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Naked Things Session Vol. 1 é composto de 5 EPs gravados no ano de 2019 e lançados pelo meu selo Petter Baiestorf, no Bandcamp. O estilo musical dos EPs variam entre dark ambient, space music e industrial com pegada mais eletrônica.
EP 1 – +8Gy – “Incubo sulla città contaminata” (2019, 28 minutos).
Altri Otto Gy é um projeto de Dark Ambient de inspiração no filme “Incubo sulla città contaminata” (Nightmare City, 1980), de Umberto Lenzi, tentando transformar algumas situações do filme em ondas sonoras. Contém seis músicas:
01 – Radiazioni nucleari (04′:29″)
02 – Contaminazione (05′:10″)
03 – Altri otto Gy (05′:41″)
04 – Città dei morti viventi (03′:40″)
05 – Dannato esercito (06′:07″)
06 – Sterminatore di innocenti (03′:48″)
EP 2 – Baiestorf – “Frankenstein Bipolar” (2019, 34 minutos).
O EP “Frankenstein Bipolar” é Space Music Eletrônica, conta com três músicas inéditas e uma regravação da música “Rio 80 Tiros”, que eu tinha lançado no EP anterior que você pode baixar aqui: RIO 80 TIROS. Contém quatro músicas:
01 – Frankenstein Bipolar (14′:00″)
02 – Spaceship 90-Cyr (05′:45″)
03 – Nebulosa Zghk3-c (10′:37″)
04 – Rio 80 Tiros (04′:45″)
EP 3 – Hal9000 – “Aliens” (2019, 14 minutos).
Space Music com uma pegada de industrial. O disco anterior, “Scape Odyssey” (2018), pode ser ouvido aqui: BAIXAR.
Este novo EP contém quatro músicas, quase um ensaio-experimentação para as possibilidades de músicas que poderão ser criadas para a trilha sonora do curta “Meu Amigo Barnabé“, assim como a experimentação da Robby Robot, “Forbidden Planet“. Ouça ROBBY ROBOT AQUI. O EP contém as músicas:
Este EP da Jurassick Aliens dá sequencia aos discos “A. I. 3W11 Zyrgon“, do Satellite, e “Voyage to the End of the Infinite Universe“, do Spacepongo. Ouça SATELLITE AQUI. Ouça SPACEPONGO AQUI. Contém as músicas:
Zaphyr Zy foi um EP ensaio para o disco do Pistola Édipo, “Viril Homem do Oeste“, que você pode ouvir clicando no nome PISTOLA ÉDIPO. Este EP é um eletrônico com momento de industrial harsh, incluindo a música “Busão” que foi gravada ao vivo na rodoviária de Porto Alegre, para o desespero dos transeuntes que por lá estavam. Contém cinco músicas:
Reza a lenda que foi mais ou menos pra lá dos cafundós do Pantanal que você encontrou Iara, a sereia das lendas indígenas que te assombravam quando criança.
No dia em que seu marido lhe falou sobre o plano de assaltar aquele casal de fazendeiros ricaços, seu sexto sentido de mulher grávida, lhe fez coçar as orelhas. Você sabia que devia seguir sua intuição e não ir junto, afinal estava grávida de sete meses de seu primeiro filhinho. Somente isso seria motivo mais do que suficiente para que ficasse naquele grande e caro apartamento, que possuíam graças aos roubos e seqüestros.
Você sabe que seu marido a teria deixado ficar no apartamento, mas sua ganância foi maior do que a coceirinha que você sentia atrás da orelha. Na verdade, você era viciada na adrenalina dos assaltos, na sensação de poder que o empunhar de uma arma lhe proporcionava, e queria estar lá, junto, tocando o terror naquelas pobres vítimas.
E você pensava ainda que aquele casal de ricaços idosos não tinha nada que guardar tanto dinheiro em casa. Que colocassem num banco, porra! Ou que pagassem pela segurança do dinheiro, não é mesmo? Fosse o que fosse, você queria aquele dinheiro todo pra si porque queria continuar bancando sua vida de luxo e de mordomias mil.
Você se sentia especialmente poderosa na noite em que foram assaltar os velhos. Você, seu filho de sete meses se remexendo animado em seu útero, seu marido com um sexy olhar de assassino carrasco e João, o informante paspalhão que cantou tudo sobre o casal de sovinas ricaços. O informante que vocês já haviam decidido matar após estarem com o dinheiro, afinal, agora você trazia mais uma boca para alimentar e dinheiro nunca é demais.
Vocês quatro estacionaram o carro perto da fazenda, se armaram até os dentes e calmamente seguiram sob o luar até a casa grande onde os velhos viviam sós. Sozinhos e abarrotados de dinheiro e joias, muito dinheiro e muitas joias, coisa de velhos que não confiam nos outros para guardar suas riquezas.
Era muito fácil, não?
Era só entrar na casa, atirar nos velhos e procurar com toda a calma do mundo o local onde guardavam o dinheiro e as joias. Tinha tudo para ser moleza demais, não?
Como adivinhariam que, no momento de render o casal, já dentro da casa, aqueles velhos filhos da puta estariam limpando suas armas? Como adivinhariam que o velho estaria com uma doze nas mãos e a velha, com uma espingarda de caça, como se estivessem esperando os assaltantes?
Você mal assimilou qual era o objeto que o velho carregava nas mãos quando ouviu o estampido do tiro que arrancou a cabeça de seu marido, fazendo com que toda a parede atrás dele se salpicasse de carne moída triturada e esmigalhada.
Você ficou ali, parada, surpresa, vendo seu marido sem cabeça em espasmos, tombando ao chão. E, antes que pensasse em reagir, ouviu o tiro da espingarda de caça que lhe atorou o braço esquerdo fora a fora, deixando-o meio pendurado em seu corpo.
A dor que você sentia era intensa, mas quando você viu João se mandar correndo escuridão adentro, você sacou que, mesmo com seu braço dependurado junto ao corpo, mesmo com seu filho agitado dentro de sua barriga lhe chutando nervoso como quem pede para que faça a coisa certa, você também precisava se mandar dali.
E você se mandou.
Com forças sabe-se lá d’onde conseguidas, você ignorou a dor e correu em direção ao carro, mas já era tarde, agora você o via se afastar já longe, pois João era só “rodas pra que te quero” para salvar apenas seu próprio rabo.
Confusa, sem saber muito bem o que fazer, você correu o máximo que pôde para dentro dos banhados do Pantanal que circundavam a fazenda dos velhos.
E você correu por um bom tempo pântano adentro. Correu e correu muito, até não aguentar mais e desmaiar sobre seu braço dependurado por um mix retorcido de carne e ossos.
Você já não sentia mais seu filho chutando sua barriga, alucinadamente, como se pedisse sua atenção. Você simplesmente não tinha mais forças para aguentar aquela dor toda e só queria desmaiar em paz e que, de agora em diante, fosse o que o diabo tivesse lhe reservado.
Assim, você não percebeu quando aquela velha senhora centenária, completamente enrugada e de lento andar, encontrou seu corpo todo fodido e o arrastou até o casebre construído sobre palafitas num rio qualquer do pantanal.
Você não despertou de seu desmaio enquanto a velha limpou seus ferimentos com um paninho úmido. Também não acordou quando a idosa retirou toda sua roupa e ficou, por um longo tempo, contemplando sua barriga de grávida. Barriga essa que fazia a senhora do pântano abrir um tenro sorriso em seu rosto carcomido pelo tempo.
Você não acordou quando a velha imobilizou com cipós suas pernas e seu braço ainda inteiro. O outro braço, inútil, não foi necessário imobilizar.
Você só acordou quando sentiu o facão empunhado pela velha senhora lhe rasgar a barriga. Aí sim, de um único suspiro, você recobrou a consciência sentindo as mãos da velha entrando em seu útero e arrancando de seu interior quentinho seu inocente filho.
Você tentou se livrar dos cipós, mas a dor lhe impossibilitava de ter as forças necessárias para se desvencilhar das amarras bem apertadas, no estilo indígena do Pantanal.
Urrando de dor, você viu quando a velha se afastou vagarosamente carregando seu filho banhado de seus líquidos gotejantes. Você sentiu o cordão umbilical se esticar até se romper por completo.
Sem forças nem para morrer, você viu quando a velha largou seu filho prematuramente nascido sobre a mesa da simplória cozinha do casebre. Seu filho que se remexia desesperado tentando chorar ou, simplesmente, gritar, sabendo que você o meteu naquela furada.
Você ainda viu a velha começar a preparar o que parecia ser uma refeição. Viu quando ela picou uma cebola inteira, acompanhada de três dentes de alho, salsinha a gosto mais cebolinha verde, para dar o gostinho da felicidade. Você a viu pegar quatro batatas e cortar em rodelas, logo antes de triturar cinco tomates num moedor de carne manual. Pelo jeito, a velha senhora adorava um molho bem grossinho. Manjericão, folhas de louro e um punhado de coentro também foram reservados para o delicioso prato que você via tomar forma diante de seus últimos minutos de vida.
Você ainda pensou, naquele instante, que, se tivesse ficado no conforto de seu grande e caro apartamento, poderia ter proporcionado segurança ao seu pequenino rebento ainda não assado. Mas, “e se” é algo que não existe. O que foi feito é o que foi feito. E ali estavam vocês, tu e teu filho, a mercê de uma cozinheira de tão rebuscado paladar. Você nos últimos suspiros e ele pronto para entrar na panela.
