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Arrepios Sangrentos do Cinema (1960-1980)

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 8, 2018 by canibuk

O cinema sempre foi terreno fértil para a exploração do corpo. Se nas décadas de 1950 e 1960 o cinema era mais sugestivo do que apelativo (mas com a sci-fi e seus monstros e aliens deformados já apontando os rumos que a nova audiência exigia), foi na ressaca da contracultura, nos anos de 1970, que o cinema foi tratando de ficar mais explícito e cínico, culminando numa explosão de corpos monstruosos/pegajosos nas telas do cinema da década de 1980, onde a crítica social-niilista-pessimista da década anterior cedeu lugar à auto paródia do terrir.

Podemos afirmar que a auto paródia que o cinema dos anos de 1980 viveu, principalmente o americano, tem suas raízes nos filmes da dupla H. G. Lewis e David F. Friedman, principalmente na trinca de goremovies “Banquete de Sangue” (Blood Feast, 1963), “2000 Maníacos” (2000 Maniacs, 1964) e “Color Me Blood Red” (1965), que aproveitaram para extrapolar, para deleite do jovem público de drive-ins, o bom gosto estético, aproveitando até mesmo idéias de mortes exageradas dadas por seus filhos pré-adolescentes. O corpo humano deixava de ser um templo sagrado e, agora, estava disponível para todo o tipo de mutilações que os técnicos de efeitos especiais conseguissem elaborar. E mais, agora o tabu do canibalismo também caia por terra e o corpo humano servia de alimento às sádicas personagens.

No final dos anos de 1950 e início dos anos de 1960, a cinematografia gore ainda foi discreta, com obras como “First Man Into Space (1959), de Robert Day, sobre um astronauta que começa a derreter e que foi a inspiração para a produção do clássico “O Incrível Homem Que Derreteu” (The Incredible Melting Man, 1977, de William Sachs. “Inferno” (Jigoku, 1960), de Nobuo Kakagawa, tomou como inspiração o inferno concebido por Dante e ousou mostrar, em cores, os horrores explícitos de um purgatório onde os pecadores sofriam todo tipo de violência na carne. “Six She’s and A He” (1963), de Richard S. Flink, contava a história de um astronauta feito de prisioneiro por uma tribo de lindas mulheres que costumavam realizar incríveis banquetes com os membros decepados de seus algozes. “Six She’s and A He” é uma espécie de irmão bastardo dos filmes da dupla Lewis-Friedman, já que seu roteirista é o ator William Kerwin, que atuou em “Blood Feast” e “2000 Maniacs” usando o pseudônimo de Thomas Wood. “Está Noite Encarnarei no teu Cadáver” (1967), de José Mojica Marins, à exemplo de “Jigoku”, também mostrava em cores os horrores do inferno com muitos membros decepados, sofrimentos diversos e inventivos demônios feito com parte dos corpos de seus alunos de curso de cinema.

No ano seguinte o horror ficou ainda mais explícito com duas obras seminais: Mojica realizou um banquete canibal em seu longa de episódios “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (1968), no episódio “Ideologia”, e o Cult “A Noite dos Mortos-Vivos” (The Night of the Living Dead, 1968), de George A. Romero, que trazia o canibalismo explícito para as telas com a virulenta modernização dos zumbis, desta vez se deliciando com tripas e toda variedade de carne humana, de crua à carbonizada, dando apontamentos do caminho que o cinema de horror viria a tomar nos anos seguintes.

Jigoku (1960)

Charles Manson e a Família haviam acordado a América de seu “American Way of Life” e os horrores do Vietnã eram televisionados nos jornais do café da manhã, toda uma geração insatisfeita queria voz. Na década de 1970 o cinema de horror ficou mais insano, pessimista e violento para com as instituições oficiais. Jovens cineastas perceberam, ensinados por H.G. Lewis e George A. Romero, que o cinema independente era o caminho natural para adentrar no mundo das produções cinematográficas, e o melhor, o horror niilista tinha público fiel ávido por “quanto pior melhor”.

