mercado de vídeo doméstico se tornando o distribuidor de seus agradáveis e bem humorados lixos cinematográficos (Russ Meyer, Ted V. Mikels, David Friedman, e outros, fizeram a mesma coisa).
Escrito por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.
Night of the Creeps (“A Noite dos Arrepios”, 1986, 88 min.) de Fred Dekker. Com: Tom Atkins, Jason Lively, Bruce Solomon, Steve Marshall. Jill Whitlow, David Paymer, Robert Kerman e Dick Miller.
Eis um filme que considero perfeito. No espaço uma dupla de aliens perseguem membro de sua tripulação que ejeta no espaço uma cápsula contendo alguns perigosos parasitas. Claro que essa cápsula cai no planeta Terra, no ano de 1959, exatamente no local onde um psicopata estava retalhando garotas de um campus universitário. Pulo para 1986 onde, na Universidade de Corman, o calouro Chris Romero (Jason Lively), contando com ajuda de seu amigo James Carpenter Hooper (Steve Marshall), conhece Cynthia Cronenberg (Jill Whitlow) e resolve entrar para a fraternidade Beta a fim de impressionar a menina. Assim a dupla de desajeitados heróis é incumbida pelos Betas a roubar um cadáver, o que os leva até um laboratório criogênico onde descongelam um corpo infestado de parasitas alienígenas, dando início a um espetáculo “B” que envolve corpos re-animados, um assassino zumbi, o perturbado policial Ray Cameron (Tom Atkins), cérebros frescos e o criativo uso de um cortador de grama para matar zumbis (cena que anos depois Peter Jackson levaria a extremos gore em sua obra-prima “Braindead/Fome Animal”).
Com personagens cujos nomes são homenagens a grandes diretores do gênero fantástico, “Night of the Creeps” é uma das melhores reverências do cinema moderno aos clássicos de horror do passado. Sua mistura de sci-fi com horror homenageia de forma certeira filmes de zumbis, slashers, alienígenas e parasitas dos mais diversos. Parece que o diretor pensou: “Se não conseguir fazer um novo filme já terei misturado tudo que gosto neste!”. E o filme é uma feliz colcha de retalhos do diretor Fred Dekker em que tudo funciona muito bem, resultando num cult movie exemplar. Fiquem atentos à homenagem ao “Plan 9 From Outer Space” (1959) de Ed Wood, quando o detetive Ray Cameron apanha uma flor em frente a fraternidade e a cheira, remetendo diretamente a cena de Bela Lugosi no clássico trash (tudo bem, há duas homenagens ao “Plan 9”, já que vemos uma cena do filme original na TV segundos antes da personagem que assiste ser feita em picadinho pelo psicopata re-animado, tudo isso uma década antes de “Ed Wood” de Tim Burton). E a título de curiosidade, numa cena no banheiro onde a personagem James enfrenta os parasitas, é possível ver pixado na parede o nome “Monster Squad”, título do filme seguinte de Dekker.
Imagino que as filmagens de “Night of the Creeps” tenham sido bem divertidas a se julgar pelo elenco e participações especiais. Entre as personagens principais temos Tom Atkins (que esteve no elenco de inúmeros clássicos, como “The Fog/A Bruma Assassina” (1980), “Escape from New York/Fuga de Nova York” (1981), ambos de John Carpenter, e outras diversões como “Creepshow” (1982) de George A. Romero, “Halloween 3” (1982) de Tommy Lee Wallace e “Maniac Cop” (1988) de William Lustig); Jason Lively (de filmes como “Brainstorm/Projeto Brainstorm” (1983) de Douglas Trumbull e “Hollywood Monster/Ghost Chase” (1987) de Roland Emmerich); Bruce Solomon (que fez sua estréia no clássico “Children Shouldn’t Play With Dead Things” (1973) de Bob Clark); David Paymer (que é um rosto freqüente nos elencos de apoio de Hollywood, já tendo aparecido em mais de 150 produções) e o lendário Dick Miller (presente em mais de 170 produções, tendo iniciado sua carreira pelas mãos de Roger Corman em “Apache Woman/Pistoleiro Solitário” (1955) e sempre aparecendo em papéis bem divertidos em uma infinidade de filmes legais, que destaco “The Little Shop of Horrors/A Pequena Loja dos Horrores” (1960) de Roger Corman, “Piranha” (1978), “The Howling/Grito de Horror” (1981), “Gremlins” (1984), os três de Joe Dante, e “The Terminator/O Exterminador do Futuro” (1984), de James Cameron, e que continua na ativa tendo aparecido no novo Joe Dante, “Burying the Ex”, de 2014). Mas isso não é só, entre as participações especiais vemos o ator Robert Kerman (mais conhecido pelo papel da personagem “Monroe” no clássico “Cannibal Holocaust” (1980) de Ruggero Deodato e seus filmes pornográficos onde atuava com o pseudônimo de Richard Bolla); Robert Kino (ator veterano) que interpreta o hilário “Sr. Miner”); Chris Dekker (irmão do diretor); os diretores Craig Schaefer, como um policial no laboratório, e Shane Black (roteirista de “The Monster Squad” e diretor de “Iron Man 3/Homem de Ferro 3”) não creditado. O melhor são os figurantes que interpretam os “Beta Zombies”, quase todos são técnicos de maquiagens e efeitos especiais, com destaque para Robert Kurtzman (que foi o cara que deu o primeiro emprego pago para Quentin Tarantino), Howard Berger, David B. Miller, Earl Ellis e Ted Rae dão as caras para os zumbis do final do filme. E por último, não menos importante, Greg Nicotero também aparece rapidamente no filme. Uma verdadeira delícia para cinéfilos este tipo de brincadeira.
