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Remake, Remix, Rip-Off: Cem Kaya fala sobre o Inspirador Cinema Popular Turco

Posted in Cinema, Entrevista with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 3, 2016 by canibuk

“Remake, Remix, Rip-Off: About Copy Culture & Turkish Pop Cinema” (2014, 96 min.), de Cem Kaya, ganha exibição neste dia 04 de outubro no Interzona Cineclube (Cine Odeon, Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro, no Rio de Janeiro), às 20:30 com ingresso online sendo vendido aqui no CCLSR.

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“Remake, Remix, Rip-Off” conta a história do Cinema Turco entre as décadas de 1960 e 1970, quando a  Turquia ostentava o título de um dos maiores polos produtores de cinema do mundo, apesar de sua indústria de cinema sofrer de um déficit criativo crônico: a falta de roteiristas. A fim de manter o fluxo de filmagens, produtores turcos copiavam roteiros e argumentos de produções internacionais. Assim, para qualquer título de sucesso, como Tarzan, Drácula ou Star Trek, passou a existir uma versão turca. Este documentário nos apresenta a época de ouro do cinema popular turco, quando os diretores deviam ser rápidos e os atores resistentes.

Aproveitando essa exibição no Rio de Janeiro entrei em contato com o diretor Cem Kaya e solicitei uma entrevista sobre seu documentário e a indústria cinematográfica turca e fui prontamente atendido. Cem Kaya é extremamente simpático e seu filme, “Remake, Remix, Rip-Off” um dos mais divertidos e inspiradores documentários que tive o prazer de assistir nos últimos tempos. O cinema Turco e o cinema brasileiro são irmãos bastardos e possuem muitas coisas em comuns, como Kaya atesta na entrevista.

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Cem Kaya

Baiestorf: Sou um grande fã do cinema realizado na Turquia entre os anos 60 e 80 e seu documentário expandiu ainda mais  meus horizontes de cinéfilo. Como surgiu a idéia de documentar este período do cinema de seu país?

Cem Kaya: Eu nasci na Alemanha, em uma comunidade de trabalhadores expatriados turcos na década de 70. Então, não assisti os Yesilçam movies nos cinemas da Turquia e sim em VHSs lançados na Alemanha. Por falta de conteúdo turco na TV alemã, o surgimento dos aparelhos de VHS abriu um imenso mercado para distribuidores de filmes turcos. Vídeo clubes surgiram em todos os lugares. Meu padrasto, que tinha uma mercearia, possuía num cantinho uma sessão de vídeos turcos. Então tive acesso imediato a estes filmes. Nestas lojas não havia somente filmes turcos, mas também muitas produções de Bollywood e Hong Kong dubladas em turco. Os filmes turcos eram de todos os tipos, de melodramas em preto e branco dos anos 60, passando por comédias sexuais dos anos 70, ultra brutais filmes de vingança tipo os dirigidos por Çetin Inanç nos anos 80, até filmes de arte de diretores como Yilmaz Güney. Anos mais tarde, na faculdade, escrevi minha tese de mestrado sobre remakes turcos e, a partir de minha pesquisa acadêmica, desenvolvi o roteiro de “Remake, Remix, Rip-Off”.

Baiestorf: Parece-me que há muitas produções deste período ainda esperando parar serem descobertas pelo resto do mundo.

 

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Kaya: O Turkploitation é conhecido por seus notórios remakes, ou reinterpretações como “3 Dev Adam”, “Star Wars Turco” ou o “Turkish Exorcist”. Mas há muito mais remakes ou re-imaginações turcas do que se pode imaginar, porque os roteiristas trabalhavam muito remodelando as histórias. As vezes, assistindo um filme, eu acho que sei para onde a história vai ir, mas, em certo ponto, há uma torção e, de repente, estou numa nova história. Além disso há alguns diretores, não tão cultuados quanto Çetin Inaç ou Yilmaz Atadeniz (que nós amamos), que devemos assistir duas vezes. Um deles é Yilmaz Duru que realmente tinha estilo próprio, outro é Cevat Okçugil (e seu irmão Nejat Okçugil) e meu diretor favorito no cinema turco, Aykut Düz. Por exemplo, há um filme de Aykut Düz chamado “Muhtesem Serseri” (“O Maladro Grandioso”) que nada mais é do que um remake de “3:10 to Yuma” (“Galante e Sanguinário”, 1957) misturado com “Midnight Run” (“Fuga À Meia-Noite”, 1988) que foi lançado no mesmo ano. Ele se desenvolve na Turquia contemporânea  e é engraçadíssimo porque a dupla de atores do filme ((Cüneyt Arkin e o próprio Aykut Düz) e comportam como Terence Hill e Bud Spencer. Os diálogos são hilários e as filmagens beiram o documentário, retratando fielmente os distritos de Luz Vermelha em Istanbul. Você não encontra este filme nas listas de remakes turcos.

 

Baiestorf: Foi fácil encontrar e convencer os velhos cineastas à darem depoimentos? Aqui no Brasil a velha geração de cineastas fica desconfiada quando novos cineastas tentam entrevista-los.

Kaya: A maioria dos cineastas foram bastante amigáveis e estavam prontos para contar suas histórias. O Yesilçam Cinema é considerado cinema industrial convencional sem valor artístico. Então, quando um cara vem da Alemanha e está seriamente interessado em registrar este cinema, mesmo os céticos ficam lisonjeados e aceitam dar entrevista. Fizemos uma centena de entrevistas, das quais cerca de cinquenta estão no filme. Talvez no Brasil também tenha que vir alguém de fora registrar o cinema popular brasileiro.

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Baiestorf: É possível você apresentar um pouco da indústria cinematográfica turca para os cinéfilos do Brasil.

Kaya: Mesmo com o atraso em vários aspectos culturais do Império Otomano, os equipamentos cinematográficos chegaram cedo ao país através de um empresário chamado Sigmund Weinberg  . Mas infelizmente o cinema não se desenvolveu completamente até a década de 1950. Escolas de cinema não existiram até meados de 1970, ironicamente, surgiram num momento em que o Yesilçam Cinema entrou em crise. Aprender a fazer cinema só era possível artesanalmente ou assistindo a produções estrangeiras que eram exibidas dubladas nos cinemas das grandes cidades. Na década de 30 existiu apenas um diretor, Muhsin Ertugrul, que teve alguma educação sobre cinema no exterior. Na década de 40 alguns novos cineastas surgiram, como Baha Gelenbevi e Faruk Kenç, mas estes tiveram que lidar com os efeitos econômicos da segunda guerra mundial que tiveram um grande impacto na Turquia. Existem três razões principais pelas quais uma indústria cinematográfica como a de Yeşilçam possa surgir do nada:

1- Em 1948 o imposto de entretenimento foi reduzido para os filmes turcos, mas não para os filmes estrangeiros. Então a produção de filmes tornou-se lucrativa;

2- O governo do Partido Democrático (eles não eram democráticos em tudo), na década de 1950, estimulou a economia e levou eletricidade para muitas regiões da Anatólia, onde, em seguida, vários cinemas surgiram;

3- Os importadores de cinema estrangeiro não tinham redes de distribuição na Anatólia.

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Essas circunstâncias criaram um mercado no interior da Anatólia. Assim, de repente, cineastas turcos tinham de produzir centenas de filmes para o público rural com fome de histórias nacionais. Para ser capaz de alimentar o mercado, o cinema de Yesilçam (que é o nome de uma rua em Istanbul onde as empresas tiveram seus escritórios, comparável a Boca do Lixo paulista) teve de produzir histórias rápidas e baratas, sob medida para o gosto de seu público rural. Devido a falta de pessoal competente, roteiristas muitas vezes adaptavam histórias que tinham visto em faroestes. Devido a falta de leis e acordos internacionais de direitos autorais, a indústria local estava “autorizada a emprestar” roteiros, trilhas sonoras e, muitas vezes, até mesmo trechos de filmes ocidentais de sucesso que foram, elegantemente, editados com o material filmado pelos cineastas. Quando, por exemplo, tinham de mostrar terremotos, perseguições de carros ou um combate espacial, filmes de sucesso forneciam o material de arquivo. Mas muitos cineastas turcos também fizeram filmes importantes, cineastas como Metin Erksan ou o curdo Yilmaz Güney, produziram filmes de ação baratos e melodramas de doenças terminais para as massas, mas também cinema sério sobre temas socialmente relevantes, a maioria dos quais hoje clássicos do cinema turco. O cinema de Yesilçam teve seu auge na década de 70 com suas comédias sexuais, muito semelhantes à pornochanchada realizada na Boca do Lixo paulista. Dois golpes militares (1971 e 1980), censura severa e, finalmente, com o advento da televisão no final dos anos 60, o cinema foi perdendo força. 1989/1990 são considerados os últimos anos do cinema de Yesilçam. Com o surgimento da TV a cabo uma nova forma de entretenimento apareceu: Os seriados de TV. Turquia, assim como o Brasil, é um dos maiores produtores de novela do mundo.

