Arquivo para tor johnson

O Monstro Nuclear de Yucca Flats

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 12, 2016 by canibuk

The Beast of Yucca Flats (1961, 54 min.) de Coleman Francis. Com: Tor Johnson, Douglas Mellor, Barbara Francis e Conrad Brooks.

the-beast-of-yucca-flats1Quando assassinos da KGB vão a Yucca Flats para matar o cientista Joseph Javorsky (Tor Johnson) mal sabiam eles que, tomado pelo desespero, Javorsky fugiria para o deserto e seria contaminado pela radiação de um teste nuclear americano que estava acontecendo no local, tornando-o a besta sanguinária de Yucca Flats num dos filmes considerado pela crítica como uma das piores sci-fi já realizadas na história do cinema (nada mal para Tor Johnson que mantêm um padrão invejável, já que também está no elenco de “Plan 9 From Outer Space”, 1959, de Edward D. Wood Jr.).

the-beast-of-yucca-flatsMas “The Beast of Yucca Flats” não é tão ruim assim, principalmente quando comparado a outros filmes analisados neste livro. Parte do seu charme brejeiro está no fato de ter sido filmado sem o som para cortar custos, tendo a narração, diálogos e alguns poucos efeitos sonoros adicionados na pós-produção e, para evitar a sincronia das falas com as bocas das personagens, todos dizem seus diálogos quando estão fora da tela ou a uma distância segura da câmera para que a falta de sincronia não seja percebida pela audiência (essa técnica foi muito utilizada pelos produtores brasileiros da Boca do Lixo anos depois).

the-beast-of-yucca-flats2Coleman C. Francis (1919-1973), o inútil responsável pela realização de “The Beast of Yucca Flats”, foi ator e, eventualmente, fazia algumas tentativas como roteirista/produtor/diretor. Além deste ainda realizou “The Skydivers” (1963), um drama que, a exemplo de seu filme anterior, também foi filmado na região de Santa Clarita (California) com um orçamento igualmente medíocre; e, “Night Train to Mundo Fine” (1966), um thriller político mais conhecido pelo título alternativo de “Red Zone Cuba”, tão ruim quanto seus outros filmes (e politicamente tão irrelevante quanto “Creature from the Haunted Sea/Criaturas do Fundo do Mar”, 1961, de Roger Corman). Como ator fez papéis não creditados em vagabundagens como “Killer From Space/Mundos Que se Chocam” (1954), uma sci-fi trash de W. Lee Wilder, e “This Island Earth/Guerra Entre Planetas” (1955) de Joseph M. Newman e Jack Arnold (não creditado). Depois de vários papéis em séries de TV, virou o narrador do filme “The Thrill Killers” (1964) de Ray Dennis Steckler, outro lendário diretor ruim, com quem ainda trabalhou em “Lemon Grove Kids Meets the Monster” (1965) e “Body Fever” (1969). Em 1965 Coleman conheceu Russ Meyer e trabalhou em “Motorpsycho!” (1965), um biker movie estrelado pela beldade Haji, e “Beyond the Valley of the Dolls/De Volta ao Vale das Bonecas” (1970), uma comédia musical sexploitation alucinada já lançada em DVD duplo no Brasil pela distribuidora Fox que acabou sendo seu último trabalho no cinema.

the-beast-of-yucca-flats3

tor-johnsonNo elenco de “The Beast of Yucca Flats” temos o gigante sueco Tor Johnson reprisando o mesmo papel de sempre de sua carreira. Ao contrário do que a cinebiografia “Ed Wood” (1994), de Tim Burton, deixa transparecer, não foi Edward D. Wood Jr. quem levou Johnson para as telas. Sua estreia, de acordo com o site IMDB, foi no drama “Registered Nurse/Abnegação” (1934) de Robert Florey, onde interpretava Sonnevich, o terrível búlgaro. Depois de aparecer em mais de 10 filmes sem receber créditos na tela, estrelou “Alias The Champ/Choque de Gigantes” (1949) de George Blair, onde “interpretava” o lutador The Swedish Angel, ou seja, ele mesmo. Mas seu grande papel na tela foi mesmo a personagem Lobo no hoje Cult “Bride of the Monster/A Noiva do Monstro” (1955) pelas mãos de Edward D. Wood Jr., com quem ainda fez os clássicos “Plan 9 From Outer Space” e “Night of the Ghouls/Noite das Assombrações” (1959), uma inacreditável tranqueira cinematográfica ainda mais divertida do que os filmes anteriores de Ed Wood, onde reprisou o papel de Lobo. Outros filmes imperdíveis que Johnson estrela são “The Black Sleep/A Torre dos Monstros” (1956) de Reginald Le Borg; “The Unearthly” (1957) de Boris Petroff (sob pseudônimo de Brooke L. Peters) e a comédia musical “Head/Os Monkees Estão de Volta” (1968) de Bob Rafelson. Conrad Brooks, outro ator da trupe de Ed Wood, também dá as caras em “The Beast of Yucca Flats” e o diretor/ator Titus Moede (o Boo Boo de “Rat Pfink a Boo Boo”, 1966, de Ray Dennis Steckler) foi o responsável pela mixagem do som deste incrível filme ruim.

Por Petter Baiestorf.

Assista The Beast of Yucca Flats aqui:

Chapado

Posted in Cinema, download, Manifesto Canibal, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 12, 2016 by canibuk

Chapado (1997, 30 min.) Escrito, Produzido, Estrelado e Dirigido por Petter Baiestorf, Coffin Souza e Marcos Braun. Também estrelando: Jorge Timm no papel de Tor Johnson.

Sinópse: Três michês resolvem se trancar dentro de um filme e ficam se utilizando de todo tipo de drogas em loop toda vez que algum cinéfilo voyeur insiste em ficar tentando entender suas desventuras com as drogas e cinema.

chapado20 anos atrás, em meados de 1996, Coffin Souza e Marcos Braun se reuniram comigo para elaborarmos um roteiro sem começo, meio e fim que simplesmente mostrasse um grupo de amigos se chapando sem qualquer tipo de moralismo ou explicações. Então, ao invés de escrevermos um roteiro, ficamos sentindo as drogas e o álcool durante um mês e registrando sem nos preocuparmos com a narrativa e com o público. A ideia era deixar correr e, depois, ver no que ia dar.

Por motivos mais do que óbvios, não lembro direito das filmagens. Sei que ficamos uns 6 meses nesta experiência lisérgica colhendo material para montar um filme e experimentando sentimentos diversos. Filmamos no Oeste de Santa Catarina, interiorzão do RS e acabamos realizando algumas cenas em Porto Alegre.

digitalizar0027Mas as filmagens tiveram vários momentos divertidos. Antes de começar a experiência fomos até numa festa tradicional da região Oeste e vimos uma iluminação dando sopa num stand de uma concessionária de carros e resolvemos roubar pela curtição de fazer algo errado. E lá fomos Braun e eu completamente grogues de uísque roubar  a luz, só que saímos correndo com ela sem perceber que ainda estava plugada numa tomada, fazendo o maior estardalhaço, com seguranças correndo atrás de nós e o Jorge Timm bêbado com o carro, onde iríamos entrar, em zigue e zague na nossa frente. Depois que iniciamos as filmagens, quase fui atropelado ao filmar sobre a ponte do Rio Uruguai, na divisa entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A cena em questão não estava sendo gravada ainda, mas depois simulamos novamente para ter o momento no filme (essa cena simulada está no filme). Neste mesmo dia também me pendurei numa escada enferrujada – e quase soltando – que havia no meio da ponte.

renomear-049

Como queríamos uma cena de impacto no filme, resolvemos invadir um cemitério e cavar uma tumba por lá (vazia, lógico, não somos tão retardados assim). Só que chegando no cemitério avistamos uma cruz gigante e então acabamos realizando uma performance festiva nesta cruz gigante – cena que está no filme – que diz muito sobre o que achamos que qualquer tipo de religião faz com o povo. Assim que terminamos de filmar essa cena apareceu um cortejo fúnebre no cemitério, foi engraçado a gente saindo de fininho com pás, enxadões e o ator se vestindo. Talvez tenhamos traumatizado aquela família que só queria enterrar um ente querido. Em tempo: Os créditos de “Chapado” foram inseridos na metade do filme, então para ver essa cena da cruz é só continuar assistindo o filme pós os créditos finais.