Seus pensamentos voltaram-se ao momento presente, quando você viu a velha senhora colocar banha de porco numa bandeja. Não muito, lógico, somente o suficiente para não deixar as carnes de seu filho grudarem no utensílio doméstico.
Você ficou completamente aterrorizada quando viu seu filho ser colocado na bandeja junto das batatas picadas. Você gritava de pavor enquanto a velha acrescentava os temperos e seu filho chorava indefeso, tomando o cheiro e o gosto de tão deliciosas especiarias.
Você ainda viu quando a senhora abriu a pequena portinha de seu forno de barro já pré-aquecido e enfiou seu filho lá dentro, fazendo com que a choradeira da criança logo se acabasse após alguns gritinhos mais agudos de dor. Ser assado vivo em tão tenra idade não é mole não, mamãe!
Você viu! Você viu! Você viu tudo, querida mamãe!
O silêncio desolador que você sentiu naquele momento lhe amorteceu os sentidos. Embora você soubesse que deveria sentir toda a dor do mundo – e ainda ser merecedora dessa dor – você nada sentiu quando a velha serrou seu crânio com um velho serrote sem fio.
Você apenas morreu em silêncio, aterrorizada, olhando cegamente para o forno de barro onde seu filho agora assava para compor o mais fantástico dos pratos macabros.
Morta, você nada mais sentiu quando a velha retirou de sua casca sem vida seus miolos ainda fresquinhos. Você nada sentiu quando ela passou sua massa cinzenta no moedor de carne e nada viu quando ela misturou aos tomates moídos que seriam cozidos com muito alho, cebola e uma pitadinha de manjericão com coentro.
Seu corpo morto não viu quando a velha senhora retirou seu filho assado do forno de barro e acrescentou o molho de miolos à gordura de porco que borbulhava na bandeja, deixando as carnes de seu filho crocantes, mas, ainda assim, macias.
Você não viu quando o tétrico prato ficou pronto e a velha o salpicou com muita salsinha e cebolinha verde.
Não viu quando ela cheirou o prato alegrando-se com o aroma indescritível de tão rara iguaria.
Você ali, morta, não viu o prazer magnânimo que a velha sentiu em suas papilas gustativas a cada grande naco da carne bem temperada de seu filho assado, que ela devorava com apetite voraz. A velha parecia estar a vida toda sem comer. E talvez até estivesse.
Você não viu a velha comer todo o seu filho, limpando até o último pequeno ossinho nem bem formado e lambendo os dedos engordurados para então, somente então, dar-se por saciada.
Ali, morta, você nem sequer imaginou que seu filho, e seus miolos, fossem ingredientes de um satânico ritual de uma milenar lenda do Pantanal, parte de um banquete de rejuvenescimento da sereia Iara, a bruxa canibal dos rios brasileiros.
Se você tivesse agüentado viva mais alguns minutinhos, teria visto que após o banquete a velha senhora sofreria uma sanguinolenta metamorfose, em que suas flácidas carnes de idosa centenária amoleceriam fazendo que, de seu interior gosmento, uma nova Iara belíssima, com rabo de sereia e tudo, saísse lá de dentro tal como uma borboleta deixa seu casulo, voltando a ser uma encantadora mulher-peixe, que voltaria a nadar nos rios, hipnotizando ribeirinhos e devorando solitários pescadores que se aventuram pelas alucinantes noites do Pantanal.
Não sou músico, o que não me impede de retirar alguns dos ruídos que dançam na minha cabeça para compartilhar com você. Não sou músico, o que não me impede de parir um terceiro disco inspirado no meu guru musical, Gurcius Gewdner, que afirma: “Não saber tocar nenhum instrumento não é desculpa para não fazer!”.
Essa experimentação do caos cósmico também bebe da liberdade com que Jesus Franco fazia músicas, com seu free jazz realmente livre. O minimalismo das melodias de John Carpenter também me incentivaram na busca dos ruídos cósmicos do theremin e da sujeira do sintetizador.
Gravei essa demo-tape sem pretensão nenhuma. São testes iniciais de uma mente barulhenta que está usando estes instrumentos a 24 horas e, naquela hiper-atividade dos sem-noção, quis registrar as primeiras sonoridades arrancadas dos desarranjos hiper nucleares espaciais.
Ouça no escuro, usando fones de ouvido, no volume máximo.
1-Experiência da Desconstrução Cósmica – Você assistiu o filme Dark Star? Lembra do surfista espacial que desliza rumo ao cosmos infinito sobre os escombros da espaçonave? Pois bem, este som fala de uma canção cósmica que este surfista estelar ouve no infinito, só que aqui a imaginei com as notas batidas de forma invertida no vácuo do espaço gelado.
2- Experiência Espacial Plano 2 – Tentei compartilhar a melodia que ouço quando cavalgo a baleia espacial, seguida de corais de golfinhos, nos mais tenros rincões interestelares do passado imemorial.
3- Experiência Carvão Termo-Nuclear – Ontem teve um momento em que parei dentro de um milésimo. Sentei no milésimo e quis ficar olhando as notas do silêncio barulhento. O treco é que o chão do milésimo ondula, hora pra dentro, hora pra fora. Este ondular é mais intenso pra fora, diminuindo ao re-entrar. Musiquei este milésimo aqui.
4- Experiência Espacial Plano 4 – Às vezes o espaço-tempo tem coordenadas tão relativas restritas que o fundo do espaço faz uma dobra que dá nas fossas abissais do oceano terrestre onde vivem as sereias. Nesta faixa fiz uma reflexão na linguagem delas, que é um dialeto do baleionês.
5- Experiência Caótica do Plasma Espectral – O free jazz que o Jesus Franco compôs para o seu filme Vampyros Lesbos serviu de inspiração para a composição dessa canção. Digamos assim que é uma volta aos prazeres profanos terrestres. Existe duas falhas nessa canção que não são falhas.
Alguns meses atrás o poster da primeira sessão de cinema da história foi leiloado em Londres por 40 mil libras (mais ou menos 200 mil reais). Este primeiro poster (reprodução abaixo) foi desenhado por Henri Brispot para uma exibição especial dos primeiros curtas dos irmãos Lumière, em dezembro de 1895.
Originalmente criados para uso exclusivo dos cinemas, não demorou muito para que os posters logo virassem item de colecionadores, principalmente artes criadas para filmes exploitations, sempre com cartazes muito mais criativos do que os próprios filmes, e, também, as artes produzidas para a divulgação de produções de horror e ficção científica. Inclusive, o preço record já pago por um único cartaz pertence à sci-fi Metropolis (1926), de Fritz Lang, negociado por 690 mil dólares.
Inicialmente os posters eram feitos no tamanho dos cartazes usados para a divulgação dos shows de Vaudeville. Quem definiu o tamanho padrão foi Thomas Edison, com as medidas de 27″x41″, em folha única fixada nas fachadas e paredes dos cinemas.
Para comemorar os posters de cinema, upei um arquivo com 2.592 cartazes de cinema nos gêneros horror e Sci-Fi, a maioria com artes belíssimas e dignas de serem festejadas como pequenas obras-primas da criatividade humana.
Entre 1901 e 1923, o espanhol Segundo de Chomón foi um dos grandes experimentadores nos primórdios do cinema, ao lado do igualmente genial Georges Méliès.
Segundo de Chomón
Chomón foi convencido a entrar no fabuloso mundo das produções cinematográficas graças aos esforços de sua esposa, a atriz Julienne Mathieu, que depois estrelou “El Hotel Electrico” (1908), um dos primeiros filmes à se utilizar de técnicas de Stop Motion.
O cineasta espanhol foi criador de várias técnicas cinematográficas, como o Pathéchrome, patenteado por Charles Pathé (seu patrão) e criou um equipamento que permitiu o primeiro Dolly Shot da história do cinema, no filme “Cabiria” (1914), de Giovanni Pastrone. Também foi um dos pioneiros na colorização dos filmes, algo que realizava frame à frame, diretamente sobre os negativos.
Tão importante quanto Méliès na criação de narrativas fantásticas e criação de efeitos visuais, também realizou avanços significativos na animação cinematográfica.
Les Tulipes
Faleceu dia 02 de maio de 1929, em Paris, França.
Collected Works 1902-1914, faça download clicando no diabo.
Maldohorror é um coletivo de escritores do gênero fantástico que foi criado em 2016 pela dupla E.B. Toniolli e Carli Bortolanza, habituais colaboradores na Canibal Filmes.
O coletivo conta com quase 50 colaboradores fixos, postando uma obra inédita em seu site a cada dois dias. Em tempos tão individualistas como se tornou o mundo pós-redes sociais, dá gosto ver um trabalho coletivo de apoio mútuo como este. Para falar mais sobre o coletivo, entrevistamos a dupla de idealizadores do projeto.
Para conhecer o coletivo Maldohorror, clique na figura abaixo:
Canibuk: Conte como surgiu o Maldohorror.