Tom Savini em Dawn of the Dead (1978)

Inspirados por Charles Manson e “A Noite dos Mortos-Vivos”, no Canadá, a dupla Bob Clark e Alan Ormsby profanaram os defuntos com seu clássico “Children Shouldn’t Play With Dead Things” (1972), podreira sobre um grupo de degenerados comandados por uma espécie de guru fake a la Manson que desenterram alguns corpos num cemitério isolado e realizam um verdadeiro show de barbaridades e imaturidade. Aliás, Ormsby deve ser atraído por personalidades problemáticas, já que na seqüencia realizou o clássico “Confissões de um Necrófilo” (Deranged, 1974), co-dirigido por Jeff Gillen, inspirado na figura do psicopata Ed Gein e que, na minha opinião, é a melhor abordagem cinematográfica já feita sobre Gein, que inspirou, entre outros, também os clássicos “Psicose” (Psycho, 1960), de Alfred Hitchcock, e “O Massacre da Serra-Elétrica” (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), a obra-prima de Tobe Hooper, realizado no mesmo ano de “Deranged” e que contava com efeitos do ex-fotografo de guerra Tom Savini, que se inspirava nos horrores reais que presenciou para criar as maquiagens mais podreiras possíveis. Os corpos dos mortos agora não eram mais sagrados, podiam alimentar psicopatas dementes ou, até, se tornarem grotescas obras de arte ou peça de happenings.

O público clamava por histórias mais adultas, além da violência explícita, o sexo também gerava curiosidade. Andy Warhol e Paul Morrissey foram para a Europa filmar, com ajuda do italiano Antonio Margherity, “Carne para Frankenstein” (Flesh for Frankenstein, 1974), uma releitura sexual-splatter de Frankenstein de Mary Shelley, com litros de sangue, referências à necrofília e abordagem erótica da história do cientista que brincava de Deus, dando especial atenção ao detalhes sórdidos e eróticos. No Canadá David Cronenberg previa as epidemias de doenças sexualmente transmissíveis ao realizar “Calafrios” (Shivers, 1975), com roteiro sério que discutia o sexo, sem deixar de incluir taras, fetiches e doenças como a pedofília em roteiro genial (o final do filme continua poderoso).

De volta à América, o cineasta underground Joel M. Reed lançou em 1976 o perturbador e doentio “Bloodsucking Freaks” (The Incredible Torture Show), com a personagem de Sardu, ajudado por um anão tarado, que raptava jovens mulheres que se tornavam deliciosas iguarias para seus banquetes explícitos onde até mesmo sanduíches de pênis era devorados. Ainda em 1976, os exageros do cinema gore se encontraram com a falta de limites do mundo da pornografia e o jovem Michael Hugo cometeu o, ainda hoje, obscuro “Hardgore”, uma carnificina envolvendo sexo explícito com todo o tipo de perversões na história de uma inocente mocinha internada numa instituição mental. “Hardgore” parecia preparar terreno para “Cannibal Holocaust” (1980), do italiano Ruggero Deodato, produção que extrapolou qualquer limite do bom gosto ao assassinar, em frente às câmeras, todo tipo de animais, incluindo a famosa cena da tartaruga, filmada com verdadeiros requintes de crueldade.

Mas um pequeno curta independente, filmado em super 8 por um grupo de amigos, anunciava que o cinema de horror voltaria a ficar mais artístico (sem assassinatos reais ou pornografia): “Within the Woods” (1978), de Sam Raimi, produzido com os amigos Robert Tapert e Bruce Campbell, era um ensaio para a produção do Cult “A Morte do Demônio” (Evil Dead, 1981), que influenciaria meio mundo nos anos de 1980 e 1990 com sua ensandecida história envolvendo jovens possessados por demônios numa cabana isolada. O cinema de horror começava a sair dos cinemas pulgueiros para tomar de assalto toda uma nova geração que descobriria os filmes malditos com o videocassete.

