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O Shot-on-Video e o Cinema Independente Brasileiro

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Sempre existiu na história do cinema mundial a figura do cineasta miserável que dava um jeito de inventar seus recursos, independente da quantia de dinheiro disponível. A própria história da mais cara arte do planeta está cheia de exemplos. Ainda nos anos de 1920 pequenos produtores exploravam temas tabus para competir com o cinema feito pelos grandes estúdios. Nesta época era corriqueiro que milionários encomendassem pequenos filmes domésticos à cineastas despudorados que sabiam como ninguém a arte de filmar rápido/barato os assuntos mais polêmicos que não encontravam espaço nos cinemas normais. Na década de 1920 já existia cinema pornô, por exemplo. Un Chien Andalou (Um Cão Andaluz, 1929, Luis Buñuel), outro exemplo, só existe porque independentes o realizaram.

No pós-guerra, na década de 1950, houve uma explosão de produtores independentes, que encontraram uma forma de ganhar dinheiro com filmes de monstros e/ou alienígenas feitos sem grandes recursos e que encontravam público. Tanto público que os grandes estúdios se apropriaram do gênero e faturaram muito dinheiro. Considero-os a principal influência do cinema Shot On Video, o SOV, que surgiu no início dos anos de 1980, principalmente nos USA. E essa influência transou com as influências do cinema underground e deixou tudo mais divertido ainda, porque a grande sacada do SOV foi a de misturar todo tipo de influências e recriar tudo à sua maneira.

Talvez Ray Dennis Steckler seja um dos grandes precursores do cinema caseiro mundial, com filmes como Lemon Groove Kids Meet the Monsters (1965) e Rat Pfink A Boo Boo (1966) que, embora produzidos em 35 mm, tinham todos os elementos de fundo de quintal que os SOVs dos anos de 1980 popularizaram. Mesmo um cineasta autoral, e agora respeitado por sua obra, como John Waters, começou fazendo produções caseiras com ajuda de amigos e familiares, caso de Mondo Trasho (1969) ou Multiple Maniacs (1970), inspirados nos filmes caseiros que artistas como George Kuchar e Jack Smith vinham fazendo no underground americano.

Rat Pfink a Boo Boo

Com distribuidores como Harry H. Novak garantindo espaço para escoar a produção independente, o mercado viu uma verdadeira epidemia de produções baratas surgirem, onde muitas vezes o dinheiro gasto era somente na película virgem e revelação do filme. Doris Wishman, H.G. Lewis, Ted V. Mikels, Al Adamson, entre outros, são exemplos.

Com o declínio dos Drive-In Theaters e grindhouses na década de 1970, e o surgimento de formatos domésticos como Super-8, Beta Tapes, Laser Disc e, talvez, o mais importante deles, a Fita VHS – que permitia uma arte chamativa em suas enormes caixas protetoras – o cinema SOV da década de 1980 começava, timidamente, a perceber suas possibilidades concretas.

Shot-on-Video!!!

Não demorou muito para que a jovem geração, ociosa e bêbada, descobrisse que era possível realizar filmes com câmeras VHS. Inicialmente o formato não havia sido recebido com muito entusiasmo. Sua qualidade de som e imagem deixava muito a desejar e era, geralmente, usada para o registro de aniversários, casamentos, viagens e outras festividades familiares. Mas estes artistas amadores improvisados começaram a provar o valor do VHS, agora pessoas comuns estavam conseguindo produzir seus filmes com a paixão e devoção que somente os fãs possuem. Hollywood não realiza o filme dos seus sonhos? Não tem problema, faça-o você mesmo em VHS, com ajuda de seus amigos tão sem noção quanto você! Teus amigos não te ajudam? Possivelmente você está andando com as pessoas erradas!!!

Nos anos de 1980, nos USA, houve uma explosão de produções Shot on Video, mas um dos únicos destes filmes a conseguir lançamento em um Drive-In de Long Island, NY, foi o longa-metragem Boardinghouse (1983, John Wintergate), seguido de Sledgehammer (1983, David A. Prior) e Black Devil Doll from Hell (1984, Chester Novell Turner). Os três filmes eram produções bem limitadas, mas nada pior do que um freqüentador habitual de Drive-In já não tivesse visto antes, só que produzido em 35 mm.

Com as videolocadoras popularizadas nos anos de 1980, quando qualquer cidadezinha minúscula perdida no meio do nada era bem servida dos clássicos e vagabundagens do cinema, os produtores atentaram para o fato de que não era mais necessário um circuito exibidor formado de cinemas. O filme que provou ser possível chegar à um público gigante através das locadoras foi o SOV Blood Cult (1985, Christopher Lewis), que foi um estrondoso sucesso na locação de vídeo e abriu espaço para outras produções no estilo, como Blood Lake (1987, Tim Boggs) e Cannibal Campout (1988, Jon McBride e Tom Fisher). O sucesso de vendas e locações de Blood Cult se deve ao fato de que criaram uma distribuidora exclusivamente para oferecê-lo às locadoras, com material de divulgação e muita lábia – conseguiram vender como se fosse uma produção profissional. Só que o público não só assistiu, como gostou, se influenciou e também quis se divertir fazendo seus próprios filmes.

Em seguida, o agora clássico, Video Violence (1987, Gary Cohen) foi comprado pela distribuidora Camp Video. Com base em Los Angeles, a Camp Video fez uma ampla divulgação da produção de fundo de quintal – que permanece sendo o filme SOB da década de 1980 com maior venda – e conseguiu colocá-lo em locadoras dos USA inteiro. Video Violence chegou a ser indicado para o prêmio de melhor filme independente no American Film Institute daquele ano. Em tempo: Video Violence é um filme que reflete sobre o assunto “violência é boa, mas o sexo não é”, algo que constatei pessoalmente com 30 anos de produções independentes pela Canibal Filmes, onde nunca fui censurado pelas cenas de violência, mas sim, apenas e unicamente, por cenas de sexo.

A distribuidora Camp Video também foi a responsável por colocar o filme Cannibal Hookers (1987, Donald Farmer) no mapa. E seu faturamento com estes filmes foi o responsável direto pelo interesse da Troma Entertainment  por SOVs, que comprou o filme Redneck Zombies (1989, Pericles Lewnes) e constatou que era muito lucrativo lançar aqueles filminhos amadores, não abandonando-os nunca mais. Aliás, muita gente confunde os filmes distribuídos pela Troma com sua produção própria. Os filmes da Troma não são SOVs, mas inúmeros filmes distribuídos por eles são. Alguns exemplos: O inacreditavelmente ruim Space Zombie Bingo! (1993, George Ormrod); Bugged (1997, Ronald K. Armstrong); Decampitated (1998, Matt Cunningham); Parts of the Family (2003, Léon Paul de Bruyn); Pot Zombies (2005, Justin Powers); Crazy Animal (2007, John Birmingham) e Blood Oath (2007, David Buchert). Outra distribuidora que costuma lançar SOVs é a Severin Films. Fundada em 2006 por David Gregory, já disponibilizou em DVD ou Blu-Ray vagabundagens como Blackenstein (1973, William A. Levey), filmado em 35 mm, mas tão amador quanto qualquer SOV feito em VHS, e clássicos como a trinca Sledgehammer (1983), Things (1989, Andrew Jordan) e The Burning Moon (1992, Olaf Ittenbach).

Sim, as produções SOV são essencialmente de fundo de quintal, feitas por entusiastas se autointitulando cineastas, que conseguem meter seus amigos e familiares no sonho de fazer cinema. Geralmente são produções amadoras desleixadas, desfocadas, com efeitos especiais improvisados, atores canastrões, figurinos inexistentes e roteiros absurdos. Mas é essa combinação que faz com que os filmes funcionem e tenham legiões de fãs ao redor do mundo. Outra particularidade do cinema SOV: São produções locais que ultrapassam fronteiras, ou seja, um filme vagabundo produzido entre amigos num sítio em Palmitos, SC, Brasil, é perfeitamente capaz de dialogar com um entusiasta do SOV que morou a vida inteira num pequeno apartamento em Tokyo, por exemplo.

O blog Camera Viscera, na matéria “Video Violence – 13 Days of Shot on Video!”, faz outra importante observação à respeito dos SOVs: “Eles conseguiram congelar o tempo. O que quero dizer é que os sets que você vê nestes filmes não são cenários construídos, são videolocadoras e mercearias reais. As roupas que você vê não são fantasias, são roupas reais que os atores tinham em seus roupeiros. As ruas, os carros, os locais, são todos reais e intocados, e você consegue vê-los como estavam em seu estado natural em 1987. Essas jóias do “no-budget” dos anos de 1980 capturaram a essência do tempo e isso é um bem inestimável. Eles são como se suas famílias tivessem filmes caseiros dos anos 1980, exceto com mais assassinatos (ou menos, dependendo do tipo de família que você veio).”

Não existe uma produção SOV inaugural. A produção mundial é enorme. A produção em um país como a Nigéria, conhecida como Nollywood e que é considerada a terceira maior indústria cinematográfica em volume de produção – atrás apenas de Hollywood e Bollywood -, é formada quase que exclusivamente de produções SOVs. Então é praticamente impossível catalogar a totalidade dessa produção, ainda mais se levarmos em consideração que muitos títulos lançados nem saem do círculo de amizades dos produtores – países da Europa, Ásia e América Latina também tem uma produção enorme. Tentar catalogar apenas os SOVs produzidos no Japão já seria tarefa impossível, por exemplo.

Nos USA alguns diretores que se destacaram são Todd Sheets – com quem geralmente sou comparado nas reviews da imprensa especializada, e, acreditem, isso não é um elogio! -, Donald Farmer, Tim Ritter, Kevin J. Lindenmuth, Hugh Gallagher e J. R. Bookwalter. Este último, inclusive, teve seu filme em super-8 The Dead Next Door (1989) apadrinhado pelo trio de amigos Sam Raimi, Bruce Campbell e Scott Spiegel.

Na Europa alguns produtores de SOVs que tiveram destaque foram o francês Norbert Georges Mount, com Mad Mutilator (Ogrof, 1983), que tem Howard Vernon no elenco; Trepanator (1992) e o impagável Dinosaur from the Deep (1993), com Jean Rollin no elenco. E os alemães Olaf Ittenbach, que causou sensação com seu The Burning Moon (1992), mas nunca chegou a fazer sucesso como um Peter Jackson, por exemplo; Andreas Schnaas, responsável por uma série de filmes gore exagerados que são fantásticos e inventivos: Violent Shit (1989), Zombie’90: Extreme Pestilence (1991), Goblet of Gore (1996) e Anthropophagous 2000 (1999); e Andreas Bethmannn, criador de Der Todesengel (1998), Dämonenbrut (2000) e Rossa Venezia (2003), este com Jesus Franco e Lina Romay no elenco.