“Chapado” nunca foi oficialmente exibido em lugar nenhum, sabemos que não é um filme para qualquer audiência. Mas foi feito e adquiriu vida própria, então volta e meia alguém que viu ele nos tempos do VHS (ele era comercializado numa fita junto do “Bondage 2 – Amarre-me, Gordo Escroto!!!“) me comenta que curte ficar sentindo o filme enquanto fuma um. Em DVD ele faz parte do DVD “Festival Psicotrônico Vol. 1”.

chapado-1997

Se você quiser conhecer o filme, pode baixar clicando no nome do filme: CHAPADO. Claro que é bem possível que você venha a odiar essa produção e achar que perdeu meia hora de sua vida (caso seja um destes fãs de cinemão de Hollywood). É só um filme pra ser sentido, como se fosse uma vídeo poesia das mais feias e cretinas – porque poetas, necessariamente, não tem a obrigação de serem bonzinhos e compreensivos.

Falta de lembranças de Petter Baiestorf.

Dei sequencia a essas experiências em 2005 com o filme “Palhaço Triste” que você pode assistir online:

A Orgia das Graciosas Strippers Mortas

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 2, 2016 by canibuk

Orgy of the Dead (1965, 92 min.) de Stephen C. Apostolof. Roteiro de Edward D. Wood Jr. (baseado em sua novela “Orgy of the Dead”). Com: Criswell, Pat Barrington, Fawn Silver, Rene De Beau e Nadejda Klein.

orgy-of-the-deadCom uma trama praticamente inexistente “Orgy of the Dead” tenta contar a história de um casal (Pat Barrington, que no ano seguinte estaria no elenco de “Mondo Topless”, e William Bates) que, ao discutir sobre o quanto uma visita noturna a um cemitério pode ser inspiradora, se acidenta e acaba num cemitério (que é o mesmo de “Night of the Ghouls” de Ed Wood) onde encontra o todo poderoso “Imperador” (Criswell, impagável como sempre) que os aprisiona e convoca deliciosas almas penadas do além para números de dança hilários com strippers indígenas, mulheres gatos, múmia, lobisomem fajuto e toda uma fauna de curiosas personagens que dão a ideia de que o inferno é o melhor lugar do mundo.

black-ghoul-drunk

Fawn Silver e Criswell

Com este ponto de partida infantiloide “Orgy of the Dead” é uma grande brincadeira cinéfila involuntária com Edward D. Wood Jr. (aqui roteirista e faz tudo da produção) exercitando-se (sem querer) na metalinguagem. “Orgy” remete diretamente ao seu filme “Night of the Ghouls” (1958), um inacreditável horror sobrenatural com Criswell “interpretando” o mesmo papel. Para se ter uma ideia da precariedade de “Night of the Ghouls” basta contar que o filme foi filmado em 1958 e só lançado em 1983. Ed Wood, após filmar “Night” não tinha como pagar a conta no laboratório que revelou o filme, então os negativos ficaram apreendidos nos arquivos do laboratório até que em 1983 – depois que Wood e Criswell já estavam mortos, fazendo-me pensar que, talvez, eles nunca tenham nem assistido ao copião do filme -, quando o empresário Wade Williams pagou a conta, montou e lançou o filme que já era considerado obra perdida (à título de curiosidade, Wade foi diretor de “Terror From the Stars” (1969) e produtor associado em pérolas como “Invaders From Mars/Invasores de Marte” (1986) de Tobe Hooper e “Midnight Movie Massacre/Aconteceu à Meia Noite” (1988) da dupla Laurence Jacobs e Mark Stock). Ainda no campo da metalinguagem, o papel da personagem “Black Ghoul” foi escrito para ser interpretado pela Maila Nurmi (a Vampira de “Plan 9 From Outer Space”, que infelizmente se recusou a filmar) e acabou sendo feita pela atriz Fawn Silver, que depois esteve no elenco dos filmes “Unkissed Bride” (1966) de Jack H. Harris (isso mesmo, o produtor do Cult “The Blob/A Bolha Assassina” (1958) dirigido por Irvin S. Yeaworth) e do bagunçado “Terror in the Jungle” (1968), realização que teve três diretores (Andrew Janczak, Tom DeSimone e Alex Graton), cada um deles filmando um pedaço do filme.

 

Independente de “Orgy of the Dead” ser bom ou ruim (ele está muito além deste irrisório detalhe), é o grande marco na transição do Ed Wood da fase sci-fi/horror para o Ed Wood da pornografia. “Orgy” ainda não é pornô (nem erótico ele consegue ser), mas já não era mais uma tentativa de ser um filme de horror, flertando explicitamente com o subgênero Nudie Cutie em que qualquer mínimo enredo era mera desculpa para explorar as carnes femininas.

stephen-a-apostolov

Stephen C. Apostolof

O diretor de “Orgy” é Stephen C. Apostolof, que geralmente assinava com o pseudônimo AC Stephen, um especialista em sexploitations que pertenceu aos pioneiros do cinema adulto americano. Apostolof nasceu na Bulgária e durante a segunda guerra mundial fugiu para os USA. Seu primeiro emprego em solo americano foi como arquivista no estúdio 20th Century-Fox. Em 1957 se meteu na produção do filme “Journey to Freedon”, de Robert C. Dertano, onde conheceu o gigante Tor Johnson que trabalhava como ator e o apresentou ao Ed Wood. No início da década de 1960 Apostolof assistiu ao Nudie Cutie “The Immoral Mrs. Teas” (1959) de Russ Meyer e soube o que queria fazer de sua vida. E assim acabou produzindo/dirigindo quase 20 produções cheias da boa e sadia putaria que alegra nossa vida, vários destes filmes com roteiros escritos por seu amigo Ed Wood (além do “Orgy”, Wood também assina os roteiros de “Drop Out Wife” (1972), “The Class Reunion” (1972), “The Snow Bunnies” (1972), “The Cocktail Hostesses” (1973), “Five Loose Women” (1974, este lançado no Brasil com o título “As Fugitivas”) e “The Beach Bunnies” (1976), todos produzidos/dirigidos pelo búlgaro tarado). A parceria com Apostolof foi uma sobrevida na decadente carreira de Ed Wood, se iniciou em 1965 com este “Orgy of the Dead” e durou até 1978, ano de sua morte, com Apostolof garantindo uns poucos dólares para Wood nesta terrível fase e meio que repetindo o que o próprio Ed Wood havia feito por Bela Lugosi uma década antes. Em 2012 foi lançado um divertido documentário, “Dad Made Dirty Movies” de Jordan Todorov, sobre a  hilária e muito curiosa carreira de Apostolov.

criswell-predicts

O elenco de “Orgy” é encabeçado por Jeron Criswell King, o lendário “The Amazing Criswell”, que foi um vidente americano famoso por suas previsões sempre imprecisas. Filho de uma família dona de funerária, Criswell possuía um caixão no lugar da tradicional cama porque achava mais confortável dormir ali (aliás, o caixão de Criswell aparece no pornô “Necromania” (1971) de Ed Wood). Também foi locutor de rádio e amigo de celebridades decadentes como Korla Pandit e Mae West, sendo que a pobre Mae usava Criswell como seu conselheiro espiritual. Em março de 1963 ele previu que John F. Kennedy não concorreria à reeleição em 1964 porque algo iria acontecer com ele em novembro de 1963. Picareta ou não, o fato é que Kennedy foi assassinado em novembro de 1963. Em seu livro “Criswell Predict from Now to the Year 2000!” (à venda na Amazon por cerca de 10 dólares), previu que a cidade de Denver seria atingida por um raio espacial e todo o metal se transformaria em borracha. Neste mesmo livro também previa que seríamos todos canibais no futuro e que o fim do mundo aconteceria em 1999. Criswell apareceu em três filmes, o clássico “Plan 9 from Outer Space”, o cômico “Night of the Ghouls”, ambos de Ed Wood, e “Orgy of the Dead” em que, contam seus colegas de produção, filmou todas as suas cenas em estado de pileque constante acompanhado de seu velho amigo, e companheiro de copo, Ed Wood.