Dick Miller
Fred Dekker, nascido em 1959, começou com o pé direito dirigindo este pequeno clássico e seu filme seguinte, “The Monster Squad/Deu a Louca nos Monstros” (1987), duas lindas homenagens ao cinema de horror. Se no primeiro Dekker se concentrou em fazer uma re-leitura do horror sci-fi acrescentando boas doses de delírios típicos da década de 1980, no segundo seu olhar foi mais nostálgico com uma história que resgatava os monstros clássicos da Universal. Nada mal se um certo Robocop não tivesse cruzado seu caminho. Com a bola toda nos estúdios de Hollywood (Dekker também foi roteirista do sucesso “House/A Casa do Espanto” (1986) de Steve Miner), foi contratado para dirigir “Robocop 3” e, com um roteiro pra lá de infantilóide, foi um tremendo fracasso que sepultou de vez sua carreira. Atualmente Dekker cogita retornar a direção com uma seqüência de seu Cult “Night of the Creeps”, com orçamento pequeno e produção independente.
Entre os maquiadores da equipe de “Night of the Creeps”, que realizaram um grande trabalho neste filme, estão Howard Berger e Robert Kurtzman (juntos de Greg Nicotero, criaram a fantástica empresa de maquiagens KNB EFX Group Inc. que aterrorizou muitos cinéfilos nos anos 90), Shaw McEnroe (que esteve nas equipes de maquiagens de clássicos como “Humanoids from the Deep/Criaturas das Profundezas” (1980) de Barbara Peeters, “The Howling” (1981) de Joe Dante, “Na American Werewolf in London/Um Lobisomem Americano em Londres” (1981) e “Thriller” (1983), ambos de John landis, e “Videodrome” (1983) de David Cronenberg) e David B. Miller (que foi o responsável pela criação dos parasitas alienígenas do filme).
“Night of the Creeps” as vezes é exibido com seu final alternativo (onde os aliens do início reaparecem para capturar os parasitas). Está disponível em DVD no Box “Zumbis no Cinema Vol. 1” lançado pela distribuidora Versátil.
Escrito por Petter Baiestorf para livro “Arrepios Divertidos”.
A maquiagem especial é sem duvida a porção maior na criação dos monstros cinematográficos do cinema fantástico. Os atores, ou extras que interpretam estas criaturas utilizam uma variedade de métodos (de algodão e tintas, passando por papier maché, látex líquido, até os atuais efeitos digitais) para ajudá-los a externar o horror de seus personagens incomuns. Mas como toda regra tem sua exceção, alguns atores, que se nascessem em séculos passados não passariam de curiosidades em circos, conseguiram com apenas alguns retoques ou adereços criar monstros lendários, apenas realçando suas deformações naturais.
RONDO HATTON – Nasceu em Abril de 1894 em Maryland, EUA. Foi um jovem comum e inteligente, conhecido na High School por ser um ótimo escritor, publicando textos nos jornais de Tampa, Florida, para aonde se mudou aos 18 anos. Alto e de porte atlético, se interessava por esportes, principalmente Futebol americano, onde fazia sucesso com as garotas. Começou a faculdade, mas se alistou na Guarda Nacional, indo lutar na França durante a primeira Grande Guerra. Em uma batalha nos arredores de Paris, foi atingido por gás venenoso alemão e sobreviveu após longo período de internação. Deu baixa e retornou a América com uma grave seqüela: Acromegalia, uma rara doença que atinge a glândula Pituitária, agigantando rapidamente os ossos da cabeça e dos membros. Formou-se e passou a trabalhar como jornalista no jornal The Tampa Tribune. Em 1930, o diretor King Vidor rodou uma produção em Tampa, e impressionado pelo rosto anormal de Rondo, o convenceu a fazer uma ponta como segurança de um bar portuário em “Hell Harbor”, uma história de piratas. Sua figura impressionou os executivos de Hollywood, e ele se mudou para lá com sua esposa Mabel. Rondo fez figuração e pontas em dezenas de filmes, mostrando bem seu rosto na famosa cena do Festival dos Bobos na versão de 1939 de “The Hunchback of Notre Dame” (O Corcunda de Notre Dame) de William Dieterle com Charles Laughton. A grande virada em sua carreira só aconteceria em 1944, quando a Universal Films o escalou para viver o vilão Oxton Creeper, inimigo de Sherlock Holmes em “The Pearl of Death” (1944) de Roy William Neill com Basil Rathbone como o lendário detetive britânico. Apesar do personagem “esmagador de colunas” morrer no final da aventura, a reação muito positiva do público com a figura monstruosa levou a produtora a lhe arrumar novos papéis do gênero, passando a promovê-lo como “The Creeper”. Depois de seu ciclo clássico de filmes de horror, onde seus astros como Boris Karloff, Bela Lugosi ou Lon Chaney Jr. passavam horas na cadeira de maquiagem, tendo implicadas e dispendiosas aplicações feitas pelo mestre Jack Pierce, um ator barato e com uma aparência naturalmente grotesca, era um achado. ”Jungle Captive” (1944)de Harold Young, a segunda continuação de “Captive Wild Woman”, um sucesso classe “B” de 1943, trás Rondo Hatton como Moloch, o Bruto, assistente do cientista louco (Otto Kruger), que trás de volta a vida a sofrida mulher-macaco Paula Dupree (Vicky Lane). Ironicamente, a ótima maquiagem da mulher-macaco e sua transformação foram feitas por Jack Pierce, em seu último trabalho para a Universal, mas o destaque ficou novamente para a presença de Hatton. No seriado de 13 partes “Royal Mounted Rides Again” (1945), Rondo recebeu uma participação meramente “decorativa”. Seu personagem Moose, guarda-costas do vilão, passa capítulo após capítulo sentado em uma cadeira atrás de seu patrão, imóvel e calado. Quando finalmente o bandido está para ser preso, Moose recebe a ordem para agir, mas o herói lhe dá um tiro certeiro e ele morre sem se levantar. Gale Sondergaard, estrela da aventura “Sherlock Holmes and the Spider Woman” (1944) foi reunida com Hatton no terror “The Spider Woman Strikes Back” (1946) de Arthur Lubin. Apesar do título e da presença