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A Noiva do Turvo

Posted in Cinema, Entrevista, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 9, 2018 by canibuk

A Noiva do Turvo é um curta-metragem produzido no início de 2018 utilizando-se de um celular enquanto festejávamos a passagem de ano. Orçamento zero para contar uma lenda do rio Turvo que, meses antes, Loures Jahnke e sua filha Isabela haviam resgatado para um trabalho escolar que virou um fanzine de contos. Você pode ler o conto A Noiva do Turvo clicando no coletivo literário Maldohorror.

Segue relato dos envolvidos nas gravações:

Petter Baiestorf: O curta A Noiva do Turvo, escrito e dirigido por Loures Jahnke e filmado com seus filhos: Lorenzo de cinco, Isabela de dez, Vinicius de doze e Morgana de vinte anos. Loures, Elisiane Rodrigues, Carli Bortolanza e eu nos divertimos muito durante essa experiência fantasmagórica sessão livre onde respeitamos o ritmo de trabalho das crianças. Não quer dizer que eu vá produzir filmes em celulares, mas abrem-se algumas possibilidades com este formato, principalmente com suas câmeras de alta definição.

Lorenzo, 5 anos, assistente de direção

Loures Jahnke: Exatamente um ano depois da filmagem de Ándale!, na virada de 2017 para 2018, Baiestorf e Bortolanza voltaram para o Baixo Azul, trazendo na bagagem mais de 300 latas de cerveja – sim, eles sempre são exagerados. Não tinham o Toniolli, nem o Élio e nem a filmadora, mas Baiestorf estava com um celular com câmera bacana. Alguns meses antes dessa visita, ajudei minha filha Isabela em um trabalho escolar sobre mitos e lendas locais, o que resultou em um pequeno conto que publiquei no Maldohorror. Eu tinha o argumento e 4 filhos; Peter tinha um celular e o Bortolanza. O produto? A Noiva do Turvo.

Morgana, A Noiva do Turvo

Carli Bortolanza: Loures nos apresentou um texto que ele havia ajudado uma das filhas a escrever para um trabalho escolar que virou um livro coletivo dos alunos que estudavam na mesma sala de aula da filha dele. Sugerindo “Nós podíamos filmar este texto da Isabela, não?”. E “de balde”, por que não? E o primeiro impacto após termos lido o texto foi, “Como não tem câmera, vamos filmar pelo celular!”, única opção e sem nenhuma objeção. A iluminação foi outro empecilho, mas Loures comentou que um vizinho tinha uma bateria com uma lâmpada que fora improvisado para ser usado como uma mochila nas costas, com direito a alças e tudo. A escolha de quem faria o pescador também foi engraçada: Pedi para ser escolhido, pois estava com um pouco de frio e ai ficaria com a roupa manga longa e não precisaria ficar carregando o peso da bateria.

Teste de iluminação durante as gravações com Carli sendo abduzido

E. B. Toniolli: A história é linda, pulsante e real. O Loures mostrou-se um bom diretor, mas que não chega aos pés do Loures escritor, que é formidável.

Loures Jahnke: Filmar A Noiva foi uma das coisas mais divertidas que já fiz. Meus filhos foram batizados na Canibal Filmes – não com groselha, mas com o “espírito da coisa” -, todos riram muito, sofreram – principalmente Morgana e Isabela – e se encantaram. Até a Elisiane, minha companheira, diz que se divertiu muito sendo a produtora do filme – ela pagou um pote de minâncora e um lápis de olho, total de custos.

Carli Bortolanza: Uma coisa que ficou bem marcante foi a empolgação das crianças em participar!

Petter Baiestorf: Para A Noiva não tínhamos uma câmera, somente meu celular. Como eu havia acabado de filmar Beck 137 em Goiânia, GO, com ele, sabia que dava pra fazer algo minimamente bacana. Também deu pra testar o uso de iluminação mínima em espaços abertos – boa parte do curta foi filmado numa plantação de soja que invadimos. De certo modo o uso da iluminação foi uma continuidade do que havia pensado para A Cor que Caiu do Espaço.

Loures Jahnke: Já tinha visto alguns trabalhos feitos com celular, mas A Noiva do Turvo foi para muito além das expectativas, considerando que a maioria das cenas foram noturnas, que a iluminação foi feita com um troço adaptado para caçar lebres tomado emprestado de um vizinho, que os áudios da narração e da trilha sonora  – brilhantemente composta pelo Vinicius, de 12 anos – foram todos gravados em celular e que o Bortolanza passou uma tarde toda catando lenha pra assar carne.

A Noiva se preparando para entrar em cena

Elio Copini: Quanto A Noiva, não participei das filmagens, assisti e gostei muito dele. Despertou uma inveja por não estar lá também.

Loures Jahnke: Toniolli acho que também se divertiu muito, um tempo depois, comigo e com o Baiestorf na casa dele num final de semana inteiro durante a edição do Noiva.

E. B. Toniolli: A Noiva do Turvo já chegou em minhas mãos filmado e só faltando a edição. Dessa vez tínhamos o Loures Jahnke como diretor e ele é uma pessoa muito inteligente, que sabe o que quer e sabe valorizar o trabalho em equipe, deixando todos participarem do processo de maneira ativa. Assim considero esse curta mais coletivo do que as obras naturais da Canibal Filmes, que são a visão do Baiestorf, basicamente.

Morgana e Carli em A Noiva do Turvo

Loures Jahnke: A Noiva do Turvo é quase um filme infantil, inocente, mas que explora um universo cultural muito vasto que são os causos, os mitos e lendas que preenchem o imaginário – e a vida! – das populações camponesas sertões afora.

E. B. Toniolli: Fiquei muito contente em editar o material filmado com celular. Considero que o cinema feito de celular é a evolução natural do processo: Não estamos reféns dos grandes estúdios, das câmeras caras e dos “profissionais” da arte. Cinema é para todos, não para uma elite intelectual que trata a todos como gado intelectual, onde quem não comunga de sua maneira bitolada de ver o mundo, é excluído.

fotos e entrevistas para o post por Petter Baiestorf.

Assista ao curta-metragem aqui:

A Independência de Contos da Morte 2

Posted in Cinema, Entrevista, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 16, 2018 by canibuk

Em 2016 Vinícius Santos organizou e lançou o longa-metragem episódico “Contos da Morte”, que reunia os diretores Ulisses da Motta, Thiago Moyses, Rodrigo Brandão, Kayo Zimmermam, Julio Wong, Jeziel Bueno, Ivo Costa, Helvecio Parente, Calebe Lopes, Bruno Benetti e Ana Rosenrot, e que já está disponível no youtube para ser visto grátis:

Agora, Vinícius reuniu novos diretores, Ana Rosenrot, Cíntia Dutra, Danilo Morales, Diego Camelo, Janderson Rodrigues, Larissa Anzoategui e Lula Magalhães, para a segunda parte de “Contos da Morte”. O lançamento deste SOV que já nasce obrigatório está programado para outubro deste ano e o trailer já está disponível:

Fiz uma entrevista com os diretores da continuação:

Petter Baiestorf: Conte um pouco da sua trajetória nas produções brasileiras:

Vinícius Santos: Minha história com o cinema independente começou por acaso, em 2008 fiz meu primeiro curta caseiro e trash, com toques de humor negro. Foi o “Cereal Killer”, que ganhou alguns prêmios na época aqui em Jacareí, depois peguei uma paixão pelo cinema, ainda mais eu que adoro filme trash, então não vi dificuldade alguma pra realizar meus filmes trash. Fiz vários curtas desde então, alguns longas como “Steve Cicco”, “Iandara”, “Exorcistas Carinhosos”. Realizei meu sonho de conhecer  José Mojica Marins, o eterno Zé do Caixão, até entregamos um prêmio a ele. Dirigi um documentário com Liz Marins e realizei um sonho  de dirigir um filme meu com a Monica Mattos, ex atriz pornô. Comecei a mandar e exibir meus filmes em alguns festivais nacionais e internacionais, conheci também cineastas que já admirava, como Petter Baiestorf e Rodrigo Aragão, fiz novas amizades e parcerias também, acabei sendo convidado para participar na produção de um longa-metragem co-produção Brasil e Londres em 2017, um filme indígena que mistura drama e fantasia chamado “Goitacá”, tive prazer de conhecer alguns atores como Luciano Szafir, Lady Francisco e Leandro Firmino (o Zé Pequeno de “Cidade de Deus”), isso tudo graças aos filmes trash que desenvolvo, então percebi que estou no caminho certo.

Ana Rosenrot: O cinema sempre fez parte da minha vida, sou cinéfila por natureza e minha curiosidade me levou a pesquisar o cinema como um todo, buscando entender a importância da sétima arte para a cultura mundial e sua influência sobre as pessoas. Mas percebi que eu precisava participar da criação cinematográfica e em 2011 passei a fazer pequenos curtas experimentais, tudo muito simples, com a cara e a coragem, assumidamente trash e não parei mais. O primeiro curta que enviei para um festival se chama “Mistérios Obscuros”, ele foi premiado com o Troféu Corvo de Gesso em 2013, selecionado na 15ª Mostra do Filme Livre em 2015 e escolhido para compor a vinheta de abertura da sessão “Trash ou Cinema de Gênero?” da mostra. Em 2013, fui convidada para escrever sobre cinema para uma publicação Suíça, a Revista Varal do Brasil e criei a Coluna CULTíssimo, especializada em cinema e universo Cult. Também em 2013 juntei forças com a Vproduções Cinematográficas e participei como diretora, produtora e atriz em curtas e longas. Destaque para o longa-metragem “Steve Cicco – Missão Popoviski”, o curta-metragem “Samantha” (que dirigi com o Vinícius e protagonizei), as duas edições da Mostra Monstro e o projeto “Contos da Morte”. Em paralelo, me dedico a criação e a divulgação literária e continuo com minhas produções pessoais, rodando os festivais com curtas experimentais e vídeo poemas voltados para o ativismo cultural e as causas femininas. Já ganhei sete prêmios, participei de muitos festivais e mostras e pretendo seguir acreditando no cinema nacional e feminino apesar de todos os obstáculos.

