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Considerações Sobre o Kanibaru Sinema: Systema para Atores

Posted in Literatura, Livro, Manifesto Canibal with tags , , , , , , , on fevereiro 23, 2012 by canibuk

Não possuir condições de contratar atores profissionais, aqueles chatos-egocêntricos-cheirando-a-sabonete-de-rosas, não é desculpa para conseguir um bom nível de interpretação em suas obras kanibarusinematizadas. Utilize-se do Kanibaru Sinema Systema, que formou amadores-famosos e talentosos como Jorge Timm, Viola, Elio Copini, Ivan Pohl, Ljana Carrion, Lane ABC, Gisele Ferran, Minuano, Marcírio Albuquerque, Kika, Airton Bratz, Gurcius Gewdner, entre dezenas de outros.

A) Não existe ator ou atriz ruim. Existe sim, pessoas escaladas em papéis errados. Vá testando seus amigos, parentes ou vizinhos (freaks) nos mais diversos tipos de papéis (mas faça isso já rodando algum vídeo, para não desperdiçar tempo e fita virgem), os que se destacarem nos quesitos:

– Conseguir fazer diálogos;

– Conseguir fazer mais de uma expressão facial diferente;

– Ter algum talento físico (saber lutar, correr, cair, etc);

– Ter algum atributo físico (peitões moles, bunda disforme, órgão sexual avantajado, etc);

– Disposição para cenas de aberrações (sem efeitos especiais), como comer ratos, contracenar com animais perigosos ou escrotos, banhar-se em excrementos, etc.

Serão escalados para os papéis principais, os outros serão figurantes até aprenderem, por si mesmos, como aparecer.

B) Escale seu elenco já aproveitando os tipos determinados que estão ao seu redor: O gordo brincalhão, o baixinho invocado, a menina sexy, o amigo trapalhão, a amiga alucinada, etc.

C) Bebida à vontade pode ser um bom método de se conseguir atuações mais espontâneas. Evite drogas, a não ser que seja estritamente necessário ou esta seja a temática de sua obra.

D) Procure fazer seus atores sentirem um pouco o que seus personagens devem expressar. Se necessitar de uma pessoa irritada, incomode bastante a sua atriz; água suja com sabão na boca é bom para induzir ao vômito e conseguir uma expressão mais intensa de alguém com uma tendência mais dispersa. Sono, frio e desconforto físico também são ótimos aliados. Programe uma festa no dia das gravações, faça seu elenco beber e se divertir um pouco e depois atravesse a noite trabalhando, aqueles que sobreviverem até a manhã seguinte estarão dentro do método kanibaru.

E) Nunca despreze as sugestões e desejos bizarros de seu elenco freak. Se um dos atores, apesar de sua aparência máscula, diz que quer um personagem feminino, aproveite para colocá-lo no lugar daquela atrizinha que fica irritante quando com TPM. Se aquele outro, notadamente sem destreza física, bolar alguma cena tipo “vou pular por dentro de um círculo de fogo totalmente nu”, arme-se de alguns cuidados para evitar uma tragédia (e um processo) maior e… Filme!!!

F) Se um dos seus atores-amadores mais veteranos começar a se destacar muito e tiver problema com o ego e começar a imitar os nojentinhos profissionais, não o poupe, despreze-o! Coloque-o em papéis menores, sem uma linha de diálogo, ou apenas chame-o para segurar alguma iluminação secundária. No meio anarco-etílico-artístico-ateísta não existe lugar para egos inflamados (fora o seu, diretor/realizador, é claro!).

G) E mais… Se mesmo assim você estiver a milhares de quilômetros de algum ser vivo interessante (leia-se filmável) ou por alguma outra insana razão não houver atores e/ou atrizes à disposição… Isto não é desculpa para não realizar sua obra-prima vagaba. Ora! Faça vídeo-poesia, ou documentários… Faça! Faça! Faça!

escrito por Coffin Souza para o livro “Manifesto Canibal” (editora Achiamé, 2004).

Ilustrado com fotos da produção do filme “A Curtição do Avacalho” (Petter Baiestorf, 2006).