dos dois, não era uma continuação, mas a história da sinistra Zenobia, que alimenta uma planta exótica com sangue de belas jovens. Hatton vive Mario Murdock, o assistente da vilã, que se faz passar por cega. No final os dois sucumbem a um incêndio na mansão e Mario em agonia é morto com um tiro. Não contando mais com nenhum de seus astros de terror, a Universal promove largamente Rondo Hatton como estrela de “House of Horrors” (1946) de Jean Yarbrough. Marcel (Martin Kosleck) um jovem escultor enlouquecido, salva um homem enorme e deformado de se afogar. Torna-se seu amigo e esculpe um busto com sua figura peculiar. Descobre que o homem é na verdade um assassino psicopata procurado conhecido como… ”The Creeper” e passa a usá-lo para matar vários inimigos. Quando recebe a ordem de eliminar uma bela repórter que descobrira toda a trama, revolta-se e esmaga a coluna de Marcel, sendo alvejado novamente por um tiro. Seu último filme foi “The Brute Man” (1946) de Jean Yarbrough, sobre um jovem estudante de química, que fica deformado após uma explosão com ácido em um laboratório. Louco, torna-se um assassino, liquidando as pessoas que achava responsáveis pelo acidente. Por razões desconhecidas a Universal resolveu não lançar o filme, que foi comprado pela companhia independente PRC (Producer’s Releasing Corp.) que o divulgou com a chamativa frase publicitária “his brain cried Kill! Kill! Kill!”. Em novembro de 1946, Hatton estava em casa, tomando um banho, quando sua esposa ouviu um ruído estranho foi ao banheiro encontrando-o caído na banheira. Um ataque cardíaco provocado pelo agravamento de sua doença tirara a vida do gigante-assustador, que gostava de presentear os vizinhos com folhagens que ele plantava, e costumava visitar adultos e crianças vítimas de acidentes e mutilações para confortá-las com sua experiência de vida. Rondo Hatton virou uma figura Cult e ímpar no cinema “B”.
TOR JOHNSON – Nascido Karl Oscar Tor Johansson em outubro de 1903 na Suiça, mudou-se para os EUA durante os anos 30 para se tornar um lutador profissional de sucesso. Apesar de não ter nenhum tipo de deformação, Tor logo chamou a atenção dos estúdios de cinema por seu tipo físico: 1,91 m de altura, 200Kg de músculos e gordura e um rosto naturalmente expressivo com sua cabeça continuamente raspada (tinha cabelos loiros) que o transformavam na imagem de uma verdadeira ameaça ambulante. Foi campeão de luta livre com seu nome americanizado e também como “Super Swedish Angel”, “King Kong” e outros pseudônimos, alternando sua carreira nos ringues com pontas no cinema. Seu tipo físico e a cabeça raspada serviram de piada para diversas comédias como “Kid Millions” (1934) com Eddie Cantor; “Ghost Catchers” (1944) com a dupla Olson & Jonson; “Road To Rio” (1947) e “Lemon Drop Kid” (1951) com Bob Hope; “Lost in a Harem” (1944) e “Abbott and Costello In the Foreign Legion (1950) com a dupla de humoristas e “You’re Never Too Young” (O Meninão, 1955) com Jerry Lewis. Seu personagem mais marcante nesta primeira fase foi em “Behind Closed Doors” (1948) de Oscar Boetticher, um policial-noir onde vivia um maníaco homicida preso em um hospício e que é utilizado pelos administradores do local como instrumento de vingança contra seus inimigos. O filme foi relançado nos anos 50 como “Human Gorilla” fazendo referência direta ao personagem de Tor, além de ter sido refilmado para a série de TV “Petter Gunn” (1960) com o próprio reprisando seu papel. Sua entrada para o cinema de horror foi através da produção classe Z “Bride of the Monster” (1955) de Ed Wood Jr. com Bela Lugosi onde viveu pela primeira vez o personagem Lobo, um gigante deformado com cérebro infantil criado por uma experiência com energia atômica. Rodado em poucos dias, utilizando cenários de papelão e objetos de cena roubados de um estúdio, o filme que originalmente se chamava “Bride of the Atom”, é hoje um Cult Movie exatamente por suas deficiências e pelo esforço denotado na produção, fruto da paixão legítima de Ed Wood pelo cinema. Também marcou Tor com seu personagem e sua associação com a dupla Ed Wood/Lugosi. Seu próximo filme foi “The Black Sleep” (A Torre dos Monstros, 1956) de Reginald Le Borg, onde viveu Curry, um gigante-cego e retardado, que vive acorrentado, fruto das experiências do Dr.Cadman (Basil Rathbone). O elenco tipo All-stars do terror incluía Bela Lugosi (Casmir), Lon Chaney Jr. (Mongo), John Carradine (Borg) e Akim Tamiroff (Otto) todos como personagens lobotomizados pelo cientista louco. “Plan Nine from Outer Space” (1957) de Ed Wood Jr., dispensa apresentações e traz Tor Johnson e Bela Lugosi no elenco, apesar de nunca contracenarem de verdade. Lugosi havia rodado algumas poucas cenas para um filme de vampiro de Wood, quando faleceu. Elas foram editadas e um dublê com o rosto coberto substitui o lendário Drácula do cinema para o restante da história de pessoas revividas como zumbis por alienígenas afeminados. Tor inicia o filme como um inspetor de polícia, mas depois de ser morto volta como zumbi, e são clássicas suas cenas circulando nas névoas de um cemitério acompanhado de Vampira (Maila Nurmi, ex-apresentadora de um programa de terror na TV)… Ícones do cinema Trash! Em um dos últimos filmes da lendária produtora “B” Republic Pictures, “The Unearthly” (na TV “O Extraordinário”, 1957) de Brook L.Peters, Tor Johnson voltaria ao seu personagem Lobo, agora como fruto das experiências do cientista louco vivido por John Carradine. No final do filme Lobo ajuda a mocinha a escapar de vários mutantes deformados que o cientista escondia no porão, entre eles, em destaque o jovem Carl Johnson, filho de Tor com uma maquiagem pesada feita por Harry Thomas. Em 1959 Tor repete novamente o papel em “Night of the Ghouls” de Ed Wood, uma espécie de continuação amalucada