Cíntia Dutra: Certamente assim como todos os envolvidos no “Contos da Morte”, sempre fui apreciadora do cinema de horror, independente da nacionalidade. Na verdade, me considero muito mais fã e pesquisadora do gênero horror, que realizadora. Mas isso, juntamente com a minha formação (em Fotografia) trouxe a possibilidade de realizar alguns projetos. Onde em 2007 dirigi o curta “Obsessão”, posteriormente em 2008, “Extrato”, em 2015 o “Retratos” e agora o “Entre Nós” que fará parte do projeto.

Danilo Morales: Em 2012 meu primeiro filme em HD foi “Adega de Sangue”. Em 2015 veio o projeto “Trilogia do Terror” com os filmes media metragem “Telecinesia – Entre a Cruz e o Balaço” e “A Corrente de Menon”. A produção de curtas foi intensa. Uma media de três por ano. Em 2016 “Astarte- O Assassino do enforc a Gato” e “Até que a Morte nos Separe”. Em 2017 “Quiromania Ninfomaníaca” e “O Lago”. Em 2018 “Vilarejo Libertino”, “Casa de Xangô” – o filme longa metragem “Cemiterio das Moscas”, antologia de três diretores. E “Contos da Morte 2”. Antologia com vários diretores envolvidos. Os filmes estão correndo festivais nacionais e internacionais.

Larissa Anzoategui: Eu comecei a experimentar o audiovisual em, acho que, 2008, quando fiz um curta maluco chamado “Zumbis do Espaço de lá” para o meu TCC do curso de artes visuais. Depois de um tempo fui morar em São Paulo para estudar fotografia e lá entrei em contato com outras pessoas que tinham vontade de produzir e tinham grana zero como eu. Nos juntamos gravamos um curta, o “Limerence’, com roteiro de Paula Febbe, que só foi ficar pronto mesmo no final do ano passado, mas estava gravado esperando finalização desde 2012. Gravo sempre quase com a mesma equipe desde o “Limerence”: Pedro Rosa na direção de fotografia, Renato Ramos Batarce ajudando na produção e o meu marido, Ramiro Giroldo, que hoje escreve todos os roteiros da Astaroth Produções. Até agora temos lançados quatro curtas (“Red Hookers”, “Natal Vade Retro”, “Limerence” e “A Janela da Outra”) e um longa (“Astaroth”). Tem agora o “Fatal” também, que faz parte do “Contos da Morte 2”. Meus filmes são de terror, minhas inspirações são aquelas produções dos anos 80, principalmente as que eram feitas para o mercado de VHS. Busco um terror meio aventura, algo divertido. Monstros que não existem. Nas minhas produções a força e o foco estão sempre nas personagens femininas. Afinal de contas, elas sempre estiveram presentes nos filmes de terror, mas ao invés de ser apenas mais uma vitima, a mocinha bonita gritando, aqui elas levantam e enfrentam o monstro que as vezes é a monstra também.

Diego Camelo: Sou Estudante de Cinema do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza, meu primeiro curta metragem foi o “Tirarei as Medidas do seu Caixão” que é um filme-homenagem ao personagem mais icônico do Terror brasileiro, que é o Zé do Caixão. O filme foi muito bem recebido por onde passou, consegui inclusive espaço para exibição do curta no Canal Brasil no programa “Pausa para o Café” e é também dos filmes que realizei até aqui, o que mais circulou por festivais afora. Ainda dirigi e produzi os curtas metragem “A Incrível História do Gorila” e “O Vampiro”. Todos os curtas estão disponíveis na internet.

Lula Magalhães: Comecei em 2013 com o filme “Mandala Night Club”. De lá pra cá não parei mais, sempre venho mantendo uma média de uma a duas produções por ano. Sempre produzi na esfera do terror e sempre produções 100% independentes, ou seja, sem dinheiro público.

Janderson Rodrigues: Comecei trabalhando em produtoras independentes até abrira minha há quatro anos. E estou tentando sobreviver até então.

Dor (Lula Magalhães)

Baiestorf: Como surgiu o projeto de Contos da Morte 2?

Vinícius Santos: Eu já havia feito projetos em parceria com cineastas de outras localidades e regiões, inclusive fora do país, sempre tive vontade de fazer algo parecido com o ‘’ABC da Morte’’ e resolvi convidar alguns cineastas para uma antologia chamada ‘’Contos da Morte’’, lançado em 2016. A idéia para o “Contos da Morte 2” surgiu dentro do Festival Boca do Inferno no lançamento do primeiro filme, durante um bate-papo, após a exibição me perguntaram se haveria uma continuação, deixei a possibilidade em aberto, mas muita gente pediu essa continuação e então resolvi juntar uma galera, a idéia era não repetir os cineastas do primeiro, e, ao invés de 12, nesse segundo seria apenas 10. Mas no fim muita gente não deu conta e desistiu, eu acabei tendo que entrar nos momentos finais do projeto devido ao prazo de entrega, não teríamos mais tempo de convidar novos cineasta pra se juntar ao grupo. Então esse segundo “Contos da Morte” conta com sete histórias e oito cineastas do cinema independente.

Ana Rosenrot: O projeto surgiu no Festival Boca do Inferno, durante o lançamento da primeira edição, quando o criador do projeto “Contos da Morte”, Vinícius J. Santos, foi questionado sobre a possibilidade de uma continuação e após o festival ele entrou em contato com outros realizadores e decidiram fazer uma sequência. Primeiramente a ideia era não repetir nenhum dos diretores do primeiro filme, mas, devido a algumas desistências, o Vinícius decidiu participar com um segmento e me convidou para dividirmos a direção. São ao todo sete filmes e oito cineastas participantes.

Cíntia Dutra: Em 2016, ao enviar o curta “Retratos” para algumas mostras, o Vinicius Santos o viu e fez o convite para realizar um novo curta para integrar o projeto.

Danilo Morales: O Vinicius me fez o convite. Ele fez o “Contos da Morte 1” e queria fazer uma sequência com novos diretores.

Diego Camelo: Fui convidado pelo idealizador do projeto Vinícius Santos, eu não conhecia o projeto e não tinha visto o filme anterior, mas curti bastante a proposta e quando rolou o convite aceitei de pronto, gosto dessa iniciativa da Antologia, juntar diretores de locais diferentes, fazendo filmes completamente diferentes sobre o mesmo assunto.

Lula Magalhães: Conheci o Vinicius quando meu filme “Invasor” participou da Mostra Monstro em Jacareí, SP. Surgiu o convite de participar da segunda edição e eu adorei a ideia.

Janderson Rodrigues: Estava fazendo a fotografia do filme “Cinco Cálices” quando o Vinicius me chamou para participar do projeto. Já tinha visto o primeiro em festivais e fiquei super feliz de participar do 2. Ai meu editor, na época, me pediu para escrever o roteiro, então falei que eu queria uma história que se passa na favela.

Diagnose Danação (Diego Camelo).

Baiestorf: Como chama seu episódio e qual a história?

Vinícius Santos: O segmento eu dirigi, junto da diretora Ana Rosenrot, também aqui de Jacareí, se chama “A Marca do Diabo’’ e é sobre uma moça que adquire um quadro de uma criança chorando, e coisas bizarras começam a acontecer até que ela descobre que aquele quadro tem uma história maligna por trás envolvendo pacto demoníaco e sacrifícios. História inspirada na lenda urbana dos Quadros das Crianças Chorando, muito famosa no Brasil na década de 80.

Ana Rosenrot: O episódio que dirijo com o Vinícius J. Santos se chama “A Marca do Diabo”, e é inspirada na maior lenda urbana dos anos 80: “Os Crying Boys” (quadros das Crianças Chorando). Ele conta a história de uma garota que depois de sofrer um terrível acidente, está internada num hospital e ao ser interrogada por policiais alega ter sido marcada pelo diabo após comprar um quadro de uma criança chorando.

Cíntia Dutra: O episódio chama-se “Entre Nós”, e conta a história de um casal, com uma relação um pouquinho turbulenta, regada a sangue e insanidade.

Entre Nós (Cíntia Dutra).

Danilo Morales: “Heterocromia”. Simmel sofre preconceito por ter heterocromia. Seu alter ego maligno, representado pelo olho azul, é desperto quando o demitem do serviço. Filme experimental em primeira pessoa, de humor negro, uma crítica social da crise em nosso país.

Larissa Anzoategui: Meu episódio é o “Fatal”. Conta a história de um rapaz que lança cantadas online e acha que vai se dar bem, mas acaba se metendo em uma enrascada.

Diego Camelo: O nome é “Diagnose Danação” e é livremente inspirado no livro Frankenstein da Mary Shelley, pode até ser temerário dizer que é livremente inspirado, por que imagino que alguém possa tentar fazer comparações ao livro, eu tinha acabado de reler a história quando o Vinicius chegou com o convite, alguns elementos da história da Shelley estavam muito vivo na minha memória por isso tentei pegar o mote central da história e adaptar. Fui atrás do filme Frankenstein da Hammer Filmes, com o Peter Cushing, e fiz algumas modificações. A história é basicamente a relação de um médico e um paciente que não queria ser salvo, depois de vários anos sofrendo de uma doença autoimune, o paciente tenta tirar a própria vida, mas o médico o salva, o paciente acredita que estar vivo é uma espécie de punição e culpa o médico, passando então a persegui-lo.

Diagnose Danação (Diego Camelo).

Janderson Rodrigues: O filme se chama “Morro dos Mortos”. A historia de Bento que fica preso durante 10 anos e ao sair tenta uma vida nova, mas os fantasmas das pessoas que ele matou voltam para cobrar algo .