 

Paperback Background

Livro

“Orgy of the Dead” foi realizado por uma turma de técnicos que são uma espécie de “dream Team” do melhor do pior. A trilha sonora (conforme indica o site IMDB) é do compositor Jaime Mendoza-Nava (que não está creditado no filme), responsável por musicar inúmeras produções de “fundo de quintal”. A fotografia é de Robert Caramico, em início de carreira, que depois fotografou lixos imperdíveis como “The Black Klansman” (1966) de Ted V. Mikels, “Psychedelic Sexualis” (1966) de Albert Zugsmith, “Octaman” (1971) de Harry Essex, “The Doberman Gang” (1972) de Byron Chudnow, do clássico cult “Blackenstein” (1973) de William A. Levey, entre tantos outros. Caramico ainda foi diretor do pornô satânico “Sex Ritual of the Occult” (1970) que é um filme inútil que gosto bastante. O assistente de Caramico foi Robert Maxwell (que depois virou diretor de fotografia do clássico “The Astro-Zombies” (1968) de Ted V. Mikels e do fabuloso “Sweet Sweetback’s Baadasssss Song” (1971) de Melvin Van Peebles. O som de “Orgy” foi feito por Dale Knight que tinha em seu currículo trabalhos em vários filmes de Ed Wood (“Jail Bait”, “Bride of the Monster” e “Plan 9” tiveram o som feito por ele) e em produções como “The Astounding She-Monster” (1957) de Ronald V. Ashcroft e “The Cape Canaveral Monsters” (1960), outro delírio do diretor Phil Tucker, o grande responsável pelo genial “Robot Monster” (1953). E a edição ficou a cargo do diretor/produtor Don Davis que comandou o trabalho em filmes como o dramático “For Love and Money” (1967), também com roteiro de Ed Wood, e “Swamp Girl” (1971), sobre uma loirinha que é abandonada num pântano (curiosidade: Don Davis aparece atuando no papel de um Bêbado em “Plan 9”). Ainda sobre a equipe de “Orgy of the Dead”, diz a lenda que os diretores de segunda unidade , não creditados no filme, foram Edward D. Wood Jr. e Ted V. Mikels, mas duvido que tão capenga produção tenha tido uma equipe de segunda unidade.

orgy-of-the-dead1De certo modo a explosão do mercado de cinema adulto no final dos anos de 1970, aliado a popularização dos aparelhos de VHS que permitiam ao público ver putaria explícita no conforto do lar, foram os responsáveis por sepultar a carreira de toda uma geração de produtores/diretores independentes como Apostolof (e até gênios como Russ Meyer). Depois de “Ice Hot”, filme que lançou em 1978, Apostolof nunca mais conseguiu investidores para seus filmes eróticos (que preferiam a segurança financeira de investir no cinema hardcore). Como Apostolof detinha os direitos autorais de todos os seus filmes se dedicou a lançá-los no, então, crescente mercado de vídeo doméstico se tornando o distribuidor de seus agradáveis e bem humorados lixos cinematográficos (Russ Meyer, Ted V. Mikels, David Friedman, e outros, fizeram a mesma coisa).

Escrito por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.

Assista “Orgy of the Dead” aqui:

Freaks no Cinema parte 1: Monstros sem Máscaras

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , on fevereiro 29, 2012 by canibuk

A maquiagem especial é sem duvida a porção maior na criação dos monstros cinematográficos do cinema fantástico. Os atores, ou extras que interpretam estas criaturas utilizam uma variedade de métodos (de algodão e tintas, passando por papier maché, látex líquido, até os atuais efeitos digitais) para ajudá-los a externar o horror de seus personagens incomuns. Mas como toda regra tem sua exceção, alguns atores, que se nascessem em séculos passados não passariam de curiosidades em circos, conseguiram com apenas alguns retoques ou adereços criar monstros lendários, apenas realçando suas deformações naturais.

RONDO HATTON – Nasceu em Abril de 1894 em Maryland, EUA. Foi um jovem comum e inteligente, conhecido na High School por ser um ótimo escritor, publicando textos nos jornais de Tampa, Florida, para aonde se mudou aos 18 anos. Alto e de porte atlético, se interessava por esportes, principalmente Futebol americano, onde fazia sucesso com as garotas. Começou a faculdade, mas se alistou na Guarda Nacional, indo lutar na França durante a primeira Grande Guerra. Em uma batalha nos arredores de Paris, foi atingido por gás venenoso alemão e sobreviveu após longo período de internação. Deu baixa e retornou a América com uma grave seqüela: Acromegalia, uma rara doença que atinge a glândula Pituitária, agigantando rapidamente os ossos da cabeça e dos membros. Formou-se e passou a trabalhar como jornalista no jornal The Tampa Tribune. Em 1930, o diretor King Vidor rodou uma produção em Tampa, e impressionado pelo rosto anormal de Rondo, o convenceu a fazer uma ponta como segurança de um bar portuário em “Hell Harbor”, uma história de piratas. Sua figura impressionou os executivos de Hollywood, e ele se mudou para lá com sua esposa Mabel. Rondo fez figuração e pontas em dezenas de filmes, mostrando bem seu rosto na famosa cena do Festival dos Bobos na versão de 1939 de “The Hunchback of Notre Dame” (O Corcunda de Notre Dame) de William Dieterle com Charles Laughton. A grande virada em sua carreira só aconteceria em 1944, quando a Universal Films o escalou para viver o vilão Oxton Creeper, inimigo de Sherlock Holmes em “The Pearl of Death” (1944) de Roy William Neill com Basil Rathbone como o lendário detetive britânico. Apesar do personagem “esmagador de colunas” morrer no final da aventura, a reação muito positiva do público com a figura monstruosa levou a produtora a lhe arrumar novos papéis do gênero, passando a promovê-lo como “The Creeper”. Depois de seu ciclo clássico de filmes de horror, onde seus astros como Boris Karloff, Bela Lugosi ou Lon Chaney Jr. passavam horas na cadeira de maquiagem, tendo implicadas e dispendiosas aplicações feitas pelo mestre Jack Pierce, um ator barato e com uma aparência naturalmente grotesca, era um achado. ”Jungle Captive” (1944)de Harold Young, a segunda continuação de “Captive Wild Woman”, um sucesso classe “B” de 1943, trás Rondo Hatton como Moloch, o Bruto, assistente do cientista louco (Otto Kruger), que trás de volta a vida a sofrida mulher-macaco Paula Dupree (Vicky Lane). Ironicamente, a ótima maquiagem da mulher-macaco e sua transformação foram feitas por Jack Pierce, em seu último trabalho para a Universal, mas o destaque ficou novamente para a presença de Hatton. No seriado de 13 partes “Royal Mounted Rides Again” (1945), Rondo recebeu uma participação meramente “decorativa”. Seu personagem Moose, guarda-costas do vilão, passa capítulo após capítulo sentado em uma cadeira atrás de seu patrão, imóvel e calado. Quando finalmente o bandido está para ser preso, Moose recebe a ordem para agir, mas o herói lhe dá um tiro certeiro e ele morre sem se levantar. Gale Sondergaard, estrela da aventura “Sherlock Holmes and the Spider Woman” (1944) foi reunida com Hatton no terror “The Spider Woman Strikes Back” (1946) de Arthur Lubin. Apesar do título e da presença dos dois, não era uma continuação, mas a história da sinistra Zenobia, que alimenta uma planta exótica com sangue de belas jovens. Hatton vive Mario Murdock, o assistente da vilã, que se faz passar por cega. No final os dois sucumbem a um incêndio na mansão e Mario em agonia é morto com um tiro. Não contando mais com nenhum de seus astros de terror, a Universal promove largamente Rondo Hatton como estrela de “House of Horrors” (1946) de Jean Yarbrough. Marcel (Martin Kosleck) um jovem escultor enlouquecido, salva um homem enorme e deformado de se afogar. Torna-se seu amigo e esculpe um busto com sua figura peculiar. Descobre que o homem é na verdade um assassino psicopata procurado conhecido como… ”The Creeper” e passa a usá-lo para matar vários inimigos. Quando recebe a ordem de eliminar uma bela repórter que descobrira toda a trama, revolta-se e esmaga a coluna de Marcel, sendo alvejado novamente por um tiro. Seu último filme foi “The Brute Man” (1946) de Jean Yarbrough, sobre um jovem estudante de química, que fica deformado após uma explosão com ácido em um laboratório. Louco, torna-se um assassino, liquidando as pessoas que achava responsáveis pelo acidente. Por razões desconhecidas a Universal resolveu não lançar o filme, que foi comprado pela companhia independente PRC (Producer’s Releasing Corp.) que o divulgou com a chamativa frase publicitária “his brain cried Kill! Kill! Kill!”. Em novembro de 1946, Hatton estava em casa, tomando um banho, quando sua esposa ouviu um ruído estranho foi ao banheiro encontrando-o caído na banheira. Um ataque cardíaco provocado pelo agravamento de sua doença tirara a vida do gigante-assustador, que gostava de presentear os vizinhos com folhagens que ele plantava, e costumava visitar adultos e crianças vítimas de acidentes e mutilações para confortá-las com sua experiência de vida. Rondo Hatton virou uma figura Cult e ímpar no cinema “B”.