E.B. Toniolli: O Maldohorror surgiu da necessidade de termos um lugar onde divulgar nossos contos e poesias e fazer experimentações. Por nós, entenda-se por mim, Peter Baiestorf e Carli Bortolanza, amigos de longa data e parceiros em produções cinematográficas. Pensamos num formato diferente, onde publicaríamos 1 obra por dia, sempre a meia-noite. A idéia é atrair outros escritores e assim criando uma comunidade, um coletivo, onde os escritores se apóiam e dessa união esperasse o surgimento de livros, e-books e produtos diversos.
Carli Bortolanza: Estava estudando numa cidade vizinha e ia uma vez por semana de ônibus pra lá, e como o Toniolli mora perto da rodoviária, passava lá e ficávamos umas 4 horas jogando conversa fora, jantávamos e ai depois pegava o ônibus, e nessas conversas, o Toniolli veio um dia com uma a idéia de criar um site para publicar nossos escritos, não lembro bem qual era o nome, mas fomos conversando daqui e dali e nisso surgiu o título Maldohorror, em homenagem ao Isidore Ducasse. Fomos conversar com o Baiestorf que também “comprou” a idéia e ai surgiu o coletivo, mas no começo éramos só em três, e todo dia um texto estava no ar, ai convida daqui e dali, e começa a surgiu o quarto, o quinto, dando um alívio, pois foi uma tarefa árdua, manter todos os dias um texto no ar em poucos escritores.
Canibuk: O que é o Maldohorror? Qual o objetivo com este coletivo literário?
Toniolli: Maldohorror é inspirado no célebre personagem Maldoror, do excelente escritor, Isidore Ducasse, vulgo Conde de Lautréamont (escritor maldito uruguaio/francês no final do século XIX). A idéia foi fazer um trocadilho e aproveitar e inserir o termo Horror, que muito define e identifica os 3 primeiros membros do coletivo e, também, norteia a maioria dos escritores que fazem parte. Maldohorror nasceu com o objetivo principal de apoiar escritores, desde iniciantes até profissionais, desde poetas líricos até desvairados sexuais e dessa mistura emergir um cenário rico para nossos leitores.
Bortolanza: De início, acho que era a pra termos onde mostrar nossos trabalhos, mas não só nós, nós enquanto pessoas que escrevem e não tem onde publicar, e com o site, buscar encontrar essas pessoas como nós que temos muitos textos nas gavetas de casa e unirmos para demonstrar que mesmo no mundo dos sonhos, ninguém está sozinho.
Canibuk: Como fazer parte do coletivo?
Bortolanza: É muito fácil, basta escrever sobre fantasia ou textos malditos, que criticam as religiões, as políticas e esse sistema pobre em que vivemos. Com pelo menos 5 textos nesse estilo, encaminhar para o e-mail contato@maldohorror.com.br e alguém do grupo vai receber e encaminhar para um dos membros que é responsável pelas novas aprovações.
Toniolli: Temos uma comissão, que troca de tempos em tempos, que analisa as obras e aprova a entrada ou responde com críticas positivas para a melhoria das obras. Temos uma posição forte contra qualquer tipo de racismo, sexismo, etc, por que consideramos que a cultura serve pra unir e construir uma sociedade melhor
Canibuk: Como funciona o site? As obras inéditas são lançadas de quanto em quanto tempo?
Toniolli: Hoje, as publicações no Maldohorror são feitas de 2 em 2 dias, através de ciclos. Por ciclo entenda-se repassar todas as obras de nossos autores em ordem alfabética inversa. Os autores enviam suas obras para o editor, atualmente o Carli Bortolanza, que analisa e repassa para uma equipe de revisores. Em seguidas as obras são enviadas para a equipe de publicação, que faz a postagem no site e a divulgação nas redes sociais. Dessa forma vamos executando as atividades de forma coletiva, que é a essência do Maldohorror.
Bortolanza: No começo do site era lançados um texto por dia, todos os dias, embora tenhamos muitos escritores hoje, os textos estão sendo lançados a cada dois dias, para que cada um dos autores possa escrever com mais calma e cada vez melhor e também ter um tempo maior para estar divulgando.
para ler o conto coletivo, basta clicar na imagem abaixo:
Canibuk: Maldohorror funciona como um laboratório aos escritores?
Toniolli: Na minha maneira de ver, sim! Todos os envolvidos estão ligados a arte e arte é experimentação e nada melhor do que uma ferramenta online para testar e já receber feedbacks.
Bortolanza: Alguns escritores já são profissionais, digo, escrevem muito bem e muito, com livros publicados. Mas também tem autores que suas primeiras publicações foram no Maldohorror, e que nesse convívio de escritores, nos grupos sociais, estão se aperfeiçoando, pois no coletivo, um ajuda o outro e não só na escrita, mas também em parcerias. Tive participação em duas coletânea , uma de poesias “Sociedade dos poetas vivos” e outra de contos “O Mundo fantástico de R.F. Lucchetti” lançado esse ano na Bienal em SP, pela editora Coerência, organizado pela Camila, que está no grupo e me convidou. Outras pessoas do grupo também foram convidadas, assim como surge convite para outras participações aqui e ali, pra esse ou pra aquele participante do grupo. Uma forma de “quem é visto é lembrado”. Também alguns que acabaram se conhecendo pessoalmente.
Canibuk: Quais os e-books lançados pelo Maldohorror e como comprar?
Bortolanza: Lançamos três até agora, um de contos e um de poesias que foram publicados no site, e um terceiro com obras inéditas, sobre final de ano e que esses dias inclusive, em comemoração aos 2 anos do lançamento do site, disponibilizamos os 3 de forma gratuita. Mas podem acessar: Entrando no site da amazona: https://www.amazon.com.br/ só digitar Maldohorror que aparecerá os 03 livros, a 1,99 cada.
Canibuk: E o livro físico? Planos?
Toniolli: Pra 2019 estará saindo o livro físico. Está sob organização de Petter Baiestorf e vai ser lançado em março de 2019. Estamos na fase de seleção do pessoal, orçamentos, etc…
Bortolanza: Desde o início, a idéia era publicar um livro físico por ano, e em cada espelho do livro uma letra do Maldohorror, para que quando o projeto termina-se (projeto inicial é de 11 anos) teríamos 11 livros na estante e que pudéssemos ler a palavra inteira. Mas as mudanças são necessárias e até pelo fato de sempre estarmos em movimento, e não sermos uma coisa fechada. A idéia é publicar o primeiro livro físico no primeiro semestre do ano que vem, e depois pensaremos, como será feito os demais, mas certamente não será só um. Inclusive pessoalmente estou pensando daqui a 9 anos, fazer um meu, com todos os meus textos publicados no site, em ordem de publicação (já tenho esse controle e que até agora, foram 62 textos publicados) como uma forma de registrar fisicamente o projeto.
Canibuk: Como tem sido a recepção do público para com o coletivo?
Toniolli: Temos uma recepção boa com o público. Não temos a intenção de provocar uma nova onda transformadora da cultura brasileira, mas sim servir de canal para a divulgação das obras dos autores. Como a totalidade de nossos escritores escrevem temáticas malditas ou fantásticas, temos um público bastante fiel, apesar de restrito.
Bortolanza: A primeira maravilha é que estamos espalhados por quase todo o Brasil, e talvez o que falta é compartilharmos essas receptividades entre o grupo, comigo, está sendo muito bom, uns me mandam e-mail, mensagens pelo watts, me encontram e me pedem, como “inventam isso”, ou “me deu nojo” “não dormi a noite”. Assim como já fui também convidado pra falar do Maldohorror em sala de aula na universidade, em evento do Sesc (grande parceiro da artes independentes em Chapecó – SC). No trabalho volta e meia um colega diz, “Hó, o cara do bebê que sobe em árvore!”, referindo-se ao texto “Assim Nasce o Cantos dos Tubarões de Ducasse“.
Canibuk: Que observações gostariam de fazer sobre o cenário da literatura fantástica no Brasil?
Toniolli: Nossa barreira inicial é a concorrência com grandes nomes da literatura brasileira e mundial. É o mesmo que acontece com a música: bandas novas concorrem com nomes já consagrados. Mas esse é o cenário é a persistência sempre dá resultados.
Bortolanza: Ao mesmo tempo em que vejo uma expansão, vejo também uma “limitação”. Muitos, embora tenham um ótimo domínio da escrita, parece que falta criatividade para escrever, li algumas coletâneas e é um e outro texto que se destaca, na grande maioria, se descobre todo o enredo já no começo. Teve um em especial, que achei que era o mesmo texto escrito por vários autores, sem nada de novo, parodiando, sexta feira 13 parte 01, 02, 03… Acho que o que falta é o transbordar, viajar, pegar uma bacia com letras e espalhar no ventilador. E pela qualidade dos escritores, sei que todos podem colocar uma nave espacial no meio do nada ou um mostro que se tele transporta e entra em cena surpreendendo o leitor.
Canibuk: É possível um autor seguir carreira literária no Brasil de hoje?
Toniolli: Sim. Com persistência, investimento e, principalmente, obras com identidade e criatividade. Ajuda muito se a pessoa for comunicativa e, novamente, persistente.
Bortolanza: Seguir sim, afinal há muitos espaços para expor os trabalhos, porém se manter financeiramente eu acredito que ainda não há possibilidades, mas está no caminho certo.
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Canibuk: Quem são os autores do coletivo? Gostaria de destacar alguns trabalhos solos de membros do grupo para que os leitores do Canibuk pudessem correr atrás?