de “Bride of the Monster”. Desta vez Lobo é ressuscitado com metade de seu rosto deformado e se vê em meio a uma trama de um médium falso e dois fantasmas verdadeiros. Apesar de pronto o filme nunca foi lançado, e somente saiu em vídeo (legalmente) em 1984. O último filme de terror do grande Tor, e o único em que foi o ator principal, foi “The Beast of Yucca Flats” (1961) de Coleman Francis. Um cientista russo (Tor) é atingido por uma explosão atômica e se transforma… num assassino brutamontes,deformado e sem cérebro… é claro! Segundo Conrad Brooks (seu amigo e colega neste e em outros filmes), Tor teria recebido aqui um de seus piores cachês, fazendo o papel principal por apenas U$ 300,00! O filme não tem diálogos, mas um narrador que alterna abobrinhas filosóficas (ao estilo WoodJr./Mojica Marins) com simples descrições do que se passa na tela. Johnson tinha problemas com a bebida e tinha que ser muitas vezes carregado (leia-se rebocado) até o local das filmagens, em cima de uma colina. Um jornal sensacionalista publicou na época a história que o magrelo ator Larry Aten (que morreu de ataque cardíaco durante as filmagens) teria sido esmagado por Tor durante uma cena de luta… Tor Johnson passou a se dedicar a apresentações ao vivo (revivendo Lobo), programas e propagandas para a TV e em 1965 participou de uma campanha publicitária para promover o lançamento de uma máscara de látex com seu rosto, criada pelos estúdios Don Post, que se transformaria num dos maiores sucessos de venda nas festas de Halloween, sendo fabricada até hoje. Sofrendo de sérios problemas cardíacos, o chamado “Gigante Gentil” foi obrigado a se aposentar e faleceu em maio de 1971, deixando sua esposa Greta, seu filho Carl, policial e ator esporádico e uma legião de fãs e amigos…
REGGIE NALDER – Alfred Reginald Nattzick nasceu em Viena, Áustria em 1907. Era filho de artistas de Cabaret e mais tarde seguiu a vocação dos pais e estudou teatro e dança, fazendo algum sucesso em comédias musicais. Um terrível acidente que ele nunca explicou, acontecido nos anos 30, deformou seu rosto, fazendo-o parecer uma caveira viva. Séria ameaça para alguém com pretensões artísticas, mas Nalder não desistiu e acabou se envolvendo com o cinema fazendo algumas pontas. O mestre Alfred Hitchcock descobriu aquele rosto ímpar e o colocou como um sinistro e frio assassino em “The Man Who Knew Too Much” (O Homem que Sabia Demais, 1955). Logo ele seria o vilão permanente em filmes como “Liane, The Jungle Goddess” (1956) ou “The Manchurian Candidate” (1962) ou séries de TV: “Thriller”; “Star Trek” (Jornada nas Estrelas), “Wild,Wild West” (James West) ou “Battlestar Gallactica”. O futuro Maestro do Giallo, Dario Argento, o escalou pra uma ponta importante em seu primeiro longa metragem “L’Uccelo Dalle Piume Di Cristallo” (O Pássaro da Plumas de Cristal, 1970). No mesmo ano Nalder viajou para Munich (Alemanha), para representar Albino, um sádico caçador de bruxas num dos mais violentos filmes da época “Brenn Hexen Brenn” (Mark of the Devil, 1970), escrito pelo crítico inglês Michael Armstrong, que co-dirigiu com o produtor de filmes eróticos Adrian Hoven. Ao ser lançado com grande publicidade (que incluía sugestivos sacos-de-vômito personalizados distribuídos nas portas dos cinemas), foi um sucesso polêmico e instantâneo. Apesar de seu personagem morrer antes do final do filme, ele estava escalado para a continuação “Hexen-Geschander Und Tode Gequalt” (Mark of the devil II, 1971) de Adrian Hoven, onde recebeu outro papel sádico e repulsivo, numa produção que alardeava ter sido “Proibida em mais de nove países!”. Em uma série de participações na TV americana, ele foi um zumbi no telefilme “The Dead Don’t Die” (Os Mortos Não Morrem, 1975) de Curtis Harrington; o mordomo mudo do Drácula de John Carradine em “McLound Meets Dracula” (na série Os Detetives, 1975) e um nazista em “Fantasy Island” (A Ilha da Fantasia). Uma pequena ponta em “Io Casanova di Frederico Fellini” (Casanova de Fellini, 1976) marcou o fim de sua carreira na Europa. Na estréia do prolífico produtor/diretor Charles Band como realizador, “Crash!” (Crash, o Ídolo do Mal, 1977), Nalder esteve bem acompanhado dos veteranos John Carradine e José Ferrer em uma aventura de terror barata e absurda. Reggie foi novamente um servo de Drácula no trash “Dracula’s Dog” (Zoltan, o Cão Vampiro de Drácula”, 1978) de Albert Band, servindo ao seu amo (Michael Pataki) e também ao cachorro sanguessuga do título. Numa das únicas vezes que utilizou maquiagem pesada, Reggie Nalder foi o nosferático vampiro Mr. Barlow na mini-série “Salem’s Lot” (A Hora do Vampiro/A Mansão Marsten, CBS-TV 1979) de Tobe Hooper. O papel do eterno caçador de vampiros Dr.Van Helsing poderia parecer estranho se vivido por Nalder, mas foi ele e seu rosto peculiar (com o pseudônimo de Datlef Van Berg) que participou da versão pornô “Dracula Sucks” (Drácula Chupa,1979) de Phil Marshak. Nesta paródia com ótima produção, o conde vampiro (aqui bem menos interessado em sangue) foi Jamie Gillis, secundado por um elenco pornô-all-star: Annette Haven, John Leslie ,Serena, John Holmes ,Paul Thomas… e Reggie não tem cenas de sexo. Passando de um pornô, à Disney, Nalder fez o papel de um demônio na comédia fantástica “The Devil and Max Devlin”(1981) de Steven Stern com Bill Cosby e Elliot Gould e de volta ao hard core viveu um general nazista que quer escravizar a humanidade através do sexo em “Blue Ice” (1985) de Phil Marshark. Doente, Reggie Nalder se aposentou e só faria uma participação como um conquistador germânico em “Jericó” (1992), lançado um ano após a sua morte ocasionada por um câncer. Sobre sua aparência disse uma vez a um jornalista: “Eu acho que eu não pareço com Gary Cooper ou Clark Gable, eu me vejo como um tipo de Monstro…”.