TOR JOHNSON – Nascido Karl Oscar Tor Johansson em outubro de 1903 na Suiça, mudou-se para os EUA durante os anos 30 para se tornar um lutador profissional de sucesso. Apesar de não ter nenhum tipo de deformação, Tor logo chamou a atenção dos estúdios de cinema por seu tipo físico: 1,91 m de altura, 200Kg de músculos e gordura e um rosto naturalmente expressivo com sua cabeça continuamente raspada (tinha cabelos loiros) que o transformavam na imagem de uma verdadeira ameaça ambulante. Foi campeão de luta livre com seu nome americanizado e também como “Super Swedish Angel”, “King Kong” e outros pseudônimos, alternando sua carreira nos ringues com pontas no cinema. Seu tipo físico e a cabeça raspada serviram de piada para diversas comédias como “Kid Millions” (1934) com Eddie Cantor; “Ghost Catchers” (1944) com a dupla Olson & Jonson; “Road To Rio” (1947) e “Lemon Drop Kid” (1951) com Bob Hope; “Lost in a Harem” (1944) e “Abbott and Costello In the Foreign Legion (1950) com a dupla de humoristas e “You’re Never Too Young” (O Meninão, 1955) com Jerry Lewis. Seu personagem mais marcante nesta primeira fase foi em “Behind Closed Doors” (1948) de Oscar Boetticher, um policial-noir onde vivia um maníaco homicida preso em um hospício e que é utilizado pelos administradores do local como instrumento de vingança contra seus inimigos. O filme foi relançado nos anos 50 como “Human Gorilla” fazendo referência direta ao personagem de Tor, além de ter sido refilmado para a série de TV “Petter Gunn” (1960) com o próprio reprisando seu papel. Sua entrada para o cinema de horror foi através da produção classe Z “Bride of the Monster” (1955) de Ed Wood Jr. com Bela Lugosi onde viveu pela primeira vez o personagem Lobo, um gigante deformado com cérebro infantil criado por uma experiência com energia atômica. Rodado em poucos dias, utilizando cenários de papelão e objetos de cena roubados de um estúdio, o filme que originalmente se chamava “Bride of the Atom”, é hoje um Cult Movie exatamente por suas deficiências e pelo esforço denotado na produção, fruto da paixão legítima de Ed Wood pelo cinema. Também marcou Tor com seu personagem e sua associação com a dupla Ed Wood/Lugosi. Seu próximo filme foi “The Black Sleep” (A Torre dos Monstros, 1956) de Reginald Le Borg, onde viveu Curry, um gigante-cego e retardado, que vive acorrentado, fruto das experiências do Dr.Cadman (Basil Rathbone). O elenco tipo All-stars do terror incluía Bela Lugosi (Casmir), Lon Chaney Jr. (Mongo), John Carradine (Borg) e Akim Tamiroff (Otto) todos como personagens lobotomizados pelo cientista louco. “Plan Nine from Outer Space” (1957) de Ed Wood Jr., dispensa apresentações e traz Tor Johnson e Bela Lugosi no elenco, apesar de nunca contracenarem de verdade. Lugosi havia rodado algumas poucas cenas para um filme de vampiro de Wood, quando faleceu. Elas foram editadas e um dublê com o rosto coberto substitui o lendário Drácula do cinema para o restante da história de pessoas revividas como zumbis por alienígenas afeminados. Tor inicia o filme como um inspetor de polícia, mas depois de ser morto volta como zumbi, e são clássicas suas cenas circulando nas névoas de um cemitério acompanhado de Vampira (Maila Nurmi, ex-apresentadora de um programa de terror na TV)… Ícones do cinema Trash! Em um dos últimos filmes da lendária produtora “B” Republic Pictures, “The Unearthly” (na TV “O Extraordinário”, 1957) de Brook L.Peters, Tor Johnson voltaria ao seu personagem Lobo, agora como fruto das experiências do cientista louco vivido por John Carradine. No final do filme Lobo ajuda a mocinha a escapar de vários mutantes deformados que o cientista escondia no porão, entre eles, em destaque o jovem Carl Johnson, filho de Tor com uma maquiagem pesada feita por Harry Thomas. Em 1959 Tor repete novamente o papel em “Night of the Ghouls” de Ed Wood, uma espécie de continuação amalucada de “Bride of the Monster”. Desta vez Lobo é ressuscitado com metade de seu rosto deformado e se vê em meio a uma trama de um médium falso e dois fantasmas verdadeiros. Apesar de pronto o filme nunca foi lançado, e somente saiu em vídeo (legalmente) em 1984. O último filme de terror do grande Tor, e o único em que foi o ator principal, foi “The Beast of Yucca Flats” (1961) de Coleman Francis. Um cientista russo (Tor) é atingido por uma explosão atômica e se transforma… num assassino brutamontes,deformado e sem cérebro… é claro! Segundo Conrad Brooks (seu amigo e colega neste e em outros filmes), Tor teria recebido aqui um de seus piores cachês, fazendo o papel principal por apenas U$ 300,00! O filme não tem diálogos, mas um narrador que alterna abobrinhas filosóficas (ao estilo WoodJr./Mojica Marins) com simples descrições do que se passa na tela. Johnson tinha problemas com a bebida e tinha que ser muitas vezes carregado (leia-se rebocado) até o local das filmagens, em cima de uma colina. Um jornal sensacionalista publicou na época a história que o magrelo ator Larry Aten (que morreu de ataque cardíaco durante as filmagens) teria sido esmagado por Tor durante uma cena de luta… Tor Johnson passou a se dedicar a apresentações ao vivo (revivendo Lobo), programas e propagandas para a TV e em 1965 participou de uma campanha publicitária para promover o lançamento de uma máscara de látex com seu rosto, criada pelos estúdios Don Post, que se transformaria num dos maiores sucessos de venda nas festas de Halloween, sendo fabricada até hoje. Sofrendo de sérios problemas cardíacos, o chamado “Gigante Gentil” foi obrigado a se aposentar e faleceu em maio de 1971, deixando sua esposa Greta, seu filho Carl, policial e ator esporádico e uma legião de fãs e amigos…