Bortolanza: Pra fãs de filmes, tem 06 escritores, além do próprio Baiestorf, que já trabalharam em algum momento nas produções da Canibal Filmes, Eu, E.B. Toniolli, Loures Jahnke, Leomar Waslawick, Alan Cassol e César Souza (espero não ter esquecido alguém). E acredito que muitos outros não estão só ligados a literatura, mas em outras áreas culturais, música, dança… Gostaria de deixar evidenciado, apenas que o conjunto da obra é maravilhoso, se acompanhar o site, dois meses apenas, se enxaguará com textos bons, uns maravilhosos, outros surpreendentes, outros que te deixaram perdidos, outros tão corriqueiros que fará você, ao passar pelas ruas, se deparar com cenas parecidas e lembra-se do desfeche que o autor criou, outras ainda tão cruéis/ perturbadoras que gostaria de não ter lido ou lhe deixá-los-á com brilhos nos olhos de felicidades.
Toniolli: Não gostaria de citar nenhum autor especificamente por que temos quase 50 escritores e todos tem uma maneira de escrever, temáticas próprias. Temos escritores em níveis diferentes: alguns mais viscerais, com uma escrita coloquial e outros estudiosos da língua e que a tratam uma argila a ser moldada. Acho que cada escritor merece uma lida com atenção.
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Canibuk: Qual a importância do Maldohorror dentro do cenário literário nacional?
Bortolanza: Acredito que seja uma porta de entrada e uma maneira de estar no meio de escritores e poder respirar literatura. Também uma maneira de poder crescer na arte de escrever e trocar experiências e amadurecer cada vez mais, evitando os erros que outrem já realizaram.
Toniolli: Eu vejo o Maldohorror como um coletivo de fomento de obras e de experimentações. Nosso editor está sempre cobrando novas obras dos autores e isso acaba incentivando a produção. Fizemos alguns testes com obras compostas coletivamente e esses experimentos são uma oportunidade ímpar de aprendizado e interação. Vale salientar que temos uma comunidade ativa, conversamos, trocamos idéias, fomentamos outros projetos solos dos autores, divulgação de música, cinema e dessa forma vamos criando um cenário e propenso a ebulição de novos projetos.
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Canibuk: Considerações finais:
Toniolli: Obrigado pelo espaço. Fico muito feliz pelo apoio que você dá pras ações e projetos undergound e é disso que precisamos: união. Separados somos fracos e podemos fazer poucos, mas unidos em prol de uma ideal em comum podemos alcançar resultados extraordinário. E é muito legal acessar o site e ver que em 2 anos temos mais de 800 obras pros nossos leitores curtirem. E tem muita coisa que vai surpreender aos leitores do Canibuk. Estamos de página abertas esperando vocês.
Bortolanza: Tem muitos textos que é só adaptar e o roteiro de um filme está pronto, ou um novo enredo nos holofotes do palco teatral ou na sinfonia das guitarras e dos contra baixos.
Em 2016 Vinícius Santos organizou e lançou o longa-metragem episódico “Contos da Morte”, que reunia os diretores Ulisses da Motta, Thiago Moyses, Rodrigo Brandão, Kayo Zimmermam, Julio Wong, Jeziel Bueno, Ivo Costa, Helvecio Parente, Calebe Lopes, Bruno Benetti e Ana Rosenrot, e que já está disponível no youtube para ser visto grátis:
Agora, Vinícius reuniu novos diretores, Ana Rosenrot, Cíntia Dutra, Danilo Morales, Diego Camelo, Janderson Rodrigues, Larissa Anzoategui e Lula Magalhães, para a segunda parte de “Contos da Morte”. O lançamento deste SOV que já nasce obrigatório está programado para outubro deste ano e o trailer já está disponível:
Fiz uma entrevista com os diretores da continuação:
Petter Baiestorf: Conte um pouco da sua trajetória nas produções brasileiras:
Vinícius Santos: Minha história com o cinema independente começou por acaso, em 2008 fiz meu primeiro curta caseiro e trash, com toques de humor negro. Foi o “Cereal Killer”, que ganhou alguns prêmios na época aqui em Jacareí, depois peguei uma paixão pelo cinema, ainda mais eu que adoro filme trash, então não vi dificuldade alguma pra realizar meus filmes trash. Fiz vários curtas desde então, alguns longas como “Steve Cicco”, “Iandara”, “Exorcistas Carinhosos”. Realizei meu sonho de conhecer José Mojica Marins, o eterno Zé do Caixão, até entregamos um prêmio a ele. Dirigi um documentário com Liz Marins e realizei um sonho de dirigir um filme meu com a Monica Mattos, ex atriz pornô. Comecei a mandar e exibir meus filmes em alguns festivais nacionais e internacionais, conheci também cineastas que já admirava, como Petter Baiestorf e Rodrigo Aragão, fiz novas amizades e parcerias também, acabei sendo convidado para participar na produção de um longa-metragem co-produção Brasil e Londres em 2017, um filme indígena que mistura drama e fantasia chamado “Goitacá”, tive prazer de conhecer alguns atores como Luciano Szafir, Lady Francisco e Leandro Firmino (o Zé Pequeno de “Cidade de Deus”), isso tudo graças aos filmes trash que desenvolvo, então percebi que estou no caminho certo.
Ana Rosenrot: O cinema sempre fez parte da minha vida, sou cinéfila por natureza e minha curiosidade me levou a pesquisar o cinema como um todo, buscando entender a importância da sétima arte para a cultura mundial e sua influência sobre as pessoas. Mas percebi que eu precisava participar da criação cinematográfica e em 2011 passei a fazer pequenos curtas experimentais, tudo muito simples, com a cara e a coragem, assumidamente trash e não parei mais. O primeiro curta que enviei para um festival se chama “Mistérios Obscuros”, ele foi premiado com o Troféu Corvo de Gesso em 2013, selecionado na 15ª Mostra do Filme Livre em 2015 e escolhido para compor a vinheta de abertura da sessão “Trash ou Cinema de Gênero?” da mostra. Em 2013, fui convidada para escrever sobre cinema para uma publicação Suíça, a Revista Varal do Brasil e criei a Coluna CULTíssimo, especializada em cinema e universo Cult. Também em 2013 juntei forças com a Vproduções Cinematográficas e participei como diretora, produtora e atriz em curtas e longas. Destaque para o longa-metragem “Steve Cicco – Missão Popoviski”, o curta-metragem “Samantha” (que dirigi com o Vinícius e protagonizei), as duas edições da Mostra Monstro e o projeto “Contos da Morte”. Em paralelo, me dedico a criação e a divulgação literária e continuo com minhas produções pessoais, rodando os festivais com curtas experimentais e vídeo poemas voltados para o ativismo cultural e as causas femininas. Já ganhei sete prêmios, participei de muitos festivais e mostras e pretendo seguir acreditando no cinema nacional e feminino apesar de todos os obstáculos.
Cíntia Dutra: Certamente assim como todos os envolvidos no “Contos da Morte”, sempre fui apreciadora do cinema de horror, independente da nacionalidade. Na verdade, me considero muito mais fã e pesquisadora do gênero horror, que realizadora. Mas isso, juntamente com a minha formação (em Fotografia) trouxe a possibilidade de realizar alguns projetos. Onde em 2007 dirigi o curta “Obsessão”, posteriormente em 2008, “Extrato”, em 2015 o “Retratos” e agora o “Entre Nós” que fará parte do projeto.
Danilo Morales: Em 2012 meu primeiro filme em HD foi “Adega de Sangue”. Em 2015 veio o projeto “Trilogia do Terror” com os filmes media metragem “Telecinesia – Entre a Cruz e o Balaço” e “A Corrente de Menon”. A produção de curtas foi intensa. Uma media de três por ano. Em 2016 “Astarte- O Assassino do enforc a Gato” e “Até que a Morte nos Separe”. Em 2017 “Quiromania Ninfomaníaca” e “O Lago”. Em 2018 “Vilarejo Libertino”, “Casa de Xangô” – o filme longa metragem “Cemiterio das Moscas”, antologia de três diretores. E “Contos da Morte 2”. Antologia com vários diretores envolvidos. Os filmes estão correndo festivais nacionais e internacionais.
Larissa Anzoategui: Eu comecei a experimentar o audiovisual em, acho que, 2008, quando fiz um curta maluco chamado “Zumbis do Espaço de lá” para o meu TCC do curso de artes visuais. Depois de um tempo fui morar em São Paulo para estudar fotografia e lá entrei em contato com outras pessoas que tinham vontade de produzir e tinham grana zero como eu. Nos juntamos gravamos um curta, o “Limerence’, com roteiro de Paula Febbe, que só foi ficar pronto mesmo no final do ano passado, mas estava gravado esperando finalização desde 2012. Gravo sempre quase com a mesma equipe desde o “Limerence”: Pedro Rosa na direção de fotografia, Renato Ramos Batarce ajudando na produção e o meu marido, Ramiro Giroldo, que hoje escreve todos os roteiros da Astaroth Produções. Até agora temos lançados quatro curtas (“Red Hookers”, “Natal Vade Retro”, “Limerence” e “A Janela da Outra”) e um longa (“Astaroth”). Tem agora o “Fatal” também, que faz parte do “Contos da Morte 2”. Meus filmes são de terror, minhas inspirações são aquelas produções dos anos 80, principalmente as que eram feitas para o mercado de VHS. Busco um terror meio aventura, algo divertido. Monstros que não existem. Nas minhas produções a força e o foco estão sempre nas personagens femininas. Afinal de contas, elas sempre estiveram presentes nos filmes de terror, mas ao invés de ser apenas mais uma vitima, a mocinha bonita gritando, aqui elas levantam e enfrentam o monstro que as vezes é a monstra também.