Lula Magalhães: Se chama “Dor”. O filme narra a trajetória de três psicopatas insanos que alimentam uma estranha criatura com carne humana.

Dor (Lula Magalhães).

Baiestorf: Como foram as filmagens dele?

Vinícius Santos: Tivemos seis meses de gravações, até que foi bem rápido, não tivemos tanta dificuldade por ter muitas cenas com poucos diálogos, algumas locações bacanas como um antiquário e um hospital, que nem imaginávamos se conseguiríamos ou não, mas no fim deu tudo certo com o apoio da Prefeitura Municipal de Jacareí. Até achávamos que teríamos dificuldade, pois filme de terror não é visto com bons olhos em Jacareí, mas arte é arte e conseguimos até fazer as cenas com um Diabo por lá.

Ana Rosenrot: Até que foram bem tranquilas; claro que tivemos algumas dificuldades, o que é muito comum quando falamos em cinema independente, pois, trabalhar com baixo ou nenhum orçamento, equipe pequena e locações sem controle externo, sempre acarreta alguns atrasos ou imprevistos (a greve dos caminhoneiros nos afetou um pouco). O importante é ser capaz de improvisar quando é necessário e poder contar com pessoas engajadas no projeto e nisso tivemos muita sorte, os atores e a equipe estavam maravilhosos.

Bastidores de uma das cenas do filme:

Cíntia Dutra: As filmagens aconteceram na metade do ano passado (2017), em um final de semana bem corrido, onde tudo teve que ser filmado por conta dos recursos disponíveis. A equipe formada por amigos da faculdade e parentes, que tenho que agradecer por ter trabalhado por três xis burguers, é a mesma equipe que trabalhou no curta anterior, “Retratos”, o que tornou o processo muito agradável.

Danilo Morales: Foi um desafio. Nunca tinha gravado nada em primeira pessoa. O episodio foi gravado em um dia e teve um verdadeiro banho de sangue. Um boneco foi confeccionado para ter a cabeça esmagada. Ficou fantástico a cena da cabeça partida. Infelizmente a câmera travou nesse momento. A solução foi refazer a cena de forma desfocada, pois o boneco já estava estourado. Mas foi bem divertido. O episódio não foi feito para ser levado a sério. Tem muito humor negro e critica social.

Larissa Anzoategui: Foi muito rápido, em um dia gravamos tudo. Mas foi rápido assim porque reaproveitei uma cena do “Astaroth” que não ficou no corte final. Mas mesmo assim, tem o começo que está no corte final do longa e está também lá no curta, bem plena e cara de pau. Para fechar uma história com este reaproveitamento, tiramos um dia do final de semana para gravar. Equipe bem reduzida, eu dirigi, filmei, montei a luz e o cenário, o Ramiro ajudou bastante, sendo o assistente em todas essas funções. A terceira pessoa da equipe era a maquiadora, Palmira Nogueira, que sempre trabalha com a gente. Para compensar o elenco era maior que a equipe: Sete atrizes e um ator.

Diego Camelo: Foi bem caótico (risos). Muito por que tivemos muitos atrasos em relação a locações, principalmente. Tivemos problemas pra conseguir a locação do hospital, por exemplo. Lembro que num dos dias de gravação Fortaleza passou por uma onda de ataques a ônibus e isso dificultou todo tipo de transporte na cidade, atrasando bastante o dia de filmagem. O importante pra que tudo desse certo foi ter uma equipe e elenco que mesmo nas dificuldades se dispôs a fazer as filmagens darem certo.

Lula Magalhães: Foi bem louco. Muito cansativo. Quatro dias de gravações intensos. Gravar de forma independente exige muito mais da equipe porque os recursos são mínimos. Mas tudo muito satisfatório no final.

Janderson Rodrigues: Vou deixar o trailer do filme.

Baiestorf: Algo curioso que rolou nas gravações que pode contar para nós?

Vinícius Santos: Tem um fato curioso que aconteceu durante a escolha das locações, em uma das cenas do filme foi filmada em um antiquário. Tínhamos um bem chique, estava tudo certo para filmar, toda equipe aguardando no local, mas por algum motivo o dono da loja não apareceu e tivemos que adiar. O jeito foi utilizar nosso plano B, outro antiquário, era mais simples, mas acabou que combinou muito mais, pois o filme era inspirado em uma lenda dos anos 70 e 80 e o antiquário tinha peças da época, no fim. Deu super certo essa mudança de planos.

Ana Rosenrot: Estávamos numa locação e o nosso ator estava maquiado e pronto para entrar em cena. Enquanto aguardava ele ficou ensaiando e se movendo pelo local. Foi quando percebemos que um senhor que passava na rua estava olhando pela vidraça, ele ficou parado, com os olhos arregalados, horrorizado. E ficou ali por um tempo, indeciso, depois baixou a cabeça e saiu. Ele percebeu que era somente uma pessoa maquiada, pensou que era algum tipo de pegadinha, ou acreditou que estava vendo uma entidade demoníaca? Nunca saberemos, mas o episódio rendeu boas risadas e mostrou que, pelo menos, a maquiagem estava assustadora.

Carolina Venturelli em A Marca do Diabo (Vinícius Santos e Ana Rosenrot).

Cíntia Dutra: Há uma cena no curta que foi filmada em um hospital real, e foi necessário realizá-la na correria, pois segundo o médico que cedeu o leito hospitalar, em final de semana com feriado o risco de precisarem do quarto as pressas era grande. Por sorte não fomos interrompidos. Pagamos 50 reais pelo aluguel de um vestido de brechó. Isso é todo o orçamento do filme!

Elenco de Entre Nós com a diretora Cíntia Dutra.

Danilo Morales: O mecanismo utilizado para esguichar sangue do pescoço da vitima foi feito de forma bem arcaica e barato. Uma mangueira de nível acoplada a uma bomba de encher bicicletas foi a responsável, para de forma mecânica, esguichar o sangue. A faca utilizada era retrátil.

Diego Camelo: Não sei se responde bem a pergunta, mas houve algo engraçado durante as filmagens, fomos gravar uma das cenas mais importantes pro filme e do lado da nossa locação tava rolando uma missa a céu aberto e isso atrapalhou bastante principalmente na questão do som, aí a nossa atriz Gabriela Willis, maquiada com sangue no rosto, foi lá pedir gentilmente pra que os fiéis baixassem o volume (risos).

Lula Magalhães: Sempre digo que fazer filme de terror é muito mais divertido do que fazer filmes de comédia. Foram vários momentos hilários durante as filmagens. Fica até difícil de falar de um específico.

Janderson Rodrigues: No primeiro dia de filmagem estava marcado para começar as 17:30 e terminar as 20:30 e o ator principal não apareceu e ninguém conseguiu falar com ele, então quando estava para cancelar, ele apareceu com o joelho todo inchado e mão enfaixada porque tinha sofrido um acidente de moto e estava no hospital.

Larissa Anzoategui: Olha, as meninas tiveram que passar o dia semi nuas e com maquiagem de efeito na cara. Aí virou uma grande piada tudo o que elas faziam, elas mesmas ficavam tirando sarro umas das outras. Em certo momento, num intervalo, uma das meninas estava agachada olhando o celular, passou a Simone Galassi, que é super piadista e soltou: “Olha! O demônio cagando!”. Só coisas assim mesmo, acho que foi engraçado para quem estava lá. Meio que piada interna. Não aconteceu nada de sobrenatural, nada de luzes caindo ou pessoas levitando (risos).

Diagnose Danação (Diego Camelo).

Baiestorf: Como estão os preparativos (e expectativas) para o lançamento em Outubro?

Vinícius Santos: Estamos já mandando pra festivais nacionais e internacionais, aproveitando que logo o Halloween está aí, e o que mais rola é festivais de horror. Mas a expectativa é grande pra fazer a primeira exibição pública, pra ter um feedback da galera.

Ana Rosenrot: Estamos nos concentrando na divulgação, que deve ser muito bem coordenada com todos os outros diretores e esperamos que o público goste de todos os segmentos, aprecie a diversidade de estilo dos diretores, se assuste e se divirta muito com nossos contos mortais.

Cíntia Dutra: A expectativa é grande, por fazer parte de um projeto tão bacana e com gente super qualificada (falo dos outros curtas – risos). E claro, sempre há a vontade de conferir pessoalmente a estréia, se a rotina e a distância permitirem.

Danilo Morales: A expectativa é alta. Sabemos que o cenário de guerrilha independente não é fácil. A solução é a união dos diretores. Não somos adversários, somos parceiros em prol do fortalecimento do cinema de gênero na região.

Diego Camelo: Estamos ansiosos pro lançamento do “Contos da Morte 2” e vamos fazer um novo corte com mais cenas pro curta, já que havia um tempo limite pra cada curta metragem, muito provavelmente vamos disponibilizar direto pra internet.

Larissa Anzoategui: Eu não vejo a hora de ver todas as histórias! No grupo do facebook a gente ficava trocando informações, postando fotos de bastidores, testes, trailers. Tô muito curiosa para assistir os outros curtas que estão no projeto.

Lula Magalhães: As melhores possíveis. Parte dos outros integrantes são meus amigos e estou muito feliz com a participação e trabalhos deles.

Janderson Rodrigues: Bom, os preparativos estão por conta do Vinicius, e a expectativa é grande porque as pessoas envolvidas são muito boas e também estou muito feliz porque o filme “Cemitério das Moscas” vai ser lançado esse mês e depois vem o lançamento dos “Contos da Morte”.

Dor (Lula Magalhães).

Baiestorf: O público terá o filme disponível para venda em mídia física (ou link online) quanto tempo após o lançamento?

Vinícius Santos: O filme será exibido apenas em festivais em um primeiro momento, após o prazo de um ano. A V Produções Cinematográficas está planejando um terceiro “Contos da Morte”, pra fechar a trilogia e quem sabe a gente possa lançar um box dos três em DVD.