REGGIE NALDER – Alfred Reginald Nattzick nasceu em Viena, Áustria em 1907. Era filho de artistas de Cabaret e mais tarde seguiu a vocação dos pais e estudou teatro e dança, fazendo algum sucesso em comédias musicais. Um terrível acidente que ele nunca explicou, acontecido nos anos 30, deformou seu rosto, fazendo-o parecer uma caveira viva. Séria ameaça para alguém com pretensões artísticas, mas Nalder não desistiu e acabou se envolvendo com o cinema fazendo algumas pontas. O mestre Alfred Hitchcock descobriu aquele rosto ímpar e o colocou como um sinistro e frio assassino em “The Man Who Knew Too Much” (O Homem que Sabia Demais, 1955). Logo ele seria o vilão permanente em filmes como “Liane, The Jungle Goddess” (1956) ou “The Manchurian Candidate” (1962) ou séries de TV: “Thriller”; “Star Trek” (Jornada nas Estrelas), “Wild,Wild West” (James West) ou “Battlestar Gallactica”. O futuro Maestro do Giallo, Dario Argento, o escalou pra uma ponta importante em seu primeiro longa metragem “L’Uccelo Dalle Piume Di Cristallo” (O Pássaro da Plumas de Cristal, 1970). No mesmo ano Nalder viajou para Munich (Alemanha), para representar Albino, um sádico caçador de bruxas num dos mais violentos filmes da época “Brenn Hexen Brenn” (Mark of the Devil, 1970), escrito pelo crítico inglês Michael Armstrong, que co-dirigiu com o produtor de filmes eróticos Adrian Hoven. Ao ser lançado com grande publicidade (que incluía sugestivos sacos-de-vômito personalizados distribuídos nas portas dos cinemas), foi um sucesso polêmico e instantâneo. Apesar de seu personagem morrer antes do final do filme, ele estava escalado para a continuação “Hexen-Geschander Und Tode Gequalt” (Mark of the devil II, 1971) de Adrian Hoven, onde recebeu outro papel sádico e repulsivo, numa produção que alardeava ter sido “Proibida em mais de nove países!”. Em uma série de participações na TV americana, ele foi um zumbi no telefilme “The Dead Don’t Die” (Os Mortos Não Morrem, 1975) de Curtis Harrington; o mordomo mudo do Drácula de John Carradine em “McLound Meets Dracula” (na série Os Detetives, 1975) e um nazista em “Fantasy Island” (A Ilha da Fantasia). Uma pequena ponta em “Io Casanova di Frederico Fellini” (Casanova de Fellini, 1976) marcou o fim de sua carreira na Europa. Na estréia do prolífico produtor/diretor Charles Band como realizador, “Crash!” (Crash, o Ídolo do Mal, 1977), Nalder esteve bem acompanhado dos veteranos John Carradine e José Ferrer em uma aventura de terror barata e absurda. Reggie foi novamente um servo de Drácula no trash “Dracula’s Dog” (Zoltan, o Cão Vampiro de Drácula”, 1978) de Albert Band, servindo ao seu amo (Michael Pataki) e também ao cachorro sanguessuga do título. Numa das únicas vezes que utilizou maquiagem pesada, Reggie Nalder foi o nosferático vampiro Mr. Barlow na mini-série “Salem’s Lot” (A Hora do Vampiro/A Mansão Marsten, CBS-TV 1979) de Tobe Hooper. O papel do eterno caçador de vampiros Dr.Van Helsing poderia parecer estranho se vivido por Nalder, mas foi ele e seu rosto peculiar (com o pseudônimo de Datlef Van Berg) que participou da versão pornô “Dracula Sucks” (Drácula Chupa,1979) de Phil Marshak. Nesta paródia com ótima produção, o conde vampiro (aqui bem menos interessado em sangue) foi Jamie Gillis, secundado por um elenco pornô-all-star: Annette Haven, John Leslie ,Serena, John Holmes ,Paul Thomas… e Reggie não tem cenas de sexo. Passando de um pornô, à Disney, Nalder fez o papel de um demônio na comédia fantástica “The Devil and Max Devlin”(1981) de Steven Stern com Bill Cosby e Elliot Gould e de volta ao hard core viveu um general nazista que quer escravizar a humanidade através do sexo em “Blue Ice” (1985) de Phil Marshark. Doente, Reggie Nalder se aposentou e só faria uma participação como um conquistador germânico em “Jericó” (1992), lançado um ano após a sua morte ocasionada por um câncer. Sobre sua aparência disse uma vez a um jornalista: “Eu acho que eu não pareço com Gary Cooper ou Clark Gable, eu me vejo como um tipo de Monstro…”.

MICHAEL BERRYMAN – “criança de Marte” certamente não é um apelido agradável para se receber nos primeiros anos de escola, mas era assim que o jovem Michael Berryman era conhecido por seus colegas. Nascido em Setembro de 1948 em Los Angeles, com uma rara deformação, em que a cartilagem do crânio é fundida e não deixa o cérebro crescer. Inicialmente cego, foi submetido a mais de 300 (!) operações cirúrgicas que lhe restituíram a visão e o permitiram viver, apesar de muitas seqüelas. Michael tem quase dois metros de altura, uma cabeça enorme espichada, não possui pêlos, dentes naturais, nem unhas e suas glândulas sudoríparas não funcionam, portanto tem sérios problemas com o calor e com a poluição. Mesmo assim, graças a sua família (seu pai é um famoso neurocirurgião) teve uma vida relativamente normal e se formou em Ciências políticas e Artes. Trabalhava como atendente em uma floricultura quando sua aparência exótica chamou a atenção do filho do diretor/produtor George Pal e foi escalado para uma pequena ponta na aventura “Doc Savage: The Man of Bronze” (Doc Savage, O Homem de Bronze, 1975) de Michael Anderson, uma aventura camp fantástica, baseada num personagem da Pulp Fiction, vivido aqui pelo ex-Tarzan televisivo Ron Ely. Em seguida juntou-se ao elenco do sucesso “One Flew Over The Cucoo’s Nest” (Um estranho no Ninho, 1975) de Milos Forman, como um dos doentes mentais, colegas de Jack Nicholson em um sanatório (outros novatos deste elenco foram revelados aqui e se tornaram muito conhecidos, como Danny DeVitto, Christopher Lloyd e Brad Douriff). Seu próximo trabalho também foi uma tortura para sua condição física, “The Hills Have Eyes” (Quadrilha de Sádicos, 1977) de Wes Craven, foi totalmente filmado no deserto americano, com uma temperatura média acima dos 45 graus. Apesar das dificuldades, Michael trabalhou duro e deu vida ao personagem Pluto, um dos mutantes-canibais que aterrorizam uma família em férias. Seu rosto peculiar foi o principal destaque do cartaz e fotos de divulgação do filme e rodaram o mundo. Craven o escalou outras vezes em “Deadly Blessing” (Benção Mortal, 1981); “The Hills Have Eyes 2” ( Quadrilha de Sádicos 2, 1983), novamente como o demente Pluto e em “Invitation to Hell” (Convite para o Inferno, 1984), todos grandes fracassos. Sua filmografia daí por diante é bastante intensa, com uma média de cinco filmes por ano, que vão de comédias fantásticas adolescentes como “Weird Science” (Mulher Nota Mil, 1985) de John Hughes ; “My Science Project” (1985) de Jonathan Betuel ou “Saturday the 14th Strikes Back” (Sábado 14 – Reunião Infernal, 1988) de Howard Cohen; passando por série s de TV como “Alf o ETeimoso”; “O Homem Que Veio do Céu”; “Jornada nas estrelas- A Nova Geração”; “Tales From the Crypt” e “Arquivo X”. Michael teve destaque nos filmes do diretor italiano Ruggero Deodato “Inferno in Diretta” (Cut and Run, 1985), onde viveu o sádico guerrilheiro Quecho e “Barbarians & Co.” (Os Bárbaros, 1987) como o feiticeiro Dirty Master e em uma série de trashs de seu diretor favorito Fred Olen Ray: “Armed Response”( Resposta Armada, 1986); Haunting Fear” (Síndrome do Medo, 1989); “Evil Spirits” (1990); “Teenage Exorcist” (Essa Mulher é o Demônio, 1991) e “Wizards of the Demon Sword” (1991). Apaixonado por motocicletas, fã de Rock (participou de clips de Motley Crue e Dan Reed Band), pacifista e ecologista, Berryman passou a morar na reserva ecológica Wolf Mountain (Utah, EUA), longe da poluição e ajudando a preservar uma matilha de lobos de uma raça quase extinta, continuando ativo na TV e em produções independentes mas diminuindo seu ritmo de trabalho. Em 2005 fez uma participação especial em “The Devil’s Reject” (Rejeitados pelo Diabo) de Rob Zombie junto com outras figurinhas carimbadas do gênero. Um de seus melhores papéis recentes está em uma produção independente de terror bem fraca “Brutal” (2007) de Ethan Wiley. Berryman faz Leroy, um treinador de cães, autista e gênio matemático, que auxilia a heroína (Sarah Thompson) a desvendar uma série de assassinatos. Nada de monstruoso ou sádico, um personagem humano, sensível e apaixonado por animais, como a próprio ator. Em outro Psycho-Killer , “Beg” (2010) de Kevin Mc Donald, Michael aparece Junto com Tonny Todd e com a maravilhosa Deddie Rochon, além de ser um dos produtores associados. Um de seus últimos filmes a estrear foi “Cut” (2011) de Joe Hollow e Wolfgang Meyer sobre uma… família disfuncional de assassinos! Mas o incansável Michael “Pluto” Berryman está no elenco de pelo menos 6 ou sete filmes em produção ou pré-produção para 2012 e 2013… Longa vida “Criança de Marte”!