Diego Camelo: Sou Estudante de Cinema do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza, meu primeiro curta metragem foi o “Tirarei as Medidas do seu Caixão” que é um filme-homenagem ao personagem mais icônico do Terror brasileiro, que é o Zé do Caixão. O filme foi muito bem recebido por onde passou, consegui inclusive espaço para exibição do curta no Canal Brasil no programa “Pausa para o Café” e é também dos filmes que realizei até aqui, o que mais circulou por festivais afora. Ainda dirigi e produzi os curtas metragem “A Incrível História do Gorila” e “O Vampiro”. Todos os curtas estão disponíveis na internet.
Lula Magalhães: Comecei em 2013 com o filme “Mandala Night Club”. De lá pra cá não parei mais, sempre venho mantendo uma média de uma a duas produções por ano. Sempre produzi na esfera do terror e sempre produções 100% independentes, ou seja, sem dinheiro público.
Janderson Rodrigues: Comecei trabalhando em produtoras independentes até abrira minha há quatro anos. E estou tentando sobreviver até então.
Dor (Lula Magalhães)
Baiestorf: Como surgiu o projeto de Contos da Morte 2?
Vinícius Santos: Eu já havia feito projetos em parceria com cineastas de outras localidades e regiões, inclusive fora do país, sempre tive vontade de fazer algo parecido com o ‘’ABC da Morte’’ e resolvi convidar alguns cineastas para uma antologia chamada ‘’Contos da Morte’’, lançado em 2016. A idéia para o “Contos da Morte 2” surgiu dentro do Festival Boca do Inferno no lançamento do primeiro filme, durante um bate-papo, após a exibição me perguntaram se haveria uma continuação, deixei a possibilidade em aberto, mas muita gente pediu essa continuação e então resolvi juntar uma galera, a idéia era não repetir os cineastas do primeiro, e, ao invés de 12, nesse segundo seria apenas 10. Mas no fim muita gente não deu conta e desistiu, eu acabei tendo que entrar nos momentos finais do projeto devido ao prazo de entrega, não teríamos mais tempo de convidar novos cineasta pra se juntar ao grupo. Então esse segundo “Contos da Morte” conta com sete histórias e oito cineastas do cinema independente.
Ana Rosenrot: O projeto surgiu no Festival Boca do Inferno, durante o lançamento da primeira edição, quando o criador do projeto “Contos da Morte”, Vinícius J. Santos, foi questionado sobre a possibilidade de uma continuação e após o festival ele entrou em contato com outros realizadores e decidiram fazer uma sequência. Primeiramente a ideia era não repetir nenhum dos diretores do primeiro filme, mas, devido a algumas desistências, o Vinícius decidiu participar com um segmento e me convidou para dividirmos a direção. São ao todo sete filmes e oito cineastas participantes.
Cíntia Dutra: Em 2016, ao enviar o curta “Retratos” para algumas mostras, o Vinicius Santos o viu e fez o convite para realizar um novo curta para integrar o projeto.
Danilo Morales: O Vinicius me fez o convite. Ele fez o “Contos da Morte 1” e queria fazer uma sequência com novos diretores.
Diego Camelo: Fui convidado pelo idealizador do projeto Vinícius Santos, eu não conhecia o projeto e não tinha visto o filme anterior, mas curti bastante a proposta e quando rolou o convite aceitei de pronto, gosto dessa iniciativa da Antologia, juntar diretores de locais diferentes, fazendo filmes completamente diferentes sobre o mesmo assunto.
Lula Magalhães: Conheci o Vinicius quando meu filme “Invasor” participou da Mostra Monstro em Jacareí, SP. Surgiu o convite de participar da segunda edição e eu adorei a ideia.
Janderson Rodrigues: Estava fazendo a fotografia do filme “Cinco Cálices” quando o Vinicius me chamou para participar do projeto. Já tinha visto o primeiro em festivais e fiquei super feliz de participar do 2. Ai meu editor, na época, me pediu para escrever o roteiro, então falei que eu queria uma história que se passa na favela.
Diagnose Danação (Diego Camelo).
Baiestorf: Como chama seu episódio e qual a história?
Vinícius Santos: O segmento eu dirigi, junto da diretora Ana Rosenrot, também aqui de Jacareí, se chama “A Marca do Diabo’’ e é sobre uma moça que adquire um quadro de uma criança chorando, e coisas bizarras começam a acontecer até que ela descobre que aquele quadro tem uma história maligna por trás envolvendo pacto demoníaco e sacrifícios. História inspirada na lenda urbana dos Quadros das Crianças Chorando, muito famosa no Brasil na década de 80.
Ana Rosenrot: O episódio que dirijo com o Vinícius J. Santos se chama “A Marca do Diabo”, e é inspirada na maior lenda urbana dos anos 80: “Os Crying Boys” (quadros das Crianças Chorando). Ele conta a história de uma garota que depois de sofrer um terrível acidente, está internada num hospital e ao ser interrogada por policiais alega ter sido marcada pelo diabo após comprar um quadro de uma criança chorando.
Cíntia Dutra: O episódio chama-se “Entre Nós”, e conta a história de um casal, com uma relação um pouquinho turbulenta, regada a sangue e insanidade.
Entre Nós (Cíntia Dutra).
Danilo Morales: “Heterocromia”. Simmel sofre preconceito por ter heterocromia. Seu alter ego maligno, representado pelo olho azul, é desperto quando o demitem do serviço. Filme experimental em primeira pessoa, de humor negro, uma crítica social da crise em nosso país.
Larissa Anzoategui: Meu episódio é o “Fatal”. Conta a história de um rapaz que lança cantadas online e acha que vai se dar bem, mas acaba se metendo em uma enrascada.
Diego Camelo: O nome é “Diagnose Danação” e é livremente inspirado no livro Frankenstein da Mary Shelley, pode até ser temerário dizer que é livremente inspirado, por que imagino que alguém possa tentar fazer comparações ao livro, eu tinha acabado de reler a história quando o Vinicius chegou com o convite, alguns elementos da história da Shelley estavam muito vivo na minha memória por isso tentei pegar o mote central da história e adaptar. Fui atrás do filme Frankenstein da Hammer Filmes, com o Peter Cushing, e fiz algumas modificações. A história é basicamente a relação de um médico e um paciente que não queria ser salvo, depois de vários anos sofrendo de uma doença autoimune, o paciente tenta tirar a própria vida, mas o médico o salva, o paciente acredita que estar vivo é uma espécie de punição e culpa o médico, passando então a persegui-lo.
Diagnose Danação (Diego Camelo).
Janderson Rodrigues: O filme se chama “Morro dos Mortos”. A historia de Bento que fica preso durante 10 anos e ao sair tenta uma vida nova, mas os fantasmas das pessoas que ele matou voltam para cobrar algo .
Lula Magalhães: Se chama “Dor”. O filme narra a trajetória de três psicopatas insanos que alimentam uma estranha criatura com carne humana.
Dor (Lula Magalhães).
Baiestorf: Como foram as filmagens dele?
Vinícius Santos: Tivemos seis meses de gravações, até que foi bem rápido, não tivemos tanta dificuldade por ter muitas cenas com poucos diálogos, algumas locações bacanas como um antiquário e um hospital, que nem imaginávamos se conseguiríamos ou não, mas no fim deu tudo certo com o apoio da Prefeitura Municipal de Jacareí. Até achávamos que teríamos dificuldade, pois filme de terror não é visto com bons olhos em Jacareí, mas arte é arte e conseguimos até fazer as cenas com um Diabo por lá.
Ana Rosenrot: Até que foram bem tranquilas; claro que tivemos algumas dificuldades, o que é muito comum quando falamos em cinema independente, pois, trabalhar com baixo ou nenhum orçamento, equipe pequena e locações sem controle externo, sempre acarreta alguns atrasos ou imprevistos (a greve dos caminhoneiros nos afetou um pouco). O importante é ser capaz de improvisar quando é necessário e poder contar com pessoas engajadas no projeto e nisso tivemos muita sorte, os atores e a equipe estavam maravilhosos.
Bastidores de uma das cenas do filme:
Cíntia Dutra: As filmagens aconteceram na metade do ano passado (2017), em um final de semana bem corrido, onde tudo teve que ser filmado por conta dos recursos disponíveis. A equipe formada por amigos da faculdade e parentes, que tenho que agradecer por ter trabalhado por três xis burguers, é a mesma equipe que trabalhou no curta anterior, “Retratos”, o que tornou o processo muito agradável.
Danilo Morales: Foi um desafio. Nunca tinha gravado nada em primeira pessoa. O episodio foi gravado em um dia e teve um verdadeiro banho de sangue. Um boneco foi confeccionado para ter a cabeça esmagada. Ficou fantástico a cena da cabeça partida. Infelizmente a câmera travou nesse momento. A solução foi refazer a cena de forma desfocada, pois o boneco já estava estourado. Mas foi bem divertido. O episódio não foi feito para ser levado a sério. Tem muito humor negro e critica social.