MICHAEL BERRYMAN – “criança de Marte” certamente não é um apelido agradável para se receber nos primeiros anos de escola, mas era assim que o jovem Michael Berryman era conhecido por seus colegas. Nascido em Setembro de 1948 em Los Angeles, com uma rara deformação, em que a cartilagem do crânio é fundida e não deixa o cérebro crescer. Inicialmente cego, foi submetido a mais de 300 (!) operações cirúrgicas que lhe restituíram a visão e o permitiram viver, apesar de muitas seqüelas. Michael tem quase dois metros de altura, uma cabeça enorme espichada, não possui pêlos, dentes naturais, nem unhas e suas glândulas sudoríparas não funcionam, portanto tem sérios problemas com o calor e com a poluição. Mesmo assim, graças a sua família (seu pai é um famoso neurocirurgião) teve uma vida relativamente normal e se formou em Ciências políticas e Artes. Trabalhava como atendente em uma floricultura quando sua aparência exótica chamou a atenção do filho do diretor/produtor George Pal e foi escalado para uma pequena ponta na aventura “Doc Savage: The Man of Bronze” (Doc Savage, O Homem de Bronze, 1975) de Michael Anderson, uma aventura camp fantástica, baseada num personagem da Pulp Fiction, vivido aqui pelo ex-Tarzan televisivo Ron Ely. Em seguida juntou-se ao elenco do sucesso “One Flew Over The Cucoo’s Nest” (Um estranho no Ninho, 1975) de Milos Forman, como um dos doentes mentais, colegas de Jack Nicholson em um sanatório (outros novatos deste elenco foram revelados aqui e se tornaram muito conhecidos, como Danny DeVitto, Christopher Lloyd e Brad Douriff). Seu próximo trabalho também foi uma tortura para sua condição física, “The Hills Have Eyes” (Quadrilha de Sádicos, 1977) de Wes Craven, foi totalmente filmado no deserto americano, com uma temperatura média acima dos 45 graus. Apesar das dificuldades, Michael trabalhou duro e deu vida ao personagem Pluto, um dos mutantes-canibais que aterrorizam uma família em férias. Seu rosto peculiar foi o principal destaque do cartaz e fotos de divulgação do filme e rodaram o mundo. Craven o escalou outras vezes em “Deadly Blessing” (Benção Mortal, 1981); “The Hills Have Eyes 2” ( Quadrilha de Sádicos 2, 1983), novamente como o demente Pluto e em “Invitation to Hell” (Convite para o Inferno, 1984), todos grandes fracassos. Sua filmografia daí por diante é bastante intensa, com uma média de cinco filmes por ano, que vão de comédias fantásticas adolescentes como “Weird Science” (Mulher Nota Mil, 1985) de John Hughes ; “My Science Project” (1985) de Jonathan Betuel ou “Saturday the 14th Strikes Back” (Sábado 14 – Reunião Infernal, 1988) de Howard Cohen; passando por série s de TV como “Alf o ETeimoso”; “O Homem Que Veio do Céu”; “Jornada nas estrelas- A Nova Geração”; “Tales From the Crypt” e “Arquivo X”. Michael teve destaque nos filmes do diretor italiano Ruggero Deodato “Inferno in Diretta” (Cut and Run, 1985), onde viveu o sádico guerrilheiro Quecho e “Barbarians & Co.” (Os Bárbaros, 1987) como o feiticeiro Dirty Master e em uma série de trashs de seu diretor favorito Fred Olen Ray: “Armed Response”( Resposta Armada, 1986); Haunting Fear” (Síndrome do Medo, 1989); “Evil Spirits” (1990); “Teenage Exorcist” (Essa Mulher é o Demônio, 1991) e “Wizards of the Demon Sword” (1991). Apaixonado por motocicletas, fã de Rock (participou de clips de Motley Crue e Dan Reed Band), pacifista e ecologista, Berryman passou a morar na reserva ecológica Wolf Mountain (Utah, EUA), longe da poluição e ajudando a preservar uma matilha de lobos de uma raça quase extinta, continuando ativo na TV e em produções independentes mas diminuindo seu ritmo de trabalho. Em 2005 fez uma participação especial em “The Devil’s Reject” (Rejeitados pelo Diabo) de Rob Zombie junto com outras figurinhas carimbadas do gênero. Um de seus melhores papéis recentes está em uma produção independente de terror bem fraca “Brutal” (2007) de Ethan Wiley. Berryman faz Leroy, um treinador de cães, autista e gênio matemático, que auxilia a heroína (Sarah Thompson) a desvendar uma série de assassinatos. Nada de monstruoso ou sádico, um personagem humano, sensível e apaixonado por animais, como a próprio ator. Em outro Psycho-Killer , “Beg” (2010) de Kevin Mc Donald, Michael aparece Junto com Tonny Todd e com a maravilhosa Deddie Rochon, além de ser um dos produtores associados. Um de seus últimos filmes a estrear foi “Cut” (2011) de Joe Hollow e Wolfgang Meyer sobre uma… família disfuncional de assassinos! Mas o incansável Michael “Pluto” Berryman está no elenco de pelo menos 6 ou sete filmes em produção ou pré-produção para 2012 e 2013… Longa vida “Criança de Marte”!