De certo modo “Evil Dead” preparava o público para a exploração do corpo que o cinema da década de 1980 realizou. Nunca na história da indústria cinematográfica tivemos outra época tão rica na exploração de anomalias, doenças, mutações e toda uma rica gama de deformações genéticas. Era a época da disco, da cocaína acessível e barata, do “viva rápido, morra jovem”, então… Pro inferno com a seriedade, o negócio agora era a auto paródia e o cinema de horror, principalmente o americano, soube não se levar em sério e por toda a década de 1980 cineastas como Lloyd Kaufman, Stuart Gordon, Dan O’Bannon, Fred Deker, Roger Corman, Fred Olen Ray, Jim Wynorski, entre outros, conseguiram passar através de seus filmes o clima de curtição que os anos de 1980 possuíam.

por Petter Baiestorf

Veja os trailers aqui:

Outros Posters:

The Incredible Melting Man

Schlock: O Terror do Bananal

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 17, 2012 by canibuk

“Schlock” (1973, 80 min.) de John Landis. Com: John Landis, Saul Kahan e Joseph Piantadosi.

No cinema muitos dos grandes diretores começaram pequenos em produções de baixo orçamento, mas que transbordavam vontade de (se) divertir. John Landis, diretor responsável por inúmeros filmes com um humor prá lá de incorreto da década de 1980, começou sua carreira de diretor com um pequeno trash-movie intitulado “Schlock”, que contava a história de um homem macaco (John Landis) que se apaixona por uma adolescente cega (uma década antes de Toxie da Troma se apaixonar por outra cega) e aterroriza um subúrbio do sul da Califórnia. Landis, um apaixonado por sketches de humor maluco, estruturou seu roteiro em um punhado de situações absurdas que dialogavam com clássicos do cinema como “King Kong” (1933) de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, deixando tudo mais frenético-histérico como a cartilha do cinema dos anos de 1970 pedia. “Schlock”, o macaco apaixonado, toca piano, dá entrevistas para a TV e luta contra o exército americano enquanto a menina cega acha que ele é um cachorro gigante. Impossível não gostar de uma trama imbecil destas.

“Schlock” é o primeiro longa-metragem de Landis onde, apesar da produção capenga, já percebemos seu típico jeito de contar histórias cômicas cheias de situações absurdas. O orçamento do filme foi de 60 mil dólares, o que levou Landis a discutir com Rick Baker, em um de seus trabalhos iniciais, sobre os custos (500 dólares) do traje do macaco (que no filme é interpretado pelo próprio John Landis revelando todo seu amor pelos símios já que naquele mesmo ano também atuou em “Battle for the Planet of the Apes/Batalha do Planeta dos Macacos” de J. Lee Thompson). O baixo orçamento do filme, aliado ao seu senso de humor alucinadamente cretino, fez de “Schlock” uma maravilhosa paródia-homenagem aos filmes da década de 1950.

John Landis (1950) desde garoto sempre foi apaixonado pelo cinema. Em 1969 se destacou trabalhando como assistente de direção de Brian G. Hutton no filme “Kelly’s Heroes”, comédia de guerra filmada na Iuguslávia e estrelada por Clint Eastwood e Telly Savalas. Depois disso se associou ao produtor picareta Jack H. Harris e conseguiu tornar realidade “Schlock”, que filmou com apenas 21 anos de idade. Como seu primeiro filme foi um fracasso de público, Landis ficou alguns anos sem conseguir dirigir nada, até que, inspirado pelo grupo de humor Monty Python, em 1977 conseguiu levantar a produção de “Kentucky Fried Movie” (com roteiro do trio David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker, o ZAZ que nos anos de 1980 criou inúmeros clássicos da comédia como “Top Secret!”, “Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu” e “Corra que a Polícia Vem aí!”). Foi o suficiente para ser contratado pela Universal Studio para dirigir “Animal House/O Clube dos Cafajestes” (1978) com base em material da National Lampoon e o colocar em contato com gente talentosa como John Belushi e Harold Ramis. “Animal House” foi um sucesso mundial e abriu as portas para Landis filmar “The Blues Brothers/Os Irmãos Cara de Pau” (1980), novamente estrelado por Belushi, ao lado do roteirista Dan Aykroyd, e com participações especiais de músicos como James Brown, Aretha Franklin, Ray Charles e John Lee Hooker, numa produção que marcou época e preparou terreno para o grande clássico de John Landis: “An American Werewolf in London/Um Lobisomem Americano em Londres” (1981), onde seu amigo Rick Baker finalmente pode mostrar do que era capaz com um orçamento decente em mãos. O filme, que dosava magistralmente humor e horror, foi sucesso mundial. Mas as vezes sucesso demais faz mal e a partir daí Landis começou uma parceria com Eddie Murphy em comédia inofensivas como “Trading Places/Trocando as Bolas” (1983), “Coming to America/Um Príncipe em Nova York” (1988) e “Beverly Hills Cop 3/Um Tira da Pesada 3” (1994). Seus outros grandes momentos são filmes como “Three Amigos!/Três Amigos!” (1986), western cômico estrelado pelo impagável trio de humoristas formado por Steve Martin, Chevy Chase e Martin Short (e o diretor de cinema Alfonso Arau no papel do vilão Em Guapo) e “Amazon Women on the Moon/As Amazonas na Lua” (1987), filme em episódios que Landis co-dirigiu em parceria com Joe Dante, Carl Gottlieb, Peter Horton e Robert K. Weiss, que trazia em seu elenco gente talentosa como Russ Meyer, Paul Bartel, Monique Gabrielle, Forrest J. Ackerman, Sybil Danning, B.B. King, Henry Silva, Rip Taylor, Dick Miller, Lyle Talbot e até Bela Lugosi com ajuda de cenas de arquivo. Outro grande momento da carreira de John Landis foi quando ele dirigiu o curta-vídeo clip “Thriller” do lendário Michael Jackson, talvez o clip mais famoso de todos os tempos.