 

Baiestorf: Assistindo seu documentário temos uma ideia de como os cineastas sofriam com a censura. E nos dias de hoje? Como funciona a censura, há mais liberdade para se fazer filmes?

Kaya: Desde seu início o cinema turco sofreu com a censura. O conselho de censura que foi fundado nos anos 30 tinha de liberar os roteiros e depois conferir os filmes produzidos. Os membros do conselho eram representantes da polícia, militares, o ministério da educação e assim por diante. Assim, os cineastas precisavam pensar em roteiros que fossem aprovados pelo conselho, desnecessário dizer que eles não eram muito corajosos. Eles tinham que ter muito cuidado para não colocar assuntos sociais ou políticos em seus filmes. Nada contra o sistema político poderia aparecer, sob risco de serem considerados propaganda esquerdista e, portanto, proibidos. Muitos filmes estavam autorizados a serem exibidos apenas na Turquia porque o governo temia que eles poderiam denegrir a imagem do país no exterior. Muitos filmes só puderem ser exibidos após terem ganhado processos contra o conselho de censura na suprema corte. A censura hoje é muito pior do que nos tempos do cinema de Yesilçam. Estamos vivendo sob uma ditadura muçulmano radical com agenda neo liberal na Turquia. Todas as formas de cultura (cinema, imprensa, teatro, artes, literatura, até a vida social) estão sofrendo muito com a censura cada vez mais forte. Isso incluí o cinema, do financiamento até a distribuição. É muito triste.

Baiestorf: Você pode contar algo que não está no documentário? Talvez sobre o filme “Dünyayi Kurtaran Adam” (“Star Wars Turco”), que acredito que seja o filme de seu país mais conhecido aqui no Brasil.

tarzan-istanbuldaKaya: “Dünyayi Kurtaran Adam” foi filmado no rescaldo do golpe militar de 12 de Setembro de 1980, quando a Turquia ainda era governada sob lei marcial, assim como nos dias de hoje. Çetin Inanç e sua equipe, no entanto, estavam filmando em Cappadocia que tem uma geografia muito peculiar para se parecer com outro planeta. Nas cenas dentro das cavernas necessitava-se iluminação, mas eles não podia colocar lá a iluminação porque o gerador não funcionava devido a umidade. Então eles decidiram construir um sistema de espelhos que trazia a luz para dentro das cavernas. Você pode perceber, claramente, alguns pontos de luzes em algumas cenas. Çetin Inanç havia construído um cenário para as cenas de efeitos especiais no espaço, mas elas foram destruídas com um vendaval. Após a destruição de seu cenário que ele decidiu usar cenas de “Star Wars” em sua produção. O cérebro por trás das cenas de found footage era Kunt Tulgar, dono de um estúdio de dublagem e diretor de “Supermen Dönüyor” (“Superman Returns”, 1979). Seu pai, Sabahattin Tulgar, era importador de filmes estrangeiros e foi diretor de “Tarzan Intanbulda” (“Tarzan in Istanbul”, 1952). Em seu porão ele tinha os rolos de todos os filmes que importou, um grande tesouro na era não-digital. Desta forma, além de “Star Wars”, eles puderam pegar trechos de “Black Hole” da Disney, “The Magic Sword” (1962) de Bert I. Gordon, alguns italianos de sci-fi menos conhecidos e, até, filmagens da NASA que encontraram em documentários. As fantasias e monstros foram inspiradas pelo filme de Hong Kong “Inframan” (“Zhong Guo Chao Ren”, 1975) de Shan Hua. Conheci o designer do cartaz do filme em Istanbul que me contou que a promoção para o filme era maior do que o habitual. Havia dois cartazes diferentes, um em inglês, o que significa que desde o início eles já planejavam vender para o exterior e, outro, em turco. O filme também teve uma quantidade maior de lobby cards.

Baiestorf: Ao assistir “Remake, Remix, Rip-Off” me dei conta de que a indústria cinematográfica turca e a brasileira são muito parecidas. Como está a produção de filmes hoje? Você poderia indicar ao público brasileiro alguns divertidos filmes atuais?

Kaya: Hoje temos uma produção de filmes de arte, bem diferentes do cinema de Yesilçam. Estes diretores vem de uma tradição que negligencia o cinema de Yesilçam por suas próprias razões. Muitos dos cineastas de cinema de arte de hoje foram inspirados pelos pioneiros do cinema turco independente dos anos 80, como o já mencionado Yilmaz Güney e Ömer Kavur ou, cineastas dos anos 90 como Yesim Ustaoglu e Zeki Demirkubuz. Eles realizaram filmes com pouco dinheiro e equipe reduzida e, mesmo assim, tiveram reconhecimento internacional em festivais de todo o mundo. Os anos 90 foram uma época difícil para os cineastas curdos. Após a implantação da política Islã com o governo islâmico radical AKP no poder, fazer cinema independente está se tornando cada vez mais difícil. Além disso, o cinema comercial e a TV comercial estão florescendo. Diz-se que há mais câmeras Arri em Istanbul do que em toda a Europa. No cinema de gênero “Baskin” (2015), o filme de estreia de Can Evrenol, foi uma verdadeira surpresa. É um filme de horror que atraiu público no mundo todo. O próprio diretor é um fã dedicado do cinema fantástico turco. Outro filme bem divertido que gosto bastante é “Vavien” (2009) dos irmãos Taylan, sobre um cara que quer matar sua esposa com uma abordagem Coen Brothers para a história. Dos documentários turcos gosto de “Bakur” (2015), sobre combatentes do PKK curdo nas montanhas de Kandil ou “Iki Dil Bir Bavul” (2008), sobre um professor de escola primária turca que tenta ensinar a língua turca para crianças curdas, estão entre os dez melhores documentários turcos para se assistir. Outro filme importante é “Tepecik Hayal Okulu” (2015), documentário sobre o diretor Ahmet Uluçay, recentemente falecido, um cineasta único que tem minha simpatia por ser um visionário e possuir uma maneira única de narrar suas histórias. Seu filme de ficção “Karpuz Kabugundan Gemiler Yapmak” (“Boats of Watermelon Rinds”, 2004) é uma ode ao cinema DIY (do it yourself).

Baiestorf: Como está sendo a carreira comercial de seu documentário? Ele foi lançado em muitos países? Sei que foi sensação em várias mostras de cinema pelo mundo.

Kaya: “Remake, Remix, Rip-Off” foi exibido em cerca de cem festivais em todo o mundo, incluindo Locarno, Rotterdam e o Festival de Berlin. Também foi exibido em muitos festivais de cinema de gênero, como Fantastic Fest, Fantasia e Sitges.  No Brasil estávamos no Festival do Rio e outros dois que esqueci o nome (shame on me!). O lugar mais longe em que foi exibido foi no Hawaii e o mais perto (de onde vivo) Munique. Ele também tem uma versão mais curtas exibida na TV alemã ZDF, que também financiou uma grande parte do filme. No momento estamos trabalhando para o lançamento em DVD e, também, lançamentos nas plataformas de VOD.

Baiestorf: Assisti seu filme no festival A Vingança dos Filmes B, em Porto Alegre. Sessão lotada e o público rolando de rir. Foi uma ótima sessão, com o público muito feliz e inspirado ao final da sessão. Cem, obrigado pela entrevista e, mais importante, obrigado por ter feito este documentário tão divertido e informativo.

Kaya: Muito obrigado pra ter a chance falar sobre o meu filme.

Veja o trailer de “Remake, Remix, Rip-Off” aqui:

Quando: dia 04/10, as 20:30 no Odeon.

Interzona Cineclube e Cine Odeon – Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro apresentam a sessão de Remake Remix Rip-Off – O fantástico cinema popular turco!, o sensacional documentário dirigido por Cem Kaya sobre umas das filmografias mais divertidas e ensandecidas do planeta: o cinema popular turco!!