Uma das grandes armadilhas na produção SOV é que dificilmente os diretores/produtores conseguem romper as fronteiras do cinema independente, mas não é impossível. Evil Dead (1981), de Sam Raimi, era essencialmente uma produção SOV, mas foi realizada com tanta garra e empenho que conseguiu colocá-los na mira dos grandes estúdios. Peter Jackson quando realizou seu Bad Taste (1987) estava fazendo um autêntico SOV com amigos – embora filmado em película – e acabou que a produção lhe deu o suporte necessário para se destacar na comissão de cinema da Nova Zelândia e o resto é história. Santiago Segura, hoje um dos mais respeitados cineastas da Espanha por conta de sua série de sucesso Torrente, iniciou-se na produção com curtas feitos em vídeo. Relatos de la Medianoche (1989) e Evilio (1992) são feitos em vídeo. Perturbado (1993), curta bem acabado que realizou de maneira mais profissional, fez com que conseguisse o dinheiro para a produção do primeiro Torrente (1998), que na época de seu lançamento, na Espanha, bateu a bilheteria do Titanic (1997, James Cameron) naquele país.

Bruce Campbell & Sam Raimi em Evil Dead

Pessoas que participaram de produções cinematográficas que se tornaram filmes de culto conseguiram manter suas carreiras atrávez de produções SOV. Talvez o exemplo mais famoso seja o de John A. Russo, conhecido roteirista de The Night of the Living Dead (A Noite dos Mortos Vivos, 1968, George A. Romero), que foi diretor de produções em vídeo como Scream Queens Swimsuit Sensations (1992) ou Saloonatics (2002). Aliás, o clássico de George A. Romero legou ainda outro diretor de SOVs: Bill Hinzman (ator que interpretou o primeiro zumbi que aparece no clássico) que realizou The Majorettes (1987) e FleshEaters (1988), este último uma tranqueira imitação de The Night of the Living Dead, onde Bill repete seu papel de zumbi magrelo sedento por carne humana.

Não só isso. Antigos diretores de cinema dos anos de 1960/1970 só conseguiram manter/retormar suas carreiras após os anos 2000, quando ficaram possibilitados de voltar a produzir seus filmes em vídeo, muitos deles autênticos SOVs. Jesus Franco realizou um punhado de SOVs divertidíssimos, como Vampire Blues (1999), Snakewoman (2005) e o hilário Revenge of the Alligator Ladies (2013), finalizado por seu fiel assistente Antonio Mayans. H.G. Lewis voltou a filmar 30 anos depois de seu último filme de cinema, que havia sido The Gore Gore Girls (1972), com o quase amador Blood Feast 2: All U Can Eat (2002). Ted V. Mikels, diretor dos clássicos The Astro-Zombies (1968) e The Corpse Grinders (1971), passou por algo parecido. Impossibilitado de bancar seus filmes em película, produziu em vídeo mesmo, com ajuda de conhecidos e fãs, The Corpse Grinders 2 (2000) e Mark of the Astro-Zombies (2004), re-encontrando seu espaço na produção SOV do novo milênio, que está cada vez mais parindo filmes extremamente bem produzidos com quase nada de dinheiro.

O verdadeiro cinema independente é o SOV. Nos USA o orçamento médio de um filme chamado de independente é de 30 milhões de dólares, valor absurdamente grande quando comparado aos SOVs produzidos com uma média de 10 mil dólares.

No Brasil o orçamento médio de produções bancadas por editais é entre um e dois milhões de reais, enquanto muitos SOVs de longa-metragem foram feitos com orçamento médio de cinco mil reais, geralmente dinheiro bancado pelo bolso do próprio diretor/produtor. Sempre fiquei na dúvida se ficava orgulhoso ou ofendido, quando meus filmes de cinco mil reais eram comparados com produções de mais de 500 mil reais no orçamento. Acho bastante injusto uma produção minha ser colocada no mesmo patamar de cobranças que um filme de 500 mil reais, mas se fazem a comparação é porque meu filme está dizendo algo, não?

Equipe da Canibal Filmes filmando Criaturas Hediondas (1993)

Aqui ainda houve o agravante de que as produções SOVs surgiram exatamente junto com a moda Trash, que assolou a década de 1990. O SOV brasileiro ganhou força com a cara de pau de minha produtora, Canibal Filmes, que, por ser realizada com orçamentos tão irrisórios, também encaixavam na descrição do Trash. Aí a imprensa oficial, que geralmente é preguiçosa e não vai atrás de informações para apurar os fatos, tratou de difundir essa confusão e o SOV ficou desconhecido aqui, sendo tratado como filmes Trash. Quando estava acabando a moda Trash estes filmes passaram a ser objetos de estudo de um grupo de acadêmicos que passaram a chamá-los de Cinema de Bordas, e perdeu-se a oportunidade de categorizar o SOV Brasileiro na história do cinema amador mundial.

O Monstro Legume do Espaço, filme que produzi em 1995, foi o primeiro título SOV brasileiro a ter uma distribuição em nível nacional, provando que era possível fazer cinema amador e ter público com sua produção feita na vontade e amizade. E, após isso, o cinema Shot on Video nacional finalmente deslanchou.

Guia de SOVs Essenciais

SOVs Essenciais (para entender este peculiar estilo de se fazer cinema):

Elaborei uma lista de Shot on Videos bem básica, que servirá para introduzi-lo na arte do cinema amador (optei por destacar nessa lista básica a produção americana e brasileira). São filmes fáceis de achar na internet, então possíveis de serem assistidos.

Within the Wood (1978) de Sam Raimi. Curta SOV, produzido em super 8, que deu origem ao clássico Evil Dead (1981).

The Long Island Cannibal Massacre (1980) de Nathan Schiff. A história é uma bagunça, mas as cenas de mutilação com serras elétricas são lindas. Super 8.

Boardinghouse (1983) de John Wintergate. Pensão é reaberta após uma carnificina ter acontecido lá. Vídeo.

Sledgehammer (1983) de David A. Prior. Um jovem assassina sua mãe e amante com um martelo. Vários anos depois os assassinatos do martelo reiniciam na mesma área. David também foi diretor do terrível filme profissional amador The Lost Platoon (Pelotão Vampiro, 1990). Vídeo.

Black Devil Doll from Hell (1984) de Chester Novell Turner. Uma mulher compra uma boneca possuída e passa a ter inúmeros problemas hilários. Vídeo.

Blood Cult (1985) de Christopher Lewis. Universitárias são assassinadas e partes de seus corpos são usados em estranhos rituais. Vídeo.

The New York Centerfold Massacre (1985) de Louis Ferriol. Aspirantes à modelo são molestadas e assassinadas misteriosamente. Vídeo.

Black River Monster (1986) de John Duncan. Filme de monstro feito para a família, com um adorável Sasquatch (Pé Grande) feito de uma ridícula fantasia felpuda. Duncan dirigiu ainda o psicótico The Hackers (1988). Vídeo.

Dead Things (1986) de Todd Sheets. Caipiras matam quem se aventura pelo seu bosque. Vídeo.

Gore-Met, Zombie Chef from Hell (1986) de Don Swan. Dono de restaurante mata pessoas para servir aos clientes. Super 8.

Truth or Dare?: A Critical Madness (1986) de Tim Ritter. Após encontrar a esposa na cama com outro homem, o corno passa a matar pessoas participando de dementes jogos da “verdade ou desafio”. Vídeo.

Cannibal Hookers (1987) de Donald Farmer. Como parte de um trote de iniciação para uma irmandade, duas garotas precisam fingir serem prostitutas. Acabam se tornando zumbis que matam as pessoas da vizinhança. Vídeo.

Demon Queen (1987) de Donald Farmer. Uma vampira e suas agitadas tentativas de conseguir sangue. Vídeo.

Tales from the Quadead Zone (1987) de Chester Novell Turner. Fantasmas atormentam um casal. Vídeo.

Video Violence (1987) de Gary Cohen. Casal abre uma videolocadora e percebe que os clientes só levam filmes de horror extremamente violentos, então começam a produzir seus próprios snuff movies. Vídeo.

555 (1988) de Wally Koz. Adolescentes são mortos – das mais variadas e divertidas maneiras – por um psicopata de visual hippie. Foi produzido na época com a pretensão de ser um SOV melhor do que todos os outros que estavam sendo feitos. Vídeo.

Cannibal Campout (1988) de Jon McBride e Tom Fisher. Grupo de jovens em passeio pelo bosque se envolve com trio de psicopatas. Vídeo.

The Dead Next Door (A Morte, 1989) de J. R. Bookwalter. Uma equipe anti-zumbis é formada pelo governo. Bastante cenas gore e produção bem feita. Super 8.

Oversexed Rugsuckers from Mars (1989) de Michael Paul Girard. Aliens tarados estupram mulheres usando aspirador de pó. Muitas drogas e depravações nesta produção que está no limite entre um SOV e um filme profissional. 35mm.

Robot Ninja (1989) de J. R. Bookwalter. Desenhista de HQs se torna um super herói para combater uma gangue de estupradores. Vídeo.

Things (1989) de Andrew Jordan. Marido impotente deseja tanto o nascimento de um filho que precisa lidar com uma ninhada de criaturas que se materializam em sua casa. Vídeo.

Zombie Rampage (1989) de Todd Sheets. Um jovem que está indo encontrar seus amigos acaba cruzando com zumbis, serial killers e gangues homicidas neste clássico do SOV sangrento. Vídeo.

Fertilize the Blaspheming Bombshell! (1990) de Jeff Hathcock. Durante uma viagem, mulher é atormentada por adoradores do diabo. Vídeo.

Gorgasm (1990) de Hugh Gallagher. Garota mata os homens com quem transa. Hugh também foi editor da revista Draculina, dedicada ao cinema SOV americano. Vídeo.

Alien Beasts (1991) de Carl J. Sukenick. Alien caça humanos em assassinatos ultra gores feitos sem dinheiro, nem técnicas. É muito ruim, mas é impossível não vê-lo inteiro. Vídeo.

Nudist Colony of the Dead (1991) de Mark Pirro. Musical envolvendo zumbis numa colônia nudista. Super 8.

A Rede Maldita (1991) de Simião Martiniano. As peripécias de um grupo tentando enterrar uma pessoa. Vídeo.

Science Crazed (1991) de Ron Switzer. Cientista injeta droga experimental em uma mulher que morre ao dar a luz a um monstro já adulto. Vídeo.

O Vagabundo Faixa-Preta (1992) de Simião Martiniano. Kung Fu no sertão de Alagoas. Vídeo.

Criaturas Hediondas (1993) de Petter Baiestorf. Cientista marciano vem à Terra fazer os preparativos para a invasão re-animando alguns cadáveres terráqueos. Vídeo.