Cíntia Dutra: Espero que haja mídia física sim, afinal é sempre bom ter mais um filme na prateleira.

Diego Camelo: Aí vai depender do tempo que o longa metragem “Contos da Morte 2” ficar em circulação e exibição por festivais e mostras, mas assim que passar essa fase com a Antologia, vamos lançar uma nova versão do curta na internet.

Janderson Rodrigues: O filme vai correr festivais e depois não sei se vai ser lançado em mídia, mas por mim eu lançamos em mídia física sim, ainda sou das antigas.

A Marca do Diabo (Vinícius Santos e Ana Rosenrot).

Baiestorf: No momento você está trabalhando em algum novo projeto? Pode falar sobre ele?

Vinícius Santos: Estou desenvolvendo mais dois novos longas, um é o ‘’Steve Cicco – A Última Porrada’’, um filme paródia de espionagem, a terceira parte de uma trilogia. E também estou finalizando o roteiro do ‘’Sexo, Pizzas e Filmes de Terror’’ que será uma antologia da V Produções com três histórias malucas ambientadas nos anos 80. É um filme que presta uma homenagem a filmes trash da época.

Ana Rosenrot: Atualmente estou me dedicando mais a literatura e ao ativismo cultural. Em 2017 criei a Revista LiteraLivre, uma publicação voltada para a divulgação de autores que escrevem em Língua Portuguesa, de todas as partes do mundo e a experiência tem sido incrível. Também estou planejando o lançamento de um e-book com as edições da Coluna CULTíssimo, no período de 2013 até 2016; continuo escrevendo novas edições da coluna, agora para a LiteraLivre e me dedicado ao meu gênero de escrita predileto: contos e poemas de terror, que pretendo divulgar um pouco mais. Claro que ainda tenho vários projetos cinematográficos, uns curtas inacabados que pretendo finalizar, convites pendentes, enfim, com certeza ainda vem muito mais por aí.

Cíntia Dutra: Projetos sempre existem, nem que seja no âmbito da imaginação. Mas estamos elaborando um novo roteiro, que ainda está em uma fase bem inicial.

Larissa Anzoategui: No final do ano passado e começo deste reuni uma galera aqui em casa para fazer uma maratona de gravações. Em duas semanas gravamos material para quatro curtas e um longa. Dessa produção tem um só pronto: “Janela da Outra”. Mas como eu e o Ramiro somos malucos, acabamos gravando outro longa agora no meio do ano. Era para ser só um curta e para ele pedimos para um artista, o Joni Lima, transformar nossa sala em uma cripta, usando papel e tinta mesmo. Quando ficou pronto ficamos tão empolgados, o Ramiro mais ainda porque estava numas piras com as obras de Byron, que resolvemos gravar mais uns curtas. E no final das contas virou um longa de antologia. Para amarrar todas as histórias gravamos uma quinta e dessa vez eu me meti a atuar também. Oremos! (risos). Este longa de antologia vai se chamar “Domina Nocturna”.

Domina Nocturna (Larissa Anzoategui).

Danilo Morales: Sim. Com previsão de lançamento para 2019. “Cemitério das Moscas II – Os 7 Pecados Capitais”. Sete diretores, cada um dirige o segmento de um pecado. (“Cemiterio das Moscas” está sendo lançado no dia 17 Agosto 2018). Filme longa metragem ainda tem meu filme “Poço Profano”, faz parte de uma dobradinha de diretores. Será gravado em preto e branco.

Diego Camelo: Estou me preparando pra rodar meu primeiro longa metragem, um documentário, mas não posso falar mais sobre por que ainda estamos na fase de pesquisa.

Lula Magalhães: No momento estou fazendo a pós-produção do filme que rodei no ano passado. Acabei de lançar um filme de bruxas chamado “O Pequeno Baú” que rolou no POE – Festival de Cinema Fantástico de São José dos Campos – SP e vai rolar no Cine Horror em Salvador – BA em outubro. Final do ano sai uma ficção científica com horror chamada “O Cavalo Marinho” e início de janeiro um filme que rodei em 2013, chamado “Incógnito”, também estará sendo lançado.

Janderson Rodrigues: No momento estou editando o curta “Povo das Sombras”, com a Lane ABC no papel mais normal dela; e fazendo a fotografia do curta “Não Vacile”, do diretor Ricardo Corsetie. Comecei a pré-produção do longa “Contos”, título provisório.

Baiestorf: Se quiser divulgar seu último filme já lançado, o espaço é seu:

Vinícius Santos: Meu último filme ‘’Steve Cicco: Missão Popoviski’’:

E esse ano ainda lançaremos ‘’Exorcistas Carinhosos’’, trailer já disponível:

Ana Rosenrot: Meus últimos filmes lançados foram “O Atalho”, que dirigi em 2017 (este filme recebeu o Troféu Corvo de Gesso e foi selecionado e exibido no 13º Cinefest Gato Preto); e também participei como produtora, diretora de arte e atriz no curta “Dia de Exorcismo” (2018), dirigido pelo Vinícius J. Santos. Deixo aqui os links do trailer do filme e também do meu site para quem quiser conhecer um pouco mais sobre o meu trabalho:

http://cultissimo.wixsite.com/anarosenrot

Larissa Anzoategui: “A Janela da Outra”. Quase um filme mudo, gravado em uma tarde, equipe muito pequena: Eu, Ramiro, Juciele Fonseca no som e a atriz, a maravilhosa Larissa Maxine. Sinopse: Quem está do outro lado da janela? O delírio, a paranoia e a fusão.

Cíntia Dutra: “Retratos” foi lançado em 2015 e felizmente foi exibido em algumas mostras.

Danilo Morales: Vou deixar o trailer do “Cemitérios das Moscas”.

Janderson Rodrigues: No momento não tenho eles disponíveis, entretanto, até o final do ano será lançado um DVD com os cinco filmes que dirigi.

Lula Magalhães: Acabo de lançar “O Pequeno Baú”, um filme de bruxas que narra uma versão da história de Lilith e de sua influência na vida de duas irmãs. O filme foi todo gravado dentro de uma garagem com fundos escuros, num esquema quase teatral.

Diego Camelo: Meu último filme foi “O Vampiro”, foi o filme que mais curti fazer e o que menos circulou, o filme já está a algum tempo disponível na internet, vejam por favor, foi feito com muito esmero. Segue o link:

Baiestorf: Obrigado pela entrevista e deixe aqui dicas para pessoal que esteja querendo fazer seu primeiro filme:

Ana Rosenrot: Eu é que agradeço pelo espaço e o apoio ao nosso trabalho e ao cinema independente. Sempre digo que o primeiro passo para fazer um filme é fazer um filme! Veja filmes (todo tipo de filmes, seja eclético), pesquise (temos muito material disponível na internet), estude (existem cursos ótimos, com bons preços e até gratuitos) e depois pegue sua câmera (de qualquer tipo) e filme o que der vontade, experimente, vá criando seus roteiros, chame os amigos, faça sozinho, mas faça, não fique a vida toda “pensando” em fazer. Não tenha medo de criar, seja paciente, não fique preso a falta de recursos, não se importe com o amadorismo, aprenda com seus erros, esteja preparado para suportar a crítica (que vai bater sem dó), insista até descobrir seu estilo, aceite que nunca agradará a todos e depois, é só deixar sua marca no mundo.

Vinícius Santos: A dica que dou pra quem está começando, ou pretende fazer seu primeiro filme, é pegar uma idéia, ou um roteiro, mesmo que simples e não pensar demais e nem inventar desculpas demais. É pegar e fazer. Não tem equipamento ou câmera? Faça com o seu celular, ou câmera emprestada, mas faça. Use o que tem na mão e sua criatividade, o importante é não desistir e fazer o que gosta!

Cíntia Dutra: Primeiramente eu que agradeço a oportunidade de divulgar o nosso trabalho, com certeza feito com muito carinho. E para o pessoal que deseja realizar seu filme, basicamente é: Vai e faz.

Janderson Rodrigues: Curtam a pagina no facebook Estrada Films. E para quem estiver fazendo seu primeiro filme, nunca desista, você só vai aprender na prática e sempre esteja preparado para escutar críticas positivas e negativas porque não existe filme ruim e sim gostos diferentes.

Diego Camelo: Eu que agradeço pelo espaço! As dicas que posso dar é estudar bastante, ver muito filme, juntar uma equipe que queira muito fazer os filmes e as suas ideias acontecerem e não desistir nunca! É isso, abraços!

Lula Magalhães: Paciência, organização, objetivismo, garra, criatividade, respeito pela equipe e um pouco de sorte são os ingredientes principais pra tocar uma produção de guerrilha.

Danilo Morales: Não desanimar. Não dar desculpas. Faça o filme com o que tiver em mãos. Um celular, uma câmera usada.  Instale um programa de edição e sempre vá se aprimorando, buscando evoluir.

Larissa Anzoategui: Não espere a equipe perfeita ou fazer tudo certinho. Acumule funções mesmo! Faça como der, mas faça da melhor forma. Procure pessoas que realmente vão se compromissar com a produção, principalmente com parcerias que ninguém vai ganhar nada de dinheiro. Pesquise e teste gambiarras para fazer uma iluminação massa!

Canal Vproduções no youtube:

https://www.youtube.com/user/EquipeVProd/featured

Site da Revista LiteraLivre:

http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre

Viradão de Cinema Fantástico no Festival de Cinema de Vitória

Posted in Arte e Cultura with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on novembro 11, 2016 by canibuk

O cinema fantástico nacional está na moda e está ganhando visibilidade em inúmeras mostras de cinema que não tem tradição na exibição de produções neste gênero. Em 2014 já havia ganho a “Mostra Bendita” na Mostra de Cinema de Tiradentes com a exibição do longa “As Fábulas Negras” de José Mojica Marins, Rodrigo Aragão, Joel Caetano e Petter Baiestorf e a produção “Noite” de Paula Gaitán. Leia a história do Cinema Fantástico Brasileiro aqui no Canibuk.