ROBERT Z’DAR – Assim como Tor Johnson, Robert Z’Dar não sofreu de nenhuma doença ou acidente, mas sua aparência incomum o levaram ao cinema. Robert J. Zdarsky, nascido em Chicago em 1950, recebeu o bacharelado em artes pela Arizona State University e foi músico profissional (vocalista, guitarrista e tecladista), compositor de jingles, dançarino e policial! Mas com seu 1,90cm de altura, corpulento e com seu rosto enorme, emoldurado com um queixo gigantesco o tornam o típico personagem ameaçador, agressivo e imbatível de filmes policiais ou dramas de horror. Com o nome artístico de Robert Darcy, ele foi um abusivo guarda de um presídio feminino em “Hellhole” (1985); um segurança particular na série “A Gata e o Rato” (1985) e o vilão Shigaru no drama de ação e vingança “Code Name: Zebra” (1986). Seu primeiro contato com filmes de terror foi como o psicopata assassino de prostitutas em “The Night Stalker” (O Demônio da Noite, 1987) de Max Keven. Fez uma ponta na ficção científica bobona “Cherry 2000” (1987) de Steve De Jarnett com Melanie Griffith e finalmente apareceu sua grande chance ao fazer um teste para um filme escrito e produzido pelo cultuado Larry Cohen. “Maniac Cop” (Maniac Cop – O Exterminador, 1988) de William Lustig, trás Z’Dar pela primeira vez como Matt Cordell, um policial fardado de New York, com tendências assassinas, que é mandado para a prisão onde é severamente mutilado pelos presos. De volta as ruas, com seu uniforme e um rosto desfigurado ele se torna um assassino psicopata indestrutível, que é combatido por Bruce ”Evil Dead” Campbell. Sucesso no mundo inteiro, o filme se transformou em uma série com “Maniac Cop 2” (Maniac Cop 2 – O Vingador, 1990) e “Maniac Cop 3: Badge of Silence”(Maniac Cop 3 – O Distintivo do Silêncio, 1992) ambos de William Lustig e com Z’Dar utilizando uma maquiagem pesada, já que o personagem assume ares de zumbi, ao retornar mais de uma vez da morte. Fora da série, Z’Dar sempre foi um dos preferidos das pequenas produções de terror como “Grotesque”(Grotesk, 1988) de Joe Tornatore com Linda Blair; “Evil Altar” (Altar do Diabo, 1988) de Jim Wilburn, onde viveu um feiticeiro demoníaco; “Samurai Cop” (Um Tira Invencível, 1989) de Amir Shervan; “Soultaker” (Ladrão de Almas, 1990) de Michael Rissi , personificando o anjo da morte; “Beastmaster 2: Trough The Portal Of Time” (Portal do Tempo, 1991) de Sylvio Tabet, onde também Michael Berryman fez uma participação ou o herói de “Return to Frogtown” (A Vingança dos Sapos Assassinos”, 1992 ) de Donald G. Jackson. No cinemão ele é lembrado por ter dado uns bons cascudos em Sylvester Stallone na comédia de ação “Tango e Cash” (1989), onde seu personagem se chamava “The Face”… Robert Z’Dar continua ativo, quer seja em encontros e convenções de terror e cinema fantástico, quer seja em vídeos ultra-baratos como “Guns of El Chupacabra” (1997) de Donald G.Jackson, uma mistura de artes marciais, ficção científica, ação e garotas nuas com estrelas “B” como Julie Strain, Conrad Brooks, Joe Estevez e nosso amigo queixudo como Z-Man, o mestre Invasor Alienígena ; “Future War” (O Grande Dragão do Futuro, 1997) de Anthony Doublin, como o mestre dos cyborgs; ”Zombiegeddon” (2003) de Chris Watson, um filme da Troma onde vive o detetive Bobby e acaba transformando-se em um zumbi; “The Rockville Slayer” (2004) onde faz par com sua amiga Linnea Quigley ou “Vampire Blvd.” (2004) de Scott Shaw com seu parceiro de longa data Joe Estevez. Desde 2002, quando sofreu uma séria fratura nas costas durante uma filmagem, Z’Dar tem se mantido longe das cenas de ação, mas não deixa de mostrar sua famosa “cara simpática”… em todos estes casos, resta dizer que: A Falta de Beleza É Fundamental!!!

escrito e pesquisado por Coffin Souza.

Harry Thomas: Monstros Bananas à Preços Idem

Posted in Cinema, Museu Coffin Souza with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on novembro 18, 2011 by canibuk