“Schlock” é um dos primeiros trabalhos do maquiador Rick Baker (que havia estreado no cinema em 1972 com o filme “Bone” de Larry Cohen e repetido a parceria no ano seguinte em “Black Caesar”). Nascido em 1950, ainda adolescente começou criando maquiagens caseiras na cozinha da casa de seus pais. Trabalhou no clássico “Squirm” (1976) de Jeff Lieberman, “King Kong” (1976) de John Guillermin e “Star Wars/Guerra nas Estrelas” (1977) de George Lucas, sempre nas equipes de segunda unidade. Em 1977 foi responsável pelos incríveis efeitos de derretimento em “The Incredible Melting Man/O Incrível Homem Que Derreteu” de William Sachs e chamou atenção para seu talento. Por seu trabalho em “Um Lobisomem Americano em Londres” recebeu o primeiro Oscar de muitos e não parou mais de surpreender com maquiagens cada vez mais realistas. Alguns outros grandes momentos de Rick Baker: “The Funhouse” (1981) de Tobe Hooper, “Videodrome” (1983) de David Cronenberg, “Greystoke” (1984) de Hugh Hudson, “Ed Wood” (1994) e “Planet of the Apes” (2001), este dois últimos de Tim Burton.

Em “Schlock” encontramos também a participação especial de duas figurinhas da indústria cinematográfica americana: Jack H. Harris, produtor do filme, no papel do homem lendo uma revista de horror e Forrest J. Ackerman, lendário colecionador de livros e memorabilia do cinema de horror e sci-fi americano, no papel do homem no cinema. O produtor executivo de “Schlock” é George Folsey Jr. que continuou trabalhando com Landis nos anos de 1980. Infelizmente este filme permanece inédito em DVD no Brasil.

por Petter Baiestorf.

Veja o trailer de “Schlock” aqui:

Curiosidades sobre Um Lobisomem Americano em Londres

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , on março 11, 2012 by canibuk

Quando John Landis começou a escrever a sua história de terror contemporânea sobre dois estudantes cujas férias no estrangeiro terminam tragicamente com a intervenção do sobrenatural, pretendia localizá-la num ambiente suficientemente desconhecido no qual os rapazes se sentissem estrangeiros – e, ao mesmo tempo, num país onde pudessem falar inglês.

Por conseguinte, no início de 1981, as câmeras da produtora de John Landis, a Lycanthrope Films Ltd., começaram a filmar – na Inglaterra.

O plano de filmagem de nove semanas de “Um Lobisomem Americano em Londres” (“An American Werewolf in London”) abrangeria uma série impressionante de locais – muitos dos quais nunca antes tinham sido filmados.