Goblin (1993) de Todd Sheets. As diabruras gores de um Goblin que chega até a perfurar os globos oculares das pobres vítimas. Vídeo.

Gorotica (1993) de Hugh Gallagher. Um ladrão morre após engolir uma jóia que havia roubado, então seu parceiro conhece uma necrófila. Vídeo.

Zombie Bloodbath (1993) de Todd Sheets. Um colapso numa usina nuclear transforma as pessoas em zumbis. Vídeo.

Acerto Final (1994) de Antonio Marcos Ferreira. Estrelado por Talício Sirino interpretando um herói em sua cruzada contra as drogas. Vídeo.

Gore Whore (1994) de Hugh Gallagher. Assistente de laboratório rouba uma fórmula que cai em mãos erradas. Vídeo.

Shatter Dead (1994) de Scooter McCrea. Drama muito bem encenado e filmado envolvendo uma mulher que quer chegar à casa de seu namorado num mundo pós-holocausto zumbi. Causou sensação quando foi lançado, mas a carreira de McCrea não decolou. Fez ainda Sixteen Tongues (1999) e foi ator em vários filmes de Kevin j. Lindenmuth. Vídeo.

Vampires and other Stereotypes (1994) de Kevin J. Lindenmuth. Dois “homens de preto” (que não estão usando preto) são encarregados de livrar o planeta dos seres sobrenaturais. Vídeo.

Addicted to Murder (1995) de Kevin J. Lindenmuth. Garoto que mantém amizade com uma vampira está disposto a alimentá-la. Vídeo.

Chuva de Lingüiça (1995) de Acir Kochmanski e Andoza Ferreira. Comédia rural ao estilo de Mazzaropi. Essa produção nacional é hilária e as piadas realmente funcionam. Um dos grandes clássicos do SOV brasileiro. Vídeo.

Creep (1995) de Tim Ritter. Psicopata escapa da prisão e vai pedir ajuda para sua irmã stripper. Vídeo.

Fronteiras sem Destino (1995) de Antonio Marcos Ferreira. Filme de ação eletrizante com Talício Sirino. Vídeo.

O Monstro Legume do Espaço (1995) de Petter Baiestorf. Alienígena constituído de tecido vegetal escapa de sua prisão e aniquila os humanos que cruzam seu caminho. Teve uma continuação em 2006, bastante inferior ao original. Vídeo.

Red Lips (1995) de Donal Farmer. Garota que doa sangue para conseguir dinheiro vira cobaia de um médico. Michelle Bauer e Ghetty Chasun estão no elenco. Vídeo.

Space Freaks from Planet Mutoid (1995) de Dionysius Zervos. Alienígenas convivem com terráqueos. Vídeo.

Blerghhh!!! (1996) de Petter Baiestorf. Grupo de terroristas não consegue se livrar de um zumbi. SOV com efeitos mecânicos e muito gore. Vídeo.

Feeders (1996) de Jon McBride, John Polonia e Mark Polonia. Aliens vem ao planeta Terra para um banquete de vísceras, atacando jovens do interior dos USA. Ótimos efeitos especiais, atores canastrões e aliens – feitos ao estilo de fantoches – que funcionam. Teve uma continuação em 1998. Vídeo.

Colony Mutation (1996) de Tom Berna. Casal vai para uma colônia de mutantes. Vídeo.

Eles Comem Sua Carne (They Eat Your Flesh, 1996) de Petter Baiestorf. Comunidade de canibais se alimenta de fiscais da prefeitura que teimam em ir cobrar o IPTU. Por anos foi o filme mais sangrento já produzido no Brasil. Vídeo.

The Bloody Ape (1997) de Keith J. Crocker. Baseado no conto “Assassinatos da Rua Morgue”, de Edgar Allan Poe. Super 8.

Fatman & Robada (1997) de Rogério Baldino. Pastiche sátira com Batman & Robin. No ano de seu lançamento foi o SOV brasileiro de melhor produção. Cult-movie. Vídeo.

The Necro Files (1997) de Matt Jaissle. Estuprador canibal volta do túmulo como um zumbi alucinado. Vídeo.

Shuín – O Grande Dragão Rosa (1997) de Cristiano Zambiasi. Gordinho lutador de kung fu entra num campeonato de artes marciais para descobrir quem está contrabandeando sorvete seco. Vídeo.

Gore Gore Gays (1998) de Petter Baiestorf. Casal de gays tenta deixar de ser gays e realiza brutais atos de violência e depravações sexuais. Vídeo.

Night of the Clown (1998) de Todd Jason Cook (sob pseudônimo de Vladimir Theobold). Milionário que quer vender sua empresa se torna alvo de um assassino. Vídeo.

Road SM (1998) de José Salles. Estranha relação sadomasoquista entre um grupo de pessoas. Vídeo.

They All Must Die! (1998) de Sean Weathers. Três bandidos torturam uma mulher. A capinha de seu lançamento vem com todos aqueles avisos do estilo “Proibido por 13 anos!”, “Cuidado!”, “Agora sem cortes!”, ou seja, pode assistir que é vagabundagem certa. Vídeo.

Dominium (1999) de Cleiner Micceno. Zumbis mongolóides atacam Sorocaba. Vídeo.

Zombio (1999) de Petter Baiestorf. Sacerdotiza Vudú reanima cadáveres. O primeiro filme de zumbis autenticamente nacional. Filmado em 1998, lançado em 1999. Vídeo.

Blood Red Planet (2000) de Jon McBride, Mark Polonia e John Polonia. Impagável sci-fi com maquetes muito bem elaboradas. A história é sobre um planetóide em direção ao planeta Terra. Vídeo.

Boni Coveiro: O Mensageiro das Trevas (2000) de Boni Coveiro. Ser satânico ataca escoteiros numa floresta. Vídeo.

Edmund Kemper – La Mort de Ma Vie (2001) de Laurent Tissier e Fred Quantin. O psicopata Kemper em sua jornada macabra. Petter Baiestorf faz participação especial em Edmund Kemper Part 4 – La Mort Vengeresse (2018, Laurent Tissier). Vídeo.

Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado (2001) de Felipe M. Guerra. Jovens que só estão a fim de festa se deparam com um atrapalhado psicopata. Vídeo.

Raiva (Rage-O-Rama, 2001) de Petter Baiestorf. Trio de ladrões rouba uma coleção das revistas Spektro e acaba numa vila de pessoas raivosas. Com cenas de carro explodindo. Vídeo.

Attack of the Cockface Killer (2002) de Jason Matherne. Serial killer com uma máscara de pinto mata de todas as maneiras possíveis as pessoas que encontra pelo caminho, incluindo com consolos improvisados de armas. Vídeo.

Rubão – O Canibal (2002) de Fernando Rick. As aventuras gore de uma família canibal. Vídeo.

Feto Morto (2003) de Fernando Rick. Por conta de uma relação incestuosa um rapaz tem um feto em sua cabeça. É o primeiro SOV nacional a ser lançado em DVD. Vídeo.

The Low Budget Time Machine (2003) de Kathe Duba-Barnett. Viajantes do tempo vão para o futuro e encontram mutantes. Vídeo.

Quadrantes (2004) de Cesar Souza. Um viajante dimensional experimenta os prazeres de vários quadrantes. Vídeo.

Eyes of the Chameleon (2005) de Ron Atkins. Serial killer ataca em Las Vegas. Vídeo.

The Stink of Flesh (2005) de Scott Phillips. Zumbis fedorentos tentando comer algumas pessoas. Boa produção. Vídeo.

Canibais & Solidão (2006) de Felipe M. Guerra. Jovens tentando perder a virgindade se metem em confusões envolvendo canibalismo. Ou não. A modelo Edna Costa está no elenco. Vídeo.

O Homem sem Lei (2006) de Seu Manoelzinho. Western capixaba remake da produção homônima de 2003. Vídeo.

Minha Esposa é um Zumbi (2006) de Joel Caetano. Ótima comédia sobre um funcionário dos laboratórios Z que transforma sua esposa em zumbi. Vídeo.

Sandman (2006) de A. Normale Jef. Uma aventura com o Mal. Vídeo.

Telecinesia (2006) de Danilo Morales. Garota que tem poder mental ajuda a policia na investigação de um desaparecimento. Vídeo.

Arrombada – Vou Mijar na Porra do seu Túmulo!!! (2007) de Petter Baiestorf. Ricaços se aproveitam de suas posições de poder para comprar pessoas e barbarizar em orgias sexuais. Ljana Carrion no elenco. Vídeo.

Mamilos em Chamas (2007) de Gurcius Gewdner. Uma história de amor encenada com fantoches feitas de coelhos mortos. Vídeo.

Rambú III – O Rapto do Jaraqui Dourado (2007) de Manoel Freitas, Júnior Castro e Adilamar Halley. Aldenir Coti, o Rambo brasileiro, é a estrela nessa produção de ação ambientada na Amazônia. Vídeo.

Satan’s Cannibal Holocaust (2007) de Jim Wayer. Jovem jornalista se envolve num culto canibal para satã. Vídeo.

Mangue Negro (2008) de Rodrigo Aragão. Zumbis atacam no mangue. Produção que se encontra no tênue limite entre SOV e filme profissional, tendo representado um ganho em qualidade ao cinema independente brasileiro. Os filmes seguintes de Aragão não são SOVs. Vídeo.

Synchronicity (2008) de Brian Hirschbine. Homem acorda coberto de sangue e não se lembra do que fez. Vídeo.

Vadias do Sexo Sangrento (2008) de Petter Baiestorf. Casal de lésbicas cruza os domínios de Esquisito, um psicopata que foi estuprado por 48 Padres quando criança. Ljana Carrion e Lane ABC no elenco. Vídeo.

Black Ice (2009) de Brian Hirschbine. Um conto de fantasia, sexo e assassinatos. Vídeo.

No Rastro da Gangue (2009) de José Sawlo. Mestre do Kung Fu baiano luta contra um bando de traficantes. Pancadarias ao estilo Jackie Chan. Vídeo.

Atomic Brain Invasion (2010) de Richard Griffin. Estranhas criaturas alienígenas atacam pequena cidadezinha do interior americano. Um exemplo perfeito de como os SOVs de hoje evoluíram e estão com uma qualidade fantástica. Griffin está construindo uma carreira de respeito, com ótimos filmes. Também é dele Splatter Disco (2007). Vídeo.

Birdemic: Shock and Terror (2010) de James Nguyen. Pássaros se rebelam contra a humanidade. A produção virou cult por ser tão ruim. Vídeo.

El Monstro del Mar! (2010) de Stuart Simpson. Três assassinas enfrentam um monstro marinho. Outro exemplo de SOV muito bem produzido. Vídeo.