O norte americano Harry Thomas, nascido na Pensylvania em 22 de setembro de 1909, se envolveu com a indústria do cinema primeiro como figurante em filmes como “Pardon Us” (1931), com a dupla humorística Laurel & Hardy (O Gordo & O Magro) e depois se interessou por maquiagem, sendo treinado por William Tutle e Jack Dawn, chefes do departamento da MGM. Durante a fase clássica de filmes de terror da Universal, trabalhou sob ordens de Jack Pierce, que ele considerava seu verdadeiro mestre. Sua vocação para trabalhos rápidos e de baixo custo o levou a televisão, onde foi responsável pela maquiagem em 52 episódios da série “Adventures of Superman” (1951-1954) e pelo filme de cinema realizado para divulgar o programa “Superman and The Mole Man” (1951) de Lee Sholem. Nesta aventura tipicamente “B”, o super-herói vindo do planeta Krypton (vivido pela primeira vez por seu mais famoso intérprete George Reeves) enfrenta a ameaça dos terríveis homens toupeiras, que surgem do fundo da terra para ameaçar os humanos com suas armas de raios. As criaturas, que no final estavam apenas protegendo seu habitat, foram vividas por anões com falsas cabeças pontudas e grossas sobrancelhas. Harry Thomas estava criando seu estilo. Em “Cat Women of the Moon” (“As Mulheres-Gato da Lua”, 1953 em 3D) de Arthur Hilton,Thomas precisou construir duas aranhas gigantes com chifres, já que as telepáticas mulheres-gato da lua que tentavam dominar astronautas terrenos, eram garotas com uniformes colantes pretos com quase nada que lembrasse gatos ou felinos na maquiagem, a não ser longas unhas feitas de pedaços de celulóide cortados e pintados. Sua primeira criação mais complexa surgiu no terror “The Neanderthal Man” (“O Homem Fera”, 1953) de E.A. DuPont, sobre um cientista maluco que desenvolve um soro que o faz regredir a um estágio pré-histórico. A cena de transformação, realizada quadro a quadro, enquanto Thomas ia maquiando o ator Robert Shayne, ao estilo das maquiagens de Jack Pierce para a série de lobisomens dos anos 40, é bastante eficiente, mas destoa totalmente em visual com a pesada (e sem movimentos) máscara feita com algodão, cola, pelos e cascas de laranja secas (fazendo os dentes disformes), além de uma peruca ridícula, construída para o dublê e treinador de animais que precisava no final enfrentar um também muito falso tigre-de-dentes-de-sabre.

Harry Thomas conta no livro “Nightmare of Ecstasy – The Life and Art of Edward D. Wood, Jr.” (Feral House Books, 1992) de Rudolph Grey, que foi convidado pelo jovem cineasta para ir até sua casa para receber o roteiro de seu novo filme. “Eu peguei o endereço e bati na porta. Uma mulher alta, bem vestida me atendeu , mandou sentar e me serviu uma xícara de chá. Eu perguntei se Eddie estava em casa e ela me disse: ”Eu sou Ed Wood”. E eu estava chocado e perguntei “Oh! Você não é a irmã de Ed?“ -“Não, eu sou realmente Ed. É desta forma que quero aparecer em “Glen or Glenda””. Assim, o maquiador acostumado apenas com filmes de ficção científica e monstros teve que trabalhar com cosméticos femininos e embelezar Wood Jr. em seu épico sobre travestismo “Gen or Glenda?” (1953). Além disto, Thomas faz uma ponta na cena em que o personagem Glen tem um pesadelo onde várias pessoas e o demônio (Captain De Zita) o atormentam (ele é o personagem de bigodes, creditado como: “Man in nightmare”). “Glen or Genda estava divorciado completamente do que eu fazia, mas foi divertido.”

Então Harry foi contratado para criar os alienígenas do planeta Astron Delta, que dominam um cientista (Peter Gaves) para ser seu espião no ultra-barato “Killers From Space” (“Mundos Que Se Chocam”, 1954) de W.Lee Wilder. Completamente sem orçamento, ele colocou o que se convencionou chamar de “olhos-de-ping-pong” em senhores de meia idade com macacões pretos e cintos coloridos. Na verdade Thomas utilizou as cavidades de caixas de ovos de plástico pintadas e com pequenos orifícios para os pobres extras poderem enxergar e disfarçou-as com espessas sobrancelhas, sua marca pessoal.

Acostumado com as extravagâncias de Ed Wood, Harry Thomas recebeu um roteiro promissor, afinal “The Bride of the Monster” (1955) prometia Bela Lugosi como um cientista louco com um assistente deformado chamado Lobo (o lutador Tor Johnson), um polvo gigante e etc. Mas novamente as imposições de orçamento foram mais fortes, e as pressas nas filmagens ficam visíveis na maquiagem de Tor, que muda de cena para cena e o polvo na verdade foi roubado do depósito de um estúdio, numa história hoje já clássica. Thomas acabou ficando amigo da trupe mambembe de Wood, e além de confidente das lamúrias do pobre Lugosi, passou a freqüentar a casa de Tor Johnson, onde conta ele teve que certa vez fugir para não passar mal ao acompanhar a família do gigante suíço em uma refeição: “… eles tinham cadeiras especiais para sentar, já que cadeiras comuns quebrariam. O tempo todo Tor dizia – “Comam, comam, comam para ficarem grandes e fortes”. Eu já não agüentava tanta comida e ele queria que eu comesse a metade de uma melancia, quando recusei ele me informou que depois de uma breve soneca teríamos mais um lanche! Eles se pareciam com uma família de grandes ursos!” (R. Grey.). Num dos últimos filmes da produtora classe “Z” Republic, “The Unearthly” (na TV: “O Extraordinário”, 1957) de Brooke L.Peters, John Carradine vivia pela enésima vez um cientista louco, agora fazendo experimentos com transplantes glandulares auxiliado por seu assistente gigante-retardado chamado… Lobo (Tor Johnson, é claro!). Se Johnson atuou ao natural, apenas com seu físico avantajado, no final seu personagem redimido, ajuda a linda mocinha (Allison Hayes) a escapar de um grupo de mutantes deformados que o médico escondia no porão. O principal deles, com uma maquiagem grotesca (no “bom” sentido) feita por Harry Thomas com pedaços de látex e adesivos cirúrgicos era um jovem gigante chamado Carl Johnson, o “little Karl”, filhinho comilão de Tor.

Nesta época, Harry Thomas trabalhou brevemente junto com outra lenda das maquiagens e efeitos vagabundos: Paul Blaisdell (o maquiador preferido de Roger Corman). Em “Voodoo Woman” (1957) de Edward L. Cahn, eles tiveram que reciclar uma fantasia criada por Blaisdell um ano antes para “She Creature” do mesmo Ed Cahn. O antes monstro marinho feminino, ganhou uma nova cabeça, semelhante a uma caveira deformada, uma peruca loira (!) e um vestido feito de sacos de linhagem. No bizarro “From Hell It Came” (“Veio do Inferno”, 1957) de Dan Milner, um príncipe de uma ilha do Pacífico sul reencarna em uma árvore que caminha e ataca pessoas e é chamada de Tabonga. O monstro vegetal parece o pesadelo de uma criança de 5 anos, ou poderia ter saído de algum conto de fadas mais sinistro. Durante muitos anos, lendas sobre a construção/concepção da criatura apareceram em diversas publicações e entrevistas, mas J.J. Johnson no espetacular livro “Cheap Tricks and Class Acts” (McFarland Books, 1996) esclarece o mistério: Paul Baisdell desenhou , a fábrica de máscaras de Halloween e objetos de cena para filmes Don Post Studios, fabricou e Harry Thomas pintou e fez acabamentos no monstro, além de ter feito todas as maquiagens dos nativos da história.

“The Bride and the Beast” (1958) de Adrian Weiss parece uma história escrita por Ed Wood… e é! Precisando de dinheiro, ele vendeu seu roteiro sobre uma mulher (Charlotte Austin) que durante um safári na África, descobre aos poucos que é a reencarnação de uma gorila, para no final reverter ao seu estado primitivo e ir viver feliz no meio das selvas com seus parentes! Como o dublê e performance de gorilas Steve Calvert, já possuía sua fantasia pronta, coube a Harry adicionar mais pêlos, fazer alguns ajustes nos olhos e repintar o primata para ele não parecer exatamente igual a por exemplo “Bride of the Gorilla”(1951), onde já havia sido utilizado.