As filmagens tiveram início nas colinas frias e enevoadas da parte central do País de Gales, uma zona rural bela mas selvagem, conhecida pelo fortes ventos e como o último reduto britânico da cruel doninha. Nestas colinas indômitas, foi fácil acreditar na possível existência da fera infernal de quatro patas de John Landis.

O grupo filmou também no pequeno vilarejo galês de Crickadarn, um minúsculo povoado com apenas seis casas de campo e uma fazenda. Apesar do reduzido número de habitantes, Crickadarn tem duas igrejas – com os respectivos cemitérios, o que criava já uma atmosfera devidamente fantasmagórica, mesmo antes da equipe de filmagem ter instalado uma estátua sinistra do “Anjo da Morte”.

O que faltava em Crickadarn era um pub – um cenário exigido no roteiro para o vilarejo fictício East Proctor. Assim, o departamento artístico criou o “The Slaughtered Lamb” (“A Ovelha Chacinada”) a partir de uma casa vazia. O resultado era tão real que três turistas, atraídos pela luz acolhedora proveniente das janelas, procuraram repouso no interior.

No País de Gales, o grupo defrontou-se com grandes problemas climáticos. “Escolhi propositadamente os meses de fevereiro e março na Inglaterra para rodar o filme” – afirmou John Landis, “para garantir um clima realmente terrível”. Mas o clima britânico é reconhecidamente instável. No espaço de um dia, Crickadarn teve neve, granizo, chuva e um sol radiante.

“Em quantos filmes você já trabalhou em que teve de esperar pelo mau tempo?” – indagou John Landis durante um longo período de sol.

Em Londres, o grupo passou quase duas semanas nas enfermarias vazias de uma maternidade desativada que funcionou como o hospital onde o personagem de David Naughton acorda após a sua experiência no pântano.

Durante a semana em que o noivado do Príncipe Charles com Lady Diana Spencer foi anunciado, John Landis realizou filmagens noturnas no recinto da residência de campo da rainha, o castelo de Windsor. Enquanto a mente de sua Majestade estava envolta em outras questões, o seu jardim foi cenário de um assassinato brutal e sangrento – cortesia da Lycanthrope Films Ltd.

Do espaço gelado do Windsor Great Park, a produção mudou-se para as profundezas claustrofóbicas da estação de metrô de Tottenham Court Road. Aqui, a equipe de filmagem normalmente barulhenta de John Landis foi submetida a uma restrição sotto voce pelos túneis e as estações silenciosas. Foi aqui que John landis criou uma das seqüências mais aterrorizadoras do filme.

A atriz principal, Jenny Agutter, lembra: “Londres é uma cidade estranha porque não existem leis contra as filmagens mas existem leis contra bloquear o trânsito. Se houver uma multidão na calçada, a polícia prende as pessoas ou pede para dispersarem. Corríamos sempre o risco de John Landis ir parar na cadeia!”

Nas filmagens em Piccadilly Circus surgiu um problema básico: para começar, o obtenção de uma licença para filmar neste local. Durante 15 anos, desde que um infeliz incidente no qual uma proeza de grande porte (realizada sem licença), causou enormes engarrafamentos, não foi permitido fazer qualquer filmagem no local.

John Landis não só pretendia filmar no local durante a noite, o que exigia o posicionamento de enromes holofotes, como pretendia também criar uma seqüência espetacular de acontecimentos provocados por uma multidão em pânico – difícil até mesmo numa situação controlada. No West End num sábado à noite, podia-se dizer que seria impossível.

No entanto, John Landis foi audaz contra as dificuldades encontradas para a obtenção da licença. Armado com planos de campanha, gráficos pormenorizados e um modelo de grande escala de Piccadilly Circus completíssimo, com a estátua de Eros e carros em miniatura a circundá-lo, o próprio John Landis teve reuniões com os agentes policiais mais importantes para apresentar seu caso. E venceu.

No fim de uma tarde de fevereiro, a equipe de filmagem de “Um Lobisomem Americano em Londres” reuniu-se na Wimpy, casa de hambúrgueres, em Piccadilly Circus para receber instruções. Os técnicos e dublês reuniram-se em silêncio em frente a um enorme quadro preto enquanto John Landis e o seu primeiro assistente distribuíam mapas e esquemas e delineavam a seqüência planejada de acontecimentos.