Larissa Anzoategui: Foi muito rápido, em um dia gravamos tudo. Mas foi rápido assim porque reaproveitei uma cena do “Astaroth” que não ficou no corte final. Mas mesmo assim, tem o começo que está no corte final do longa e está também lá no curta, bem plena e cara de pau. Para fechar uma história com este reaproveitamento, tiramos um dia do final de semana para gravar. Equipe bem reduzida, eu dirigi, filmei, montei a luz e o cenário, o Ramiro ajudou bastante, sendo o assistente em todas essas funções. A terceira pessoa da equipe era a maquiadora, Palmira Nogueira, que sempre trabalha com a gente. Para compensar o elenco era maior que a equipe: Sete atrizes e um ator.
Diego Camelo: Foi bem caótico (risos). Muito por que tivemos muitos atrasos em relação a locações, principalmente. Tivemos problemas pra conseguir a locação do hospital, por exemplo. Lembro que num dos dias de gravação Fortaleza passou por uma onda de ataques a ônibus e isso dificultou todo tipo de transporte na cidade, atrasando bastante o dia de filmagem. O importante pra que tudo desse certo foi ter uma equipe e elenco que mesmo nas dificuldades se dispôs a fazer as filmagens darem certo.
Lula Magalhães: Foi bem louco. Muito cansativo. Quatro dias de gravações intensos. Gravar de forma independente exige muito mais da equipe porque os recursos são mínimos. Mas tudo muito satisfatório no final.
Janderson Rodrigues: Vou deixar o trailer do filme.
Baiestorf: Algo curioso que rolou nas gravações que pode contar para nós?
Vinícius Santos: Tem um fato curioso que aconteceu durante a escolha das locações, em uma das cenas do filme foi filmada em um antiquário. Tínhamos um bem chique, estava tudo certo para filmar, toda equipe aguardando no local, mas por algum motivo o dono da loja não apareceu e tivemos que adiar. O jeito foi utilizar nosso plano B, outro antiquário, era mais simples, mas acabou que combinou muito mais, pois o filme era inspirado em uma lenda dos anos 70 e 80 e o antiquário tinha peças da época, no fim. Deu super certo essa mudança de planos.
Ana Rosenrot: Estávamos numa locação e o nosso ator estava maquiado e pronto para entrar em cena. Enquanto aguardava ele ficou ensaiando e se movendo pelo local. Foi quando percebemos que um senhor que passava na rua estava olhando pela vidraça, ele ficou parado, com os olhos arregalados, horrorizado. E ficou ali por um tempo, indeciso, depois baixou a cabeça e saiu. Ele percebeu que era somente uma pessoa maquiada, pensou que era algum tipo de pegadinha, ou acreditou que estava vendo uma entidade demoníaca? Nunca saberemos, mas o episódio rendeu boas risadas e mostrou que, pelo menos, a maquiagem estava assustadora.
Carolina Venturelli em A Marca do Diabo (Vinícius Santos e Ana Rosenrot).
Cíntia Dutra: Há uma cena no curta que foi filmada em um hospital real, e foi necessário realizá-la na correria, pois segundo o médico que cedeu o leito hospitalar, em final de semana com feriado o risco de precisarem do quarto as pressas era grande. Por sorte não fomos interrompidos. Pagamos 50 reais pelo aluguel de um vestido de brechó. Isso é todo o orçamento do filme!
Elenco de Entre Nós com a diretora Cíntia Dutra.
Danilo Morales: O mecanismo utilizado para esguichar sangue do pescoço da vitima foi feito de forma bem arcaica e barato. Uma mangueira de nível acoplada a uma bomba de encher bicicletas foi a responsável, para de forma mecânica, esguichar o sangue. A faca utilizada era retrátil.
Diego Camelo: Não sei se responde bem a pergunta, mas houve algo engraçado durante as filmagens, fomos gravar uma das cenas mais importantes pro filme e do lado da nossa locação tava rolando uma missa a céu aberto e isso atrapalhou bastante principalmente na questão do som, aí a nossa atriz Gabriela Willis, maquiada com sangue no rosto, foi lá pedir gentilmente pra que os fiéis baixassem o volume (risos).
Lula Magalhães: Sempre digo que fazer filme de terror é muito mais divertido do que fazer filmes de comédia. Foram vários momentos hilários durante as filmagens. Fica até difícil de falar de um específico.
Janderson Rodrigues: No primeiro dia de filmagem estava marcado para começar as 17:30 e terminar as 20:30 e o ator principal não apareceu e ninguém conseguiu falar com ele, então quando estava para cancelar, ele apareceu com o joelho todo inchado e mão enfaixada porque tinha sofrido um acidente de moto e estava no hospital.
Larissa Anzoategui: Olha, as meninas tiveram que passar o dia semi nuas e com maquiagem de efeito na cara. Aí virou uma grande piada tudo o que elas faziam, elas mesmas ficavam tirando sarro umas das outras. Em certo momento, num intervalo, uma das meninas estava agachada olhando o celular, passou a Simone Galassi, que é super piadista e soltou: “Olha! O demônio cagando!”. Só coisas assim mesmo, acho que foi engraçado para quem estava lá. Meio que piada interna. Não aconteceu nada de sobrenatural, nada de luzes caindo ou pessoas levitando (risos).
Diagnose Danação (Diego Camelo).
Baiestorf: Como estão os preparativos (e expectativas) para o lançamento em Outubro?
Vinícius Santos: Estamos já mandando pra festivais nacionais e internacionais, aproveitando que logo o Halloween está aí, e o que mais rola é festivais de horror. Mas a expectativa é grande pra fazer a primeira exibição pública, pra ter um feedback da galera.
Ana Rosenrot: Estamos nos concentrando na divulgação, que deve ser muito bem coordenada com todos os outros diretores e esperamos que o público goste de todos os segmentos, aprecie a diversidade de estilo dos diretores, se assuste e se divirta muito com nossos contos mortais.
Cíntia Dutra: A expectativa é grande, por fazer parte de um projeto tão bacana e com gente super qualificada (falo dos outros curtas – risos). E claro, sempre há a vontade de conferir pessoalmente a estréia, se a rotina e a distância permitirem.
Danilo Morales: A expectativa é alta. Sabemos que o cenário de guerrilha independente não é fácil. A solução é a união dos diretores. Não somos adversários, somos parceiros em prol do fortalecimento do cinema de gênero na região.
Diego Camelo: Estamos ansiosos pro lançamento do “Contos da Morte 2” e vamos fazer um novo corte com mais cenas pro curta, já que havia um tempo limite pra cada curta metragem, muito provavelmente vamos disponibilizar direto pra internet.
Larissa Anzoategui: Eu não vejo a hora de ver todas as histórias! No grupo do facebook a gente ficava trocando informações, postando fotos de bastidores, testes, trailers. Tô muito curiosa para assistir os outros curtas que estão no projeto.
Lula Magalhães: As melhores possíveis. Parte dos outros integrantes são meus amigos e estou muito feliz com a participação e trabalhos deles.
Janderson Rodrigues: Bom, os preparativos estão por conta do Vinicius, e a expectativa é grande porque as pessoas envolvidas são muito boas e também estou muito feliz porque o filme “Cemitério das Moscas” vai ser lançado esse mês e depois vem o lançamento dos “Contos da Morte”.
Dor (Lula Magalhães).
Baiestorf: O público terá o filme disponível para venda em mídia física (ou link online) quanto tempo após o lançamento?
Vinícius Santos: O filme será exibido apenas em festivais em um primeiro momento, após o prazo de um ano. A V Produções Cinematográficas está planejando um terceiro “Contos da Morte”, pra fechar a trilogia e quem sabe a gente possa lançar um box dos três em DVD.
Cíntia Dutra: Espero que haja mídia física sim, afinal é sempre bom ter mais um filme na prateleira.
Diego Camelo: Aí vai depender do tempo que o longa metragem “Contos da Morte 2” ficar em circulação e exibição por festivais e mostras, mas assim que passar essa fase com a Antologia, vamos lançar uma nova versão do curta na internet.
Janderson Rodrigues: O filme vai correr festivais e depois não sei se vai ser lançado em mídia, mas por mim eu lançamos em mídia física sim, ainda sou das antigas.
A Marca do Diabo (Vinícius Santos e Ana Rosenrot).
Baiestorf: No momento você está trabalhando em algum novo projeto? Pode falar sobre ele?
Vinícius Santos: Estou desenvolvendo mais dois novos longas, um é o ‘’Steve Cicco – A Última Porrada’’, um filme paródia de espionagem, a terceira parte de uma trilogia. E também estou finalizando o roteiro do ‘’Sexo, Pizzas e Filmes de Terror’’ que será uma antologia da V Produções com três histórias malucas ambientadas nos anos 80. É um filme que presta uma homenagem a filmes trash da época.