Agora é a vez do Festival de Cinema de Vitória incluir em sua programação uma pequena mostra, intitulada “Viradão Novo Cinema de Horror“, na sua programação, atestando que finalmente os grandes festivais de cinema estão percebendo que o Cinema Fantástico brasileiro tem um grande apelo junto ao público.

No dia 19 de novembro, um sábado, com início à 01 hora da madrugada no Teatro Carlos Gomes, com previsão de acabar somente às 07 da manhã do mesmo sábado, o viradão promete uma divertida noitada aos cinéfilos que se aventurarem pelos domínios do gênero fantástico brasileiro. Acompanhe as novidades do Festival pelo site oficial: http://festivaldevitoria.com.br/23fv/

Os seguintes filmes estão programados no Viradão:

“13 Histórias Estranhas” (Ficção, 90′, SC, 2015), de Fernando Mantelli, Ricardo Ghiorzi, Cláudia Borba, Petter Baiestorf, Marcio Toson, Cesar Coffin Souza, Rafael Duarte, Taísa Ennes Marques, Gustavo Fogaça, Renato Souza, Leo Dias de los Muertos, Paulo Biscaia Filho, Felipe M. Guerra, Filipe Ferreira, Cristian Verardi. Filme coletânea. São 13 histórias curtas, onde o numeral é a base do roteiro.
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“A Casa de Cecília” (Ficção, 102′, RJ, 2015), de Clarissa Alpett. Cecília tem 14 anos e está sozinha em casa há duas semanas. Após dias intercalados de solidão e euforia, Lorena, uma adolescente misteriosa, surge em sua casa. Apesar da nova companhia, a casa parece ficar cada vez mais vazia e os eventos, cada vez mais peculiares.
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“Encontro Às Cegas” (Ficção, 10′, RJ, 2016), de Isabela Costa. Quando um vampiro cego, em pleno 2016, atrai suas vítimas por meio de aplicativos de celular, uma surpreendente chegada muda o rumo da noite.
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“O Diabo Mora Aqui” (Ficção, 80′, SP, 2015), de Dante Vescio e Rodrigo Gasparini. Jovens numa casa assombrada.
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“O Duplo” (Ficção, 25′, SP, 2012), de Juliana Rojas. Silvia é uma jovem professora em uma escola de ensino fundamental.  Certo dia, sua aula é interrompida quando um dos alunos vê um duplo da professora andando no outro lado da rua. Silvia tenta ignorar a aparição, mas este evento perturbador passa a impregnar seu cotidiano e alterar sua personalidade.
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“O Segredo da Família Urso” (Ficção, 20′ SC, 2014), de Cíntia Domitt Bittar. 1970, ditadura militar brasileira. Geórgia, uma menina de 8 anos, é proibida de entrar no porão de sua casa, onde costumava brincar. Longe dos olhos dos pais e da velha babá, Geórgia encontra a porta destrancada: há alguém lá dentro.
o-segredo-da-familia-urso
Quem estiver em Vitória/ES nesta data, fica aqui a dica para aproveitar o viradão. O fantástico brasileiro é o gênero cinematográfico nacional que mais tem conseguido, por conta própria, espaço em importantes festivais pelo mundo. “Zombio 2” (Petter Baiestorf), “Mar Negro” (Rodrigo Aragão), “Cabrito” (Luciano de Azevedo), “Encosto” (Joel Caetano), “Bom Dia, Carlos!” (Gurcius Gewdner), “FantastiCozzi” (Felipe M. Guerra), “Nervo Craniano Zero” (Paulo Biscaia) são apenas alguns dos filmes brasileiros que tem sido exibidos em vários festivais importantes do gênero fantástico por todas as partes do mundo. E é muito bom ver o gênero sendo reconhecido, também, em festivais de cinema brasileiro.
Bom Viradão à todos e obrigado por prestigiarem o cinema fantástico nacional!
Assista o documentário que o Canal Brasil produziu sobre o cinema fantástico brasileiro:
https://www.youtube.com/watch?v=XiSl3sb0MTY

 

 

Terror Negro: O Gato Preto

Posted in Quadrinhos with tags , , , , , , , , , on setembro 14, 2012 by canibuk

“Terror Negro” foi uma revista em quadrinhos que trazia trabalhos de horror ao mercado brasileiro dos anos de 1980. Foi editada pela Editorial Cunha Ltda. e não encontrei informações relevantes sobre a história da revista, mas mesmo assim resolvi scannear a versão em quadrinhos de “O Gato Preto”, baseado em texto de Edgar Allan Poe, que saiu neste primeiro número. Também digitalizei a HQ de uma página “A Profecia de Morte”.

Discutir a Relação: A Sogra Metendo o Dedo na Ferida do Casal

Posted in Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 7, 2012 by canibuk

“DR” (2012, 10 min.) de Joel Caetano e Felipe Guerra. Com: Dona Oldina, Mariana Zani e Joel Caetano.

Não há nada pior num relacionamento em crise do que gente de fora dando pitaco. “DR”, curta-metragem que marca a primeira parceria entre Joel Caetano e Felipe Guerra, fala justamente sobre isso: Um casal em crise (Joel e Mariana, casados na vida real) vai discutir sua relação com a sogra (Dona Oldina) não só presente, como no papel de mediadora. A sogra e a esposa despejam acusações contra o marido que escuta tudo pacientemente calado (logo depois descobrimos que ele não se defende porque está amarrado e amordaçado), logo o que era violência verbal se torna violência física e sexual com a sogra abusando do genro imobilizado, assim que a tortura física tem início dentes e dedos quebrados vão surgindo num crescendo de violência que culmina num ataque de fúria do marido contra a sogra. Nada mais atual nos dias de hoje, quando a violência tomou lugar do diálogo. Não sei se foi intencional, mas o modo como o roteiro do filme trata do ciúme possessivo é de longe uma das melhores abordagens do tema que já vi no cinema independente brasileiro. Lógico que o filme se revela meio machista, colocando a culpa de tudo nas mulheres, como se o homem fosse uma vítima do casamento e da tirania da sogra, excluindo-o do fato de, no filme, ficar claro que ele traia a esposa. Fácil de entender quando pensamos que o roteirista é Felipe Guerra, gaúcho tradicional dos pampas. Como o filme não é sério em momento algum, este “machismo” de brincadeira não atrapalha. Não posso falar muito mais sobre a história, mas é um grande acerto da dupla de diretores.

Dividindo a direção, a dupla desenvolveu um argumento que Felipe Guerra havia escrito para filmar em apenas um dia aproveitando que Dona Oldina, sua vó, estaria em São Paulo. “Já tinha colocado minha vó como fantasma, tarada e assassina serial nos meus outros filmes e queria que ela novamente fizesse um papel onde pudesse surpreender o público. Foi quando tive a idéia de “DR”. Porque todo mundo faz filme com vampiro, assassino mascarado, zumbi, mas duas das coisas mais assustadoras da “vida real”, e creio que para ambos os sexos, são sogras e discussões de relação. Imagine que se discutir a relação já é foda, com a sogra junto é duas vezes pior. Então pensei nesse negócio de uma DR em que a sogra passasse um pouco dos limites e o curta tornou-se uma experiência meio “torture porn”, aqueles filmes em que uma personagem passa o tempo todo sendo torturado.”, nos conta Guerra, enquanto Joel explica como foram as filmagens: “Ano passado Dona Oldina veio para São Paulo para acompanhar o Cinefantasy e o Felipe me mandou uma mensagem dizendo que tinha uma idéia que dava para filmar em um dia, num apartamento e com três atores, no caso Dona Oldina, eu e Mariana Zani. Nem precisei ler o roteiro para aceitar a proposta e, depois que li, fiquei muito feliz pois era uma ótima idéia. Assim surgiu o “DR”. O filme foi feito todo de forma colaborativa. O sangue foi cedido de uma oficina que o Rodrigo Aragão estava ministrando na época (um sangue, como ficamos sabendo mais tarde, que seria descartado por não ter funcionado direito). Além de nós quatro também estavam a Daniela Monteiro e a mãe do Felipe, dona Neusa Guerra. Eu e Felipe ficamos na direção, eu mais preocupado com a direção de atores e ele com a direção de cena. O Felipe fez a câmera e fizemos juntos a iluminação. Daniela e Neusa cuidaram da captação direta do som e eu fiquei com os efeitos especiais também”. Aliás, os efeitos especiais estão extremamente convincentes, o que imprime uma força narrativa de maior intensidade ao filme. Joel Continua, “Me orgulho do efeito do dedo se quebrando, simplesmente comprei uma mão falsa, cortei o dedo dela, escondi o meu e quando a mariana dobra é o dedo falso que se move para trás, a sonorização e o corte rápido fizeram o resto, ficou bem convincente, vi algumas pessoas pulando da cadeira no cinema, o que acontece também na cena dos dentes que se quebram, eu mesmo fiquei agoniado com aquilo vendo na tela”.

“DR” é um filme onde tudo está bem realizado e aproveitado, provando que não é necessário grandes orçamentos para se produzir um bom filme. Mas Dona Oldina é quem rouba o filme para si, de longe é sua melhor interpretação e ela está fantástica como a sogra perturbada e violenta. Felipe nos conta como foi trabalhar com ela: “Com 82 anos de idade minha vó topou todas as cenas numa boa e em nenhum momento ficou escandalizada com a violência, porque ela entendia que era algo exagerado e absurdo para divertir e não para chocar. Ela não tem dificuldades com as cenas físicas, seu maior problema é lembrar as falas. Fizemos uns 20 takes só dela tentando falar a frase “discutir a relação”, porque na hora ela se embananava e falava “a questão da relação”. Dona Oldina só ficou preocupada com a possibilidade do filme ser exibido em Carlos Barbosa/RS, que é uma cidadezinha de 25 mil habitantes, e ela tem medo de ser expulsa do grupo da igreja. Minha vó também fez um improvisso hilário em que dá um rápido beijo na boca do Joel, felizmente quando ele está amordaçado”. E Joel completa rindo, “Até hoje o Felipe me chama de vô!”.