ROBERT Z’DAR – Assim como Tor Johnson, Robert Z’Dar não sofreu de nenhuma doença ou acidente, mas sua aparência incomum o levaram ao cinema. Robert J. Zdarsky, nascido em Chicago em 1950, recebeu o bacharelado em artes pela Arizona State University e foi músico profissional (vocalista, guitarrista e tecladista), compositor de jingles, dançarino e policial! Mas com seu 1,90cm de altura, corpulento e com seu rosto enorme, emoldurado com um queixo gigantesco o tornam o típico personagem ameaçador, agressivo e imbatível de filmes policiais ou dramas de horror. Com o nome artístico de Robert Darcy, ele foi um abusivo guarda de um presídio feminino em “Hellhole” (1985); um segurança particular na série “A Gata e o Rato” (1985) e o vilão Shigaru no drama de ação e vingança “Code Name: Zebra” (1986). Seu primeiro contato com filmes de terror foi como o psicopata assassino de prostitutas em “The Night Stalker” (O Demônio da Noite, 1987) de Max Keven. Fez uma ponta na ficção científica bobona “Cherry 2000” (1987) de Steve De Jarnett com Melanie Griffith e finalmente apareceu sua grande chance ao fazer um teste para um filme escrito e produzido pelo cultuado Larry Cohen. “Maniac Cop” (Maniac Cop – O Exterminador, 1988) de William Lustig, trás Z’Dar pela primeira vez como Matt Cordell, um policial fardado de New York, com tendências assassinas, que é mandado para a prisão onde é severamente mutilado pelos presos. De volta as ruas, com seu uniforme e um rosto desfigurado ele se torna um assassino psicopata indestrutível, que é combatido por Bruce ”Evil Dead” Campbell. Sucesso no mundo inteiro, o filme se transformou em uma série com “Maniac Cop 2” (Maniac Cop 2 – O Vingador, 1990) e “Maniac Cop 3: Badge of Silence”(Maniac Cop 3 – O Distintivo do Silêncio, 1992) ambos de William Lustig e com Z’Dar utilizando uma maquiagem pesada, já que o personagem assume ares de zumbi, ao retornar mais de uma vez da morte. Fora da série, Z’Dar sempre foi um dos preferidos das pequenas produções de terror como “Grotesque”(Grotesk, 1988) de Joe Tornatore com Linda Blair; “Evil Altar” (Altar do Diabo, 1988) de Jim Wilburn, onde viveu um feiticeiro demoníaco; “Samurai Cop” (Um Tira Invencível, 1989) de Amir Shervan; “Soultaker” (Ladrão de Almas, 1990) de Michael Rissi , personificando o anjo da morte; “Beastmaster 2: Trough The Portal Of Time” (Portal do Tempo, 1991) de Sylvio Tabet, onde também Michael Berryman fez uma participação ou o herói de “Return to Frogtown” (A Vingança dos Sapos Assassinos”, 1992 ) de Donald G. Jackson. No cinemão ele é lembrado por ter dado uns bons cascudos em Sylvester Stallone na comédia de ação “Tango e Cash” (1989), onde seu personagem se chamava “The Face”… Robert Z’Dar continua ativo, quer seja em encontros e convenções de terror e cinema fantástico, quer seja em vídeos ultra-baratos como “Guns of El Chupacabra” (1997) de Donald G.Jackson, uma mistura de artes marciais, ficção científica, ação e garotas nuas com estrelas “B” como Julie Strain, Conrad Brooks, Joe Estevez e nosso amigo queixudo como Z-Man, o mestre Invasor Alienígena ; “Future War” (O Grande Dragão do Futuro, 1997) de Anthony Doublin, como o mestre dos cyborgs; ”Zombiegeddon” (2003) de Chris Watson, um filme da Troma onde vive o detetive Bobby e acaba transformando-se em um zumbi; “The Rockville Slayer” (2004) onde faz par com sua amiga Linnea Quigley ou “Vampire Blvd.” (2004) de Scott Shaw com seu parceiro de longa data Joe Estevez. Desde 2002, quando sofreu uma séria fratura nas costas durante uma filmagem, Z’Dar tem se mantido longe das cenas de ação, mas não deixa de mostrar sua famosa “cara simpática”… em todos estes casos, resta dizer que: A Falta de Beleza É Fundamental!!!
Nós do Canibuk adoramos as divas macabras e sexys que marcaram o cinema entre as décadas de 30 e 60, Carolyn Jones (Morticia Adams), Yvonne De Carlo (Lily Munster), Elsa Lanchester (Noiva do Frankenstein) e a mais recente, Cassandra Peterson (Elvira). Mas nesse post vamos falar daquela que certamente inspirou a maioria delas: Vampira, personagem inesquecível da Maila Nurmi que ficou popular nos anos 50.