Nasty Nancy (2010) de Sandi Mance. Numa escola onde os professores resolvem tudo com sexo, uma estudiosa aluna se vinga, violentamente, de uma nota baixa. Produção fantástica. Recomendo! Vídeo.

O Tormento de Mathias (2011) de Sandro Debiazzi. As confusões num hospício muito louco. Joel Caetano e Felipe M. Guerra estão no elenco. Vídeo.

Confinópolis (2012) de Raphael Araújo. Sci-fi com ótimo aproveitamento de cenários. Um ditador oprime o povo. Vídeo.

Rat Scratch Fever (2012) de Jeff Leroy. Ratos gigantes do espaço atacam Los Angeles. Com efeitos especiais fuleiros é diversão garantida. Vídeo.

Breeding Farm (2013) de Cody Knotts. Após uma noitada de festa quatro amigos acordam presos num porão, onde estranho homem tem uma fazenda humana. Vídeo.

Hi-8 (Horror Independent 8) (2013) de Ron Bonk, Donald Farmer, Marcus Koch, Tony Masiello, Tim Ritter, Chris Seaver, Todd Sheets e Brad Sykes. Longa em episódios que reúne alguns dos nomes de maior destaque na história das produções americanas de Shot on Video.

Sinister Visions (2013) de Henric Brandt, Doug Gehl, Andreas Rylander e Kim Sonderholm. Longa em episódios com trabalhos dos USA, Inglaterra, Suécia e Dinamarca. Vídeo.

Gore Short Films Anthology Part 2 (2015) de Jeff Grienier, Rob Ceus, Sam Bickle, Jim Roberts, Colin Case, Alexander Sharglaznov, Fuchi Fuchsberger, Petter Baiestorf e Esa Jussila. Coletânea de curtas com representantes do SOV mundial atual organizada por Yan Kaos para lançamento em DVD no Canadá. São curtas do Canadá, Bélgica, USA, Russia, Alemanha, Brasil e Finlândia. 2000 Anos Para Isso? (1996) é o curta representante do Brasil.

Zombio 2: Chimarrão Zombies (2013) de Petter Baiestorf. Em um holocausto zumbi os humanos são o maior problema de todos. Miyuki Tachibana e Raíssa Vitral no elenco. Vídeo.

13 Histórias Estranhas (2015) de Fernando Mantelli, Ricardo Ghiorzi, Claudia Borba, Petter Baiestorf, Marcio Toson, Cesar Souza, Taísa Ennes Marques, Rafael Duarte, Gustavo Fogaça, Renato Souza, Léo Dias, Paulo Biscaia Filho, Felipe M. Guerra, Filipe Ferreira e Cristian Verardi. Longa em episódios que reúne alguns dos principais nomes do SOV brasileiro. Vídeo.

Pazúcus – A Ilha do Desarrego (2017) de Gurcius Gewdner. Casal de lunáticos enfrenta a mãe natureza com seus cocôs mafiosos. Vídeo.

Termitator (2017) de Roxane De Koninck, Camille Monette e Keenan Poloncsak. Um mutante extermina jovens que vão passar alguns dias em cabana na floresta. Vídeo.

Astaroth (2017) de Larissa Anzoategui. A demônia Astaroth se envolve com tatuadores e rockistas para cooptar almas humanas. Vídeo.

O Mito do Silva (2018) de Fabiano Soares. Ótima produção política lançada às vésperas da eleição presidencial de 2018. Aqui Soares alerta para o crescimento do fascismo no Brasil. Vídeo.

Contos da Morte 2 (2018) de Vinicius Santos, Ana Rosenrot, Cíntia Dutra, Danilo Morales, Diego Camelo, Janderson Rodrigues, Larissa Anzoategui e Lula Magalhães. Antologia com vários episódios de horror, reunindo alguns dos principais diretores do novo SOV brasileiro. Vídeo.

Escrito por Petter Baiestorf.

Primeiros Trabalhos

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A internet me permitiu ter uma experiência única: consegui encontrar inúmeros trabalhos iniciantes de diretores que viraram grandes lendas do cinema mundial e realizei uma maratona com o intuito de estudar estes filmes. São filmes feitos quando eram crianças, ou filmes de faculdade, ou, em alguns casos, seus primeiros trabalhos profissionais (ou filmes nunca comentados nem por seus mais entusiasmados fãs, caso de alguns que selecionei aqui do David Cronenberg e o último filme de Russ Meyer, por exemplo). Não estou postando crítica sobre estes trabalhos, são apenas observações que quero compartilhar com os leitores do blog (e já pedir desculpas por ter abandonado o blog por tanto tempo, mas realmente não estou encontrando tempo livre para me dedicar do jeito que deve ser). Também posto aqui alguns links com os filmes para um conferida e ao final da lista, também, meu curta inicial, Detritos (realizei em vídeo em 1995).

00- Secret Weapons

Secret Weapons (1972/21’/Canada) de David Cronenberg. É um episódio da série de TV Programme X onde ficamos sabendo que em 1977 a América está vivendo uma Guerra Civil e um cientista cria uma droga que aumenta as habilidades de lutar dos soldados (e com isso a vontade de matar). Mas não espere cenas de luta, é um filme de bastidores da guerra, remetendo a resistência na Segunda Guerra Mundial (gangues de motociclistas são os rebeldes nessa guerra civil). Com uma linda abertura, este curta já dava apontamentos de que rumo a carreira de Cronenberg iria seguir. Os cenários são bem bacanas, remetendo à escombros, fábricas velhas com decorações feitas de fios elétricos e adereços indústrias. Recomendo.

 

1- Boy and Bicycle

Boy and Bicycle (1965/26’/Inglaterra) de Ridley Scott. Com: Tony Scott. Filme bem agradável. Todo feito com câmera na mão e usando os recursos disponíveis para não se gastar dinheiro (que possivelmente estava reservado pra rolos de filmes virgens, revelação e outros detalhes técnicos), assim a estrela do curta é Tony, irmão de Ridley Scott (e que depois se tornou cineasta de sucessos comerciais também), e os cenários são a cidade onde moram, seus prédios, suas praias, etc. É um filme pobre, mas visualmente bonito, já revelando um cineasta mais preocupado com o impacto das imagens do que com uma boa história.

2- Xenogenesis

Xenogenesis (1978/12’/USA) de James Cameron. Sci-fi de baixo orçamento já tentando ser uma produção grandiosa, com muitos efeitos, robôs gigantescos, máquinas (tem uma que remete as máquinas usadas no Aliens – O Resgate) e produção que não fica devendo em nada  para os filmes do Roger Corman da época. A história é bem simplória, até porque fiquei com a impressão de que era um curta só pra mostrar os efeitos especiais. Recomendo.

3- From the Drain

From the Drain (1967/13’/Canada) de David Cronenberg. Um Cronenberg embrionário, aparentemente feito sem dinheiro algum (é um dos curtas que ele realizou na faculdade). Bem amador, com atores bem limitados conversando dentro de uma banheira. É pra ser sério, mas fica parecendo uma sketch sem graça do Monty Python.

4- The Big Shave

The Big Shave (1967/5’/USA) de Martin Scorsese. Depois do filme de banheiro de Cronenberg, vamos para o filme de banheiro do Scorsese (até acho que dava pra lançar um DVD só com curtas filmado dentro de banheiros). Mas aqui a trilha sonora já dá o tom do humor ítalo americano, o que lhe confere um sabor de pastiche a la George Kuchar. Scorsese realizou um curta gore sobre o ato de se barbear. The Big Shave tem um senso de humor bizarro, culminando (literalmente) num banho de sangue. Recomendo.

5- The Heisters

The Heisters (1964/10’/USA) de Tobe Hooper. “Este cinema anuncia que a próxima atração é ridícula”, é assim que inicia este curtinha fantástico. Tobe Hooper sempre teve um senso de humor ótimo. Visualmente apurado, edição dinâmica e ritmo frenético, The Heisters é muito, mas muito idiota. 10 anos antes de filmar The Texas Chainsaw Massacre, seu grande clássico, Hooper já se revelava um cineasta com grande domínio narrativo. The Heisters é macabro, e para nossa sorte, adoravelmente idiota, uma espécie de cruza entre a Família Addams e os desenhos animados do Chuck Jones. Foi uma pena que Tobe Hooper não tenha feito mais comédias. O curta é editado, escrito, produzido e dirigido por Hooper. Recomendo.

6- Firelight

Firelight (1964/4’/USA) de Steven Spielberg. São os 03’:48” que “sobreviveram” deste curta juvenil de Spielberg que já trazia muitos efeitos especiais. Feito quando Spielberg tinha entre 15 e 16 anos, Firelight pode ser considerado o embrião de Contatos Imediatos do Terceiro Grau. É bem amador, feito em super 8 com ajuda dos amigos, mas vale pela curiosidade (e por já trazer todos os elementos que, depois, Spielberg amadureceu de modo espetacular).

7- Electronic Labyrinth thx 1138 4eb

Electronic Labyrinth THX 1138 4EB (1967/15’/USA) de George Lucas. Com este curta Lucas estava treinando para seu grande clássico (na minha opinião) THX 1138. No curta Lucas ainda não contava com um visual tão apurado quanto o longa teve, mas demonstrava ser um cineasta bastante maduro e com ambições. O curta todo é a perseguição ao cidadão 1138 (interpretado por Dan Natchsheim, também editor do curta). Recomendo.

8- The Sun Was Setting

The Sun Was Setting (1951/13’/USA) de Edward D. Wood Jr. Essa incursão de Wood ao fabuloso mundo dos curtas-metragens é um drama sério e com tudo bem correto, de interpretações a cenários (não amigos, aqui eles não balançam), por isso nunca foi celebrado pelos fãs de trasheiras. Aliás, este curta tem co-direção de um tal de Ben Brody, então sabe-se lá o quanto este cara não tenha interferido para que o curta ficasse correto e dentro dos padrões do cinema profissional da década de 1950.

9- Dorothy the Kansas City Pothead

Dorothy – The Kansas City Pothead (1968/1’/USA) de John Waters. São os 01’:15” que “sobreviveram” deste curta juvenil de Waters. Pat Moran (habitué nos filmes do Waters, é produtora dos filmes mais profissionais do Waters, como Hairspray, Cry-Baby e outros) faz o papel de Dorothy e George Figgs (figurante em vários filmes de Waters) faz o papel do Espantalho. É um curta bem amador (até para os moldes do John Waters) e não tem nenhuma bizarrice neste pouco mais de um minuto que restou do curta. Odeio quando um trabalho, por mais medíocre que seja, se perde.