Cultuado por colecionadores e pesquisadores de filme B, é difícil pensar nos turcos sem lembrar em cinema de gênero, especialmente no gênero fantástico. Com poucos recursos, mas ricos em criatividade, nada era impossível para os realizadores destes filmes. Donos de um fazer cinema orquestrado por profissionais apaixonados, acostumaram a trabalhar rápido, com baixo orçamento, muito improviso e em escala industrial.

Nesse liquidificador cultural entrava de tudo: quadrinhos, westerns italianos, novelas pulp, naves espaciais, cientistas malucos, robôs, monstros, super heróis, vilões, vikings, fadas, cowboys, justiceiros, gangsters, dramalhão, muito nonsense e soluções inusitadas devido ao pouco tempo e dinheiro. O resultado desta mistura maluca é a mais pura diversão e inventividade.

A sessão contará com apresentação do pesquisador Fábio Vellozo e um debate após a sessão: “As delicias do maravilhoso cinema popular turco” contando com Fábio Vellozo, Christian Caselli e Gurcius Gewdner, 3 fanáticos pelo mundo maluco e divertido dos cineastas turcos.

La Mujer Murcielago e a Criatura Anfíbia Humana

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 28, 2011 by canibuk

“La Mujer Murcielago” (1968, 80 min.) de René Cardona. Com: Maura Monti, Roberto Cañedo, Héctor Godoy e Jorge Mondragón.

Cinco atletas aparecem misteriosamente assassinados e um agente especial é chamado para resolver o caso, antes mesmo dele fazer qualquer coisa, já avisa: “A única pessoa que pode resolver isso é a Mujer Murcielago!”. E logo a Mujer Murcielago em pessoa chega em Acapulco para ajudar o agente a resolver o mistério. Seu uniforme é um achado, usa um diminuto bikini com capa, luvas e máscara de morcego (que lembra muito o visual da mulher-gato). Logo ficamos sabendo que o responsável pelas mortes é o Dr. Eric Williams, um cientista louco que tem até um assistente demente chamado… Igor!!! A dupla está matando os atletas para extrair a glândula pineal e assim criar a criatura anfíbia humana (essa dupla rende os momentos mais divertidos com seus exageros canastrões). Durante a investigação os agentes ficam encantados com a beleza da Mujer Murcielago e seus ousados (para a época) decotes. Logo, sem ajuda de ninguém, ela entra escondida no iate do Dr. Williams e fica sabendo dos planos dele. Seguindo a lógica do cinema mexicano a Mujer Murcielago escapa do iate e vai treinar luta livre ao invés de resolver o problema e assim passa a ser perseguida pelos capangas do Dr. (que passam a usar aquelas máscaras de ladrões de quadrinhos) que são incumbidos de descobrir a identidade dela para aí, somente então, matá-la (não seria mais fácil só matar ela?). Paralelo a essa confusão toda, Dr. Eric Williams e Igor conseguem criar a criatura anfíbia humana (um monstro aquático vermelho inspirado no Monstro da Lagoa Negra) que é controlado por um zumbido e enviado para capturar a Mujer Murcielago que serviria perfeitamente para ser a fêmea da criatura (diante do sucesso de sua criação, Dr. Williams começa a delirar sobre a criação de um exército destas criaturas para dominar todos os Oceanos e dominar o mundo, HAUAHAUAAHAU – risadas de dominar o mundo!). Com o primeiro ataque da criatura falhando, o Dr. manda um de seus assistentes colocar um transmissor na capa da Mujer Murcielago e a criatura anfíbia humana é enviada outra vez para raptá-la durante a noite, o que rende uma das mais legais lutas do filme, com a Mujer Murcielago derrotando a criatura vestindo uma camisola transparente curtinha, ficando com um visual extremamente sexy. Com mais essa falhada magistral da criatura (que aparentemente não serve prá nada), Dr. Eric Williams muda de estratégia e resolve raptar o agente e o capitão da polícia para que a Mujer Murcielago venha ao sei iate resgatá-los (numa interessante inversão do clichê “mocinho salva mocinha”). No finalzinho do filme há uma piada com a coragem da Mujer Murcielago: depois de enfrentar cientistas loucos, capangas malvados, monstros vermelhos e resolver tudo no braço, ela fica histérica ao ver um rato na sua casa e salta nos braços do agente que salvou horas antes. Hilário!!!

Assim como num filme do lutador mascarado Santo, a Mujer Murcielago faz tudo usando máscara (apenas o agente sabe sua identidade). Essa sexy heroína ganhou vida sendo interpretada pela gostosa atriz Maura Monti, uma italiana que se mudou para a Venezuela aos 5 anos de idade e se tornou modelo. Das passarelas para o cinema foi rápido e estrelou vários filmes ótimos como “El Planeta de las Mujeres Invasoras” (1966) de Alfredo B. Crevenna, “La Muerte en Bikini” (1967) de Arturo Martínez, “Santo contra la Invasión de los Marcianos” (1967) também de Crevenna, “S.O.S. Conspiracion Bikini” (1967) de René Cardona Jr., “Muñecas Peligrosas” (1967) de Rafael Baledón, “Las Vampiras” (1969) de Federico Curiel e o clássico “The Incredible Invasion” (também conhecido como “Alien Terror” e que se chamou “Invasão Sinistra” aqui no Brasil, 1971) de José Luis González de León (com as cenas americanas dirigidas por Jack Hill e as mexicanas por Juan Ibáñez), filme vagabundérrimo que se destaca por ter Boris Karloff em fim de carreira no elenco. Nos anos da década de 1970 Maura Monti desiste do cinema (por causa das cenas de nudez) e passa a interpretar em produções da TV mexicana.

A espetacular trilha sonora de “La Mujer Murcielago” foi interpretada por Leo Acosta y su Conjunto de Jazz, o que deixou o filme com um ritmo alucinante. René Cardona, o diretor, é também ator no clássico “El Baron del Terror” (1962) de Chano Urueta, pai do diretor René Cardona Jr. e dirigiu 145 longa-metragens, se tornando uma referência do cinema popular mexicano. Já o produtor de “La Mujer Murcielago” é Guillermo Calderón que foi o responsável por inúmeros filmes de lutadores mascarados e outras temáticas exploitation/populares, como produções explorando rock’n’roll, westerns, filmes de horror, dramas adolescentes e romances bregas envolventes. Vários filmes de René Cardona, como “Santa Claus” (1959), “Las Luchadoras contra la Momia” (1964) e “La Horripilante Bestia Humana” (1969), foram produzidas por Calderón. E o roteirista Alfredo Salazar é irmão do ator, produtor e diretor Abel Salazar (“El Baron del Terror”), dirigiu 10 longas (entre eles “Bikinis y Rock” de 1972 e “Herencia Diabólica” de 1994) e roteirizou outros 63 filmes. O make-up do filme é de Margarita Ortega e o monstro (não dou certeza porque não consegui confirmar a informação) parece que foi elaborado por Alfonso Bárcenas.

“La Mujer Murcielago” é uma mistura de Santo e 007 com muita ação, cenários kitsch com cores berrantes (na melhor tradição festiva mexicana), história absurda cheia de furos que dão o charme classe Z necessário para tornar essa produção uma peça rara do incrivelmente colorido cinema psychotrônico made in México.

por Petter Baiestorf.

Luchadores & Monstruos!!!

Posted in Cinema, Museu Coffin Souza with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 1, 2011 by canibuk

Se os americanos têm os super-heróis como Batman, Superman, Spiderman ou os X-Man; a Itália tem os forçudos Hércules, Maciste ou Golias (gênero chamado Peplum, aguardem); os Britânicos o super-espião James Bond, o Japão seus invencíveis samurais e super-heróis alienígenas como Ultraman, Spectreman, Jaspion e uma centena de outros, o que teria o México? Um país latino, fronteira turbulenta com uma das maiores economias do mundo, com uma herança perdida dos avançados Maias, catolicismo forçado, folclore riquíssimo e uma obsessão pela morte que beira a necrofilia; o México tem uma indústria cinematográfica que remonta ao ano de 1895, e que tomou força nos anos de 1960. O cinema de Gênero mexicano tem influência dos filmes de terror e aventura dos EUA, Itália e Inglaterra com um colorido típico, ingenuidade quase infantil e um molho caliente.