Ana Rosenrot: Atualmente estou me dedicando mais a literatura e ao ativismo cultural. Em 2017 criei a Revista LiteraLivre, uma publicação voltada para a divulgação de autores que escrevem em Língua Portuguesa, de todas as partes do mundo e a experiência tem sido incrível. Também estou planejando o lançamento de um e-book com as edições da Coluna CULTíssimo, no período de 2013 até 2016; continuo escrevendo novas edições da coluna, agora para a LiteraLivre e me dedicado ao meu gênero de escrita predileto: contos e poemas de terror, que pretendo divulgar um pouco mais. Claro que ainda tenho vários projetos cinematográficos, uns curtas inacabados que pretendo finalizar, convites pendentes, enfim, com certeza ainda vem muito mais por aí.
Cíntia Dutra: Projetos sempre existem, nem que seja no âmbito da imaginação. Mas estamos elaborando um novo roteiro, que ainda está em uma fase bem inicial.
Larissa Anzoategui: No final do ano passado e começo deste reuni uma galera aqui em casa para fazer uma maratona de gravações. Em duas semanas gravamos material para quatro curtas e um longa. Dessa produção tem um só pronto: “Janela da Outra”. Mas como eu e o Ramiro somos malucos, acabamos gravando outro longa agora no meio do ano. Era para ser só um curta e para ele pedimos para um artista, o Joni Lima, transformar nossa sala em uma cripta, usando papel e tinta mesmo. Quando ficou pronto ficamos tão empolgados, o Ramiro mais ainda porque estava numas piras com as obras de Byron, que resolvemos gravar mais uns curtas. E no final das contas virou um longa de antologia. Para amarrar todas as histórias gravamos uma quinta e dessa vez eu me meti a atuar também. Oremos! (risos). Este longa de antologia vai se chamar “Domina Nocturna”.
Domina Nocturna (Larissa Anzoategui).
Danilo Morales: Sim. Com previsão de lançamento para 2019. “Cemitério das Moscas II – Os 7 Pecados Capitais”. Sete diretores, cada um dirige o segmento de um pecado. (“Cemiterio das Moscas” está sendo lançado no dia 17 Agosto 2018). Filme longa metragem ainda tem meu filme “Poço Profano”, faz parte de uma dobradinha de diretores. Será gravado em preto e branco.
Diego Camelo: Estou me preparando pra rodar meu primeiro longa metragem, um documentário, mas não posso falar mais sobre por que ainda estamos na fase de pesquisa.
Lula Magalhães: No momento estou fazendo a pós-produção do filme que rodei no ano passado. Acabei de lançar um filme de bruxas chamado “O Pequeno Baú” que rolou no POE – Festival de Cinema Fantástico de São José dos Campos – SP e vai rolar no Cine Horror em Salvador – BA em outubro. Final do ano sai uma ficção científica com horror chamada “O Cavalo Marinho” e início de janeiro um filme que rodei em 2013, chamado “Incógnito”, também estará sendo lançado.
Janderson Rodrigues: No momento estou editando o curta “Povo das Sombras”, com a Lane ABC no papel mais normal dela; e fazendo a fotografia do curta “Não Vacile”, do diretor Ricardo Corsetie. Comecei a pré-produção do longa “Contos”, título provisório.
Baiestorf: Se quiser divulgar seu último filme já lançado, o espaço é seu:
Vinícius Santos: Meu último filme ‘’Steve Cicco: Missão Popoviski’’:
E esse ano ainda lançaremos ‘’Exorcistas Carinhosos’’, trailer já disponível:
Ana Rosenrot: Meus últimos filmes lançados foram “O Atalho”, que dirigi em 2017 (este filme recebeu o Troféu Corvo de Gesso e foi selecionado e exibido no 13º Cinefest Gato Preto); e também participei como produtora, diretora de arte e atriz no curta “Dia de Exorcismo” (2018), dirigido pelo Vinícius J. Santos. Deixo aqui os links do trailer do filme e também do meu site para quem quiser conhecer um pouco mais sobre o meu trabalho:
Larissa Anzoategui: “A Janela da Outra”. Quase um filme mudo, gravado em uma tarde, equipe muito pequena: Eu, Ramiro, Juciele Fonseca no som e a atriz, a maravilhosa Larissa Maxine. Sinopse: Quem está do outro lado da janela? O delírio, a paranoia e a fusão.
Cíntia Dutra: “Retratos” foi lançado em 2015 e felizmente foi exibido em algumas mostras.
Danilo Morales: Vou deixar o trailer do “Cemitérios das Moscas”.
Janderson Rodrigues: No momento não tenho eles disponíveis, entretanto, até o final do ano será lançado um DVD com os cinco filmes que dirigi.
Lula Magalhães: Acabo de lançar “O Pequeno Baú”, um filme de bruxas que narra uma versão da história de Lilith e de sua influência na vida de duas irmãs. O filme foi todo gravado dentro de uma garagem com fundos escuros, num esquema quase teatral.
Diego Camelo: Meu último filme foi “O Vampiro”, foi o filme que mais curti fazer e o que menos circulou, o filme já está a algum tempo disponível na internet, vejam por favor, foi feito com muito esmero. Segue o link:
Baiestorf: Obrigado pela entrevista e deixe aqui dicas para pessoal que esteja querendo fazer seu primeiro filme:
Ana Rosenrot: Eu é que agradeço pelo espaço e o apoio ao nosso trabalho e ao cinema independente. Sempre digo que o primeiro passo para fazer um filme é fazer um filme! Veja filmes (todo tipo de filmes, seja eclético), pesquise (temos muito material disponível na internet), estude (existem cursos ótimos, com bons preços e até gratuitos) e depois pegue sua câmera (de qualquer tipo) e filme o que der vontade, experimente, vá criando seus roteiros, chame os amigos, faça sozinho, mas faça, não fique a vida toda “pensando” em fazer. Não tenha medo de criar, seja paciente, não fique preso a falta de recursos, não se importe com o amadorismo, aprenda com seus erros, esteja preparado para suportar a crítica (que vai bater sem dó), insista até descobrir seu estilo, aceite que nunca agradará a todos e depois, é só deixar sua marca no mundo.
Vinícius Santos: A dica que dou pra quem está começando, ou pretende fazer seu primeiro filme, é pegar uma idéia, ou um roteiro, mesmo que simples e não pensar demais e nem inventar desculpas demais. É pegar e fazer. Não tem equipamento ou câmera? Faça com o seu celular, ou câmera emprestada, mas faça. Use o que tem na mão e sua criatividade, o importante é não desistir e fazer o que gosta!
Cíntia Dutra: Primeiramente eu que agradeço a oportunidade de divulgar o nosso trabalho, com certeza feito com muito carinho. E para o pessoal que deseja realizar seu filme, basicamente é: Vai e faz.
Janderson Rodrigues: Curtam a pagina no facebook Estrada Films. E para quem estiver fazendo seu primeiro filme, nunca desista, você só vai aprender na prática e sempre esteja preparado para escutar críticas positivas e negativas porque não existe filme ruim e sim gostos diferentes.
Diego Camelo: Eu que agradeço pelo espaço! As dicas que posso dar é estudar bastante, ver muito filme, juntar uma equipe que queira muito fazer os filmes e as suas ideias acontecerem e não desistir nunca! É isso, abraços!
Lula Magalhães: Paciência, organização, objetivismo, garra, criatividade, respeito pela equipe e um pouco de sorte são os ingredientes principais pra tocar uma produção de guerrilha.
Danilo Morales: Não desanimar. Não dar desculpas. Faça o filme com o que tiver em mãos. Um celular, uma câmera usada. Instale um programa de edição e sempre vá se aprimorando, buscando evoluir.
Larissa Anzoategui: Não espere a equipe perfeita ou fazer tudo certinho. Acumule funções mesmo! Faça como der, mas faça da melhor forma. Procure pessoas que realmente vão se compromissar com a produção, principalmente com parcerias que ninguém vai ganhar nada de dinheiro. Pesquise e teste gambiarras para fazer uma iluminação massa!
Talita Abreu é uma artista que acompanho a algum tempo e me impressiona sua dedicação às artes gráficas, sempre em constante evolução em seus trabalhos que são bem ecléticos – algo que admiro muito nos artistas gráficos – e que vão de trabalhos infantis até ilustrações fetichistas de BDSM, como essa abaixo que ela fez exclusivamente para o Canibuk.
BDSM
Nascida em 1984 no Rio de Janeiro/RJ, ainda jovem fixou residência em Resende/RJ, cidade próxima de São Paulo, a capital paulista onde passou a frequentar inúmeros cursos de arte.
Talita realiza trabalhos de freelancer aceitando encomendas de quadros, grafite, ilustrações para livros e contos, ilustração editorial, capas, incluindo até encomendas pessoais de apreciadores e colecionadores de arte.
Paralelamente cursa a faculdade de licenciatura em Artes Visuais a fim de complementar seu trabalho como professora de artes, desenhos e pinturas para adultos, crianças e pessoas com necessidades educativas especiais.
Abaixo uma pequena entrevista que realizei com Talita Abreu para apresentá-la aos leitores do Canibuk. Se você gostou da arte de Talita ao final da entrevista deixo os contatos para que possa encomendar as artes originais desta brilhante artista.
Talita Abreu
Petter Baiestorf: Gostaria que você contasse como começou seu interesse pela arte e, também, sobre seus primeiros trabalhos.