A edição do curta foi decidida também em conjunto pela dupla de diretores. “Foi uma edição em conjunto, eu estava operando o software e o Felipe do meu lado, todas as decisões de cortes foram tomadas por nós dois. A montagem só demorou mais porque em determinados momentos, principalmente na cena em que eu chuto a personagem da Dona Oldina, eu tinha crises de riso. O Felipe tinha que me sacudir para eu parar de rir!”, conta Joel. O resultado final deste trabalho em conjunto, além de impressionar o espectador, deixou ambos os diretores satisfeitos, como define Felipe ao dizer “Foi interessante fazer esse projeto em conjunto com o Joel, um cara cujo trabalho eu respeito muito com o qual tenho bastante afinidade. É difícil você encontrar alguém que tope fazer uma parada assim, sem dinheiro e filmada na raça, num único dia”, enquanto Joel dá pistas para o futuro da parceria, “Espero poder repetir a dose em breve!”.

Por enquanto “DR” pode ser visto apenas em mostras e festivais, mas espero que em breve ambos os diretores tomem vergonha na cara e lancem um box com toda sua filmografia, tanto Caetano quanto Guerra estão devendo o lançamento de seus filmes para que o público de outras regiões do Brasil possa tomar contato com suas obras.

Por Petter Baiestorf.

Clique em “Joel Caetano e seu Cinema de Recurso Zero” para ler a entrevista que fiz com ele.

Clique em “Necrófilos em Ação: O Cinema de Felipe Guerra na Terra da Polenta” para ler a entrevista que fiz com ele.

Vontade

Posted in Cinema, Entrevista, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 8, 2012 by canibuk

“Vontade” (2012, 10 min.) de Fabiana Servilha. Com: Alexandre Rabello, Douglas Domingues e Marina Ballarin.

Rapaz perturbado com insônia (Alexandre Rabello) se levanta após dizer a enigmática frase: “Vou acabar com isso!”. Pega uma garrafa de vodka na geladeira, uma faca na cozinha, e sai pela cidade com seu carro. Estaciona num mercadinho, fica seguindo um gordo barbudo (Douglas Domingues) que lá fazia compras e logo em seguida seqüestra-o. O rapaz perturbado fica dando voltas sem rumo enquanto os gritos apavorados do gordo barbudo ecoam por sua mente. Num impulso estaciona o carro e liberta o seqüestrado que sai dali correndo. O rapaz, mais perturbado ainda por ter falhado em sua missão, volta para casa com o gosto amargo do fracasso na boca e arranca, com a faca, a carne da batata de sua própria perna, num ótimo momento de auto-mutilação. O desfecho do curta é digno das melhores piadas de humor negro que já tive o prazer de presenciar. Sutil, cômico e porradão!

O roteiro de “Vontade”, de autoria da própria diretora Fabiana Servilha, brinca de maneira soberba com os clichês do cinema de horror ao construir um clima macabro onde explora as várias possibilidades narrativas sem entregar mais do que o espectador deve saber. Num primeiro momento somos levados a acreditar que o jovem com insônia armado da faca e da garrafa de vodka, após a frase “Vou acabar com isso hoje!”, está em busca de sua namorada que pode estar lhe traindo com outro homem. A perseguição ao gordo no mercadinho reforça essa idéia, mas ao mesmo tempo deixa no ar a dúvida: E se o jovem perturbado é somente um psicopata em busca de sua primeira vítima? Após o jovem libertar o gordo, num momento de arrependimento, somos levados a acreditar que o surto psicótico chegou ao fim sem vítimas, sem derramamento de sangue. Ledo engano, aqui Servilha introduz uma linda cena de auto-mutilação gore com o perturbado rapaz colhendo um sucolento pedaço de sua própria carne. O final do curta de Servilha é um delicioso momento de humor negro (não amigo, o perturbado não vai comer sua própria carne não), com a moral às avessas de “Quem ama faz sacrifícios”. É uma bela história que nos faz refletir.

O curta de Fabiana Servilha, de algum modo, faz com que nos lembremos da fixação de William Seabrook e sua ânsia em conseguir algumas gramas de tão preciosa iguaria tabu. Seabrook resolveu o problema subornando um funcionário do hospital de Paris, não tendo sido tão extremo/insano quanto a personagem principal deste belo curta. Aliás, a primeira vista não gostei do título do curta (confesso que tenho queda por títulos mais mirabolantes), mas o desfecho genial do curta é tão lindo que não vejo nome mais apropriado ao curta do que “Vontade”.

Fabiana Servilha é formada em cinema e tem uma grande vontade de realizar cinema de gênero e tentar uma re-aproximação do cineasta com o público. É tarefa árdua, mas a julgar por seus curtas ela (e toda uma nova e jovem geração de cineastas independentes) está conseguindo. Seu filme de TCC foi o curta “Estrela Radiante”, seguido de “Aqueles Olhos” filmado em 16mm. Depois ajudou na realização dos ótimos “Caixa Preta” e “Eternitá”. Para a realização de “Vontade” ela escalou bons atores e técnicos talentosos, como o iluminador/diretor de fotografia Henrique Rodrigues que deu um climão doentio ao curta, as maquiagens gore do Rodrigo Aragão (diretor dos clássicos “Mangue Negro” e “A Noite do Chupacabras”) e a edição dinâmica de André Coletti (que também sempre é assistente de direção dos filmes de Servilha).

“Vontade” está sendo selecionado em inúmeros festivais de cinema, fica a dica para aqueles que gostam de conferir os rumos que nosso cinema está tomando e este novo trabalho de Fabiana Servilha precisa ser apreciado pelo máximo de público possível. Imperdível!

Abaixo uma mini-entrevista que realizei com Fabiana sobre seus curtas e sua maneira de pensar cinema.

Petter Baiestorf: Você estudou na Film Works da Academia Internacional do Cinema, fale como foi este período. Você se interessou por cinema quando?

Fabiana Servilha: Cresci vendo filmes de terror, principalmente os da década de 80, tem uma locadora bem do lado de casa e o setor que eu mais freqüentava era o do terror/suspense, desde que me conheço como gente lembro que reservava do dinheiro da bomboniere para ter como locar “The Return of the Living Dead”. O japonês da locadora dizia: – “Mas você já locou este semana passada… outra vez?” (risos). Minha infância era literalmente: parar a bicicleta e contar muito bem para amigas de bairro tudo que eu via na TV, como “Tales From the DarkSide”. Eu fazia até os efeitos sonoros e as garotas morriam de medo, pois eu esperava anoitecer para contar de propósito. O que elas não sabiam era que eu também me cagava de medo, mas vendo o medo delas, aliviava o meu (risos). Certa vez a mãe de uma dessas garotas toca a campainha de casa para brigar com minha mãe, dizendo: – “Sua filha tem 10 anos! A minha tem 7 e se impressiona com O Exorcista!!!! Não quero que a Fabiana fique mostrando essas coisas a ela! As rodas da bicicleta estão com terra de cemitério!!!” (risos). Isso porque eu costumava pegar amoras no cemitério para fazer suco, coisa bizarra de criança (risos). Com uns 12 anos comecei a ler Stephen king e a escrever roteiros, lembro que eram todos longas metragens!!! Hoje dou risada disso, pois não é uma tarefa tão fácil como uma menina de 12 pensava que fosse , mas só gravei com uns 16 anos um curta para escola, era de aula de educação artística. Cada grupo devia escolher um gênero, eu levantei voando para garantir que o de terror fosse o meu. E ficou bacana mesmo editando na época no vídeo cassete, o resultado foi um plágio da abertura do “Night of the Creeps” (risos), só inverti a situação para anos 70 pois havia conseguido uma brasília emprestada para gravar. Eu ia no cinema praticamente todos os dias, pagava um filme e assistia 3, ou 4 com a famosa ida ao banheiro para entrar nas outras de graça. Comecei a fazer cursos gratuitos de cinema pelas oficinas culturais,  posteriormente conheci Eduardo Aguilar, e fazia curso com o José Mojica Marins, mas nessa época eu fazia um milhão de coisas envolvendo arte, eu me envolvia com teatro, música, dança, e acabei deixando o cinema de lado e estudando Artes Visuais na Belas Artes. Eu já estava no segundo ano, quando o professor de desenho fala: – “Agora peguem o carbono e risquem o vazio e vejam o que encontram, potencializem essa coisa”. E eu pensei: “Que caralho que eu to fazendo aqui? eu queria fazer filme de terror!”. Até que surgiu uma bolsa pela Academia Internacional de Cinema e aproveitei para largar tudo, só que lá eu teria um novo problema, cinema se faz com um grupo e eu teria dificuldades em achar outros alunos que também gostassem de cinema de gênero, então me sentia deslocada, queria apenas ficar ali disfarçando no som e os roteiros eram chatos pra mim, alguns davam vontade de se dar um tiro na boca na sala de aula. Desanimei bastante no começo. Foi a partir dai que surgiu o Cinema do Medo pelo Cine Galpão onde eu poderia trazer pessoas com o mesmo objetivo que eu.

Baiestorf: O que foi o projeto “Cinema do Medo” que você desenvolveu com o Cine Galpão? Quem é o Cine Galpão e qual a proposta do grupo?