Um gênero altamente popular no México – e talvez o mais conhecido fora do país – é a “Lucha Libre”, ou filmes com heróis lutadores de ringue. As lutas profissionais foram introduzidas no país nos anos 30 pelo empresário Salvador Lutteroth, que importou da América do Norte o conceito de lutadores mascarados. A Lucha Libre se tornou um esporte bastante popular e os campeões profissionais verdadeiros ídolos da cultura em geral, tanto que até os partidos políticos mexicanos possuem seus luchadores com máscaras e cores específicas nos uniformes. A popularidade dos astros do ringue os levaram as histórias em quadrinhos e depois ao cinema, com uma diferença em relação aos super-heróis anglo saxônicos ou japoneses, o conceito de identidade secreta é levada ao extremo! Como escreveu David Wilt no seminal livro “MONDO MACABRO – Weird & Wonderful Cinema Around the World” (Pete Tombs, 1997): “Em sua forma pura, estes filmes apresentam um protagonista que é ao mesmo tempo lutador mascarado e super-herói combatente do crime… Se o playboy Bruce Wayne se transforma no Batman para combater o crime, El Santo, por exemplo, é sempre El Santo. Em seus filmes, histórias em quadrinhos e em sua carreira profissional, sua verdadeira identidade e aparência permanece um segredo fortemente guardado.”

O primeiro filme de Lucha Libre foi “Huracán Ramírez” (ou “La Bestia Magnifica”, Prodduciones Hidalgo, 1952), sobre dois irmãos que treinam para serem campeões nos ringue e um deles se volta para o mal. Com o sucesso de público, o muchacho Huracán vendeu seu nome e imagem (sua enfeitada máscara azul e branca) para os produtores e em filmes posteriores seria interpretado pelo também lutador David Silva. Do mesmo ano é o seriado “El Enmascarado de Plata” de René Cardona, com o lutador Medico Asesino enfrentando um cientista louco (também mascarado), baseado nos quadrinhos de El Santo. Existem muitas publicações que creditam este como o primeiro filme de Santo, o Mascarado de Prata, por causa da semelhança da máscara, mas depois do filme, o Medico Asesino teve que mudar a sua para uma totalmente branca. Mas afinal quem era El Santo ? Atenção! O que será contado a seguir permaneceu em segredo durante muitos anos… Santo nasceu 13 de setembro de 1915, em Turlancingo, uma pequena vila no estado de Hidalgo, México. Seu nome verdadeiro era Rodolfo Guzmán Huerta, descendente de indígenas mexicanos (como quase todos os luchadores) e começou sua carreira com o nome de Constantino, depois foi El Hombre Rojo e ainda El Murciélago Enmascarado II. Quando o verdadeiro Murciélago protestou pelo uso de seu nome, Rodolfo teve que procurar um novo nome e baseado na forte religiosidade mexicana virou o Santo. Depois que venceu seu primeiro campeonato nacional em 1942, Huerta defenderia o título até se retirar dos ringues no final da década seguinte pra se dedicar ao cinema, tornado-se uma lenda! Seus primeiros filmes foram rodados por razões econômicas em Cuba . ”Santo Contra Los Hombres Infernales” (ou “Cargamento Blanco”, 1958) e “Santo Contra El Cerebro Del Mal” (1958), ambos de Joselito Rodriguez, continham pouco dos elementos que mais tarde seriam seu sucesso; nenhuma cena de luta no ringue, nenhum elemento fantástico e mesmo El Santo aparecia muito brevemente.

Outro popular super-herói mexicano da época foi Neutron, vivido pelo ex-lutador Wolf Ruvinsksis e exibido internacionalmente (inclusive no Brasil, pela distribuidora especializada PelMex). Calcado fortemente nos modelos de heróis em quadrinhos mais tradicionais, Neutron é a identidade secreta do empresário Carlos Marquez, que para ajudar seu amigo, o jovem chefe de policia Alberto, se transforma no audaz mascarado para combater as ameaças do gênio criminoso Dr. Caronte (feito pelo também lutador Roberto Rodriguez, conhecido com sua máscara branca como Beto El Boticário!)l). Em “Neutron Contra El criminal Sádico” (“Neutron, O Mascarado Negro”, 1960); “Neutron Contra El Dr.Caronte”(1960) e “”Las Automatas de La Muerte” (1960), todos dirigidos por Federico Curiel (1917-1985), as aventuras envolvem o desenvolvimento de uma perigosa bomba de nêutrons e os autômatos criados pelo cientista para protegê-lo.

Então em 1961 foi rodado “Santo Contra Los Zombies” de Benito Alazraki, onde um vilão encapuzado trás criminosos de volta a vida e os domina por controle remoto. Santo é chamado pelas autoridades para ajudar e interrompe suas lutas para resolver o problema do seu jeito, ou seja, no soco! Estava criada uma mitologia, o lutador, que nos ringues nem sempre foi o “bonzinho”, fazendo mais o tipo que é conhecido lá por “rudo” (ou seja, um lutador vilão), agora era um esperto combatente do crime, com direito a laboratório, carros velozes e mocinhas apaixonadas. Nem todos os filmes do Santo e de outros lutadores mexicanos continham elementos de terror e ficção científica, mas foram estes os mais vistos, cultuados e de nosso interesse. Santo começou esta época uma carreira internacional e em muitos países ganhou um novo nome: nos EUA foi chamado “Samson”, na Alemanha Superheld (Super-herói), na Itália “Argos” e na França “Superman”! Em “Santo em El Hotel de La Muerte” (1961) de Federico Curiel (1917-1985), onde um assassino mascarado chamado Professor Corbera, assassina mulheres no antigo Hotel Vasco, Santo é apenas coadjuvante para a dupla Casanova & Boticario e só aparece na segunda metade do filme. Já em “Santo Contra El Cerebro Diabolico” (1962) de Federico Curiel, ele enfrenta o criminoso La sombra Negra, que para se apossar de uma mina de ouro, contrata um cientista que constrói oponentes para Santo à lá Frankenstein, com pedaços de corpos humanos. Um grande sucesso foi “Santo Contra Las Mujeres Vampiro” (“Santo Enfrenta as Mulheres Vampiro”, 1962) de Alfonso Corona Blake (1919-1999), com as deliciosas mexicanas Lorena Velazquez (Maria de La Concepción Lorena Villar Dondé, 1937) e Maria Duvall (Maria Dussange Ortiz, 1939), entre outras vampiresas que procuram uma nova rainha e descobrem que El Santo é o descendente do homem mascarado que derrotara seu culto sangrento a 200 anos.

O sucesso da fórmula levou a uma crescente multiplicação de similares que tiveram vida curta. O heróico Tormenta apareceu em “Señor Tormenta” (1962) e em “Tormenta Em El Ring” (1962); “La Sombra Blanca” (1963) foi a única aparição deste herói, assim como Gold Mask, El Enmascarado de Oro que sumiu após “El Asesino invisible” de 1963. Esperto foi o diretor René Cardona, que junto com o roteirista Alfredo Salazar decidiram dar uma “apimentada” no gênero e colocar “unas chicas” em uniformes apertados para enfrentarem monstros e cientistas malévolos. A bela Lorena Velazquez e a muito gostosa Elizabeth Campbell estrelaram “Las Luchadoras Vs. El Medico Asesino” (no Brasil “Gomar, O Monstro Assassino”, 1962) de René Cardona (1906-1988), onde um médico doido tenta transplantar um cérebro humano para o corpo de um gorila, auxiliado por Gomar, meio homem-meio macaco, fruto de uma experiência anterior. Gloria Vênus (a ex-miss México Velazquez) e sua parceira nos ringues Golden Ruby (Campbell) fizeram sucesso e retornaram em “Las Luchadoras Contra La Momia” (1964) de René Cardona, agora para combaterem a múmia rediviva da princesa asteca Xochitl que possuía o poder de se transformar em cobra ou em morcego, além de uma dupla de perigosas lutadoras de artes marciais japonesas. O filme foi um enorme sucesso na TV americana, exibido dezenas de vezes em sessões noturnas e as Luchadoras voltariam para mais aventuras anos depois.