À volta de Piccadilly Circus foram montadas três câmeras em locais elevados e outras quatro no solo. Como se isto não bastasse para atrair as atenções para as filmagens, acenderam-se os holofotes, projetando-se sobre Piccadilly Circus e atraindo multidões que permaneceram no local até as primeiras horas da manhã.

Seguiram-se dois outros locais bem conhecidos de Londres. Em Trafalgar Square, John Landis instalou uns incríveis trilhos através da Praça para a plataforma de filmagem de 85 metros. Finalmente, na Torre de Londres – durante a noite – o cinematógrafo Bob Paynter banhou todo o famoso ponto de referência londrino com um brilho suave enquanto era realizada uma cena aterrorizadora em primeiro plano.

John Landis e o gênio de maquiagem, Rick Baker, começaram por debater os extraordinários efeitos especiais que seriam necessários para o filme dez anos antes, quando se conheceram no filme “Schlock”, de John landis, onde Rick Baker criou uma caracterização complexa de um homem-macaco. John Landis, na época com 21 anos, desempenhou o papel do mortífero mas adorável homem-macaco.

A idéia para a criação de uma transformação de homem para lobo que aconteceria perante os olhos do público, sem utilização de efeitos ópticos, estava enraizada na mente de Rick Baker há uma década. Quando John landis o contatou para lhe dizer que o filme seria realizado, Rick baker confirmou que tinha imaginado algo único para o filme.

O primeiro pedido de Baker foi que o casting para os papéis principais masculinos fosse feito o mais rápido possível para que pudesse começar a trabalhar nos moldes dos seus rostos e corpos. John Landis percebeu que isto significaria que teria de contratar os dois atores antes da conclusão dos acordos financeiros para o filme.

Era um risco que John Landis estava preparado para correr. Quase nove meses antes da data programada para o início das filmagens, ele contratou David Naughton e Griffin Dunne para o papel dos estudantes americanos. Logo que as suas assinaturas estavam sobre a linha pontilhada, ambos foram levados para o laboratório de Rick baker, onde foram feitos moldes a partir dos seus corpos.

Para David Naughton, que desempenha o papel principal no filme, a experiência foi mais dura – não só porque foi necessário fazer moldes de todas as partes do seu corpo como também, muito mais tarde, foi submetido a horas e horas de maquiagem durante os muitos dias de filmagem.

A seqüência da transformação demorou uma semana para ser filmada, envolvendo processos de maquiagem complicados e demorados e também regulagens tecnicamente complexas necessárias para realizar as diversas fases da transformação. Foi também necessário equipamento de vídeo para permitir à equipe de Rick Baker monitorizar os movimentos do seu complexo mecanismo.

Foi talvez a semana mais desconfortável da vida de Naughton, uma vez que o seu corpo, normalmente sem pêlos, foi transformado numa fera desgrenhada. Durante muitas seqüências, cada um dos pêlos foi aplicado individualmente.

David Naughton: “Há um conselho que dou a qualquer ator que planeje equipar-se com patas de lobisomem: Vá primeiro ao banheiro!”.

“Temos de confiar no cara” – afirmou Naughton sobre Rick Baker. “Ele não faz nada que não tenha experimentado nele próprio. Coisas como lentes de contato, máscaras de látex – ele testou tudo pessoalmente. Além disso, ele ensaia a maquiagem antes de a fazer no ator, para que possa trabalhar o mais rápido possível.”

Para a última apresentação de Griffin Dunne, Baker criou os efeitos mais complexos. Embora muitas seqüências exigissem o aparecimento de Dunne com uma maquiagem intrincada, para os grandes planos era necessário ver o crânio do personagem. “Com a maquiagem” – diz Baker – “apenas se pode revestir o rosto de uma pessoa e não mostrar o seu interior, o que aqui era necessário!”.

Baker construiu um modelo extraordinário do ator que teve que ser manobrado por seis pessoas, incluindo o próprio Dunne. Foi necessário a utilização de equipamento de vídeo adicional para que a equipe pudesse ver o que estava fazendo.