Finalmente um Clássico! Em 1956, Ed Wood Jr., teve uma idéia brilhante: utilizar umas poucas cenas que havia rodado com seu recém falecido amigo Bela Lugosi para um filme que seria chamado “The Vampire’s Tomb” em uma produção totalmente diferente sobre alienígenas que conseguiam ressuscitar cadáveres humanos para dominar a terra. “Grave Robbers from Outer Space” teria além da participação póstuma de Lugosi, vários outros colaboradores da trupe habitual de Ed, além da presença de uma apresentadora de um programa de filmes de terror da TV chamada Maila Nurmi, mais conhecida como Vampira. Depois de ser financiado por um pastor de uma igreja evangélica, o filme seria renomeado “Plan 9 From Outer Space”(1956/1959) e muito já foi dito e escrito sobre suas filmagens, lançamento e trajetória, que o levaram a fama de ser um dos piores filmes da história do cinema. Fama injusta, já que é muito divertido e extremamente criativo, mas a parte que nos cabe retomar aqui foi contada por Harry Thomas em “Nightmare of Ecstasy” e também no ótimo documentário “Flying Saucers Over Hollywood: Plan 9 Companion” (1992) de Mark P. Carducci. Munido do roteiro, Thomas foi até Ed Wood cheio de idéias sobre a aparência dos alienígenas e argumentou que com adesivo cirúrgico e alguns cosméticos poderia mudar sua cor, olhos e faces, além de saber como alterar suas vozes para não parecerem tão humanos. A resposta de Ed foi clara e precisa e ofendeu o econômico fazedor de monstros: “Harry, nós não temos tempo, nem dinheiro” (ponto final.)

O trabalho de Harry Thomas não era ruim por incompetência sua, mas por tempos reduzidos e orçamentos apertados. Ele se dedicava a desenvolver maquiagens de qualidade, mas a parte financeira e a pressa de diretores e produtores dos filmes vagabundos para que era contratado comprometiam seu trabalho. Quando foi chamado para fazer “Frankenstein’s Daughter” (“A Filha de Frankenstein”, 1958) de Richard E. Cunha, Thomas trabalhou sem um roteiro, criando uma make up bastante expressiva cheia de deformações e cicatrizes para o corpulento ator Harry Wilson. O que o produtor se esquecera de informar era que a criatura seria uma fêmea, vivida antes da transformação pela atriz Sally Todd. Como já havia maquiado para o mesmo filme a jovem Sandra Knight (com sua combinação clássica: dentes enormes deformados mais sobrancelhas peludas), acreditou que ela seria a tal “monstra”! Assim, a solução foi colocar uma enorme quantidade de batom nos lábios deformados do monstro, que para piorar usava uma roupa que parecia a de um Papai-Noel espacial! Para providenciar uma sessão dupla para o lançamento de “A Filha de Frankenstein”, Richard Cunha reescreveu sua história básica terráqueos-enfrentam-uma-raça-de-mulheres-alienígenas gostosas (vista antes em “Cat Women of the Moon”) e Thomas foi encarregado de ajudar a criar uma dupla de homens-rocha e a disfarçar uma aranha gigante fabricada pela Universal para promover seu clássico “Tarântula” (1955), fazendo-a agora a principal ameaça para as garotas da Lua. Uma nova cara e um acréscimo de pêlos só fizeram piorar os já limitados movimentos do bicho movido a fios de nylon. E assim nasceu, então, “Missile to the Moon” (1958), disponível em DVD no Brasil.

Harry Thomas voltou a trabalhar para Ed Wood e criou uma maquiagem deformada para a volta do personagem Lobo (Tor Johnson) do mundo dos mortos em “Night of the Ghouls”, filmado em 1958 e nunca lançado nos cinemas. Um médium picareta chamado Dr.Acula promete fazer contato com entes queridos falecidos de seus clientes, mas acaba provocando a vingança dos mortos (seu título original “Revenge of the Dead”). A confusa seqüencia de acontecimentos sobrenaturais vividas entre cenários de papelão teve “ajuda” na edição de Phil Tucker (de “Robot Monster”, outro épico Trash clássico) e foi o penúltimo filme de Ed Wood Jr.

Harry Thomas esteve na equipe que fez “The Little Shop of Horrors” (1960) de Roger Corman, mas apenas fazendo maquiagens faciais. Teve sua oportunidade de fazer suas próprias recriações dos monstros clássicos (Drácula, o lobisomem e a criatura de Frankenstein) no filme adulto “House on Bare Mountain” (1962) de R.Lee Frost, mas o orçamento para o mais caro filme “Nudie” feito naquela época (72.000 dólares) tinha pouco disponível para maquiagens decentes, principalmente porque o que mais interessava era os corpos nus das belas garotas de uma escola para moças assombrada.

Talvez por já se envolver uma vez com uma árvore que caminhava (em “Veio do Inferno”), o esforçado Thomas foi convocado para ajudar “The Navy Vs. the Night Monsters” (“A Marinha Contra os Monstros”, 1966) dirigido pelo roteirista Michael Hoey. No meio da Antártida, a marinha americana descobre uma zona de calor, e nela estranhas plantas que caminham e devoram seres humanos. Além de ser responsável pelo acabamento nos monstros vegetais, nosso amigo criou uma série de cicatrizes e ferimentos de queimaduras bastante realistas, utilizando materiais baratos. Thomas foi um dos pioneiros na substituição de produtos caros utilizados em maquiagens especiais por materiais caseiros, encontrados principalmente em cozinhas: farinha de trigo com água, calda de chocolate, gelatina e Karo. Ele nunca admitiu a utilização destes produtos por razões financeiras, dizia que muitos atores e atrizes eram alérgicos a certos químicos presentes em certas fórmulas de maquiagens, assim os materiais naturais e comestíveis seriam a melhor opção.

O produtor/diretor Arch Oboler, um entusiasta da 3D (Terceira Dimensão) desde os anos 50 (“Bwana Devil”, 1952) desenvolveu um sistema próprio revolucionário, chamado Space Vision, e escreveu para demonstrá-lo uma ficção científica chamada “The Bubble” (“A Bolha”, 1966), sobre uma pequena cidade em que os habitantes são escravizados por uma estranha bolha de energia que flutua sobre o local (e dentro das salas de cinemas, claro). Harry Thomas foi responsável por desenvolver a bolha plástica alienígena e a aparência zumbificada de suas vítimas. (Assisti a uma reprise deste filme no cinema durante a moda do 3D dos anos 80 e sim, a bolha parecia flutuar na sala de projeção, mas de resto era uma enorme chatice, sem graça e sustos…)

Harry Thomas ainda voltaria a sua criação clássica ao transformar a bela Claire Brennan numa aberração com meio rosto deformado, dentes monstruosos, orelha pontuda e um olho de “ping-pong” em “She Freak” (1966) de Byron Mabe, uma refilmagem picareta de “Freaks” (1932) pelo produtor/roteirista David Friedman, um dos reis do “sexploitaition”. Pena que sua criação apenas apareça poucos minutos no final do filme. Voltou então para a televisão e trabalhou em inúmeras séries e programas, mas nunca foi esquecido pelos diretores e produtores de filmes de horror de baixo orçamento, tanto é que Oliver Stone em sua segunda realização “The Hand” (em vídeo “A Mão”, 1981) o chamou para dar vida à personagem título: a mão decepada de um cartunista que ganha vida própria e comete vários crimes. Algum gore, e com pouco dinheiro… uma mão que parece uma luva de borracha caseira.

Harry Thomas faleceu em 21 de outubro de 1996.

Filmografia Parcial:

Superman and the Mole Man (1951); Invasion U.S.A. (1952); Cat-Women of the Moon (1953); The Neanderthal Man (1953); Port Sinister (1953); Project Moonbase (1953); Glen or Glenda? (1953); Monster from the Ocean Floor (1954); Jail Bait (1954); Killers from Space (1954); Bride of the Monster (1955); Plan 9 from Outer Space” (1956/1959); The Unearthly (1957); Voodoo Woman (1957); The Bride and the Beast (1958); Night of the Ghouls (1958); Terror in the Haunted House (1958); Frankenstein’s Daughter (1958); Missile to the Moon (1958); The Little Shop of Horrors (1960); Raiders from Beneath the Sea (1961); House on Bare Mountain (1962); Space Probe Taurus (1965); The Navy Vs. The Night Monsters (1966); She Freak (1966), The Bubble (1966); Logan’s Run (1976); The Hand (1981).

Texto e pesquisa de Coffin Souza.