Enquanto isto, Santo continuava suas atividades, agora envolvido com uma versão mexicana do Fantasma da Ópera. Em “Santo Contra El Estrangulador” (“Santo enfrenta o Estrangulador de Mulheres”, 1963) e “Santo Contra El Espectro Del Estrangulador” (“Santo enfrenta o Fantasma Assassino”, 1963) ambos de Alfonso Corona Blake, um ilusionista maníaco, estrangula várias beldades do Teatro de Variedades para se vingar de uma vedete que lhe deformara o rosto (Conheci o personagem Santo, quando assisti estes dois filmes em seqüencia numa reprise de um cinema pulgueira do bairro em que morava em Porto Alegre quando criança, imaginem o impacto para um “piá” de 12 anos ver esta combinação de terror, luta livre e mulheres gostosas em perigo!). Já em “Santo Em El Museo De Cera” (“Santo contra os Monstros do Museu de Cera”, 1963) do mesmo Corona Blake, nosso herói enfrenta vários monstros clássicos (Frankenstein, Quasímodo, Yeti, o Fantasma da Ópera, Barbazul) que na verdade são pessoas comuns transformadas e manipuladas pelo maligno Dr. Karol através de injeções de uma droga experimental. Santo foi chamado para dar uma força no lançamento de outro lutador popular (e oponente seu nos ringues) chamado Blue Demon. Alejandro Muñoz Moreno (22/04/1922), já havia estrelado seu primeiro filme “Blue Demon El Demonio Azul” (1963) de Chano Urueta (1904-1979) onde enfrentava um lutador transformado em lobisomem por um cientista, mas apesar da direção do criativo Urueta (“El Barón Del Terror”), a produção não chamara a atenção. Assim, em “Blue demon Vs. El Poder Satanico” (1964) de Chano Urueta, Blue, além de enfrentar um misterioso inimigo com poderes sobrenaturais, é envolvido na morte de um oponente durante uma luta. Numa participação relâmpago, El Santo entra no camarim de Blue Demon para elogiá-lo e prometer ajuda no combate ao crime. O público adorou ver o santo e o demônio juntos e foi estabelecida uma duradoura parceria. O mesmo ano marca o aparecimento da figura gigante de Mil Máscaras (Aaron Rodriguez Arellano, São Luis Potosí – 15/07/1942), fisiculturista, Mister México 1961 e participante da Olimpíada de Tóquio de 64. Mais jovem que seus colegas, Rodriguez queria ser toreador, até que assistiu uma luta com El Santo e criou sua persona para os ringues. Diferente dos outros enmascarados, ele não tinha uma máscara fixa, e sim dezenas de modelos e cores, mantendo apenas uma letra M estilizada gravada na testa. Ele também não costumava utilizar suas máscaras em público, como contou em uma entrevista para David J.Schow na revista Fangoria #148: “Quando eu vestia minha máscara, eu era o Mil Máscaras, mas quando eu a tirava, eu me transformava no empresário do Mil Máscaras!”. As primeiras aventuras do novo herói foram contra inimigos normais, em “Mil Mascaras” (1964) ele combate um bando criminoso liderado por um lutador, e em “Los Canallas” (“Anjos Infernais”, 1965) de Federico Curiel, uma gang de jovens motoqueiros delinqüentes. Aaron nunca foi fã dos diretores de cinema, que reclama gostavam de abusar e explorar os atores: “Eu acho muito mais fácil enfrentar uma platéia de 20.000 pessoas em uma arena de luta que um diretor de filmes.” (Fangoria Magazine).

Mas a busca por novos personagens (e bilheteria) continuava. O malandro Alfredo B.Crevenna (1914-1996), aproveitando a anunciada associação de Santo & Blue Demon, criou sua dupla de lutadores “místicos”, Karloff Lagarde (!?) com sua máscara vermelha com chamas saindo de uma letra S, virou Satã, seu companheiro René “Copetes” Guajardo com um A com asas (cópia do símbolo do Capitão América) e máscara azul… o Anjo! Os dois apareceram em “Los Endemoniados Del Ring” (“Os Demônios do Ringue”, l964) e em “Mano Que Aprieta” (1964). Outra tentativa foi feita pela dupla René Cardona /Abel Salazar em “Las Mujeres Pantera” (“O Anjo enfrenta as Mulheres Pantera” (1965), agora as Luchadoras encaram uma seita Druida com muchachas que são metade panteras (ecos de Cat People, de Val lewton) e são auxiliadas pelo misterioso lutador El Angel, que não é o mesmo da dupla anterior, nem o homônimo que fez uma participação no antigo terror “La Maldición de La Momia azteca” (1957), escrito por Salazar!

O sempre muito ocupado Mascarado de Prata nem tinha tempo para se preocupar com imitadores, já que enfrentava feiticeiras em “Santo em Atacan Las Brujas” (1964); ladrões de cadáveres em “Profanadores de Tumbas” (1965) e um clone do conde Drácula em “Santo Contra El Barón Brakola” (1965), todos de José Dias Morales. Então, de repente, os inimigos começaram a chegar do espaço! “Santo Contra La Invasión de Los Marcianos” (“Santo Combate os Marcianos”, 1966) de Alfredo B. Crevenna, um dos filmes mais populares (e Trash) do herói, o coloca enfrentando alienígenas altos, sarados, loiros, que praticam luta-livre e estão armados com um raio mortal que disparam de seus “olhos Astrais” (dispositivo na ridícula touca que usam ao invés de capacetes espaciais). Descontando que metade do tempo do filme são cenas de arquivo de lutas nos ringues, o que sobra da bagaceirada mexicana é realmente muito divertido. O Demônio Azul também se enfrentou com alienígenas no surpreendente “Arañas Infernales” (1966) de Federico Curiel. Quando os habitantes de um planeta habitado por avançada espécime de aracnídeos vê sua rainha definhar por falta de seu alimento principal, ou seja, cérebros, eles assumem a forma humana e passam a caçar na terra, em busca de um exemplar avançado para saciá-la. Não é que o lutador Blue Demon possui exatamente o cardápio da aranha gigante? Depois de ver seus primeiros emissários serem despachados a porradas, a gostosa líder da expedição manda chamar do distante planeta seu príncipe, que além de muito forte, tem a habilidade de transformar sua mão direita em uma aranha venenosa para enfrentar Blue no ringue. No final, graças a seu cérebro privilegiado, o lutador consegue manipular os intrincados instrumentos da nave extraterrestre, mandando os monstros literalmente para o espaço.

Em 1967 o produtor Luis Enrique Vergara (1939-2011) contratou o veterano astro de filmes de terror americano John Carradine (1906-1988) para estrelar uma série de produções chicanas, duas delas veículos para o lutador Mil Máscaras. A primeira, “Enigma de La Muerte” (na TV: ”Enigma da Morte”, 1967) de Federico Curiel é um drama de suspense que se passa em um circo e envolve um grupo de neo-nazistas liderados por um palhaço (Carradine), já “Las Vampiras” (1967) de Curiel, coloca Mil Máscaras tentando destruir um covil de mulheres sanguessugas, tão cruéis que mantêm seu líder original o Conde Drácula (Carradine), velho e enfraquecido, preso a uma jaula. O famoso conde, no entanto estava em plena forma ao ser vivido pelo galã de telenovelas vindo da Itália, Aldo Monti (1929) em “Santo Y El Tesoro de Dracula” (“Santo contra o Drácula”, 1967) de René Cardona. Quando o físico Dr. Sepúlveda inventa uma máquina do tempo e viaja nela com sua filha, acabam se encontrando com o famigerado rei dos vampiros. Salvos por Santo, eles precisam então encontrar o tesouro de Drácula nos dias de hoje para acabar com seu poder maligno. Uma versão do filme com mais cenas de sexo e nudez foi lançada para o mercado europeu como “El Vampiro Y El Sexo”. Finalmente a parceria tão esperada tem início, “Santo Contra Blue Demon em La Atlantida” (“Santo Desafia os Demônios da Atlântida”, 1968) de Julian Sóler é uma ventura de ficção científica, onde o vilão Aquiles, líder do reino perdido de Atlântida, pretende destruir o mundo e tem que enfrentar o super agente secreto X21, nada mais nada menos que El Santo, em novos tempos posando de James Bond latino. Através de poderes hipnóticos, o vilão imortal, domina Blue Demon e o lança contra seu amigo (situação repetida em outros filmes da dupla, para poderem trocar uns sopapos como na época dos ringues), mas claro que no final a justiça prevalece. Para resolver a questão dos complicados cenários futuristas da cidade perdida, o produtor Jesus Sotomayor roubou uma grande quantidade de cenas do filme japonês “Kaiju Daisenso” (1965) de Ishiro Honda, que era mais uma das aventuras do monstro Gojira e seus amigos, mas teve a honradez de incluir o nome de Eiji Tsuburaya nos créditos como responsável pelos efeitos especiais. “Santo y Blue demon en el Mundo de los Muertos” (“Santo no Mundo dos Mortos”, 1968) de Gilberto Martinez Solares (1906-1997), começa na idade média, onde a serviço da inquisição, o Cavaleiro Mascarado de Prata destrói a poderosa bruxa Dona Damiana. No séc. XX, Santo, é claro, é o descendente direto do tal cavaleiro, e a feiticeira reencarna na deliciosa Alisia (Pilar Pellicer) que conclama um exército de zumbis chamados Insepultos. Blue Demon dá uma mãozinha para resolver o imbróglio macabro.