10- Murder1

Murder! (1967/4’/USA) de Don Dohler. Não dá pra procurar por material inédito do cineasta número 1 de Baltimore e deixar de lado o cineasta número 2. Baltimore precisa ser estudada, deve ter algo na água de lá. Então já tratei de achar, também, curtas do Don Dohler que é um gênio das produções de sci-fi de baixo orçamento e neste curta (onde ele também dá as caras de ator) temos ele em grande forma. O roteiro é um primor do estilo EC Comics, Don coloca veneno no copo d’água de sua esposa Pam e quando vai tomar banho é assassinado a facadas por ela que, após a matança, bebe água envenenada. Dohler é ótimo! Recomendo.

11- Woton's Wake

Woton’s Wake (1962/27’/USA) de Brian de Palma. É uma produção crua e deficiente que acompanha um louco assassinando algumas pessoas. O curta tem um clima de farsa, ótimos momentos de humor nonsense típicos da década de 1960 e é o embrião do Fantasma do Paraíso que De Palma desenvolveu anos mais tarde (William Finley, que faz o Fantasma, é o Woton, personagem principal deste curta). Também tem um clima de cinema expressionista, o que não o impede de ter cenas de “torta na cara”, a exemplo do The Heisters do Hooper (na década de 1960 torta na cara ainda arrancava gargalhadas da audiência). E para finalizar, Woton’s Wake ainda tem uma deitação com O Sétimo Selo do Bergman e outra zoeira com o King Kong (os aviõezinhos de papel são muito retardados). É bem amador, mas cheio daquela energia maravilhosa que os jovens cineastas possuem.  Recomendo.

http://fr.fulltv.tv/woton-s-wake.html

12- The Girl Who Returned

The Girl Who Returned (1969/62’/USA) de Lloyd Kaufman. Um Kaufman com uma narração que lembra os filmes do John Waters, mas que no decorrer da projeção vai ficando estranho, até meio sério e artístico demais (levando-se em conta todas as grosserias que Lloyd fez depois). Gostei muito da maneira que Lloyd editou o som do filme, que lhe conferiu um tom de deboche. Não é trash, não é cinema de arte, não é experimental, Lloyd ainda não fazia idéia de que tipo de cineasta era, por isso The Girl Who Returned tem um pouquinho de cada um destes estilos, o que lhe confere um ar de peça única. O filme possuí ótimos momentos de monguices, mas aviso:  não é um filme para os fãs do Lloyd Kaufman da Troma, principalmente após Stuck on You! e The Toxic Avenger, onde ele descobriu a fórmula do sucesso. É ruim, mas é bom!

13- The Diane Linkletter Story

The Diane Linkletter Story (1969/10’/USA) de John Waters. Revisão. É um curta bem tosco e sem cuidados técnicos (como são todos os filmes da fase inicial de Waters – seu primeiro filme mais profissional foi o Desperate Living), mas extremamente divertido. Richard Kern copiou a idéia, anos depois, no seu curta You Killed me First (1985). Este curta do Waters também tenho em VHS, anos atrás saiu numa edição canadense, e a cópia VHS está melhor do que este arquivo que baixei agora. No elenco de The Diane Linkletter Story, além de Divine, está todo o resto da gang de delinqüentes do Waters, como David Lochary e Mary Vivian Pearce. Uma pena que este seja o único curta completo de Waters, os outros estão perdidos.Este curta foi realizado após o longa Mondo Trasho. Recomendo.

14- The Power

The Power (1968/7’/USA) de Don Dohler. Super 8. Dohler fez seu Scanners adolescente alguns anos do Cronenberg. Tá, tudo bem, não tem nada haver um com o outro. Aqui, após descobrir seus poderes mentais, um adolescente fica aprontando os diabos, até que materializa o próprio (a caracterização do diabo de Dohler é muito teatrinho escolar) e, como não consegue mais desfazer a confusão, danou-se.

Sponsor Card – Television Commercial (1953/4’/USA) de Edward D. Wood Jr. Ed Wood era pau pra toda obra. Aqui uma série de comerciais que realizou para o Sponsor Card. Um destes comerciais, “Magic Man”, é bem divertido, revelando os talentos de Wood para a comédia. Achei estes comerciais enquanto procurava pelo curta Boots (1953), um dos poucos de Wood que ainda não consegui ver. No início da carreira Ed Wood era bem eficiente, mas logo em seguida algo deu errado (ou, pra nossa sorte, “certo”) e todas suas produções passaram a ser muito vagabundas.

https://archive.org/details/edwoodtvads

16- Six Men Getting Sick

Six Men Getting Sick (1966/4’/Canada) de David Lynch. Revisão. É uma boa animação experimental de Lynch, com toques escatológicos. Prefiro a fase antiga de Lynch, quando ele era um cineasta mais estranho e interessante. Depois do O Homem Elefante perdi o interesse pela obra dele.

17- Amblin

Amblin (1968/25’/USA) de Steven Spielberg. Este curta é a primeira experiência profissional de Spielberg, já mais amadurecido, revelando uma narrativa cheia de elementos reutilizados depois em Encurralado. É legal ver um Spielberg com erro descarado de continuidade (num momento a mocinha está de chapéu, no take seguinte aparece sem chapéu, para logo em seguida estar novamente de chapéu), grandes diretores da indústria cinematográfica já foram humanos. Em sintonia com a década de 1960, a trilha sonora é uma delícia (não, não é do John Williams) e Spielberg até mostra os jovens protagonistas fumando maconha, nada mal pro cineasta família. Amblin tem uma história bem positiva, carregada de um senso de humor bem leve e simpático. É um romance bem bobinho e inocente que cativa, vale a pena conhecer.

18- Herakles

Herakles (1962/9’/Alemanha) de Werner Herzog. Neste curta temos o Herzog em estado bruto se exercitando num mundo em ruínas (que está se decompondo) enquanto homens cultuam seus físicos, suas aparências. Essas cenas de culto ao corpo são editadas alternadamente com cenas de acidentes reais e Herzog, que sempre teve a mão meio pesada, não tem o pudor de cortar a exposição das vítimas (até porque, creio, quisesse chocar ou chamar atenção da audiência para seu curta). É um curta bem interessante.

19- Antonijevo Razbijeno Ogledalo

Antonijevo Razbijeno Ogledalo (1957/11’/Iugoslávia) de Dusan Makavejev. 16mm, sem som. Ainda discreto na escatologia, Makavejev realizou um curta onde a realidade e fantasia se misturam, para contar a história do romance do maluco da cidade e uma manequim exposta numa vitrine. Não é maravilhoso, mas é o início da obra do cineasta que relegou ao mundo clássicos como Sweet Movie e o genial Montenegro.

20- Geometria

Geometria (1987/9’/México) de Guillermo Del Toro. Moleque que não quer reprovar em geometria invoca um demônio e faz dois pedidos: que seu pai volte dos mortos e para passar nas provas de geometria do colégio. Não é amador, mas também ainda não revela o amadurecimento que Del Toro esbanjava no Cronos, seu longa de estreia. Tem demônio, tem zumbi, tem humor cretino (o final do curta é muito bom, com o demônio dando uma importante lição de geometria no garoto), ou seja, vale uma conferida ainda hoje.

21- Attack of the Helping Hand

Attack of the Helping Hand! (1979/5’/USA) de Scott Spiegel. Com: Sam Raimi (no papel do leiteiro). Fotografia de Bruce Campbell e Sam Raimi. Uma “mão amiga” sorridente e feliz ataca uma mulher nesta produção em super 8 da turma do Raimi-Campbell. Imagino que foi deste curta que Raimi tirou toda a ideia para a mão decepada de Evil Dead 2, já está toda a situação presente (de maneira bem amadora) neste curta. Aliás, Raimi está muito bem na ponta como o leiteiro imbecil e tem uma morte dignamente canastrona.

22- Bedhead

Bedhead (1991/9’/México) de Robert Rodrigues. Estrelado pela família Rodrigues: Rebecca Rodrigues, David Rodrigues (também co-autor do roteiro), Mari Carmen Rodrigues e Elizabeth Rodrigues. A animação que dá origem aos créditos iniciais é ótima, revelando toda a energia que Rodrigues sempre demonstra ao realizar um filme. De ritmo frenético (várias ideias ele viria a reaproveitar logo em seguida no El Mariachi), este curta amador estrelado por crianças é um exercício de montagem e estilo.

23- Die Ungenierten Kommen

Die Ungenierten Kommen – What Happened to Magdalena June? (1983/13’/Alemanha) de Cristoph Schlingensief. É uma produção feita no tempo em que estava na faculdade, mas que já revela um Schlingensief tentando ser histérico, buscando um jeito de despejar inúmeras informações a cada frame projetado. Ainda não estava conseguindo aquele ritmo perfeito que conseguiu em filmes posteriores (como no clássico United Trash de 1995), mas o experimentador, o inventor, o abusado Schlingensief já está aqui sem medo de experimentar. É errando que se acerta. Em tempo: conta a história de uma garota que pode voar.

24- Ubiytsy

Ubiytsy (1956/21’/Russia) de Andrei Tarkovsky. The Killers é o primeiro filme de Tarkovsky, foi feito quando estava na faculdade e, por conta da faculdade não ter equipamento para todos os alunos, teve co-direção de Alexander Gordon e Marika Beiku. Recomendo que você pesquise aí a história do filme que é bacana. O que posso dizer? Tarkovsky já nasceu maduro e este seu primeiro trabalho já tem um domínio de linguagem que só evoluiu com o passar dos anos. Recomendo.

25- Love Letter to Edie

Love Letter to Edie (1975/4’/USA) de Robert Maier. Com: Edith Massey.  Edie é uma mulher adorável e este é um curta-documentário sobre ela. Aqui ela se apresenta como atriz dos filmes de John Waters, seguido de um número de dança numa casa noturna e, em cenas simuladas, sofre com o preconceito de peruas frescas. Edith Massey foi uma mulher extremamente interessante, além dos filmes de Waters, também foi vocalista da banda punk Edie and the Eggs. Só consegui, por enquanto, essa versão de 4 minutos (o curta tem uma duração maior). Recomendo.

26- Nicky's Film

Nicky’s Film (1971/6’/USA) de Abel Ferrara. Primeiro curta de Ferrara, bem amador, mas que serviu pra ele conseguir dirigir seu primeiro longa, o pornô 9 Lives of a Wet Pussy, do qual gosto bastante. Este arquivo que encontrei para assistir está sem o som, o que prejudica bastante o prazer de ver este filme.

27- Parada

Parada (1962/10’/Iugoslávia) de Dusan Makavejev. Neste curta Makavejev mostra os preparativos pro desfile de primeiro de maio. É quase um documentário daquele dia. Vi porque vejo tudo.