Servilha: Eu sentia uma pitadela de preconceito com a galera que estudava cinema, entortavam o nariz pra mim se eu não tivesse visto “Linha de Passe”, pois eu tinha de ver mais cinema nacional e blá blá blá, mas eu não podia entortar o nariz também de eles nem saberem quem é Ivan Cardoso. Sentia que terror no geral era visto como se fosse um gênero inferior e francamente, de fato muita porcaria é feita com o gênero, o que faz piorar essa visão. Mas pessoas esquecem de grandes roteiros, diretores, atores que estiveram sim em filmes de horror. Até hoje tenho espécies de pastores querendo me converter a fazer outros gêneros; o que eles não entendem é: eu não tenho nada contra gênero algum, o que me importa é a estória me interessar. Tem certos filmes de gênero inclusive que o assunto é tão batido e ninguém traz nada de novo que eu nem quero ver, por exemplo, filmes de casa mal assombradas, espíritos, filmes de tema zumbi então nem se fala, muitos eu nem quero ver porque o povo só faz a mesma estória de sempre, parece que voltamos ao cinema mudo, estamos indo ver “A Chegada do Trem na Estação” e é exatamente o que vamos ver, apenas um trem chegando na estação. Filme de zumbi é tudo o que eu já sei, é desinteressante, me diga, me conte algo de novo que partiu de você, algo que eu já não saiba, o que me importa em filmes é algo que me atraia. E eu sou o tipo de pessoa que se interessa mais quando tem elementos fantásticos, para mim “Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”. Dirigir é sua forma de enxergar as coisas. Poderia dirigir um drama ou comédia? Sim, mas é igual futebol, eu entendo tudo do jogo, mas eu acrescento mais ao time sendo goleiro! Então me deixem em paz! (risos) Henrique Rodriguez era meu professor em um curso no Senac e sempre me via resmungando sobre isso, na época ele e Carla Monteiro iriam fundar o Cine Galpão, um espaço de uso coletivo voltado a estudos e produções audiovisuais, eles dão abertura para qualquer um que chegue com alguma proposta bacana e precise de apoio, teríamos equipamentos e auxilio, não havia mais desculpas para não se gravar. Foi então que eu chamei André Coletti para fundarmos um grupo nosso voltado apenas para estudo e produção de filmes de terror: Cinema do Medo, aberto para o público, lá então poderíamos reunir pessoas com os mesmos objetivos e deixar ser integrante, começamos com o projeto “Vontade”. Posso parecer muito idealista e romântica, mas de fato o que eu queria era uma galera para produções constantes de gênero e fazer varredura na galera independente para sermos uma produtora grande de gênero unificada, acolhidos pelo Cine Galpão. Era o nosso paraíso, pois, os cursos de cinema acabavam mas o Cine Galpão continuaria e poderíamos fazer crescer.

Baiestorf: “Estrela Radiante” foi o filme que você realizou para seu TCC. Fale como foi a realização deste curta. Como foi a distribuição dele?

Servilha: “Estrela Radiante” foi uma loucura, haviam outros 2 estudantes da AIC que o abandonaram como projeto de TCC deles, e eu até entendo. Na verdade por volta de 30 pessoas abandonaram o filme ou mais, muitas eu nem conto porque nunca acrescentaram em nada, nem conto como “passaram pelo filme”, teve diversos produtores que pularam fora quando a corda apertou e muitos pioravam mais que ajudavam e faltando uma semana para gravar eu me encontrei sozinha com a produção,  não tinha praticamente nada e as pessoas só desistiam pois sabiam que não seria fácil e muito arriscado. Convenhamos, ir pro meio do mato para passar sufoco não é muito animador. Eu não estava dando conta e sem dinheiro era pior ainda! perdi o departamento inteiro de fotografia e o de produção faltando uma semana, era complicado, não tínhamos dinheiro, nem tempo, tudo era difícil, elenco complicado, gravar no mato, arte complicada, estória bizarra misturando ficção científica com horror made in Brasil. Não sei bem identificar o gênero, eu costumo chamar de “A Gororoba da Fabi” (risos). Lembro que precisava de várias larvas para o filme e um dia antes de ir para o interior gravar, as larvas fugiram dos potes, quando eu e André Coletti acordamos, estávamos rodeados de trocentas larvas e desesperados começamos a pegar uma a uma do chão para colocar de volta aos potes, o André disse: – “Isso não vai abalar o orçamento, apenas 6 larvas morreram na jornada Fabi, não vai afetar a cena.” (risos) Parávamos na Rua Augusta para procurar figuração negra para levar até Ibiuna, era tão absurdo conseguir que chegamos a falar com moradores de rua para participar do filme! Como eles moravam na rua, e não tinham telefone celular falávamos: – “Hey! Esteja na porta do Ecléticos na Augusta sexta próxima as 19 horas para irmos gravar!” (risos). Lembrei bastante da palestra que fui ver do Lloyd Kaufman aqui em São Paulo sobre produções independente. Faltando uma semana e eu sem nada e com pouquíssimas pessoas do meu lado, comecei a desistir de chamar pessoas ligadas a cinema e aceitar ajuda de qualquer pessoa normal, e de fato vieram para somar e foram excelentes produtores pois não faziam corpo mole, não me chamavam de louca, e não vinham com vícios ou achavam que TUDO seria impossível de ser feito dentro daquelas condições, foi a melhor atitude que fiz, gente que nunca havia trabalhado com cinema estavam dando um show de produção e força de vontade, me surpreenderam e eu não teria conseguido nada sem elas; lembro que postei uma imagem de S.O.S no facebook, faltando 1 semana eu pensei em desistir também, não conseguia dormir mais, chorando de raiva eu até escrevi um diário e escrevi que eu conseguiria fazer essa porra sozinha mesma e assim o fiz. Devo muito a todos que aparecerão nos créditos finais cada um vinha com um pequeno milagre e era um leão diferente pra matar a cada 30 minutos. Até a atriz Débora Muniz vendo minha cara de exausta me incentivava nas gravações; tive muita sorte pois não poderia ter um elenco melhor, André Cecatto, Fábio Neppo, Débora Muniz, Valdano Sousa,  todos estavam muito compreensivos comigo e estavam ali para ajudar em qualquer coisa que fosse. Foi uma puta experiência de superação e saber transformar o lodo em pérola. Ficará pronto no final do ano, e em 2013 estará nos telões com muito orgulho!!

Baiestorf: Você não acha que as faculdades de cinema deveriam ter uma distribuidora de filmes para escoar ao público estes filmes produzidos para TCCs?

Servilha: Sim, seria ótimo; muitos curtas ficam encalhados e os realizadores devem parar um pouco e se perguntar a razão de o porque de tudo isso, e a atenção em relação a isso deve partir de lá de trás, na escolha do roteiro, de atores, tudo vai influenciar para que o filme seja bom, e quanto mais rico for o filme, mais vai ser favorável para que você consiga estender o prazo de vida dele posteriormente, é óbvio. Este ano fiquei sem gravar nada pois sofri na pele a dificuldade que é exibir e distribuir sozinha, o filme literalmente morre se você deixar, você acaba desistindo, é um trabalho de cão, acaba se enjoando dele, de saco cheio já, ou partindo para a produção de outro. E NÃO!!! Isso está errado! Vai ser muito difícil eu gravar outra coisa na loucura por impulso, quero analisar na frente tudo que farei com o material pronto pois eu desejo filmes que sobrevivam e se estendam o máximo que puder. É uma delícia gravar, a parte chata é justamente o que fazer com o filme depois de pronto, ele precisará de cuidados e esse tipo de pensamento desde o começo é para seu próprio bem, justamente para te ajudar a gravar ainda mais, você verá que além de gravar, é uma delícia também ele estar em festivais, sendo visto, e o melhor! Te dar uns trocados para você gravar o próximo, para que você não desista.

Baiestorf: “Aqueles Olhos” você fez em 16mm, qual foi o orçamento do curta? Você acha necessário filmar em película nos dias de hoje?

Servilha: Deve ter dado por volta de 1.300 reais, a película partiu da própria AIC; um rolo de nem 13 minutos para tirar um filme final de 5 minutos, eu tinha medo até de bater claquete e ser demorado. A experiência com película foi boa para ver a diferença do digital, no digital eu sou um inferno, nunca tá bom, faço takes demais, a equipe mesmo fala: – “Este está igualzinho ao anterior Fabi, chega!”. No digital acabamos gravando muitas coisas as vezes desnecessárias o que fica até perigoso de perder o foco da tua narrativa, você não está registrando, você está narrando algo! Onde eu coloco a câmera agora? Na película você não é nenhum milionário que pode ficar se aventurando, então te força a focar realmente direto ao necessário, você visualiza seu trabalho de decupagem muito mais porque é literalmente película valiosa torrando. Os dois tem seus pontos positivos e negativos, aplicar o pensamento econômico de se filmar em película para o digital vai ser bom pra seu plano de filmagem e sua decupagem e não sair correndo por ai disparando o REC.

Baiestorf: Como foi a recepção de “Aqueles Olhos”? Ele te abriu algumas portas para a produção de novos filmes?

Servilha: O bacana do curta foi ver em diversas exibições a reação do público, toda hora que aparecia o demônio no bolo a platéia provocava um som, isso é muito maravilhoso, saber que você atingiu a intenção; ele foi exibido no SP TERROR no Reserva, CineSesc, no MIS Festival AIC, Halloween Casa das Rosas, Guaru Fantástico e no Cinefantasy, não havia mandado a muitos lugares na época, engraçado que quando fomos selecionados ao Cinefantasy fomos parar na categoria Novos Rumos e dai eu pensei: “Que tipo de filme eu ando fazendo? Não é terror, não é surrealismo. Novos rumos?! Isso é bom? Que diabo significa isso?” (risos). Fiquei muito surpresa em o filme ser premiado no Cinefantasy na categoria “Estímulo a Estudante”, ele me abriu portas internas eu diria, me diverti muito fazendo na época, eu e André fizemos pensando na gente, pra gente, eu não estava nem um pouco preocupada com o que falariam na banca da AIC e acho que fizemos tão sem pretensões e tão verdadeiro que a banca acabou sendo ótima na escola e as pessoas sempre gostavam do curta quando assistiam, foi dai que arrisquei a enviar a alguns lugares.