Sobre seu personagem, Naughton disse: “Desempenho este como se fosse alguém com uma doença na fase terminal. Ele não pode lutar contra a doença e nem mesmo acredita que está doente. Ele conta piadas sobre lobisomens – até ser demasiado tarde”.

Landis recorda que os espectadores em Los Angeles saíram de um cinema dizendo que eles gostaram muito do filme mas que simplesmente não aguentava mais. “O fato da violência que está acontecendo ser contra as pessoas com quem você se preocupa causa muito mal-estar.”

“An American Werewolf in London” (1981, 97 min.) de John Ladis. Com: David Naughton, Jenny Agutter, Griffin Dunne e John Woodvine.

O Incrível Homem que Derreteu

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , on outubro 22, 2011 by canibuk

“The Incredible Melting Man” (O Incrível Homem que Derreteu, 1977, 85 minutos) de William Sachs. Efeitos Especiais de Rick Baker. Com: Alex Rebar, Michael Alldredge e Burr DeBenning.

Um dos primeiros filmes que vi quando criança (tinha uns 8 anos de idade) e que ficou queimado na retina (junto de “O Último Cão de Guerra” de Tony Vieira, constatar isso explica muita coisa sobre minha paixão por cinema). “O Incrível Homem que Derreteu” conta a história do astronauta americano que foi exposto à radiação dos anéis de Saturno e que começou a derreter quando voltou ao Planeta Terra. Contaminado, o astronauta escapa do hospital (numa hilária cena envolvendo uma enfermeira gordinha) ao perceber que está derretendo e começa a cometer assassinatos para consumir carne humana (porque, como em todo bom filme vagabundo, a carne humana tem propriedades únicas que retardam o derretimento do astronauta).

Originalmente concebido como uma paródia aos filmes de horror, os produtores de “O Incrível Homem que Derreteu” pediram ao diretor William Sachs que deixasse o filme mais sério e violento (mais violento até pode ter ficado, mas prá nossa sorte, a parte de deixá-lo mais sério não funcionou). “O Incrível Homem que Derreteu” é uma espécie de remake gore do clássico “First Man Into Space” (1959, de Robert Day), com inspiração no também clássico “The Quatermass Xperiment” (1955, de Val Guest), sem se levar à sério em nenhum momento (perceba como os atores interpretam as personagens com um ar de incredulidade). Atente, também, às participações especiais de Jonathan Demme (no papel de uma vítima) e da atriz Rainbeaux Smith (especialista em aparecer em exploitation movies) no papel de uma modelo fotográfica atazanada por um fotografo tarado.

As maquiagens são de Rick Baker (antes de ganhar vários Oscars por suas maquiagens em super-produções de Hollywood), que criou quatro fases distintas no make-up do homem que derrete (que o ator Alex Rebar se recusava a colaborar nas sessões de maquiagens porque odiava ser maquiado), mas somente duas fases estão na edição final do filme. Uma cena onde as maquiagens de Baker se destacam até nos dias atuais, é quando uma cabeça decepada explode após cair numa cachoeira. Para conseguir o efeito desejado, Baker moldou uma cabeça falsa de cera e gelatina com sangue falso no interior. O resultado, filmado em câmera lenta, é lindo.

Na distribuição do filme a produtora/distribuidora American Internacional Pictures vendia o filme dizendo que os efeitos especiais eram do “mestre dos efeitos especiais do Exorcista” (que não foram feitos por Rick Baker, mas sim por Dick Smith), fato este que irritou tanto William Friedkin (diretor de “O Exorcista”) que ele vivia rasgando posters de divulgação do “O Incrível Homem que Derreteu”. Quando lançado nos cinemas o filme de William Sachs recebeu diversas críticas negativas, só encontrando seu público anos depois, quando o filme foi exibido na TV e distribuido em VHS.

Tenho adoração por este filme, tanto que em 2006 fiz um filme-homenagem à ele chamado “A Curtição do Avacalho” (73 minutos), onde desconstruí a idéia do filme original e coloquei um homem derretido lutando contra as dificuldades de se fazer cinema independente no Brasil.

capinha do VHS lançado no Brasil pela Globo Filmes.