28- Crossroad Avenger

Crossroad Avenger: The Adventures of the Tucson Kid (1953/24’/USA) de Edward D. Wood Jr. Aqui as coisas começaram a dar errado para Ed Wood. Tucson Kid é um western que parece ter sido filmado numa região rural dos Estados Unidos dos anos de 1950. Esperem! Tucson Kid é realmente um western bagunçado filmado na década de 1950, onde nada parece funcionar direito. Exemplo: As construções nos cenários remetem diretamente há um tempo após o western americano ter acontecido. Obrigatório (mas não esperem tantas asneiras quanto no Plan 9, lógico).

https://archive.org/details/crossroadsavengeredwood

29- My Best Fried's Birthday

My Best Fried’s Birthday (1987/36’/USA) de Quentin Tarantino. Este trabalho inicial, amador, de Tarantino já traz seus diálogos metidos a “cool”, mas o bando de atores ruins destrói com todas as possibilidades de se funcionar (quem se sai melhor é o próprio Tarantino, que também está no elenco). A fotografia, a edição, locações, cenários e figurinos não funcionam, o próprio roteiro é bem ruinzinho. Não é uma produção inventiva, mas também não é de todo desprezível (ainda mais porque lá pela metade em diante tudo fica mais dinâmico e funciona bem melhor). Curioso.

30- rozbijemy zabawe

Rozbijemy Zabawe (1957/7’/Polônia) de Roman Polanski. Uma festa de arromba é invadida por penetras e tudo termina numa grande briga. Polanski já tinha um grande domínio técnico em seus curtas iniciais (pelo menos gostei de todos que já vi). Recomendo.

31- Spatiodynamisme

Spatiodynamisme (1958/6’/Itália) de Tinto Brass. Antes de se tornar uma lenda mundial do cinema erótico, Tinto Brass pertencia ao movimento contra cultural italiano. Spatiodynamisme pertence, ainda, a outra fase que Brass teve em sua carreira, é experimental radical, quase numa linha Stan Brakhage. Aqui ele experimenta com formas e espaços. Não rola explicar aqui, assista pra compreender. Recomendo.

32- Spectator

Spectator (1970/10’/Holanda) de Frans Zwartjes. Não conheço nada do cinema de Zwartjes e vou começar a colocar em dia essa deficiência. Este curta é uma experimentação sobre voyeurismo e o desejo carnal. Achei curioso.

33- The Lift

The Lift (1972/7’/USA) de Robert Zemeckis. É o primeiro curta de estudante de Zemeckis que sempre foi um diretor com grande apuro técnico. A história tem uma pegada de humor negro bem bacana. Simples e eficiente.

34- Story Time

Story Time (1968/8’/Inglaterra) de Terry Gilliam. As animações de Gilliam sempre são fantásticas e aqui ele conta a história de uma barata, ou seja, pode assistir que não tem erro. Mas claro que a história pode não ser essa. Ou não. E agora, para algo completamente diferente!

35- Thanatopsis

Thanatopsis (1962/5’/USA) de Ed Emshwiller. Ed é um experimentador em busca de novas sensações para o espectador. Gostei bastante de Thanatopsis. Assista porque não há o que descrever, tua sensação não será minha sensação.

36- O Colírio de Corman

O Colírio do Corman (2017/19’/Brasil) de Ivan Cardoso. Poesia concreta estrelada por Roger Corman, Glauber Rocha, José Mojica Marins, Hélio Oiticica e Ivan Cardoso numa animação feita com riscos de estiletes diretamente na película. Ivan Cardoso é genial e este projeto é fantástico. Não sei que duração este filme terá ao final, essa parte que vi é a inicial do filme que, também, não sei quando ficará pronto e, se, será lançado. Brasil é pequeno demais pra arte do Ivan Cardoso. Recomendo.

37- Torro Torro Torro

Torro, Torro, Torro! (1981/7’/USA) de Josh Becker e Scott Spiegel. É uma comédia bem inventiva com piadas inocentes, bem naquele clima positivo dos vídeos caseiro de Raimi-Spiegel, embora este não seja mais uma produção amadora. Com edição ágil, Torro conta a história de um cortador de grama que apronta as mais altas confusões numa vizinhança do barulho. Tem torta na cara, como não? A produção é de Bruce Campbell. E no elenco dá as caras Scott Spiegel, Bruce Campbell, Ted Raimi, Robert Tapert (produtor do Evil Dead), Josh Becker e Pam Becker. Recomendo.

38- Cigarettes and Coffee

Cigarettes and Coffee (1993/23’?USA) de Paul Thomas Anderson. Dramalhão indie típico da década de 1990, com a parte técnica bem feita, mas aquela chatice de bestas intermináveis. Bem chatinho.

39- Flying Padre

Flying Padre (1951/8’/USA) de Stanley Kubrick. Revisão. Ainda não perfeito, mas profissional, Kubrick fez este dinâmico pequeno documentário sobre as aventuras de um padre voador. Com a narração típica da época o filme acabou ganhando um tom de deboche (não sei se foi proposital, acredito que é coisa da minha cabeça pervertida).

40- Foutaises

Foutaises (1989/7’/França) de Jean Pierre Jeunet. Já com produção profissional, este Foutaises tem vários elementos que, depois, Jeunet reutilizou em longas como Delicatessen e Amélie Poulain. Este curta tem uma decupagem fantástica, texto ótimo e edição bem feita. E Dominique Pinon está no elenco. Recomendo.

41- Phantasus Muss Anders Werden

Phantasus Muss Anders Werden (1983/9’/Alemanha) de Christoph Schlingensief. Como o “alemão da ópera” era hiperativo, este é outro de seus filmes da época de estudante. Inclusive neste filme ele aparece gritando, vestido com uma ridícula camiseta amarela, com um buque de flores nas mãos. Não consegui entender muito bem porque o filme é falado em alemão e consegui legendas em inglês (ou espanhol) para ele. Schlingensief virou um cineasta genial na década de 1990.

42- Piesn Triumfujacej Milosci

Piesn Triumfujaces Milosci (1969/26’/Polônia) de Andrzej Zulawski. Assim como Tarkovsky, Zulawski é outro cineasta que parece já ter nascido pronto. Eu não gostei deste curta, uma produção para a TV infelizmente com linguagem clássica quadradinha (eu esperava algo mais viril e estranho e maluco). Mas assista porque quem curta o formato linear no cinema, e estiver acostumado com novelas, pode gostar.

43- The Sound of Bells

The Sound of Bells (1952/25’/USA) de Robert Altman. Um filme natalino do Altman ainda sem aquela pegada de humor ácido que deixa seus filmes únicos. Chatinho e longo demais.

44- Valley

Valley (1985/4’/Italia) de Michele Soavi. É um vídeo clip para a música de Bill Wyman presente na trilha sonora de Phenomena de Dario Argento. Soavi misturou imagens de Phenomena, e do making off de Phenomena, com imagens que gravou para o vídeo clip, conseguindo um ótimo resultado graças a edição espirituosa.

45- Within the Woods

Within the Wood (1978/31’/USA) de Sam Raimi. Com: Bruce Campbell e Ellen Sandweiss. Revisão. Este curta é genial (em minha opinião, inclusive, deveria estar sempre como material extra nos lançamentos do primeiro Evil Dead). Foi filmado em super 8 e este curta deu alguma visibilidade para a turma do Raimi-Campbell-Tapert junto à investidores e distribuidores de cinema. Evil Dead é o clássico que é por dois motivos, principalmente: 1) este Within the Woods funcionou como um laboratório para eles experimentarem o que funcionava ou não; 2) A edição (de Edna Ruth Paul), que em Evil Dead imprimiu um ritmo profissional que Within ainda não tinha. Mas Within the Woods está cheio de bons momentos, é um trabalho obrigatório para os fãs da série Evil Dead. Scott Spiegel também está no elenco. E na equipe-técnica Tom Sullivan faz os efeitos e o Ted Raimi também dá alguns pitacos. Recomendo.

46- Bife Titanik

Bife Titanik (1979/61’/Iugoslávia) de Emir Kusturica. Os primeiros filmes do Kusturica eram uns dramalhões com narrativa e situações bem normais. Sou mais da fase de realismo fantástico dele com obras primas como Underground. Achei ok este aqui, nada mais do que isso.

47- O Candinho

O Candinho (1976/33’/Brasil) de Ozualdo Candeias. O cinema nacional precisa urgente de um trabalho de restauração a partir dos negativos originais, e afirmo isso pensando em toda a produção nacional, não só meia dúzia de abençoados pelas panelinhas. Candeias é um dos meus cineastas preferidos aqui do Brasil, Zézero (1974) é genial (este Candinho me parece uma variação do Zézero), A Margem idem, meu Nome é Tonho também e assim por diante. Candeias é um cineasta único, então qualquer filme dele merece atenção (sem contar que ele não era um playboy se aventurando no cinema como 99% dos outros cineastas nacionais que são tudo classe média alta). Aqui um homem com problemas mentais vai do campo para a cidade grande em busca de um cabeludo barbudo. Quando acha o tal cabeludo barbudo, a decepção. Visceral como toda a obra de Candeias. Recomendo.

48- A Cidade de Salvador - Petróleo Jorrou na Bahia

A Cidade de Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia) (1981/9’/Brasil) de Rogério Sganzerla. Curta institucional com uma narração pontuada de uma maneira que fica parecendo um discreto deboche. Ou não. Talvez só eu que quero acreditar que estes caras do cinema marginal eram fodões, quando na verdade só estavam atrás de dinheiro como todo mundo. É ruim, mas acaba sendo um curioso panorama cultural da Salvador da década de 1970.

49- Carta a uma Jovem Cineasta

Carta a uma Jovem Cineasta (2014/24’/Brasil) de Luiz Rosemberg Filho. Experimentação a La Rosemberg, ou você ama ou você odeia.

50- The Flicker

The Flicker (1966/28’/USA) de Tony Conrad. Revisão. Experimentalismo. Este trabalho alterna frames brancos e escuros criando um efeito estroboscópio. Veja no escuro que o efeito fica mais legal e quem sabe você consiga ter um ataque epilético, eu só acho agradável este efeito. Recomendo a experiência.

51- Hold me While i'm Naked

Hold me While i’m Naked (1966/14’/USA) de George Kuchar. Revisão.Talvez seja o grande clássico de George. Tenho adoração pelo clima de pastiche que este curta possui e recomendo porque vai lhe dar uma sensação reconfortante.

51- Geek Maggot Bingo

Geek Maggot Bingo (1983/73’/USA) de Nick Zedd. Com: Zacherle e Richard Hell. Revisão. Um dos poucos longas de Zedd, o principal nome do cinema transgressor nova iorquino da década de 1980. É uma desconstrução do gênero de horror. É cinema de invenção. É ruim, mas é bom.

53- The Cattle Mutilations

The Cattle Mutilations (1983/23’/USA) de George Kuchar. Neste The Cattle Mutilations George desconstrói a sci-fi em uma história vibrante de metalinguagem. Kuchar é genial.