Baiestorf: Acabei de assistir teu ótimo curta “Vontade” e o senso de humor negro que você imprimiu ao curta, de maneira sutil, me deixou impressionado. Sua direção é bem segura, com um grande trabalho de decupagem das cenas. Como surgiu a idéia para o roteiro de “Vontade” e sua posterior filmagem? Foi complicado filmá-lo?

Servilha: Que bom que curtiu petter, fico feliz. Eu tenho muitos roteiros em casa que escrevo, tem longa também mas tenho que admitir que amo contos, estórias curtas, e adoro quando a idéia me surge pelo plot, como aconteceu no “Vontade”, infelizmente não tenho $$ para gravar tudo e gosto de escrever roteiros mais malucos, o que piora de realizá-los. Estou tentando fazer estórias mais simples em questão de produção para facilitar a vida e “Vontade” é este caso, uma produção simples, e barata. Sempre fico atenta a coisas pequenas que aparecem ao redor e sou a típica pessoa que dá ouvidos aos loucos sim! Acho que um gesto, uma palavra que a pessoa coloca, um tropeço pode me surgir uma boa idéia, tem coisas bizarras que acontecem ao nosso redor o tempo inteiro e simplesmente não damos atenção, muito que escrevo parte do real. A idéia do “Vontade” era entrarmos em uma busca mistériosa, uma corrida no meio de uma madrugada de um personagem que precisa encontrar coragens de cometer um homicídio para satisfazer uma vontade emergencial e incontrolável. Um Thirller com pouquíssimos diálogos. Fiquei surpresa de ver o filme sendo indicado a Melhor Roteiro do Festival Art Deco Cinema e mais 2 indicações.

Baiestorf: Qual foi o orçamento de “Vontade” e nos conte como foram as filmagens do curta.

Servilha: Deve ter dado por volta de 1.500. O maior gasto foi com a maquiagem do filme, equipamentos eu teria com o apoio do Cine Galpão, Cinema de Guerrilha, e eu iria aproveitar a vinda do cineasta Rodrigo Aragão ao Cinefantasy para gravar quando ele estivesse em São Paulo por conta da maquiagem do filme. Acabou batendo exatamente nos mesmos dias que eu estava filmando Aqueles Olhos pela Academia Internacional de Cinema. Foi exaustivo gravar 2 curtas tão colados, mas para economizar e ter o Aragão só podia ser deste jeito. “Vontade” na verdade é um remake de nós mesmos, eu havia tido a idéia, e no dia seguinte chamei 2 amigos, essa era a “equipe do filme”, entre eles André Coletti, chamei o ator Alexandre Rabello e gravamos em uma mini dv em poucas horas. Eu nem havia feito decupagem alguma e eu mesma fiz a maquiagem e até fui atriz no filme. Quando editamos no dia seguinte vi onde erramos e o que acertamos e vi que aquilo tinha potencial para ser gravado melhor. Quando precisamos inaugurar o Cinema do Medo no Cine Galpão pegamos o Vontade logo de cara para regravá-lo.

Baiestorf: Gostei bastante dos atores e da equipe-técnica que trabalhou no “Vontade”. Fale um pouco como você reuniu este talentoso grupo e como outros produtores fazem prá trabalhar com eles.

Servilha: Algumas pessoas já eram meus amigos, e a sede de reuniões era no Cine Galpão. Carla Monteiro e Henrique Rodriguez vestiram a camisa sendo integrantes da equipe, eu havia feito teatro com o ator Alexandre Rabello que topa qualquer parada, a atriz Marina Baillarin era amiga do André Coletti, consegui trazer algumas pessoas da AIC para o grupo, quem caiu de pára-quedas atuando foi o Douglas Domingues que foi lá ajudar de ultima hora porque estávamos sem um ator, ele acabou fazendo parte do Cinema do Medo depois. Stefanne Marion acabou entrando e cuidando da arte que estava sozinha, conheci o Vitor Melloni pelo festival SP Terror e ele acabou se interessando pelo projeto e ajudou muito na produção do filme, também fico muito feliz com a equipe final, pequena, e funcional. As vezes não precisamos armar um circo de pessoas, o importante é elas funcionarem. Também teve várias entradas e saídas de pessoas pelo Cinema do Medo, manter um grupo andando não é fácil e as pessoas não entendem e preferem botar a culpa em você, não bastava ter equipamentos e achar que tínhamos a faca e o queijo na mão, cinema dependia das pessoas, queria reunir pessoas apaixonadas por filme de gênero de verdade, era a minha tática para animá-las a segurar o tranco de dificuldades que todo cinema independente passa.

Baiestorf: “Vontade” está sendo selecionado em diversos festivais de cinema aqui do Brasil e exterior. Você pode adiantar os lugares onde seu curta estará sendo exibido nos próximos meses para que os leitores do Canibuk possam assisti-lo?

Servilha: Tudo tem sido bacana e com muito sangue meu, tenho trabalhado demais por ele, o filme foi para 3 indicações e levei o Premio Jovem Talento Feminino Brasileiro pelo Festival Art Deco Cinema aqui em São Paulo, com um filme Thriller! (risos). Isso me deixou muito feliz, geralmente eu tenho até medo de mandar filme de gênero competindo com os demais e a abertura e recepção que tive neste festival foi fantástica. Este mês foi uma surpresa ver que o filme será exibido em agosto 7 vezes Em São Paulo na Espantomania, Guaru Fantástico; no Rio de Janeiro, na Rio Fan; no Festival Macabro no México, entre outros. Estou muito contente pela repercussão do filme, todos podem acompanhar as notícias pela página “Vontade Filme” no Facebook. Tive uma recepção ótima de festivais na Califórnia, o primeiro será em Novembro 2012, inclusive tem festivais de cinema de gênero voltado apenas para direção feminina! (risos). Achei genial e estou feliz com tudo isso. Em São Paulo este mês teremos uma mostra especial da galera integrante do Cinema do Medo na ECLA, estaremos lá. Vale a pena conhecer quem se interessou pelo grupo, ou o Cine Galpão.

Baiestorf: Antigamente (até meados de 2005) nós produtores independentes praticamente não tínhamos festivais/mostras para apresentar nossos curtas, nem os canais de divulgação da Internet, tudo era divulgado em eventos undergrounds (bares e botecos com telão) ou fanzines com os filmes sendo enviados via correio. Daquela época prá cá a divulgação melhorou mas o sistema de distribuição dos filmes continua precária e amadora. Como você está distribuindo teus filmes? Eles estão se pagando? Há alguma coletânea em DVD com teus trabalhos para quem quiser tê-los em casa?

Servilha: Eu tenho muiiiiitooo o que aprender, estou no começo de tudo mesmo, tem um mundo por trás disso, e eu estou tendo que aprender na marra e sozinha, agora que eu estou entendendo melhor o que fazer com um filme e até onde eu posso ir com ele, estou me aliando com pessoas experientes no assunto que vêem me orientando. Ando pegando nichos e tem como ter uma sobrevivência independente sim. Quando acabar o período de festivais e mostras pretendo distribuir para DVD e televisão.

Baiestorf: Sou um eterno defensor/divulgador do cinema independente e pela primeira vez sinto que o Brasil tem uma cena de filmes independentes que estão tecnicamente bem elaborados/finalizados. Você acha que o caminho a seguir é continuar na produção independente ou pretende tentar alguns editais para captação de recursos mais polpudos?

Servilha: eu acho que você tem que reconhecer a qualidade daquilo que você tem na mão primeiramente, se tiver potencial até a forma independente só tende a dar bons resultados porque o trabalho é bom, acho que é possível as duas coisas, é só o cinema independente pensar mais sério que o retorno será mais sério. Fazer da sua melhor maneira possível e sempre procurar evoluir, graças a Deus criatividade é gratuito. Tem lugares, como o Cine Galpão, que buscam ser co-produtores, há bons atores por ai que ainda topam sim trabalhar de graça se ver qualidade e seriedade no que você está propondo, assim como outras pessoas de parte técnica. Desistentes e gente que provavelmente vão pular do barco, ou largar pois arrumou um outro trabalho vai ter, mas se você tiver perseverança você consegue fazer acontecer.

Baiestorf: Vi você defendendo o cinema de gênero. Você acredita que pode ser alcançado um público maior com o cinema de gênero? Como fazer para que os filmes cheguem ao povão já que hoje o cinema de bairro e/ou de calçada praticamente está extinto e o cinema de shopping exibe apenas cine-sonífero estrangeiro (ou aquelas chatices Globo Filmes)?

Servilha: Claro, porque não? Para chegar no “povão” filmes nacionais de gênero o método talvez seria trilhar um caminho pelas beiradas, é muito difícil você chegar a um adulto forçando-o comer verdura se desde criança ele não tinha costume em comer, não é da cultura brasileira, digo isso por mim que só via filmes gringos desde criança e pra mim Zé do Caixão era um apresentador do Cine Trash apenas. Eu nem tinha acesso aos próprios filmes nacionais de terror nas locadoras, isso é lamentável.

Baiestorf: Projeto futuro? Há algo em pré-produção “made in” Fabiana Servilha?

Servilha: Tem sim, até com HQs estou me envolvendo (risos). Melhor do que deixar estórias jogadas na gaveta (risos). Estou empolgada com 2013, tem um projeto de longa metragem muito bacana a caminho e um programa infanto juvenil de gênero que ando cuidando para dar certo; tenho muito trabalho pela frente, cuidando do “Vontade”, preparando o “Estrela Radiante”, tem sido uma loucura.

fotos de Juliana Cupini e Luciano Abe.