René Cardona trás de volta Las Luchadoras para mais dois épicos, agora com um elenco diferente de chicas calientes. Em Las Luchadoras Contra El Robot Asesino” (“O Louco Criador de Monstros”, 1968), Regina Thorne (Gaby) e Malu Reyes (Gema) enfrentam a ameaça do Dr.Orlak, que além de construir um andróde perigoso, também domina um zumbi deformado chamado Karfax. “La Horripilante Bestia Humana” (“Gomar, o Homem Gorila”, 1968) também conhecido como “Horror Y Sexo”, fez fama internacional por juntar exatamente estes dois elementos: muitas garotas nuas e cenas gore de transplantes. O eminente cirurgião Dr. Krauman tenta salvar a vida de seu filho que sofre de leucemia lhe transplantando o coração de uma lutadora e lhe fazendo uma transfusão do sangue de um gorila. O rapaz recupera a saúde, mas se transforma em um monstro meio símio (que a tradução nacional faz pensar ser o mesmo Gomar, criado em 1962) e comete vários assassinatos, sendo despachado por uma saraivada de balas da polícia. Ah, sim! Também existe uma luchadora mascarada (Norma Nazareno), mas ela pouco faz além de lutar no ringue e ajudar seu noivo, o policial encarregado do caso.

A reunião de vários monstros clássicos em um mesmo filme como fez a Universal no final do seu ciclo de Terror nos anos 40, foi sempre uma grande inspiração para o cinema fantástico mexicano. Várias comédias, filmes infantis (existe até um “Chapéuzinho Vermelho e Pequeno Polegar contra os Monstros”!!?) e é claro “Santo Y Blue Demon Contra Los Monstruos” (“Santo Contra os Monstros de Frankenstein”, 1969) de Gilberto Martinez Solares. Um cientista louco (mais um…) é revivido por seu assistente anão e trás de volta um monstro de Franquestein (escrito assim mesmo…) bigodudo, um lobisomem negro, Drácula (e duas vampiras), uma múmia, um alienígena cabeçudo (que originalmente apareceu no clássico mexicano “La Nave de los Monstruos“), um ciclope e um quarteto de zumbis. Como mesmo assim ele não consegue enfrentar o intrépido mascarado de prata, ele cria ainda um clone de Blue Demon sob seu comando! Nesta época os filmes de lucha libra em geral passaram a conter mais elementos “adultos” em sua iconografia, apesar dos argumentos ingênuos e em grande parte das vezes reciclado. “Santo Em La Venganza de las Mujeres Vampiro” (“Santo Desafia a Maldição das Mulheres Vampiro”, 1969) de Federico Curiel, aposta no sex appeal das vampiras lideradas pela bela Gina Romand, mas é basicamente uma versão revisada de “Santo em Atacan Las Brujas” de 1964. O cientista louco Dr.Brancor revive a condessa vampiro Mayra (Romand), que pretende destruir Santo, por ele ser o descendente do guerreiro que empalou seus ancestrais na Transilvânia em 1630. Além dela recrutar um exército de vampiras e vampiros, o Dr. ainda dá uma forcinha criando um monstro à lá Frankenstein chamado Razos. Troca-se vampiras por bruxas e o monstro por um demônio, e o roteiro é o mesmo! Mas mesmo assim Curiel caprichou na ambientação e em detalhes, tentando reviver o clima mais gótico das primeiras aventuras em preto & branco do herói. Como a expressão “correção política” ainda não existia nesta época, a próxima aventura acabou sendo uma das mais absurdamente incorretas do mascarado. Em “Santo Contra Los Jinetes Del Terror” (1969) de René Cardona, com roteiro e idéias do também lutador Jesus Velásquez (El Murciélago), a história se passa no sec. XIX, onde um grupo de leprosos foge de um sanatório e se tornam criminosos, roubando e estuprando a população local. Santo, posando de cowboy, mete socos e balas nos leprosos! Para piorar ainda foi rodada uma versão mais Hard, aumentando as cenas dos doentes com garotas nuas chamada “Los Leprosos y El Saxo”.

As múmias sempre estiveram presentes no fantástico mexicano desde os anos 50. “Santo em La venganza de La Momia” (1970) de René Cardona foi uma das minhas maiores decepções quando o assisti em uma das várias reprises no extinto Cinema Rosário (meu grande templo de tranqueiras quando jovem) em Porto Alegre. Uma aventura nas selvas, com intermináveis caminhadas, uma múmia com uma máscara de papier maché e vestida em farrapos e que no final se revela uma farsa. Já “Las Momias de Guanajuato” (1970) de Federico Curiel é pura diversão e foi um sucesso em uma época em que o gênero já estava decaindo. Guanajuato é uma pequena cidade na parte central do México, fundada durante a época colonial. Devido a certas particularidades do solo e do ar local, muitos corpos enterrados lá sofreram um processo natural de mumificação e são expostas até hoje em um visitado museu. Isto é um fato real, já na ficção, os corpos desidratados e rígidos voltam misteriosamente à vida e passam a atacar os locais e turistas. Blue Demon e Mil Máscaras juntos, tentam de todo o jeito conter a invasão dos cadáveres, até que quando tudo parece perdido, surge El Santo nos últimos minutos e armado de uma pequena e moderna pistola de raios incendeia os monstros.

A reunião de vários heróis em uma mesma aventura inspirou o produtor Rogélio Agrasánchez a criar o grupo “Los Campeones Justicieros” (1970) de Federico Curiel, onde para enfrentar o super-vilão Mano Negra, se reúnem: Mil Máscaras, Blue Demon, El Medico Asesino, Sombra Vengadora e Tinieblas – EL Gigante (Manuel Leal, 1939, que não era lutador de verdade, apenas ator). Na seqüencia, “Vulven Los Campeones Justicieros” (1972) de Curiel, rodado na Guatemala, Blue & Mil Máscaras são auxiliados por Rayo de Jalisco, Fantasma Blanco e El Avispón, ao enfrentarem mais um cientista demente (deveria haver um em cada esquina do México!) que cria uma raça de homens-ratos poderosos (anões fantasiados).

René Cardona inventou uma versão chicana de “A Noite dos Mortos Vivos” que começou a rodar com o famoso mágico escapista e especialista em artes marciais Zovék (Francisco Javier Chapa Del Bosque). No meio das filmagens o mágico morreu em um acidente automobilístico e a solução foi editar cenas não aproveitadas com Blue Demon e fazer “Blue Demon y Zovék en La Invasión de los Muertos” (1971). O resultado não podia ser uma bagunça maior, enquanto as criaturas revividas por um meteoro radioativo enfrentadas pelo afetado mágico parecem mesmo zumbis, os monstros que Blue combate são nitidamente vampiros e homens-lobo! Nitidamente melhor é “Santo Contra La Hija de Frankenstein” (“Santo Contra a Filha de Frankenstein”, 1971) de Miguel M. Delgado, onde Gina Romand vive a cientista que se mantêm jovem graças ao sangue de mulheres. Ela cria um homem-gorila chamado Truxon (o brutamontes Gerardo Zepeda) para conseguir o sangue “poderoso” de Santo. O mascarado, que no começo havia vencido o monstro original chamado Ursus (Zepeda também), consegue a ajuda da criatura para destruir a nova criação e sua mestre. Blue Demon voltou a fazer parceria com Santo para enfrentar seus inimigos mais tradicionais e perigosos em “Santo y Blue demon Contra Dracula y El Hombre Lobo” (1972) de Miguel M. Delgado, onde um corcunda revive o conde (Aldo Monti) e o lobisomem Rufus (que usa uma camisa de seda amarelo-ouro!).