54- The Italian Machine

The Italian Machine (1976/24’/Canada) de David Cronenberg. Episódio para a série de TV Teleplay onde Cronenberg explora a relação do homem com as máquinas automobilísticas, aqui na forma de uma moto italiana – por isso este título. Cronenberg voltou a este tema em Fast Company (1979) e depois, de forma mais radical, em Crash (1996).

55- John Carpenter super 8

John Carpenter Silent Comedy ( ? /2’/USA) de John Carpenter ? Aparentemente é pra ser um curta metragem de comédia (ou o que restou dele) feito por um John Carpenter adolescente – muito antes de Dark Star o Carpenter fez, pelo menos, 6 curtas amadores, estou atrás destes trabalhos. Alguém?

56- O Rei do Cagaço

O Rei do Cagaço (1977/10’/Brasil) de Edgar Navarro. Revisão. Navarro é o John Waters brasileiro. Seus filmes são cheios de uma energia punk autêntica, com senso de humor doentio e muita inteligência. Este é o famoso curta que tem um cu, em close, cagando. É um curta excremental. Neste filme Navarro ensina que, se você já se fodeu socialmente, pode cagar num jornal, embrulhar e atirar sua merda dentro dos carros dos riquinhos de sua cidade. Terrorismo urbano para mendigos. Assim deve ser o cinema: Criminoso.

57- Peepshow

Peepshow (1956/21’/Inglaterra) de Ken Russell. Este primeiro curta de Ken Russell é bem amador, mas inventivo e cheio de boas idéias, já com ritmo bem anárquico e barulhento (apesar de mudo). Não à toa, depois, fez tanto clássicos do cinema mundial: The Devils (1971), Mahler (1974), Tommy (1975), Lisztomania (1975), Altered States (1980), Gothic (1986), entre outros. O mais legal é perceber que o senso de humor de Russell já está presente, intacto.

58- The Resurrection of Broncho Billy

The Resurrection of Broncho Billy (1970/21’/USA) de James R. Rokos. John Carpenter é um dos roteiristas deste premiado curta metragem. O roteiro é uma grande homenagem ao gênero western, aqui visto com nostalgia por Rokos, ao contar a história de um jovem da década de 1960 fanático por histórias do velho oeste. É um filme triste, sobre estar deslocado no tempo (me sinto um pouco assim em relação à tecnologia, gostaria muito de estar vivendo numa época sem internet – apesar de que, olha a gostosa contradição, foi a internet quem me possibilitou essa incrível maratona deste final de semana). Além do roteiro, Carpenter também editou e compôs da trilha sonora. Nick Castle foi o diretor de fotografia. Recomendo.

59- Freiheit

Freiheit (1966/3’/USA) de George Lucas. Curta profissional sobre fronteiras. É um filme político com mensagem bem forte e direta. Sempre achei o George Lucas um artista mais interessante antes de fazer a interminável saga do Star Wars (gosto bem mais de THX 1138 e de American Graffiti do que todos os Star Wars juntos). A curiosidade maior fica por conta do futuro diretor Randal Kleiser no elenco (ele é a personagem principal), que vários anos depois seria o responsável por grandes sucessos de bilheteria, como Grease e A Lagoa Azul. Recomendo.

60- This is my Railroad

This is my Railroad (1946/17’/USA) de Gene K. Walker. É um filme institucional que quis ver porque é o primeiro trabalho de Russ Meyer como câmera no pós-guerra. E o trabalho de fotografia é primoroso, com enquadramentos típicos do genial Russ Meyer. O legal é que ele treinou sua técnica neste tipo de filme e quando começou a produzir seus próprios trabalhos estava maduro e sabendo o que fazer. Em tempo: não tem nudez.

61- Knights on Bikes

Knights on Bikes (1956/4’/Inglaterra) de Ken Russell. Um filme de época surreal com toques de humor nonsense. Tem bicicletas e cadeiras de rodas. Russell sempre acerta em cheio. Recomendo.

62- Superoutro

Superoutro (1989/45’/Brasil) de Edgar Navarro. Revisão. “Acorda humanidade!” que este filme é fantástico, arisco dizer que é um dos melhores já lançado no Brasil. Provocação com a sociedade, com a religião, com a polícia, com todo mundo. Cinema anarquista por excelência. A Bahia produz o melhor cinema brasileiro tem anos. Neste filme Navarro repete uma idéia do curta O Rei do Cagaço: Cague num jornal, embrulhe a merda e atire dentro do carro de um riquinho qualquer. Perto do final tem um discurso do “nosso herói” travestido de superman, que é interrompido por uma fanática religiosa com seu discurso absurdo sobre anjos, que é interrompido pelo discurso de um militante de esquerda, criando um momento hilário monty pythiano. “Abaixo a Gravidade!”. Recomendo.

63- Mario Banana

Mario Banana (1964/6’/USA) de Andy Warhol. Revisão. Mario come uma banana. Como provocar a sociedade com uma banana e um travesti.

64- Pandora Peaks

Pandora Peaks (2001/25’/USA) de Russ Meyer. Revisão. Em vídeo, aos moldes de seu clássico Mondo Topless, marca a despedida de Russ Meyer no cinema. Vale uma conferida pela edição. Russ Meyer é o caso do cineasta que não tem nenhum filme ruim em sua filmografia. Recomendo.

Detritos (1995/9’/Brasil) de Petter Baiestorf. Este foi o primeiro curta-metragem que realizei (os filmes anteriores à 1995 eram longas ou médias). Por muito tempo ele ficou perdido (o master foi destruído pelo tempo), até que neste ano (2017) achei uma cópia em VHS dele e Adriano de Freitas Trindade o digitalizou. Estou disponibilizando-o somente a título de curiosidade, foi uma experiência que realizei em 1995 com ajuda de Leomar Wazlawick, Marcos Braun, Claudio Baiestorf, E.B. Toniolli, Carli Bortolanza, Loures Jahnke, Onésia Liotto, Ivan Pohl e Susana Mânica.

Pesquisa, seleção e textos por Petter Baiestorf.

 

Pink Narcissus

Posted in Arte Erótica, Cinema, erótico with tags , , , , , , , , , , , , , on setembro 18, 2014 by canibuk

Pink Narcissus (1971, 64 min.) de James Bidgood. Com: Don Brooks, Bobby Kendall e Charles Ludlam.

Nesta obra-prima do baixo orçamento um garoto de programa fantasia diversas situações homoeróticas onde ele se torna a personagem principal de um mundo bem particular.
Pink Narcissus1“Pink Narcissus” é o filme obscuro por excelência, vejamos: Filmado em super 8 entre os anos de 1963 e 1970 (incríveis sete anos de produção), em sistema completamente fora da lei dentro de um loft (incluindo as cenas externas do filme) que ficava na cidade de Manhattan, conseguiu burlar a polícia novaiorquina e realizar primorosas cenas com reluzentes closes de nádegas masculinas, genitálias avantajadas e músculos bem definidos que povoam os sonhos mais molhados da comunidade gay mundial (enrustidos, “Pink Narcissus” é o sonho de consumo de vocês, não percam tempo com o medo e se deliciem com este clássico). Depois de finalizada a edição o filme foi liberado sem que seu diretor, James Bidgood, tivesse concordado com seu lançamento, motivo que o fez assinar a produção como “anônimo” (além da direção, Bidgood fez ainda o roteiro, direção de fotografia, direção de arte e produção). Inclusive, durante muitos anos pensou-se que Andy Warhol fosse o responsável pelo filme (embora tanto Warhol quanto outros diretores gays do quilate de Jack Smith, Kanneth Anger ou os irmãos Kuchar nunca tivessem tanto capricho visual em suas obras, coisa que “Pink Narcissus” deixa transbordar em cada frame), até que na década de 1990 o escritor Bruce Benderson (fã confesso do filme) foi atrás de pistas sobre os realizadores de “Pink Narcissus” e revelou, via um livro chamado “James Bidgood” (lançado pela Taschen), a verdadeira história por trás do filme maldito.

Pink Narcissus2
James Bidgood nasceu em 1933 na cidade de Madison, Wisconsin. Ao se mudar para New York se tornou artista multí-midia com interesse maior em música, fotografia e drag performances. Após “Pink Narcissus” apareceu em mais meia dúzia de filmes (a maioria documentários sobre sua arte) com destaque para a produção “Keep The Lights On/Deixe a Luz Acesa” (2012) de Ira Sachs, drama sobre um cineasta gay que se relaciona com um advogado enrustido onde Bidgood representa a si próprio.
Pink Narcissus 3Martin Jay Sadoff, o editor de “Pink Narcissus” (e motivo de Bidgood ter retirado seu nome dos créditos), seguiu carreira no cinema norte-americano. Em 1979 foi editor de efeitos visuais na super-produção “Meteor/Meteoro”, de Ronald Neame, estrelado por atores do primeiro escalão de Hollywood como Sean Connery, Natalie Wood e Henry Fonda. Nos anos 80 montou filmes como “Graduation Day/Dia de Formatura” (1981) de Herb Freed (que trazia Linnea Quigley no elenco) e “Friday the 13th part VII: The New Blood/Sexta-Feira 13 parte 7 – A Matança Continua” (1988) de John Carl Buechler; foi supervisor de 3D em filmes como “Friday the 13th part III/Sexta-Feira 13 parte 3” (1982) de Steve Miner e “Spacehunter: Adventures in the Forbidden Zone/Caçador do Espaço – Aventuras na Zona Proibida” (1983) de Lamont Johnson e ainda dirigiu o documentário “The Last of the Gladiators” (1988), sobre o lendário Evel Knievel.
Pink Narcissus4Gary Goch, o diretor musical responsável pela ótima trilha sonora do filme, veio de produções classe Z. Foi maquiador e ator no sleazy “Shanty Tramp” (1967) de Joseph P. Mawra (o diretor responsável pela série sexploitation “Olga” do produtor George Weiss, o mesmo que produziu o lendário “Glen or Glenda?” de Edward D. Wood Jr.), câmera em “The Female Bunch/Um Punhado de Fêmeas” (1971) de Al Adamson e, após “Pink Narcissus”, virou pau pra toda obra da dupla de hippies malucos Bob Clark e Alan Ormsby. Para o primeiro foi editor/produtor do clássico classe Z “Children Shouldn’t Play With Dead Things” (1973); fez o som em “Deathdream” (1972) e foi produtor associado em “Porky’s” (1982), “Porky’s 2” (1983), “A Christmas Story” (1983), “Turk 182!” (1985) e “It Runs in the Family” (1994). Para o segundo fez o som de “Deranged” (1974) e produziu o divertido “Popcorn/O Pesadelo Está de Volta” (1991), comédia de humor negro dirigida por Mark Herrier (e Ormsby não creditado).
Fato curioso: O assistente financeiro de “Pink Narcissus” (não creditado no filme) foi o ator Bill Graham, falecido em 1991. Grahan é mais conhecido por integrar o elenco de filmes como “Muscle Beach Party/Quanto Mais Músculos Melhor” (1964) de William Asher, da série de filmes de praia estralados pela dupla Frankie Avalon e Annette Funicello; “Apocalypse Now” (1979) de Francis Ford Coppola, clássico de guerra que dispensa apresentações; e “The Doors” (1991) de Oliver Stone.
“Pink Narcissus” foi lançado em DVD pela distribuidora Cult Classic.

escrito por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.