Maila Nurmi nasceu na Finlândia em 1922, mas foi ainda bebê pros EUA. Foi atriz da Broadway, onde trabalhou com a Mae West na Peça “Catherine Was Great” , sendo demitida pela mesma em 1944, porque, segundo consta, a West temia estar tendo seu brilho ofuscado. Também foi dançarina e modelo, chegando a modelar pro Alberto Vargas (o famoso pintor das Pin Ups) e Man Ray e fez pequenas participações em filmes de baixo orçamento.
A personagem surgiu em 1953 num anual baile de máscaras que existia em Hollywood naquela época, inspirada no cartoon “The New Yorker” de Charles Addams, ela achatou os seios, usou uma enorme peruca preta e pintou o corpo com pó de lavanda pra ficar com aparência de morta. Derrotou, neste baile, vários concorrentes, ganhando o prêmio de melhor figurino. Chamou também a atenção do produtor de TV Hunt Stromberg Jr., que a perseguiu por uns 5 meses, conseguindo enfim seu número de telefone. Tudo isso lhe rendeu o convite para apresentar o programa de horror que se chamaria “The Vampira Show” e seria exibido tardes da noite numa espécie de chamadas que podemos comparar por aqui com o Cine Trash, apresentado pelo Zé do Caixão nos anos 90, e que era do caralho, diga-se de passagem. Pra não plagiar a criação de Addams, ela fez algumas modificações na personagem, tornando-a mais sexy e acrescentando elementos de outras influências culturais. Misturando o penteado e a cigarrilha da “Lady Dragon” dos quadrinhos “Terry and the Pirates“, a maquiagem e sobrancelhas da “Rainha Malvada” de “Branca de Neve“, a cintura fina e as longas unhas de dominatrixes tiradas de revistas especializadas em fetiche e pin ups.
Lady Dragon, os cabelos e cigarrilha - elementos que Maila incorporou na personagem Vampira.
O nome Vampira foi sugestão do seu marido Dien Riesner, que era um roteirista. A mulher alta e macabra de pele pálida, sobrancelhas exageradamente arqueadas, longos cabelos pretos, unhas vermelhas enormes, cintura finíssima, usando um vestido preto com uma fenda que revelava suas pernas vestidas numa meia arrastão, arrebatou de primeira uma legião de fãs, muitos do sexo masculino, com fã-clubes surgindo em todo o mundo. Conhecida como sendo mal-humorada e sem “papas na língua” confessou usar o sexo como sua arma, e que se utilizava, conscientemente, de seus longos dedos e da cigarrilha pra passar idéia de símbolos fálicos, –gostei demais dessa parte, ahahaha. Seguiu-se uma sucessão de aparições e shows que só aumentavam sua popularidade, foi indicada ao Emmy em 1954, apareceu em diversos artigos de revistas e em shows especiais por volta de Las Vegas. O Vampira Show durou apenas um ano. Em 1955, Maila teve seu programa cancelado e foi demitida da TV por suspeita de inclinações comunistas, segundo anunciou um jornal da época.
Tendo chamado a atenção de Bela Lugosi, que quando a viu na TV se declarou fã e confessou a Ed Wood sua vontade de trabalhar com a vampira exótica, foi convidada, então, para fazer a mulher de Lugosi no filme “Plan 9 from Outer Space“. Pouco depois do início das filmagens, Bela Lugosi faleceu, mas o filme foi concluído, pois Ed Wood já tinha filmado um bom material com ele.
Logo após as filmagens de “Plan 9 from Outer Space“, Maila declarou estar consciente de ter cometido “suicídio profissional”, desacreditava tanto no roteiro do filme que pediu pra não ter falas. Revelou ter pena de Ed Wood e o chamava de “pouco inteligente”. Ironicamente, hoje ela é mais conhecida pelo papel nesse filme do que pelos shows e aparições que fez por onde quer que fosse.
No final dos anos 50, sua carreira entrava em declínio. Começou a fazer participações em filmes considerados “péssimos”, numa tentativa de estender a fama.
Em 1981, Maila foi sondada por uma TV de Los Angeles que surgiu com a idéia de reviver a Vampira na televisão. Colaborou com a produção do show onde teria os créditos de produtora executiva, mas, devido a incompatibilidade de idéias, largou o projeto. Em 2005, confessou a Bizarre Magazine que tudo aconteceu porque a emissora tinha contratado a atriz Cassandra Peterson sem a consultar. Como ela detinha os direitos sobre a personagem, não foi possível usarem o nome Vampira, então logo renomearam o show para “Elvira’s Movie Macabre“, com a Peterson como apresentadora. Maila processou Cassandra Peterson alegando que a personagem Elvira juntamente com todos os elementos do show não passavam de plágio. Peterson se defendeu dizendo que Elvira nada tinha de Vampira, exceto o vestido e cabelos pretos. Maila perdeu o processo. Mas não restam dúvidas que a personagem Elvira é fortemente influenciada pela Vampira, o que só aumenta a força e importância dessa personagem que virou um ícone do horror.
The Vampira Show
Do dia 30 de abril de 1954 até 02 de abril de 1955, a rede ABC Television, de Los Angeles, através de sua afilhada KABC-TV, levou ao ar o show de variedades “The Vampira Show”, apresentado por Vampira e criado/produzido por Hunt Stromberg Jr., programa feito ao vivo (por este motivo, cenas com a Vampira apresentando este programa são verdadeiras raridades). Com um salário semanal de 75 dólares, Vampira apresentava para o público da TV vários clássicos do cinema de horror do passado. A música tema do programa foi criada a partir do movimento adagio do “Music for Strings, Percussion and Celesta” do compositor Bela Bartok, misturado com trechos de “The Planets” de Gustav Holst. A série foi cancelada em 1955, quando Maila Nurmi se recusou a vender os direitos da personagem para a rede de TV ABC (e foi acusada de ser comunista).