O sucesso de “Las Momias de Guanajuato” gerou uma série dos Studios Agrasanchez, que começou com “El Robo de las Momias de Guanajuato” (1972) de Tito Navarro, seguiu com “El Castillo de las Momias de Guanajuato” (1973) de Julian Sóler; “Las Momias de San Angel” (1973) de Arturo Matinez; “Leyendas Macabras de La Colonia” (1973) de Arturo Martinez e “La Mansion de las Siete Momias” (1975) de Rafael Lanuza, sempre com um mix pouco variável de heróis mascarados de segunda linha, liderados por Mil Máscaras, com exceção do último estrelado por Blue Demon e Superzán (Alfonso Mora Veyta (?-2006). Um detalhe curioso nas produções made in Agrasanchez é a presença constante de vários anões em papéis de vilões. Aparentemente, no México, os baixinhos sempre foram considerados “sinistros” e em toda a longa filmografia do gênero fantástico sempre estiveram ativos provocando sustos e risos. Mas neste caso específico estas participações tomaram rumos totalmente Trash, como em “Los Vampiros de Coyacán” (1973) de Arturo Martinez, onde Mil Máscaras e Superzán (este herói foi criado para o cinema e diferia de seus amigos luchadores por ter uma “origem alienígena”) enfrentavam um Barão vampiro, seus dois filhos vampiros afeminados e seus assistentes vampiros-anões!

Esta época começou o rápido colapso dos filmes de heróis-lutadores, com o público cansado das convenções e clichês do gênero, mesmo assim, muitos ainda seriam produzidos no México ou na Turquia! (!?!). “Üç Dev Adam” (“Three Mighty Men”, 1973) de T.Fikret Uçak, mostra como El Santo (Yavuz Selekman) e o Capitão América (Deniz Erkanat) são chamados em Istanbul para combater o terrível vilão… o Homem-Aranha! O cinema turco, possivelmente o mais trash do mundo, sempre foi pródigo em produzir suas versões não autorizadas de filmes e personagens de sucesso estrangeiros. Tarzan, Zorro, James Bond, Bat-Girl, E.T., “Star Wars”, “Star Trek”, entre muitos, foram canibalizados pelos turcos, graças a suas leis que não respeitam direitos autorais. Assim o Mascarado de Prata acabou na Turquia em uma aventura que mistura muita pancadaria com cenas de legítimo Splatter.

Em casa os heróis legítimos continuam com seus problemas com uma certa família de fazedores de monstros. Em “Santo y Blue Demon Contra El Dr. Frankenstein” (1973) de Miguel M. Delgado, a dupla de mascarados enfrenta um casal de monstros criados por um descendente do seminal médico louco. É mais do mesmo, mas uma participação no elenco tem destaque: o assistente bigodudo do cientista, vivido por Rúben Aguirre (1934-2011). Quem? Ora, apreciadores da cultura popular mexicana, o célebre “Professor Girafales” da trupe imortal da Turma do Chaves! E ele se sai bem no papel vilanesco, tanto que fez mais uma participação em “Santo Contra El Dr. Muerte” (1974) de Rafael Romero Marchen, onde um dos mais exóticos cientistas loucos de todos os tempos utiliza um soro extraído a partir de tumores induzidos em jovens mulheres para fazer falsificações perfeitas de pinturas famosas. Seguiram-se várias aventuras com El Santo contra mafiosos, lutadores de Karatê e até figuras macabro-mitológicas mexicanas como “La Llorona”, mas além da decadência do gênero, Rodolfo Huerta já tinha esta época, quase 60 anos. Portanto, existe fundamento nas teorias que afirmam, que sem o público perceber, Huerta se retirou das telas, mas foi substituído atrás da máscara primeiro por Eric Del Castillo e depois por seu próprio filho Jorge Guzmán. Em 1981, os filmes com mascarados forçudos já não eram mais mania, mas nunca eram esquecidos. Uma tentativa de renovação de gerações começou com o lançamento de “Chanoc y El Hijo Del Santo Contra los Vampiros Asesinos” de Rafael Perez Grovas. Chanoc era outro personagem popular em aventuras fantásticas do país, era uma espécie de Jim das Selvas chicano, criado pelo diretor Rogélio Gonzales em 1966, sem máscara e interpretado por atores variados, o mais duradouro Nelson Velásquez atuando aqui ao lado de Jorge Guzmán, oficialmente o filho do Santo (em uma trivia obrigatória, consta informar que em cinco filmes com Chanoc, ouve a participação em papéis variados de outro conhecido do público brasileiro, Ramón Valdéz- 1923-1988, o “Seu Madruga”). El Hijo chegou a contracenar com Mil Máscaras em “El Hijo Del Santo en La Frontera Sin Ley” (1983) de Rafael Péres Grovas, mas em fevereiro de 1984, após uma apresentação ao vivo, Rodolfo Guzmán Huerta sentiu-se mal e teve um ataque cardíaco. O herói que sobreviveu a todo o tipo de monstros e vilões por décadas, foi vítima de seu coração e faleceu. Assim como Bela Lugosi exigiu em testamento ser enterrado com a capa que usara em “Drácula”, El Santo foi velado e enterrado com sua máscara prateada como queria, e um cortejo de milhares de fãs tomaram as ruas da cidade do México para suas últimas homenagens ao atlético herói nacional.

Além de seu filho, outros lutadores tentaram preencher o vácuo da morte de El santo: Octágon, Atlantis, Máscara Sagrada, Canek e mesmo Blue Demon Jr., sem sucesso. No drama policial passado no mundo das lutas chamado “La Llave Mortal” (1990) de Francisco Guerrero, Mil Máscaras contracena com seu irmão, o Dos Caras e também com Blue Demon Jr e Black Shadow Jr enfrentando um mestre em artes marciais criminoso, numa verdadeira empreitada familiar. “Santo La Leyenda Del Enmascarado de Plata” (1993) do diretor/roteirista Gilberto de Anda não é como o título sugere uma biografia do lutador, mas um melodrama sobre o problema dos sem- terra mexicanos, que sem o PT, contam com ajuda de El Hijo Del Santo, Blue Panther Jr., Espanto Jr e o ator Daniel Garcia fazendo uma participação especial como o próprio El Santo. Tentando se adaptar aos novos tempos e aos efeitos digitais no lugar dos monstros e cenários de papier maché, “Infraterrestrial” (2000), de Hector Molinar, começa com El Santo passando sua máscara para seu filho. Logo, o novo Santo descobre uma conspiração de uma raça de répteis alienígenas que planejam invadir a terra. Eles criam uma réplica robot do lutador Blue Panther e, auxiliado por alta tecnologia (incluindo um ridículo carro voador em precário CGI), o herói faz juz ao seu legado e despacha os monstruosos invasores. Em 16 de Dezembro de 2000 morre Blue Demon. Em 2007 morre Alejandro Cruz, o Black Shadow. Em 1948, os dois Alejandros (Cruz e Munõz Moreno) criaram para os ringues a dupla Los Hermanos Shadow. Em 1956, Black Shadow apareceu como ele mesmo no clássico terror “Ladrón de Cadáveres” de Fernando Mendez, uma das mais antigas participações de luchadores enmascarados em filmes de horror. Mesmo tendo criado seu personagem próprio e fazendo sucesso, Blue Demon nunca esqueceu seu hermano dos ringues, e Alejandro Cruz fez várias participações em seus filmes. Assim como El santo, que nunca expunha seu nome verdadeiro, Blue Demon também o fazia. Como em muitos de seus filmes aparecia o nome de Alejandro Cruz, muitos pesquisadores e publicações divulgaram por anos a fio, seu nome como sendo o do homem atrás da máscara azul (Fangoria, Aurum Film Encyclopedia, The Illustrated Werewolf, Vampire, Frankenstein Movie Guide e outros), e eu mesmo tenho uma grande parte de minha pesquisa mais antiga com este erro. Agora reparado, graças às preciosas informações do site oficial em memória do lutador, mantido por Blue Demon Jr.

Mil Máscaras continua vivo e ativo. Cultuado dentro e fora do México, principalmente no Japão, onde possui uma legião de fãs desde os anos 60. No ano de 2001 o diretor independente Lee Demarbre realizou o divertido “Jesus Christ Vampire Hunter” onde uma referência ao Santo (creditado no IMDB como “Santo – El Enmascarado de Plata) ajuda Jesus Cristo em pessoa à derrotar hordas de vampiros. Em 2005, o diretor americano Jeff Burr rodou “Mil Mascaras Vs. The Aztec Mummy”, uma tentativa de reviver o gênero com o próprio lutador veterano em ação contra uma das lendas do horror mexicano. Melhor se saiu Jared Hess com a comédia “Nacho Libre” (2008), onde um cozinheiro de um monastério no interior do México (o balofo Jack Black) sonha em ser um lutador mascarado de sucesso, ajudar os órfãos que alimenta e conquistar o coração de uma linda freirinha. Rodado em locações verdadeiras e com grande participação de diversos luchadores atuais, é uma homenagem e sátira ao mesmo tempo, e de grande sucesso internacional. Já o terror americano “Wrestlemaniac” (“O Homem Mascarado”, 2008) utilizou o campeão de lutas Rey Mistério para fazer uma espécie de “Jason com máscara de pano”, decepcionante. Uma breve homenagem aos heróis mexicanos aparece em “Vadias do Sexo Sangrento” (2008) de Petter Baiestorf, a personagem Mirza (Lane ABC), utiliza em duas cenas uma réplica de uma das centenas de máscaras de Mil Máscaras, adquirida no México e emprestada pelo fã do gênero Carlos de Anda.

Em tempos de super-heróis digitais e vampiros e lobisomens delicados, todos os músculos e pancadarias coreografadas nos filmes de Lucha Libre parecem anacrônicos. Assim como seus monstros falsos, vampiras gostosas e cientistas bigodudos. Por isso mesmo é um refresco para a cabeça voltar ao tempo em que heróis eram de carne e ossos… e máscaras (E olha que eu nem falei sobre El Zorro Escarlata, El Látigo Negro, Rocambole, El Charro de Las Calaveras, La Mujer Murciélago, Los Jaguares, Leones Del Ring, Fantasma Negro…).

Pesquisa e texto de Coffin Souza.

10 Clássicos Bagaceiros (anos 60) – parte 1

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(Não teve jeito, tive que dividir essa década em duas partes porque é muita tralha cinematográfica genial prá escolher somente 10 filmaços maravilhosos).

Nos anos 60 os produtores vagabundos começaram a tomar conta do cinema mundial. Foi a década da sacudida no planeta Terra (que tá precisando de outra sacudida já) e dos roteiros inacreditáveis. Segue pequena listinha de 10 preciosidades (segunda parte da lista vem daqui uma semana) desta época de filmes feitos por um bando de marginaizinhos sem noção:

NUDE ON THE MOON” (1961) de Doris Wishman & Raymond Phelan.

Astronautas vão para a lua e descobrem um campo de nudismo por lá. Uma maravilha com interpretações geniais, bom humor e figurinos que inspiraram a NASA a fazer tudo certinho porque assim não dava prá ir pro espaço!!! Doris Wishman, na década seguinte, realizou uns filmes clássicos com a Chesty Morgan, voltarei a falar dela.

 http://www.imdb.com/title/tt0056293/

BATTLE OF THE WORLD(1961) de Antonio Margheriti, com Claude Rains e Giuliano Gemma.

Rains, o eterno homem invisível, faz um cientista ranzinza que prova a todos que está sempre coberto de razão em suas teorias e prevê todos os movimentos de um meteoro que vem em direção ao planeta Terra. Clássico dirigido pelo genial Margheriti (que foi responsável pela parte técnica do “Andy Warhol’s Frankenstein”) e realizou o clássico “Killer Fish” filmado no Brasil com aula de geográfia e de língua (caras vão de jipe da Bahia pro Amazonas em meia hora e nós falamos com sotaque de Portugal).

http://www.imdb.com/title/tt0054950/

KINGU KONGU Vs. GOJIRA(1962) de Ishirô Honda.

Delírios na produção que colocou King Kong e Godzilla frente a frente numa batalha entre meio à índios de olhos puxados. Na década de 60 Ishirô Honda só fez filmaços, outro dele que merece destaque é o “Matango” (1963) onde o povo cogumelo faz alguns reféns humanos numa sinistra ilha. O cinema japonês, nos anos 60, deu muitos clássicos pro cinema mundial, como “Jigoku” (1960, de Nobuo Nakagawa, o primeiro filme gore da história), “Onibaba” (1964, de Kaneto Shindô), “Kwaidan” (1964, de Masaki Kobayashi) e “Kyuketsuki Gokemidoro” (1968, de Hajine Sato, com uma cena copiada de forma descarada por Tim Burton quando fez “Mars Attack!”).

http://www.imdb.com/title/tt0056142/

“EL BARÓN DEL TERROR(1962) de Chano Urueta.

Um dos filmes mexicanos mais divertidos dos anos 60 onde um bruxo volta aos dias de hoje hoje para se vingar dos decendentes dos inquisidores que o mataram, com especial atenção nas cenas em que o bruxo vingador come o cérebro de seus algozes com colherzinha. A máscara de borracha do monstro é clássica (cada vez que ele aperta as mãos a cabeça de borracha pulsa falsamente) e os (de)feitos especiais lindos!!! Diversão imperdível!!!

http://www.imdb.com/title/tt0054668/

“SANTO CONTRA LOS ZOMBIES(1962) de Benito Alazraki, com: Santo, El Enmascarado de Plata.

Santo é um lutador mexicano que fez uma porrada de filmes de aventura que sempre misturavam elementos sobrenaturais/fantásticos em suas tramas. Santo é uma lenda no México. Neste filme aqui ele combate um cientista que está criando uma raça de zumbis canastrões. Na falta de um trailer pro filme em questão, posto vídeo de youtube que faz um apanhado bem bacana de quase toda a obra de Santo no cinema.

http://www.imdb.com/title/tt0055409/

INVASION OF THE STAR CREATURES(1963) de Bruno VeSota.

Lindas modelos extraterrestres vem ao planeta Terra com a intenção de dominar todo mundo. Bruno VeSota era um ator de filmes de baixo orçamento (fez vários com o Roger Corman, entre eles “The Wasp Woman”, “The Bucket of Blood”, “The Haunted Palace” e “I Mobster” e outros clássicos psychotronics como “Hells Angels on Wheels”, “The Wild World of Batwoman”, “Attack of the Giant Leeches” e muitos episódios em séries de TV como “Bonanza”, “Kojak” e “Mission: Impossible”) e como aprendeu com esses diretores pilatras, fez 3 longas divertidos demais (além do já citado “Invasion of the Star Creatures”, são dele ainda “Brain Eaters” de 1958 e “Female Jungle” de 1955).

http://www.imdb.com/title/tt0128274/

“THE MAN WITH THE XRAY EYES(1963) de Roger Corman, com Ray Milland.

Clássico da sci-fi mundial de todos os tempos, incrível o que Roger Corman fazia nos anos 60 com nada de dinheiro e muita criatividade. Nesta mesma década Corman ainda realizou vários outros filmes clássicos, como: “The Little Shop of Horrors” (1960), “Pit and the Pendulum” (1961), “Premature Burial” (1962), “Tales of Terror” (1962), “The Raven” (1963), “The Wild Angels” (1966), “The Trip” (1967), “The St. Valentine’s Day Massacre” (1967) e “Bloody Mama” (1970). Estavam querendo refilmar essa preocidade, mas espero que não saia essa refilmagem porque provavelmente vão estragar tudo com efeitos digitais modernos e algum ator com cara de adolescente idiota.

http://www.imdb.com/title/tt0057693/

SANTA CLAUS CONQUERS THE MARTIANS(1964) de Nicholas Webster.

Um dos meus filmes preferido de todos os tempos, aqui Papai Noel é raptado pelo Marcianos que estão interessados em recriar o Natal no planeta Marte. Genial!!!

Este filme serviu de inspiração para Tim Burton e Henry Selick quando filmaram o “The Nightmare Before Christmas” e a menininha deste filme, Pia Zadora, aparece no clássico “Hairspray” (1988) de John Waters no papel de uma beatnik.

http://www.imdb.com/title/tt0058548/

“THE INCREDIBLY STRANGE CREATURES WHO STOPPED LIVING AND BECAME MIXED-UP ZOMBIES” (1964) de Ray Dennis Stekcler.

Junto do clássico “The Horror of Party Beach” (também de 1964), este filme sobre desajustados que vivem num parque de diversões reclama prá sim o título de primeiro musical de horror da história do cinema. Mas na minha opinião nenhum dos dois é musical, em ambos os filmes há várias canções deliciosas, atores dançam, se divertem mas a música não é parte integrante da narrativa do filme. Ray Dennis Steckler fez ainda nos anos 60 um dos filmes que mais gosto: “Rat Pfink a Boo Boo”.

http://www.imdb.com/title/tt0057181/

THE HORROR OF PARTY BEACH(1964) de Del Tenney.

Aproveitando-se do sucesso dos filmes de praia que a produtora A.I.P. (dos produtores James H. Nicholson e Samuel Z. Arkoff que bancavam os filmes do Roger Corman nesta época) fazia nesta época, Del Tenney fez um filme de praia com muitas meninas de bikinis, monstros e surf music de primeira. Simplesmente adoro este filme e não me canso de reve-lo, o Monstro criado prá este filme é um dos meus preferidos de todos os tempos.

http://www.imdb.com/title/tt0058208/