Veja o trailer de “Pink Narcissus” aqui:

Literato Cantabile: Pílulas

Posted in Literatura with tags , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 10, 2012 by canibuk

Pílulas do tipo deixa-o-pau-rolar.

na mesma base: deixa.

.

Primeiro passo é tomar conta do espaço.

Tem espaço a bessa e só

você sabe o que pode fazer do seu.

Antes ocupe. Depois se vire.

.

Não se esqueça de que você está

cercado, olhe em volta e dê um rolê.

Cuidado com as imitações.

.

Imagine o verão em chamas e fique

sabendo que é por isso mesmo.

A hora do crime precede a hora da

vingança, e o espetáculo continua.

cada um na sua, silêncio.

.

Acredite na realidade e procure

as brechas que ela sempre deixa.

Leia o jornal, não tenha medo de

mim, fique sabendo: drenagem, dragas

e tratores pelo pântano. Acredite.

.

Poesia. Acredite na poesia e viva.

E viva ela. Morra por ela se você

se liga, mas por favor, não traia.

O poeta que trai sua poesia é um

infeliz completo e morto.

Resista, criatura.

.

Sínteses. Painéis. Afrescos. Repor-

tagens. Sínteses. Poesia. Posições.

Planos gerais. “O Close-up é uma

questão de amor”. Amor.

.

Eu, pessoalmente, acredito em

Vampiros. O beijo frio, os dentes

quentes, um gosto de mel.

Poesia de Torquato Neto.

Torquato Pereira de Araújo Neto nasceu em Teresina/PI em 1944. Na década de 1960 mudou-se para o Rio de Janeiro/RJ dedicando-se ao curso de jornalismo. Em 1971 estrelou “Nosferatu no Brasil” de Ivan Cardoso, fazendo o papel de um hilário vampiro que andava de dia pelas praias cariocas. Se suicidou no ano seguinte deixando o bilhete que dizia: “Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar”.

Torremolinos 73

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 22, 2012 by canibuk

“Torremolinos 73” (“Da Cama Para a Fama”, 2003, 91 min.) de Pablo Berger. Com: Javier Cámara, Candela Peña e Juan Diego.

Este filme é uma bela surpresa para qualquer cinéfilo. Tinha visto ele na época de seu lançamento em DVD aqui no Brasil, com o equivocado título nacional de “Da Cama para a Fama” (coisas da distribuidora Imagem Filmes, que nunca teve grande criatividade para títulos, nem capinhas, e nunca soube muito bem como vender seus produtos para o público certo), e alguns dias atrás revi este pequeno grande filme e continuei achando empolgante e digno de indicação.

“Torremolinos 73” conta a história de Alfredo López (Javier Cámara), vendedor de enciclopédias de porta em porta, que está com problemas em casa: Não entra dinheiro e sua esposa Carmen (Candela Peña) está querendo um filho. Ao ser chamado por seu patrão para uma reunião, Alfredo teme pelo pior. Mas não, eis que surge a oportunidade dele ingressar no maravilhoso mundo do cinema com produções eróticas em Super 8 para serem encartadas numa enciclopédia audiovisual sobre a reprodução humana. Com sua esposa sendo sua atriz-musa inspiradora, nosso aspirante a cineasta começa a fazer vários curtas pornográficos e finalmente o dinheiro começa a entrar em sua vida. Estuda técnicas e iluminações possíveis para o Super 8 e de filme em filme vai evoluindo e caindo nas graças de seu patrão mercenário. Ao mesmo tempo que Alfredo se encanta com as possibilidades do cinema, Carmen fica mais frustrada por não conseguir engravidar (numa linda comparação entre cinema-filhos). É significativo a cena em que Alfredo vai se masturbar no banheiro de um hospital para colher seu esperma para exames – onde a contagem de seu esperma é zero – e ali, se masturbando solitário com uma foto da esposa, ele concebe a idéia para o roteiro de seu primeiro longa, intitulado “Torremolinos 73”.

Alfredo López é fanático pela obra de Ingmar Bergman, mas filma como se fosse Jesus Franco. Essa relação entre Bergman-Franco fica ainda mais óbvia quando a produção de “Torremolinos 73” tem início. Filmado no inverno na cidade de Torremolinos (município turístico banhado pelas água do Mediterrâneo), portanto quase uma cidade fantasma. Alfredo e sua pequena e dedicada equipe-técnica (composta de dinamarqueses que não falam espanhol) vão criando uma homenagem à “Det Sjunde Inseglet/O Sétimo Selo”, com cara de “Macumba Sexual”, que fala sobre sexo, desejo e morte, com momentos do mais puro horror acidentalmente surrealista de Franco. Arte e lixo andam de mãos dadas! Não posso revelar o final, mas basta dizer que numa seqüência chave Alfredo consegue finalizar seu filme e Carmen consegue realizar seu sonho de engravidar. Aliás, Alfredo e Carmen são Jesus e Lina!!!

Ernst Ingmar Bergman (1918-2007) nasceu na Suécia e começou a trabalhar no cinema em 1941 como roteirista. Em 1957 surpreendeu o mundo ao lançar, com apenas 10 meses de intervalo, dois clássicos do cinema mundial, “Det Sjunde Inseglet/O Sétimo Selo” e “Smultronstället/Morangos Silvestres”, filmes eternamente copiados por cineastas acadêmicos sem imaginação ou inventividade. Com uma sucessão incrível de filmes excepcionais, muitos deles explorando a fé e a existência de Deus (o pai de Bergman era um luterano fanático, simpatizante do nazismo, que foi ministro do rei da Suécia), em 1966 escreveu e dirigiu “Persona”, filme que ele considerava sua obra-prima. Em 1976 foi preso por sonegação de impostos e jurou que nunca mais faria um filme na Suécia, promessa quebrada em 1982 quando voltou ao seu país de origem para dirigir “Fanny Och Alexandre”. Bergman é adorado tanto por acadêmicos chatos quanto por trashmaníacos descolados.

Jesús Franco Manera (1930) é o principal cineasta ativo na Espanha (gente como Almodóvar, Iglesia ou Segura, me desculpem, vem depois), um gênio dos filmes de baixo-orçamento nunca reconhecido em seu próprio país. Fez filmes de tudo quanto é gênero e ganhou destaque internacional com seus filmes de horror entrelados por suas deliciosas mulheres, primeiro Soledad Miranda, depois a deusa Lina Romay. Dirigiu mais de 200 longa-metragens (neste ano de 2012, por exemplo, já lançou “La Cripta de las Condenadas” parte 1 e 2 e agora trabalha na pós-produção de “Al Pereira Vs. The Alligator Ladies” e 2012 ainda tem mais quatro meses). Você até pode odiar o cinema de Jesus Franco, mas nunca poderá fugir de suas produções. Aqui no Brasil inúmeros clássicos do mestre espanhol estão sendo laçandos em DVD pela distribuidora Vinny com o abusivo preço de R$ 40.00, em média, cada! Jesus Franco nunca foi preso por sonegação de impostos e seu pai não foi ministro do ditador generalíssimo Francisco Franco.

Pablo Berger (1963) nasceu em Bilbao, Espanha, e se tornou jornalista e, logo depois, publicitário. Em 1988 lançou o genial curta-metragem “Mamá” (que trazia como diretor artístico o cineasta Álex de la Iglesia), uma comédia de humor negro alucinada sobre um moleque fanático por cultura pop vivendo num porão com sua família histérica após os marcianos terem destruido a central Nuclear de Erandio. “Torremolinos 73” foi seu primeiro longa-metragem, onde o jovem diretor exercitou sua paixão pelo cinema com muito bom humor e uma trilha sonora carregada de fantásticos sucessos dançantes da música popular espanhola. Em setembro de 2012 deverá estreiar (na Espanha) seu novo longa, “Blancanieves”, sua versão dramática (seja lá o que isso signifique) do chatinho conto de fadas “Branca de Neves”. Pode ser uma merda, mas se tratando de um filme de Pablo Berger é bom dar uma espiadinha na produção.

Por Petter Baiestorf.

Fingered

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on março 16, 2012 by canibuk

“Fingered” (1986, 25 min.) de Richard Kern. Com Lydia Lunch.

Estranho fruto da estranha Big Apple – Cidade Apocalipse, uma das raízes do Cinema de Transgressão. Movimento underground com culhões. Richard Kern comprou uma câmera de S-8 usada por U$ 5 (cinco dólares) e seu amigo Nick Zedd – que nem isso tinha – roubou uma para ele. Toda ralé que se dignava a fazer parte da turma virou artista. Lydia Lunch, Lung Leg, Cassandra Stark, Cruella De Ville, Martin Nation, Richard Hell, Rick Strange, Annie Sprinkle (sim, a senhora xixi na cara e pau na bunda do pornô), todo mundo cheio de maconha e ácido na cabeça. Filmavam violência, colocação de piercing (na buceta), estupros, assassinatos, sexo, drogas e a little bit of rock’n’roll. Talvez mais. Cuspidas punks em celulóide. Taras & revoltas artísticas. Russ Meyer com ácido…

“Fingered”, de 1986, que John Waters chamou de “the ultimate date movie for psychos” ou “o melhor filme pornô artístico caipira punk do mundo!”, é dirigido por Kern com roteiro dele e de Lydia Lunch. A bad girl faz sexo por telefone, depois se abre toda para Martin Nation fazer fist fucking e spanking antes de enrabá-la. Na rua ela é assediada por um babaca que é degolado e o casal on the road foge, briga, trepa, provoca, estupra, rapta, trepa, briga, até… Deathtrip Film.

No festival de Berlin de 1990 Kern mandou um monte de feministas se fuder e discutiu até conseguir exibir o filme. As feministas se vingaram invadindo outro cinema que ia passar o filme, quebrando tudo e jogando tinta a óleo nos projetores. Tinta azul/blue, para chamar o filme de pornográfico. Grande merda. Só ajudou na fama de maldito da obra que é uma maravilha da revolta. E dá gosto ver a Lydiazinha tomando gostoso no rabo e atirando a esmo. Consiga o filme e mostre para a sua família tarde da noite, eles vão dormir muito mais felizes!

escrito por Coffin Souza, originalmente publicado no fanzine “Sanguelia” (2000).