No youtube há umas poucas imagens do programa original, como é possível conferir no vídeo abaixo:
Após se aposentar, Maila virou pintora e começou a pintar retratos da Vampira. Os quadros são muito procurados por colecionadores. Morreu dormindo, aos 85 anos, em janeiro de 2008.
Na música ela foi homenageada por bandas como Misftis, com a música “Vampira”:
E no Brasil, pela banda Zumbi do Espaço, com a música “Nos Braços da Vampira”:
Além da própria vampira, em carne e ossos, cantar duas músicas no EP “I’m Damned” com a banda Satan’s Cheerleaders em 1987.
Caça às Bruxas
A carreira de Maila Nurmi foi prejudicada quando ela foi acusada de ser comunista pelos macartistas comandados por Joseph Raymond McCarthy, um político de extrema direita que foi eleito senador pelo partido Republicano em 1946 (após ter sido rejeitado pelo partido Democrata) e, durante os próximos 10 anos de sua vida política, ele e sua equipe tornaram-se célebres pelas agressivas e infâmes investigações nos USA contra os simpatizantes do Comunismo. McCarthy propôs acabar com greves usando a força do exército e queria ainda levar quem se recusasse a trabalhar ao tribunal marcial. O período entre 1950 e 1956, quando as perseguições se tornaram mais fortes, é conhecido pelo nome Macartismo, “terror vermelho” ou, ainda, como “caça às bruxas”, numa alusão ao período da idade-média onde os católicos perseguiam seus inimigos acusando-os de bruxaria. Muitas pessoas tiveram suas carreiras destruídas pelos macartistas, várias chegando a se suicidarem. Por sorte, o senador McCarthy morreu em 02 de maio de 1957, vítima de hepatite aguda.
Filmes com Maila Nurmi/Vampira
Em 1947 Maila Nurmi, antes da fama, estreiou no longa dramático “If Winter Comes” de Victor Saville no papel não-creditado de uma convidada. No ano seguinte, 1948, fez outra figuração na comédia musical “Romance on the High Seas” de Michael Curtiz como uma passageira num navio, também não-creditada. Depois de seu programa na TV (além do “The Vampire Show”, ela ainda trabalhou nos programas “The Red Skelton Show”, “Vampira” (1956) e “Playhouse 90” (1957), este dois últimos, tentativas de retornar à personagem Vampira em outros canais de TV). Segue uma listinha de produções onde a Vampira interpreta personagens que merecem uma conferida:
“The Beat Generation” (1959, 95 min.) de Charles F. Haas, sobre um detetive em busca de um estuprador. Maila Nurmi interpreta uma poetisa.
“Plan 9 From Outer Space” (1959, 79 min.) de Edward D. Wood Jr., uma louca invasão de gays espaciais que pretendem dominar o mundo ressuscitando os mortos. Nurmi aparece creditada como Vampira e faz o papel dela mesma.
“The Big Operator” (1959, 91 min.) de Charles F. Haas, drama de investigação criminal estrelado pela Mamie Van Doren e Mickey Rooney. Nurmi aparece no papel de “Gina”.
“Sex Kittens go to College” (1960, 94 min.) de Albert Zugsmith, comédia adolescente estrelada por Mamie Van Doren onde Nurmi faz o papel de “Etta Toodie”.
“The Magic Sword” (1962, 80 min.) de Bert I. Gordon, fantasiadramática estrelada pelo astro Basil Rathbone onde Nurmi faz um pequeno papel.
“Dry” (1996, 10 min.) de Mika Ripatti, depois de ter ficado por vários anos afastada do cinema (depois de “The Magic Sword” ela só fez uma pequena participação não-creditada no longa “Population: 1” de Rene Daalder, no papel de uma mãe), Maila Nurmi reaparece neste curta “Dry” no papel principal.
“I Woke Up Early the Day I Died” (1998, 90 min.) de Aris Iliopulos, uma comédia com roteiro escrito nos anos de 1960 por Edward D. Wood Jr. e estrelado por Billy Zane, Tippi Hedren, Ron Perlman e Christina Ricci. Nurmi faz uma participação como uma mulher no lobby de um hotel.
“No Way In” (2000, 20 min.) de Sam Mussari, curta-metragem que marca a última aparição de Maila Nurmi no cinema, aqui no papel de uma mulher num bar.
Em 1994 Tim Burton realizou sua obra-prima “Ed Wood”, a cinebiografia do diretor/produtor/roteirista Edward D. Wood Jr., interpretado por Johnny Depp, onde a modelo Lisa Marie encarna, com perfeição, a Vampira e a apresenta para uma nova geração de fãs. Nesta produção de Burton temos um gostinho de como teria sido o programa “The Vampira Show” e sua popularidade em Hollywood durante a curta temporada da série. “Ed Wood” foi lançado em VHS/DVD no Brasil. Item obrigatório na coleção de qualquer cinéfilo que se preze.
Documentários Imperdíveis com Depoimentos de Maila Nurmi/Vampira
“James Dean: The First American Teenager” (1976) de Ray Connolly.
“The Incredibly Strange Film Show: Ed Wood Jr.” (1989) – Uma série de documentários sobre cineastas bagaceiros geniais, sempre apresentados por Jonathan Ross.
“Flying Saucers Over Hollywood: The Plan 9 Companion” (1992) de Mark Patrick Carducci.
“Vampira” (1995) de Mika Ripatti, sobre a carreira de Maila Nurmi, produzido na Finlândia.
“The Haunted World of Edward D. Wood Jr.” (1995) de Brett Thompson.
“Schlock! – The Secret History of American Movies” (2001) de Ray Greene.
“Monsterama: A Tribute to Horror Hosts” (2004) de Ed Polgardy.
“American Scary” (2006) de John E. Hudgens.
“Vampira: The Movie” (2006) de Kevin Sean Michaels, sobre a vida e obra de Maila Nurmi.