Talita Abreu: Eu simplesmente sinto que nasci artista, e não que me tornei uma. Ballet, fotografia, violino, escrita, teatro, desenho, tudo isso sempre fez parte do meu dia-a-dia, então eu não sei onde eu começo ou a arte termina. Transformar isso em uma profissão é que é a batalhe dos séculos. Com os anos fui me aprimorando e isso é uma constante, acredito que deva ser. Me dedico a cursos e à horas intermináveis de estudo, até que comecei a conseguir realizar projetos e me expressar melhor através da mídia que eu queria. Eu sei que precisamos almejar coisas grandiosas, mas eu sou simplesmente muito feliz trilhando o caminho.
Baiestorf: Sua arte sofre influências de quais artistas e escolas estéticas. Fale o que te atraí neles, se quiser falar sobre os “porquês” seria muito interessante.
Talita: Eu amo o que vai além da cópia perfeita, gosto de sentir a textura dos lápis e das tintas, das estilizações com proporções harmoniosas, distorcidas ou não, do movimento, da fluidez da composição de um desenho ou pintura, de composições cromáticas perfeitas, mas acima de tudo da criatividade. Uma boa ideia que foi bem executada pode te levar a uma reflexão infindável, pode te fazer se apaixonar instantaneamente.
Dos artistas que mais me inspiram a suma maioria são mulheres fantásticas: Chiara Bautista, Loish, Michael Huassar, Chris Hong, Lora Zombie, Bianca Nazari e Ursula Dourada.
Baiestorf: Com sua arte você está aberta a todo tipo de trabalho ou gostaria de se especializar somente em uma área?
Talita: Não consigo olhar pra mim mesma e me encaixar em uma área só. Eu amo tudo e tenho curiosidade por tudo! A ilustração é minha área de atuação e mesmo dentro dela eu adoro transitar entre materiais diferentes e conhecer e estudar tudo o que eu puder. Essa é a beleza de uma mente que não para, mesmo que a gente precise se forçar ao extremo para segurar o foco no topo da lista.
Sad Devil 1
Baiestorf: Conte sobre suas exposições e como produtores poderiam levá-la para suas cidades/estados.
Talita: De aquarelas de todos os temas, ilustrações e histórias infantis, ilustrações de horror, BDSM, retratos femininos de modelo vivo, séries de pinturas de personagens Star Wars, aulas e workshops de desenho e aquarela, eu possuo um acervo que pode agradar a públicos do 8 ao 80 e estou sempre aberta a propostas e projetos. Basta entrar em contato e com certeza algo bacana nasce.
Baiestorf: Como é realizar trabalhos artísticos aqui no Brasil? Há reconhecimento? Oportunidades?
Talita: É muito complicado e não acredito que isso seja segredo pra ninguém. A coisa vem com muita luta, pouco apoio, pouquíssimo reconhecimento. É legal que trabalhemos por amor, mas pagar as contas não é uma condição que a gente possa abrir mão. A maioria das “oportunidades” são na verdade pessoas oportunistas querendo trabalho de graça, mas também existem algumas poucas pessoas incríveis que sabem dar oportunidades reais a artistas.
Precisamos de uma conscientização maior sobre o que é viver de arte para que as pessoas entendam que não é um caminho fácil… Ouvir coisas do tipo “você só desenha ou trabalha também?” mostra o quanto o brasileiro ainda está meio que “lá atrás” quando se trata de arte, ver a galera pagando 500 reais no ingresso do artista internacional tal mas não consegue despender 50 conto no livro do amigo que mora na tua cidade, diz muito sobre como a nossa mentalidade alcança um ponto limitado às vezes. Precisamos muito de reconhecimento, sim, mas mais oportunidades de ser o que somos.
Trio de Doces
Baiestorf: Você está com trabalhos em finalização? Poderia falar sobre eles e como o público poderá acompanhá-los?
Talita: Estou terminando um livro que espero que seja lançado até o final de 2018 e ilustrando para um autor de horror maravilhoso e pretendemos lançar em Setembro também desse ano. Não posso falar muito desses, mas logo logo uma coisa ou outra começa a apontar por aí.
Faço atualizações constantes nas minhas redes sociais que são minha página no facebook e instagram: @talitaabreu.art
Pra comprar material meu, fazer encomendas ou falar sobre projetos, as pessoas podem entrar em contato comigo por essas redes sociais ou irem direto no site: http://www.capitaodoce.com.br
Baiestorf: E seus projetos? É possível sabermos um pouquinho deles?
Talita: Tenho um projeto em andamento com mulheres voluntárias que posam para mim e contam suas histórias de abuso e uma série de ilustrações sobre BDSM também em andamento. Qualquer mulher que queira participar do projeto Ser Mulher, pode entrar em contato via e-mail:
talitaabreu.art@gmail.com
Baiestorf: Geralmente a arte no Brasil é produzida de forma independente e é difícil conseguir se manter. O que você gostaria de observar sobre isso.
Talita: A arte independente depende de vários fatores e pra ser um apoiador, claro que você pode comprar os produtos, mas a divulgação não custa nada e também é fundamental. Se você gosta de um artista, divulgue a arte dele, fale dele pros seus amigos, comente e compartilhe suas postagens, vá a seus eventos, mostre ele por aí, porque assim você não só faz a arte circular e se tornar algo vivo, como ajuda a gerar renda para esses artistas para que eles continuem fazendo arte! Assim você literalmente faz a arte existir.
Sad Devil 2
Baiestorf: O espaço é seu para as considerações finais:
Talita: Queria primeiro agradecer ao Petter por todo o carinho e consideração com os artistas. É difícil ver alguém que não gira em torno dos próprios projetos e está sempre procurando uma forma nova de entrar em contato com os outros e fazer a arte deles crescer. É de pessoas assim que podemos fazer um país onde a arte prospere e se expanda. A oportunidade de estar aqui no seu blog e inaugurar esse hall de entrevistas me põe um baita sorriso no rosto… Obrigada Petter! Se você é um aspirante a artista, eu só posso te dizer… Lute pela sua arte, mas antes de mais nada, estude, estude sempre, estude MUITO!!! A gente nunca vai ser o melhor no que fazemos, então a humildade é um órgão vital a partir do momento em que você se compromete com você mesmo e com a verdade. Fale com outros artistas, saia da sua zona de conforto. E obrigada a você que leu minha entrevista e se deu uma oportunidade de ver as coisas desse ponto de vista. Queria deixar o canal aberto para a comunicação comigo por qualquer meio que te for mais confortável. E não se esqueça… Apoie os artistas!
Infelizmente estou sem tempo algum para atualizar o blog. Mas nessa última semana estava selecionando material que irá fazer parte do livro “Canibal Filmes – Os Bastidores da Gorechanchada” e encontrei um material referente aos nossos lançamentos em VHS (que já estão disponíveis em DVD e que você pode comprar aqui na MONDO CULT):
Predadoras (2004, 22 min.) de Coffin Souza. Roteiro de DG e Coffin Souza. Elenco: DG e Everson Schütz. Produção do Núcleo de Vídeo Experimental de Palmitos. Inédito em DVD, mostras e festivais de cinema.
Sinópse: Um homem invade a casa de 4 mulheres misteriosas e vive uma noite de aventuras sexuais intermináveis.
DG: Musa de Coffin Souza e co-autora de “Predadoras”.
Este curta elaborado por Coffin Souza e DG em 2004 não foi oficialmente lançado na época, fazia parte de um longa em episódios, “Contos da Cidade dos Canibais”, que nunca foi finalizado. Até onde lembro apenas o Ivan Pohl também havia produzido um episódio, “Mike Guilhotina”, que seria acrescentado ao longa (se não me falha a memória houve um terceiro episódio, “Banco Mundial”, parcialmente filmado mas que, devido as filmagens caóticas, não foi finalizado, creio que era dirigido pelo Everson Schütz). Devido a falta de créditos no curta de Coffin Souza/DG, não lembro mais os envolvidos na produção (Everson Schütz e DG estão no elenco), mas lembro de comer amendoim com Carli Bortolanza e Elio Copini. Eu não me envolvia muito na parte criativa destes curtas do Núcleo Associado de Vídeo Experimental de Palmitos, até onde lembro fiz os trabalhos de câmera neles. Eram festas… Ops!… filmagens bem divertidas!
Souza dirigindo os efeitos de Carli Bortolanza.
Predadoras foi filmado em apenas um dia de inverno em 2004, sem orçamento nenhum, calcado nas ideias do “Manifesto Canibal” (para assistir o curta MANIFESTO CANIBAL clique no título), que infelizmente está com a tiragem do livro esgotada, aguardando uma segunda edição.
Uma equipe com cara do alcoolismo da produção nacional.
Fui o responsável pela distribuição deste curta mas, na época, ainda estava fazendo os lançamentos em VHS e ninguém mais queria fita VHS, as poucas cópias que preparei encalharam e, então, comecei a lançar os filmes em DVD no ano seguinte (o filme de estreia no formato foi “A Curtição do Avacalho“). Por me concentrar nas produções novas fui deixando este curta de lado e nunca o lancei e, até onde lembro, nunca foi exibido em mostras de filmes undergrounds. Compre os filmes da Canibal Filmes na MONDO CULT.
lembranças de Baiestorf.
Para assistir PREDADORAS clique no título e baixe o filme.
Elio Copini, Carli Bortolanza e um potinho de amendoins.
Assista aqui “Zombi X”, outra produção de Coffin Souza que fiz a distribuição: